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Estruturas Versus Experiência

Novas Tendências na História do Movimento Operário


e das Classes Trabalhadoras na América Latina:
o que se perde e o que se ganha *

Emília V iotti da Costa

A partir de 1980 houve uma grande gem de tipo estrutural e há aqueles que
expansão dos estudos sobre as classes tra­ só buscam reconstituir a “experiência” ope­
balhadoras na América Latina. Entre os rária. Por essa razão, resolvi limitar-me a
livros publicados encontram-se os que analisar as tendências mais recentes dessa
foram escritos a partir das teorias de mo­ historiografia e focalizar apenas a litera­
dernização e de um ponto de vista empre­ tura publicada nos Estados Unidos e
sarial, como por exemplo o trabalho de Inglaterra.
Charles H. Savage Jr. e George F. F. Lom- Do ponto de vista metodológico, a nova
bard [1986], um cuidadoso esíudo etno­ historiografia abandona as abordagens de
gráfico de três fábricas na Colômbia, e tipo tradicional. Essa mudança de orien­
aqueles escritos por militantes de linhas tação resulta em parte da reflexão sobre
políticas as mais diversas, alguns dos quais as novas tendências da historiografia da
continuam a se utilizar de uma perspectiva classe operária na Europa e nos Estados
marxista muito esquemática e tradicional, Unidos (e do movimento contemporâneo
como por exemplo a coleção de ensaios da história do movimento operário nessas
editados por Pablo Gonzales Casanova regiões), e em parte das mudanças políticas
[1984]. Dentro desses limites definidos e econômicas que estão ocorrendo hoje
pelos interesses opostos dos que tem como na América Latina, mudanças que em
meta a luta de classes e dos que almejam alguns países, como Brasil e Argentina, pro­
promover sua colaboração, ou seja, do mi­ jetaram os trabalhadores no centro da
litante de esquerda e do empresário, existe arena política ao mesmo tempo em que
uma enorme variedade de linhas de abor­ puseram em questão as estratégias do mo­
dagem que vão desde o empirismo tradi­ vimento operário tradicional. A nova his­
cional até o novo marxismo. Há autores toriografia representa um rompimento com
que procuram acentuar as semelhanças na o passado.
história do movimento operário em dife­ Essa mudança de tipo de abordagem é
rentes países da América Latina, e há os um fenômeno bastante recente. Em 1979,
que só vêem as diferenças. Há os que o historiador americano Peter W inn obser­
consideram fundamental analisar a expe­ vou em um artigo publicado na Latin
riência operária a partir de uma aborda­ American Research Review que a histo-

* Traduzido do texto apresentado na LASA em 1988 e publicado em inglês na


International Labor and W orking Class History Review, fall 1989.

BIB. Rio <lc Innclro, n. 29 pp. 3-16, 1.“ semestre de 1990 3


riografia do movimento operário na Amé­ ao estudo da cultura operária, e em vez
rica Latina estava correndo o risco de se de focalizar a mão-de-obra organizada,
isolar das correntes intelectuais e ideoló­ volte sua atenção para a grande maioria
gicas mais fecundas e de se reduzir a cro­ dos trabalhadores que nunca chegaram a
nologias institucionais e controvérsias ideo­ fazer parte de um sindicato, encontrou
lógicas. Nesse mesmo artigo Winn propôs eco. Enquanto no passado os historiadores
um novo tipo de história que não se limi­ falavam em estruturas, agora falam de
tasse aos parâmetros estruturais e dados experiência.
estatísticos, às organizações nacionais de Cientistas sociais e historiadores como
trabalhadores (sindicatos) e aos movimen­ Erickson, Peppe e Spalding [1974, IX,
tos grevistas mais importantes, mas também 2:15-24], que no passado tinham enfo­
focalizasse a experiência quotidiana con­ cado a história da classe trabalhadora
creta dos trabalhadores na fábrica e na segundo a perspectiva da teoria da de­
comunidade, seus níveis e estilos de vida, pendência, colocaram-se na defensiva. Em
cultura e consciência, suas divisões inter­ resposta às críticas que lhes foram fei­
nas e relações com outros grupos [Peter tas, argumentaram que esses enfoques não
Winn (1979) XIV:2] — um programa que eram incompatíveis ou mutuamente exclu-
ele pôs em prática com grande sucesso dentes, sendo, em verdade, necessaria­
em seu livro Weavers o f the Revolution. mente complementares. Lembraram a seus
The Yarur W orkers and Chile’s Road to críticos que os trabalhadores eram os
Socialism (1986). No ano seguinte, Eugene autores da sua própria história, mas não
Sofer insistiu no mesmo ponto. Numa re­ segundo condições de sua própria esco­
senha publicada também na Latin A m e­ lha. Por outro lado, afirmaram não ser
rican Research Review [1980, XV, 1:167- possível entender as ações dos traba­
-176], Sofer lamentava que as inovações lhadores sem incorporar às análises os
conceituais e metodológicas que caracte­ conflitos de elites e o papel do capita­
rizavam o trabalho dos especialistas da lismo internacional que limita o campo de
história do trabalho na Europa e nos Esta­ possibilidades abertas aos trabalhadores
dos Unidos que dirigiam sua atenção não latino-americanos [Erickson, Peppe e Spal­
apenas para as lideranças, sindicatos e ding, 1980, XV, 1:1-17]. Charles Bergquist,
partidos, mas para a grande maioria dos outro especialista da história do trabalho
trabalhadores, mesmo aqueles que nunca se na América Latina, insistiu também que
filiaram aos sindicatos, continuasse a ser estrutura e experiência não eram incom­
ignorada na América Latina. Sofer argu­ patíveis ou mutuamente excludentes e pro­
mentava que ao examinar a natureza e as curou demonstrá-lo em livro publicado em
estruturas da vida da classe trabalhadora 1986. A polêmica entre estruturalistas e
de maneira a perceber as relações entre culturalistas converteu-se num tema central
atividades do dia a dia e os movimentos da nova historiografia do trabalho, e entre
políticos, aqueles historiadores tinham os livros publicados recentemente encon­
ampliado nossa compreensão da classe ope­ tramos uma grande diversidade de respos­
rária. Nesse mesmo texto ele fazia votos tas aos problemas epistemológicos levan­
que os historiadores do trabalho na Amé­ tados por esse debate.
rica Latina viessem a seguir esse novo
Um grande número de historiadores
caminho em busca de uma história de
negou validade às tentativas de identificar
baixo para cima, uma história na qual os
padrões comuns à história do trabalho na
trabalhadores falassem por si mesmos e América Latina. Estão mais interessados
fossem vistos como atores conscientes que
nas diferenças do que nas semelhanças e
ajudam a definir a mudança em vez de
preocupam-se mais com conjunturas do
meramente responderem a ela.
que com mudanças estruturais, com deter­
Hoje já se pode dizer que os desejos minações internas do que com determina­
de Sofer foram satisfeitos. Vários livros ções externas. lan Roxborough [1981, 1,
publicados e várias teses escritas na dé­ 1:01-95], por exemplo, dá ênfase à “com­
cada de 80 seguiram esse roteiro. É plexidade e variedade no tempo e espaço”
tempo de avaliar seus resultados. A crítica e critica Spalding não apenas por tentar
de Sofer às análises estruturalistas tradi­ definir padrões comuns ao movimento ope­
cionais, seu apelo a um a história que, em rário em vários países da América Latina,
vez de estudar as lideranças, se interesse mas também por ter veiculado a idéia de
pelas bases, em vez de estudar os sindi­ que os movimentos operários latino-ameri­
catos e os partidos políticos, se dedique canos percorrem as mesmas etapas pelas

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mesmas razões — uma tendência que Rox- contraditórias: de um lado, a emergência
borough atribuiu à teoria da dependência. na Europa e em outros lugares do mundo
Em vez desse tipo de abordagem tradi­ da nova esquerda, as questões levantadas
cional, Roxborough propôs uma outra que pelos grupos comprometidos com o socia­
levasse em consideração muitas variáveis lismo democrático, sua crítica à União
internas: tipos de gestão nos sindicatos, Soviética e aos partidos comunistas e por
grau de integração do mercado de traba­ extensão aos enfoques marxistas-leninistas
lho, grau de homogeneidade da classe ope­ tradicionais, e, de outro, o êxito eleitoral
rária, taxas de rotatividade do trabalho, da direita e dos partidos conservadores na
tipos diversos de corporativismo etc. Nesse Europa e nos Estados Unidos, assim como
ensaio Roxborough reconheceu a utilidade o clima gerado pela guerra fria.
do uso de tipologias, mas as considerou Tudo isso tem levado vários historiado­
prematuras. Estamos longe ainda, disse ele, res interessados no estudo do trabalho na
de podermos descrever adequadamente os América Latina a questionar as interpre­
movimentos operários da América Latina, tações tradicionais e a criticar as práticas
e mais longe ainda, de explicá-los. Esta antidemocráticas das burocracias sindicais
afirmativa traduz um viés empírico comum e as estratégias políticas dos partidos de
à nova história, e postula uma separação esquerda, particularmente dos partidos co­
artificial entre descrição e interpretação, munistas. A nova historiografia reavalia as
esquecendo aparentemente que não existe relações entre as lideranças operárias e as
descrição sem interpretação. Em ensaios bases, privilegiando estas e subestimando
publicados posteriormente [Roxborough aquelas, ao mesmo tempo em que acentua
1984, e 1986, X X I, 2:184-188], como ve­ o caráter espontâneo dos movimentos ope­
remos, ele reviu suas posições. rários. Rejeita também as abordagens que
Seria errôneo pensar que os debates identificam etapas no desenvolvimento
entre ‘'estruturalistas” e “ antiestruturalis- econômico e repudia o conceito de falsa
tas” ou culturalistas refletem conflitos entre consciência. Ao mesmo tempo, valoriza o
marxistas e não-marxistas. Ambas as ten­ papel dos anarquistas no movimento ope­
dências se encontram dos dois lados. Na rário e acentua a importância das condi­
realidade, o debate contemporâneo que ções subjetivas, da ideologia e da cultura
parece estar dividindo os historiadores pro­ política no movimento operário. Seguindo
cede em grande parte de conflitos den­ o caminho traçado por Raymond Williams,
tro das próprias esquerdas. A história do a nova geração de historiadores questiona
movimento operário tem sido o campo o uso dos conceitos de infra e superestru­
favorito das esquerdas e muitos estudos tura [Williams, 1977], e alguns chegam
recentes sobre as classes trabalhadoras a descartar outros dois conceitos marxistas
latino-americanas inspiram-se em E. P. básicos: a determinação material das ideo­
Thompson e Raymond Williams. Mas logias de classe e a relação entre as forças
alguns dos temas que dividem os histo­ produtivas e as .relações de produção. Em
riadores hoje remontam pelo menos às conseqüência desse revisionismo, aspectos
questões levantadas por Sartre em 1960 e que os historiadores do passado freqüen­
aos debates que a partir de então tiveram temente consideraram irrelevantes por se­
lugar entre meios de esquerda. Vista dessa rem superestruturais adquiriram uma po­
maneira, a polarização entre os historia­ sição central na nova historiografia.
dores que se dedicam a estudar a história Muitos dos historiadores revisionistas
do trabalho na América Latina apenas re­ repudiaram também o uso de modelos teó­
produz um fenômeno maior, que pode ser ricos a priori (principalmente modelos
também identificado em outros campos da macroeconômicos derivados seja da teoria
história, como as recentes controvérsias da modernização ou da teoria de depen­
sobre o abolicionismo inglês e o cartismo dência) e voltaram-se para o estudo do
sugerem, e as publicações da History que consideram formas concretas de com­
Workshop documentam am plam ente1 [An- portamento, empiricamente demonstráveis,
derson, 1980]. as percepções e sentimentos da classe tra­
Quando situamos o debate historiográ- balhadora. Ao descartar uma noção “essen-
fico sobre a história das classes trabalha­ cialista" e estática de classe social, e ao
doras dentro dessa perspectiva mais ampla, tentar evitar explicações reducionistas da
fica evidente que estamos enfrentando uma consciência de classe, alguns dos historia­
importante crise epistemológica. Essa crise dores novos encaram com suspeita aqueles
tem como contexto algumas tendências que insistem em dizer que as condições

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“objetivas” definem os parâmetros no inte­ indivíduos como “portadores e pontos de
rior dos quais a consciência dos trabalha­ interseção de uma acumulação de contra­
dores se constitui e as ações dos trabalha­ dições, muitas das quais não são contra­
dores têm lugar. Etapas do desenvolvimento dições de classe” . Desta forma, os novos
econômico e do processo de acumulação historiadores têm mais consciência do que
do capital, mudanças no tamanho das fá­ os que os precederam de que existem várias
bricas, melhorias tecnológicas, mudanças formas de subjetividade humana, distintas
na composição da força de trabalho, a daquela que nasce da situação de classe.
importância relativa do setor industrial, Por essa razão esses historiadores estão
formas de dependência econômica, a natu­ mais preparados para reconhecer a natu­
reza do sistema político, conflitos entre reza contraditória da consciência de classe
elites, formas de imperialismo, todos aque­ operária. Em suas análises, a posição que
les fatores que no passado eram conside­ tradicionalmetne se estabelecia entre co-
rados cruciais para o entendimento da optação e resistência, e entre luta pela
consciência dos trabalhadores e seu com­ sobrevivência e luta política, tende a desa­
portamento político já não são conside­ parecer.
rados tão significativos. Os historiadores Em seu estudo sobre o peronismo, por
da nova geração tendem a dar mais impor­ exemplo, Daniel James mostra que a leal­
tância ao político do que ao econômico dade a um movimento cuja ideologia for­
e privilegiam o ideológico sobre o polí­ mal prescrevia a virtude da colaboração
tico. Em vez de examinar a forma através de classes, a subordinação dos interesses
da qual as mudanças das estruturas eco­ dos trabalhadores aos da nação, a impor­
nômicas, políticas e sociais afetam o mo­ tância de uma obediência disciplinada a
vimento operário e investigar a relação um Estado paternalista, não impediu a
entre formas de acumulação do capital e resistência da classe operária nem a emer­
formação da classe operária, ou o papel gência de uma cultura de oposição entre
do Estado no processo de acumulação de os trabalhadores. A mensagem de Perón
capital e sua política em relação aos tra­ era ambígua. Sua ênfase na colaboração
balhadores, a nova geração de historiado­ de classes beneficiava o capitalismo mas,
res prefere examinar a maneira pela qual ao garantir os direitos dos trabalhadores
a ação dos trabalhadores força a mudança na sociedade e nos locais de trabalho, o
econômica e política. Os temas de inte­ peronismo estabeleceu limites à explora­
resse da nova historiografia são as impres­ ção dos trabalhadores e criou novos m o­
sões subjetivas dos trabalhadores, os vín­ tivos de luta. A resistência dos trabalha­
culos entre práticas políticas e discursos dores, no entanto, não se traduziu numa
políticos, as experiências dos trabalhadores ideologia revolucionária classista sem ambi­
nos locais de trabalho e nos bairros ope­ güidades. A ideologia da classe trabalha­
rários, suas formas de apropriação e rein- dora argentina continha fortes elementos
terpretação da cultura da elite, e a maneira que promoviam integração e cooptação.
pela qual os trabalhadores iníerpretam o James não vê os trabalhadores argentinos
passado e visualizam o futuro. Típicas des­ como vítimas passivas e inexperientes da
sa nova historiografia são as obras de manipulação de Perón, nem tão pouco
Daniel James [1988], William Roseberry como indivíduos pragmáticos seduzidos por
[1986=149-171], Peter Winn [1986], Jeffrey benefícios materiais, mas como atores cons­
Gould [1988] e Adriana Raga [1988]. cientes para quem a mensagem peronista
Na nova historiografia, a ideologia apa­ de dignidade pessoal, cidadania e justiça
rece às vezes como um nexo essencial entre social tinha um grande apelo — principal­
experiência e protesto. A própria noção de mente tendo em vista a falta de outras alter­
ideologia foi reform ulada.2 A ideologia é nativas mais viáveis, fato esse que Daniel
considerada um processo de “ interpelação” James não enfatiza suficientemente. James
[Laclau 1977, James'"'1988]. E, se bem que vê o peronismo não apenas como criação
alguns historiadores da nova geração con­ de um líder carismático, mas como obra
tinuem utilizando o conceito de classe, eles dos trabalhadores, que continuaram a criar
não mais assumem que existe uma relação e recriar seu conteúdo até um ponto em
necessária entre classe e consciência de que o próprio Perón teve dificuldades em
classe, nem consideram a formação da se reconhecer no peronismo que os pero­
consciência de classe um processo linear nistas tinham criado. Assim, se a classe
[Mallon, 1986]. Existem também aqueles operária argentina foi redefinida por Perón,
que, como Ernesto Laclau, consideram os suas próprias políticas foram redefinidas

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pela classe operária. Jeffrey Gould [1987], nificativo para caracterizar a experiência
estudando o somozismo, e John French dos trabalhadores.
[1978], estudando o populismo no Brasil, Apesar da imprecisão metodológica ine­
chegaram a conclusões semelhantes. rente ao conceito de experiência, a nova
Até aqui falei apenas de algumas ten­ história dos trabalhadores contribuiu para
dências da nova historiografia do trabalho. reformular nossa percepção da história da
O que não quer dizer, evidentemente, que classe operária na América Latina. A nova
todas essas tendências aparecem na obra historiografia identificou novas fontes e
de cada um dos historiadores que escre­ fez amplo uso do testemunho oral. De­
veram sobre o movimento operário na monstrou a extraordinária variedade e he­
América Latina. Das várias tendências a terogeneidade da experiência da classe ope­
mais difundida é a preocupação desses rária, ao mesmo tempo em que contestou
historiadores com a “ experiência” dos tra­ as imagens vigentes na historiografia tra­
balhadores. Esse conceito, no entanto, é dicional. Reavaliou, por exemplo, as rela­
difícil de se definir. Quais seriam os com­ ções entre população rural e urbana, argu­
ponentes relevantes da experiência? O mentando que não é válida a caracterização
local de trabalho, a região de moradia, o da população rural como massa passiva
sindicato, as lutas operárias, as relações e que, ao contrário do que se afirmava na
entre os trabalhadores e outras classes historiografia tradicional, as populações
sociais, os partidos políticos, as ideologias, rurais que se deslocaram para as cidades
a cultura política, os discursos políticos, o não foram meras vítimas da manipulação
mercado de trabalho, a composição da de líderes populistas carismáticos, mas
classe trabalhadora, o tamanho das indús­ agentes históricos conscientes e autônomos
trias, as relações entre o Estado e o traba­ capazes de decisões racionais. A nova his­
lho, as formas de acumulação de capital, toriografia também apresenta uma nova
as crises econômicas locais, a recessão imagem das relações entre lideranças sin­
mundial, .a presença do capital estrangeiro? dicais e bases, mostrando que estas não
Não existirá alguma forma de hierarquia são simplesmente massa de manobra. Rox-
entre essas várias experiências, sendo umas borough [1984], estudando os sindicatos
mais determinantes do que outras? Como no México, argumenta que quanto mais
se articulam? Em outras palavras, como se democrática é sua organização, tanto mais
estrutura (constitui) a própria experiência? militantes são os operários, enquanto Da­
Se os trabalhadores têm muitas identida­ niel James [1988], estudando os trabalha­
des, religião, etnia, partido político, classe, dores em Buenos Aires, chegou à conclusão
de que maneira a identidade de classe vem de que foi a passividade dos trabalhado­
a prevalecer sobre outros tipos de identi­ res que num certo momento levou à buro-
dade? cratização dos sindicatos.
Poucos historiadores têm formulado essas A nova historiografia questionou a idéia
questões. Florencia Mallon [1980] foi uma de que os trabalhadores empregados nas
das poucas pessoas a se preocupar com indústrias oligopólicas de capital intensivo
elas. A seu ver, a formação da consciên­ e de propriedade estrangeira constituem
cia de classe depende de vários fatores: uma aristocracia do trabalho3 [Humphrey
a forma de investimento do capital, as (1982) e Keck (1986)], e levantou dúvidas
relações de trabalho e as condições da sobre a noção de hegemonia, mostrando
força de trabalho, a cultura que os traba­ por exemplo que os operários se apropriam
lhadores trazem consigo e finalmente o dos símbolos e discursos das classes do­
curso seguido pelas lutas no local de tra­ minantes conferindo-lhes significados no­
balho. Mallon conclui que, embora de vos [Roseberry (1986) e Gould (1988)].
certa forma cada classe trabalhadora cons­ Ao mesmo tempo, os historiadores revisio­
trua uma consciência histórica e cultural nistas chamaram a atenção para a impor­
única, isto não nos impede de fazer gene­ tância de conflitos de geração no interior
ralizações que se aplicam a um grande do movimento operário e aprofundaram
número de casos. No entanto, quando ana­ nossa compreensão dos mecanismos pelos
lisamos o trabalho da maioria dos histo­ quais os trabalhadores constroem de forma
riadores revisionistas, descobrimos que de seletiva um passado significativo a partir
fato cada um escolhe seu próprio conjunto do presente, inventando uma tradição, para
dc variáveis, cada um tem uma forma di­ utilizar um a expressão utilizada por Eric
versa de selecionar o que lhes parece sig­ Hobsbawn [1983]. [Veja-se Sigaud (1975),

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167-177; Roseberry (1986); Jeffrey Gould olhos dos trabalhadores. Mas o que faz
(1988)]. com que seu livro seja um sucesso é que
Na nova historiografia os trabalhadores ele tem consciência de que a luta dos
aparecem como sujeitos da história em vez operários da fábrica Y arur não se dá num
de simples objetos, tão importantes para vazio, e que a experiência deles não pode
a compreensão da história quanto as elites, ser entendida simplesmente em termos da
cujos limites eles definem. Esta revisão que sua própria subjetividade e testemunho,
amplia de forma significativa o nosso co­ não pode ser apreendida de forma isolada
nhecimento é devida em grande parte a da história do capital e das lutas entre
historiadores que abandonaram as análises capital e trabalho. Os testemunhos dos
“estruturalistas” tradicionais. Mas os estu­ trabalhadores não teriam significado não
dos mais bem-sucedidos são exatamente fosse Winn capaz de ir além dos muros da
aqueles em que o autor conseguiu estabe­ fábrica e dos limites dos bairros operários
lecer uma ponte entre esses dois tipos de para incorporar em sua análise o processo
abordagens que outros consideraram irre­ de industrialização chileno, as organizações
conciliáveis. Um bom exemplo é o estudo operárias nacionais, os partidos políticos,
de Peter Winn. O autor parte do estudo a política nacional, os discursos.
da fábrica, mas não se detém aí; sua aná­ É porque Winn estava a par do debate
lise abarca a história do Chile entre 1930 sobre industrialização na América Latina
e 1985, extraindo dela o que é relevante que pôde fazer perguntas relevantes aos
para entender os trabalhadores e suas lutas. trabalhadores e conseguiu comunicar de
Se tivesse permanecido dentro dos limites forma tão convincente a sua história, acom­
da fábrica e dos bairros operários e se panhando-os através de etapas de desen­
limitasse a escrever a história dos oprimi­ volvimento econômico que vão desde o
dos, se se tivesse preocupado apenas com período de substituição de importações até
a subjetividade e as percepções dos tra­ a era das multinacionais, desde os tipos
balhadores, não teria sido tão bem-suce­ paternalistas de direção empresarial ao
dido. É porque Peter Winn tem acompa­ taylorismo. Ele próprio reconhece que sem
nhado os debates sobre as teorias de estes pontos de referência seria impossível
modernização e d a dependência e pós-de- entender as lutas dos trabalhadores da fá­
pendência, porque se manteve a par das brica Yarur.
discussões sobre a formação do Estado na Entre os novos historiadores da classe
América Latina e não ignora o debate mar­ operária, é comum se exaltar o esponta-
xista contemporâneo que pode conferir um neísmo dos trabalhadores e a importância
significado amplo à história dos trabalha­ das bases operárias e minimizar a impor­
dores da fábrica Yarur. E é por isso que tância das lideranças sindicais e dos par­
o leitor acaba por descobrir não apenas tidos de esquerda — uma tendência sau­
diferenças, mas semelhanças importantes dável para corrigir o excesso contrário, mas
entre a experiência dos trabalhadores da que a longo prazo pode ter conseqüências
fábrica Yarur e a dos trabalhadores de desastrosas, levando os historiadores (e
outros lugares da América Latina. militantes) a negligenciar fatores impor­
Winn mostra como os trabalhadores fo­ tantes na história do movimento operário.
ram protagonistas centrais no drama histó­ Ao descrever a luta dos trabalhadores,
rico que culminou na derrocada de Allen- Winn demonstra de maneira irrefutável o
de. Descreve como nas lutas em prol dos papel importante das lideranças operárias
seus interesses os trabalhadores acabaram e até mesmo dos “burocratas” sindicais,
por expor os limites da agenda política da de quem os trabalhadores inexperientes re­
Unidade Popular e revelaram tensões entre ceberam não só assistência jurídica como
os trabalhadores e as lideranças políticas, instruções sobre como se organizar e ga­
resultantes de diferentes concepções do nhar suas batalhas. H á também no livro
processo revolucionário. Peter Winn critica de Winn numerosas evidências que do­
a historiografia tradicional por que esta cumentam o papel importante desempenha­
parece acreditar que os atores políticos na­ do pelos partidos de esquerda que defen­
cionais foram os protagonistas mais impor­ deram os interesses dos trabalhadores no
tantes dessa história, ignorando a relativa Congresso e ajudaram a criar as condições
autonomia da classe trabalhadora. Assim institucionais necessárias à mobilização po­
como Daniel James [1988], Peter de pular tanto na cidade quanto no campo,
Shazo [1983] e outros, Winn afirma que sem falar na importância dos setores de
seu propósito é ver a história através dos esquerda na formação de uma ideologia

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que contribuiu para a formação da cons­ suas tentativas de subornar os líderes ope­
ciência operária. 4 rários, o renovado sacrifício dos militantes,
De fato, muitos dos operários que se o conflito de gerações dentro do movimento
destacaram como líderes sindicais em Yarur operário, a dependência dos trabalhadores
revelaram que suas “experiências” tinham em relação ao Estado, o papel mediador
sido filtradas através de noções que tinham desempenhado pelos partidos políticos, as
recebido de socialistas ou comunistas. Os ambigüidades e limites das políticas traba­
documentos deixam bem claro que as lutas lhistas da Frente Popular; a importância
dos trabalhadores dependeram também das da política eleitora} na formação de alian­
alianças estabelecidas pelos partidos polí­ ças entre trabalhadores e políticos, o ambí­
ticos de esquerda com outros partidos, e guo papel das classes médias, às vezes
não é por acaso que a maioria das greves aliadas aos trabalhadores, às vezes aos
importantes que tiveram lugar em Yarur seus opressores; as tentativas frustradas
ocorreram quando coalizões de frentes po­ de sucessivos governos na década de 60
pulares, incluindo vários partidos de de resolver o impasse econômico; a cres­
esquerda, estiveram no poder. Finalmente, cente radicalização e mobilização popular
para se compreender a ocupação da fábri­ e finalmente o golpe militar, a repressão
ca pelos trabalhadores, é tão necessário dos trabalhadores, que num curto período
conhecer a política nacional como saber de tempo viram seus salários drasticamente
da experiência dos trabalhadores no local reduzidos e perderam muitos dos privilé­
de trahalho ou nos bairros operários onde gios e garantias legais conquistadas no
se forjaram laços de solidariedade essen­ passado, tudo isso encontra paralelismos
ciais para a ação coletiva. espantosos em outras regiões da América
Latina.
Quando comparamos a experiência dos
trabalhadores chilenos descrita por Winn Por trás dessas semelhanças é possível
com a dos trabalhadores em outros países reconhecer as mudanças no mundo capi­
da América Latina durante o mesmo pe­ talista e na divisão internacional do tra­
ríodo, notamos não somente diferenças balho, as formas de desenvolvimento ca­
como semelhanças surpreendentes. A crise pitalista na América Latina desde os anos
do setor exportador e o impacto da reces­ 30, o processo de formação de classe, as
são dos anos 30; o importante papel do alianças e os conflitos de classe, o pape)
Estado no processo de industrialização e do Estado na acumulação capitalista e
acumulação de capital através de conces­ como mediador entre capital e trabalho.
sões aos empresários de tarifas preferen­ Isto não quer dizer, no entanto, que todos
ciais, isenções tributárias, taxas de câmbio os países seguem o mesmo caminho, ou
especiais etc.; a dependência dos empre­ que o desenvolvimento econômico deter­
sários em relação ao capital e à tecnologia mina a natureza do Estado, ou que a
estrangeira, a transição de formas paterna­ formação de classe é a mesma em toda
listas de administração para o taylorismo, parte, ou que a proletarização e a cons­
o impacto negativo do taylorismo sobre a ciência de classe são processos automá­
força de trabalho, a intensificação da luta ticos. Não há dúvida, no entanto, que a
de classes e a tentativa do Estado de insti­ experiência dos trabalhadores é insepará­
tucionalizar o conflito através da imple­ vel dos processos descritos anteriormente.
mentação de uma legislação trabalhista A tarefa do historiador é precisamente de­
corporativista, em torno da qual novas finir esses processos e suas várias formas
formas de luta operária se organizaram; de articulação.
os problemas criados para o desenvolvi­ Entre os livros publicados recentemente,
mento industrial pelos limites estreitos do nenhum foi tão convincente na sua carac­
mercado interno, a constante necessidade terização das semelhanças e diferenças
das indústrias introduzirem melhoramentos quanto a coleção de ensaios sobre a indús­
técnicos e recorrerem a empréstimos; o tria automobilística na Argentina, Brasil,
endividamento crescente do país, a infla­ México e Colômbia editado por Rich
ção e seu impacto negativo sobre os traba­ Kronish e Kenneth S. Mericle [1984]. Os
lhadores, a formação de conglomerados ensaios iluminam as formas de articulação
agrupando um grande número de empresas entre economia nacional e internacional e
industriais e financeiras, as políticas anti- o papel do Estado no processo de acumu­
-slndicais dos empresários e seu acesso íácil lação capitalista e no controle da força
à imprensa e ao governo, suas práticas bru- de trabalho. O propósito original desses
tnis dc controlar as lideranças operárias. ensaios foi estudai- as indústrias automo­

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bilísticas como exemplos de industrializa­ não fosse acompanhada por um aumento
ção dependente, mas os autores chegaram proporcional de salários.
à conclusão de que as condições internas A leitura desses ensaios publicados por
— as formas através das quais os diferentes Kronish e Miracle demonstra que, apesar
governos trataram de controlar o capital das diferenças significativas entre as indús­
estrangeiro e a natureza do movimento trias automobilísticas nos vários países,
operário — foram ainda mais decisivas do existem padrões comuns importantes. Sem
que os condicionamentos externos. Os a identificação desses padrões, que eviden­
ensaios demonstraram que a mobilização temente não são estáticos e estão constan­
da classe operária impôs limites às nego­ temente em fluxo em função das lutas po­
ciações entre os países hospedeiros e as líticas, é difícil, senão impossível, conferir
multinacionais, chegando mesmo ao ponto significado à experiência da classe traba­
de pôr em risco o crescimento industrial lhadora. Sem essa visão mais ampla a
como sucedeu na Argentina. Nos países nova história do trabalho, em vez de re­
nos quais a força de trabalho não tinha presentar um salto para frente, pode facil­
uma tradição de mobilização comparável mente se transformar numa história da
à da Argentina, e portanto era mais vulne­ vida quotidiana, um gênero muito em moda
rável a manipulações governamentais, as na década de 50, com conotações profunda­
indústrias tinham mais condições de serem mente conservadoras.
bem-sucedidas. Tal foi o caso do México, Não é minha intenção exumar velhos
por exemplo. Controle de salários, repres­ modelos nem construir novos, mas apenas
são de greves e de militantes, emprego cres­ propor uma síntese entre duas tendências
cente de trabalhadores temporários, mais que até aqui se definem como antagônicas.
suscetíveis a pressões etc., tornaram as A nova história do trabalho é profunda­
indústrias mexicanas, pelo menos tempo­ mente revisionista, mas num aspecto muito
rariamente, mais competitivas. importante continua bastante tradicional.
Apesar dessas diferenças, no entanto, Considerando seu interesse em recuperar
notam-se aqui também importantes seme­ a experiência dos trabalhadores, é surpreen­
lhanças. Por toda parte, depois de ter dente que a maioria dos acadêmicos que se
tentado desenvolver as indústrias nacio­ encontram na vanguarda da nova história
nais, os governos foram obrigados a recor­ do trabalho continue ignorando os proble­
rer ao capital estrangeiro. Competindo uns mas étnicos. Isso é particularmente sur­
com os outros para atrair o capital estran­ preendente quando lembramos que uma
geiro, cada governo procurou oferecer as boa parte da força de trabalho na América
melhores condições possíveis exercendo um Latina é composta de indígenas, mestiços
controle rígido sobre a força de trabalho, e negros. Mais espantoso ainda é que a
tentando incrementar a produtividade da maioria dos autores revisionistas tenha
mão-de-obra e diminuir os seus custos. Na passado ao largo do importante debate
tentativa de superar as limitações do mer­ sobre a mulher na força de trabalho e o
cado interno, os vários governos adotaram papel da mulher no desenvolvimento ca­
políticas que resultaram na concentração pitalista.
de riquezas no setor mais alto. Em pouco Essa tendência talvez se explique em
tempo as indústrias chegaram de novo a parte pelo fato de que existem presente­
um beco sem saída. As vendas caíram, os mente duas correntes historiográficas que
lucros diminuíram. Sua contínua depen­ parecem correr paralelamente. Uma que
dência em relação à tecnologia internacio­ aparece sob o rótulo de história do traba­
nal e aos empréstimos estrangeiros e sua lho e/ou história da classe operária, e
dificuldade em incrementar a produção
fizeram com que os custos unitários fossem outra que aparece sob o rótulo mulheres.
mais altos na América Latina do que nos Ambas parecem se ignorar mutuamente.
países mais desenvolvidos e contribuíram Curiosamente, enquanto a história do tra­
para agravar o desequilíbrio da balança de balho se afasta de enfoques “estruturalis-
pagamentos, acarretando ondas inflacioná­ tas” em busca da “experiência” dos traba­
rias e o crescimento da dívida externa. lhadores, a história das mulheres na força
Estes problemas tornaram-se particular­ de trabalho corre em direção contrária, ofe­
mente sérios com a crescente internaciona­ recendo algumas das mais sofisticadas aná­
lização da economia. Nestas circunstâncias, lises estruturalistas, como por exemplo, nos
não é de se estranhar que a crescente pro­ estudos de Junes Uash e Carmen Diana
dutividade das indústrias automobilísticas Deer.

10
Apesar da sofisticação metodológica de evidente que minhas observaçõeS não se
muitos pesquisadores e pesquisadoras e do aplicam às autoras feministas, mas estas,
grande número de ensaios e livros que se como já foi observado, têm-se dedicado
publicam e conferências que se promovem mais ao estudo das mulheres na força do
todos os anos, a maioria dos historiadores trabalho, ou seu papel no desenvolvimento
do trabalho industrial na América Latina econômico, do que ao estudo dos traba­
continua ignorando o importante papel de­ lhadores em geral.
sempenhado pelas mulheres. Os pesquisa­ Como é possível a esta altura que os
dores dedicam pouco tempo a entrevistar historiadores continuem a ignorar o papel
mulheres trabalhadoras e raras vezes des­ da mulher na força de trabalho industriai?
crevem as percepções que elas têm do pro­ Será realmente possível entender a expe­
cesso histórico.5 O que é mais sério ainda riência dos trabalhadores sem examinar as
é que os historiadores acima analisados relações entre homem e mulher e o papel
parecem ignorar a especificidade desse tipo da mulher na produção e reprodução?
de experiência.6 Quando se referem à Acredito que não. Nenhuma história das
mulher na força de trabalho, limitam-se a classes trabalhadoras digna de respeito
oferecer breves comentários sobre sua pas­ pode ser escrita hoje sem incorporar a mu­
sividade sem procurar sequer explicá-la. lher, não apenas aquelas que trabalham no
Referem-se à maneira pela qual o compor­ setor industrial, mas também as esposas e
tamento da mulher afeta negativamente o outros membros da família que trabalham
sindicato, mas não se perguntam como o em empregos temporários no setor infor­
comportamento do sindicato afeta as mu­ mal. Não se trata simplesmente de agre­
lheres. Quando muito atribuem a difi­ gar informações sobre a mulher às abor­
culdade de organizar as mulheres a “dispo­ dagens tradicionais. É preciso encarar a
sições naturais” , ou ao caráter intermi­ história do trabalho e da classe traba­
tente da presença, da mulher no mercado lhadora dentro de uma nova perspectiva.
de trabalho. Não lhes passa pela cabeça Historiadores interessados na história da
que, ao ignorar os problemas específicos Europa e dos Estados Unidos tomaram a
da mulher e ao mantê-la excluída das po­ dianteira, e os que na América Latina têm
sições de liderança, sindicatos e partidos estudado o trabalho no campo já o fazem
políticos, possam ter alienado a mulher e há muito tempo. É preciso agora que os
contribuído para a sua tão decantada pas­ que estudam o trabalho industrial e a his­
tória das classes trabalhadoras sigam esses
sividade. Mesmo quando escrevem sobre o
exemplos e reconheçam que a história do
peronismo, os novos historiadores do traba­ trabalho só pode ser adequadamente ava­
lho raramente discutem o que peronismo liada quando se introduz em cena os tra­
significou para as mulheres trabalhadoras balhadores na sua totalidade.
e contentam-se em frisar a importância de
Eva Perón no movimento peronista [Na­ (Recebido para publicação em
varro (1982), Fraser e Navarro (1981)]. É março de 1989)

Notas

J. Sobre o debate em torno do abolicionismo ver American Historical Review XC1I.


4, 1987. Sobre o cartismo ver Kirk (1987). Ver também a controvérsia levantada por
Scott (1987); Thompson (1981); e Wood (1982).
2. Para uma discussão muito importante sobre a questão da ideologia, ver Therborn
(1980).
3. Para uma crítica dessa posição, ver Almeida (1975); Almeida (1981); e Sorj e
Almeida (1983).
4. Ver também o ensaio de Ian Roxborough e Leslie Bethell que será publicado proxi­
mamente no Journal of Latin American Studies, no qual os autores examinam o impacto
da guerra fria sobre os trabalhadores latino-americanos. A importância dos comunistas
na organização dos trabalhadores tanto no Chile como em outros países é confirmada
por Bergquist (1986), Raga (1988), Tamarin (1985) e French (1985) e muitos outros.

11
5. Ver, por exemplo, Nash e Safa (1986) e (1980) Nash e Fernandez-Kelly (1983),
ßeneria e Roldan (1987), Navarro (1985) e (1982), Para uma avaliação geral da biblio­
grafia sobre a mulher na América Latina, ver Lavrin (1984) e Stoner (1987).
6. Em artigo publicado em 1982 chamei a atenção para essa lacuna na historiografia
brasileira. Ver “ A Nova Face do Movimento Operário na Primeira República”, Revista
Brasileira de História, v. 2, n. 4, 1982, pp. 217-232.

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