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Copyright © 2008 by Luiz Carvalho Júnior

Capa, Arte e Diagramação


Mac Donald Fernandes Bernal

Colaboradores
Frederico da Silva e Júlio Cesar dos Santos

CIP. Brasil. Catalogação na Fonte


BIBLIOTECA NACIONAL-FUNDAÇÃO MIGUEL DE CERVANTES

Carvalho Júnior, Luiz


Ministério de Música e Arte
O ministério de Música no Grupo de Oração
Editora RCC BRASIL
86p.
GS1 789892788505
Religião

Caro leitor, pessoas cristãs, ou simplesmente honestas, não necessitam do jugo da lei para
fazerem o que é certo. Pensando nisso, a RCC Brasil está lhe dando cinco bons motivos para não
copiar o material contido nesta publicação (fotocopiar, reimprimir, etc), sem permissão dos possui-
dores dos direitos autorais. Ei-los:
1. A RCC precisa do dinheiro obtido com a sua venda para manter as obras de evangelização que
o Senhor a tem chamado a assumir em nosso País;
2. É desonesto com a RCC que investiu grandes recursos para viabilizar esta publicação;
3. É desonesto com relação aos autores que investiram tempo e dinheiro para colocar o fruto do
seu trabalho à sua disposição;
4. É um furto denominado juridicamente de plágio com punição prevista no artigo 184 do Código
Penal Brasileiro, por constituir violação de direitos autorais (Lei 9610/98);
5. Não copiar material literário publicado é prova de maturidade cristã e oportunidade de exer-
cer a santidade.
IMPRESSO NO BRASIL
Printed in Brazil 2008
Luiz Carvalho Júnior

Colaboradores
Frederico da Silva
Júlio Cesar dos Santos
ÍNDICE

Apresentação.......................................................................................................7
Introdução............................................................................................................9
Orientações Gerais para o encontro...............................................................10

ENSINO 1 – O CHAMADO DO ARTISTA E A RESPONSABILIDADE DA MIS-


SÃO...............................................................................................................12
1.1. Por que você está no Ministério de música e artes da RCC?.........................12

ENSINO 2 – A ESTRUTURA DO MINISTÉRIO DE MÚSICA E ARTES DA RCC


– VISÃO GERAL.................................................................................................15
O que é?....................................................................................................15
Objetivo do ministério...............................................................................15
2.1.O ministério de música e artes estadual..............................................16
Objetivo geral................................................................................16
Objetivos específicos.....................................................................16
2.2. O ministério de música e artes diocesano..........................................17
Objetivo geral................................................................................17
Objetivos específicos.....................................................................17
2.3. O coordenador diocesano do ministério de música e artes..............18
2.4. As qualidades básicas do ministro das artes são:................................19

ENSINO 3 – MINISTERIO DE MÚSICA NO GRUPO DE ORAÇÃO........21


3.1. O ministro de louvor...........................................................................21
3.1.1. Comportamento e postura do Ministro de Louvor.............23
a) Olhares, gestos e entonação......................................................24
b) Ensinar e ministrar novos cantos...............................................24
c) Exemplos de condução de oração.............................................25
d) Músicas evangélicas, piercings, tatuagens..................................26
3.2. Estrutura do ministério de musica......................................................29
3.2.1. O coordenador.....................................................................29
 3.2.2. O animador..........................................................................30
3.2.3. Vocalistas..............................................................................31
3.2.4. Instrumentistas.....................................................................32
3.2.5. Técnico de som...................................................................32
3.3.O ensaio..............................................................................................33
3.4. Técnica vocal.......................................................................................34
3.5. O ministério de música dentro do grupo de oração..........................34

ENSINO 4 – A HUMILDADE DO ARTISTA..................................................38


4.1. Definição............................................................................................41
4.2. Humildade: luta contra soberba.........................................................42
4.3. Humildade sim, falsa humildade não..................................................48
4.4. Humildade e mansidão: as virtudes do coração de Jesus...................51

ENSINO 5 – A OBEDIÊNCIA DO ARTISTA.................................................54


5.1. Definição............................................................................................55
5.2. A obediência de Jesus..........................................................................57
5.3. Virgem Maria, um modelo de obediência...........................................59
5.4. Como viver a obediência em nosso ministério..................................62
5.4.1. Obedecer a voz de Deus....................................................63
a) Pessoa de Oração......................................................................64
b) Adoração...................................................................................65
c) Estudo Bíblico............................................................................65
d) Eucaristia e Reconciliação..........................................................67
e) Amor e devoção a Maria...........................................................68
5.5.Conclusão...............................................................................70

ENSINO 6 – A VIDA DE ORAÇÃO CARISMÁTICA DO ARTISTA..........71


6.1. O que é oração?..................................................................................71
6.2. Formas de oração...............................................................................72
6.3. Importância da vida de oração............................................................75
a) Oração vocal..............................................................................76
b) Meditação..................................................................................77

c) Mental........................................................................................77
6.4. Como vivê-la?....................................................................................78
a) Local do encontro......................................................................78
b) Horário......................................................................................78
c) O que eu preciso levar para a oração?......................................79
6.5. Dificuldades da vida de oração...........................................................79
6.6. De que maneira é eficaz nossa oração?..............................................81
6.7. Recapitulando....................................................................................82
6.8. Conclusão..........................................................................................83

Apêndice.............................................................................................................84
Bibliografia .........................................................................................................86


APRESENTAÇÃO

A Comissão de Formação é um órgão de assessoria e consultoria do Con-


selho Nacional e tem a finalidade de articular e realizar as atividades de formação
de toda RCC do Brasil e vem dar suporte a todos ministérios para que realizem
suas formações específicas e que possam atender com qualidade os grupos de
oração.

“Junto a uma forte experiência religiosa e uma destacada convivência comuni-


tária, nossos fiéis precisam aprofundar o conhecimento da Palavra de Deus e os conteú-
dos da fé, visto que esta é a única maneira de amadurecer sua experiência religiosa”.

A busca de sabedoria e do conhecimento de Deus é uma constante na vida


do ser humano. O homem é um ser religioso e na sua caminhada busca fazer da
religião um encontro com Deus, conhecer Deus.

A partir do encontro pessoal com Cristo experimentado, ao receber o


anúncio querigmático o cristão fica entusiasmado e cada vez mais quer crescer no
aprofundamento doutrinal, moral e espiritual. Buscando viver a experiência pes-
soal do Batismo no Espírito Santo (identidade de nosso movimento), sentimos a
necessidade de uma formação madura e doutrinária para não andarmos ao sopro
de qualquer vã doutrina.

Dando seqüência ao módulo básico de formação Paulo Apóstolo, ampliado


com os três encontros de formação humana, cada ministério na RCC tem a res-
ponsabilidade de aplicar sua formação específica, naquilo que é importante para o
funcionamento do mesmo. E esta deve ser sistemática, adaptada à capacidade dos
seus membros para que todos possam responder cada vez mais a razão de sua fé.
Uma boa formação é a garantia da vida e da força de cada ministério sendo, por-
tanto, a guardiã dos carismas.

A falta de compreensão e conseqüentemente não assumir o caminho da


formação com empenho e dedicação têm causado desvios, apatias e até mesmo
abandono da RCC e da Igreja.

Há, portanto, uma necessidade incontestável de que as lideranças e os


membros da RCC não resistam à formação, mas a busquem incessantemente,
para permanecerem no caminho de santidade e serviço.

 - CNBB. Documento de Aparecida § 226c
Ressaltamos, ainda que, os ministérios são instâncias de serviço do
grupo de oração, da diocese, do estado, etc. Cabe a eles estimular e in-
centivar a formação, porém não têm eles autonomia de decisões, devendo
se reportar para orientações e decisões sempre ao coordenador do grupo
de oração/diocesano/estado, dependendo da esfera. Os ministérios não
podem criar coordenações paralelas, pois cabe ao coordenador do GO, da
diocese ou do estado o discernimento e pastoreio direto dos servos. Aos
responsáveis pelos ministérios em qualquer esfera cabe a formação espe-
cífica do mesmo.

Conscientes da importância da formação e que esta não pode estar separa-


da de uma vida de oração, permaneçam em Cenáculo para um perene Pentecos-
tes.

Nossa Senhora sede da Sabedoria, rogai por nós!

Comissão Nacional de Formação


INTRODUÇÃO

O Ministério de Música e Artes da RCC é um serviço aos irmãos através


dos dons e talentos artísticos que Deus nos deu. Nosso lugar prioritário de atuação
é no Grupo de Oração. Por isso, o Conselho Nacional resolveu adotar a nomencla-
tura: Ministério de Música e Artes na RCC, com seu enfoque primordial e principal
no ministério de música; pois cabe a ele a atuação no GO.

Procuraremos desenvolver na apostila 2 o tema: “As artes sacras na RCC”,


onde trabalharemos o teatro sagrado, a dança e a música na liturgia.

A música é parte característica e indispensável do GO, portanto o


ministério de música é um ministério fundamental para a vivência correta
e original do GO. As outras expressões artísticas são uma graça para a
RCC, mas não constituem algo indispensável para o GO. São expressões
fortíssimas de evangelização e de extrema importância para o fiel cumpri-
mento de nossa missão.

Precisamos buscar a imitação da humildade e a obediência de Jesus, e isso


é alcançado através de uma vida de oração diária, carismática e fecunda.

Esta vida de intimidade com Deus nos fará descobrir a cada dia o valor de
nosso chamado e a seriedade de nossa missão, que muitas vezes pedirá de nós re-
nuncias e desprendimento para o bom testemunho de nossa vida nova em Cristo
Jesus.

Nosso ministério tem uma grande responsabilidade na vivência e prática


da liturgia, isso requer um zelo e um grande esforço de nossa parte, além de um
estudo aprofundado deste tema que posteriormente abordaremos com mais pro-
fundidade.

Gostaria de agradecer, primeiramente a Deus a oportunidade de partilhar


com você estes temas e um pouco de minha vivência neste ministério. Também
agradeço aos irmãos que colaboraram com artigos nesta apostila e ao conselho da
RCC pela confiança e apoio no meu ministério e de minha comunidade (Comuni-
dade Recado).

LUIZ CARVALHO (Comunidade Recado)


Coordenador Nacional do Ministério de Música e Artes na RCC 
ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ENCONTRO

ESPIRITUALIDADE

Pela vivência do batismo no Espírito Santo, atualizamos a experiência de


Pentecostes e os carismas vão sendo suscitados. Nosso objetivo é levar os filhos
de Deus batizados sacramentalmente a viverem seu múnus batismal pela busca da
santidade, meta de todo cristão.

Procuramos assim uma conversão pessoal contínua, perseverando na dou-


trina dos apóstolos (formação catequética), nas reuniões em comum (na nossa
realidade os grupos de oração), na fração do pão e nas orações (cf. At 2,42).

Tudo isso tem como princípio e fim último a excelência da caridade, que nada mais
é que a operacionalização do amor (cf. 1 Cor 13,1-8a.13b).

METODOLOGIA

Por fazer parte do módulo serviço da Formação, sugerimos que os partici-


pantes deste módulo já tenham feito o módulo básico da Formação Paulo Apósto-
lo, e/ou que estejam fazendo e/ou que sejam incentivados e estimulados a fazê-lo!

Este encontro poderá ser ministrado num fim-de-semana, em retiros “fe-


chados” (com pernoite), retiros “abertos” (sem pernoite), ou em reuniões sema-
nais (dando-se um ensino por semana). Contudo deve se observar que sua eficácia
ocorrerá pela forma como ele for aplicado, a saber:

1. Pela escolha dos pregadores (priorizando os formadores da música com vivên-


cia e experiência no ministério para Grupos de Oração e/ou os formadores da
Paulo Apóstolo).

O (s) formador (es) que irá (ão) ministrar o encontro deverá (ão) estudar
bem a apostila antes de aplicá-la, lendo se possível alguns livros sugeridos ao final
dela. Deve se evitar estender por demais nas palestras querendo dar todo o con-
teúdo, mas busque-se em cada ensino adequar à realidade e ao momento de cada
encontro.

2. Busque-se fazer uma oração ao final de cada ensino (como sugerido).


10
Não deverá faltar tanto no início de cada dia de ensino como ao final de
cada palestra a “dinâmica carismática”, com um momento forte de ora-
ção relativo ao tema, seguindo a moção do Espírito Santo. Ficará a critério
e discernimento dos responsáveis pelo encontro ou formadores conduzir
esses momentos conforme o Espírito Santo estiver “soprando”.

A preocupação não pode ser “passar” a apostila, mas sim ministrar


o encontro para que os participantes vivenciem o que se está ensinando!

Ficará a critério da coordenação local, montar as equipes de serviço, tais


como: crachás, acolhida, ministério de música (que neste caso deverá também
participará do encontro fazendo-o), intercessão, bem estar, etc.

11
ENSINO 1

O CHAMADO DO ARTISTA E A RESPONSABILIDADE DA MISSÃO

OBJETIVO: Levar os participantes a vivenciarem o chamado pessoal do Senhor.


Para tanto, antes de se iniciar este ensino, deve-se fazer uma dinâmica lançando a
pergunta: O que os levou a este encontro e como estão exercendo o ministério
(caso já o exerçam)? Sugere-se que todos escrevam em uma folha de papel suas
respostas, devendo ficar com eles até o final do encontro para ver o que o Senhor
os irá revelar.

Esse ensino deverá ter uma ótica mais testemunhal e de vivência, pro-
curando apresentar a importância do chamado, responsabilidade e compromisso
com a missão, enfocando mais na pessoa do artista.

1.1. POR QUE VOCÊ ESTÁ NO MINISTÉRIO DE MÚSICA E ARTES DA


RCC?

Se a sua resposta for “porque sei tocar, ou dançar, ou cantar, ou atuar” ou


“porque gosto de tocar, ou dançar, ou cantar, ou atuar”, eu sinto muito lhe dizer
que suas respostas estão incompletas e parcialmente incorretas e seu Ministério
está correndo um sério e permanente risco de acabar.

Quando estamos no Ministério só porque gostamos ou sabemos fazer al-


gum tipo de arte, só vamos permanecer neste Ministério até quando for conve-
niente para nós. Ao passo que se estamos em um Ministério porque temos a con-
vicção de um chamado especifico do Senhor (cf. Jo 15,15-16) permaneceremos
nele e com Ele, enquanto for a Sua vontade (trabalhar em Jo 15,1-8) independente
de nossa vontade ou gosto pessoal. É claro que expressar nossa arte nos dá
prazer, mas essa não pode ser nossa motivação maior.

Vamos tomar a passagem de Num. 3, 5-13.

Nesta passagem vemos a eleição dos levitas para o serviço do templo. Esta
tribo foi consagrada por Deus para servir na casa de Deus. E como é interessante
ver o cuidado e o direito que Deus exerce sobre eles.

Nós do Ministério das Artes somos os levitas de hoje. A nós cabe a arte
12 na casa do Senhor, na espiritualidade da RCC. Nosso lugar de trabalho é o grupo
de oração, ou em nome dele e em comunhão com ele, as praças, os hospitais, as
praias, os orfanatos, enfim, onde estiver o povo que precisa do batismo no Espírito
Santo.

Tenho procurado reacender nos corações de todos os irmãos que tenho


encontrado no Brasil ou no exterior, essa verdade linda e de grande responsabili-
dade. Nosso Ministério é uma resposta a Deus. E ao mesmo tempo uma resposta
de Deus ao seu povo que clama sua presença, seu cuidado, sua salvação.

E que coisa mais linda: Deus confia em nós. Deus espera pelo nosso sim de-
cidido a cada dia, a cada missão, a cada desafio. Mesmo que nos custe caro. Mesmo
que nos custe o sacrifício e a renuncia. Sabemos que nada é em vão se é feito por
amor, com amor e pelo amor.

Procure ouvir pessoalmente à voz do Senhor chamando você para a mis-


são. Não abra mão desse direito, porque essa voz suave e ao mesmo tempo forte
do Senhor será consolo e fortaleza nas horas de provação, de desentendimentos,
de críticas, de renúncias, de combate.

“O discípulo não é mais que o mestre, o servidor não é mais que o pa-
trão. Basta ao discípulo ser tratado como seu mestre, e ao servidor como seu
patrão.”(Mt 10, 24-25) 

Esta palavra do evangelho precisa estar em nossas mentes durante toda


nossa vida de Ministério. Seguimos o mestre Jesus. O mesmo que fez milagres, que
foi aclamado, mas também que foi condenado à morte, que sofreu solidão, que foi
caluniado, que foi abandonado pelos seus amigos, que chorou, que suou sangue.
Em nosso Ministério poderemos passar por tudo isso. Não mais que isso. Porque
seguimos os passos do Mestre de Nazaré. E a cada dia que abraçarmos nossa cruz
e com a força de Deus superarmos as dificuldades, estaremos mais parecidos com
o Senhor e conseqüentemente mais santos. E não é isso que estamos constante-
mente pedindo e ensinando as pessoas a pedirem? Deus escuta nossas preces!

Outra reflexão que gostaria de fazer com você a respeito da seriedade


do Ministério a que Deus o chamou é a respeito da conseqüência do seu “sim”.
Quando você se coloca a serviço de um Ministério, todas as pessoas que foram
reservadas por Deus para serem alcançadas pela sua missão passam a “depender”
e a esperar pela manifestação da graça de Deus que virá através do seu chamado
especifico. Claro que Deus tudo pode, mas Ele escolheu precisar de você. Ele quer
13
 - Todas as citações são retiradas da Bíblia Ave-Maria.
precisar de seus braços, da sua voz, dos seus talentos para serem canais do seu
amor e de sua salvação.

Pelo nosso “sim” ao plano de Deus muitos irmãos têm a alegria de se en-
contrarem com a salvação de nosso Senhor.

Estudando sobre a palavra “ministrar” encontramos os sinônimos: abas-


tecer, equipar, fornecer, prover e munir. Através da arte carismática queremos
abastecer, equipar, fornecer, prover e munir nossos irmãos com a experiência de
Deus, com o seu poder, com a sua salvação e com a mentalidade do seu reino. Para
isso nós fomos eleitos e capacitados com nossos talentos naturais e dons sobrena-
turais.

Sejamos felizes! Sejamos fiéis!

Sugestão

Por ser uma palestra inicial de motivação,sugere-se fazer um bom momen-


to de oração para que os participantes descubram, ou redescubram o chamado
pessoal a partir de uma nova efusão do Espírito Santo.

14
ENSINO 2

A ESTRUTURA DO MINISTÉRIO DE MÚSICA E ARTES DA RCC

VISÃO GERAL

OBJETIVO: Apresentar e esclarecer como deve se estruturar o ministério. De-


pendendo do público que estiver fazendo o encontro, poderá se enfocar/enfatizar
mais a atuação do ministério dentro do grupo de oração, em eventos da RCC, na
diocese e/ou no Estado, etc.

O QUE É?

O Ministério de Música e Artes é o serviço da Renovação Carismática res-


ponsável pela formação e acompanhamento das expressões artísticas: música, te-
atro, dança pintura e outros, que têm atuação na RCC.

OBJETIVO DO MINISTÉRIO

O principal objetivo é formar os artistas em santidade e serviço para atu-


arem com autoridade e poder no Grupo de Oração – G.O. A razão de ser do
Ministério de Música e Artes da RCC é o Grupo de Oração: fazer com que a arte
se manifeste com o exercício dos carismas, no poder do Espírito Santo, levando as
pessoas a uma experiência pessoal com Jesus Cristo. Mas as atividades dos Minis-
térios artísticos da RCC não se limitam ao G.O.: o Ministério de Música e Artes da
RCC pode atuar em diversos ambientes que necessitem ouvir a Boa Nova de Jesus
Cristo, sempre em unidade com os coordenadores do G.O. e da RCC local.

15
2.1. O MINISTÉRIO DE MÚSICA E ARTES ESTADUAL

OBJETIVO GERAL

• Promover unidade na formação espiritual dos ministros de Música e Artes em


todo o estado;

• Fomentar o aprimoramento técnico para bem desenvolver os dons espiritu-


ais;

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Promover a unidade entre as dioceses apontando-as para as visões Nacionais


e Estaduais. O coordenador é um elo dos conselhos Nacional e Estadual e sua
função é fundamental na transposição da visão geral da RCC em linguagem
específica para as artes;

• Encaminhar para as dioceses a formação Nacional

• Estar em contato com os demais coordenadores estaduais de Música e Artes.


A partilha e a troca de experiências, bem como os laços fraternos, fortalecem
a caminhada cristã e favorecem a unidade e a missão.

• Gerar formação interna, quando necessário, sempre partilhando-a com a equi-


pe Nacional, a fim de preservar a unidade e colaborar com a formação;

• Visitar as dioceses não somente para encontros, mas, sobretudo, para reuniões
de oração, escuta e intercessão com lideranças;

• Identificar e ajudar na formação de novas lideranças gerando novos servos para


a RCC;

• Levar a experiência de seu Estado para a equipe Nacional, possibilitando que


outros Estados cresçam com seus acertos e desafios, assim como receber as
sugestões e testemunhos dos outros coordenadores.

16
2.2. O MINISTÉRIO DE MÚSICA E ARTES DIOCESANO

OBJETIVO GERAL

Os Ministérios Diocesanos de Música e Artes trabalham juntamente com


a coordenação Estadual de Música e Artes da RCC possibilitando o cumprimento
do planejamento e ações discernidas em nível Nacional, Estadual e também dioce-
sano. São nossas abelhas operárias. Estão diretamente ligadas aos artistas em seu
dia-a-dia e no cumprimento de suas funções especificas.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Servir em unidade com Ministério de Música e Artes Estadual e Nacional;

• Servir em unidade com a Coordenação Diocesana, Estadual e Nacional;

• Incentivar todos os Ministérios de Música e Artes a estarem inseridos nos Gru-


pos de Oração como membros participantes e atuantes;

• Visitar os Ministérios de Música e Artes sempre que possível dando uma for-
mação direcionada e reunindo-se com os coordenadores para aperfeiçoar o
trabalho, a espiritualidade e a vivência da fraternidade;

• Convidar e animar a todos os Ministérios de Música e Artes para participarem


de cursos, encontros e eventos da RCC, dando-lhes a oportunidade de cres-
cimento;

• Organizar e manter atualizado o Cadastro de todos os Ministérios de Música e


Artes existentes na diocese;

• Motivar e incentivar a criação e perseverança dos Ministérios de Música e Ar-


tes;

• Promover encontros de formação espiritual, humana, doutrinária e técnica


abordando temas essenciais à eficácia do Ministério conforme as necessidades
e realidades locais, sem falso ascetismo;

• Eleger seu núcleo de serviço favorecendo o aparecimento de novas lideranças,


o testemunho de unidade e evitando o acumulo de funções;

• Convocar os Ministérios de Música e Artes para ministrar os eventos da RCC 17


com sabedoria, discernimento e muita oração, deixando sempre prevalecer
a vontade de Deus. Observar sempre a maturidade, a espiritualidade, a con-
dição técnica que deve ser proporcional ao trabalho a ser executado, o com-
promisso no grupo de oração, a perseverança e unidade do Ministério a ser
convocado para o evento.

• Acolher e dar subsídios para que o Ministério responsável pela animação do


evento decorrente possa exercer sua função da melhor maneira possível.

• Elaborar uma ata com todas as atividades executadas durante a sua gestão para,
posteriormente, repassar ao novo ministro Diocesano de Música e Artes.

• Motivar e incentivar os Ministérios de música, teatro, dança , etc. a participa-


rem de Seminário de Vida no Espírito e Experiências de Oração.

• Promover e dar apoio a Festivais de Arte Católica ou eventos de evangelização


com as artes;

• Procurar Escolas de Música e de Artes em geral com o intuito de indicá-las aos


artistas para, assim, receberem orientações técnicas e aprofundarem no estu-
do com o objetivo de aprimorar o serviço desempenhado na Igreja.

2.3. O COORDENADOR DIOCESANO DO MINISTÉRIO DE MÚSICA E


ARTES

O Espírito Santo é o doador dos dons. É ele quem capacita as pessoas e


as cumula de talentos. Mas, para o crescimento da diocese, devemos observar
a Palavra de Deus, que nos orienta na escolha daqueles que devem tomar parte
em nosso Ministério: confia-o a homens (mulheres) fiéis que, por sua vez, sejam
capazes de instruir a outros (II Tim 2,2b), escolhei dentre vós homens de boa re-
putação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria (At 6,3), não pode ser um recém-
convertido, para não acontecer que ofuscado pela vaidade, venha a cair na mesma
condenação que o demônio, mas que goze de boa consideração por parte dos de
fora (I Tim 3,6-7). Seguindo estas orientações da palavra de Deus devemos tomar
cuidado na escolha do ministro Diocesano de Música e Artes.

As qualidades essenciais do ministro Diocesano e Estadual de Música e


18 Artes são:
• Ser investido da autoridade de Deus e procurar viver a graça do Batismo no
Espírito Santo;

• Ter experiência, conhecimento e intimidade com Deus através de uma vida


diária de oração e estudo da Palavra;

• Ter a consciência de ser chamado por Deus para cumprir aquele serviço aos
irmãos na imitação do Cristo, o servo do Senhor;

• Desejar servir aos irmãos e a Igreja neste Ministério e serviço específico;

• Ter disponibilidade de tempo para cumprir com suas tarefas;

• Ter testemunho de vida, buscando superar suas imperfeições e fraquezas com


a graça de Deus e seu esforço humano. “As palavras convencem, mas o teste-
munho arrasta”;

• Ter carisma de pastor amando todas as ovelhas sem distinção e dando o me-
lhor de si para elas (Jo 10,1-17);

• Estar disposto a trabalhar, estudar, orar, comprometer-se, obedecer e ser fiel


à sua missão. Não há lugar para acomodados e omissos.

2.4. AS QUALIDADES BÁSICAS DE UM MINISTRO DAS ARTES SÃO

• Ser membro atuante no Grupo de Oração da RCC

Obs: Atualmente alguns grupos de oração contam com a ajuda de al-


guns músicos que não participam ainda efetivamente do G.O., mas co-
locam a disposição do Ministério de Música e Artes seus talentos e
dons. Pedimos apenas que estas pessoas sejam acompanhadas de per-
to. Que este serviço dentro do G.O. seja como uma porta de entrada
para a espiritualidade da RCC na vida destes irmãos. Também orien-
tamos que estes instrumentistas ou cantores não sejam colocados à
frente do Ministério e nem como animadores, pois, por eles não terem
a experiência com os carismas, não seriam instrumentos eficazes na
condução carismática do Ministério de Música.

• Participar de Ministério de Música e Artes (música, teatro ou Dança)


da RCC; 19
• Buscar estar sempre atualizado em unidade com a RCC (diocesana
Estadual e Nacional);

• Caminhar na obediência com a Igreja (padres e bispos), coordenadores


e agentes pastorais;

• Procurar o Ministério de Formação (Escola Paulo Apóstolo) para apro-


fundar-se na fé, moral, doutrina da Igreja e Renovação Carismática
Católica.

Sugestão

Abrir um plenário para o esclarecimento de dúvidas.

20
ENSINO 3

MINISTÉRIO DE MÚSICA NO GRUPO DE ORAÇÃO

OBJETIVO: Esclarecer a forma, atuação e postura que o ministro de música deve


ter no GO e nos eventos.

3.1. O MINISTRO DE LOUVOR

“Ministério é, antes de tudo, um carisma, ou seja, um dom do Pai, pelo Filho, no


Espírito que torna seu portador apto a desempenhar determinadas atividades, serviços
e ministérios em ordem à salvação”.

Chamamos de Ministro ou dirigente de louvor, a pessoa responsável para


conduzir os momentos específicos de oração dentro do grupo, ou seja, oração de
louvor, perdão, adoração, súplica, etc.

Na RCC encontramos lugares onde esse serviço é executado exclusiva-


mente pelo ministro de louvor e o ministro de música, outros em que este serviço
é dividido com um dirigente de oração que pode ou não participar do ministério de
música. Em outros lugares encontramos a experiência de ter mais de um dirigente
de oração durante o grupo de oração. Cada realidade pode ver qual destes mo-
delos dá mais frutos, porém em qualquer modelo adotado é imprescindível saber
que para o exercício do serviço de ministrar o louvor em um GO é fundamental a
abertura e o recebimento do carisma ministerial, que confirma a vocação especifi-
ca do ministro de louvor. É preciso deixar que o carisma se manifeste.

Mas atenção: O ministro de louvor ou o dirigente de oração não


pode ser um total desconhecedor do básico da música como: tom, anda-
mento, etc, para que ele não atravesse a melodia, ou cante fora do com-
passo, obrigando os instrumentistas a correrem atrás dele. Para evitar
esses incidentes que podem comprometer completamente o GO, quando
ele não fizer parte do Ministério de música , deve manter uma unidade
com o mesmo, participando de vez em quando de seus ensaios.

Funções gerais do Ministro de Louvor:

21
 - CNBB. Missão e ministérios dos cristãos leigos e leigas § 84.
a) Ser ponte entre Deus e a assembléia, facilitando este relacionamento.

b) Ser canal da graça de Deus para aqueles que ainda não têm uma abertura e
intimidade com o Senhor e seus dons.

c) Acolher com alegria, através dos cantos, palavras e gestos cativantes as pessoas
que chegam ao grupo de oração. Para vencer a timidez, precisamos dar tempo
ao tempo, pedir ao Senhor que nos cure dos medos humanos e, se for preciso,
recorrer aos irmãos do ministério de cura para um acompanhamento. A timi-
dez pode ser um grande problema para nosso ministério, precisamos enfrentar
o problema e vencermos a cada semana, a fim de sermos canais livres da graça
de Deus para nossos irmãos.

d) Ser dócil à moção do Espírito, percebendo qual a moção de Deus para cada
momento e guiando o povo para vivenciar esta moção.

Em alguns lugares encontramos Ministérios de música que simplesmente se


preocupam em cantar as músicas previamente escolhidas e com a fórmula original
delas, não se abrindo à inspiração do Espírito para cada momento. Algumas vezes
poderemos cantar apenas uma parte da música repetida vezes, aprofundando a
letra a cada momento, ou até adaptando a letra naquele momento.

A animação não tem uma quantidade pré-determinada de músicas, pode


ser que a moção de Deus para aquele GO fique apenas na primeira música escolhi-
da. Porém é importante termos nosso programinha feito, com a seqüência daque-
les cantos que foram ensaiados, mas sempre conservando a liberdade do Espírito.

Facilita muito quando o ministério tem seu repertório dividido por temas
(Maria, louvor, perdão, etc.) devidamente cifrado. Não esquecendo-nos que este
repertório deve estar sempre atualizado.

Para discernir as músicas do GO levam-se em consideração: a moção do


Espírito para aquele dia do GO, a realidade atual do ministério (músicas mais sim-
ples para os iniciantes, porém bem executadas, será melhor que uma música mais
difícil e mal executada) o tipo do grupo (jovens, idosos, etc.) Lembrando que se
houver uma inspiração nova no momento do GO devemos acolher com alegria e
serenidade, e fazermos da melhor maneira possível. Por este motivo é indispen-
sável a presença e a participação ativa de um ou mais membros do MM no
núcleo do GO (dependendo do costume de cada GO), pois é lá que se ora
e se escuta a moção de Deus para cada reunião.
22
Antes ou depois das canções pode-se fazer um breve comentário que es-
clareça e dê ainda mais sentido para aquele cântico ser cantado, mas falar sempre
antes ou ao final de cada música é cansativo e desnecessário.

Nem sempre se faz necessário parar a condução para passar de um mo-


mento de animação para um momento mais lento. Às vezes podemos diminuir o
andamento da música animada e imediatamente entrarmos na música mais lenta.
Em outros momentos será necessário parar a música completamente. Na verdade
não há regras, só não podemos nos repetir e nunca devemos nos fechar ao novo
de Deus, por mais absurdo que nos pareça.

A partir do momento que alguém começa a conduzir a oração, todo


o Ministério de música, vocalistas e instrumentistas, devem abaixar seus vo-
lumes para não competirem com a voz do dirigente ou ministro, permitindo
assim que todos participem da moção da oração, inclusive o Ministério de
música. Todo o ministério deve estar atento àquele que conduz a oração.

3.1.1. Comportamento e postura do Ministro de Louvor

As pessoas que exercem algum serviço no GO são alvo de atenção por par-
te da assembléia. Talvez não gostemos disso, mas é real. Somos analisados a cada
instante pela assembléia, e um gesto ou palavras erradas podem desviar a atenção
e até escandalizar nossos irmãos. Por esta razão devemos ter muito cuidado nas
roupas e acessórios que usamos. Nada que nos torne sensuais ou provocantes
devem ser usados, porque a única coisa que queremos provocar nas pessoas que
servimos é o desejo de santidade e de amor ao Senhor a cada dia. Em nossos
ministérios não devemos usar roupas coladas, transparentes, decotadas ou curtas
demais. Mas isso deve ser levado em conta não somente quando estamos no GO
mas também fora dele, porque a cada um de nós é esperado um testemunho de
vida.

Quando estamos diante do povo, precisamos fazê-lo acreditar na ressur-


reição e no poder de nosso Senhor a partir de nosso rosto e aparência estética.

Homens e mulheres devem estar com boa e harmoniosa aparência, desde


o cuidado com cabelos e pele, até a escolha certa da roupa que usa. Tudo deve
demonstrar para os irmãos: “você é tão importante para nós e para Deus que eu
me preparei cuidadosamente para este momento”.
23
Não podemos esquecer que muitos que vão para o GO estão com inú-
meros problemas em casa (financeiros, enfermidades, crises conjugais e com fi-
lhos, pecados, drogas, etc) Tudo isto dificultará a entrega deles na experiência com
Deus, mas eles estão ali, esperando por nosso ministério para encontrarem-se
com o amor, o poder e a infinita misericórdia do Senhor. Precisamos cooperar
com a graça de Deus, movimentando-nos, envolvendo-os com olhares, gestos,
brincadeiras e tudo mais que o Senhor possa suscitar em nosso coração.

a) Olhares, gestos e entonação

Como alguém que está à frente de um povo você deve ter uma visão geral
das pessoas e tomar cuidado para não se prender a alguma em especial, evitando
assim constrangimentos e mal entendidos. Também devemos ter um cuidado de
não esquecermos as pessoas que estão sentadas mais atrás ou as que não estão tão
abertas na oração. Para isso acontecer, mantenha seus olhos abertos a maior parte
do tempo e veja se as pessoas estão seguindo os direcionamentos. É extremamen-
te cansativo estar diante de um animador que não sai do lugar, ou permanece com
o mesmo tom de voz ou o mesmo semblante. Nos momentos mais fortes aumen-
te o volume de sua voz, mas tenha cuidado para não cansar as pessoas com gritos
e notas repetidas e muito agudas. Para cada grupo de pessoas tem uma forma de
ministrar, descubra qual a sabedoria do Espírito para seu grupo de Oração.

É preciso haver um equilíbrio entre o volume dos instrumentos e o volume


da voz, e destes dois com a acústica e o tamanho do local do GO. O volume é
sempre adequado ao ambiente e às pessoas.

b) Ensinar e ministrar novos cânticos

Cantar cânticos não é errado, mas deter-se só nos antigos e não abrir-se
para os novos cânticos é empobrecer nosso ministério. Com o crescimento da
RCC, novos compositores e intérpretes apareceram e contribuíram enormemen-
te com nosso movimento. Para ajudar você a ensinar novos cânticos daremos al-
gumas sugestões:

1. Cante a música inteira e peça que a assembléia apenas escute.

2. Ensine a canção por partes, letra e música.


24
3. Utilize dinâmicas como: só mulheres, só homens, etc para motivá-los a apren-
der o canto.

4. Corrija as partes que o povo está com dúvidas.

Se você quiser pode usar livros, folhas de cânticos ou projetores com as le-
tras das músicas, mas lembre-se de ministrar a música e levar as pessoas à oração.
A letra pode dificultar o momento de oração, se as pessoas ficarem preocupadas
apenas em ler.

c) Exemplos de condução de oração

Desde o inicio do GO o ministro de louvor deve, juntamente com todo o


ministério de música, levar as pessoas a terem este encontro pessoal com Deus.
Na dinâmica do GO ocorrem momentos de louvor, oração de perdão, de cura,
adoração, batismo no Espírito Santo e outras formas de oração. No louvor, pode-
mos levar as pessoas a louvarem a Deus pelo que Ele é, pelo que Ele faz no mundo,
pelo que Ele nos faz pessoalmente, pela palavra que Ele nos inspira em um deter-
minado momento. Após estes momentos inspirados de louvor podemos coroar a
oração com um forte momento de louvor através de uma canção.

Na oração de perdão, nosso cuidado e preocupação são em enaltecer a mi-


sericórdia de Deus e não os defeitos das pessoas. Devemos ter essa sensibilidade
e vigilância. As pessoas devem sair dali mais leves e não acusadas. A oração de cura
pode ser feita em parceria com um ministro de cura e libertação; isso é aconse-
lhável e sinal de unidade entre os ministérios. Jesus é nosso Senhor e Salvador, por
isso nos momentos que o Espírito nos inspirar, devemos levar o povo a adorar ao
Senhor, com cânticos, gestos e de todo coração. Ele é digno de nossa adoração.
Lembrando ainda o objetivo do GO, que é levar as pessoas a experiência
do batismo no Espírito no Santo.

Em todos esses momentos acima exemplificados, devemos estar abertos e


intercedendo para que haja sobre o GO uma renovação do nosso batismo, e em
cada grupo, de forma criativa e dinâmica devemos implorar ao Senhor por este
batismo no Espírito. Outras formas de oração devem acontecer no GO. Importa
ao ministro saber qual a vontade de Deus para cada GO e ser instrumento para
que esta vontade se realize. Só Deus sabe o que irá acontecer em cada GO e cada
GO precisa ser único e fecundo, assim não há esfriamento, nem monotonia, nem
25
esvaziamento do GO. Por isso faz-se necessário nosso crescimento e maturidade
espiritual.

A partir de nossa intimidade com o Senhor estaremos aptos a levar outros


a crescerem nesta intimidade. E só o Espírito pode nos dar esta graça. O ministro
pode até esforçar-se para evangelizar seus irmãos, mas deverá entender que “...o
Espírito é o agente principal da evangelização” Não poderemos perder jamais o
fogo do Espírito,a motivação e até a empolgação inicial.

“...o fervor que se pode observar sempre na vida dos grandes pre-
gadores e evangelizadores......, eles souberam superar muitos obstáculos
que se opunham à evangelização...” dizia o papa João Paulo II e conti-
nua em outro trecho: “Essa falta de fervor manifesta-se no cansaço e na
desilusão, acomodação e no desinteresse e, sobretudo, na falta de alegria
e esperança em numerosos evangelizadores. E assim, exortamos todos
aqueles que, por qualquer titulo e em alguma escala, tem a tarefa de evan-
gelizar, a alimentarem sempre o fervor espiritual”

Que o Espírito Santo nos faça sempre recobrar e alimentar em nós o fervor
e a alegria no servir.

d) Músicas evangélicas, piercings, tatuagens...

A questão do uso das músicas evangélicas em reuniões do GO é muito


delicada. No inicio da RCC nós não tínhamos compositores da RCC e as músicas
protestantes foram largamente empregadas em nossos retiros e reuniões. Demos
graças a Deus por estas canções e por estes compositores que foram canais de
Deus para nós.

A diferença é que hoje Deus já suscitou em nossos meio, compositores,


cantores e grupos musicais que têm a nossa espiritualidade carismática e nossa
doutrina católica. Eles têm ajudado a construir e a levantar a música católica com
a espiritualidade da RCC. Procuremos portanto, priorizar o material católico que
tem sido lançado.

O principal critério de discernimento para a escolha de uma música deve


ser sempre a moção que o Espírito Santo estiver levando àquele determinado mo-
mento de oração.

26  - PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi § 75.


 - Idem, § 80.
Deve-se também saber quais são as orientações e posição do coordenador
do grupo de oração, padre e/ou da diocese para essas situações.

O objetivo do músico e do ministério no GO é principalmente levar todos


(inclusive o próprio ministério) a ter uma experiência de Deus, pelo louvor e a
adoração ao Senhor. Se o músico tiver um bom conhecimento de músicas do livro
de cânticos (Louvemos o Senhor); ele saberá aplicá-las no momento certo.

Faz-se uma observação: todo CD tem músicas que podem ser aproveita-
das em nossos grupos de oração. É falsa a idéia de que toda música para ser tocada
no grupo tem que ser fácil e curta. E a música “Ninguém te ama como eu”? Por
acaso é fácil ou curta? E nós por acaso não usamos esta canção inúmeras vezes em
nossos grupos e eventos? E também quero afirmar que é muito difícil lançar um
CD só com canções para grupos porque a dinâmica do grupo de oração é bem lar-
ga e só o Espírito pode saber o que vai acontecer em cada lugar e em cada reunião.
Cabe então aos ministros de música criar o hábito de comprar, ouvir e aprender as
músicas dos católicos para ajudarem (e amarem na prática) estes irmãos que têm
gastado suas vidas na igreja católica.

Não é proibido tocar e cantar músicas evangélicas. Aquelas músicas


antigas, que já fazem parte de nosso repertório, de nossa história, podemos conti-
nuar usando. Mas, continuarmos numa busca frenética por novas canções evangéli-
cas, especialmente de grupos que estão na moda e esquecermos ou desprezarmos
os dons e talentos que o próprio Senhor nos deu, é uma atitude que precisa ser
repensada. Deve-se observar também se a música evangélica não fere nossa dou-
trina

Evite-se ter como critério de discernimento dizer: “Só as músicas protes-


tantes tem unção, tem poder!” Muitas vezes ficamos acomodados e somos ma-
nipulados pelo modismo, pelo consumismo, pelas opiniões da maioria que de-
sacostumamos a pensar e a tomar nossas próprias decisões. Até em nosso meio
musical católico, seguimos o que está na mídia e na moda. Deixamos de encontrar
verdadeiros tesouros!

Temos nossa identidade. Somos carismáticos católicos. Essa é nossa identi-


dade. Se passarmos a imitar nossos irmãos protestantes nas músicas, e até em seus
estilos de rezar ou pregar estamos abrindo mão de nossa identidade e de nossa
missão. Além do mais toda cópia é apenas uma cópia.

Não precisamos copiar nada nem ninguém. O Espírito Santo é cria- 27


tivo. Deus é infinitamente capaz de criar e recriar todas as coisas. Agora,
uma coisa é certa, imitar dá menos trabalho do que buscar e fazer o novo,
o diferente.

Quanto ao uso de piercing, tatuagens ou outros adereços que apareçam, a


RCC não tem nada de proibitivo no uso destes acessórios. Mas vale a pena uma
reflexão sobre este tipo de comportamento.

Tome a Palavra de Deus em Ef 4,22-24;5,8

Esta Palavra nos ilumina e adverte para revestirmo-nos do homem novo e


nos comportarmos como luzes de Deus. Estes adereços são amplamente usados e
propagados pela cultura pagã que está ganhando força a cada dia em nosso mundo.
Infelizmente eles nos lembram pessoas que estão longe da experiência cristã. São
como símbolos de uma falsa liberdade que é mais uma libertinagem do que uma
liberdade. É “liberdade” entre aspas porque todos que não usam são tachados de
caretas, velhos, ultrapassados, e tantos outros adjetivos depreciativos. Então, na
verdade, fsomos quase obrigados a usar para não nos sentirmos “out”, fora do mo-
dismo que escraviza e que exclui. Isto é bem mais complicado para os adolescentes
e jovens que estão exatamente vivenciando a descoberta da vida, o exercício da
liberdade e procurando seu espaço no mundo.

Questione-se, então: Com quem você assumiu o compromisso de evange-


lizar? Qual a cultura que você, como artista da RCC quer propagar e difundir? Você
quer se camuflar de pagão, e assim passar despercebido entre aqueles que não
conhecem a Deus? Ou você quer evangelizar oportuna e inoportunamente? Você
quer ser luz para um mundo distante da mentalidade do reino de Deus e denun-
ciar suas mentiras e injustiças ou você quer ser mais um para confirmar a maneira
errada deste mundo caminhar?

Nós já somos tão poucos diante de tantos não crentes que não podemos
correr o risco de passarmos despercebidos. Nossa postura precisa ser clara e coe-
rente. Se você não canta músicas que considera profana e anticristã, mas veste-se
e comporta-se como um não cristão, que coerência de vida você pensa estar vi-
vendo? Se você faz uso deste modismo e outros mais só porque acha “legal”, e não
pensa nas conseqüências de sua atitude ou no contra testemunho que você pode
dar, peça com insistência ao Espírito Santo para lhe dizer realmente quem você é e
a que você é chamado. Pense nisso também e decida. Cada um de nós é responsá-
vel pelos nossos atos e decisões. Vale a pena renunciar a algo que achamos “legal”
28
pelo bem e fiel cumprimento de nossa missão, afinal de contas tudo que fazemos,
fazemos por amor ao Senhor, ao seu povo e à sua Igreja. Para não sermos confun-
didos e para não confundirmos. Para não sermos motivos de escândalos, mas de
testemunho de vida nova, obra do Espírito Santo em nós.

Com esta reflexão, não estamos afirmando que os irmãos que fazem uso
destas coisas não são de Deus, ou não tem uma experiência verdadeira com o
Senhor. Devemos refletir para termos a chance de pensar antes de optar, e não so-
mente fazer porque está na moda ou porque fulano ou sicrano fazem. Tenho vários
amigos de caminhada que usam tatuagem, brincos e piercings. Em Deus eu os amo
e respeito, mas todos eles sabem minha opinião: “Se para atrair os jovens eu tiver
que usar estas coisas minha missão com a juventude não mais acontecerá. Mesmo
sem estes acessórios, mas com uma unção e força que deriva de nossa eleição e
chamado, temos atraído muitos jovens, adultos e crianças para a vida de amizade
com o Senhor no seio da Igreja Católica, na espiritualidade de Pentecostes. Louva-
do seja Deus!”

3.2. ESTRUTURA DO MINISTÉRIO DE MÚSICA

Para um melhor aproveitamento de nossas reuniões e de nossos serviços


como Ministério, precisamos ter uma organização mínima, especialmente nesta
vida corrida que levamos. Claro que aqui estamos propondo uma formação ide-
al de Ministério, mas sabemos que em muitos lugares do Brasil, esta não é bem
a realidade. Em muitas cidades o Ministério de música se resume a uma pessoa
cantando e uma pessoa tocando um instrumento, ou até menos que isso. Vamos
continuar pedindo ao Senhor da messe que envie mais operários.

3.2.1. O Coordenador:

Aqui vale a pena lembrar que procuramos imitar Jesus em tudo, inclusive
na sua maneira de exercer a autoridade. Lembremos de que fomos escolhidos
para servirmos aos filhos amados por Deus, e que não estamos em um “cargo” de
privilégios e honra, mas de serviço, pastoreio e caridade.

 - Testemunho de Luiz Carvalho, fundador da Comunidade Recado e coordenador nacional do 29


ministério de música e artes na RCC-BR
É papel do coordenador do Ministério:

a. Manter o Ministério de Música sempre animado e motivado para cumprir bem


o seu papel dentro do grupo de oração, em unidade e obediência à coordena-
ção do mesmo.

b. Motivar, testemunhar e manter os laços de unidade e fraternidade entre os


membros do Ministério de Música. Para isso faz-se necessário muitas vezes
fazer o papel de reconciliador ou artífice da caridade entre aqueles irmãos que
naturalmente têm mais dificuldades entre si, e nunca ser uma pessoa que toma
partido ou “não escuta os dois lados da historia”.

c. Interceder pelo Ministério de Música e ouvir de Deus os direcionamentos es-


pecíficos para cada momento vivido pelo Ministério. Deus conhece e quer cui-
dar do seu povo, cabe ao coordenador do Ministério de Música esta escuta e
a criação de mecanismos que favoreçam este pastoreio do Senhor com seus
escolhidos. Muitos Ministérios de Música se perdem no caminho por falta de
cuidado dos seus líderes. Alguns se preocupam apenas com as ovelhinhas de
fora e esquecem que aqueles que servem no Ministério de Música, também
são ovelhas do bom pastor, e que muitas vezes são as mais atacadas pelo lobo,
porque estão à frente.

d. Buscar fazer um programa de formação para o Ministério, manter-se motiva-


do e em crescimento, estando atento às moções que o Senhor tem dado ao
conselho da RCC, à coordenação do Ministério de Música e Artes Nacional e
Estadual e à Igreja.

e. Organizar e planejar as reuniões do Ministério de Música para que sejam pro-


dutivas e gerem em cada membro a consciência da graça e da seriedade da
missão que Deus lhes confiou.

f. Exigir dos membros o cumprimento do papel de cada um, bem como a pontu-
alidade e assiduidade nos compromissos assumidos.

g. Ser a voz dos irmãos do Ministério de Música junto à coordenação e núcleo do


G.O. e ser a voz da coordenação no Ministério de Música.

3.2.2. O Animador

30 a. É o responsável pela condução do Ministério de Música durante a reunião, se-


guindo as moções do Espírito para cada momento. Por esta razão, o animador
necessariamente tem que ser uma pessoa aberta aos dons carismáticos e ter
uma vida de oração e contínua escuta da voz de Deus. O uso do discernimen-
to, da liberdade interior e da liderança é indispensável para o bom e correto
exercício deste serviço no Ministério de Música.

b. Ensaiar com o Ministério de Música seus gestos e sua forma original de condu-
zir a animação e a oração para gerar intimidade entre todo Ministério.

c. E só para lembrar: apesar de ter sempre uma pessoa na frente da


animação, é indispensável a participação ativa de todos os membros
do Ministério de Música. É extremamente errado quando somente os
vocalistas participam da condução enquanto os instrumentistas se dis-
traem com seus instrumentos ou entre si. O Ministério de Música é um
corpo. É um todo!

d. Gerar a unidade entre o Ministério de Música e o pregador e/ou aquele


que conduz a oração.

3.2.3. Vocalistas

Acredito que não haja necessidade de explicar quem são e o que fazem os
vocalistas, mas quero lembrar algumas coisas muito importantes:
a. Para ser vocalista precisa ter naturalmente o dom de cantar. Precisa ter no mí-
nimo afinação, noção de ritmo e outros “detalhes musicais”. É claro que tudo
pode ser aperfeiçoado, mas colocar no Ministério de Música um irmão que não
tem o mínimo necessário para exercer este serviço, que requer dons naturais e
sobrenaturais, é uma falta de caridade para com ele e com os membros do gru-
po de oração. Não esqueçamos que nosso povo está a cada dia mais exigente.
Esta regrinha aplica-se a todo o Ministério de Música e Artes.
b. É fundamental que os vocalistas mantenham um repertório amplo e atuali-
zado para não impor limites à voz do Espírito Santo no GO.
c. É importantíssimo o cuidado com a voz (seu instrumento de trabalho) e a bus-
ca de seu aperfeiçoamento técnico.
d. Com o mesmo grau de importância citamos a busca por uma vida espiritual
fecunda e verdadeira, para que Deus se utilize dos dons naturais com a força
do sobrenatural. 31
3.2.4. Instrumentistas

Como no tópico anterior, vou me deter apenas em alguns cuidados impor-


tantes:

a. A habilidade com o instrumento também se faz necessária, porém, mais neces-


sário que ter a habilidade ou a técnica é ter a liberdade e o discernimento para
usar este dom a serviço dos outros e não a serviço de si mesmo. Se um ins-
trumentista só consegue tocar com acordes dissonantes, tempos “quebrados”
(adiantados, por exemplo) e nem percebe que a assembléia ou até mesmo
seus irmãos de Ministério não conseguem acompanhá-lo, este instrumentista
não está cumprindo bem o seu papel, e provavelmente é escravo da sua músi-
ca.

b. Em nosso Ministério, a mensagem é o mais importante, portanto o cuidado


para que o volume dos instrumentos não supere a voz falada e cantada, é indis-
pensável.

c. O instrumentista é ministro de música tanto quanto o animador e os vocalistas,


portanto precisa estar aberto e vivenciar a moção de toda condução do grupo
de oração.

d. É fundamental que os instrumentistas mantenham um repertório amplo e


atualizado para não impor limites à voz do Espírito Santo no G.O..

e. A busca por uma vida de intimidade com Deus e conseqüentemente uma vida
de santidade dará unção à técnica adquirida com horas de ensaio.

3.2.5. Técnico de som

É o irmão que tem conhecimento em operação de áudio e por isso é capaz


de operar um equipamento de som com qualidade e habilidade.

Ele deve estar atento para a altura do som. Em alguns lugares o som está
tão alto que irrita e dispersa os membros do G.O., e em outros o som é tão mal
equalizado que os participantes do G.O. não vivem a experiência de Deus por não
serem conduzidos a ela.

Deve ter um cuidado especial no volume dos instrumentos com relação à


voz, e no volume da voz do animador com relação ao todo.
32
3.3. O Ensaio

É necessário lembrar que o ensaio não pode acontecer somente em grupo,


mas é fundamental que cada músico tenha um momento de ensaio pessoal, para
não retardar ou atrapalhar o ensaio do grupo.

Algumas regrinhas básicas:

a. Planejar o ensaio e dividir o tempo para cada coisa, ou seja, ter objetivos claros.
Isso evita perdermos muito tempo e sermos infiéis à nossa missão.

b. Escolha o horário e o tempo de ensaio e seja fiel.

c. Escolher um local adequado, arejado e com boa iluminação, que tenha espaço
suficiente, com boa acústica e que não incomode os vizinhos. Às vezes uma
sala bem organizada, e com a utilização de alguns truques de acústica resolve
bem nosso problema. O importante é usarmos a criatividade e na fidelidade
deixar que Deus nos surpreenda. Afinar os instrumentos separadamente e en-
tre si.

d. Manter o volume dos equipamentos de maneira que todos se ouçam conforta-


velmente.

e. Escolher corretamente os tons e o andamento das canções. E aqui vale lem-


brar que as música serão executadas para conduzirem o povo a Deus. Então
o tom, o arranjo, a execução devem estar em função do povo e do momento
proposto. G.O. não é local para exibicionismo. Nem local para fazermos nos-
sas vontades e devaneios musicais acontecerem.

f. O ensaio é o momento para se trabalhar as músicas, tirar todas as dúvidas, con-


sertar os erros, definir as entradas e os términos de cada uma. Ensaie exaus-
tivamente cada canção e depois de definir a fórmula da música, seja fiel ao
arranjo.

g. De preferência, o ensaiar uma música nova, escute a gravação original, estude


bem a letra e a melodia para cantar de forma correta.

h. Se possível grave seus ensaios. Isso servirá como uma memória musical de seu
Ministério.

33
3.4. Técnica Vocal

O que você diria se soubesse que algum tecladista usou seu teclado impor-
tado e caríssimo de forma errada e infelizmente o danificou?

Pois é, sua voz é o instrumento mais precioso e caro que você tem. Ela não
pode ser comprada em nenhuma loja. É o instrumento que Deus lhe deu para ser
usado com habilidade e unção. Por isso o cuidado com o uso da voz é indispensá-
vel.

3.5. O Ministério de Música no Grupo de Oração

Deus nos deu um grande presente neste tempo: a espiritualidade da RCC.


E dentro dessa espiritualidade, o grupo de oração é a “menina dos olhos”, a célula
base da RCC.

Faz parte da estrutura original do grupo de oração: a pregação, o correto


uso e a manifestação dos carismas, a alegria e o fervor, etc. Dentro desta estrutura
original do grupo de oração também está à música.

Você consegue imaginar um inicio de um grupo de oração sem música?


Pode até nem ter um Ministério de música estruturado, mas alguém certamente
vai “puxar” um cântico, como dizemos carinhosamente entre nós.

Isso mostra como o Ministério de música é essencial para um grupo de


oração carismático. Ele tem a sublime missão de acolher o povo de Deus no inicio
do grupo de oração, e levá-lo a uma experiência pessoal com o Senhor, preparan-
do o coração deste povo para a pregação da Palavra, e a vivência de uma oração
verdadeiramente carismática.

Muitas vezes nossos irmãos chegam ao G.O. com o coração fechado, feri-
do, cheio de preocupações e sofrimentos. Cabe ao Ministério de música levar este
coração ao descanso nos braços do Bom Pastor.

A música deve ser cheia do poder de Deus para curar, libertar, aquecer,
levar à contrição e à busca de uma verdadeira conversão, enfim levar a uma expe-
riência com o amor infinito de Deus. Esta música deve ter uma boa execução e ser
carregada com o poder do Espírito Santo.

Costumo dizer que um grupo musical que se contenta apenas em tocar


34 e cantar bem, é um grupo incompleto, que parou simplesmente no “meio” pelo
qual a graça deveria vir para o povo. É como um doente que se contenta em ficar
observando o medicamento que teria condição de curá-lo sem, entretanto tomá-
lo. Tem algum sentido?

O nosso diferencial não está na execução perfeita de uma canção, mas na


execução perfeita e obediente, de uma música certa para um momento certo, ou
seja, uma música ungida.

Com o passar do tempo outras expressões artísticas foram aparecendo,


como o teatro, a dança , e atualmente a poesia, a pintura. É Deus quem suscita
estes irmãos para enriquecerem nossa experiência carismática com os dons e ta-
lentos que Ele mesmo os presenteou. Mas aqui, antes mesmo de continuarmos
esta apostila precisamos deixar algo muito claro.

Deus é o doador dos dons. Ele dá o dom que Ele quer a quem Ele quer.
Porque Ele é Deus. Ele tudo pode. Ele tudo faz. Ele é soberano e livre.

Se Deus suscita outras expressões artísticas em alguns G.O., ótimo. Mas


isso não significa que temos que ter estas expressões artísticas em todos os G.O..

Segue abaixo um esclarecimento do coordenador nacional do mi-


nistério de música e artes, Luiz Carvalho (Comunidade Recado):

Como falei no inicio não imagino um G.O. sem música. Mas já participei
de vários que não tem dança ou teatro.

Para que fique bem claro para todos nós; o Ministério de música que
atua em um grupo de oração tem o mesmo mérito e valor missionário que
aquele Ministério ou solista de atuação Nacional ou Internacional. Deus não
nos pedirá contas de quantos programas de TV participamos, quantos discos
de ouro recebemos, quantas milhares de pessoas evangelizamos. Mas per-
guntará a todos nós, inclusive para alguns que Ele mesmo escolheu para estar
nas TVs , nos grandes shows, ganhando discos de ouro; com quanto amor
nós fizemos tudo isso e qual a nossa motivação interior?

Como coordenador Nacional do Ministério de Musica e Artes da RCC


no Brasil, tenho conhecido Ministérios de música excelentes, com vozes e
instrumentistas maravilhosos e que atuam exclusivamente no G.O.. Nunca
35
gravaram Cds, nunca foram para programas de TV, são Ministérios de músi-
ca que atuam nas missas e no G.O.. E não por falta de competência ou por
falta de oportunidade. É por convicção do seu chamado e de sua missão,
amparado por uma boa dose de maturidade humana e espiritual. Fico edifi-
cado com estes testemunhos. Da mesma forma que encontramos excelen-
tes pregadores que nunca foram a TV ou sequer saíram de sua cidade. Por
acaso isso os diminui? Ou tira seu mérito diante de Deus?

Não é questão de desprezar nada, nem ninguém, é uma simples cons-


tatação que chegará bem aos ouvidos daqueles que fazem do seu Ministério
um serviço aos irmãos do G.O.

Vejo que o Ministério de Música é o feijão com arroz do G.O., aquele Mi-
nistério que não pode faltar em grupo de oração carismático, enquanto que
as outras expressões artísticas, também são riquezas para a RCC, mas tem
uma ação específica e que é muito bem-vinda em momentos especialmente
preparados.

Se não deixamos estas coisas muito claras, daqui a muito pouco


tempo teremos que fazer revezamento entre os Ministérios de arte
para ver quem vai servir nas reuniões do G.O.. Imagine um grupo
de Dança disputando o momento de louvor inicial com o Ministério
de Música. Ou então o teatro reclamando seu espaço no inicio de
cada grupo de oração? Desviaríamos completamente o sentido do
Ministério de Música e Artes da RCC e a estrutura original do G.O..
Portanto, fica a cargo e critério do coordenador do grupo de oração
e/ou do coordenador do evento quando e como deve atuar a dança
e o teatro; ficando a atuação no grupo de oração quase que exclusi-
vamente ao ministério de música.

Também conheço experiências fortíssimas com o Ministério de dança


e teatro especialmente no campo da evangelização. Deus seja louvado por
estes trabalhos.

Aliás, o Ministério de Musica e Artes da RCC pode ter papel fundamen-


tal neste tempo de envio e missão que estamos vivendo. Iniciativas em uni-
dade e submissão ao núcleo do G.O. serão sempre bem vindas e certamente
frutuosas.
36
Podemos propor aos outros Ministérios de nosso G.O. uma frente evan-
gelizadora de tempos em tempos nas ruas, nas praças de nossas cidades, e
como G.O., em uma ação evangelizadora e numa ministerialidade orgânica,
propagar e difundir a cultura de Pentecostes. Imagine enquanto o Ministério
de Música, Teatro e Dança evangelizam, a intercessão reza, os pregadores
fazem suas pregações no intervalo das canções, a acolhida convida as pesso-
as para comparecerem ao G.O.... É como pescar com redes.

Costumo pregar nos encontros de Música e Artes que se cada um de


nós tiver como fundamento do nosso Ministério o chamado pessoal que o
Senhor nos fez, não haverá espaço para divisões, nem competições entre as
diferentes expressões artísticas. Seremos felizes pelo simples fato de estar-
mos cumprindo nosso papel na Igreja e no mundo, sem nos preocuparmos
com o “sucesso” ou os aplausos.

Uma boa meditação sobre a vida de João Batista certamente nos ilumi-
nará.

37
ENSINO 4

A HUMILDADE DO ARTISTA

OBJETIVO: Revelar as armadilhas e cuidados que o artista deve ter no exercício


do ministério.

“Quanto mais fores humilde, tanto mais te tornarás capaz e tanto


mais te satisfarás. Enquanto as montanhas rebatem as águas, os vales as re-
colhem” (Santo Agostinho)

Toda vez que penso em humildade, ou tenho que pregar sobre ela aos
artistas, ou mesmo quando preciso descobrir cada vez mais como colocá-la em
prática na minha vida, na minha arte, no Ministério que o Senhor me confiou,
lembro-me da reflexão que Martín Valverde, músico católico de Guadalajara no
México, fez, em seu livro As Tentações do Músico , sobre a entrada triunfante de
Jesus em Jerusalém: Lc 19, 30-38.

Primeiro, Martín, demonstra que o Senhor precisa de nós, mas precisa de


nós livres de verdade, não mais atados aos apegos do passado, do presente ou
mesmo do futuro. Precisa de nós livres dos danos que o orgulho é capaz de fazer
em nossos corações. E nos quer livres, porque esse excesso ao qual podemos nos
apegar, se extenderia por meio de nossa arte colocando pesados fardos nas costas
de quem chegar a ter acesso a ela. Por outro lado, se estivermos livres, por meio
das mãos amorosas de Deus, iremos tão longe quanto o Senhor planejou para cada
um de nós e para nossos Ministérios.

Depois, Martín apresenta um burrinho artista, isso mesmo um burrinho.


Ele conta que, depois de terem coberto o animalzinho com capas e de o terem
enfeitado, o burro se sentia nas nuvens se sentia um verdadeiro puro sangue.

É aqui que começa a aventura. Conforme iam avançado rumo a Jerusalém,


como diz o Evangelho, a multidão ia lançando mantos e ramos de oliveira na pas-
sagem para receber o Rei. O povo até gritava com alegria e voz vibrante: “Bendito
o rei que vem em nome do Senhor!” Ninguém entendia exatamente o que acontecia:
nem os discípulos, nem o povo e muito menos o burrinho. Há duas interpretações

38
 - VALVERDE, Martin. As tentações do músico. Campinas: Raboni, 2005
que podem ser feitas, conforme escreve Martín, sobre a psicologia do pobre bur-
rinho, do que se passou com ele por conta de tudo isso.

Na primeira, enquanto caminhava no meio da multidão a escutar os lou-


vores que o povo dirigia a Jesus, o burrinho ficou fascinado por todo o esplendor
do momento: gritos, tapetes, elogios nos lábios de todos, reverências, aplausos,
agitações... E o animalzinho tanto foi se metendo no assunto, que começou a pen-
sar que tudo era provocado por ele mesmo e por ninguém mais. Já nem se sentia
mais burro, mas um cavalo Andaluz. Fica até fácil de imaginá-lo a ponto de trote
para fazer gala de seus atributos, ainda que não se atravesse a abrir a boca, pois por
mais que tentasse, nunca relincharia com bravura, somente conseguiria proferir
um ruído que o fazia voltar a sua verdadeira realidade: asno.

O pobre burrinho ficou a beira do suicídio quando descobriu que não podia
aceitar que ninguém mais se importava com ele depois que Jesus desceu de seu
lombo. Tudo acabou tão rápido como começou. O povo foi embora com Jesus e
esqueceram completamente daquele burrinho elegante.

Perceba caro artista, o pobre burrinho está pior agora que no inicio. Antes
de toda a fama, tinha muito claro que não era nada mais que burro e isso, por
mais incrível que posso parecer, não o incomodava. Todavia, agora que tinha sido
testemunha do modo como o povo havia recebido o Senhor e tinha acreditado ser
o centro das atenções, sua situação era terrivelmente dolorosa: e de protagonista
do momento, como diz Martín Valverde, havia se convertido num burro perdido e
esquecido, e sem nenhuma possibilidade de conseguir que Jesus voltasse a montar
seu lombo. Infelizmente, preso à suas fantasias, não teve a chance de entender
a grandeza da missão que lhe foi confiada. A maior tarefa da história dos burros
havia terminado e ele ainda não tinha se dado conta, pois estava perdido em suas
fantasias, perdido em si mesmo.

Isso acaba acontecendo conosco também, quando esquecemos que somos


como instrumentos nas mãos de um músico virtuoso, e que por nós mesmo jamais
seriamos capazes de fazer soar um só acorde agradável de nosso coração. Mesmo
que multidões cantem nossas canções, queiram dançar nossos passos e mesmo
que lotem nossos eventos, se não houver unção em nossos Ministérios, todos os
nossos esforços serão em vão, pois estaremos exercendo nosso Ministério por
nós mesmos, quanto o correto seria fazê-lo conduzidos pelas mãos poderosas do
Senhor.
39
Às vezes passo horas admirando uma figura muito importante na História
de Salvação: São José. Você já parou para pensar: quem na Sagrada Família era
potencialmente artista? São José, afinal ele trabalhava com madeira e era bom no
que fazia, pois todos em sua aldeia o conheciam, o evangelho nos deixa isso claro,
quando diz “Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 13, 55a), “Todos lhe davam tes-
temunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca, e diziam:
Não é este o filho de José?” (Lc 4, 22).

No entanto, São José foi humilde suficiente para reconhecer o seu lugar. Ele
assumiu fielmente sua missão. Esse artesão, se é que podemos dizer assim, foi fiel
ao que Deus lhe confiou: ser o pai adotivo de Jesus. Ele assumiu a paternidade com
afinco: encarregou-se de sustentar, desenvolver, proteger Jesus e tudo mais, mas
nunca perdeu a perspectiva que a obra era de Deus, que o seu filho, na verdade
era o filho de Deus.

José era de Belém, da descendência de Davi e nada disso fez com que José
perdesse a perspectiva de qual era o seu papel e o seu lugar nessa obra, que era
de Deus. Cumpriu bem sua missão, sem, no entanto tomar a glória a quem ela
pertencia: Deus.

São José foi escolhido para, junto com Maria, trazer Cristo e apresentá-lo
ao mundo. Também nós artistas, com nossa arte, temos a missão de apresentar
Jesus ao mundo. Deus nos confia uma missão, uma obra, uma arte para ser
exercida com unção. Mas não podemos nos apossar dela como se fosse
nossa. Não! A obra é de Deus.

Como disse João Batista “Importa que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3,
30), digamos nós também: Importa que ele, o nosso Deus, cresça! Importa que ele
apareça! Importa que ele seja conhecido e amado e que eu diminua.

“Se entendêssemos que é a Deus e somente a Ele que devemos agradar, pouparíamos
milhares de problemas e adiantaríamos grandiosamente a qualidade de nosso serviço
para a construção do Reino”.

A segunda interpretação da psicologia do pobre animalzinho, que Martín


fez, afirma que diante de toda festa e animação que acontecia ao redor dele, o bur-
rinho percebia perfeitamente que não era ele quem causava toda a agitação, mas
sim o homem sentado em seu lombo: Jesus. E por isso mesmo se perguntava: “Por
que eu? Não seria melhor um cavalo de puro sangue? Por que este homem tão diferente
40
 - Ibidem.
e tão especial me escolheu para carregá-lo?”. O burrinho entendia, enquanto cami-
nhava sobre os mantos, que algo muito importante estava acontecendo. O Senhor
necessitava dele, e isso era o que importava. Quando Jesus desceu de seu lombo,
o burrinho não entrou em crise ou mesmo em depressão. Ainda que ninguém mais
viesse a lembrar-se dele, sentia-se feliz por haver cumprido sua missão. Somente
Jesus, ao descer de seu lombo acariciou-lhe como se dissesse: “Bom trabalho, ami-
go”. E isso era o bastante.

Apesar dessa reflexão falar de dois burrinhos, é fácil notar que somente um
deles era burro de verdade. O que diferencia um burrinho do outro? Uma virtude
importantíssima para nossa vida, para o exercício de nosso Ministério: a Humilda-
de.

4.1. DEFINIÇÃO

Humildade é uma virtude moral que está enraizada, fundamentada


na virtude cardeal da temperança. Consiste no reconhecimento sincero
da própria pequenez perante a grandeza de Deus e a dignidade do próxi-
mo. Os místicos e santos têm a humildade como virtude fundamental, sem
a qual é impossível construir com segurança o edifício espiritual. O próprio
Jesus que nunca apontava em si nenhuma virtude moral, mesmo tendo todas as
virtudes no mais alto grau, disse-nos: “...recebei minha doutrina, porque eu sou
manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).

A palavra humildade vem do latin humilitas que está relacionada com a pa-
lavra humus que significa terra ou aquilo que se acha na terra: pó. O dicionário
vai dizer que humildade é a “virtude que nos dá o sentimento da nossa fraqueza,
modéstia, pobreza, respeito, reverência; submissão”, ou seja, o humilde é aquele que
reconhece o seu “nada”, reconhece a sua contingência.

Outro significado para o latim humus é fértil. Geologicamente o


húmus é a parte mais fértil da terra. Assim, a humildade é para nossa vida
uma graça de fertilidade que faz brotar a vida nova, a vida em Deus, com
Deus e por Deus. É a garantia do Reino dos céus: “Bem-aventurados os que têm
um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!” (Mt 5, 3).

A palavra humildade está relacionada com a aceitação de nossas próprias


limitações, de nossa pequenez, de nossas submissões. A humildade é a coragem
41
de aceitar a verdade sobre si mesmo. Ela nos ajuda a conhecer quem re-
almente nós somos, qual o nosso devido lugar e nos ensina quem é Deus,
qual o devido lugar dEle em nossas vidas e para nossas vidas.

Santo Agostinho diz que ser humilde é reconhecer a própria dimensão e se


conhecer a si próprio com honestidade; ele diz também que a humildade abre-
nos para Deus.

“Para os antigos monges o caminho para Deus passava pelo encontro com a
própria realidade. O encontro com Deus pressupõe o encontro consigo mesmo”

Santa Teresa de Ávila diz: “certa vez, estava eu considerando por que razão
Nosso Senhor é tão amigo da virtude da humildade. Veio-me logo de improviso, sem
trabalho de raciocínio, esta resposta: é porque Deus é a suma verdade – e ter humil-
dade é andar na verdade. Grande verdade é que nada de bom procede de nós, a não
ser a miséria de ser nada. Quem não entende isso anda na mentira. Quem melhor o
entender, mais agradará à suma Verdade, porque anda em sua presença”, em outras
palavras ela define a humildade como “Humildade é andar na verdade” ou como diz
outra tradução “Humildade é a verdade”.

Para que a humildade seja uma virtude latente em nossas vidas e em nossos
Ministérios é preciso tomar cuidado com dois grandes vilões que sempre querem
destruí-la em nós: a soberba e a falsa humildade. E também é preciso cultivar uma
virtude que caminha lado a lado com a humildade: a mansidão.

4.2. HUMILDADE: LUTA CONTRA SOBERBA

“Antes da ruína, o coração do homem se eleva, mas a humildade


precede a glória” (Prov 18, 12).

Segundo o dicionário a soberba significa: “elevação ou altura de uma


coisa em relação à outra; orgulho excessivo; altivez, arrogância, presunção”.

A soberba é o primeiro pecado capital, ela encabeça os outros pe-


cados capitais, e sem dúvida é o pior de todos eles. Ela é também uma das
três concupiscências que São João relata em sua primeira carta (1 Jo 2,
16), é a tendência para exagerar a própria estima com o desprezo dos ou-
tros. É como que a matriz de todos os vícios e pecados. Foi a soberba que perdeu
os anjos decaídos nos esclarece o profeta Isaías (Is 14, 12-14) e foi por meio dela

42  - GRÜN, Anselm; DUFNER, Meirad. Espiritualidade a partir de si mesmo. Petrópolis: Vozes,


2004.
que começou a tentação dos nossos primeiros pais (Gn 3, 4ss).

A soberba nos faz esquecer que somos simples criaturas, que saí-
mos do nada pelo amor e pelo chamado de Deus, e que, portanto, dEle
depende tudo, nossa arte, nosso Ministério, nossa vida, tudo que temos e
tudo o que somos.

O soberbo sempre quer, como disse Santa Catarina de Sena, “roubar a


glória de Deus”, pois ele quer os aplausos e as homenagens que pertencem a Deus,
esquecendo que Deus é o autor de toda graça, e que se não fosse Ele nada acon-
teceria.

Sobre esse pecado nos alerta São Paulo quando escreve: “Em virtude da
graça que me foi dada, recomendo a todos e a cada um: não façam de si
próprios uma opinião maior do que convém, mas um conceito razoavelmente
modesto.(...) Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com
as coisas modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos” (Rm 12, 3.
16).

Em outra carta ele escreve: “Quem pensa ser alguma coisa, não sendo
nada, engana-se a si mesmo. Cada um examine o seu procedimento. Então
poderá gloriar-se do que lhe pertence e não do que pertence a outro. Pois
cada um deve carregar o seu próprio fardo” (Gal 6, 3-5).

É triste ver, quando viajo pelo Brasil em missão, irmãos e irmãs que exer-
cem sua arte como se fossem os únicos e os melhores. São muito bons sim, no
que fazem, mas infelizmente só sabem fazer, e infelizmente deixaram ou mesmo
nunca souberam que foram chamados por Deus para ser. Ser de Deus, ser santo,
ser irmão, ser fraterno, ser artista de Deus, ser humilde.

Deus nos chama, muito mais que para fazer, para ser. Ser um sinal de
santidade, ser um sinal de seu amor que é gratuito e não busca interesses; ser ser-
vo que ao final de cada missão, de cada apresentação, de cada espetáculo, de cada
evento, é capaz de dizer sem medo “Somos servos como quaisquer outros; fizemos o
que devíamos fazer” (Lc 17, 10b). O Senhor chama para ser instrumento que reco-
nhece que o trabalho realizado não haveria se não fosse ele mesmo: o Senhor.

Querido irmão nunca se esqueça: a tentação mais forte de um ar-


tista, que entregou sua arte a serviço do Reino, é apropriar-se do talento
que recebeu das mãos do Senhor e pensar que é mais importante o dom
43
do Senhor que o Senhor dos dons. E esta apropriação completamente inde-
vida, se dá justamente por meio do pecado da soberba.

E a soberba nunca acontece sozinha, ela traz consigo seus filhos: orgu-
lho, vaidade, vanglória, arrogância, prepotência, presunção, auto-suficiência, amor
próprio, exibicionismo, egocentrismo, etc.

É próprio da soberba, por exemplo, por meio do orgulho, da arrogância


e da prepotência, gerar em nosso coração um conceito elevado de nós mesmos,
fazendo-nos achar que somos mais e melhores que os outros. Fazendo-nos achar
que somos superiores aos demais. Isso pode acontecer individualmente, o que faz
gerar partidos em nossos Ministérios; ou isso pode acontecer coletivamente, e
passamos a acreditar que nosso Ministério é o melhor e o único qualificado para
exercer determinada arte ou realizar determinado evento.

Quantos Ministérios bons, que no principio eram cheios de unção, que


evangelizavam multidões e as faziam experimentar do Amor de Deus por meio de
sua arte, eu vi ruir quando a soberba os atingiu um a um, e a todos os seus inte-
grantes.

É a humildade que forma uma comunidade cristã sólida no amor,


portanto é a humildade que vai formar um Ministério sólido no amor, seja
um Ministério individual ou em grupo.

De maneira particular, para todos os artistas que trabalham em grupo, seja


com a música, com a dança, com o teatro ou outra arte, essas palavras de São
Pedro são para vocês: “Revesti-vos todos de humildade em vossas relações mútuas”
(1Pd 5, 5 – Bíblia de Jerusalém )

Todas as rixas e rivalidades que possam existir em nossos Ministérios cairão


por terra quando cada um de nós for verdadeiramente humilde. Onde está pre-
sente a verdadeira humildade, não há lugar para a competição e a disputa;
por isso, precisamos vestir o quanto antes o manto da humildade.

Quando São Paulo faz aos Efésios um apelo para viverem concretamente
a unidade querida por Jesus, ele lhes diz: “Exorto-vos pois (...) a andardes de modo
digno da vocação a que fostes chamados: com toda humildade e mansidão, com longa-
nimidade, suportando-vos uns aos outros com amor” (Ef 4, 1-3)

Não há Ministério unido e forte se cada um dos seus membros não for
“revestido de humildade”. E para isso, é preciso dar combate à vontade própria.
44 Santo Afonso de Ligório dizia que: “A vontade própria é a ruína das virtudes,
a fonte de todos os males, a única porta do pecado, e da imperfeição, arma
favorita do tentador contra os religiosos, o carrasco de seus escravos, um in-
ferno antecipado”.

Caro artista, não importa quão experiente ou mesmo fascinante seja sua
arte. Se cometeres a loucura de achar que o sucesso é todo seu, que você, ou mes-
mo o seu Ministério, é o responsável por fazer acontecer à missão de evangelizar,
isso vai significar que tomastes posse de algo que não lhe pertence, e acredite, sua
missão estará fadada a ruir. “A soberba precede à ruína; e o orgulho, à queda”
(Prov 16, 18).

A humildade ao contrário gera em nossos corações o conceito verdadeiro


de quem somos e a quem pertence toda a glória da obra realizada. Como disse
Santa Teresa D’Ávila: “humildade é caminhar na verdade”, e a verdade irmãos é que
o nosso dom de cantar, tocar, encenar, dançar, pintar, escrever, etc, é, an-
tes de tudo, uma graça vinda das mãos do Senhor por amor a nós e a sua
Igreja.

É por meio da humildade que nossa arte será realmente de Deus, pois sa-
beremos quem somos e reconheceremos que as maravilhas e milagres que acon-
tecem por meio de nossos cantos, teatros, danças, etc, terão sua origem em Deus
e não em nós mesmos.

A pessoa humilde reconhece os seus dons e talentos como manifes-


tação da glória e vontade de Deus. Por isso está sempre disponível para
usá-los para o bem e crescimento da igreja. Uma característica do coração
humilde é a profunda consciência de sua dependência de Deus, acompa-
nhada de um sentimento de confiança e gratidão pelo seu constante auxí-
lio e providência.

E isso não é só para os músicos, mas para todos os artistas a serviço do


Reino. Para todo cristão que se coloca a serviço do Senhor.

A soberba também, junto com a vaidade, a vanglória, o amor próprio de-


sordenado, o egocentrismo e o exibicionismo, faz com que queiramos nos tornar
o centro das atenções, faz com que queiramos chamar sobre nós mesmos, de
maneira incontrolada, a admiração dos demais e também as homenagens, quase
sempre vazias, ilusórias e instáveis. Ela faz-nos gostar de aparecer, de nos exibir,
de amarmos os aplausos e as bajulações.
45
Nunca se esqueça o que diz o Evangelho: “aquele que se exaltar
será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado” (Mt 23, 12) e Santa
Teresinha do Menino Jesus, doutora da Igreja e muito sábia, ensina: “eu
quero o último lugar... sei que ninguém vai brigar comigo por causa dele”.

Muitos Ministérios de música, de teatro, de dança são cheios de boas virtu-


des, mas infelizmente foram se tornando inchados, justamente por pensarem que
suas boas virtudes são méritos próprios e não graças de Deus para o serviço aos
outros e por conta disso se perderam pelo caminho. Hoje buscam fama e aplausos,
desejam sucesso. E o que aconteceu: caíram no esquecimento.

Estar livre da necessidade de ser recompensado, aplaudido é a li-


berdade digna da nossa estatura de filhos de Deus. A pessoa humilde é
fundamentalmente simples e despojada, não precisa de condecorações e
títulos para se sentir em paz.

“Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande
entre vós, se faça vosso servo. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se
faça vosso escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido,
mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão” (Mt 20, 26ss).

Guarde bem isso para você e para seu Ministério: “A soberba não é gran-
deza, é inchaço” (Santo Agostinho). Por isso “não vos iludais, pois, irmãos meus
muito amados. Toda dádiva boa e todo dom perfeito vêm de cima: descem do Pai das
luzes” (Tg 1, 16s).

O apóstolo Paulo perguntou aos cristãos de sua época, mas hoje essas
perguntas são para nós, de modo especial, para nós que servimos o Senhor: “O
que há de superior em ti? Que é que possuis que não tenhas recebido? E, se o
recebeste, por que te glorias, como se o não tivesses recebido?” (1Cor 4, 7).

Basta de nos gloriarmos através de nossa boa arte. Tudo o que fazemos de
bom, é por graça de Deus que o fazemos. Lembremos sempre de que se eu canto
bem, se eu pinto bem, se eu danço maravilhosamente bem, se minha encenação
é perfeita, tudo isso é dom de Deus, é graça de Deus e, por isso mesmo, eu não
posso mais querer “roubar a sua glória”, atribuindo-a a mim ou ao meu Ministério.

Cantemos com nossa vida: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso
nome dai glória, por amor de vossa misericórdia e fidelidade” (Sl 113, 9)

O dom que Deus nos confiou é muito precioso, porém não podemos
46 esquecer que não é nosso. É por isso que Deus, por meio do apóstolo Paulo,
quando escreve aos cristãos de Corinto, deixa claro que “temos este tesouro em
vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém
de Deus e não de nós” (2Cor 4, 7).

Portanto, esse precioso dom que Deus nos deu deve ser bem cuidado,
para que o vaso frágil de barro não se quebre.

Por que Deus nos fez como vasos de barro? Simples, para ser um meio
eficaz de lutarmos contra o orgulho, pois vendo que somos vasos de barro, que
somos frágeis, teremos sempre claro em todos os momentos de que o dom de
cantar pelo Reino, de dançar, de realizar seja qual for a sua arte, “este poder extra-
ordinário provém de Deus e não de nós”.

Tenhamos sempre em mente o que o Senhor nos ensina no Evangelho: “Eu


sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto;
porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5).

Ele é a fonte (videira) de nossa arte (ramo), se permanecer nele, ou seja, se


nossa arte estiver ligada a Ele, à sua vontade, se ela estiver dependente dEle e não
dependente de nós, os frutos acontecerão. Em primeiro lugar em nós mesmos,
frutos de santidade, de conversão e de comunhão com Deus e com os irmãos. E
em segundo, com os que se beneficiarão de nossa arte, com frutos concretos de
experiência com Deus.

Devemos combater com toda nossa força e todo nosso sangue todos as
investidas de Satanás, principalmente, e muito especialmente, a soberba, que fez
perder a humanidade pelo pecado original. E a principal arma que o Senhor nos
confia para esse combate é a humildade.

“Enquanto vivemos nesta terra não há coisa que mais importa para
nós do que a humildade” (Santa Teresa D’Ávila).

Ser humilde é não contar apenas consigo mesmo, mas contar sempre com
Deus, e por Ele regrar nossa vida, nossa arte.

Jesus é claro: “sem mim nada podeis fazer”.

Ser humilde é não viver para si, mas viver para Deus e para os outros:
“Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-
la-á para a vida eterna” (Jo 12, 25).

“Ser humilde é ser santo, é saber descer do pedestal, é não se auto- 47


adorar, é preferir fazer a vontade dos outros à própria, é ser silencioso, dis-
creto, escondido, é fugir das pompas e dos aplausos”10 . João Batista entendeu
bem isso e, falando a respeito de Jesus, disse claramente: “importa que ele cresça
e que eu diminua” (Jo 3, 30).

Do mesmo modo, São José, quando soube, por meio de um sonho, que
Deus o tinha escolhido entre todos os varões de seu tempo, para ser pai legal de
Jesus, ele entendeu, acreditou, aceitou e pôs em prática o desígnio de Deus. E não
estou falando somente do momento do nascimento de Jesus; toda vida de São José
é sinal concreto de humildade e fidelidade à voz de Deus.

Quando São José tomou conhecimento de que iria participar dessa Obra,
desse grande espetáculo do Mistério da Encarnação, fez-se servo humilde, e não
fez seu cartaz ou ficou vangloriando-se, pois tinha ciência que o espetáculo era do
Criador, e não era seu.

E assim como São José, todos os santos foram modelos de humildade.

Há uma frase que se repete pelo menos três vezes na Bíblia: “Deus resiste
aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes” (Prov 3, 34; Tg 4, 6 e 1Pd 5, 5).

Com nossas vidas, com nossos dons, através de nossa arte anun-
ciemos o Senhor, mas o façamos com humildade, mas muito cuidado para
que sua humildade não se torne uma falsa humildade. Pois a “a falsa humil-
dade é puro orgulho” e “simular humildade é ser soberbo”.

4.3. HUMILDADE SIM, FALSA HUMILDADE NÃO

“Humildade é a verdade” (Santa Teresa D’Ávila).

A falsa humildade é outro problema tão grave quanto à falta da


humildade. Não reconhecer os dons recebidos não é humildade autêntica, e sim
fingida e artificiosa.

A falsa humildade é caracterizada por uma excessiva preocupação


com sua auto imagem em relação aos outros, o que leva a pessoa a esconder
os seus talentos em determinadas ocasiões, só deixando que eles se manifes-
tem em situações que tragam uma segurança de que haverá um retorno em
forma de elogios e exaltações. Na verdade a falsa humildade é uma forma
48
10 - AQUINO, Felipe. Os pecados e as virtudes capitais. Lorena: Cléofas, 1998
mascarada de orgulho. O que às vezes parece uma virtude é na verdade uma
manifestação de pecado, fechamento e soberba. Podemos e devemos fazer
uma avaliação de nossa postura diante do Ministério que desenvolvemos para,
à luz da verdade, nos conhecer melhor e assim permitirmos que Deus venha
ao nosso encontro.

“A verdadeira humildade não consiste em dizer que não se faz nada,


em negar as boas obras feitas por nós, mas em colocar Deus no seu lugar e
nós no nosso” (Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares)

A falsa humildade é tão perigosa para nossa arte, para nossa vida de cris-
tãos, que se não for combatida logo ela pode acabar com nosso Ministério pessoal
ou de todo grupo.

O filósofo, físico e matemático Blaise Pascal disse certa vez que “a falsa hu-
mildade é puro orgulho” e Santo Agostinho também nos ensina algo similar, quando
diz: “simular humildade é ser soberbo”.

Em seu livro As Tentações do Músico11, Martín Valverde conta um caso pes-


soal que muitas vezes acontece conosco no exercício de nossa arte.

Ele conta que no final de uma de suas apresentações, um de seus formado-


res espirituais, o que mais influenciou sua vida, estava entre o povo que participava
do show. Esse formador o parabenizou por ter tocado muito bem dizendo assim:
“Parabéns Martín, tocaste muito bem”. Ao ouvir esse elogio, Martín, inocentemente
e sem intencionar apropriar-se da Glória de Deus, respondeu prontamente: “Não
fui eu, foi o Senhor!”. Seu formador, com um sorriso no rosto, disse: “Mas como, se
foi a ti que eu vi tocar? Está certo que tens barba, porém não é para tanto”.

Na verdade seu formador entendeu que Martín na verdade não queria era
apropriar-se da glória que pertencia a Deus, porém explicou que Deus não faz
100% e o músico 0%, nem mesmo o trabalho é divido 50% por conta de Deus e
os outros 50% do ministro de música. Na verdade Deus faz os seus 100% e o ar-
tista coloca a parte que lhe corresponde: os 30, 60 ou 90%, que, afinal de contas,
é o seu 100%, visto que é o melhor que poderia ter dado naquele momento.

E ainda o esclareceu dizendo: “Deus se glorifica quando tu tocas e quando


aceitas que interpretaste bem tua música Ele recebe a glória igualmente e tua humil-
dade não é prejudicada, mas torna-se mais equilibrada. Ou diga-me, se tu tocas mal, o

49
11 - op. cit.
que vais dizer? A mesma coisa? Não creio que o Senhor vai gostar da idéia”.

Quantos de nós já vivemos situações similares a essa que nosso irmão vi-
veu? Se quisermos agradecer a Deus os dons recebidos, nosso primeiro dever é
reconhecê-los.

Humildade é a verdade. O que você pensaria se escutasse alguém dizendo:


“É melhor que você aprenda comigo que sou humilde” ou “Vocês me chamam de
Mestre e Senhor e dizeis a verdade, porque eu o sou”? Você com certeza daria uma
boa risada e se afastaria para evitar algum contágio.

Mas hoje sabemos que a pessoa que disse isso foi o perfeito exemplo de
humildade: Jesus. Confira: Mt 11, 29 e Jo 13, 13.

O Senhor não teve problema algum em reconhecer o que Ele era, é e con-
tinuará sendo, de maneira que a atividade ou mesmo a função que realizava não
afetava em nada seu ser nem a sua dignidade.

Para Santo Agostinho, ser humilde é reconhecer a própria dimensão e se


conhecer a si próprio com honestidade. Assim, é fácil entender que a humildade
nos põe a realidade inteira debaixo dos olhos, sem exagerar problemas
nem mesmo super valorizar os sucessos.

Sobre esse pecado, da falsa humildade, nos alerta São Paulo, quando escre-
ve: “Em virtude da graça que me foi dada, recomendo a todos e a cada um: não façam
de si próprios uma opinião maior do que convém, mas um conceito razoavelmente
modesto, de acordo com o grau de fé que Deus lhes distribuiu.” (Rm 12, 3).

Não tenha medo de reconhecer seu talento, e por vezes receber por conta
dele elogios; mantenha apenas presente no coração que tudo que você tem rece-
beu do Senhor. Fuja sim da falsa humildade que no fundo é orgulho e se é orgulho,
tem sua origem na soberba.

Aprenda com Maria que reconheceu quem era, e no reconhecimento glo-


rificou o Senhor, pois se ela o era, era por graça do Senhor e não por mérito
próprio: “A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito se alegra em Deus, meu
salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me
chamarão bem aventurada, porque o todo poderoso fez grandes coisas em meu favor”
(Lc 1, 46-49).

50
4.4. HUMILDADE E MANSIDÃO: AS VIRTUDES DO CORAÇÃO DE JE-
SUS
“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,
29).
Parece que o Senhor, entre todas as virtudes, quis dar destaque a duas:
mansidão e humildade. Ao falar da humildade é preciso falar da mansidão, justa-
mente porque uma e outra se completam, são inseparáveis. E assim o são justa-
mente por serem virtudes do Coração de Jesus.
Mansidão é a virtude que faz com que acolhamos a vontade do Pai,
coloca-nos em contato com a vontade de Deus. É a virtude que nos abre para
a humildade e nos faz aniquilar o homem velho.
A mansidão gera em nós a confiança em Deus. Nos dias de hoje, como
na época em que Jesus esteve entre nós, o que mais fere o coração do Senhor é
justamente nossa desconfiança, o fato de não acreditarmos no que Ele nos confia.
Mansidão, assim como a humildade, é uma virtude moral, também
enraizada na virtude cardeal da temperança, que nos leva a conter os mo-
vimentos de ira. Exige capacidade de domínio do instinto de irascibilidade,
isto é, dos que se iram com facilidade, difícil nas pessoas de temperamento
colérico. O exercício desta virtude pressupõe trabalho de educação, per-
sistente esforço pessoal e muita oração.
São Paulo faz aos Efésios um apelo que é importantíssimo para cada um
de nós, para nossa arte, para nossos Ministérios, ele lhes diz: “Exorto-vos pois (...)
a andardes de modo digno da vocação a que fostes chamados: com toda humildade
e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros com amor” (Ef 4, 1-
3)
A mansidão só é vivida sob o prisma do amor, que tudo supera, per-
doa e vence o mal com o bem. Ela é a superpotência escondida na fragilidade,
e quem a encontra vence a tudo e não abre mão desta graça tão potente, pois a
mansidão é a virtude dos fortes.
Ser manso é ser delicado com todos, é ser atencioso, compreensi-
vo, não levantar a voz. Muitas vezes somos indelicados, grossos, estúpidos, com
os outros, porque não nos colocamos no seu lugar. Quantas dificuldades de rela-
cionamentos em nossos Ministérios poderiam ser contidas, ou mesmo superadas
por meio da mansidão?
51
Todavia, mansidão não é sinônimo de fraqueza ou mesmo de co-
vardia. Muito pelo contrário, é uma virtude divina. Deus, sendo Todo poderoso,
é manso. A mansidão está estreitamente ligada com a graça da fortaleza.
Pois só os fortes em Deus podem exercê-la; o seu princípio consiste em “vencer
o mal pelo bem”, como disse São Paulo aos romanos: “Não pagueis a ninguém o
mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens” (Rm 12,
17).
O Apóstolo ensina a deixar a justiça por conta de Deus, e jamais fazê-la
com as próprias mãos: “Não vos vingueis uns dos outros caríssimos, mas deixai agir
a ira de Deus, porque está escrito: ‘A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o
Senhor’ ” (Rm 12, 19).
Jesus ensina que na mansidão reside a perfeição cristã. Se o teu desejo
é a santidade, é ter uma vida santa, é exercer a sua arte com santidade,
é transmitir essa santidade para que outros também desejem ser santos,
então é preciso colocar a mansidão em sua bagagem.
É lindo ver que Jesus viveu essa mansidão perfeitamente, para jus-
tamente podermos ter em quem nos assemelhar. O profeta Isaías, cinco
séculos antes, já anunciava a mansidão do Cordeiro de Deus: “Foi maltratado e
resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma
ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.)” (Is 53, 7). E o profeta
acrescenta que assim: “O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre
si suas iniqüidades” (Is 53, 11).
“Foi pela humildade e mansidão que Jesus nos salvou. Ao sofrer toda a sua
paixão silenciosamente, ao ser preso como um marginal, flagelado até ao sangue como
um malfeitor, zombado como um farsante, coroado de espinhos como um falso rei,
condenado à morte como um criminoso, esbofeteado como um blasfemador, escarrado,
pregado na cruz, e tudo mais, com a mansidão de um cordeiro, Ele conquistou os mé-
ritos infinitos que nos redimiu de todos os nossos pecados” 12
Se o Senhor ensinou que “O servo não é maior do que o seu senhor.
Se me perseguiram, também vos hão de perseguir. Se guardaram a minha
palavra, hão de guardar também a vossa” (Jo 15, 20), se ao aceitarmos seu
chamado para anunciar o Evangelho por meio de nossa arte, só pode-
remos chegar ao fim com o mesmo triunfo do Senhor vivendo como Ele

52 12 - Felipe Aquino. Bem Aventurados os Mansos. Disponível em: <http://www.cleofas.com.br/vir-


tual/texto.php?doc=ESPIRITUALIDADE&id=esp0135>
viveu: humilde e mansamente.
É por isso que quando agimos com a mesma humildade e mansidão do
Senhor, conformamos a nossa vida com a dEle. Aí, então, somos, de fato, seus
discípulos.
Para praticar essa bela virtude é preciso estarmos convencidos de
sua beleza, eficácia e poder, pois o mundo nos ensina o contrário: “bateu,
levou!” Jesus ensina o oposto: “bateu, dê-lhe a outra face!”.
Querido artista de Deus, pode parecer difícil viver desse modo, mas é
preciso acreditar, não em nós mesmos, mas no que Deus é capaz de fazer em nós
e por meio de cada um de nós, Santo Agostinho diz que “o que é impossível à na-
tureza, é possível à graça”, e há nas Sagradas Escrituras inúmeros testemunhos
dessa verdade.
Por isso caro artista não tema a humildade. Ao contrário, busque-a sem
medo. Aprenda essa regra de ouro: “Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão
de Deus, para que ele vos exalte no tempo oportuno” (1Pd 5, 6).
Lute pela humildade; se querem gerar disputas entre os membros de seu
Ministério, disputem para serem os mais humildes. Conquistar a santidade é
conquistar a humildade.
“Visões, revelações, sentimentos celestes e tudo quanto se pode imaginar
de mais elevado, não valem tanto quanto o menor ato de humildade” (São João da
Cruz).
Peçamos sempre o auxilio do Sagrado Coração de Jesus, que é Manso e
Humilde para que nossa arte, nossa vida, nosso coração sejam cada vez mais asse-
melhados ao dEle.

Sugestão
Pode se fazer um momento de reflexão individual e pessoal para que sejam
detectadas as áreas da vida pessoal que possam ser atacadas pelo orgulho e a vai-
dade.
Fazer um bom momento de oração de libertação pedindo o Batismo no
Espírito Santo, para resistir a essas tentações e produzir o fruto da humildade au-
têntica, como exposto acima no ensino.

53
ENSINO 5

A OBEDIÊNCIA DO ARTISTA

OBJETIVO: Apresentar o preceito evangélico que deve ser vivido por todo Cris-
tão e principalmente por um servo ministeriado.

“Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom”
(Gn 1, 31)

Quando comecei no Ministério de Música, lá no inicio de minha caminhada


com Deus, aprendi em Encontros, Congressos Estaduais e Nacionais e Retiros
para Músicos que a imagem do Deus Criador é refletida em nossa arte.

Para mim, de maneira especial, sempre ficou a imagem de que Deus é o


Maestro e Compositor de uma grande e eterna sinfonia chamada: A Criação. E de
maneira simples, sabemos que uma sinfonia é composta por vários instrumentos,
porém ela é regida por um único Maestro a quem todos os instrumentistas seguem
disciplinadamente. Ou seja, a quem segue com Obediência.

Podemos fazer uma idéia do desastre que seria para uma sinfonia se um
dos instrumentistas quisesse seguir seu ritmo, sua vontade, sem ser obediente ao
ritmo e direção dada pelo Maestro. Ele ficaria completamente fora da harmonia de
toda a sinfonia e acabaria com toda a apresentação. Se para uma sinfonia de pouca
duração isso seria um desastre, imaginemos para uma sinfonia eterna!

Pois é, foi o que aconteceu quando Adão e Eva resolveram seguir o seu
ritmo, seguir sua vontade sem mais quererem ser obedientes ao ritmo e direção
de seu Maestro e Criador. A desarmonia dessa decisão: o pecado.

Essa forma de pensar, de imaginar, sempre me fez perceber o quanto ser


desobediente tem reflexos para minha vida e para vida de todos que venham a ter
contato comigo através de minha arte, de meu Ministério, de minha vida. Assim
como, no sentido contrário, o quanto a obediência traz grandes e maravilhosas
conseqüências para minha vida como filho de Deus e para vida de toda a sinfonia
da Criação.

É por isso que não dá para deixar de falar de algo tão importante para a
54 vivência e exercício de nossa arte: a Obediência.
5.1. Definição

A Igreja nos ensina que “Por amor, Deus revelou-se e doou-se ao homem...
Deus revelou-se ao homem, comunicando-lhe gradualmente seu próprio Mistério por
meio de ações e de palavras... Para além do testemunho que Deus dá de si mesmo nas
coisas criadas, ele manifestou-se pessoalmente aos nossos primeiros pais. Falou-lhes e,
depois da queda, prometeu-lhes a salvação e ofereceu-lhes sua aliança” (Catecismo
da Igreja Católica13 § 68–70).

E foi em Jesus que essa promessa de salvação e nova aliança se cumpriram


por completo, pois “Deus revelou-se plenamente enviando seu próprio Filho, no qual
estabeleceu sua Aliança para sempre. O Filho é a Palavra definitiva do Pai, de sorte que
depois dele não haverá outra Revelação” (CIC § 73).

Por meio da Revelação e por seu grande amor Deus falou e fala aos homens
como a amigos e os convida a ter uma comunhão com Ele. E veja como o homem
responde a esse convite: “Sustentado pela graça divina, o homem responde a Deus
com a obediência da fé, que consiste em confiar-se completamente a Deus e acolher
a sua Verdade, enquanto garantida por Ele que é a própria Verdade” (CIC § 25).

O dicionário diz que obediência, do latim obedientia, oboedientia, significa:


“ato ou efeito de obedecer; hábito de ou disposição para obedecer; submissão à vonta-
de de alguém; docilidade; sujeição; dependência”.

E o Catecismo da Igreja Católica define que “Obedecer (‘ob-audire’) na fé sig-


nifica submeter-se livremente à palavra ouvida, visto que sua verdade é garantida por
Deus, a própria Verdade” (CIC § 144).

Ao analisarmos esses significados com certeza descobrimos a importância


da obediência para nossas vidas e também para o exercício de nossa arte.

É preciso de nossa parte uma disposição para obedecer a Deus e a


sua vontade, e desse modo submeter livremente nossa vida e nossa arte
à sua Palavra, o que vai significar ser dócil, e vai nos conduzir a colocá-la
em prática. Por meio da obediência confirmo minha confiança e minha
dependência de Deus, afirmo que minha vida e minha arte são sujeitas a
Ele e aos cuidados de seu Infinito Amor.

13 - O Catecismo da Igreja Católica será referido nas citações textuais como “CIC”, de forma 55
simplificada
Vemos por essas poucas palavras que a obediência é algo fundamental para
a vivência de nossa fé. E se é fundamental para a vivência de nossa fé, quanto mais
para a vivência de nossa arte, visto que a nossa arte, seja ela qual for, só encontra
sentido porque a vivemos segundo a nossa fé.

A Palavra de Deus nos relata a história de um homem que foi escolhido e


ungido pelo profeta Samuel, segundo a vontade do Senhor, para reinar o povo de
Israel. Esse homem era Saul. A arte de Saul era ser Rei, era governar e liderar o
povo de Israel. Estar à sua frente e conduzir Israel segundo a vontade de Deus.

Saul foi enviado por Deus a uma guerra, lutou bravamente pelo Senhor, po-
rém não obedeceu fielmente toda a ordem do Senhor. Vale a pena você conferir:
1Sam 15, 1-31.

Você notou que quando Saul foi acusado pelo profeta Samuel de desobe-
diência, ele quis se justificar dizendo que tinha feito, sim a vontade do Senhor e
que o que fez além era pensando no Senhor: “Mas eu obedeci à voz do Senhor (...)
fui pelo caminho que ele me traçou, trouxe Agag, rei de Amalec, e votei ao interdito os
amalecitas. O povo somente tomou dos despojos algumas ovelhas e bois (...) para os
sacrificar ao Senhor” (1Sam 15, 20s), como se dissesse: fiz o que o Senhor pediu e
ainda fiz mais, e o fiz para glorificá-lo.

O que Saul fez foi realizar a obra do Senhor, porém ele quis realizá-la da
maneira que ele, Saul, achava melhor e não da maneira que o profeta lhe havia dito
ser a vontade de Deus. É por isso que a resposta de Deus, por meio de seu pro-
feta, é clara e direta: “Acaso o Senhor se compraz tanto nos holocaustos e sacrifícios
como na obediência à sua voz? A obediência é melhor que o sacrifício e a submis-
são vale mais que a gordura dos carneiros. A rebelião é tão culpável quanto a
superstição; a desobediência é como o pecado de idolatria. Pois que rejeitaste
a palavra do Senhor, também ele te rejeita e te despoja da realeza!” (1Sam 15, 22s).

Irmão, nenhuma de nossas “fantásticas idéias” será melhor do que


fazer fielmente o que nos pede o Senhor. Desperta hoje para essa verdade
antes que aconteça contigo de ter que ouvir o mesmo que Saul: “Assim o Senhor ar-
ranca hoje de ti a realeza sobre Israel, a fim de dá-la a outro melhor do que tu”, já que
não quiseste fazer como o Senhor lhe mandou também o Senhor hoje lhe despoja
de seu Ministério, lhe arranca o dom que lhe confiou.

Se exercermos nosso Ministério, que é a arte, para evangelizar, para levar


56 outros a terem uma experiência com Deus e a partir dessa experiência ter uma
vida conduzida pela fé, é preciso passar cada vez mais a exercer nosso Ministério,
nossa arte, segundo a obediência da fé e dessa maneira exercer nossa missão de
evangelizar através de Música e Artes de acordo com a vontade Deus.

Caro artista, no seu trabalho de evangelização, por meio de sua arte, a


sua maior preocupação não deve ser mostrar o “seu trabalho”, mas sim a de ir
ao encontro , através de sua arte, com a necessidade do povo a quem você está
servindo. E isso só é possível se a sua maior preocupação for realizar a vontade de
Deus, que conhece esse povo no mais profundo e sabe quais são suas reais neces-
sidades.

Podemos estar em qualquer lugar e exercendo qualquer função dentro da


Igreja, porque ali, por conta da Igreja ser uma vontade Deus, com certeza daría-
mos frutos trinta, quarenta, sessenta por um, porém só daríamos cem por um, ou
seja, a totalidade dos frutos que Deus deseja colher de cada um de nós, se estivés-
semos no centro da sua vontade. E só podemos estar no centro da sua vontade, se
o obedecermos.

“Na obediência realiza-se a semelhança com Deus e não só o ser imagem de


Deus” dizia um Padre do deserto. E isso é fácil de compreender: pelo fato de exis-
tir, somos imagem de Deus, mas só pelo fato de obedecer é que podemos ser sua
semelhança, pois obedecendo nos conformamos a sua vontade, nos tornamos, por
nossa livre escolha, o que Ele é por natureza, dessa maneira, nós nos assemelha-
mos a Deus porque queremos as mesmas coisas que Ele quer.

Talvez hoje o que você precisa, juntamente com todo o seu Ministério, é
aprender com o Senhor o que é obedecer, e desse modo buscar imitá-lo. Acredito
que o primeiro passo para abraçarmos a obediência é desejarmos de todo coração
nos assemelharmos a Jesus. Para isso é preciso conhecer como é a Obediência de
Jesus.

5.2. A obediência de Jesus

Irmão é fácil e mesmo relativamente simples descobrir qual a natureza e


origem da obediência na vida cristã; basta olhar para aquele que a Escritura define
como “o obediente”: Jesus.

“Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus,
mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos 57
homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais,
tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fil 2, 6-8).

Frei Raniero Cantalamessa, que desde 1980 é o Pregador da Casa Pontifí-


cia, foi particularmente feliz e inspirado quando em seu livro sobre a Obediência14,
disse que a “obediência cristã não está fundamentada em uma idéia, mas em um ato
de obediência”.

Por tanto, a obediência de Jesus não é só um sublime exemplo de obediên-


cia, mas sim o seu fundamento. A razão de obedecer está na obediência de Jesus.

Mas de qual obediência estou falando? Da bediência a seus pais, à lei mo-
saica, ao Sinédrio, a Pilatos? A obediência de que estou falando é a obediência
de Cristo ao Pai, justamente porque a obediência de Cristo ao Pai é considerada
oposta à desobediência de Adão: “Assim como pela desobediência de um só homem
foram todos constituídos pecadores, assim pela obediência de um só todos se tornarão
justos” (Rom 5, 19).

E quem foi que Adão desobedeceu, senão a Deus? São Francisco de Assis
diz que a desobediência de Adão se deu pelo fato de querer apropriar-se de sua
vontade: “Come da árvore do bem e do mal quem se apropria de sua vontade”15, com-
preende-se logicamente, por oposição, em que consiste a obediência de Jesus, que
é o novo Adão: Ele desapropriou-se de sua vontade, ela esvaziou-se, aniquilou-se,
como ele mesmo disse: “Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a
vontade daquele que me enviou” (Jo 6, 38).

A obediência percorre toda vida do Senhor. Ela se manifesta pela obediên-


cia à palavra escrita; basta lembrarmos das tentações vividas por Jesus no deserto,
de modo especial a palavra escrita dEle e para Ele na lei e nos profetas. “A vida de
Jesus é como que orientada por uma esteira luminosa que os outros não vêem, e que é
formada pelas palavras escritas a seu respeito. Ele deduz das Escrituras o ‘se deve’ que
rege toda sua vida”16.

São Basílio aponta três disposições que levam alguém a obedecer:

Temor do castigo: é a disposição dos servos, dos escravos, que obede-


cem por medo;

Por interesse: é a disposição dos mercenários, que obedecem pelo inte-

14 - CANTALAMESSA, Raniero. A obediência. São Paulo: Loyola, 1999.


58 15 - Idem
16 - Idem
resse de um prêmio;

Por amor: esta é a disposição dos filhos, que obedecem por que amam.

Em Jesus resplandece no mais alto grau a obediência filial, a obedi-


ência por amor.

A obediência de Jesus não foi obediência a uma imposição do Pai, mas uma
amorosa opção do próprio Jesus pelo plano misericordioso do Pai. Mesmo diante
dos momentos mais difíceis como quando o Pai lhe apresenta o cálice da paixão, o
Senhor diz: “... Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua.” (Lc 22, 42), e
nem mesmo no alto da cruz o Senhor, apesar de seu clamor: “Meu Deus, meu Deus,
por que me abandonaste?” (Mt 27, 46), ele não deixa calar o grito de filial obediên-
cia, pois logo em seguida acrescenta: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc
23, 46).

“Na cruz, Jesus ‘abandonou-se a Deus que o abandonava’! Esta é a obediência


até a morte; está é ‘a rocha da nossa salvação’ ”17

Irmão, se a desobediência de Adão gerou em nós uma inclinação


para o mal, para o pecado; saiba que a perfeita obediência de Cristo capa-
citou-nos à sua imitação e convida-nos a superarmos nossa inclinação ao
mal e a abraçarmos a vivência do bem.

Jesus é o novo Adão, que foi fiel lá onde o primeiro sucumbiu à tentação. Se
em Cristo somos novas criaturas, precisamos acreditar que o caminho que Ele tri-
lhou é o mesmo que devemos trilhar, pois não somos mais que seguidores seus.

Se alguém seguiu fielmente os passos de Jesus, essa foi Maria. Ela é figura
da Igreja, e é um perfeito modelo de obediência também.

5.3. Virgem Maria um modelo de obediência

Quando o assunto é obediência, logo ligamos nosso “sistema automático


de defesa, desculpas e justificativas”, pois sabemos que esse é um dos nossos mais
constantes e difíceis pecados. Por isso, talvez você pode correr o risco de estar
dizendo consigo mesmo “mas Jesus era Deus por isso foi tão obediente”, isso é pura
tentação meu irmão e, com toda certeza, você precisa renunciá-la.

59
17 - Ibidem.
O Pai em sua eterna sabedoria, também nos deu um outro exemplo de
perfeita obediência a sua vontade: Maria.

É claro que a obediência de Maria não é perfeita pelos seus próprios


méritos, aconteceu pela graça que Deus lhe deu de ser a mãe do Salvador
Jesus. Mas essa graça passou por sua aceitação e docilidade para então
poder fazer acontecer à vontade Deus.

É conhecida de todos nós a palavra das Sagradas Escrituras que relatam a


Anunciação, mas vale a pena relembrá-la, leia: Lc 1, 26-38.

Você leu atentamente? Notou como é interessante o que nos narra esse
trecho do Evangelho? Imagine só! Maria estava ali na sua casa, talvez no seu quarto,
e do nada lhe aparece o anjo com a famosa saudação: “Ave, cheia de graça, o Senhor
é contigo”. Ela perturbou-se, assustou-se, mas é claro, imagine-se no seu quarto,
ou em sua sala de ensaio, tocando sua guitarra, ensaiando os novos passos da
dança, decorando o texto da próxima encenação e de repente, zapt, um anjo lhe
aparece, com certeza você sairia correndo ou desmaiaria.

Mas não pára aí! Depois de se explicar, o anjo diz que ela iria dar “à luz um
filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o
Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó,
e o seu reino não terá fim”. Qualquer mulher a essa altura já estaria cheia de planos,
dizendo: “Meu filho: Rei! Nossa! Todos me elogiarão, irão querer meu autógrafo, esta-
rei nos lugares mais badalados, nos principais canais de televisão, etc...”. Mas Maria,
ao contrário, pensou e tentou entender como isso iria acontecer. Afinal era virgem
e para ficar grávida era preciso conhecer e estar com um homem. É por isso que
ela pergunta: “Como se fará isso, pois não conheço homem?”.

Irmão, aqui está algo espantoso! A resposta do anjo foi algo completamen-
te lógico, cientificamente compreensível e de fácil aceitação, você não acha? Veja
o que ele disse: Se acalme Maria o “Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do
Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será
chamado Filho de Deus”. Imagine: os vizinhos, os amigos, os parentes de Maria se
aproximando com aquele ar de dúvida a perguntar: “Maria nos explique: como você
pode estar grávida, se ainda não moras com José?” E ela com toda tranqüilidade daria
a resposta que o anjo lhe deu, extremamente lógica e de fácil aceitação: “É simples
caros vizinhos, amigos e parentes. O anjo me disse que o Espírito Santo se encarregaria
de tudo e por meio dele tudo aconteceria. E foi o que aconteceu, o Espírito Santo veio
60
com sua sombra sobre mim e a força do Altíssimo completou o resto”.
Imaginou o resto do povo? Com certeza, todos diriam a uma só voz: “Va-
mos interná-la, está louca!” ou pior, “Vamos apedrejá-la pois feriu nossas leis”.

Mesmo diante de algo sem lógica pela razão, mas extremamente magnífico
que foi a resposta do anjo, Maria deu uma resposta de obediência, uma resposta de
obediência na fé: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”
(Lc 1, 38).

Quantas vezes no exercício de nossa arte nos deparamos com situações


que nos parecem fora da razão e nos perguntamos: “Como Senhor poderei cantar
para toda essa ‘multidão’ se eu só tenho um tonante, um microfone de 3a linha e um
amplificador? Senhor como se fará, pois não tenho equipamento que seja bom?” ou
“Como poderão escutar a minha fala ou mesmo me verem Senhor, nessa Igreja sem
acústica e palco?”, e tantas outras que com certeza você já ouviu ou mesmo já dis-
se.

Para você, assim como para mim, o anjo também responde: “...a Deus ne-
nhuma coisa é impossível”, se esse trabalho de evangelização está de acordo com
a vontade de Deus, acredite “a Deus nenhuma coisa é impossível” e, como Maria,
tenha a coragem de dizer com sua boca, com seu coração, com sua arte, com sua
vida: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Santo Irineu, comentando a respeito da obediência de Maria, escreve: “Pa-


ralelamente, verificamos que também a Virgem Maria é obediente quando diz: ‘Eis aqui
a serva do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra’. Como Eva, desobedecendo,
vem a ser causa de morte para si e para todo gênero humano, assim Maria, obedecen-
do, vem a ser causa de salvação para si e para todo gênero humano”.

Em outra ocasião Santo Irineu também vai dizer que “o nó da desobe-


diência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem
Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com a sua fé”.

A obediência de Maria foi, ensina Raniero Cantalamessa18, uma imita-


ção exemplar ou prototípica que, por sua vez, serve de modelo para toda
a Igreja. Ela apresenta-se, numa reflexão teológica, como: a Obediente.

“Como por obra da virgem desobediente o homem foi ferido e, precipitado,


morreu, assim por obra da Virgem obediente à Palavra de Deus, recebeu a vida nova-
mente” (Santo Irineu).

61
18 - CANTALAMESSA, Raniero. A obediência. São Paulo: Loyola, 1999.
E ela não é conhecida assim simplesmente por que obedeceu a seus pais,
à lei, a José, mas sim por sua obediência à Palavra de Deus. Sua obediência é uma
antítese a de Eva. Eva não tinha pais para desobedecer, não desobedeceu a seu
marido, nem a uma lei escrita. Ela desobedeceu a Palavra de Deus.

Orígenes, refletindo sobre a mesma leitura, compara Maria a uma tabuinha


de cera que, no seu tempo, era usada para escrever, para indicar a absoluta docili-
dade de Maria. Maria oferece-se a Deus como uma página em branco para que Ele,
Senhor e Deus, pudesse escrever o que quisesse.

“A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita a obediência da fé (...) Du-


rante toda a sua vida e até sua última provação, quando Jesus, seu filho, morreu na
cruz, sua fé não vacilou. Maria não deixou de crer ‘no cumprimento’ da Palavra de
Deus. Por isso a Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé” (CIC § 148-
149).

“Quantas coisas devemos aprender da obediência da Mãe de Deus! Nós, a


maioria das vezes recorremos a Maria, não para fazer a vontade de Deus, mas para
mudá-la. Ela certamente recitou ou ouviu, durante a sua vida terrena, o versículo do
salmo em que se diz a Deus: Ensina-me a fazer a tua vontade (Sl 142, 10). Também
nós devemos aprender a dizê-lo como ela o dizia”19.

5.4. Como viver a obediência em nosso Ministério

Depois de tudo o que leu até aqui, é provável que você pergunte: “E agora:
como viver isso? Por onde começo?”. Eu sou apenas um servo de Música e Artes da
RCC ! Calma! Lembre-se das palavras do anjo a Maria: “... a Deus nada é impossí-
vel”.

Em seu livro, o Pregador da Casa Pontifícia20 compara a obediência de


Cristo a uma poderosa corrente de água que alimenta uma usina hidrelétrica; des-
sa usina parte um fio carregado de energia que, na Igreja, percorre a história. Mas
não basta que o fio de alta tensão passe de lado de uma casa para que esta receba
a energia, a casa precisa de um outro fio para ligá-la à alta tensão. Pois bem, “o
batismo é o momento em que cada homem entra em contato com a corrente de graça
que decorre do mistério pascal de Cristo e dentro dele se ‘acende’ nova vida”21.

19 - Idem.
62 20 - Idem.
21 - Ibidem.
A obediência é, pois, para a vida cristã, elemento constitutivo; é
a conseqüência prática e necessária da aceitação do Senhorio de Cristo.
“Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para lhe obedecer, sois escravos da-
quele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para
a justiça? Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado, obe-
decestes de coração à regra da doutrina na qual tendes sido instruídos. E, libertados
do pecado, vos tornastes servos da justiça” (Rom 6, 16-18). Assim, pelo batismo nós
aceitamos um Senhor “obediente”, que se tornou Senhor precisamente em virtu-
de de sua obediência, conforme nos esclarece São Paulo (Fil 2, 8-11). Portanto,
obedecer a esse Senhor não é tanto uma submissão a Ele, pelo contrário,
é muito mais assemelhar-se a Ele, porque também Ele obedeceu.

Quem confirma isso é a carta de São Pedro quando diz: “eleitos segundo
a presciência de Deus Pai, e santificados pelo Espírito, para obedecer a Jesus Cristo”
(1Pd 1, 2a). Cada um de nós é eleito e santificado para obedecer.

Por isso mesmo somos também chamados de filhos da obediência: “À ma-


neira de filhos obedientes, já não vos amoldeis aos desejos que tínheis antes, no tempo
da vossa ignorância” (1Pd 1, 14).

Ao participarmos da Eucaristia, recordamos o memorial da obediência de


Cristo até a morte: “revestimo-nos” da sua obediência como que com um manto
de justiça e com ela nos apresentamos ao Pai como “filhos da obediência”. “Como
os peixes nascidos na água não podem sobreviver senão na água, assim os
cristãos nascidos pela obediência não podem viver espiritualmente senão pela
obediência”22.

“Assim descobrimos que a obediência, antes de ser virtude é dom; antes de ser
lei é graça. A diferença entre as duas é que a lei diz para fazer, enquanto que a graça
dá para fazer. A obediência é, antes de tudo, obra de Deus em Cristo, que é mani-
festada ao cristão para que, por sua vez, exprima na vida uma filial imitação”23. Em
outras palavras: não temos só o dever de obedecer, mas temos já também a graça
de obedecer.

5.4.1. Obedecer a voz de Deus

A obediência de Jesus consistia em fazer a vontade do Pai. Vontade que Ele

22 - Idem. 63
23 - Idem.
conhecia porque ouvia a voz de seu Pai. E ouvia porque tinha com Ele intimidade.

Também nós precisamos aprender a ouvir a voz de DEUS. Precisamos


descobrir a importância de estar aos pés do Mestre. Somente pela escuta da voz
do Senhor é que posso ter acesso e conhecimento de sua vontade de seu plano.

Em nossas vidas, para ministrarmos nossa arte com unção, para podermos
ouvir a voz do Senhor, é preciso que cada um de nós seja uma pessoa de oração,
de adoração, de estudo bíblico, de busca freqüente aos sacramentos da Eucaristia
e Reconciliação e amor e devoção a Maria.

a) Pessoa de Oração:

O catecismo ensina que a “oração é a vida do coração novo e ela deve nos
animar a cada momento” (CIC 2697).

Santo Afonso de Ligório disse certa vez que “É certo que quem reza se salva
e que quem não reza se condena”. São João Crisóstomo disse: “Nada se compara em
valor à oração, ela torna possível o que é impossível, fácil o que é difícil. É impossível
que caia em pecado o homem que reza”.

Todas as vezes que Jesus tinha algo importante a realizar, dirigia-se em ora-
ção ao Pai para saber qual era a sua vontade. Leia: Mt 14, 23; 26, 36; Mc 1, 35; 6,
46; Lc 3, 21; 5, 16; 6, 12 e muitas outras. O apóstolo Paulo em várias passagens nos
alerta a buscar a oração: Fil 4, 6; Ef 5, 20; 1Tes 5, 17.

Orar é sempre possível. Nosso tempo está nas mãos de Deus, e todo tem-
po Ele está juntinho de nós. Por isso São João Crisóstomo vai afirmar: “É possível
até no mercado ou num passeio solitário fazer uma oração freqüente e fervorosa. Sen-
tados em vossa loja, comprando ou vendendo, ou mesmo cozinhando”.

Lembro do testemunho de um irmão de comunidade: “Uma de minhas


mais profundas experiências na oração pessoal se deu em uma praia. Eu estava
sentado em um monte de areia olhando o mar e fazendo minha oração. Quan-
do eu estava para terminar minha oração, senti que o Senhor me impulsionava
a caminhar na beira do mar. Fui, e foi quando ele me disse que eu precisava me
lançar a águas mais profundas na minha intimidade com Ele, que eu deveria deixar
a margem. Comecei a fazer isso concretamente, fui me lançando mar adentro,
foi quando entendi o que o Senhor queria me falar. Enquanto eu me mantinha na
64
margem meus pés se apoiavam no fundo e minha segurança ainda estava em mim
mesmo, mas quando me lancei mar adentro, eu já não tinha mais a segurança do
fundo, e as águas poderiam me levar para onde o vento soprasse. Compreendi que
esse vento era o Espírito Santo, soprando para onde à vontade de Deus queria me
levar”.

b) Adoração

O papa João Paulo II, em sua Carta Apostólica Ecclesia de Eucharistia24, nos
ensina a importância de termos momentos fortes de adoração Eucarística para ali,
verdadeiramente aos pés do Mestre, ouvir sua voz, ter seu consolo e apoio.

“O culto prestado à Eucaristia fora da Missa é de um valor inestimável na vida


da Igreja, e está ligado intimamente com a celebração do sacrifício eucarístico (...) É
bom demorar-se com Ele e, inclinado sobre o seu peito como o discípulo predileto (João
13, 25), deixar-se tocar pelo amor infinito do seu coração. Se atualmente o cristianis-
mo se deve caracterizar sobretudo pela ‘arte da oração’, como não sentir de novo a
necessidade de permanecer longamente, em diálogo espiritual, adoração silenciosa,
atitude de amor, diante de Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes,
meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela força, consolação,
apoio! Quantas canções nasceram deste momento de graça. Canções como :”Coração
Sagrado”, “Sangue Redentor” e tantas outras inspirações. Desta prática, muitas vezes
louvada e recomendada pelo Magistério, deram-nos o exemplo numerosos Santos. De
modo particular, distinguiu-se nisto S. Afonso Maria de Ligório, que escrevia: ‘A devo-
ção de adorar Jesus sacramentado é, depois dos sacramentos, a primeira de todas as
devoções, a mais agradável a Deus e a mais útil para nós’. A Eucaristia é um tesouro
inestimável: não só a sua celebração, mas também o permanecer diante dela fora da
Missa permite-nos beber na própria fonte da graça. Uma comunidade cristã que queira
contemplar melhor o rosto de Cristo (...), não pode deixar de desenvolver também este
aspecto do culto eucarístico, no qual perduram e se multiplicam os frutos da comunhão
do corpo e sangue do Senhor”.

c) Estudo Bíblico

Deus nos fala concretamente através de sua Palavra. Na historia da Igreja


há vários fatos que comprovam isso, por exemplo: o monaquismo nasceu de uma

65
24 - JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia § 25.
obediência ao Evangelho; quando ainda era jovem, Santo Antão entrou numa igreja
de Alexandria, no Egito, e quando ouviu o trecho do Evangelho que dizia: “Vai e
vende tudo que tem, doa-o aos pobres, depois vem e segue-me!”, tomou para si essa
passagem do Evangelho como uma ordem pessoal e se fez monge.

Parecido com essa história é a dos franciscanos, que também nasceram


de uma obediência parecida ao Evangelho. Certa vez, no inicio de sua conversão,
Francisco de Assis, entrou numa igreja e ouviu o sacerdote proclamando o Evan-
gelho dizer: “Não leveis nada pelo caminho, nem bastão, nem alforje, nem pão, nem
dinheiro, nem tenhais duas túnicas...” (Lc 9, 3) e foi o que ele procurou viver, e
todos conhecemos a história linda dos franciscanos.

Na Bíblia é o próprio Deus que se revela a nós através de sua Palavra. Por
isso devemos “acolher a palavra de Deus, não como palavra humana, mas como men-
sagem de Deus, o que ela é em verdade” (Aclamação ao Evangelho – Liturgia Diária
do dia 13/08/204 – Deus Conosco)

Ela é “viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge
até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e
intenções do coração” (Heb 4, 12). Além disso “toda a Escritura é inspirada por Deus,
e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o
homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra” (2Tim 3, 16).

Ela nos ajuda a acreditar em Cristo (Jo 20, 30-31), a caminharmos (Sl 118,
105), nos instrui (1Cor 10, 11) e ajuda-nos também para instruir, refutar, corrigir
e educar na justiça (2Tim 3, 16).

São Jerônimo dizia: “Desconhecer as Sagradas Escrituras é ignorar o próprio


Jesus Cristo”. Santa Teresinha do Menino Jesus, falando do Evangelho, escreveu: “Aci-
ma de tudo, o que me sustenta durante a oração é o evangelho. Nele encontro tudo o
que necessita minha pobre alma. Nele continuamente descubro novas luzes e sentidos
ocultos e misteriosos”25.

No entanto, não basta conhecer a Bíblia, é preciso colocá-la em prática de


maneira fiel (Tg 1, 22). A Bíblia precisa tornar-se fonte da nossa força, luz de nossa
caminhada e objetivo de nosso trabalho.

A Bíblia é a Palavra Viva de Deus. Precisamos ter a consciência de que “toda


Escritura é inspirada por Deus” (2Tim 3, 16), “que nenhuma profecia da Escritura é de

66
25 - Manuscritos A 83v
interpretação pessoal” (2Pd 1, 20) e também de que “nelas há algumas passagens di-
fíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam,
para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras” (2Pd 3,
16b). No Concílio Ecumênico Vaticano II lemos que: “... para bem captar o sentido
dos textos sagrados, deve-se atender com não menor diligência ao conteúdo e à unida-
de de toda a Escritura, levada em conta a Tradição viva da Igreja toda e a analogia da
fé”26.

Por isso é muito importante buscarmos participar de círculo bíblico, cursos


de Bíblia, etc, que facilmente podemos encontrar em nossas comunidades, paró-
quias e dioceses.

Mas a Bíblia não foi escrita só para ler lida, mas para também rezarmos com
ela. Uma maneira muito reconhecida pela Igreja para aprofundar, saborear e rezar
a palavra de Deus é a Lectio Divina.

Mas por onde começar a leitura? Que livro ler primeiro? Devo ler o Antigo
ou o Novo Testamento? Bem, há muitos livros católicos com sugestões de leituras,
mas uma opção bem eficaz e tradicional é a Liturgia Diária; ela traz as leituras que
em cada dia a Igreja medita na Liturgia Eucarística.

E eis uma regra de ouro: ler a Bíblia todos os dias. “Feliz aquele que se
compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite” (Sl 1, 2). Ler todos os dias
sem exceção. Ler quando estiver com vontade, quando sentir falta, mas também
quando não estiver com vontade nenhuma. Assim como você alimenta o corpo
todos os dias, deve também alimentar diariamente o seu espírito com a Palavra de
Deus.

d) Eucaristia e Reconciliação

“A Eucaristia e a Penitência são dois sacramentos intimamente unidos. Se a Eu-


caristia torna presente o sacrifício redentor da cruz, perpetuando-o sacramentalmente,
isso significa que deriva dela uma contínua exigência de conversão, de resposta pessoal
à exortação que S. Paulo dirigia aos cristãos de Corinto: ‘Suplicamo-vos em nome de
Cristo: reconciliai-vos com Deus’ (2Corintios 5, 20). Se, para além disso, o cristão tem
na consciência o peso dum pecado grave, então o itinerário da penitência através do
sacramento da Reconciliação torna-se caminho obrigatório para se abeirar e participar

67
26 - CONCÍLIO VATICANO II. Constituição dogmática Dei Verbum § 12)
plenamente do sacrifício eucarístico”27.

Para a vivência concreta de ouvir a voz do Senhor é preciso ter comunhão


com Ele. E a Eucaristia, bem como a Penitência, nos farão cada vez mais próximos
do Senhor e , por conseqüência, de sua voz e vontade.

Imagine-se um instrumento de cordas nas mãos do Senhor. O pecado faz


com que fiquemos desafinados e por isso não soamos os acordes como devería-
mos.

Por meio do sacramento da Confissão, damos a Deus a condição de nos


afinar, pois faz com que nos aproximemos novamente do Senhor. E por meio de
cada Eucaristia o Senhor nos toca e faz soar em nós os acordes mais harmoniosos
e lindos de nossas vidas.

Por isso faça o compromisso de buscar com freqüência os sacramentos da


confissão e da eucaristia. E com toda certeza cada vez mais você poderá cantar
“Minha canção será para exaltar teu santo nome. O meu viver será acorde teu Senhor
meu Deus” (Música “Pra te Louvar” – Adriana. CD “A chave”).

e) Amor e Devoção a Maria

Na História de Salvação, Maria soube assumir concretamente seu papel.


Foi dócil à vontade do Senhor, deixando-se invadir e guiar pelo Espírito Santo. Mas
não viveu sua docilidade como se fosse um fantoche, ao contrário, viveu a docilida-
de por uma firme decisão, para que se realizasse a vontade de Deus em sua vida.

“Com razão afirmam os santos padres que Maria não foi instrumento mera-
mente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com livre fé
e com inteira obediência. Como diz Santo Irineu, pela obediência, ela tornou-se causa
de salvação para si mesma e para todo o gênero humano”28.

Ela é, para nós artistas, um grande exemplo, pois ninguém colaborou como
ela na implantação do Reino de seu Filho e nem alguém esteve tão próxima de
nossa realidade de servo como ela.

É por isso que devemos recorrer a ela com confiança e amor, certos de
que por suas mãos santas, canais livres da providência divina, receberemos os be-

68 27 - JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia § 37.


28 - CONCÍLIO VATICANO II. Constituição dogmática Lumen Gentium § 56.
nefícios que nos forem necessários para ouvirmos a Voz do Senhor e realizarmos
a vontade de Deus.

A maioria dos problemas que temos visto nos Ministérios que trabalham
com arte em relação à autoridade e submissão decorre de uma falta de formação
sobre o verdadeiro sentido da autoridade. Temos medo das autoridades porque
não entendemos ainda a importância delas para nossas vidas.

Mas basta olharmos com sinceridade para toda a história da Salvação e his-
tória da Igreja e veremos que sempre Deus elegeu e elege pessoas para manifestar
sua vontade e conduzir seu povo para a sua vontade, em outras palavras, conduzir
seu povo pelo caminho da salvação.

Exemplos dessa realidade foram: Abraão, Moísés, Davi, Salomão, os profe-


tas, Pedro, Paulo, São Francisco de Assis, os Doutores da Igreja; são hoje exemplos
dessa verdade: o Papa, os Bispos, os Padres, os coordenadores, etc.

A Palavra de Deus nos ensina a importância de sermos obedientes às auto-


ridades a quem Deus confiou nossas vidas: “Sede submissos e obedecei aos que vos
guiam (pois eles velam por vossas almas e delas devem dar conta). Assim, eles o farão
com alegria, e não a gemer, que isto vos seria funesto” (Heb 13, 17).

Querido artista, essa palavra é muito clara. Ser autoridade não é um privi-
légio, como muitos acham. Ela é, antes de qualquer coisa, um chamado de Deus
para servir. Sobre nossas autoridades está a responsabilidade de velar por nossas
almas e delas darem conta.

Se agirmos com docilidade diante de nossas autoridades, elas poderão


exercer seu papel com alegria, com tranqüilidade e, com certeza, muito mais aber-
tas para os desafios que o Senhor deseja nos confiar por meio delas. Mas, se ao
contrário, nos tornamos rebeldes e desobedientes, com toda certeza, faremos
com que as autoridades vivam sua missão com dores, com gemidos, sempre pre-
ocupados se estaremos realizando como deveríamos a nossa missão.

Entretanto, se para nossas autoridades, nossas rebeldias e desobediências,


serão “dores e gemidos”, para nós elas serão funestas, ou seja, causa de morte.

Por isso, zele por suas autoridades, ame-as sem receio e acredite que fa-
zendo isso você estará agradando o coração do Senhor; isso nos confirma São
Paulo: 1Tim 2, 1-4.
69
Mas a você que é autoridade cabe a vivência da autoridade como uma
eleição de Deus para a honra e glória do Seu nome em pleno desenvolvimento de
sua obra. Por isso a busca da intimidade com Deus e a unidade com a Igreja é algo
importantíssimo e fundamental.

Cabe a você que é autoridade, antes de tudo, procurar revestir-se do Espí-


rito Santo, e assim, através de seu cargo, não medir esforços para formar o povo
que Deus lhe confiou na santidade e fidelidade à vontade de Deus.

5.5. Conclusão

Estou convencido, ou melhor, fui convencido pelo Senhor, que viver a obe-
diência é caminho seguro para minha salvação e também para que eu possa ser ca-
nal de salvação para os outros. “A obediência, diz Raniero Cantalamessa29, é a chave
que abre o coração de Deus Pai”.

Ao longo de toda a Bíblia se escuta uma frase, que poderíamos dizer é uma
música, cantada por um coral, em várias vozes que diz: “Eis-me aqui Senhor”.

Ela exprime o mistério da obediência a Deus. Fazem parte desse coro inú-
meros personagens como: Samuel (1Sam 3, 1-9) ; Isaías (Is 6, 8); Maria (Lc 1, 38) e
Jesus (Hb 10, 9). Eles se colocaram a disposição de Deus, atenderam ao chamado
do Pai, foram obedientes a Deus e aos seus líderes e através de tudo isso foram
santos. A obediência leva à Santidade,

Hoje também, você e eu somos convidados a fazermos parte desse coro e


com nossas vidas, com nossas artes, cantarmos sem medo: Eis-me aqui!

Com o salmista cantemos todos antes de qualquer evento; cantemos todos


os dias daqui por diante: “Eis que venho, ó Deus, para fazer a sua vontade” (Sl 39).

Sugestão

Levar os participantes a viver o preceito evangélico da obediência, através


de um momento de oração; podendo ser na assembléia, dois a dois, ou em grupos.
Ficando a critério do formador.

70
29 - CANTALAMESSA, Raniero. A obediência. São Paulo: Loyola, 1999.
ENSINO 6

A VIDA DE ORAÇÃO CARISMÁTICA DO ARTISTA

OBJETIVO: Apresentar aos participantes a necessidade primordial e prioritária da


vida de oração pessoal diária.

“Talvez não nos tenhamos apercebido suficientemente do grande privilégio que


é podermos falar com Deus na oração. É duro imaginar como teria sido a nossa vida se
Deus tivesse optado por agasalhar-se sob o manto da sua majestade, deixando que os
homens se arranjassem como pudessem. Se não houvesse comunicação possível entre
Deus e nós, seríamos como barcos, sem leme nem rádio, à deriva no meio do oceano,
sem direção, nem guia, nem esperança” 30.

A oração é um tesouro de grande valor para nossa vida, por isso mesmo
este capítulo tem por objetivo suscitar nos artistas um desejo maior por uma VIDA
DE ORAÇÃO.

“Todos vós, que estais sedentos, vinde à nascente das águas; vinde comer, vós
que não tendes alimento (...) Buscai o Senhor, já que ele se deixa encontrar; invocai-o,
já que está perto.” (Is 55, 1.6).

“Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao


céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria.”
(Santa Teresinha do Menino Jesus).

6.1. O que é oração?

“A oração é a prece do filho de Deus, do pecador perdoado que consente em


acolher o amor com que é amado e que quer responder-lhe amando mais ainda (...) A
oração é a entrega humilde e pobre à vontade amorosa do Pai, em união cada vez mais
profunda com seu Filho bem-amado.” (CIC § 2712).

“A oração é um dom, uma graça; não pode ser acolhida senão na humildade e
na pobreza. A oração é uma relação de aliança estabelecida por Deus no fundo de nos-
so ser. A oração é comunhão: a Santíssima Trindade, nesta relação, conforma o homem,
71
30 - TRESE, Leo J. A fé explicada. 7.ed. São Paulo: Quadrante, 1999, p. 447.
imagem de Deus, ‘a sua semelhança.’” (CIC § 2713).

O fundamento da oração é a humildade, pois não sabemos pedir como


convém (Rm 8, 26), só com humildade há disposição para receber com gratuidade
o dom da oração. Santo Agostinho afirma que “o homem é um mendigo de Deus”.
Como no caso da Samaritana a beira do poço (Jo 4, 1-42), é Cristo que vem ao nosso
encontro, Ele é o primeiro a nos buscar e é Ele que pede “dá-me de beber”, justamente
porque tem sede de nós. “A oração, quer saibamos ou não, é o encontro entre a sêde
de Deus e a nossa. Deus tem sêde de que nós tenhamos sêde dele” (Santo Agostinho).
O Catecismo da Igreja Católica assim ensina: “Deus é o primeiro a chamar o homem.
Ainda que o homem esqueça seu Criador ou se esconda longe de sua Face, ainda que
corra atrás de seus ídolos ou acuse a divindade de tê-lo abandonado, o Deus vivo e ver-
dadeiro chama incessantemente cada pessoa ao encontro misterioso da oração” (CIC
§ 2567).

O lugar de onde brota a oração é o coração. Ele é o “nosso centro escon-


dido, inatingível pela razão e por outra pessoa; só o Espírito de Deus pode sondá-lo e
conhecê-lo. Ele é o lugar da decisão, no mais profundo de nossas tendências psíquicas.
E o lugar da verdade, onde escolhemos a vida ou a morte. E o lugar do encontro, pois,
à imagem de Deus, vivemos em relação; é o lugar da Aliança” (CIC § 2563).

6.2. Formas de oração

Poderíamos nos perguntar agora: Como manifestar esse Dom de Deus?


Quem nos responderá a essa pergunta é o próprio Deus, na pessoa do Espírito
Santo. Confira: Jo 14, 26 e Jo 16, 12-15. Portanto “O Espírito Santo, que ensina a
Igreja e lhe recorda tudo o que Jesus disse, educa-a também para a vida de oração,
suscitando expressões que se renovam dentro de formas permanentes: bênção, súplica,
intercessão, ação de graças e louvor” (CIC § 2644).

Vejamos cada uma dessas formas:

Bênção e Adoração: “A bênção exprime o movimento de fundo da oração; é o


encontro de Deus e do homem; nela o dom de Deus e a acolhida do homem se chamam
e se unem” (CIC § 2626). Esse movimento, esse encontro, esse dom e acolhida da
bênção pode se exprimir de duas formas fundamentais: “ora ela sobe, levada pelo
Espírito Santo por Cristo ao Pai (nós o bendizemos por nos ter abençoado), ora ela im-
plora a graça do Espírito Santo que, por Cristo, desce de junto do Pai (é Deus que nos
72
abençoa)”31 . Já a adoração é a primeira atitude de todo aquele que se reconhece
criatura diante de seu Criador; é adorando a Deus que declaramos que o respei-
tamos e o amamos sobre todas as coisas. Na adoração exaltamos o Deus que nos
fez e a onipotência do Salvador que nos liberta do mal. Assim a “adoração do Deus
três vezes santo e sumamente amável nos enche de humildade e dá garantia as nossas
súplicas” (CIC § 2628).

Súplica: No Novo Testamento súplica vai ter muitos significados: pedir, im-
plorar, suplicar com insistência, invocar, clamar, gritar e mesmo “lutar na oração”32.
Entretanto, sua forma mais comum, até por ser a mais espontânea, é o pedido.
Podemos dividir a súplica em três tipos de pedidos:

Pedido de perdão: Este é o primeiro movimento da oração de súplica.


É a condição prévia de uma oração justa e pura, pois a humildade confiante nos
leva para a luz da comunhão com Deus e uns com os outros. Confira: 1Jo 1, 7
– 2, 2. Referente a esse pedido o Catecismo da Igreja Católica ensina: “O pedido
de perdão é a condição prévia da liturgia eucarística, como da oração pessoal” (§
2631). Sabemos que as relações humanas muitas vezes não são fáceis. Esse é o
momento de colocarmos as queixas que temos contra nossos irmãos de Ministé-
rios, coordenadores, sacerdotes, enfim, todos aqueles que de alguma maneira nos
machucaram, aos pés da cruz de Cristo, e fazermos o firme propósito de não nos
deixarmos levar por nossos sentimentos ou qualquer tipo de vingança, indiferença,
perseguição ou ressentimentos, afinal rezamos: “perdoai-nos nossas ofensas, assim
como nós perdoamos quem nos tem ofendido...”. Perdoar passou a ser condição para
recebermos o perdão de Deus.

Reino de Deus: “A súplica cristã está centrada no desejo e na procura do Reino


que vem de acordo com o ensinamento de Jesus” (CIC § 2632). Confira: Mt 6, 10.33.
E nesse sentido há uma ordem na maneira de pedir: primeiro se deve pedir pelo
Reino de Deus (interceder para que a cada dia o Reino de Deus se faça presente
em nosso meio) e depois o que é necessário para acolhê-lo e cooperar com sua
vinda (aqui temos um papel fundamental com nossa fidelidade a esta maravilhosa
missão que o Senhor nos confiou como artistas, e essa fidelidade começa pela nos-
sa fidelidade à vida de oração . Nesse mesmo parágrafo o Catecismo da Igreja Ca-
tólica ensina: “Pela oração, todo batizado trabalha para a Vinda do Reino” (§ 2632);

31 - Referência Bíblica: Ef 1, 3-14; 2Cor 1, 3-7; 1Pd 1 3-9; 2Cor 13, 13; Rom 15, 5-6.13 e Ef 6,
23-24 (CIC § 2627) 73
32 - Rom 15, 30; Col 4, 12
Necessidades: Sejam elas espirituais, por exemplo, que nos ajudem a supe-
rar uma tentação, que nos dêem a graça de sermos fiéis na oração; ou corporais,
por exemplo: ajudar-nos a conseguir um emprego, conseguir uma cura, a pagar
uma dívida. O Catecismo da Igreja Católica a esse respeito diz: “Quando participa-
mos, assim, do amor salvador de Deus, compreendemos que toda necessidade pode vir
a ser objeto de pedido. Cristo, que tudo assumiu para resgatar tudo, é glorificado pelos
pedidos que oferecemos ao Pai em seu Nome. E com essa garantia que Tiago e Paulo
nos exortam a orar em todo tempo.” (§ 2633);

Intercessão interceder é pedir em favor de uma outra pessoa. Esta forma


de oração, que não deixa de ser uma oração de pedido, nos conforma perfeita-
mente com a oração de Jesus, que é o único Intercessor junto do Pai em favor de
cada homem, de maneira especial pelos pecadores. Interceder é próprio do cora-
ção que está em sintonia com a misericórdia de Deus. “Na intercessão, aquele que
ora ‘não procura seus próprios interesses, mas pensa, sobretudo nos dos outros’ (Fil 2,
4), e reza mesmo por aqueles que lhe fazem mal” (CIC § 2635). Confira: Heb 7, 25;
Romanos 8, 26-27.34; At 7, 60; Lc 23, 28.34; Rm 12, 14; 1Jo 2, 1 e 1Tim 2, 5-8; Rm
10, 1.

Ação de graças: a ação de graças, como ensina o Catecismo da Igreja


Católica, caracteriza a oração da Igreja. Assim como na oração de súplica, toda ne-
cessidade e todo acontecimento podem se tornar oferenda de ação de graças. “Se
muitas são as necessidades dos homens, mais numerosos são os benefícios divinos dos
que gozam graças. (...) A ingratidão é, muitas vezes, fruto do orgulho, pois quem não
agradece considera o que possui não como dom gratuito de Deus, mas como coisa pró-
pria, devida à sua capacidade. Há também quem agradeça só com os lábios, enquanto
no coração atribui aos próprios méritos as graças recebidas ou o bem realizado”. “Toda
alegria e todo sofrimento, todo acontecimento e toda necessidade podem, ser a maté-
ria da ação de graças que, participando da ação de graças de Cristo, deve dar plenitude
a toda a vida: ‘Por tudo daí graças’” (CIC § 2648). Confira: Fil 4, 6; 1Tes 5, 18; Cl 4,
2; Ef 5, 20.

Louvor: “O louvor é a forma de oração que reconhece o mais imediatamente


possível que Deus é Deus! Canta-o pelo que Ele mesmo é, dá-lhe glória, mais do que
pelo que Ele faz, por aquilo que Ele É (...) O louvor integra as outras formas de oração
e as leva Àquele que é sua fonte e termo final: ‘O único Deus, o Pai, de quem tudo pro-
cede e para quem nós somos feitos’ (Coríntios 8, 6)” (CIC § 2639). Confira: Ef 5, 19;
Cl 3, 16; Ef 1, 3-14; Rm 16, 25-27; Ef 3, 20-21; Jd 24-25.
74
A Eucaristia contém e exprime todas as formas de oração. É ‘a oferenda
pura’ de todo o Corpo de Cristo ‘para a glória de seu Nome’; segundo as tradições
do Oriente e do Ocidente, ela é ‘o sacrifício de louvor’” (CIC § 2643).

6.3. Importância da vida de oração

Leia: Mt 6, 6

O Catecismo da Igreja Católica ensina que “a oração é a vida do coração


novo e ela deve nos animar a cada momento” (§ 2697). Santo Afonso de Ligório afir-
ma que “é certo que quem reza se salva e que quem não reza se condena” São João
Crisóstomo disse: “Nada se compara em valor à oração, ela torna possível o que é im-
possível, fácil o que é difícil. É impossível que caia em pecado o homem que reza”.

Percebe-se então que a oração é VITAL para nossa vida, para nossa voca-
ção, enfim, para nossa Salvação. Certa vez alguém perguntou à Madre Tereza de
Calcutá, como era possível viver o que ela vivia. Ela respondeu sem hesitar: “Meu
segredo é simples: EU ORO”.

O Papa João Paulo II disse certa vez: “Se verdadeiramente desejais seguir a
Cristo, se quereis que vosso amor a Ele cresça e dure, deveis ser assíduos à oração. Ela
é a chave da vitalidade do vosso viver em Cristo. Sem a oração vossa fé e vosso amor
morrerão”

Sendo a oração de importância tão vital, como vivê-la? Sab 1, 1-2. O Pró-
prio Deus dá a resposta: é preciso viver a oração com simplicidade de coração
e confiança. O apóstolo Paulo em várias passagens nos alerta a buscar a oração,
sendo mais claro, no alerta a ter uma VIDA DE ORAÇÃO. Confira: Fil 4, 6; Ef 5, 20
e 1Tes 5, 17.

E VIDA é VIDA. Vida envolve o meu trabalho, minha família, meu Ministé-
rio, minha intimidade, etc. Tudo que me envolve e me cerca: fisicamente e espi-
ritualmente faz parte da minha vida. Em todo momento é possível se colocar em
oração, pois Deus é sempre presente. E essa é uma verdade da qual precisamos
tomar consciência: Deus é sempre presente. É preciso buscar a vivência real dessa
presença, pois saber, todos nós sabemos, mas ter uma experiência concreta dessa
presença, só com uma VIDA DE ORAÇÃO.

Orar é sempre possível. Nosso tempo está nas mãos de Deus, e todo tem-
75
po Ele está juntinho de nós. Por isso São João Crisóstomo vai afirmar: “É possível
até no mercado ou num passeio solitário fazer uma oração freqüente e fervorosa. Sen-
tados em vossa loja, comprando ou vendendo, ou mesmo cozinhando”.

Orígenes vai dizer: “Ora sem cessar aquele que une a oração às obras e as
obras à oração. Somente dessa forma podemos considerar como realizável o princípio
de orar sem cessar”.

“A Tradição da Igreja propõe aos fiéis ritmos de oração destinados a nutrir a


oração contínua. Alguns são cotidianos: a oração da manhã e da tarde, antes e depois
das refeições, a Liturgia das Horas. O domingo, centrado na Eucaristia, é santificado
principalmente pela oração. O ciclo do ano litúrgico e suas grandes festas são os ritmos
fundamentais da vida de oração dos cristãos” (CIC § 2698).

Mas é claro que cada um de nós responde a esse apelo do Senhor, de ter
uma vida de oração, de acordo com a determinação do nosso coração e as ex-
pressões pessoais de sua oração ou vocação. Mas a Tradição Cristã conservou três
expressões principais da vida de oração: a oração vocal, a meditação e a oração
mental. Elas possuem uma característica fundamental que lhes é comum: o reco-
lhimento do coração. Vejamos cada uma:
a) Oração vocal: Somos criaturas compostas de uma alma espiritual e
de um corpo físico. E quando oramos, é o homem completo quem deve orar a
Deus. Por isso mesmo a forma mais elementar de oração é a vocal. Nela a mente,
o coração e as cordas vocais se unem para oferecer a Deus, nas diversas formas
de oração, o que lhe é devido. Ela não precisa ser necessariamente audível, pode-
mos orar em silêncio, usando os “lábios da mente”. Às vezes, os gestos assumem
o lugar das palavras na oração, por exemplo: ajoelhar reverentemente diante de
Jesus no Santíssimo Sacramento, traçar-se o sinal da cruz sem pronunciar palavra
alguma.
Todos esses exemplos são formas corporais de oração e entram na clas-
sificação de oração vocal, mesmo sem a emissão de sons. Entretanto, cabe aqui
esclarecer que ela deverá ser necessariamente audível quando for uma oração em
grupo, afinal Deus não nos fez solitários, destinados a viver separados dos outros,
pelo contrário, nos fez sociais, membros de grupos, dependentes uns dos outros.
O Catecismo da Igreja Católica assim ensina: “Essa necessidade de associar
os sentidos à oração interior responde a uma exigência de nossa natureza humana.
Somos corpo e espírito, e sentimos a necessidade de traduzir exteriormente nossos sen-
timentos. É preciso rezar com todo o nosso Sêr para dar à nossa súplica todo o poder
76
possível” (§ 2702), confira: Sl 102, 1. E ensina mais: “Sendo exterior e tão plenamen-
te humana, a oração vocal é por excelência a oração das multidões. Mas também a
oração mais interior não pode menosprezar a oração vocal. A oração se torna interior
na medida em que tomamos consciência daquele ‘com quem falamos’. Então a oração
vocal é uma primeira forma da oração contemplativa” (CIC § 2704). São João Crisós-
tomo dizia: “Que a nossa oração seja ouvida depende não da quantidade das palavras,
mas do fervor de nossas almas”;
b) Meditação: O que fazemos nessa expressão da oração é meditar, isto
é, pensar, ruminar, falando com Deus sobre uma verdade de fé ou um episódio da
vida do Senhor ou dos seus santos. Por isso usamos a Sagradas Escrituras, o Evan-
gelho especialmente, as imagens sacras, os textos litúrgicos do dia ou do tempo,
obras de espiritualidade, etc.
O Catecismo da Igreja Católica ensina que “meditando no que lê o leitor se
apropria do conteúdo lido confrontando-o consigo mesmo” (§ 2706). E mais: “a me-
ditação mobiliza o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Essa mobilização
é necessária para aprofundar as convicções de fé, suscitar a conversão do coração
e fortificar a vontade de seguir a Cristo” (CIC § 2708). Ela é, acima de tudo, uma
procura para compreender o porquê e o como da vida cristã, para se aderir e dar
uma resposta adequada ao que o Senhor possa nos pedir. Para realizá-la é preciso
esforço. Mas para crescer realmente em santidade é preciso dedicar um tempo
fixo à meditação todos os dias, seja em nossa casa ou diante de Jesus no sacrário;
caso contrário seremos como os três primeiros terrenos da parábola do semeador
(Mc 4, 4-7.15-19). No entanto lembre-se, há diversos métodos de meditação, mas
um método é apenas um guia; o que importa é avançar, com o auxilio do Espírito
Santo, pelo único caminho da oração: Jesus Cristo.
c) Mental: Santa Teresinha assim a define: “A oração mental, a meu ver, é
apenas um relacionamento íntimo de amizade em que conversamos muitas vezes a sós
com esse Deus por quem nos sabemos amados”. O Catecismo da Igreja Católica assim
ensina: “A contemplação é olhar de fé, fito em Jesus. ‘Eu olho para Ele e Ele olha para
mim’ (...). Essa atenção a Ele é renúncia ao ‘eu’. Seu olhar purifica o coração; A luz do
olhar de Jesus ilumina os olhos de nosso coração; ensina-nos a ver tudo na luz de sua
verdade e de sua compaixão por todos os homens. A contemplação considera também
os mistérios da vida de Cristo, proporcionando-nos ‘o conhecimento íntimo do Senhor’,
para mais O amar e seguir. As palavras na oração não são discursos, mas gravetos que
alimentam o fogo do amor. A oração também é silêncio. É neste silêncio, insuportável
ao homem ‘exterior’, que o Pai nos diz seu Verbo encarnado, sofredor, morto e ressus-
citado e que o Espírito filial nos faz participar na oração de Jesus” (§ 2715-2717). 77
6.4. Como vivê-la?

O Catecismo da Igreja Católica diz que: “não fazemos oração quando temos
tempo: reservamos um tempo para sermos do Senhor, com a firme determinação de,
durante o caminho, não o tomarmos de volta enquanto caminhamos, quaisquer que
sejam as provações e a aridez do encontro” (CIC § 2710) e mais “a escolha do tempo
e da duração da oração depende da vontade determinada, revelador dos segredos do
coração” (CIC § 2710).

Dessa maneira, para viver bem a Oração Pessoal, precisamos encará-la


como a um encontro, o encontro com uma pessoa amada, o encontro de nossa
alma-esposa com o esposo-amado. Para um encontro é preciso:

a) Local do encontro: “Os lugares mais favoráveis à oração são o oratório


pessoal ou familiar, os mosteiros, os santuários de peregrinações e, sobretudo, a igreja,
que é lugar próprio da oração litúrgica para a comunidade paroquial e o lugar privi-
legiado da adoração eucarística” (CIC § 2696). Dessa maneira, escolha um lugar
favorável para sua Oração Pessoal; você pode até criar na sua casa um “recanto de
oração”, com as Sagradas Escrituras e imagens sagradas, para aí estar “no segredo”
diante do Pai, ou busque uma igreja/capela, mas lembre-se: se você é uma pessoa
que se distrai muito fácil, melhor escolher um lugar o quanto mais reservado pos-
sível; afinal é o seu encontro com Deus e o seu momento em que você reservou
para ser exclusivamente para Deus, para amar e ser amado. Faça isso a exemplo
do próprio Senhor: Lc 5, 16 / Mt 14, 23 / Mc 1, 35;

b) Horário: Além de ter um local favorável, é importantíssimo ter uma


hora marcada e um tempo determinado. E claro, ser fiel a esse horário. Lembre-
se: “Não fazemos oração quando temos tempo, reservamos um tempo para sermos
do Senhor…” (CIC § 2710). A falta de tempo é uma objeção que freqüentemente
fazemos à oração, no entanto esquecemos que tempo é questão de prioridade.
Aconteça o que acontecer, arrumamos tempo para alimentação, para dormir e
outras atividades básicas. Mesmo as pessoas mais ocupadas são as que melhor sa-
bem aproveitar o tempo. Na medida em que compreendermos a importância da
oração para vida cristã, para vivência da vocação, o tempo vai surgir. É importante
observar que se perde muito tempo com coisas desnecessárias e até nocivas, en-
quanto o tempo que se dá a Deus nunca é perdido.

Como ensina a Sagrada Escritur, há um tempo para cada coisa (Ecle 3, 1-8),
portanto em nossa vida há um tempo para a oração, basta buscá-lo para encon-
78
trá-lo. Se você realmente acha que não tem tempo, faça a seguinte experiência:
coloque em um papel todos os seus horários da semana, como se fosse uma pres-
tação de contas de tudo que você faz no dia e na semana. Após uma semana de
anotação, marque com uma caneta marca-texto as coisas indispensáveis, grife de
vermelho as importantes, grife de azul aquelas que você faz porque te trazem pra-
zer (ver TV, falar ao telefone, navegar na internet, etc) e depois verifique quais des-
sas coisas você poderia sacrificar ou renunciar para ter uma vida diária de oração.
Não esqueça de ver também o tempo que você leva para fazer as suas atividades,
você pode estar sem tempo para rezar porque seu banho pode estar sendo longo
demais, ou porque tem dormido ou comido demais....

c) O que eu preciso levar para a oração? Um coração aberto e dis-


ponível, pronto para amar e ser amado. Desejo de estar diante de Deus,
não tanto pelo que Ele pode fazer, mas sim pelo o que Ele é: DEUS. Enfim,
vá livre para oração, sem esperar receber ou sentir algo. Apenas vá com a
certeza no coração de estar indo ao encontro do Amado.

Leve com você uma Bíblia ou livro de Salmos, de um santo, eles ajudam
muito a rezar. Leve também um caderno, que você pode até chamar de Caderno
para Oração Pessoal, Anotações da Oração Pessoal, enfim. Nele você irá anotar
as palavras de Deus, os Rhemas da oração, os frutos que colheu, as promessas de
Deus, as ordens, os pedidos, enfim, tudo quanto ocorrer em sua oração.

6.5. Dificuldades na vida de oração

A oração é uma atividade que exige esforço e cansa. Ela nos põe em combate.
A oração supõe um esforço e uma luta contra nós mesmos e contra as armadi-
lhas do Tentador, sendo inseparável do combate espiritual. Várias tentações se
lançam contra os momentos de oração: a distração, a aridez, a experiência dos
nossos fracassos, as concepções errôneas, a falta de fé, a acídia (semelhante ao de-
sânimo), as diversas correntes da mentalidade. Em outras palavras a vida de oração
vai gerar a necessidade de um combate: o combate da oração. O segredo está na fé,
na conversão e na vigilância do coração. Devemos rezar sempre que possível, por
ser uma necessidade vital.

Sobre isso, assim fala o Catecismo da Igreja Católica: “A oração é um dom da


graça e uma resposta decidida de nossa parte. Supõe sempre um esforço. Os grandes
orantes da Antiga Aliança antes de Cristo, como também a Mãe de Deus e os santos
com Ele, nos ensinam: a oração é um combate. Contra quem? Contra nós mesmos 79
e contra os embustes do Tentador, que tudo faz para desviar o homem da oração,
da união com seu Deus. Reza-se como se vive, porque se vive como se reza. Se não
quisermos habitualmente agir segundo o Espírito de Cristo, também não poderemos
habitualmente rezar em seu Nome. O ‘combate espiritual’ da vida nova do cristão é
inseparável do combate da oração.” (§ 2725).

A primeira dificuldade, que é comum de nossa oração, é a distração, As


distrações são pensamentos e imaginações estranhas que nos desviam da oração;
ela pode referir-se tanto às palavras e ao sentido na oração, bem como referir-se
mais profundamente, como ensina o Catecismo da Igreja Católica, àquele a quem
oramos, seja na oração vocal (litúrgica ou pessoal), seja na meditação ou na oração
mental. O que fazer? O Catecismo da Igreja Católica responde assim “Perseguir ob-
sessivamente as distrações seria cair em suas armadilhas, já que é suficiente o voltar
ao nosso coração: uma distração nos revela aquilo a que estamos amarrados e essa to-
mada de consciência humilde diante do Senhor deve despertar nosso amor preferencial
por Ele” (§ 2729).

Assim, temos que empregar os meios necessários para podermos entre-


gar-nos à oração com recolhimento: no lugar mais adequado, de acordo com as
circunstâncias pessoais – sempre que seja possível, diante do Senhor no Sacrário –,
e na hora que tivermos determinado no nosso plano de vida. Se lutarmos decidida-
mente contra as distrações, o Senhor ajudar-nos-á a retornar ao diálogo com Ele.
O importante é não querermos estar distraídos e não nos distrairmos voluntaria-
mente. As distrações involuntárias, que se devem à fraqueza de nossa natureza, e
que procuramos afastar assim que tomamos consciência delas, não tiram o provei-
to nem o mérito da nossa oração. Deus conhece a nossa fraqueza e tem paciência,
mas nós devemos pedir-lhe: ‘Concedei-nos o espírito da oração’.

Além da distração, a outra dificuldade, para aqueles que querem sincera-


mente orar, é a aridez. Aridez faz parte, como ensina o Catecismo da Igreja Católi-
ca, da oração em que o coração é privado de tudo, sem gosto pelos pensamentos,
lembranças e sentimentos, mesmos os espirituais. Na aridez espiritual a pessoa
não sente devoção na oração, mas tédio. Esse estado pode ser causado por falta
de boa preparação da oração, falta de vigilância sobre os sentidos e distrações vo-
luntárias, indiferença, preguiça. Pode provir também de indisposição física, cansaço
do espírito ou por especial permissão de Deus, como provação. Nem sempre a
consolação espiritual significa progresso interior ou virtude mais alta, e
nem sempre a aridez significa infidelidade ou culpa. Ambos os Estados são
80
como paisagens que envolvem o caminho do cristão. Só a maneira como a
pessoa se comporta é decisiva.

Na aridez espiritual devemos remover as causas, se isso estiver a nosso


alcance. Não devemos nos afligir nem desanimar de modo desordenado. Também
não se pode deixar de fazer a oração nem mesmo encurtá-la. Muitas vezes uma
oração feita em grande aridez espiritual é mais agradável a Deus e mais proveitosa
para nós do que uma oração com devoção sensível. Na oração, é necessário que
aprendamos a procurar a Deus apenas por Ele próprio. Sob este ponto de vista,
as dificuldades da aridez encontradas são úteis, pois nos dão a certeza de que re-
corremos à oração não pelas idéias e os sentimentos que nela encontramos, mas
exclusivamente por Deus.

Assim, a oração por mais desolada que seja, desenvolve em nós essa rela-
ção profunda a Deus que nos impele a rezar para estar com ele, entregando-nos
mais ao seu amor. O que se procura, então, não é o sentimento do amor, mas a
verdadeira caridade que impele a se entregar realmente a Deus. Quando recor-
remos à oração, só temos que trazer uma coisa: o desejo e a vontade de estar
aí, diante do Pai, perseverando por seu amor. É então que precisamos invocar o
Espírito Santo, para comunicar ao coração humano o amor com que se amam as
três Pessoas da Santíssima Trindade. Realize-se assim uma obra de discernimento.
Nas relações com Deus e com os outros, acabamos conseguindo distinguir o amor
verdadeiro da pura emotividade, a que se reduz muitas vezes a oração e a caridade
fraterna.

6.6. De que maneira é eficaz nossa oração?

Podemos saber que nossa oração será tanto quanto eficaz, a medida do
tanto quanto nos convertemos. Além disso, nos ensina o Catecismo da Igreja Cató-
lica que “A oração de Jesus faz da oração cristã uma súplica eficaz. É Ele o seu modelo.
Jesus reza em nós e conosco (...) Jesus também reza por nós, em nosso lugar e em
nosso favor. Todos os nossos pedidos foram recolhidos uma vez por todas em seu Grito
na Cruz e ouvidos pelo Pai em sua Ressurreição e por isso ele não deixa de interceder
por nós junto do Pai. Se nossa oração está resolutamente unida à de Jesus, na confian-
ça e na audácia filial, obteremos tudo o que pedimos em seu nome, bem mais do que
pequenos favores: o próprio Espírito Santo, que compreende todos os dons.” (§ 2740-
2741).

Jesus mesmo nos diz para orar e pedir em Seu nome ao Pai. Assim, Ele 81
garantiu a eficácia de nossa oração (Jo 14, 13-14; 15, 16; 16, 23). Dessa maneira é
fácil concluir que nossa oração será poderosa se for feita em nome de Jesus, nosso
Redentor e irmão e ao mesmo tempo, Filho Eterno do Pai. E saiba, conhecer o
nome de Jesus e pedir ao Pai neste nome é, antes de tudo, expressão de nossa
confiança n’Ele. É reconhecer humildemente que nada podemos fazer por nós
mesmos em vista de nossa salvação, é reconhecer que dependemos inteiramente
d’Ele e que, por isso, somente nos encontramos verdadeiramente a nós mesmos
quando nos confiamos a Ele. Jesus é o Filho de Deus. Por vontade do Pai Ele veio
ao mundo para nos resgatar do pecado e nos fazer, pela graça, filhos de Deus. Para
isso morreu por nós derramando todo o Seu Sangue. E é nesse Sangue Precioso
que nós somos lavados e renascemos para a vida de filhos adotivos de Deus. Por-
tanto, orar em nome de Jesus é absoluta garantia de que teremos nossa oração
atendida, é por isso que em todas as orações a Igreja termina com “Por Nosso Se-
nhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”.

6.7. Recapitulando

Orar é sempre possível: como já vimos anteriormente, o nosso tempo


está nas mãos de Deus, além disso, como cristãos, o nosso tempo deve ser como
o de Cristo ressuscitado que em todo tempo está conosco (Mt 28, 20), mesmo nas
tempestades da vida (Lc 8, 24).

“É possível até no mercado ou num passeio solitário fazer uma oração freqüen-
te e fervorosa. Sentados em vossa loja, comprando ou vendendo, ou mesmo cozinhan-
do” (São João Crisóstomo).

Orar é uma necessidade vital: “a prova contrária não é menos convin-


cente: se não nos deixarmos levar pelo Espírito, cairemos de novo na escravidão
do pecado (Gl 5, 16-25). Como o Espírito Santo pode ser ‘nossa Vida’ se nosso
coração está longe dele?” (CIC § 2744).

“Nada se compara em valor à oração; ela torna possível o que é impossível, fácil
o que é difícil. É impossível que caia em pecado o homem que reza” (São João Crisósto-
mo). “Quem reza certamente se salva; quem não reza certamente se condena” (Santo
Afonso de Ligório).

Oração e vida cristãs são inseparáveis: “pois se trata do mesmo amor e


da mesma renúncia que procede do amor. A mesma conformidade filial e amorosa no
82
Espírito Santo que nos conforma sempre mais a Cristo Jesus; o mesmo amor por todos
os homens, aquele amor que Jesus amou” (CIC § 2745).

“Ora sem cessar àquele que une a oração às obras e as obras à ora-
ção. Somente dessa forma podemos considerar como realizável o principio de
orar sem cessar” (Orígenes).

6.8. Conclusão

“Para mim a oração é um impulso do coração, um simples olhar para o Céu, um


grito de gratidão e amor no meio da provação como no meio da alegria” (Sta. Teresinha
do Menino Jesus – CIC § 2558)

Termino com essa frase de Santa Teresinha, deixemos que o impulso do


nosso coração, guiado pelo Espírito Santo, nos leve ao encontro de nosso amado.
E a partir desse encontro vejamos o nosso coração e nosso Ministério sendo trans-
formados e renovados. Contemplemos com gratidão ao Senhor que nos chama e
ama o nosso coração que vai se moldar no Coração de Jesus. Decida-se por ser
fiel. Decida-se por ser um ministro cheio do poder e da força do Espírito Santo.
Decida-se por rezar.

Sugestão

Levar todos os participantes a uma reflexão pessoal e individual, de como


está sua vida de oração pessoal, não somente por serem servos e/ou ministeriados,
mas por sentirem a necessidade de enquanto Filhos adotivos de Deus, salvos por
Jesus Cristo, desejar ter uma conversa pessoal diária com o Senhor, conduzidos
pelo Espírito Santo.

Pode-se fazer depois momentos de partilha dois a dois, onde um coloque


para o outro as dificuldades na oração pessoal e de se encontrar um momento
diário de oração. A dupla deverá em seguida orar um pelo outro neste sentido.

Pode-se também fazer um bom momento de batismo no Espírito Santo


clamando a Ele que venha orar por nós e em nós (cf. Rm 8,26-27)

83
APÊNDICE

Lista de livros de formação do Ministério de Música e Artes :

1. A arte do teatro na evangelização.


Luciano Mattos
Col. Novos Caminhos do Espírito, vol. 3. Editora Santuário.

2. Arte e poder na casa de Deus


João Valter Ferreira Filho
Coleção Novos Caminhos do Espírito, vol. 2. Editora Santuário.

3. Davi,o mestre dos Músicos
Renato Menghi
Coleção RCC Novo Milênio, vol. 4. Editora Santuário.

4. Formação Espiritual para evangelizadores na música
Roberto A. Tannus, Neusa A. de O. Tannus
Coleção Paulo Apóstolo, vol. 6. Editora Santuário.

5. Ministrando a Música
Luiz Carvalho
. Editora Canção Nova.

6. O músico e arte de servir a Deus
Eduardo Pacheco Issa, Rosanildo F. de Queiroz
Editora Canção Nova;

7. Perguntas e respostas sobre o Ministério de música
João Valter Ferreira Filho
Coleção RCC Responde, vol. 1. Editora RCC.

8. orque Dançar?
Graziele A. Cruz Nishioka, Luciana Gomes Silva.
Coleção RCC Novo Milênio vol. 13. Editora Santuário

9. Porque devemos cantar a missa?
Judson da Silva Rodrigues
Coleção RCC Novo Milênio, vol. 22. Editora Santuário.
84

10. Revolucione seu ministério de Música em 14 semanas
Douglas A. Rocha Pinheiro e outros.
Coleção RCC Novo Milênio, vol. 20. Editora Santuário.

11. Teatro Sagrado
Anselmo Frugério
Coleção RCC Novo Milênio, vol. 12. Editora Santuário.

Estes são alguns livros que indicamos. Se você quiser material de técnica
Vocal I,II e III, Saúde Vocal I e II, Liturgia e Cantos Litúrgicos, e CDs de Palestras
para artistas entre no site da Comunidade Recado- www.recado.org.br

85
BIBLIOGRAFIA

AQUINO, Felipe. Os pecados e as virtudes capitais. Lorena: Cléofas, 1998.

__________. Bem Aventurados os Mansos. Disponível em: <http://www.cleofas.


com.br/virtual/texto.php?doc=ESPIRITUALIDADE&id=esp0135>

CANTALAMESSA, Raniero. A obediência. São Paulo: Loyola, 1999.

CARVALHO, Luiz. Ministrando a música. 5.ed. Cachoeira Paulista: Canção Nova,


2004

CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2003.

CONCÍLIO VATICANO II. Constituição dogmática Dei Verbum.

__________. Constituição dogmática Lumen Gentium.

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL – CNBB. Missão e minis-


térios dos cristãos leigos e leigas

__________. Documento de Aparecida: texto conclusivo da V Conferência Geral do


Episcopado Latino-Americano e do Caribe.

COMPÊNDIO do Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2005.

GRÜN, Anselm; DUFNER, Meirad. Espiritualidade a partir de si mesmo. Petrópolis:


Vozes, 2004

JOÃO PAULO II. Carta do Papa João Paulo II aos artistas

__________. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia.

LACERDA, Milton Paulo de. A virtude da humildade. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi.

PINHEIRO, Douglas A. R.; ISSA, E.; FERREIRA FILHO, João Valter; TANNUS,
Neusa A. O.; QUEIROZ, R. Revolucione seu ministério de música (em 14 semanas).
3.ed. RCC – Novo Milênio; 20. Aparecida: Santuário, 2005.

RCC de Osasco. Ministros de louvor em grupo de oração. Apostila de formação.

TRESE, Leo J. A fé explicada. 7.ed. São Paulo: Quadrante, 1999

SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS. Manuscritos A 83v.

VALVERDE, Martin. As tentações do músico. Campinas: Raboni, 2005.


86
comercial@rccbrasil.org.br

www.rccbrasil.org.br

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