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Era Pré-Colonial
Até 1875 o continente africano era politicamente constituído por estados soberanos,
com a excepção de alguns estados no norte, os quais estavam avassalados ao Império
Otomano, designadamente o Egipto, a Líbia, a Tunísia, a Argélia, a Mauritânea e o
Marrocos. Os restantes estados mantinham relações de igualdade com todos os outros
estados do mundo – eram soberanos, portanto.
O comércio de escravos durou cerca de trezentos anos, até 1875, início da era colonial.
Do comércio de escravos resultaram enormes traumas e revoltas, porque eram os
próprios chefes africanos, imbuídos do espírito da tirania, que ordenavam as caçadas
de captura de escravos em vastas quantidades para serem vendidos aos europeus.
De acordo com os historiadores, a degradação do africano neste período foi tanta que
passou-se a desenvolver o racismo, algo que nunca existiu antes.
Era Colonial
Nas duas últimas décadas do século 19, até à primeira década do século 20, os estados
africanos foram perdendo a sua soberania perante as forças militares das potências
europeias e transformados em colónias. Com efeito, a partir de 1875, a Inglaterra,
França, Bélgica, Espanha, Alemanha e Itália invadiam e colonizavam a África.
Além de não terem acesso aos órgãos do poder do Estado os africanos eram
igualmente impedidos de aceder aos serviços básicos de educação e saúde.
Esta filosofia teve um impacto enorme na política mundial, porque sinaliza o caminho
inevitável para a reconquista da dignidade humana do africano, a erradicação do
racismo e, consequentemente, a promoção do nacionalismo africano.
Mas neste processo a Frente foi contagiada por lutas tribais e ideológicas, que se
manifestou na forma de luta intestina entre as tribos do sul e do norte, e entre os que
defendiam o capitalismo e os que lutavam pelo socialismo.
Os militantes das tribos do sul, apoiados pelo bloco socialista, foram mais fortes e
tomaram a direcção da Frente, assassinando os opositores mais importantes.
Moçambique conquista a sua independência em 1975, contendo as sementes do ódio
racial e tribal.
Economia socialista
Ao contrário do que esperavam os povos colonizados ao conquistarem as suas
independências, raramente os novos dirigentes, provenientes dos movimentos de
libertação, governavam com agendas de desenvolvimento verdadeiro para as
populações. Dum modo geral, estas sociedades, recém-libertas do jugo colonial,
sofriam de pobreza absoluta, o que era agravado pelo analfabetismo e pela falta de
recursos humanos qualificados para operarem os insuficientes serviços de educação e
saúde.
O pior erro da política social da Frelimo foi a da nacionalização do ensino. A nova lei
proibia o ensino privado. Somente o Estado tinha autoridade para ensinar. E o que se
propunha ensinar era o socialismo científico, a formação do homem novo forjado na
luta de classes, na aliança operário camponesa, na ideologia marxista-leninista.
Quaisquer outras formas de escola, incluindo as escolas de artes e ofícios nas zonas
rurais, foram banidas. Estas escolas, em geral, pertenciam a organizações religiosas, o
que feria a política de educação da Frelimo.
As populações rurais e das periferias das cidades deixaram de ter acesso ao ensino de
técnicas básicas como carpintaria, cerâmica, curtumes, produção de adubos,
construção e manutenção de poços, alpendres, oficinas, diques, represas, taludes,
enfim, todos os objectos pequenos e grandes que se podem construir ou fazer com os
materiais locais. O analfabetismo embrutecia a população moçambicana.
O grupo nacionalista, liderado por André Matade Matsangaíssa, que era coadjuvado
por Afonso Macacho Marceta Dhlakama, verificando que não havia possibilidade de
diálogo com o regime da Frelimo, deu início à luta armada para a instauração em
Moçambique duma economia de mercado, numa sociedade de democracia
multipartidária, Estado de direito e justiça social.
A Frelimo respondeu com uma guerra cruel contra as populações, queimando
centenas de milhares de casas em todo o país, alegando que era para as intimidar a
não apoiarem a Renamo. O resultado foi o êxodo das populações para os países
vizinhos à procura de abrigo, criando uma grande crise de refugiados.
Nesta luta pela democracia tombaram muitos heróis, entre eles, o fundador, o
primeiro comandante e Presidente da Renamo, André Matade Matsangaíssa. Deu
prosseguimento à luta Afonso Macacho Marceta Dhlakama, como comandante e
Presidente da Renamo.
Acordo Geral de Paz de 1992, Joaquim Chissano, Eleições de 1994, 1998, 1999
A 4 de Outubro de 1992, a Renamo e o governo da Frelimo, agora sob a direcção de
Joaquim Alberto Chissano, assinaram em Roma o Acordo Geral de Paz. Por este acordo
a guerra, que durou dezasseis anos, terminava e o país abraçava, enfim, a democracia
multipartidária sob a garantia duma Constituição.
A vitória da Renamo era antecipadamente festejada pelo povo. Mas para grande
espanto de todos, a Frelimo e o seu candidato Joaquim Chissano apresentam-se como
vencedores. Tinham recorrido à fraude para obter a vitória.
Perante esta situação, a Renamo ou pegava em armas de novo para repor a justiça
eleitoral ou submetia-se à injustiça para preservar a paz e dar esperança à democracia.
Esta última posição, defendida pelo Presidente Dhlakama, prevaleceu. A Renamo
optou pela luta dentro do parlamento.
A Renamo avisou que estava a chegar ao seu limite de tolerância. A democracia estava
em perigo. Mas as frágeis instituições democráticas do país já estavam infiltradas por
militantes da Frelimo, tornando-as instrumentos dóceis aos seus desígnios.
Infelizmente, cedo se verificou que a Frelimo impõe restrições aos operadores que não
exibam o cartão de membro do partido e, por outro lado, canaliza às ocultas todos os
recursos que dispõe para esses membros dominarem os mercados.
A pobreza do povo continua e até vai piorando. Em 2004 o Banco Mundial anuncia que
95% da população rural moçambicana sofre de subnutrição.
A Bancada Parlamentar da Renamo denuncia que o país está a ser desflorestado de
maneira criminosa, aumentando a pobreza da população, pondo em causa a qualidade
de vida e o desenvolvimento sustentável.
O que inquieta os observadores mais atentos é que a Frelimo não cumpre com o
estipulado no Acordo Geral de Paz – não atribui estatuto policial aos elementos da
Renamo encarregues da segurança dos seus dirigentes. Ao infringir o Acordo de Paz, a
Frelimo ameaça a paz, isto é, prepara-se para uma guerra contra a Renamo.
A Cidade da Beira foi palco duma dura luta para impedir a concretização dos inúmeros
ilícitos eleitorais com que os agentes da Frelimo tentavam manipular os resultados.
Por fim, a Frelimo rendeu-se. A Renamo-União Eleitoral ganhava na Beira. Ganhou
também em Marromeu, Ilha de Moçambique, Angoche e Nacala. Em vários municípios
alguns membros da Renamo conquistaram assentos nas respectivas autarquias, mas
em grande desvantagem em relação à Frelimo.
A tomada de posse da oposição nas autarquias foi acolhida com muito entusiasmo
pelas populações locais, as quais juraram que nunca mais a Frelimo lá voltaria.
Logo se notaram mudanças substanciais na governação municipal. O lixo das ruas foi
rapidamente removido e os salários em atraso pago aos trabalhadores. Muitos
agentes da Frelimo tentavam sabotar os esforços de melhoria das condições de vida
dos munícipes.
Na Beira, a caldeira de alcatrão para o tapamento de buracos das ruas, que o Conselho
Municipal encontrou abandonada num terreno baldio e conseguiu recuperar, acabou
por ser sabotada com açúcar no tanque de combustível do motor. Era a única caldeira
que a cidade tinha.
Só o ódio pode motivar uma sabotagem que afecte a vida duma cidade inteira. Pois os
agentes da Frelimo nas cidades governadas pela Renamo realizaram inúmeras acções
para as prejudicarem.
As tampas de ferro das sarjetas eram roubadas e vendidas nas sucatas, apesar dos
apelos das autoridades municipais para que os sucateiros não comprassem aqueles
materiais. Embarcações encalhadas nas praias para impedir a erosão costeira sofriam a
mesma sorte. Tudo era feito para fazer mal ao povo governado pela oposição, pela
Renamo.
A fraude necessária para chegar ao poder é a maior e jamais vista. O uso dos meios do
Estado e os abusos do poder são feitos despudoradamente. Impera a corrupção e a
impunidade.
Desta vez a Frelimo aperfeiçoa e aplica uma técnica de crime eleitoral que já tinha
ensaiado antes. Durante a campanha eleitoral os delegados de bairro da Renamo são
presos, acusados de fomentarem a violência entre os concorrentes. Depois estes
delegados são rapidamente transferidos para outros distritos, para dificultar a
assistência. Só no fim do processo eleitoral são soltos. Alguns, contudo, ficam
esquecidos nas celas.
Quando tomou posse como presidente da autarquia Daviz Simango encontrou uma
cidade cheia de lixo e esgotos nas ruas, trabalhadores municipais com salários
atrasados, dívidas e cheques do Conselho Municipal sem cobertura na praça, estradas
em péssimo estado de conservação, principalmente as que servem a chamada zona
industrial onde estão concentradas a maior parte das empresas.
O lixo nas ruas foi removido e a cidade começou a respirar outro ar. O que mais se
poderia pedir à primeira governação da Renamo?
Daviz Simango de seguida abordou a União Europeia sobre o projecto dos esgotos e foi
bem acolhido. Poucos meses depois assinavam um contrato de cinquenta e dois
milhões de euros para a reabilitação da rede de esgotos. A Frelimo espumava de raiva.
Infelizmente, esta história não tem um final feliz. Daviz Simango, que todo o mundo
livre glorificava, incrivelmente, mostrou ser um grande corrupto. Afinal vendia
terrenos e fazia fortunas nisso.
O gestor Daviz Simango comportava-se como tecnocrata, em que ninguém mais sabia
nada sobre governação, apenas ele. Os membros da Renamo foram logo
marginalizados, especialmente os membros da Assembleia Municipal, que ele
manifestamente desprezava.
Daviz Simango mostrou ser avesso às leis. Segundo ele, cumprir com as leis é perder
tempo. Ele conhece melhores caminhos para chegar mais rapidamente ao resultado
desejado. O Partido nunca era consultado em nenhuma matéria. Escolheu o seu
elenco fora do Partido. E as pessoas por ele escolhidas eram quase todos membros...
da sua família.
O edil não se preocupou em fazer cumprir com a lei comercial, que proíbe a
convivência no mesmo espaço ao comércio a grosso e a retalho. O resultado é a
desorganização dos mercados e a proliferação de vendedores de rua e de passeio na
cidade.
Daviz Simango lança uma campanha de promoção da sua própria imagem como
presidente da Renamo. Os membros do Partido dividem-se.
Em 2008 o Partido decide que Daviz Simango não pode concorrer para o segundo
mandato da Beira. Como agente do Partido ele falhou na implementação das políticas
de governação centro-direita. Com efeito, a sua governação identifica-se com o
centro-esquerda, que é a Frelimo, embora a supere em capacidade de realização.
Com esta candidatura Daviz Simango viola a lei e deveria perder o mandato que corria.
A Renamo apresenta a devida denúncia mas a Frelimo rejeita. Favorece-a a discórdia
na Renamo.
Daviz Simango recebe imenso apoio em todo o país e mesmo fora. Ganha as eleições
para a autarquia da Beira de 2008 confortavelmente. A Renamo obtém quase metade
dos assentos da Assembleia Municipal mas a Frelimo fica com a maioria, embora
escassa. Tempos amargos esperam a Renamo.
A economia, que se pretendia que fosse de mercado, caracteriza-se cada vez mais
como economia de planificação centralizada, socialista como nos velhos tempos. Só
tem acesso ao mercado quem é militante da Frelimo.
Quadros da função pública são afastados dos seus cargos quando identificados como
militantes ou simpatizantes da oposição.
Milhares de camiões ficam parados ao longo das estradas do país. Este problema
favorece a prostituição das jovens ao longo das estradas. O índice de HIV-Sida sobe
assustadoramente.
A comunicação social é dominada por agentes da Frelimo que tudo fazem para
denegrir a imagem da Renamo e do seu presidente, o qual passa a ser apresentado
como um palhaço. O vexame é intolerável.
Foi a gota que fez transbordar o vaso. Os membros saíram dali a jurar trazer os mais
novos para a vingança. À noite regressaram acompanhados por guardas da segurança
da Renamo. Capturaram as armas, mataram e feriram alguns militares das FIR e foram
embora. Estava declarada a guerra. Estava-se em Agosto de 2013.
Mas em alguns aspectos Daviz Simango não cede. O seu sistema de gestão de dívidas é
rigorosamente seguido de perto. Não há devedores que se queixem de burla pelo
Conselho Municipal. Todos os cheques têm cobertura. Os cofres do município são
sólidos.
Na política de infraestruturas Daviz Simango é surpreendentemente desastrado.
Ordena obras de protecção costeira que se revelam grandes consumidoras de recursos
mas que nada fazem para proteger a cidade das investidas do mar. Os seus projectos
falham redondamente, apesar de bem aconselhado por técnicos competentes. Os
doadores internacionais ficam inquietos.
Na política de trabalho Daviz Simango revelou ser de tendência comunista. Procura por
todos os meios que as obras sejam realizadas por administração directa do Conselho
Municipal em detrimento do empresariado local. Para tal emprega uma força de
trabalho de milhares de pessoas. Estas pessoas e suas famílias são a sua garantia de
voto em pleitos eleitorais.
As relações de Daviz Simango com os membros dos outros partidos são de hostilização
– como a Frelimo também o faz, argumenta ele. Os membros da Renamo são as
maiores vítimas da sua hostilidade. Na Assembleia Municipal recusa qualquer apoio da
Renamo contra a Frelimo. Para ele Renamo e Frelimo são a Frenamo. Mas na verdade
a Bancada da Renamo na Assembleia Municipal, apesar de criticar a sua governação,
nunca votou, ao lado da Frelimo, contra os seus actos administrativos.
Ainda antes de todas as pessoas se terem ido embora as FIR, apoiadas pelas Forças
Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) iniciaram um bombardeamento com
armas pesadas, com o objectivo de assassinarem o Presidente e o maior número de
pessoas ali presentes. Entre os vários mortos, encontrou-se o deputado da Renamo
Armindo Milaco. O Ministro da Defesa era então Filipe Jacinto Nyusi.
A partir daquele momento a guerra desenvolveu-se com intensidade furiosa. As forças
de segurança da Renamo rechaçaram o combinado FIR e FADM e desdobraram-se para
as outras províncias.
A Frelimo entrou em pânico. Assim como a opinião pública manipulada pela Frelimo.
Afonso Dhlakama deixou de ser o palhaço. A situação ficou séria. A Frelimo sentiu-se
ameaçada.
Eleições 2013
Em 2013 realizavam-se as eleições autárquicas. A Renamo, reconhecendo que a lei
eleitoral e os órgãos eleitorais permitiam que a Frelimo realizasse impunemente
fraudes para ganhar as eleições, decidiu abster-se.
A opinião pública vaticina que o MDM vai substituir a Renamo no processo político do
país. O pleito eleitoral de 2014 será o teste decisivo.
Todavia, a pressão militar da Renamo acabou por obrigar a Frelimo a ceder. A Frelimo
aceitou rever a lei eleitoral de modo a permitir que os membros da oposição façam
parte dos órgãos eleitorais. Mais, aceitou que os militares da Renamo sejam
integrados nas Forças de Defesa e Segurança.
O novo pacote eleitoral foi prontamente aprovado pelo Parlamento, permitindo que a
Renamo se inscrevesse a tempo para as eleições. Preparou-se um encontro, em
Maputo, do Presidente Afonso Dhlakama e do Presidente Armando Guebuza para
assinarem o acordo de fim da guerra.
Faz parte do acordo de fim da guerra uma amnistia parcial, para permitir o sossego
social, a normalização da vida no país e impedir perseguições políticas.
A Frelimo, mais uma vez, recorreu a todos os truques para evitar a sua óbvia derrota.
Desde o recenseamento eleitoral até à proclamação dos resultados pelo Conselho
Constitucional, o processo decorreu cheio de ilícitos eleitorais. Mas desta vez a Frelimo
estava descoberta, porque os órgãos eleitorais, o Secretariado Técnico da
Administração Eleitoral (STAE), assim como as comissões de eleições a nível distrital,
provincial e nacional, tinham quadros da Renamo e do MDM, os quais testemunhavam
os procedimentos criminosos da Frelimo.
Estas declarações públicas ocorrem ainda antes da proclamação oficial dos resultados
pelo Conselho Constitucional, a única autoridade no país com competência para tal.
Tratava-se pois, em direito internacional, duma ingerência nos assuntos internos dum
país soberano.
Esta sequência de actos ilegais da Frelimo na validação duma fraude eleitoral, ajudada
por países europeus, vai levar o país à guerra.
A Renamo anuncia que a solução da crise passa pela instalação dum governo de
gestão, com ministros indicados pelos partidos, com a missão de gerir o país até que
sejam preparadas as condições para eleições livres, justas e transparentes. A Frelimo
rejeita.
Nyusi
No discurso de tomada de posse como Presidente da Repúbica Filipe Nyusi promete
praticar um governo inclusivo e obediente aos desejos do povo, o que se poderia
interpretar como o desejo de respeitar o Estado de direito.
A Renamo, mesmo assim, não reconheceu este governo nem a maioria falsa da
Bancada da Frelimo na Assembleia da República, por serem o resultado de fraude
eleitoral.
Este era o meio-termo que a Renamo propunha para se resolver a crise pós-eleitoral.
O MDM apoiou o projecto. A Frelimo reprovou. Ficou claro que a Frelimo não estava
interessada na paz.
Economia e sociedade
A economia de Moçambique piorou o seu desempenho a partir de 2013 devido ao
conflito que opõe a Renamo e a Frelimo, que deixa os operadores económicos, tanto
nacionais como estrangeiros, inquietos e indecisos sobre investir ou não no país.
O Estado já não encontra recursos financeiros para levar a cabo os projectos a que se
tinha proposto realizar, incluindo para pagar as empresas nacionais que já tinham
prestado serviços e fornecidos bens ao Estado.
Desenha-se uma crise financeira e económica pela frente. Há que encontrar soluções.
Mas as soluções exigem uma nova abordagem da economia, dos mercados e do
funcionamento da sociedade, algo que a Frelimo se mostra incapaz de fazer.
O Povo continua a viver na miséria enquanto uma elite associada à Frelimo vive no
fausto, insensível ao sofrimento das massas populares. Parece colonialismo da classe
governante sobre as classes desfavorecidas da população.
É evidente que a Renamo não pode continuar a ser desprezada como actor político no
país e os comentadores políticos mais audazes levantam as suas vozes na comunicação
social. Começam ameaças de morte, que logo se verifica serem protagonizadas por
elementos ligados ao governo da Frelimo.
Ataques ao Presidente da Renamo e opositores do regime
Em Janeiro de 2015 é assassinado a tiro Gilles Cistac, um franco-moçambicano
constitucionalista e académico reputado, que ousou explicar publicamente que a
descentralização nas províncias, conforme proposto pela Renamo, nada tinha de
inconstitucional.
Entretanto Nyusi inicia um discurso estranho, em que elogia o método angolano para
encontrar a paz. Visita Angola e lá proclama que vai implementar o método angolano.
O país fica gelado. O método angolano viabilizado pelo MPLA consistiu no assassinato
do dirigente da oposição, Jonas Savimbi, ao mesmo tempo que oferecia benesses aos
seus generais para os acalmar.
Por milagre divino o Presidente Afonso Dhlakama escapa com vida. Nos combates
morrem militares de ambos os lados, mas os agressores são rechaçados com pesadas
baixas e deixam armas no solo.
Ficou assim provado que a Frelimo foi a autora das emboscadas, algo que sempre
negara na vã tentativa de fazer crer ao público que uma terceira força armada,
composta por dissidentes da Renamo e independente do governo, protagonizava os
ataques contra a Renamo.
As populações são violentadas e seus bens saqueados pelas FIR, FADM e mercenários
estrangeiros contratados pelo regime. O Malawi começa a receber refugiados, que
acusam a Frelimo de atrocidades contra as comunidades e população.
O país está em guerra, uma guerra injusta imposta ilegalmente pela Frelimo contra o
povo que, apesar de tudo, resiste a ser governado pela Frelimo, razão pela qual
sempre têm votado na Renamo e no Presidente Afonso Dhlakama.
Comunicação Social
A comunicação social oficial é controlada pelo regime. Os operadores são obrigados a
reportar que os ataques e a atrocidades são perpetradas pelos “homens armados da
Renamo”. Ultimamente começam a referir-se aos “bandidos armados” da Renamo,
como no tempo da guerra pela democracia.
Uma das piores formas de retaliação foi o fecho de fontenárias. A população assim
punida volta-se contra a Renamo, exigindo uma reacção armada que restabelecesse os
seus direitos. Era assim que a população se expressava nos comícios com o Presidente
Dhlakama. Ou a Renamo fazia a guerra e exterminava a Frelimo ou cortava o País pelo
Save, declarando a independência do centro e norte.
Desde que recomeçaram os confrontos militares em 2015 as FDS, com o apoio dos
seus esquadrões da morte, têm praticado a caça ao homem nas províncias centrais do
país com o objectivo de extirpar por completo a Renamo e o seu líder, o Presidente
Afonso Dhlakama.
As delegações políticas da Renamo são cercadas pelas FDS sempre que os membros
procuram reunir. A Frelimo encarrega-se de incendiar algumas destas delegações.
Mas as atrocidades e violações dos direitos humanos pela Frelimo abrangem também
população civil. As comunidades interiores estão a ser alvo de autêntico genocídio por
parte das FDS e dos esquadrões da morte.
A imprensa nacional denunciou, em 2015, a existência de campos de refugiados
moçambicanos no Malawi, um dos quais, Kapise, que já albergava milhares de
pessoas.
Valas Comuns
Em meados de 2016 foram reportados, pela imprensa estrangeira e secundada por
alguma imprensa nacional, a descoberta de valas comuns em Sofala e em Manica. A
localização das valas foi revelada por camponeses.
Valas comuns são consideradas, pelo direito internacional, como sendo sepulturas
com mais de três corpos vítimas de execuções sumárias e constituem uma violação
grave dos direitos humanos. O governo dum país com valas comuns pode sofrer
sanções pela Organização das Nações Unidas e membros do governo podem ser alvo
de mandatos de captura pelo Tribunal Penal Internacional.
Por esta razão a Frelimo viu-se na necessidade de criar uma comissão parlamentar de
inquérito para encobrir a sua culpa. A comissão foi constituída e enviada a Manica e
Sofala, ostensivamente à procura das valas comuns. A Renamo, sabendo de antemão
que a Frelimo ensaiava uma farsa, recusou-se a tomar parte na comissão, alegando
que nela não estavam incluídas outras entidades credíveis que pudessem testemunhar
com isenção.
Com efeito, a comissão de inquérito, por força da lógica da Frelimo, foi composta
quase exclusivamente por deputados da Frelimo e presidida pelo Deputado Edson
Macuácua. Nesta comissão a oposição fez-se representar unicamente pela deputada
Sílvia Cheia, do MDM.
A Deputada Sílvia Cheia, do MDM, denunciou que as valas comuns existem de facto.
Mas ela estava em minoria. Numa comissão ganha a maioria, e a maioria aqui só podia
ser a Frelimo. Melhor teria sido que ela não tivesse tomado parte na comissão. Uma
comissão constituída somente pela Frelimo não seria válida e os seus resultados
seriam nulos.
Em Agosto de 2016 a Liga dos Direitos Humanos, presidida pela Dra. Alice Mabota,
lança o seu relatório sobre os refugiados moçambicanos no Malawi, onde denuncia
que a causa da procura de refúgio pela população “prende-se com as sistemáticas
violações e abusos de direitos humanos protagonizados pelas FDS, no âmbito da
tensão político – militar que opõe o Governo e a Renamo desde 2015”.
A Renamo reagiu a este relatório exigindo que todos aqueles que praticam atrocidades
contra a população sejam exemplarmente julgados e pede que as Nações Unidas
investiguem estes casos.
Dívidas ocultas
Em Abril de 2016 o jornal norte americano Wall Street Journal, que reporta sobre as
finanças mundiais, revela que Moçambique está envolvido num escândalo financeiro
de grandes dimensões.
Estas revelações foram confirmadas pelo FMI, Banco Mundial, Reino Unido,
Dinamarca, Suécia, Portugal, etc.
A Bancada da Frelimo rejeitou esta exigência e impediu que naquela sessão o governo
se apresentasse ao povo a explicar como contraíra, sem a autorização da Assembleia
da República e em violação da lei e da Constituição, dívidas ilegais e as escondera do
conhecimento público enquanto prometia aos credores que o Estado assumia as
dívidas e que iria pagá-las.
A reacção da Comunidade Internacional foi severa para com a Frelimo. O FMI e todas
as outras instituições financeiras suspenderam mesmo os financiamentos de apoio ao
Governo, obrigando-o a ir ao Parlamento explicar o que a Renamo, todos os outros
partidos e a própria sociedade civil exigiam.
A sessão de explicação do governo em sede do parlamento foi um espectáculo
vergonhoso. Segundo o governo, secundado pela Bancada da Frelimo, a dívida tinha
de ser secreta porque “o país estava em guerra contra a Renamo, e a Renamo estava
no parlamento”. Além do mais, “ter dívidas públicas é normal, quem não deve?”
“Esta dívida deve ser paga pelos próprios que a contraíram, os governantes da Frelimo
desde 2013”, grita-se nas ruas. Outros transeuntes gritam “O lugar do ladrão é na
cadeia”.
A Frelimo guarda as ruas com blindados e FIR altamente equipados. Ninguém se atreve
a fazer-lhes frente. Isso é tarefa da Renamo. Mas algumas manifestações populares
atrevem-se a ir à rua, com apenas algumas centenas de pessoas. Exigem o fim da
guerra e a responsabilização dos que contraíram as dívidas. Corajosos!
O governo resiste à auditoria internacional forense, mas não se sabe por quanto
tempo. Entretanto, o governo deixou de receber os financiamentos externos para o
seu funcionamento, o que lançou o país na maior crise económica desde a guerra pela
democracia.
O governo da Frelimo não está, de modo algum, estável. Embora seja reconhecido
internacionalmente é olhado com suspeita, porque os relatórios dos observadores
eleitorais denunciaram fraude, e também por causa das violações de direitos humanos
e escândalos financeiros.
A Renamo não reconhece o governo da Frelimo, embora proponha aceitá-lo em troca
de governação das seis províncias do centro e norte do país.
Além do mais, a Renamo e seu líder teimosamente recusam morrer, apesar do grande
investimento militar para acabar com esta praga de oposição, o que leva ao governo
desviar importantes recursos para aplicar o “método angolano”.
O povo não aceita de bom grado ser governado pela Frelimo mais cinco anos. É
sofrimento que nunca mais acaba. A Frelimo pressente a iminência de revolta nas ruas
e mais uma vez desvia recursos preciosos para equipar as forças antimotim.
Sem produção e sem grandes lucros pelas exportações a economia do país perde valor
no mercado internacional, o que se reflecte no valor cambial do metical. De 30
meticais por dólar em 2014, a nossa moeda agora vale perto de 75 meticais por dólar e
continua a desvalorizar-se.
Sem dinheiro o governo não vai conseguir governar, pelo menos como tem estado a
fazer desde sempre, apoiando-se em donativos e doações.
Além do mais, se a Frelimo quer negociações sérias, terá que aceitar a mediação
internacional. Para a Renamo os mediadores deverão ser a África do Sul, a Igreja
Católica e a União Europeia.
A Renamo apresenta dois pontos. Quer governar as seis províncias do centro e norte; e
quer integrar os seus militares nas FDS, com postos de comando.
A Frelimo também tem dois pontos. Quer um cessar-fogo; e quer desarmar a Renamo.
Para a Renamo a sua governação nas seis províncias pode ser concretizada por meio
de governadores e restante elenco indicados pelo Partido e dotados de poderes de
governação de acordo com o programa do Partido.
Sem saída, a Frelimo ensaia uma aceitação dos pontos de agenda. Já agora, também
quer os seus mediadores, e indica um ex-presidente da Tanzania, um ex-presidente do
Botswana e um ex-membro do governo britânico.
No entanto, a Frelimo preferiu não cumprir com o acordo e a guerra voltou. O Acordo
de Cessação de Hostilidades Militares de 2014, que incluía uma amnistia para evitar
futuras perseguições políticas, foi a segunda oportunidade para Moçambique ter paz
definitiva e desenvolver um país de sonho. Mas a Frelimo, mais uma vez, não cumpriu
com o acordo. Não acreditou na paz e na amnistia. Portanto, estamos em guerra.
O que irá acontecer agora? Será que a Frelimo vai assinar o terceiro acordo e restaurar
a paz? Aceitar não matar o Presidente Afonso Dhlakama e oferecer-lhe as garantias
que ele pede para se manter vivo em Moçambique e sem receio de ser morto pelos
esquadrões da morte?
Os actos da Frelimo até agora são duvidosos. Continua a bombardear Gorongosa, onde
suspeita encontrar-se o Presidente Dhlakama. Continua a querer matar os membros
da Renamo e o seu líder. Poderá haver paz, mesmo que consiga estes objectivos?
Só a Frelimo é que poderá responder a esta questão. Ou então o povo. O povo que
decida o que quer e diga-o abertamente à Frelimo. O povo não deve ficar à espera da
Renamo para liquidar os membros da Frelimo da mesma maneira como eles fazem aos
membros da Renamo.
Ora a Renamo não esta capacidade técnica. Qualquer guarda armado da Renamo que
queira matar a sangue frio uma pessoa desarmada não vai ter coragem de o fazer. Os
guardas da Renamo são simples camponeses habituados a viver com as comunidades
pacíficas e em comunhão com a Natureza. Não são assassinos rancorosos. Pensam nas
suas famílias e na causa do povo quando forçados a combater.
O povo não deve ter medo de ir às ruas manifestar-se pacificamente mas com firmeza.
Como o fazem os outros povos civilizados e conseguem.
FIM