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CAPÍTULO 12: GASOMETRIA ARTERIAL

Autores: Sérgio Eduardo Soares Fernandes, Larissa Batista de Sá e Thainá Cidreira dos Santos
Gomes
Orientador: Sérgio Eduardo Soares Fernandes

1. INTRODUÇÃO

A gasometria arterial é usada para avaliar os níveis de oxigênio sanguíneo, sua troca
gasosa com o gás carbônico e status do equilíbrio ácido-base. O teste mede a concentração de
oxigênio (PaO​2​), tensão de dióxido de carbono (PaCO​2​), acidez (pH), saturação de
oxihemoglobina (SaO​2​) e concentração de bicarbonato (HCO​3​) no sangue arterial. Essas
informações são essenciais no cuidado de pacientes com doenças críticas, doenças respiratórias
ou metabólicas. Os distúrbios do equilíbrio ácido-base podem originar complicações e
anormalidades graves que representam fatores de risco à vida. No entanto, esta investigação não
é diagnóstica e não deve ser usada como teste de triagem, sendo imperativo que os resultados
sejam analisados junto às manifestações clínicas do paciente.
Antes de descrever a técnica do exame, faremos uma breve revisão dos fatores
envolvidos na oxigenação, no transporte e trocas de gases e na manutenção do pH sanguíneo.

1.1 Mecanismos de regulação do transporte e troca de gases

O oxigênio é transportado pelo organismos por dois mecanismos: convecção e difusão


molecular. O fluxo convectivo requer uma diferença de pressão, em que os gases se difundem em
direção a área de menor pressão, esse processo ocorre principalmente na membrana
alvéolo-capilar onde os músculos da respiração mantém uma pressão negativa da caixa torácica e
a pressão atmosférica positiva auxilia na difusão dos gases. Ainda, nesse mesmo sítio a difusão
molecular também ocorre de forma passiva, sem necessidade de gasto energético. Assim, é fácil
presumir que uma pressão atmosférica mais baixa, como em altas altitudes, pode dificultar a
difusão de oxigênio.

Ainda, nos eritrócitos o oxigênio sofre difusão molecular e, ao adentrar essas células,
combina-se com a molécula de hemoglobina (Hb). Nos tecidos corporais ocorre o processo
inverso, há desligamento da Hb e o gás se difunde para fora das células vermelhas em direção
aos tecidos.

A capacidade do transporte de diferentes gases no sangue varia grandemente, sendo os gases


de interesse clínico o O​2​, CO​2 e o CO, que formam ligações químicas, principalmente com a Hb. A
relação entre a capacidade de transporte e a pressão parcial de O​2 é curvilínea sigmóide e é
chamada de curva de dissociação do O​2.

A curva de dissociação do O​2 ​para HbA tem sua posição determinada pela P50, que é a pO​2
com saturação de Hb a 50%, ou da concentração máxima, com valor normal de 26-28mmHg. O
desvio da curva para a direita, ou seja, aumento da P50, ocorre durante o exercício, onde
acontece hipercapnia tecidual. Este desvio é útil durante o exercício porque determina que uma
maior quantidade de O​2 ofertada aos tecidos. O desvio da curva para a esquerda ocorre na
presença de Hb fetal, que determinará uma curva de forma exponencial.

Já o conteúdo de O​2 sanguíneo é representado pela soma da pequena quantidade do gás


dissolvido no plasma com o combinado com Hb. e uma forma geral o conteúdo de O​2 é inferido a
partir da SaO​2​, pO​2​ e Hb, do que medido diretamente.

Sabe-se que a diferença entre uma PaO​2 normal (100mmHg) e seu nível anormal (60mmHg) é
de 40mmHg. Por outro lado, a alteração na SaO​2 é apenas 8,5% do normal para níveis anormais
(97,5% a 89%). Logo, a PaO​2 é um índice mais sensível que a SaO​2 para avaliar a hipoxemia em
graus leves.

O CO​2 é cerca de 20 vezes mais difusível que o O​2 desse modo todo o CO​2 sanguíneo
proveniente do metabolismo celular é rapidamente difundido pelos capilares. Então, dissolvidos no
plasma, eles são transportados até os pulmões. Sendo que, 90% do gás no sangue arterial é
transportado na forma de ânions bicarbonato, formados a partir da reação do CO​2 com água, na
presença da enzima anidrase carbônica, formando H​2​CO​3​, principalmente no interior dos
eritrocitos. Esse composto é dissociado em íons hidrogênio e bicarbonato: CO​2 + H​2​O ⇔ H​2​CO​3 ⇔
H​+ ​+ HCO​3​-​.

A curva de dissociação do CO​2​, diferentemente da curva de dissociação de O​2, ​é mais linear. O


conteúdo total de CO​2​, a qualquer nível de PCO​2​, é dependente do grau de oxigenação da Hb,
estando aumentado quanto maior a desoxigenação da Hb. O valor normal da PaCO​2 no sangue
arterial é de 40mmHg.

1.2 Mecanismos de regulação do pH sanguíneo

Para a regulação do equilíbrio do íon hidrogênio (H​+​) é necessário equilíbrio entre a


ingestão ou produção de H​+ e sua remoção efetiva do organismo. Sua regulação precisa é
essencial, pois a concentração de H​+ e, em consequência dos níveis de pH sanguíneo influenciam
na atividade de quase todos os sistemas de enzimas do organismo.

Os níveis de pH são inversamente proporcionais à concentração de H​+ sanguíneo. Um pH


baixo corresponde à concentração do íon elevada, e o pH alto corresponde à concentração baixa.
O pH normal do sangue arterial é cerca de 7,4, enquanto o pH do sangue venoso e dos líquidos
intersticiais é cerca de 7,35, devido às quantidades extras de dióxido de carbono (CO​2​) liberadas
pelos tecidos para formar H​2​CO​3 nesses líquidos. Nesse sentido, acidose ocorre quando o pH
situa-se abaixo e alcalose quando acima do valor de referência.

Três sistemas primários regulam a concentração de H​+ nos fluidos corporais, para manter
os níveis de pH dentro da normalidade. São eles:

● Os sistemas tampões químicos ácido-base, que reagem com ácidos ou bases, evitando
alterações excessivas da concentração de H​+​,

● A regulação respiratória, através do centro respiratório, que regula a remoção de CO​2 e


consequentemente de H​2​CO​3​ do líquido extracelular;

● Os rins, que podem excretar urina ácida ou alcalina, reajustando a concentração de H​+ na
ocorrência de acidose ou de alcalose.

1.2 Sistema tampão

Quando ocorre variação da concentração de H​+​, os sistemas tampões respondem em fração


de segundos para minimizar as alterações. Estes sistemas não eliminam ou acrescentam íons H+
aos líquidos extracelulares, mas apenas os mantêm controlados até que o equilíbrio possa ser
restabelecido.

Tampão é qualquer substância capaz de se ligar, reversivelmente, ao H​+​, formando um ácido


fraco que pode permanecer como molécula associada ou se dissociar de volta em tampão e H​+​.
Quando há aumento na concentração de H​+​, a reação é deslocada para o sentido de maior
produção de ácido, consumindo o íon. Por outro lado, quando a concentração de H​+ diminui, a
reação se desloca no sentido de dissociação do ácido fraco, aumentando a disponibilidade do íon.

Os principais tampões são:


● Tampão de bicarbonato - tampão extracelular mais importante, e também o mais
potente no corpo. Desloca o equilíbrio da equação de formação de H2CO3. Essa
reação é lenta e quantidades muito pequenas de H2CO3 são formadas se a
enzima anidrase carbônica, abundante na parede alveolar e dos túbulos renais,
não estiver presente. Assim, esse tampão é regulado pelos rins e pelos pulmões.
Como resultado, o pH pode ser controlado pela intensidade relativa da remoção e
da adição de HCO3 pelos rins, e pela intensidade de remoção de CO2 pelos
pulmões.

● Tampão de fosfato - embora não seja tão importante como tampão do líquido
extracelular, é essencial no tamponamento do líquido tubular renal e dos líquidos
intracelulares em que sua concentração é bem maior que no líquido extracelular.

● Tampão de proteína - importante tampão intracelulares e também o mais


abundante no organismo pelas concentrações elevadas, especialmente no interior
das células. Cerca de 60 a 70% do tamponamento químico total dos líquidos
corporais se dá no interior das células e, em grande parte, esse tamponamento
resulta das proteínas intracelulares.

1.3 Troca gasosa

A segunda linha de defesa no equilíbrio ácido-base é o sistema respiratório, que age em


questão de minutos eliminando o CO2 e, por conseguinte, H2CO3 do corpo. O aumento da
ventilação elimina o CO2 do líquido extracelular que reduz a concentração de H​+​. Em
contrapartida, a menor ventilação aumenta o CO2, também elevando a concentração de H​+​.

O CO2 é formado continuamente por processos metabólicos intracelulares. Depois de


formado, se difunde para os líquidos intersticiais e para o sangue, onde é transportado para os
pulmõe e se difunde nos alvéolos, sendo liberado no ambiente pela ventilação pulmonar. Se a
formação metabólica de CO2 aumenta, a PaCO2 do também aumentará, e se há menor
intensidade metabólica a PaCO2 é reduzida. Além disso, ventilação pulmonar aumentada causa
maior liberação de CO2 pelos pulmões, e a PaCO2 diminuirá

Assim, há um controle por feedback na concentração de H​+ pelo sistema respiratório, sempre
que a concentração de H+ se eleva acima do normal, o sistema respiratório é estimulado e a
ventilação alveolar aumenta. Esse mecanismo reduz a PaCO2 e diminui a concentração do íon
para valores normais. Em contrapartida, se a concentração do íon é reduzida abaixo do normal, o
centro respiratório é inibido, a ventilação alveolar é reduzida e a concentração de H​+ aumenta para
valores normais.

1.4 Controle renal

As duas primeiras linhas de defesa evitam que a concentração de H+ se altere


excessivamente, até que a resposta mais lenta da terceira linha de defesa, os rins, consiga
eliminar o excesso de ácido ou base do organismo. Apesar de mais lenta, demorando horas a
vários dias, os rins representam o sistema regulador ácido-base mai potente.

O controle do equilíbrio ácido-base pelos rins é realizado pela excreção de urina mais
ácida ou alcalina. A excreção de urina ácida reduz a quantidade de ácidos no líquido extracelular,
e a excreção de urina alcalina realiza a remoção de bases.

Os rins realizam secreção de H+ e reabsorção HCO3- pelos túbulos renais, o H+ é


secretado por transporte ativo secundário nos segmentos tubulares iniciais e o HCO3- filtrado é
reabsorvido pela interação com íons hidrogênio nos túbulos. Quando grandes quantidades de
HCO​3​-​, são filtrados continuamente para os túbulos ocorre sua excreção na urina, removendo o
excesso de bases do sangue. Ainda, se grandes quantidades de H​+ são secretadas no lúmen
tubular pelas células epiteliais tubulares há remoção do excesso de ácidos do sangue.

*INSERIR FIGURA 1 AQUI*

2. INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES

2.1 Indicações:

Anormalidades nas trocas gasosas (pO2, pCO2):

● Doença pulmonar aguda e crônica

Obstrutiva (bronquite, enfisema, obstrução crônica, doença pulmonar,


asma);

Restritiva (pneumonia, atelectasia, edema pulmonar, doença pulmonar


infiltrativa aguda ou crônica);

Vascular pulmonar (embolia pulmonar, vasculite);

Controle ventilatório (síndromes da apneia do sono, síndrome de


hiperventilação, sistema nervoso central doença).

● Insuficiência respiratória aguda

Qualquer doença obstrutiva (bronquite, enfisema, doença crônica, doença


obstrutiva, asma);

Síndrome do desconforto respiratório do adulto;

Trauma;

Drogas e toxinas.

● Doenças cardiovasculares

Insuficiência cardíaca congestiva;

Choque (com derivação pulmonar).

● Testes de função pulmonar em repouso e exercício

● Monitorando oxigenoterapia aguda e crônica

● Estudos de distúrbios do sono

Desequilíbrio ácido-base

● Acidose metabólica

Acidose láctica;

Insuficiência renal;

Cetoacidose;
Intoxicações (monóxido de carbono, metanol, etileno glicol).

● Alcalose metabólica

Hipocloremia;

Hipocalemia;

Aspiração ou vômito gástrico;

Administração de bicarbonato de sódio.

2.1 Contraindicações:

● A punção arterial radial é contraindicada na presença de uma deficiência conhecida de


circulação colateral na extremidade superior distal;

● Infecção de pele no local da punção;

● Uso de anticoagulantes ou coagulopatias (ela deve ser realizada apenas se for


absolutamente necessária, devido ao aumento do risco de sangramento e formação de
hematoma);

● Insuficiência arterial grave ou descompensada.

3. TÉCNICA

O teste começa na fase pré-analítica, que inclui todas as atividades que ocorrem antes da
inserção da amostra no instrumento analítico. A fase analítica segue e inclui as reações químicas,
fluídicas e outros processos que ocorrem na plataforma analítica. O teste termina com a fase
pós-analítica, que inclui todos os eventos que ocorrem após a geração do resultado do teste,
como entrada de dados, transporte do resultado através de vários sistemas de informação e
interpretação do resultado.

A punção arterial radial é o método de preferência para obter a amostra. Sua localização
pode ser encontrada palpando-se o processo estilóide do rádio e em seguida, palpando o tendão
flexor radial do carpo localizado medialmente ao processo estilóide. A artéria radial está localizada
entre o processo estilóide o tendão. A artéria pode ser de difícil palpação em alguns pacientes,
como, por exemplo quando há edema ou vasoespasmo sobrejacente. Nesses casos, um
dispositivo de ultrassom Doppler portátil, pode ser utilizado para localizar a artéria radial.

Em casos de contraindicação da punção radial, outros locais de punção podem ser


utilizados. A segunda opção mais comum é artéria femoral, que atravessa o ligamento inguinal
aproximadamente em seu ponto médio, localizado próximo a crista ilíaca e a sínfise púbica. Em
pacientes obesos, pode haver dobras cutâneas abaixo e acima da linha presumida do ligamento
inguinal, dificultando a localização correta. A punção femoral deve ser realizada no ponto médio
da artéria femoral comum (CFA), localizado entre a artéria epigástrica inferior e a bifurcação dos
ramos superficial e profundo, e geralmente encontra-se no nível do centro da cabeça do fêmur.

*​INSERIR FIGURA 2 AQUI​*

3.1. Processamento
A composição do sangue arterial é uniforme e não depende de alterações na circulação
sistêmica ou local. A coleta de amostras pode ser realizada usando seringas de amostras de
sangue arterial (técnica correta será mais bem relatada no tópico 3.4). A preparação para a
amostragem inclui identificação do paciente, um formulário de solicitação de gasometria arterial,
avaliação do paciente, explicação do procedimento de coleta de amostras para o paciente e
regulamentos relacionados à rotulagem de amostras de gases no sangue.

Avaliação de alterações ventilatórias, recomenda-se que o paciente permaneça em estado


relaxado por pelo menos 5 minutos antes da realização do exame, deve-se utilizar uma seringa
plástica, descartável e de preenchimento automático. Nas seringas de preenchimento
não-automático, o coletor precisa estar ciente do volume mínimo necessário para garantir
resultados precisos e causar perda mínima de sangue para o paciente.

O uso de heparina de lítio equilibrada e liofilizada é recomendado para gasometria arterial e


medições relacionadas em amostras de sangue arterial e capilar, para uma anticoagulação ideal,
recomenda-se rolar a seringa entre as palmas das mãos e inverte-la verticalmente.

As amostras devem ser analisadas o mais rápido possível. No momento da entrega da


amostra de gasometria ao laboratório deve-se registrar o tempo entre a amostra e a análise, que
não deve exceder 30 minutos. Antes de analisar, a amostra deve ser inspecionada e sua
integridade deve ser avaliada quanto a presença de bolhas de ar, coágulos, volume insuficiente de
amostra ou outras não-conformidades.

Além dos valores dos gases no sangue (e / ou outros analitos) e dos dados de identificação do
paciente, um relatório completo deve conter informações sobre:

Tempo de coleta;

Tempo de entrega;

Tempo de análise;

Tempo de liberação dos resultados;

Tipo de amostra (arterial, capilar, venosa) e modo de amostragem

Quaisquer configurações do ventilador, modo de ventilação e informações sobre


suprimento de oxigênio;

O tipo e localização de quaisquer infusões de fluidos;

O local da coleta;

Frequência respiratória;

Temperatura corporal;

Postura e atividade do paciente (por exemplo, ansiedade)

O médico que solicitou o exame deve correlacionar os resultados com o quadro clínico do
paciente.

3.2. Erros de processamento

Pode ocorrer em qualquer um dos 5 estágios a seguir:

● Pré-pré-analítico: pedido inadequado de teste, erro de entrada do pedido,


identificação incorreta do paciente, contaminação da amostra, acidente de coleta
(hemólise, coagulação, volume insuficiente), recipiente de coleta, armazenamento,
manuseio e transporte inadequados.

● Pré-analítico: erro na classificação, erro na alíquota, erro de pipeta, etiqueta


incorreta da alíquota, tempo de velocidade da centrífuga inadequado.

● Analítico: ​mau funcionamento do instrumento, carregamento incorreto da amostra,


interferência no ensaio, falha no controle de qualidade não detectada.

● Pós-analítico: validação inadequada de dados, falha no relatório, tempo de resposta


longo, erro de entrada de dados, valor crítico não reportado.

● Pós-pós-analítico: perda do relatório, interpretação incorreta do resultado, resposta


inadequada aos resultados, falha em consultar o serviço correto para obter
assistência.

3.3 Conservação

É recomendado que as amostras sejam coletadas em uma seringa de plástico, deixadas


em temperatura ambiente e analisadas em até 30 minutos. Amostras que devem ser mantidas por
mais de 30 minutos, devem ser colhidas e armazenadas em um recipiente de vidro e resfriadas a
0-4°C. Como a pO2 em amostras colhidas de indivíduos com contagens muito altas de leucócitos
pode diminuir rapidamente, é necessário o seu resfriamento.

3.4 Técnica de coleta

Antes da coleta, deve ser realizada a manobra de Allen ​para avaliar a adequação da
circulação colateral da artéria radial pela artéria ulnar. Para realizar o teste, deve-se obstruir as
artérias ulnar e radial, instruindo o paciente cerrar o punho por, aproximadamente, 30 segundos,
para drenar o sangue da mão. Logo em seguida o paciente deve abrir a mão e sua palma
aparecerá pálida. Nesse momento, deve ser descomprimida a artéria ulnar, se houver circulação
colateral adequada há o retorno da coloração normal em 10 segundos.

*INSERIR FIGURA 3 AQUI*

● O pulso do paciente deve ser estendido em supinação;

● Um coxim pode ser colocado sobre o pulso para manter a posição;

● Coloque as luvas e um jaleco não estéril;

● Abra o kit de amostragem e identifique cada componente, os deixe prontos para uso;

● Limpe o local com algodão embebido em álcool;

● Palpe o pulso radial e determine o ponto de impulso máximo ou utilize o aparelho de


ultrassom com Doppler para identificar a localização da artéria radial;

● Usando a seringa de 5ml e agulha pequena, aspire lidocaína a 1%;

● Ao inserir pela primeira vez a agulha sob a pele, puxe o êmbolo para garantir que não
tenha perfurado um vaso;

● Injete uma pequena quantidade de analgésico e aguarde de 30 a 60 segundos para


que a lidocaína tenha ação;
● Aspire cerca de 0,5mL de heparina sódica, despreze o excesso da seringa e conecte a
agulha ou scalp

● Realoque o impulso máximo com os dedos indicador e médio da mão não dominante;

● Segurando a seringa de coleta de sangue arterial com a mão dominante, aponte a


agulha na direção do pulso do paciente;

● Perfure a pele em um ângulo de 30 a 45º em um ponto logo abaixo do indicador e do


dedo médio da mão não dominante;

● Avance a agulha lentamente até que a seringa se encha de maneira fácil e passiva
com sangue vermelho pulsante;

● Idealmente, deve-se obter pelo menos 1 a 3ml de sangue arterial;

● Se não for obtido sangue, não puxe o êmbolo, retire a agulha lentamente até que
esteja logo abaixo da pele e tente novamente o procedimento;

● Após a coleta da amostra, retire a seringa e aplique pressão no local com gaze estéril
por aproximadamente 5 minutos;

● Expulse as bolhas de ar da seringa com leves batidas sobre a seringa;

● Cubra a agulha com a tampa de segurança anexada e remova a agulha da seringa ou


use a tampa de borracha para removê-la.

● Verifique se a seringa está identificada com o nome e o número da unidade do


paciente.

● Se for necessário transporte para o laboratório, coloque a seringa inteira em um


recipeinte com gelo;

● Depois de aplicar pressão no local da punção por 5 minutos, afixe ​a gaze com fita
adesiva;

● Descarte todos os objetos cortantes em recipientes designados para objetos cortantes.

*INSERIR FIGURA 4 AQUI*

4. INTERPRETAÇÃO DO EXAME

Distúrbios ácido-base respiratórios são iniciados por aumento ou diminuição na pCO2,


enquanto distúrbios metabólicos são iniciados por elevação ou redução no HCO3−.

4.1 Alcalose metabólica

Na alcalose metabólica, ocorre diminuição da concentração de H+ e aumento do pH. No


entanto, a causa se dá pela elevação na concentração de HCO3− no líquido extracelular. Esse
aumento é parcialmente compensado por redução da frequência respiratória, aumentando a pCO2
e contribuindo para o retorno do pH ao normal. Além disso, o aumento da concentração de
HCO3− no líquido extracelular aumenta a carga filtrada de HCO3− renal, que, por sua vez, gera
excesso de HCO3− em relação ao H+ secretado no líquido tubular renal. Esse excesso não é
reabsorvido por não haver secreção de H+ para troca e então é excretado na urina.

As principais causas de alcalose metabólica são:


Administração de diuréticos - aumentam o fluxo de líquido nos túbulos distais e
coletores, e como consequência há o aumento da reabsorção de bicarbonato e
secreção de H+;

Hiperaldosteronismo - provoca extensa reabsorção de Na+, consequentemente,


estimulando uma maior secreção de H+.

Vômitos do conteúdo gástrico - causam perda de HCl, resultando em perda de ácido do


líquido extracelular.

Ingestão ou infusão de substâncias alcalinas, como o bicarbonato de sódio.

4.2 Acidose metabólica

A acidose metabólica pode ter origem em diversas causas gerais: deficiência na excreção
renal de ácidos normalmente formados no organismo; formação de quantidades excessivas de
ácidos metabólicos; adição de ácidos por ingestão ou infusão parenteral; e perda de bases pelos
líquidos corporais.

As principais causas de acidose metabólica são:

Acidose tubular renal - resulta de defeito na secreção renal de H+, na reabsorção de


HCO3- ou ambos. Ocorre, principalmente, perda de HCO3- na urina, ou incapacidade
do mecanismo secretório de urina alcalina.

Diarreia ou vômitos de conteúdo intestinal - perda de grande quantidade de


bicarbonato intestinal.

Ingestão excessiva ou infusão de ácidos como por exemplo ácido acetilsalicílico.

Diabetes Melito descompensada ou cetoacidose diabética - níveis de ácido


acetoacético podem aumentar muito.

Doença renal crônica - aumento de ânions de ácidos fracos nos líquidos corporais que
não estão sendo excretados pelos rins.

4.3 Alcalose respiratória

Na Alcalose respiratória, há aumento no pH do líquido extracelular e queda da


concentração de H+. A causa é a diminuição da pCO2 plasmática provocada por hiperventilação.
A redução da pCO2 gera queda na secreção de H+ pelos túbulos renais. Consequentemente, não
é secretado H+ suficiente no líquido tubular renal para reagir com o HCO3− filtrado, que não é
reabsorvido e é excretado na urina, resultando em redução da concentração plasmática de
HCO3− e correção da alcalose.

As principais causas de alcalose respiratória são:

Psiconeurose - aumento da frequência respiratória até níveis que levam à alcalose;

Altas altitudes - ar com pressão de oxigênio reduzida estimula a respiração,


provocando perda excessiva de CO2 e desenvolvimento de alcalose respiratória
branda.

Os principais mecanismos compensatórios são os tampões químicos dos líquidos


corporais e a capacidade dos rins de aumentar a excreção de HCO3−.

4.4 Acidose respiratória


Qualquer fator que diminua a ventilação pulmonar aumenta também a pCO2 dos líquidos
extracelulares, causando incremento da concentração de H2CO3 e H+, resultando em acidose.

As principais causas de acidose respiratória são:

Danos ao centro respiratório no bulbo;

Obstrução de vias aéreas;

Pneumonia;

Enfisema ou diminuição da área de superfície da membrana alveolar;

Qualquer outro fator que interfira na troca de gases entre o sangue e o ar alveolar,

Na acidose respiratória, as respostas compensatórias disponíveis são os tampões dos


líquidos corporais; e os rins, que necessitam de vários dias para compensar o distúrbio.

*​INSERIR FIGURA 5 AQUI*

5. DIFICULDADES E COMPLICAÇÕES

As dificuldades mais comuns durante a punção arterial radial são o vasoespasmo arterial
impedindo a obtenção da amostra e a coleta de sangue venoso no lugar de sangue arterial. No
caso de suspeita de vasoespasmo, o procedimento deve ser interrompido e uma nova tentativa
deve ser feita em outro pulso arterial. A suspeita de amostra venosa, se dá quando o sangue não
é pulsátil, de coloração mais escura e com fluxo mais lento. Contudo, a coloração do sangue em
um paciente com grave hipoxemia pode se apresentar mais escurecida mesmo em amostra
arterial.

As complicações mais comuns são sangramento, dor local e vasoespasmo. Complicações


vasculares são graves, no entanto, são raras. Algumas das complicações descritas são:

● Dor local;

● Vasoespamo - causado pela dor e/ou irritação à inserção da agulha. Pode ser evitado
tentando-se relaxar o paciente, ao explicar o procedimento e posicionar o paciente
confortavelmente por exemplo;

● Hematomas e hemorragia - realização de pressão no local da punção por 5 minutos


pode prevenir sua ocorrência;

● Pseudoaneurismas (mais comum em artéria femoral) - o grande calibre e a localização


profunda da artéria femoral permite que acúmulo de grandes quantidades de sangue,
que inicialmente podem se apresentar sem achados clínicos;

● Embolização aérea ou de sangue coagulado e trombose;

● Anafilaxia do anestésico local;

● Infecções - suspeita-se quando há presença de eritema regional e febre. A infecção do


sítio de punção é mais comum em pacientes obesos. Antissepsia adequada previne a
sua ocorrência;
● Lesão de raiz nervosa - suspeita-se quando há paresia e dor persistente. Para prevenir
sua ocorrência o local de punção deve ser adequado, isso só é possível com
conhecimento anatômico adequado da pessoa que irá realizar o procedimento;

● Oclusão arterial e isquemia de mão e punho (mais comum em artéria radial) -


suspeita-se quando há alterações na cor da pele dos membros, pulsos ausentes e frieza
distal;

● Resposta vasovagal;

● Trombocitopenia induzida por heparina.

6. DÚVIDAS COMUNS EM RELAÇÃO AO PROCEDIMENTO

Por fim, o paciente pode apresentar diversas dúvidas a respeito do procedimento.


Portanto, é essencial explicar o procedimento minuciosamente e em linguagem adequada ao
paciente. Algumas dúvidas que podem surgir são:

● O que é gasometria arterial?

○ Explique ao paciente que o procedimento consiste na obtenção de uma amostra de


sangue para análise dos gases arteriais e esclareça o porquê de sua realização
para o caso do paciente.

● Para que serve o exame?

○ Explique ao paciente que o exame é realizado para analisar os gases presentes no


sangue para determinar se existe alguma anormalidade respiratória ou metabólica
que precise ser tratada, ou para acompanhar a evolução do tratamento já instituído.

● Como é feito?

○ Explique ao paciente como o exame será realizado, onde será feita a punção, e
explique as implicações da coleta.

● Dói para realizar o exame?

○ Explique que o procedimento é um pouco mais doloroso que de uma punção


venosa e deixe claro que realizará anestesia local para diminuir a dor.

1. Referências

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