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AS CAUSAS DO CONFLITO

Era Pré-Colonial
Até 1875 o continente africano era politicamente constituído por estados soberanos,
com a excepção de alguns estados no norte, os quais estavam avassalados ao Império
Otomano, designadamente o Egipto, a Líbia, a Tunísia, a Argélia, a Mauritânea e o
Marrocos. Os restantes estados mantinham relações de igualdade com todos os outros
estados do mundo – eram soberanos, portanto.

As economias africanas baseavam-se principalmente na agricultura, pecuária, caça,


cerâmica, extracção de ouro e produção de ferro. O comércio internacional chegava
até à China.

Contudo, as relações comerciais dos estados africanos ao sul do deserto do Sahara


com os estados europeus, a partir do século 17, passaram a ser dedicadas quase
exclusivamente à venda de escravos para as colónias europeias no continente
americano.

O comércio de escravos durou cerca de trezentos anos, até 1875, início da era colonial.
Do comércio de escravos resultaram enormes traumas e revoltas, porque eram os
próprios chefes africanos, imbuídos do espírito da tirania, que ordenavam as caçadas
de captura de escravos em vastas quantidades para serem vendidos aos europeus.

De acordo com os historiadores, a degradação do africano neste período foi tanta que
passou-se a desenvolver o racismo, algo que nunca existiu antes.

Contrariando esta tendência, os povos africanos desenvolveram um movimento de


resistência contra a tirania e a escravatura e de preservação das tradições africanas.
Este movimento é conhecido na História por Resistência Africana.

Era Colonial
Nas duas últimas décadas do século 19, até à primeira década do século 20, os estados
africanos foram perdendo a sua soberania perante as forças militares das potências
europeias e transformados em colónias. Com efeito, a partir de 1875, a Inglaterra,
França, Bélgica, Espanha, Alemanha e Itália invadiam e colonizavam a África.

Portugal começou a sua aventura colonial em 1895, tendo invadido, subjugado


militarmente e criado a colónia de Moçambique, à semelhança do que fizera em
Angola e Guiné-Bissau.

Em África somente a Etiópia e a Libéria não chegaram a ser colonizadas. Os efeitos


políticos, económicos e sociais foram profundos.
As potências europeias estabeleceram arbitrariamente fronteiras nas colónias e os
habitantes nativos foram submetidos a leis marcadamente degradantes, racistas e
desumanas.
As economias das colónias foram organizadas para produzirem riqueza apenas para as
metrópoles europeias e seus colonos, enquanto as populações colonizadas mal
podiam produzir para o seu próprio sustento. Açúcar, algodão, tabaco, sisal, chá, café
e cacau, de pouco valor no mercado tradicional africano, passaram a ser cultivados em
grande escala e exportados para a Europa, com grande lucro para as metrópoles. As
populações africanas eram simplesmente mão-de-obra barata para os colonos.

Além de não terem acesso aos órgãos do poder do Estado os africanos eram
igualmente impedidos de aceder aos serviços básicos de educação e saúde.

Da exclusão social e económica praticada contra os africanos resultaram várias


revoltas em todo o continente, pelo que os europeus viram-se obrigados a integrarem
cada vez mais africanos nos sistemas económico, social e político das colónias e
mesmo, em alguns casos raros, das metrópoles, o que pode ser visto como o trabalho
da Resistência Africana.

Em 1914 e em 1939 as potências colonizadoras, com excepção de Portugal,


envolveram-se em duas grandes guerras mundiais, durante as quais prometeram aos
povos colonizados a independência caso ajudassem as respectivas metrópoles nos
combates. Contudo, até ao fim da segunda guerra, em 1945, nenhuma potência
cumpriu a promessa. Mas os africanos já sentiam que a hora da libertação dos povos
colonizados chegava.

Um fenómeno importante, decorrente da Resistência Africana e da frustração pelo


incumprimento da promessa de independência, que ocorre em África, América e
Europa, é a emergência da filosofia do “Negro é belo”, um dos criadores da qual é
Leopoldo Senghor, do Senegal.

Esta filosofia teve um impacto enorme na política mundial, porque sinaliza o caminho
inevitável para a reconquista da dignidade humana do africano, a erradicação do
racismo e, consequentemente, a promoção do nacionalismo africano.

Infelizmente o dinamismo da História não permitiu que esta filosofia amadurecesse


por completo. O futuro cidadão africano não se despia totalmente do papel de
complexo de inferioridade que a História lhe atribuíra.

A razão da interrupção do processo de interiorização da filosofia “Negro é belo” foi o


surgimento da filosofia marxista, que foi introduzida em África nos anos 60 do século
20 por Ahmad Sekou Touré, presidente da Guiné Conacri. Estava-se no início das
guerras de libertação em África.
A nova filosofia e correspondentes políticas também combatiam o racismo, e
propunham a igualdade dos homens, mas de modo mais agressivo e de resultado
imediato, o que agradava às elites africanas desejosas de tomar o poder nas colónias.
Também a filosofia marxista fracassou em África. O racismo, primeiro em relação aos
africanos, mas depois progredindo para as relações entre outros povos, vai prevalecer
por muito tempo no mundo.

Nacionalismo, Guerra Fria, Tribalismo


A partir de meados do século 20 os países colonizadores europeus enfrentavam, não
apenas a resistência dos africanos, mas também os povos colonizados na América e
Ásia, os quais passaram a exigir abertamente a independência das colónias, o que é
visto pelos historiadores como um movimento nacionalista e anticolonial.

O movimento anticolonial, a partir da segunda guerra mundial, em todo o mundo, foi


ganhando cada vez mais força, principalmente com a independência da Índia em 1947.
Tal como nos outros continentes, também em algumas colónias africanas deflagraram
lutas armadas de libertação e, de entre elas, Moçambique. A Resistência Africana era
a promotora desta rebelião.

Mas o movimento anticolonial e nacionalista em Moçambique desenvolveu-se já no


contexto da Guerra Fria, entre 1945 e 1980, uma guerra ideológica entre as potências
capitalistas e socialistas, as quais lutavam pelo domínio do mundo.

Tanto os capitalistas, liderados pelos Estados Unidos da América, como os socialistas,


liderados pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, usavam os movimentos de
libertação para difundir as suas ideologias. De acordo com os historiadores, esta
guerra ideológica contribuiu para o acentuar das rivalidades e conflitos entre raças,
tribos, etnias, religiões, diferenças regionais.

Em Moçambique o racismo e o tribalismo tiveram grande influência no desenrolar da


sua história.

Luta de Libertação, Economia Colonial, Independência


Na colónia de Moçambique os africanos foram também criando movimentos políticos
que reivindicavam a independência. O governo português, que era fascista,
arrogantemente negou a independência e passou a perseguir os nacionalistas.

A economia colonial caracterizava-se por exploração agrícola em grande escala


baseada em salários muito baixos, com alguma indústria dispersa mas sem coerência
com quaisquer objectivos de desenvolvimento local.

As estradas e linhas férreas tinham como principal objectivo ligar os países do


hinterland aos portos ao longo da costa para servir os interesses estrangeiros. Não se
desenvolveu uma linha férrea e uma estrada a ligar o sul e o norte da colónia.
O povo africano vivia na miséria, enquanto uma minoria de europeus vivia no luxo. A
integração dos africanos no sistema social europeu era quase proibido, enquanto na
África do Sul era mesmo proibido.
Imbuídos do espírito da Resistência Africana, os nacionalistas fundaram a Frente de
Libertação de Moçambique e desencadearam, a partir de 1964, a luta armada de
libertação nacional, que durou dez anos.

Mas neste processo a Frente foi contagiada por lutas tribais e ideológicas, que se
manifestou na forma de luta intestina entre as tribos do sul e do norte, e entre os que
defendiam o capitalismo e os que lutavam pelo socialismo.

Os militantes das tribos do sul, apoiados pelo bloco socialista, foram mais fortes e
tomaram a direcção da Frente, assassinando os opositores mais importantes.
Moçambique conquista a sua independência em 1975, contendo as sementes do ódio
racial e tribal.

Economia socialista
Ao contrário do que esperavam os povos colonizados ao conquistarem as suas
independências, raramente os novos dirigentes, provenientes dos movimentos de
libertação, governavam com agendas de desenvolvimento verdadeiro para as
populações. Dum modo geral, estas sociedades, recém-libertas do jugo colonial,
sofriam de pobreza absoluta, o que era agravado pelo analfabetismo e pela falta de
recursos humanos qualificados para operarem os insuficientes serviços de educação e
saúde.

Os libertadores nacionais, uma vez no poder, limitavam-se a imitar os colonos.


Apoderavam-se das riquezas dos seus países e oprimiam os respectivos povos,
passando a perseguir os opositores para se manterem no poder.

Em Moçambique a situação não foi diferente. As cidades abrigavam os colonos nas


melhores zonas e em boas condições de habitação, enquanto na periferia viviam, em
miséria atroz e em casas de palha mal construídas, as populações africanas
marginalizadas.

Com a tomada do poder pela Frente de Libertação de Moçambique, presidida por


Samora Moisés Machel, o povo adquiriu a nacionalidade moçambicana, mas em troca
passou a sofrer a repressão brutal dum regime totalitário que não reconhecia os
direitos humanos e nada fez para o desenvolvimento económico e social da recém-
nascida nação.

Samora Moisés Machel e o seu grupo transformaram a Frente de Libertação de


Moçambique num partido de orientação marxista-leninista, tendo-o designado de
Frelimo, e alinhou-se aos interesses dos países socialistas, alegadamente para
prosseguir com o esforço de libertação dos restantes territórios africanos – Zimbabwe,
Namíbia, África do Sul.
O povo moçambicano viu os efeitos das políticas socialistas traduzidas em
permanentes reuniões políticas para falar mal dos capitalistas, na nacionalização
irracional de casas e empresas e consequente escangalhamento dos meios de
produção nacional, na expulsão dos colonos e de todos os que o regime considerava
serem opositores e a quem designava de reaccionários, em execuções sumárias sem
julgamento, em desterro de milhares de pessoas para os chamados campos de
reeducação onde a maioria viria a morrer, enfim, no desencadear dum regime de
terror como nem nunca no tempo colonial se sentira.

O pior erro da política social da Frelimo foi a da nacionalização do ensino. A nova lei
proibia o ensino privado. Somente o Estado tinha autoridade para ensinar. E o que se
propunha ensinar era o socialismo científico, a formação do homem novo forjado na
luta de classes, na aliança operário camponesa, na ideologia marxista-leninista.

Quaisquer outras formas de escola, incluindo as escolas de artes e ofícios nas zonas
rurais, foram banidas. Estas escolas, em geral, pertenciam a organizações religiosas, o
que feria a política de educação da Frelimo.

As populações rurais e das periferias das cidades deixaram de ter acesso ao ensino de
técnicas básicas como carpintaria, cerâmica, curtumes, produção de adubos,
construção e manutenção de poços, alpendres, oficinas, diques, represas, taludes,
enfim, todos os objectos pequenos e grandes que se podem construir ou fazer com os
materiais locais. O analfabetismo embrutecia a população moçambicana.

Luta pela Democracia Multipartidária


O povo moçambicano rejeitou de imediato este sacrifício inútil. Não era preciso um
regime tão brutal para ajudar os povos vizinhos a conquistarem a sua independência,
pelo contrário. O que os povos aspiram é a possibilidade de produzirem para os
mercados em seu benefício próprio e em benefício dos que precisam de solidariedade,
mas sem sofrerem a tirania dos seus governantes.

A Frelimo, partido único de Samora Machel, destruía a economia e a sociedade do país


com políticas erradas de governação, baseadas no socialismo, uma aberração para o
povo moçambicano, que se via escravizado uma vez mais.

Em 1977 um grupo de nacionalistas, imbuídos do espírito da Resistência Africana,


criou a Resistência Nacional Moçambicana, Renamo. Era preciso libertar o país da
tirania, da escravatura e comunismo da Frelimo.

O grupo nacionalista, liderado por André Matade Matsangaíssa, que era coadjuvado
por Afonso Macacho Marceta Dhlakama, verificando que não havia possibilidade de
diálogo com o regime da Frelimo, deu início à luta armada para a instauração em
Moçambique duma economia de mercado, numa sociedade de democracia
multipartidária, Estado de direito e justiça social.
A Frelimo respondeu com uma guerra cruel contra as populações, queimando
centenas de milhares de casas em todo o país, alegando que era para as intimidar a
não apoiarem a Renamo. O resultado foi o êxodo das populações para os países
vizinhos à procura de abrigo, criando uma grande crise de refugiados.

A guerra durou dezasseis anos. A economia do país ficou praticamente paralisada. A


Frelimo foi derrotada e teve que assinar um acordo de paz com a Resistência Nacional
Moçambicana. Venceu de novo o espírito da Resistência Africana.

Nesta luta pela democracia tombaram muitos heróis, entre eles, o fundador, o
primeiro comandante e Presidente da Renamo, André Matade Matsangaíssa. Deu
prosseguimento à luta Afonso Macacho Marceta Dhlakama, como comandante e
Presidente da Renamo.

Acordo Geral de Paz de 1992, Joaquim Chissano, Eleições de 1994, 1998, 1999
A 4 de Outubro de 1992, a Renamo e o governo da Frelimo, agora sob a direcção de
Joaquim Alberto Chissano, assinaram em Roma o Acordo Geral de Paz. Por este acordo
a guerra, que durou dezasseis anos, terminava e o país abraçava, enfim, a democracia
multipartidária sob a garantia duma Constituição.

Em 1994 realizaram-se as primeiras eleições para um parlamento multipartidário.


Concorrem vários partidos, entre eles a Renamo, que se convertera de movimento em
partido político, a Frelimo e outros partidos.

A vitória da Renamo era antecipadamente festejada pelo povo. Mas para grande
espanto de todos, a Frelimo e o seu candidato Joaquim Chissano apresentam-se como
vencedores. Tinham recorrido à fraude para obter a vitória.

Os protestos dos restantes partidos e do povo de nada valeram. A comunidade


internacional, através dos seus observadores, entendeu que os resultados das
eleições, embora revelando falhas graves, podiam ser aceites. A Frelimo ganhava...

Perante esta situação, a Renamo ou pegava em armas de novo para repor a justiça
eleitoral ou submetia-se à injustiça para preservar a paz e dar esperança à democracia.
Esta última posição, defendida pelo Presidente Dhlakama, prevaleceu. A Renamo
optou pela luta dentro do parlamento.

Em 1998 realizaram-se as primeiras eleições autárquicas. A Renamo, tendo verificado


que a lei eleitoral favorecia a Frelimo e que esta se preparava para outro golpe
eleitoral, preferiu abster-se.

A Frelimo, sem a concorrência da Renamo, ganhou em todos os municípios do país.


Mesmo assim, foi notória a impopularidade da Frelimo, a qual, para se manter no
poder, recorreu ao aliciamento.
A corrupção nos órgãos do Estado crescia. A Frelimo criou uma polícia antimotim para
intimidar a oposição, cada vez mais impaciente.

Em 1999 realizaram-se novas eleições gerais. A Renamo foi claramente a vencedora


mas, mais uma vez, a Frelimo, já viciada na fraude, anuncia a sua vitória. Os protestos
dos partidos concorrentes eram infindáveis porque estava claro que a Frelimo não
tinha o apoio de ninguém. Chegava ao poder pelo roubo dos votos, apoiando-se no
aliciamento de todos os que detinham posições chave na administração pública.

Os populares foram para as ruas. A Frelimo estava preparada. Usou da polícia


antimotim, algo que a população de Moçambique ainda não conhecia.

A Renamo avisou que estava a chegar ao seu limite de tolerância. A democracia estava
em perigo. Mas as frágeis instituições democráticas do país já estavam infiltradas por
militantes da Frelimo, tornando-as instrumentos dóceis aos seus desígnios.

Economia de mercado, oligarquias, rearmamento


Com o fim da guerra pela democracia a vida económica e social do país começou a
normalizar. Estava-se no início da construção duma economia de mercado. Era preciso
reabilitar, ampliar e modernizar as redes de comunicações viárias terrestres, aquáticas,
aéreas e virtuais para que os mercados funcionassem integralmente, isto é, para que
em todos os territórios houvesse espaço para produção e para a respectiva
comercialização através de canais de comunicação eficientes.

Por economia de mercado entende-se a liberdade de acesso a qualquer tipo de


mercado com todo o tipo de produto, desde que se cumpram as leis comerciais.

Infelizmente, cedo se verificou que a Frelimo impõe restrições aos operadores que não
exibam o cartão de membro do partido e, por outro lado, canaliza às ocultas todos os
recursos que dispõe para esses membros dominarem os mercados.

A Frelimo escondia ciosamente os acessos aos investimentos em recursos naturais.


Moçambique é rico em florestas, hidrocarbonetos e areias pesadas. Somente uma
elite da Frelimo tinha contactos com o mundo das multinacionais e altas finanças para
a sua exploração. É evidente que estas riquezas não vão beneficiar nem o Estado nem
o povo.

Criam-se monopólios e oligarquias da Frelimo, o que impede o desenvolvimento da


economia. As redes de comunicação são negligenciadas. Fracassa o projecto duma
economia de mercado.

A pobreza do povo continua e até vai piorando. Em 2004 o Banco Mundial anuncia que
95% da população rural moçambicana sofre de subnutrição.
A Bancada Parlamentar da Renamo denuncia que o país está a ser desflorestado de
maneira criminosa, aumentando a pobreza da população, pondo em causa a qualidade
de vida e o desenvolvimento sustentável.

A Frelimo intensifica o assalto às instituições do Estado, sobretudo aos vários ramos da


segurança do Estado, às instituições democráticas e aos órgãos da comunicação social.
Passa a investir no armamento da polícia antimotim e vai desvinculando do exército os
quadros provenientes da Renamo. O exército beneficia de rearmamento.

O que inquieta os observadores mais atentos é que a Frelimo não cumpre com o
estipulado no Acordo Geral de Paz – não atribui estatuto policial aos elementos da
Renamo encarregues da segurança dos seus dirigentes. Ao infringir o Acordo de Paz, a
Frelimo ameaça a paz, isto é, prepara-se para uma guerra contra a Renamo.

Renamo-União Eleitoral, eleições 2003


Em 2003 realizaram-se as segundas eleições autárquicas. Desta vez a Renamo arriscou
participar, mercê de modificações na lei eleitoral que limitavam as chances de fraude.
Criou uma união eleitoral com vários partidos, na esperança de partilhar com eles mais
experiências democráticas.

A Frelimo, usando massivamente os meios do Estado e a inevitável fraude, conseguiu


ganhar em quase todas as autarquias. Alguns municípios, contudo, ficaram com a
Renamo-União Eleitoral, mas graças a um esforço enorme dos citadinos para
neutralizarem as manobras fraudulentas da Frelimo.

A Cidade da Beira foi palco duma dura luta para impedir a concretização dos inúmeros
ilícitos eleitorais com que os agentes da Frelimo tentavam manipular os resultados.
Por fim, a Frelimo rendeu-se. A Renamo-União Eleitoral ganhava na Beira. Ganhou
também em Marromeu, Ilha de Moçambique, Angoche e Nacala. Em vários municípios
alguns membros da Renamo conquistaram assentos nas respectivas autarquias, mas
em grande desvantagem em relação à Frelimo.

A tomada de posse da oposição nas autarquias foi acolhida com muito entusiasmo
pelas populações locais, as quais juraram que nunca mais a Frelimo lá voltaria.

Logo se notaram mudanças substanciais na governação municipal. O lixo das ruas foi
rapidamente removido e os salários em atraso pago aos trabalhadores. Muitos
agentes da Frelimo tentavam sabotar os esforços de melhoria das condições de vida
dos munícipes.

Na Beira, a caldeira de alcatrão para o tapamento de buracos das ruas, que o Conselho
Municipal encontrou abandonada num terreno baldio e conseguiu recuperar, acabou
por ser sabotada com açúcar no tanque de combustível do motor. Era a única caldeira
que a cidade tinha.
Só o ódio pode motivar uma sabotagem que afecte a vida duma cidade inteira. Pois os
agentes da Frelimo nas cidades governadas pela Renamo realizaram inúmeras acções
para as prejudicarem.

As tampas de ferro das sarjetas eram roubadas e vendidas nas sucatas, apesar dos
apelos das autoridades municipais para que os sucateiros não comprassem aqueles
materiais. Embarcações encalhadas nas praias para impedir a erosão costeira sofriam a
mesma sorte. Tudo era feito para fazer mal ao povo governado pela oposição, pela
Renamo.

Guebuza, eleições 2004


A conquista das cinco autarquias pela oposição liderada pela Renamo assustou a
Frelimo. Armando Emílio Guebuza substitui Joaquim Chissano na direcção do partido e
torna-se o candidato nas eleições de 2004.

A fraude necessária para chegar ao poder é a maior e jamais vista. O uso dos meios do
Estado e os abusos do poder são feitos despudoradamente. Impera a corrupção e a
impunidade.

Desta vez a Frelimo aperfeiçoa e aplica uma técnica de crime eleitoral que já tinha
ensaiado antes. Durante a campanha eleitoral os delegados de bairro da Renamo são
presos, acusados de fomentarem a violência entre os concorrentes. Depois estes
delegados são rapidamente transferidos para outros distritos, para dificultar a
assistência. Só no fim do processo eleitoral são soltos. Alguns, contudo, ficam
esquecidos nas celas.

Desta forma a Frelimo conseguia inviabilizar os canais de comunicação entre as bases


e a direcção da Renamo durante o processo eleitoral. Engenhoso!

A comunidade internacional continua a apostar na Frelimo, pronunciando-se


favoravelmente em relação aos resultados das eleições, embora reconhecendo ter
havido irregularidades que não deverão repetir nos próximos pleitos...

Em causa estão os interesses das multinacionais, a quem a Frelimo alicia a explorarem


recursos naturais quase sem impostos ao Estado.

Uma vez no poder Armando Guebuza intensifica o processo de marginalização da


Renamo. A intolerância política manifesta-se abertamente. Os membros do Governo
Sombra criado pela Renamo são ameaçados por agentes da Frelimo. O Partido desiste
desta estratégia de acompanhamento das acções do governo do dia por falta de
condições de segurança para os seus membros. As consequências são nefastas. Sem
governo sombra a Renamo fica sem o instrumento principal para desenvolver futuras
políticas de governação.

Daviz Simango, eleições 2008


O candidato que a Renamo propôs para a autarquia da Beira nas eleições de 2003,
Daviz Mbepo Simango, é o segundo filho de Uria Simango, o vice-presidente da Frente
de Libertação de Moçambique, o qual foi barbaramente assassinado, juntamente com
a sua esposa, a mando de Samora Machel, depois da Independência.

Daviz Simango era um jovem engenheiro de construção civil residente na Beira. O


Partido decidiu apostar neste jovem de modo a aglutinar outras forças numa
plataforma política contra a Frelimo. Daviz Simango participou na preparação da
campanha eleitoral e foi logo aceite pelos quadros do Partido na Beira. Era diligente e,
sobretudo, trabalhador árduo.

Quando tomou posse como presidente da autarquia Daviz Simango encontrou uma
cidade cheia de lixo e esgotos nas ruas, trabalhadores municipais com salários
atrasados, dívidas e cheques do Conselho Municipal sem cobertura na praça, estradas
em péssimo estado de conservação, principalmente as que servem a chamada zona
industrial onde estão concentradas a maior parte das empresas.

É de se notar que o edil anterior, Chivavice Muchangage, também tinha herdado a


cidade em péssimo estado, saída do período de guerra de dezasseis anos.

Já estavam em curso a reabilitação das estradas principais que ligavam a cidade ao


exterior e havia também um projecto importante de reabilitação da rede de esgotos.
Mas estes projectos eram financiados pela União Europeia e pelo Banco Mundial, que
não estavam satisfeitos com o desempenho do município devido a problemas de
corrupção.

Daviz Simango, sob a orientação do Presidente Afonso Dhlakama, lançou rapidamente


as mãos à obra, dando prioridade ao domínio do sistema de finanças no Conselho
Municipal. A estratégia resultou. Havia muitos buracos financeiros por onde escapava
o dinheiro. Muitos dirigentes da Frelimo recebiam salários do Município sem terem
qualquer vínculo de trabalho com a edilidade.

No primeiro mês de governação da Renamo os trabalhadores municipais receberam,


pela primeira vez, os seus salários por inteiro, em todos os sectores e ao mesmo
tempo. As dívidas mal paradas com cheques sem cobertura reclamadas pelas
empresas na cidade foram rapidamente pagas e a confiança do empresariado na
edilidade renasceu.

O lixo nas ruas foi removido e a cidade começou a respirar outro ar. O que mais se
poderia pedir à primeira governação da Renamo?

Daviz Simango de seguida abordou a União Europeia sobre o projecto dos esgotos e foi
bem acolhido. Poucos meses depois assinavam um contrato de cinquenta e dois
milhões de euros para a reabilitação da rede de esgotos. A Frelimo espumava de raiva.
Infelizmente, esta história não tem um final feliz. Daviz Simango, que todo o mundo
livre glorificava, incrivelmente, mostrou ser um grande corrupto. Afinal vendia
terrenos e fazia fortunas nisso.

O gestor Daviz Simango comportava-se como tecnocrata, em que ninguém mais sabia
nada sobre governação, apenas ele. Os membros da Renamo foram logo
marginalizados, especialmente os membros da Assembleia Municipal, que ele
manifestamente desprezava.

Daviz Simango mostrou ser avesso às leis. Segundo ele, cumprir com as leis é perder
tempo. Ele conhece melhores caminhos para chegar mais rapidamente ao resultado
desejado. O Partido nunca era consultado em nenhuma matéria. Escolheu o seu
elenco fora do Partido. E as pessoas por ele escolhidas eram quase todos membros...
da sua família.

O governo de Daviz Simango ainda hoje é conhecido como o governo da família –


ndaus do distrito de Machanga.

Um governo assim nunca poderia ser da Renamo. Nepotismo, corrupção, o desprezo


pela democracia e pela lei, são precisamente os males que a Renamo rejeita e
combate.

A abordagem seguida por Daviz Simango sobre estradas e mercados foi


estrategicamente errada. Não deu a prioridade às vias de acesso na área industrial, o
que levou à paralisação de maior parte das empresas da cidade até aos dias de hoje.

O edil não se preocupou em fazer cumprir com a lei comercial, que proíbe a
convivência no mesmo espaço ao comércio a grosso e a retalho. O resultado é a
desorganização dos mercados e a proliferação de vendedores de rua e de passeio na
cidade.

As taxas municipais sobem assustadoramente, exactamente o contrário do que são as


políticas de partidos de centro-direita, que é a Renamo. Daviz Simango recusa escutar
o Presidente Dhlakama e justifica-se: a Frelimo faz o mesmo...

Daviz Simango lança uma campanha de promoção da sua própria imagem como
presidente da Renamo. Os membros do Partido dividem-se.

Em 2008 o Partido decide que Daviz Simango não pode concorrer para o segundo
mandato da Beira. Como agente do Partido ele falhou na implementação das políticas
de governação centro-direita. Com efeito, a sua governação identifica-se com o
centro-esquerda, que é a Frelimo, embora a supere em capacidade de realização.

Alegando que os invejosos e os fofoqueiros queriam entregar a cidade à Frelimo, Daviz


Simango responde candidatando-se a presidente do Conselho Municipal da Beira com
o apoio do Grupo de Reflexão e Mudanças, um grupo de cidadãos que tinha
concorrido nas eleições de 1994 e conseguira quase metade dos assentos na
Assembleia Municipal.

Com esta candidatura Daviz Simango viola a lei e deveria perder o mandato que corria.
A Renamo apresenta a devida denúncia mas a Frelimo rejeita. Favorece-a a discórdia
na Renamo.

A imprensa vira-se contra o Presidente Dhlakama, acusando-o de ter inveja de Daviz


Simango. A opinião pública, bombardeada com propaganda anti-Dhlakama, apoia
Daviz Simango. Começa a migração dos membros da Renamo para o seu lado.

As delegações da Renamo na Beira são saqueadas e muito património desaparece,


como bicicletas, telemóveis, pastas com documentos. Os quadros do Partido que
restam têm de lutar para terem espaço de trabalho político.

Daviz Simango recebe imenso apoio em todo o país e mesmo fora. Ganha as eleições
para a autarquia da Beira de 2008 confortavelmente. A Renamo obtém quase metade
dos assentos da Assembleia Municipal mas a Frelimo fica com a maioria, embora
escassa. Tempos amargos esperam a Renamo.

Eleições 2009; Presidente Afonso Dhlkama muda-se para Nampula; Ataques


Armando Guebuza candidata-se para as eleições de 2009. A Frelimo emprega
massivamente meios do Estado para as eleições.

A lei eleitoral favorece claramente o partido no poder, os órgãos eleitorais são


povoados com militantes da Frelimo. A Renamo e o Presidente Dhlakama são
vilipendiados.

Daviz Simango cria o seu partido, MDM, e candidata-se a Presidente da República.

A Renamo apresenta-se às eleições como o partido no coração do povo, mas os seus


votos são desviados. Urnas inteiras, previamente votadas, substituem as originais.
Frelimo “ganha” com larga maioria. O número de assentos da Renamo no parlamento
é drasticamente reduzido para um quinto.

Armando Guebuza e a sua Frelimo governam o país desastradamente. A pobreza do


povo piora. Fica claro que a preocupação da Frelimo é voltar ao monopartidarismo.

A economia, que se pretendia que fosse de mercado, caracteriza-se cada vez mais
como economia de planificação centralizada, socialista como nos velhos tempos. Só
tem acesso ao mercado quem é militante da Frelimo.

Os dirigentes e profissionais da educação, saúde, segurança, defesa, desporto, cultura,


são cuidadosamente escolhidos entre as hostes da Frelimo. Empresariado que não seja
da Frelimo é hostilizado e, se for do centro e do norte, punido com multas fatais para
os seus negócios.

Quadros da função pública são afastados dos seus cargos quando identificados como
militantes ou simpatizantes da oposição.

A agricultura é um fracasso, os mercados nacionais limitam-se a importar os alimentos.


As florestas do país são devastadas, transformadas em madeira exportada
clandestinamente para a China.

A exploração do carvão em Moatize é escoada para o porto da Beira pela via-férrea de


Sena, que está em más condições, e por estrada, criando sérios problemas de
transitabilidade.

Milhares de camiões ficam parados ao longo das estradas do país. Este problema
favorece a prostituição das jovens ao longo das estradas. O índice de HIV-Sida sobe
assustadoramente.

A Frelimo contrai dívidas externas às ocultas do parlamento e do público, na ordem de


milhares de milhões de dólares, para comprar armamento. Preparam a guerra contra a
Renamo.

A comunicação social é dominada por agentes da Frelimo que tudo fazem para
denegrir a imagem da Renamo e do seu presidente, o qual passa a ser apresentado
como um palhaço. O vexame é intolerável.

O Partido apercebe-se que o Presidente Afonso Dhlakama corre perigo e aconselha-o a


sair de Maputo. O Presidente instala-se em Nampula, onde existem melhores
condições de segurança.

Mesmo em Nampula o Presidente Afonso Dhlakama sofre perseguições. A Delegação


Política da Renamo na cidade é atacada por um grupo das Forças de Intervenção
Rápida. Alguns militares caem em combate, entre eles o comandante do grupo
atacante. A população aplaude. É tempo da Renamo mostrar quem é sério.

A Renamo pede ao governo da Frelimo para a realização de conversações sobre a


situação do país. Apresenta os seguintes pontos a serem considerados:
 Alteração do pacote eleitoral para que sejam integrados membros dos
partidos da oposição nos órgãos eleitorais numa proporção de paridade;
 Reintegração dos militares da Renamo que foram desvinculados do exército
sem justa causa e integração dos seguranças no quadro policial, conforme o
Acordo Geral de Paz;
 Despartidarização do Estado, em particular o desmantelamento de células
partidárias no aparelho do Estado;
 O relançamento da economia de mercado.
A Frelimo aceitou debater os pontos propostos e deu-se início a um ciclo de
conversações entre a delegação da Renamo, chefiada pelo deputado Saimone
Macuiana, e pela delegação do governo, chefiada por José Pacheco, então Ministro do
Interior, no Centro de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo.

Entretanto a Frelimo inicia uma campanha de perseguições aos membros da Renamo.


Várias delegações da Renamo nas províncias do centro e norte são vandalizadas pelas
FIR e membros são presos.

Dado o clima de insegurança em que vivem os membros da Renamo, o Presidente do


Partido deixa Nampula e vai residir em Sandjudgira, Distrito de Gorongosa.

As FIR intensificam os ataques aos membros da Renamo. Em Muxúngué, Distrito de


Chibabava, um grupo das FIR invade a delegação local da Renamo e maltrata os
membros, entre os quais muitos são idosos indefesos. Uns dias antes tinham realizado
a mesma “proeza” em Gondola, Manica.

Foi a gota que fez transbordar o vaso. Os membros saíram dali a jurar trazer os mais
novos para a vingança. À noite regressaram acompanhados por guardas da segurança
da Renamo. Capturaram as armas, mataram e feriram alguns militares das FIR e foram
embora. Estava declarada a guerra. Estava-se em Agosto de 2013.

Governação de Daviz Simango


Em Fevereiro de 2009 Daviz Simango toma posse como presidente do Conselho
Municipal da Beira, com a Frelimo a presidir uma Assembleia Municipal sem membros
para suportar o edil. Daviz Simango ainda não tinha um partido para o suportar.

A governação de Simango caracterizou-se por violações constantes da Lei de Terras e


consequentes conflitos. O Conselho Municipal tornou-se numa autêntica agência de
venda de terrenos. Quem tivesse mais dinheiro teria acesso a um terreno. A condição
importante era que não fosse membro ou simpatizante da Renamo.

O documento Direito de Uso e Aproveitamento de Terra, com infraestruturas


construídas e respectivo Registo de Propriedade na Conservatória dos Registas não
oferecia garantia de posse. O Conselho Municipal, sem quaisquer escrúpulos, usurpava
propriedades e vendia a outros. Os processos em tribunais na Beira formam pilhas,
mas Daviz Simango tem o dom de fazê-los adormecer nas gavetas.

As taxas municipais, em particular as taxas de quintas em zonas verdes, atingiram


valores exorbitantes, mil vezes os valores de outros pontos no país. Os donos das
quintas reagiram prontamente. Daviz Simango optou então por manter as taxas, mas
obrigou os quintaleiros e todos os outros sujeitos a taxas a pagarem aquilo que era
percebido que poderiam pagar. O descontentamento popular subiu.

A política municipal de Daviz Simango foi de autorizar os vendedores a ocuparem todo


o espaço que puderem. Nos passeios, em partes das ruas, até mesmo nas vias mais
importantes e transitadas, as viaturas e transeuntes disputam espaço com os
vendedores.

Mas em alguns aspectos Daviz Simango não cede. O seu sistema de gestão de dívidas é
rigorosamente seguido de perto. Não há devedores que se queixem de burla pelo
Conselho Municipal. Todos os cheques têm cobertura. Os cofres do município são
sólidos.
Na política de infraestruturas Daviz Simango é surpreendentemente desastrado.
Ordena obras de protecção costeira que se revelam grandes consumidoras de recursos
mas que nada fazem para proteger a cidade das investidas do mar. Os seus projectos
falham redondamente, apesar de bem aconselhado por técnicos competentes. Os
doadores internacionais ficam inquietos.

Na política de trabalho Daviz Simango revelou ser de tendência comunista. Procura por
todos os meios que as obras sejam realizadas por administração directa do Conselho
Municipal em detrimento do empresariado local. Para tal emprega uma força de
trabalho de milhares de pessoas. Estas pessoas e suas famílias são a sua garantia de
voto em pleitos eleitorais.

As relações de Daviz Simango com os membros dos outros partidos são de hostilização
– como a Frelimo também o faz, argumenta ele. Os membros da Renamo são as
maiores vítimas da sua hostilidade. Na Assembleia Municipal recusa qualquer apoio da
Renamo contra a Frelimo. Para ele Renamo e Frelimo são a Frenamo. Mas na verdade
a Bancada da Renamo na Assembleia Municipal, apesar de criticar a sua governação,
nunca votou, ao lado da Frelimo, contra os seus actos administrativos.

A situação económica, social e ambiental da Beira deteriora-se visivelmente. Nas


eleições presidenciais e legislativas de 2014 o povo da Beira vai votar massivamente
em Afonso Dhlakama e na Renamo.

Outubro 2013, Sandjundgira


Em Outubro de 2013, dia 17, realizou-se em Sandjudgira, Distrito da Gorongosa, a
cerimónia de comemoração do herói nacional André Matade Matsangaíssa, fundador
da Renamo, que caiu em combate em 1979. Estiveram presentes nesta grandiosa
cerimónia várias centenas de pessoas provenientes de todo o país e do estrangeiro,
incluindo a comunicação social.

Ainda antes de todas as pessoas se terem ido embora as FIR, apoiadas pelas Forças
Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) iniciaram um bombardeamento com
armas pesadas, com o objectivo de assassinarem o Presidente e o maior número de
pessoas ali presentes. Entre os vários mortos, encontrou-se o deputado da Renamo
Armindo Milaco. O Ministro da Defesa era então Filipe Jacinto Nyusi.
A partir daquele momento a guerra desenvolveu-se com intensidade furiosa. As forças
de segurança da Renamo rechaçaram o combinado FIR e FADM e desdobraram-se para
as outras províncias.

A Frelimo entrou em pânico. Assim como a opinião pública manipulada pela Frelimo.
Afonso Dhlakama deixou de ser o palhaço. A situação ficou séria. A Frelimo sentiu-se
ameaçada.

Eleições 2013
Em 2013 realizavam-se as eleições autárquicas. A Renamo, reconhecendo que a lei
eleitoral e os órgãos eleitorais permitiam que a Frelimo realizasse impunemente
fraudes para ganhar as eleições, decidiu abster-se.

A decisão da Renamo foi largamente criticada no estrangeiro, mas estava em causa a


segurança dos seus membros e não só, de todo o processo de democratização de
Moçambique. Uma vitória retumbante da Frelimo, sem dúvida mercê duma fraude
bem planificada, iria confundir a opinião pública que passaria a dar razão aos
detractores da Renamo.

As eleições autárquicas decorreram em ambiente turvo e emocional. O MDM,


assumindo o papel de oposição séria à Frelimo, consegue arrancar as autarquias de
Nampula, Quelimane, Gurué e Beira. As restantes autarquias ficam com a Frelimo, mas
as assembleias municipais ficam povoadas com membros do MDM. O MDM denuncia
fraude eleitoral, sem dúvida acusação verdadeira. Grande vitória para a oposição!

A opinião pública vaticina que o MDM vai substituir a Renamo no processo político do
país. O pleito eleitoral de 2014 será o teste decisivo.

Acordo de Cessação das Hostilidades Militares 2014


No Centro de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo, iam decorrendo
lentamente as conversações entre as delegações da Renamo e do governo da Frelimo.
Enquanto não estava clara a sorte das armas no terreno a Frelimo não se sentia
pressionada. Mas foi a partir dos últimos desastres militares em Inhambane que a
Frelimo entrou em pânico.

Entretanto inicia o processo de preparação das eleições de 2014. A campanha eleitoral


arranca em Setembro. A Renamo ainda não estava inscrita e o Presidente Afonso
Dhlakama continuava em Sandjudgira, em local fortemente protegido pela sua força
de seguranças.

Todavia, a pressão militar da Renamo acabou por obrigar a Frelimo a ceder. A Frelimo
aceitou rever a lei eleitoral de modo a permitir que os membros da oposição façam
parte dos órgãos eleitorais. Mais, aceitou que os militares da Renamo sejam
integrados nas Forças de Defesa e Segurança.
O novo pacote eleitoral foi prontamente aprovado pelo Parlamento, permitindo que a
Renamo se inscrevesse a tempo para as eleições. Preparou-se um encontro, em
Maputo, do Presidente Afonso Dhlakama e do Presidente Armando Guebuza para
assinarem o acordo de fim da guerra.

Faz parte do acordo de fim da guerra uma amnistia parcial, para permitir o sossego
social, a normalização da vida no país e impedir perseguições políticas.

Um grupo de quadros seniores do Partido e embaixadores dos Estados Unidos, Itália,


Portugal e Inglaterra vão a Sandjudgira para acompanharem o Presidente Afonso
Dhlakama a Maputo. A imprensa e a televisão cobrem os eventos ao pormenor.
Desde o primeiro minuto as populações correm ao encontro do seu líder. É uma febre
de alegria que contagia todo o povo. A marcha para Maputo é triunfal. O povo quer
ver Dhlakama, o general que venceu (deu porrada) a Frelimo!

A 14 de Setembro de 2014 é assinado o Acordo de Cessação de Hostilidades Militares


entre a Renamo e as Forças de Defesa e Segurança. Foi um período de intensa emoção
para os moçambicanos.

A Renamo e o Presidente Afonso Dhlakama começam a campanha eleitoral só depois


da assinatura do acordo, já com duas semanas de atraso em relação às outras
formações políticas.

Entretanto começa o processo de implementação do acordo. As duas partes devem


apresentar um documento onde constam o modo como as forças residuais da Renamo
serão integradas no quadro das Forças de Defesa e Segurança. Esta fase do processo
nunca mais foi concluída. Mais tarde a Frelimo recuou, recusando a implementação do
acordo.

Eleições 14, editais, CNE


A Frelimo apresentou como candidato às eleições de 2014 Filipe Jacinto Nyusi, que já
apresentámos atrás como Ministro da Defesa quando as FIR e as FADM atacaram a
cerimónia de comemoração de André Matade Matsangaíssa em Outubro de 2013, com
o objectivo de assassinarem o Presidente da Renamo.

A Renamo apresentou como seu candidato Afonso Macacho Marceta Dhlakama e o


MDM apresentou Daviz Mbepo Simango.

A campanha eleitoral da Renamo foi uma clara manifestação do apoio popular ao


Presidente Afonso Dhlakama. Por onde ele passava as multidões acotovelavam-se para
lhe testemunharem o seu carinho.

As pistas dos aeródromos enchiam-se de população e as autoridades dificilmente


conseguiam afastá-las para permitir que o avião presidencial ali aterrasse.
Em Angoche o avião teve que ir para outro aeródromo provisoriamente até que as
populações se afastassem da pista. As televisões mostravam imagens incríveis de
manchas de milhares de pessoas a correrem atrás do avião...

A Frelimo, mais uma vez, recorreu a todos os truques para evitar a sua óbvia derrota.
Desde o recenseamento eleitoral até à proclamação dos resultados pelo Conselho
Constitucional, o processo decorreu cheio de ilícitos eleitorais. Mas desta vez a Frelimo
estava descoberta, porque os órgãos eleitorais, o Secretariado Técnico da
Administração Eleitoral (STAE), assim como as comissões de eleições a nível distrital,
provincial e nacional, tinham quadros da Renamo e do MDM, os quais testemunhavam
os procedimentos criminosos da Frelimo.

Um dos truques favoritos da Frelimo consistia na inutilização dos votos do candidato


da Renamo. O truque principal era o presidente da mesa de votação recusar assinar as
denúncias dos delegados de candidatura, o que resultava sempre na rejeição das
denúncias pelos tribunais distritais. Deste modo o Conselho Constitucional pôde, no
acto da proclamação dos resultados, anunciar que não houve reclamações por parte
dos partidos!

Apesar de todos os truques, a Frelimo ficou assustada com os resultados que


chegavam à Comissão Nacional de Eleições para o apuramento final. A Renamo e o seu
candidato estavam à frente. A Frelimo estava perdida. Por esta razão optaram por
fabricar um resultado falso e, ao mesmo tempo, fazer desaparecer os editais que
vieram das províncias para não se saber a verdade.

Os delegados da Renamo e do MDM na Comissão Nacional das Eleições (CNE)


prontamente rejeitaram o procedimento da Frelimo, por ser ilegal e criminoso. A CNE,
presidida por um militante da Frelimo, organizou a cerimónia de apresentação pública
dos resultados em que a Frelimo e seu candidato são declarados os vencedores das
eleições, e submeteu o apuramento falso ao Conselho Constitucional sem os
respectivos editais comprovativos.

O Conselho Constitucional, embora dominado por juízes da Frelimo, teve receio.


Exigiram os editais, mas a CNE não os tinha. A CNE acusou o STAE de guardar os
editais, mas este contrariou afirmando que tinha-os entregue à CNE. Este jogo
mostrava a falsidade do processo. Era evidente que a Frelimo tinha perdido as
eleições.

Portugal, França, Comissão UE, Conselho Constitucional


O resultado das eleições tinha que ser proclamado até fim de Novembro de 2014. Três
semanas depois do prazo a CNE ainda não tinha entregado os editais ao Conselho
Constitucional. O impasse revelava que algo de grave estava para acontecer.
Eis que, numa atitude até hoje ainda não explicada, o governo Português felicitou a
Frelimo e seu candidato pela vitória eleitoral. Na mesma semana o governo francês e a
Comissão da União Europeia transmitem também as suas felicitações.

Estas declarações públicas ocorrem ainda antes da proclamação oficial dos resultados
pelo Conselho Constitucional, a única autoridade no país com competência para tal.
Tratava-se pois, em direito internacional, duma ingerência nos assuntos internos dum
país soberano.

A Frelimo estava preparada. O Conselho Constitucional convocou de imediato a sessão


pública e proclamou e validou os resultados, de acordo com a acta do apuramento
nacional fictício da CNE. Um acto administrativo ilegal da CNE é validado pelo Conselho
Constitucional – o que configura outra ilegalidade!
A Renamo protesta e não valida os resultados. O MDM também protesta, mas
submete-se, para que haja paz.

Esta sequência de actos ilegais da Frelimo na validação duma fraude eleitoral, ajudada
por países europeus, vai levar o país à guerra.

Tomadas de posse Nyusi e Frelimo


Em Janeiro de 2015 o Conselho Constitucional dá posse a Nyusi, o qual a seguir dá
posse aos cento e quarenta e quatro membros da Frelimo e dezassete do MDM, na
Assembleia da República. Os oitenta e nove deputados da Renamo, que a Frelimo
atribuíra no seu apuramento falso, recusaram-se a tomar posse. Estava instalada a
crise política no país.

A Renamo anuncia que a solução da crise passa pela instalação dum governo de
gestão, com ministros indicados pelos partidos, com a missão de gerir o país até que
sejam preparadas as condições para eleições livres, justas e transparentes. A Frelimo
rejeita.

A Renamo insiste sugerindo que as províncias do centro e norte do país sejam


governadas pela Renamo dado que em todas as eleições se verifica ser a preferência
do eleitorado. A Frelimo rejeita novamente. Nyusi indica os seus ministros e
governadores, dá-lhes posse e inicia a sua governação. O Parlamento continua
incompleto.

Promessa de acordo de Nyusi


Nas províncias do centro e norte, em todos os distritos e cidades, o Presidente
Dhlakama inicia uma série de comícios populares para consulta pública. O povo acolhe
em massa a iniciativa do seu presidente. Em cada comício milhares e milhares de
pessoas manifestam entusiasticamente a ideia da governação da Renamo. Não havia
dúvidas sobre esta vontade popular.
O Presidente da Renamo e da Frelimo decidem encontrar-se para debater a situação
política do país. Sinal positivo. No final do encontro, perante os media, ambos
mostram-se confiantes. O Presidente Dhlakama anuncia que o presidente da Frelimo
em princípio poderia concordar com a ideia da governação da Renamo nas províncias
do centro e norte e que convida a Renamo a apresentar o projecto à Assembleia da
República.

Tomada de posse dos deputados da Renamo


Estava dado o sinal para os deputados da Renamo tomarem posse, na condição, estava
claro, que o seu objectivo era apresentar a proposta da governação da Renamo no
centro e norte.

Os oitenta e nove deputados da Renamo tomaram os seus assentos em Fevereiro de


2015, aplaudidos pela opinião pública, desejosa de ver o fim da crise política que
ameaçava a paz no país.

Nyusi
No discurso de tomada de posse como Presidente da Repúbica Filipe Nyusi promete
praticar um governo inclusivo e obediente aos desejos do povo, o que se poderia
interpretar como o desejo de respeitar o Estado de direito.

A Renamo, mesmo assim, não reconheceu este governo nem a maioria falsa da
Bancada da Frelimo na Assembleia da República, por serem o resultado de fraude
eleitoral.

Para a Renamo, a Frelimo rejeitou os verdadeiros resultados das eleições e aplicou


uma solução política, que foi formar um governo seu baseando-se na força do Estado.
Se a solução política incluir uma governação da Renamo na zona centro e norte do
país, então esta solução política poderia ser aceite.

Uma vez o parlamento completo a Renamo começou a desenhar o projecto, que


adquiriu a forma de autarquias em seis províncias, que são Niassa, Nampula,
Zambézia, Tete, Manica e Sofala.

Entretanto a governação de Nyusi revela-se um iminente desastre. O ministro das


finanças declara que encontrou os cofres do Estado vazios. Escândalos financeiros
rebentam. Começa-se a descobrir dívidas contraídas pelo governo anterior feitas às
ocultas do Parlamento.

O plano quinquenal de governação de Nyusi foi apresentado ao Parlamento, mas tinha


tantos defeitos que a Renamo e o MDM não encontraram motivos para o aprovar. O
mesmo se passou com o Plano Económico e Social de 2015.
Renamo propõe meio Termo para se saír da crise pós-eleitoral
Perante a crise política que se instalou no país com a tomada de posse ilegal da
Frelimo e seu presidente, Filipe Nyusi, e dada a promessa deste de considerar o
projecto de autonomia de governação nas províncias onde a Renamo sempre tem sido
o partido mais votado, a Renamo submeteu à Assembleia da República o projecto do
Quadro Institucional das Autarquias Provinciais.

Este era o meio-termo que a Renamo propunha para se resolver a crise pós-eleitoral.
O MDM apoiou o projecto. A Frelimo reprovou. Ficou claro que a Frelimo não estava
interessada na paz.

Ainda assim a Renamo submeteu à Assembleia uma segunda proposta, a de as


províncias serem governadas por governadores indicados pelas Assembleias
Provinciais e nomeados pelo Presidente da República.
Esta nova forma asseguraria que as seis províncias onde a Renamo foi a mais votada
fossem governadas pela Renamo, enquanto que a Frelimo mantinha o governo central,
oferta generosa que também foi rejeitada pela Frelimo.

Economia e sociedade
A economia de Moçambique piorou o seu desempenho a partir de 2013 devido ao
conflito que opõe a Renamo e a Frelimo, que deixa os operadores económicos, tanto
nacionais como estrangeiros, inquietos e indecisos sobre investir ou não no país.

Progressivamente os operadores estrangeiros começam a transferir os seus activos


para outras regiões do mundo mais estáveis economicamente e mais seguras. O
investimento estrangeiro directo reduz e o metical começa a desvalorizar.

O Estado já não encontra recursos financeiros para levar a cabo os projectos a que se
tinha proposto realizar, incluindo para pagar as empresas nacionais que já tinham
prestado serviços e fornecidos bens ao Estado.

Desenha-se uma crise financeira e económica pela frente. Há que encontrar soluções.
Mas as soluções exigem uma nova abordagem da economia, dos mercados e do
funcionamento da sociedade, algo que a Frelimo se mostra incapaz de fazer.

O Povo continua a viver na miséria enquanto uma elite associada à Frelimo vive no
fausto, insensível ao sofrimento das massas populares. Parece colonialismo da classe
governante sobre as classes desfavorecidas da população.

É evidente que a Renamo não pode continuar a ser desprezada como actor político no
país e os comentadores políticos mais audazes levantam as suas vozes na comunicação
social. Começam ameaças de morte, que logo se verifica serem protagonizadas por
elementos ligados ao governo da Frelimo.
Ataques ao Presidente da Renamo e opositores do regime
Em Janeiro de 2015 é assassinado a tiro Gilles Cistac, um franco-moçambicano
constitucionalista e académico reputado, que ousou explicar publicamente que a
descentralização nas províncias, conforme proposto pela Renamo, nada tinha de
inconstitucional.

Desde então, muitos outros académicos, jornalistas, profissionais e membros da


oposição têm sido perseguidos e mortos pelos esquadrões da morte do regime.

Entretanto Nyusi inicia um discurso estranho, em que elogia o método angolano para
encontrar a paz. Visita Angola e lá proclama que vai implementar o método angolano.

O país fica gelado. O método angolano viabilizado pelo MPLA consistiu no assassinato
do dirigente da oposição, Jonas Savimbi, ao mesmo tempo que oferecia benesses aos
seus generais para os acalmar.

A partir de Setembro de 2015 os militares da Frelimo começam a seguir o Presidente


Dhlakama, que viajava de distrito em distrito reunindo com a população, a qual cada
vez mais lhe mostrava o seu carinho e apoio. A tensão política aumenta.

Neste mês de Setembro a Frelimo emboscou duas vezes o Presidente Afonso


Dhlakama na estrada nacional N6, com recurso a armas pesadas. Estava em curso a
execução do método angolano, a de se tentar assassinar o Presidente Afonso
Dhlakama.

Por milagre divino o Presidente Afonso Dhlakama escapa com vida. Nos combates
morrem militares de ambos os lados, mas os agressores são rechaçados com pesadas
baixas e deixam armas no solo.

Pouco depois a Frelimo propõe um encontro entre os dois presidentes. O Presidente


da Renamo desloca-se à Beira para o encontro, mas a sua residência é cercada pelas
FIR com o propósito de o assassinarem.

Momentos dramáticos na vida do povo moçambicano, que segue com angústia na


televisão o desenrolar dos acontecimentos. Com muita perícia e calma extraordinária
o Presidente Dhlakama consegue dominar a situação.

A Governadora de Sofala, Helena Taipo, apresenta-se na residência do Presidente


Afonso Dhlakama no momento de cerco e testemunha a entrega, pela Renamo, das
armas capturadas aos atacantes pela segurança do Presidente na emboscada de 25 de
Setembro último.

Ficou assim provado que a Frelimo foi a autora das emboscadas, algo que sempre
negara na vã tentativa de fazer crer ao público que uma terceira força armada,
composta por dissidentes da Renamo e independente do governo, protagonizava os
ataques contra a Renamo.

Guerra civil não declarada


Perante a situação de perigo que pairava sobre a sua pessoa o Presidente Afonso
Dhlakama refugia-se de novo em Gorongosa. A Frelimo bombardeia com armas
pesadas todos os locais onde suspeita que ele esteja. A Renamo responde em legítima
defesa. Reacende a guerra. Mais uma vez as forças da Renamo encaram uma Frelimo
decidida a acabar com a vida do seu líder.

A guerra vai alastrando um pouco por todo o país. Os moçambicanos desesperam. As


casas da população nas zonas de combates são queimadas pelos militares da Frelimo.

As populações são violentadas e seus bens saqueados pelas FIR, FADM e mercenários
estrangeiros contratados pelo regime. O Malawi começa a receber refugiados, que
acusam a Frelimo de atrocidades contra as comunidades e população.

Os investidores estrangeiros vão abandonando o país, embora o governo da Frelimo


afirme que não há guerra, apenas perturbações da ordem pública em alguns locais.
Mas os números de militares feridos e mortos desmentem a Frelimo.

O país está em guerra, uma guerra injusta imposta ilegalmente pela Frelimo contra o
povo que, apesar de tudo, resiste a ser governado pela Frelimo, razão pela qual
sempre têm votado na Renamo e no Presidente Afonso Dhlakama.

Comunicação Social
A comunicação social oficial é controlada pelo regime. Os operadores são obrigados a
reportar que os ataques e a atrocidades são perpetradas pelos “homens armados da
Renamo”. Ultimamente começam a referir-se aos “bandidos armados” da Renamo,
como no tempo da guerra pela democracia.

A Frelimo usa intensamente um grupo de pseudo analistas políticos, vulgarmente


conhecidos pelo G40, para efeitos de propaganda política contra a oposição.
Particularmente em relação à Renamo, seus membros, dirigentes e simpatizantes, a
linguagem do G40 é ameaçadora, belicista.

Os jornais Notícias e Domingo, assim como a Televisão de Moçambique, empresas


públicas financiadas pelo erário público, tornam-se centros de desinformação sobre a
realidade política, económica e social do país a favor do governo da Frelimo e contra a
Renamo.

Os combates envolvendo as Forças de Defesa e Segurança e os seguranças da Renamo


são apresentados como sendo ataques a alvos civis pelos “bandidos armados” da
Renamo.
Por outro lado, a imprensa privada e independente, como o jornal Canal de
Moçambique, Savana e Zambeze, tentam apresentar uma imagem mais real do que se
passa mas correm riscos de ataques e perda de negócios de publicidade – a sua
principal fonte de receitas. A situação é tensa.

Quem reporta abertamente sobre os combates no terreno são os internautas nas


redes sociais. Por esta via sabe-se de inúmeros mortos e feridos nas Forças de Defesa e
Segurança (FDS).

A Crise dos refugiados


Quando, em 2015, Filipe Nyusi tomou ilegalmente posse como chefe do governo, as
administrações distritais passaram a retaliar contra as populações que tinham votado
na oposição.

Uma das piores formas de retaliação foi o fecho de fontenárias. A população assim
punida volta-se contra a Renamo, exigindo uma reacção armada que restabelecesse os
seus direitos. Era assim que a população se expressava nos comícios com o Presidente
Dhlakama. Ou a Renamo fazia a guerra e exterminava a Frelimo ou cortava o País pelo
Save, declarando a independência do centro e norte.

Foi difícil a tarefa de acalmar os manifestantes. O Presidente Dhlakama prometia tudo


fazer para resolver a situação de modo pacífico. É preciso muita paciência para se ser
moçambicano!

Desde que recomeçaram os confrontos militares em 2015 as FDS, com o apoio dos
seus esquadrões da morte, têm praticado a caça ao homem nas províncias centrais do
país com o objectivo de extirpar por completo a Renamo e o seu líder, o Presidente
Afonso Dhlakama.

Os membros da Renamo nas cidades, nos distritos e localidades são ameaçados,


perseguidos, raptados, sequestrados, alvejados e seus corpos feitos desaparecer ou
mais tarde encontrados abandonados a grande distância dos locais do sequestro.

Os membros da Renamo em todo o país passam a evitar aparecer em público,


especialmente os membros das assembleias provinciais. De facto, alguns destes
membros têm sido alvo de ataques pelas FDS e esquadrões da morte, o que os leva a
se refugiarem noutros lugares seguros para dormir. As bancadas da Renamo nas
assembleias provinciais não conseguem reunir todos os seus membros.

As delegações políticas da Renamo são cercadas pelas FDS sempre que os membros
procuram reunir. A Frelimo encarrega-se de incendiar algumas destas delegações.

Mas as atrocidades e violações dos direitos humanos pela Frelimo abrangem também
população civil. As comunidades interiores estão a ser alvo de autêntico genocídio por
parte das FDS e dos esquadrões da morte.
A imprensa nacional denunciou, em 2015, a existência de campos de refugiados
moçambicanos no Malawi, um dos quais, Kapise, que já albergava milhares de
pessoas.

Mais tarde a BBC reporta que os refugiados moçambicanos estão a aumentar


diariamente nestes campos, mas que já estão a ser assistidos pela agência para
refugiados das Nações Unidas, ACNUR.

Estranhamente o governo da Frelimo desmente existirem moçambicanos refugiados


no Malawi e viola grosseiramente o direito internacional sobre refugiados, acusando
esta população de serem oportunistas com objectivo económico e tentando intimidá-
las a regressarem a Moçambique. ACNUR e autoridades malawianas intervêm em
defesa dos refugiados.

De acordo com a reportagem da BBC, depois secundada por reportagens de outros


órgãos de comunicação social nacional, os refugiados acusam as FDS de queimarem as
suas casas por terem dado apoio à Renamo. Além do mais, roubam os seus bens,
violam as mulheres à frente dos outros membros da família, torturam e matam.

Os refugiados apresentam-se em péssimas condições de saúde, principalmente as


crianças, com sinais de malnutrição grave e traumas psicológicos.

A Bancada Parlamentar da Renamo, em sessão solene da Assembleia da República,


solicitou de imediato a constituição duma comissão de inquérito sobre as condições de
vida dos refugiados no Malawi e sobre as medidas a tomar para acabar com as razões
que levam as populações a fugirem do país. A Frelimo, também pela sua Bancada
Parlamentar, rejeitou.

Valas Comuns
Em meados de 2016 foram reportados, pela imprensa estrangeira e secundada por
alguma imprensa nacional, a descoberta de valas comuns em Sofala e em Manica. A
localização das valas foi revelada por camponeses.

Valas comuns são consideradas, pelo direito internacional, como sendo sepulturas
com mais de três corpos vítimas de execuções sumárias e constituem uma violação
grave dos direitos humanos. O governo dum país com valas comuns pode sofrer
sanções pela Organização das Nações Unidas e membros do governo podem ser alvo
de mandatos de captura pelo Tribunal Penal Internacional.

Por esta razão a Frelimo viu-se na necessidade de criar uma comissão parlamentar de
inquérito para encobrir a sua culpa. A comissão foi constituída e enviada a Manica e
Sofala, ostensivamente à procura das valas comuns. A Renamo, sabendo de antemão
que a Frelimo ensaiava uma farsa, recusou-se a tomar parte na comissão, alegando
que nela não estavam incluídas outras entidades credíveis que pudessem testemunhar
com isenção.

Com efeito, a comissão de inquérito, por força da lógica da Frelimo, foi composta
quase exclusivamente por deputados da Frelimo e presidida pelo Deputado Edson
Macuácua. Nesta comissão a oposição fez-se representar unicamente pela deputada
Sílvia Cheia, do MDM.

A comissão dirigiu-se às províncias de Sofala e Manica, tendo sido levada por


representantes do governo da Frelimo nas administrações locais por um périplo que se
sabia que não iria dar em nada. Mas mesmo assim encontraram, acidentalmente, um
campo com cadáveres abandonados ao relento!

Pior do que vala comum, é o campo de despejo de cadáveres ao relento. Mas a


comissão, completamente dominada pela Frelimo, determinou categoricamente não
ter visto vala comum alguma. Como testemunhas citou membros das administrações
locais por onde andaram.

A Deputada Sílvia Cheia, do MDM, denunciou que as valas comuns existem de facto.
Mas ela estava em minoria. Numa comissão ganha a maioria, e a maioria aqui só podia
ser a Frelimo. Melhor teria sido que ela não tivesse tomado parte na comissão. Uma
comissão constituída somente pela Frelimo não seria válida e os seus resultados
seriam nulos.

O resultado do inquérito pela comissão parlamentar é anunciado, antes do fim da


investigação, pelo seu presidente. Segundo ele, não existem valas comuns. Como a
maioria dos membros da comissão são da Frelimo, esta posição da comissão
prevalece. A Renamo tinha razão em não fazer parte da comissão. Seria interpretado
pela opinião pública em como concordava com a Frelimo, isto é, que não existem valas
comuns.

Os jornalistas estrangeiros e moçambicanos que divulgaram as informações sobre as


valas comuns começam a ser perseguidos pelo regime. Iniciam-se audições
parlamentares intimidatórias onde a Frelimo julga os jornalistas como se juízo em
tribunal se tratasse.

Em Agosto de 2016 a Liga dos Direitos Humanos, presidida pela Dra. Alice Mabota,
lança o seu relatório sobre os refugiados moçambicanos no Malawi, onde denuncia
que a causa da procura de refúgio pela população “prende-se com as sistemáticas
violações e abusos de direitos humanos protagonizados pelas FDS, no âmbito da
tensão político – militar que opõe o Governo e a Renamo desde 2015”.

A Renamo reagiu a este relatório exigindo que todos aqueles que praticam atrocidades
contra a população sejam exemplarmente julgados e pede que as Nações Unidas
investiguem estes casos.
Dívidas ocultas
Em Abril de 2016 o jornal norte americano Wall Street Journal, que reporta sobre as
finanças mundiais, revela que Moçambique está envolvido num escândalo financeiro
de grandes dimensões.

Além da dívida externa contraída pelo governo em 2013 para a constituição da


empresa privada de pesca de atum, Ematum, e que tinha estado escondida até ser
descoberta em 2014, foram descobertas outras dívidas externas também escondidas,
totalizando mais de 2,2 biliões de dólares dos EUA.

Segundo as investigações deste jornal, as dívidas foram contraídas secretamente pelo


governo para comprar armas, embora aparentando terem como objectivo o
financiamento de projectos ligados à exploração de hidrocarbonetos.

Revelou-se mais tarde que a maior parte do dinheiro desapareceu enquanto o


restante foi usado para comprar armas. Os credores declararam que se tivessem
sabido que o dinheiro iria ser canalizado para tais fins nunca o teriam emprestado.

Estas revelações foram confirmadas pelo FMI, Banco Mundial, Reino Unido,
Dinamarca, Suécia, Portugal, etc.

Uma das tarefas do deputado é fiscalizar a acção do governo em representação do


povo. Nestes termos a Bancada Parlamentar da Renamo, em sede de plenário da
Assembleia da República, exigiu que o governo da Frelimo fosse ao parlamento com
urgência explicar-se sobre aquelas dívidas ocultas e ilegais.

A Bancada da Frelimo rejeitou esta exigência e impediu que naquela sessão o governo
se apresentasse ao povo a explicar como contraíra, sem a autorização da Assembleia
da República e em violação da lei e da Constituição, dívidas ilegais e as escondera do
conhecimento público enquanto prometia aos credores que o Estado assumia as
dívidas e que iria pagá-las.

Em vez de ir ao parlamento, o governo, fugindo de explicar ao povo porque endividou


o país tão gravemente, correu a explicar-se junto do grupo de países que
habitualmente apoiam no financiamento do Orçamento Geral do Estado. Estes países,
apercebendo-se logo que a história mal contada da Frelimo não fazia sentido algum,
cortaram o financiamento ao Orçamento do Estado.

Arrogantemente a Frelimo passou a insultar os moçambicanos, dizendo que dívida não


é crime e que os moçambicanos devem pagar a dívida.

A reacção da Comunidade Internacional foi severa para com a Frelimo. O FMI e todas
as outras instituições financeiras suspenderam mesmo os financiamentos de apoio ao
Governo, obrigando-o a ir ao Parlamento explicar o que a Renamo, todos os outros
partidos e a própria sociedade civil exigiam.
A sessão de explicação do governo em sede do parlamento foi um espectáculo
vergonhoso. Segundo o governo, secundado pela Bancada da Frelimo, a dívida tinha
de ser secreta porque “o país estava em guerra contra a Renamo, e a Renamo estava
no parlamento”. Além do mais, “ter dívidas públicas é normal, quem não deve?”

A Renamo, o MDM, os partidos extraparlamentares e as organizações da sociedade


civil rejeitaram prontamente a pretensão da Frelimo de fazer o povo pagar uma dívida
desconhecida cujo dinheiro ninguém viu. Exige-se a demissão do governo e a
responsabilização dos que contraíram a dívida.

Aquele montante de dinheiro é enorme. Podiam-se construir estradas ligando todos os


distritos e localidades, ou construírem-se escolas e hospitais dotados de ambulâncias
em cada posto administrativo do país.

“Esta dívida deve ser paga pelos próprios que a contraíram, os governantes da Frelimo
desde 2013”, grita-se nas ruas. Outros transeuntes gritam “O lugar do ladrão é na
cadeia”.

A Frelimo guarda as ruas com blindados e FIR altamente equipados. Ninguém se atreve
a fazer-lhes frente. Isso é tarefa da Renamo. Mas algumas manifestações populares
atrevem-se a ir à rua, com apenas algumas centenas de pessoas. Exigem o fim da
guerra e a responsabilização dos que contraíram as dívidas. Corajosos!

Os debates públicos apontam o dedo acusador à Frelimo. O G40 tem enormes


dificuldades em fazer adormecer a opinião pública.

Mas a Comunidade Internacional mantém-se firme. Exige uma auditoria forense


internacional, o que significa que os culpados devem ser presos e julgados em tribunal
internacional. Os suspeitos actualmente são o ex-presidente Armando Guebuza, o
actual presidente Filipe Nyusi, o ex-ministro das Finanças Manuel Chang ...

O governo resiste à auditoria internacional forense, mas não se sabe por quanto
tempo. Entretanto, o governo deixou de receber os financiamentos externos para o
seu funcionamento, o que lançou o país na maior crise económica desde a guerra pela
democracia.

Crise política, militar, económica e social


O que a Frelimo conseguiu ao assaltar o poder de forma tão grosseira no fim de 2014
foi lançar o país numa enorme crise política, militar, económica e social.

O governo da Frelimo não está, de modo algum, estável. Embora seja reconhecido
internacionalmente é olhado com suspeita, porque os relatórios dos observadores
eleitorais denunciaram fraude, e também por causa das violações de direitos humanos
e escândalos financeiros.
A Renamo não reconhece o governo da Frelimo, embora proponha aceitá-lo em troca
de governação das seis províncias do centro e norte do país.

Além do mais, a Renamo e seu líder teimosamente recusam morrer, apesar do grande
investimento militar para acabar com esta praga de oposição, o que leva ao governo
desviar importantes recursos para aplicar o “método angolano”.

O povo não aceita de bom grado ser governado pela Frelimo mais cinco anos. É
sofrimento que nunca mais acaba. A Frelimo pressente a iminência de revolta nas ruas
e mais uma vez desvia recursos preciosos para equipar as forças antimotim.

O resultado da desgovernação da Frelimo é um desastre total para a economia do país.


Sem estradas a ligarem o interior rural aos mercados dos maiores centros
populacionais, como cidades e vilas maiores, a produção agrícola não tem como
aumentar. Produzir para deitar fora?

As florestas estão dizimadas, criando pobreza e baixando a qualidade do meio


ambiente. Os preços dos produtos de extracção principais, como o carvão, as areias
pesadas, o gás natural e o petróleo, baixaram drasticamente nos mercados mundiais.

Moçambique não tem indústrias significativas nem serviços de interesse para o


mercado mundial, além dos materiais de extracção.

Sem produção e sem grandes lucros pelas exportações a economia do país perde valor
no mercado internacional, o que se reflecte no valor cambial do metical. De 30
meticais por dólar em 2014, a nossa moeda agora vale perto de 75 meticais por dólar e
continua a desvalorizar-se.

Dado que os financiadores recusam-se a dar mais dinheiro a Moçambique enquanto o


governo não mandar realizar a auditoria forense internacional, que certamente a
Frelimo não vai fazê-lo porque implica a prisão dos seus dirigentes máximos, o
dinheiro estrangeiro não entra.

Sem dinheiro o governo não vai conseguir governar, pelo menos como tem estado a
fazer desde sempre, apoiando-se em donativos e doações.

A mudança no sistema de governação implica uma nova mentalidade. Existe isto na


Frelimo?

Governação provincial, mediação, conversações


A Frelimo e o seu presidente, Filipe Nyusi, insistem através da comunicação social para
um encontro entre os dois presidentes para trazer de novo a paz ao país. Hora a hora
ouvem-se militantes da Frelimo a pedirem “paz, paz, paz...”, apesar de os ataques às
posições da Renamo em Gorongosa continuarem.
Para que o encontro entre os dois presidentes se concretize a Renamo propôs
mediação internacional, o que foi prontamente rejeitado pela Frelimo. Só que a
Renamo continua firme na sua posição de governar as províncias onde habitualmente
a população vota a seu favor. Não se trata dum pedido, mas duma exigência. A Frelimo
terá que ceder, a bem ou a mal, embora de preferência a bem.

Além do mais, se a Frelimo quer negociações sérias, terá que aceitar a mediação
internacional. Para a Renamo os mediadores deverão ser a África do Sul, a Igreja
Católica e a União Europeia.

A Frelimo rejeita de novo, mas os resultados desfavoráveis dos combates obrigam-na a


aceitar as condições da Renamo. Foi então criada uma comissão mista para preparar o
encontro de alto nível, que elaborou a agenda dos pontos a serem debatidos.

A Renamo apresenta dois pontos. Quer governar as seis províncias do centro e norte; e
quer integrar os seus militares nas FDS, com postos de comando.

A Frelimo também tem dois pontos. Quer um cessar-fogo; e quer desarmar a Renamo.
Para a Renamo a sua governação nas seis províncias pode ser concretizada por meio
de governadores e restante elenco indicados pelo Partido e dotados de poderes de
governação de acordo com o programa do Partido.

Sem saída, a Frelimo ensaia uma aceitação dos pontos de agenda. Já agora, também
quer os seus mediadores, e indica um ex-presidente da Tanzania, um ex-presidente do
Botswana e um ex-membro do governo britânico.

A comissão mista reúne-se com os mediadores e iniciam-se as conversações. Após


alguns passos à frente e outros para atrás por parte da Frelimo, a comissão por fim
produz um documento sensacional: a comissão e os mediadores vão produzir uma
proposta de lei para que a Renamo possa indicar os seus governadores nas seis
províncias do centro e norte onde reivindica ter ganho as eleições em 2014.

O coração do povo “vira rubro” de euforia. Mas já se conhece a Frelimo. Costuma


rasgar os acordos. Será desta vez?

De facto, a Frelimo já veio ao público desmentir o que assinou nas conversações.


“Como pode a Renamo afirmar que ganhou as eleições naquelas províncias? Só porque
teve mais votos?”, pergunta Filipe Nyusi publicamente. (?!).

Perspectivas para a paz


A paz em Moçambique continua um objectivo remoto para o seu povo. Tudo porque
existe um grupo de pessoas que assaltaram o poder desde o tempo da luta armada
pela independência de Moçambique e que recusa abandonar este poder.
O Acordo Geral de Paz de 1992 foi uma oportunidade excelente para se pôr fim à
guerra e desenvolver este país que tanto potencial tem para ser um abrigo seguro para
o seu povo e para todos aqueles que fogem do terror nas suas próprias terras e
procuram refúgio.

No entanto, a Frelimo preferiu não cumprir com o acordo e a guerra voltou. O Acordo
de Cessação de Hostilidades Militares de 2014, que incluía uma amnistia para evitar
futuras perseguições políticas, foi a segunda oportunidade para Moçambique ter paz
definitiva e desenvolver um país de sonho. Mas a Frelimo, mais uma vez, não cumpriu
com o acordo. Não acreditou na paz e na amnistia. Portanto, estamos em guerra.

O que irá acontecer agora? Será que a Frelimo vai assinar o terceiro acordo e restaurar
a paz? Aceitar não matar o Presidente Afonso Dhlakama e oferecer-lhe as garantias
que ele pede para se manter vivo em Moçambique e sem receio de ser morto pelos
esquadrões da morte?

Os actos da Frelimo até agora são duvidosos. Continua a bombardear Gorongosa, onde
suspeita encontrar-se o Presidente Dhlakama. Continua a querer matar os membros
da Renamo e o seu líder. Poderá haver paz, mesmo que consiga estes objectivos?

Só a Frelimo é que poderá responder a esta questão. Ou então o povo. O povo que
decida o que quer e diga-o abertamente à Frelimo. O povo não deve ficar à espera da
Renamo para liquidar os membros da Frelimo da mesma maneira como eles fazem aos
membros da Renamo.

A Renamo não tem esquadrões da morte treinados pelos norte-coreanos como a


Frelimo tem. Porque para matar pessoas como a Frelimo mata, é preciso lavar o
cérebro dos membros dos esquadrões da morte, para estes obedecerem cegamente
sem se revoltarem.

Ora a Renamo não esta capacidade técnica. Qualquer guarda armado da Renamo que
queira matar a sangue frio uma pessoa desarmada não vai ter coragem de o fazer. Os
guardas da Renamo são simples camponeses habituados a viver com as comunidades
pacíficas e em comunhão com a Natureza. Não são assassinos rancorosos. Pensam nas
suas famílias e na causa do povo quando forçados a combater.

O povo não deve ter medo de ir às ruas manifestar-se pacificamente mas com firmeza.
Como o fazem os outros povos civilizados e conseguem.

Cabe também à Comunidade Internacional o papel de forçar a Frelimo a ceder. A


guerra não é do interesse de ninguém. Já há guerra suficiente no mundo. Que deixem
de alimentar a Frelimo com dinheiro para matar o povo, a Renamo e o seu presidente,
Afonso Macacho Marceta Dhlakama.

FIM

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