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Apple
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Nota do Autor & Agradecimentos x
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Prólogo: Falando Sobre a iGeneration 2
1 A História Secreta dos Computadores 9
2 Hackers: Hipsters com Cabeça de Anjo 28
3 A Grande e Divertida Apple do Ácido do Refresco Elétrico 58
15 Appletopia 363
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FALANDO SOBRE A
iGENERATION
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“Eu creio que os hackers... formam o mais
interessante e produtivo grupo de in-
telectuais desde os autores da Consti-
tuição dos Estados Unidos. Nenhum outro
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grupo que eu conheço traçou um plano com
a intenção de dominar a tecnologia e ob-
teve sucesso. Eles não apenas o fizeram
contra o desinteresse da América corpo-
rativa, como forçaram a mesma América a
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se adaptar ao seu estilo... Agora a alta
tecnologia é desenvolvida pelos próprios
consumidores de massa, ao invés de ser
desenvolvida para eles... as mais discre-
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Stewart Brand,
Whole Earth Review (1985)
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de 1999 e que, por acaso, tivesse olhado para cima de relance ao passar pela
parte leste da Rua 14 de Manhattan, poderia muito bem ter sido surpreen-
dido. Entre as Avenidas A e B, um gigantesco outdoor de 22,85m 2 com o
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mais reconhecíveis dos últimos cem anos: Albert Einstein, Martin Luther King
Jr., John Lennon, Muhammad Ali, Pablo Picasso e outros. Foram selecionadas
por Jobs e pela agência de propaganda responsável pelos produtos da Apple,
a TBWA/Chiat/Day, pela vasta e indelével contribuição de cada um, nos mais
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diversos aspectos, ao longo do século XX. Também porque, de alguma manei-
ra, eram intencionalmente controversos. Como o comercial “Pense Diferente”
apontou, foram figuras reverenciadas e insultadas durante suas vidas. Como
um membro dos Beatles, John Lennon fez parte do grupo que mexeu com a
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música pop em suas raízes. “Ninguém jamais será mais revolucionário, mais
criativo ou mais original!”, escreveu Robert Greenfield, ex-editor da revista
Rolling Stone. Entretanto, Lennon também defendeu apaixonadamente seu
desejo de um mundo livre da violência advinda de ideologias, ao ponto de sua
música “Imagine”, de 1971, ser apresentada nos Estados Unidos com a frase
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“and no religion too” (“e também sem religião”) trocada por “and one religion
too” (“e uma religião também”). Nesse meio-tempo, Muhammad Ali conquis-
tou admiração e respeito como campeão mundial dos pesos pesados e lenda
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do boxe, mas também teve seu título anulado e sua licença suspensa em 1967,
depois de recusar a convocação do serviço militar para lutar na Guerra do
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Por isso esse outdoor em particular parecia tão audacioso. Aqueles que
dirigiam para passar pela parte leste da Rua 14, quando o viam, paravam
seus carros e saíam para observá-lo. Tendo isso ocorrido dois anos antes da
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visão retrô, no mesmo ano em que era lançado um filme sobre a indústria
do entretenimento adulto na Califórnia dos anos 70, Boogie Nights — Prazer
sem Limites (apenas Boogie Nights no original), estrelado por Mark Wahlberg
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e um sucesso de bilheteria. Não importa qual reação provocava, é inegável
que a imagem escolhida era extremamente controversa. Conforme as pessoas
olhavam para cima e viam as imagens dos rostos expressivos e as observavam
de soslaio, questionavam-se sobre o mesmo tema: Charles Manson, conheci-
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do assassino em série, era realmente a melhor escolha para ser o porta-voz da
nova Apple Computer?
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Ao que parece, Manson — diferentemente do que ele próprio possa ter pensa-
do — não era de fato o mais recente representante da mais alternativa compa-
nhia de computadores. A imagem era uma criação de Ron English, um artista,
grafiteiro das ruas e agente cultural que chamou para si a iniciativa de “rou-
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bar” os outdoors para transmitir suas próprias mensagens subversivas. Ele se
referia a isso como “subvertising”. Um dos outdoors de English que apareceu
em Nova York, em 1990, apresentou um similar do ícone americano Tio Sam
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com a legenda: “Censura é bom, porque nono nononono nonono”. Outra obra
foi inspirada em um anúncio dos cigarros Camel, com a representação de um
camelo perguntando a outro: “Já viciou mais algum garoto hoje?”.
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English não escolheu seus alvos de maneira aleatória. Tudo estava rela-
cionado ou a questões sobre as quais ele tinha firmes opiniões ou a empresas
que, em sua concepção, ofenderam-no gravemente. A implicância de English
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de promoção da empresa. Se ainda estivesse vivo, será que Gandhi, por exem-
plo — o defensor do desapego aos bens materiais, que via a ganância da civili-
zação moderna por riqueza e prazeres terrenos como sua maior decadência —,
teria sido o primeiro da fila para atuar como garoto-propaganda de um novo
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Tarssa Yazdani, e seus dois filhos, Zephyr e Mars. Para essa missão estava
acompanhado pelo diretor Don Goede, de uma editora do Lower East Side;
Janet O’Faolain, integrante de um grupo de dança contemporânea; e pelo
dono de uma gravadora independente, chamado Jake Szufnarowski. O grupo
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pegou um trem da estação de metrô City Hall até a Union Square e caminhou
o restante do trajeto em direção à parte leste da Rua 14. Enquanto Faolain
se afastava para preparar a câmera que usaria na filmagem da ação, English,
Goede e Szufnarowski subiram seis lances de escadas para alcançar o topo de
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um prédio ao lado. Ali eles misturaram um balde de cola de amido de milho
e, então, utilizando-se de brochas de cerdas duras presas a longos cabos de
madeira, aplicaram a base pastosa sobre a superfície do outdoor. Isto foi feito
cuidadosamente. Eles, então, desenrolaram a versão de English para a campa-
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nha “Pense Diferente”, com as dimensões de 6,71m x 3,35m e a posicionaram.
Todo o procedimento não durou mais do que vinte minutos. Anos de “apro-
priação” de outdoors ensinaram a English que a melhor maneira de não ser
pego por esse tipo de atividade era justamente realizá-la aos olhos de todos.
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‘Ei! A Apple tem excelentes produtos. Por que você tem de persegui-los?’,
recorda-se.
Para ser levado a sério ele não recuou. De qualquer maneira, seu próxi-
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mo passo para agitar a cultura pop seria ainda mais ofensivo para a fideli-
dade à Apple.
Foi um anúncio “Pense diferente” ilustrado pelo CEO da Microsoft, Bill Gates.
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Quando Steve Jobs faleceu, em 5 de outubro de 2011, aos 56 anos, inúmeras pu-
blicações e outros meios de comunicação fizeram referências a suas raízes, mos-
trando-o como uma criança de pensamentos diferentes nos anos 60. Ele cresceu
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em Cupertino, na costa oeste americana, há pouca distância de São Francisco,
onde uma grande revolução cultural estava acontecendo, mas, ao menos apa-
rentemente, parecia não haver qualquer relação com o privilégio de computado-
res pessoais e tocadores de música portáteis. O que o conectava a isso, entretan-
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to, era a vasta ambição. Essa era uma geração que insistia na revolução: sexual,
política, ecológica, tecnológica... “É memorável o que se originou de Haight-
-Ashbury”, declarou Bono Vox, vocalista da banda U2, à revista Rolling Stone no
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mês em que o CEO da Apple faleceu. “As crianças dos anos 60 estão mudando
o mundo drasticamente. Steve Jobs está muito além. Ele é, sob muitos aspectos,
o Bob Dylan das máquinas, o Elvis da dialética hardware-software. É um ser de
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tecnologia” tornaram-se os guardiões da luz da contracultura. “As pessoas que
construíram o Vale do Silício eram engenheiros”, disse Jobs à Wired em 1996,
pouco tempo depois de seu retorno à Apple. “Eles aprenderam sobre negócios,
aprenderam uma série de coisas, mas possuíam uma crença real de que seres
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humanos — se trabalhassem com afinco com outras pessoas inteligentes e
criativas — poderiam solucionar grande parte dos problemas da humanidade.
Eu acredito muito nisso.”
A própria sensibilidade de Jobs foi forjada em um momento crítico da his-
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tória americana, um período em que, por breves momentos, os portões da
burocracia pareciam desabar e os infiéis inundavam o castelo. Ele era o CEO
com uma diferença: dizia que ingerir LSD fora uma das duas ou três coisas
mais importantes que ele já havia feito na vida e que, por isso mesmo, esses
eram aspectos da vida de Jobs que a moderna América corporativa jamais
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poderia entender. “Os psicodélicos e os computadores se sobrepuseram, e Jobs
era certamente um caso claro de alguém que mergulhou cedo no mundo dos
computadores e, da mesma maneira, mergulhou cedo e com frequência no
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mundo do LSD”, conforme declarado por Stewart Brand, criador do ícone se-
minal da contracultura Whole Earth Catalog. “Ele se referiu à perspectiva do
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Steve Jobs e Steve Wozniak fossem dois malucos cabeludos e de pés descalços”,
disse uma vez Timothy Leary, ex-professor de Harvard, defensor do LSD e
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* Quando o termo ‘libertário’ for utilizado nesse contexto, por favor, leia-se ‘neoliberal’, sem qualquer
ligação com um conceito de comunismo libertário ou anarco-comunismo. O mesmo se refere a qualquer
momento em que eu mesmo utilizar essa palavra.
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década e meia, a Apple se viu atravessando reveses em sua sorte, o que ficará
registrado como uma das mais fantásticas reviravoltas na história corporativa.
Em 1996, a empresa estava com a corda no pescoço; uma perda de US$ 740 mi-
lhões apenas no primeiro trimestre do ano. Quando perguntaram o que faria
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se fosse o CEO da Apple, Michael Dell comentou: “Eu a fecharia e devolveria
o dinheiro entre os acionistas”. Hoje essa ideia parece absolutamente absurda.
As ações da Apple decolaram quase 6.000% desde 2003.* Nesse meio-tempo,
a empresa mudou a cara do mundo: do jeito de comprar à maneira de ouvir
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música (o iTunes possui algo em torno de 70% de participação em downloads
legais de músicas); o modo como realizamos chamadas telefônicas; e a ma-
neira pela qual navegamos pela internet e, por consequência, como obtemos
informações diariamente. Em abril de 2011, a Apple registrou lucros muito
acima dos apresentados pela eterna rival Microsoft. Algumas semanas depois,
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foi informado que a Apple detém agora uma parcela de mercado maior do
que as da Microsoft e Intel juntas, aliança conhecida como Wintel, a mesma
que quase derrubou a Apple dez anos antes. Em alguns momentos, teve mais
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livro estava sendo escrito, era a segunda empresa com maior valor de merca-
do, perdendo apenas para a Exxon, que brevemente assumiu o posto para,
momentaneamente, dominar o mundo como um grande conquistador da ma-
neira que Steve Jobs sempre acreditou que poderia acontecer.
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* É um pouco inquietante pensar que, se alguém tivesse comprado ações da Apple em 1984 pelo mesmo
valor que poderia ter sido usado para comprar um Macintosh, hoje essa pessoa seria dona de um patrimônio
em torno de US$ 250 mil nos valores atuais.
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A HISTÓRIA SECRETA DOS
COMPUTADORES
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“A conspiração... ganhou força quando os
‘desenvolvedores cowboys’ da contracul-
tura, combinando suas percepções e ati-
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tudes libertárias, de beats, hippies,
usuários de alucinógenos, roqueiros,
hackers, cyberpunks e visionários ele-
trônicos partiram para o Vale do Silício
e realçaram o maravilhoso roubo de men-
tes, desenvolvendo o grande equalizador:
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o computador pessoal.”
No início dos anos 70, antes do Macintosh, do iPhone e do iPad serem menos
que um sonho para Steve Jobs, uma nova e maravilhosa invenção mexeu com
as estruturas do mundo tecnológico em suas bases. Seu aparecimento mudaria
o curso da história da alta tecnologia e traria para as massas algo que antes
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espaço de tempo, essa era a coisa mais impressionante que os geeks do Vale
do Silício já haviam visto. Para esses fanáticos — que, na época, formavam no
Vale do Silício a maior população per capita em relação a qualquer outro lugar
no mundo —, o encanto da calculadora de mão estendia-se para muito além
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ção correta das teclas INT, STO, GTO e TAN para acessar programas simples.
Esses poderiam ser desde jogos comuns, como “jogo da velha”, até, no caso de
haver alguns ambiciosos cientistas da NASA, um completo modelo do sistema
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solar, capaz de dar informações antecipadas sobre o posicionamento planetá-
rio. Obviamente, como ferramentas de programação, as calculadoras também
tinham suas falhas. O número de “entradas” que poderiam ser inseridas era
extremamente pequeno, devido à restrição por conta do minúsculo tamanho
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do banco de dados. Ainda pior era que, se o dispositivo fosse desligado ou a
bateria terminasse, o programa que havia sido inserido sumiria para sempre
— ou até que alguém meticulosamente reprogramasse o dispositivo. Nas pala-
vras de um fanático pelas calculadoras, essa repetição quase cruel e incomum
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remetia à ideia de “punição medieval”. Acima de tudo, no entanto, os pontos
positivos iam muito além dos negativos — e, até que algo significativamente
melhor aparecesse, essa era a sensação entre os geeks do Vale do Silício.
A corrida atrás desse novo produto criou um mercado inteiramente novo
e os fabricantes imediatamente se movimentaram para suprir essa demanda.
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Somando-se às tradicionais Hewlett-Packard e Texas Instruments, pequenos
fabricantes começaram a participar dos acontecimentos. Dois homens em
Albuquerque, no Novo México, chamados Ed Roberts e Forrest Mims III,
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ladoras que saíam de sua linha de produção, com 110 empregados trabalhando
a todo vapor para atender a demanda. Com o tempo, os preços competitivos
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parcela de um todo, ambos descobriram, para seu espanto, que havia um gru-
po inteiro de geeks que apreciava construir coisas e, quanto mais complexas,
complicadas e irritantes, melhor. Em menos de um mês, o saldo bancário da
MITS saiu do vermelho para a cifra de US$ 250 mil.
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O Altair era tanto um produto técnico como de consumo bastante básico.
Em primeiro lugar, não possuía um display, a não ser uma série de luzes que
piscavam intermitentemente. Também não havia software. Nem mesmo vi-
nha acompanhado de um teclado. Ainda não possuía — até o aparecimento e a
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união de dois universitários que usavam óculos e que haviam largado seus cur-
sos, conhecidos como Bill Gates e Paul Allen — uma linguagem compreensível
por mais pessoas além de um grupo seleto. Isso representava uma “tábua rasa”,
sobre a qual poderia ser projetado o que quer que fosse que o usuário tivesse a
intenção de programar. Era ainda um computador real e genuíno que, para uma
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geração de nerds abandonados no frio tecnológico, era o suficiente. Esse primei-
ro grupo de geeks se reuniu em torno do Altair com um interesse que chegava a
beirar loucura. Alguns começaram publicações especializadas (fanzines) para fãs
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com nomes peculiares, como Dr. Dobb’s Journal of Computer Calisthenics and
Orthodontia, através das quais poderiam dividir suas previsões freneticamente
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de Howard Hughes conta que o administrador de um servidor divulgou um
aviso exigindo que ninguém fosse admitido na sala dos computadores salvo
se estivesse trajando uma roupa especial e com os sapatos cobertos. O admi-
nistrador admitiu que tais precauções não eram essenciais, “mas, com certeza,
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manteve as pessoas fora da sala dos computadores”.
O Altair da MITS, nesse meio-tempo, realizou um feito muito mais im-
pressionante do que auxiliar na organização, dando àqueles famintos por
tecnologia algo mais do que uma sexta-feira vazia: ele manteve o espírito da
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contracultura presente, batendo como o tique-taque de um relógio, da mesma
maneira que uma corrente elétrica pode manter um coração batendo por mui-
to tempo depois de ele, em um processo natural, ter parado. Aqueles que vive-
ram o suficiente para se lembrar das emoções inebriantes causadas pelo Altair
8800 tornaram-se intrépidos pioneiros da revolução do computador pessoal,
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assim como os hipsters e os poetas beatniks se tornaram os fundadores do
movimento hippie dos anos 60.
Apesar de a ideia ter ganhado aceitação ao longo dos anos, a tentação ainda
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tal qual ratos de laboratório, com eletrodos conectados aos seus traseiros, dentro
de um labirinto altamente mecanizado de escalonamento de classe, formação,
carreiras, néons de supermercados, complexa indústria militar, subúrbios, se-
xualidade reprimida, hipocrisia, úlceras e psicanalistas”. O homem, por muitos
considerado o idealizador do termo “contracultura”, é um acadêmico ameri-
cano chamado Theodore Roszak. Em seu livro de 1969, A Contracultura: Re-
flexões Sobre a Sociedade Tecnocrática e a Oposição Juvenil (The Making of a
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porte gigantesco, trabalhou pelo aumento da eficiência e elaboração de soluções
automatizadas para qualquer miríade de problemas que fossem apresentados e
impostos. Sugeriu que era capacidade do computador trabalhar sob uma pers-
pectiva lógica, calculista e isenta de emoções — permanentemente conectado
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com a racionalidade — e assim o tornou tão impressionante aos olhos da elite do
poder dos EUA, a ponto de gabarem-se de seu poderio de extermínio por meio
de armas nucleares, dizendo que poderiam destruir quaisquer de seus inimigos
mais de dez vezes. “A paixão do homem pela máquina é frequentemente con-
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fundida com um mero caso com o poder”, escreve Roszak. “... não é a capacidade
da máquina de trabalhar em uma rotina incansável que nós admiramos quase
tanto quanto sua absoluta força?”
Muitos dos geeks mais velhos da Baía de São Francisco (leia: qualquer um
acima dos 30 anos) estavam cursando a Universidade da Califórnia, em Berkeley,
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em 1964, quando estudantes protestaram marchando pela liberdade de expres-
são. Recusando-se a serem conduzidos pela burocracia universitária como sim-
ples bits desumanizados, eles se aproveitaram da metáfora computacional para
A
* Nos anos seguintes, essa crítica ao homem moderno como robô, ou do cérebro humano como um
hardware, ganhou um grau de massa crítica. Em O Renascer da América: A Revolução dos Jovens (The
Greening of America), o autor Charles A. Reich se referiu a isso como Consciência II: em que trabalhadores
levam a vida de “um robô, o homem é privado de sua própria essência, e se torna uma mera função, um pa-
pel social ou uma ocupação”. Ao contrário de seus pais, entretanto, a jovem geração da contracultura (vista
da perspectiva de uma Consciência III) se sente ressentida pela traição de seu governo e vai revidar com a
recém-descoberta “habilidade para o ultraje”.
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monta há pelo menos tanto tempo quanto a visão dos poetas românticos de
Dark Satanic Mills (Moinhos Satânicos). Os estudantes de Berkeley não esta-
vam errados. Computadores naqueles tempos eram essencialmente ferramentas
de guerra: desenvolvidos inicialmente para quebrar códigos militares secretos e
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para auxiliar mísseis teleguiados. A IBM, por exemplo, somente construiu seu
primeiro computador digital programável quando foi solicitada pelo Departa-
mento de Defesa dos Estados Unidos durante a Guerra da Coreia. Reposicionar
os Sombrios Servidores Satânicos da complexa indústria militar como benevo-
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lentes ajudantes humanitários levaria tempo, e a reformulação do público iria
desestruturar até mesmo as mais assertivas agências de relações públicas. Isso
começou gradualmente. No MIT (Massachusetts Institute of Technology), em
Massachusetts, um grupo de acadêmicos simpatizantes formulou uma inten-
sa lista de princípios meritocráticos que mais tarde seriam citados como “ética
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hacker” pelo autor Steven Levy em seu livro Os Heróis da Revolução (Hackers:
Heroes of the Computer Revolution). A ética hacker inclui as seguintes diretrizes:
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