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PROFESSORES NO BRASIL
2a Edição
Fevereiro de 2004
COORDENAÇÃO DE ANÁLISE ESTATÍSTICA NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Liliane Lúcia Nunes de Aranha Oliveira Brant Regina Helena Azevedo de Mello
(Coordenadora)
Carolina Pingret de Sousa PROJETO GRÁFICO
James Richard S. Santos
João Vicente Pereira F. Secchin
Márcio Corrêa de Mello
Roxana Maria Rossy Campos CAPA
Vanessa Néspoli Raphael Caron Freitas
1. Apresentação 5
3. Mercado de Trabalho 17
4. Escolaridade do Professor 23
4.1 Professores que Atuam em Creche 23
4.2 Professores que Atuam em Pré-Escola 24
4.3 Professores que Atuam no Ensino Fundamental 25
4.4 Professores que Atuam no Ensino Médio 27
4.5 Professores que Atuam na Educação Superior 28
4.6 Professores que Atuam na Zona Rural 29
7. Conclusão 45
1. Apresentação
Esta publicação reúne algumas das particular, do professor que atua na educa-
principais estatísticas sobre a situação dos ção básica.
professores no Brasil. Os dados disponí- Os dados aqui reunidos foram produzi-
veis possibilitam traçar um panorama so- dos pelo Inep (Censo Escolar, Censo da Edu-
bre os profissionais que têm a missão de cação Superior e Sistema Nacional de Avali-
educar mais de 57,7 milhões de brasileiros ação da Educação Básica) e IBGE (Pesquisa
que estão matriculados desde a creche até o Nacional por Amostra de Domicílios). Ain-
ensino superior de graduação. da em 2004, o Inep realizará o Censo dos
Apesar de inúmeras leis, resoluções, Profissionais do Magistério da Educação Bá-
decretos e pareceres que regulam a forma- sica. Com esse levantamento será possível
ção e a profissão docente, esta ampla pro- fazer um minucioso diagnóstico sobre o tema
dução normativa ainda não foi capaz de e fornecer importantes subsídios para formu-
transformar, de forma efetiva e sustentável, lação de políticas para valorização desses pro-
a realidade desses profissionais, em fissionais e melhoria da educação no País.
2. Cursos de Formação de Professor
A oferta potencial de profissionais ha- essa carreira, que, em épocas passadas, ocu-
bilitados para atuar como professores da pou um lugar de destaque.
educação básica, de acordo com a legisla-
ção vigente, deve considerar os con-
cluintes do Ensino Médio (Curso Normal 2.1 Cursos de Nível Médio
e Médio Profissionalizante) para atender
à Educação Infantil e as quatro séries ini- Para as escolas que oferecem magistério
ciais do Ensino Fundamental, e os de nível médio, a série histórica das estatís-
concluintes do Ensino Superior em cur- ticas mostra que a tendência de crescimento
sos de graduação com licenciatura plena, observada no período de 1991/1996 sofreu
para atuar nas séries finais do Ensino uma significativa inversão no período 1996/
Fundamental e do Ensino Médio. 2002, com a redução pela metade do núme-
A situação refletida pelos números su- ro de escolas e da quantidade de matrícu-
gere que a decisão de ser professor, da for- las, efeito este que pode ser atribuído clara-
ma que se apresenta, não tem se mostrado mente à entrada em vigor da nova Lei de
atrativa, em termos de mercado e condições Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que
de trabalho. Uma política de valorização do apontava para a progressiva exigência de
magistério contribuiria para resgatar o inte- formação em nível superior para todos os
resse e a motivação dos jovens em abraçarem professores.
Tabela 1
Magistério de nível médio(1) – Número de escolas, matrículas e concluintes
Brasil – 1991/2002
7
Com a Resolução nº 01/2003 do CNE, 2.2 Cursos de Nível Superior
que assegura o exercício na Educação In-
fantil e nas séries iniciais do Ensino Fun- A demanda na rede pública pelos cur-
damental aos professores com formação Nor- sos de graduação que possuem licenciatu-
mal de Nível Médio, é possível que esta ra, que em 1991 era de três candidatos por
tendência acentuada de queda se reverta. vaga, chegou a cinco em 2002, mesmo con-
Os dados do Censo Escolar 2002 mos- siderando o grande aumento de vagas no
tram, ainda, que existem 2.641 escolas de período, o que é um fato animador. Por
nível médio no País formando professores, outro lado, ao se avaliar o número de in-
das quais 2.050 são públicas. A grande mai- gressos em relação ao número de vagas
oria está localizada na Região Nordeste, que oferecidas, observa-se que os cursos de
concentra 1.174 estabelecimentos atenden- graduação que oferecem licenciatura encon-
do a 194.090 alunos. Este contingente re- tram-se entre aqueles com o maior núme-
presenta 53% das matrículas do magistério ro de vagas não preenchidas. Em 2002, 6%
de nível médio do Brasil. Em 2001 foram das vagas nas instituições da rede pública
formados 124.776 professores, dos quais e 41% nas instituições da rede privada não
108.544 oriundos de escolas públicas. foram preenchidas.
8
Outro aspecto que mostra, ainda, o graduação que oferecem licenciatura foram
desprestígio relativo da opção pela licenci- aqueles que apresentaram o maior crescimen-
atura é que a procura por estes cursos é to no número de ingressantes, chegando a
bem menos acirrada, quando comparada dobrar de valor no período de 1991/2002,
com outras áreas. Assim, considerando tanto nas escolas públicas como nas priva-
apenas o ensino público, enquanto a de- das. No entanto, é importante esclarecer que
manda para cursos com licenciatura é de 5 esses dados, coletados pelo Censo da Edu-
candidatos por vaga, para os cursos de Eco- cação Superior do Inep, não permitem iden-
nomia é de 6, de Administração, 11 e de tificar quantos desses ingressantes irão con-
Direito, 18 candidatos por vaga. Em Medi- cluir seus cursos com habilitação em licenci-
cina, ocorre a maior competição, com 41 atura, já que alguns desses cursos oferecem
candidatos por vaga. a opção do bacharelado. Sendo assim, ape-
Quando analisamos a evolução da últi- nas parte desse quantitativo receberá habili-
ma década, constatamos que os cursos de tação adequada para atuar no magistério.
9
Tabela 3 – Relação candidato/vaga e número de ingressos e de vagas por curso
segundo a categoria administrativa – Brasil – 1991/2002
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Tabela 4 – Número de cursos de graduação, matrículas e concluintes por curso
segundo a categoria administrativa – Brasil – 1991/2002
11
distribuída: Língua Portuguesa e Ciências, estimativa de professores para 2006 exigirá
4 horas; Matemática, 3 horas; História e Ge- a criação de, pelo menos, mais 107 mil fun-
ografia, Língua Estrangeira e Educação Físi- ções docentes. No caso da Pré-Escola, a
ca, 2 horas; Educação Artística, 1 hora. meta de matrículas exigirá um crescimen-
Analisando os dados da Tabela 5, cons- to de 32 mil novas funções docentes dian-
tatam-se como áreas críticas, onde o núme- te da situação de 2002.
ro de licenciados está muito abaixo da de- Para o ensino fundamental de 1ª a 4ª
manda estimada, as disciplinas de Quími- série, diante da redução esperada nas matrí-
ca e Física, em especial se considerarmos culas, considerando a manutenção do cená-
que estes docentes devem compartilhar com rio de políticas para a regularização do flu-
os biólogos a disciplina de Ciências. Deve- xo escolar, a expectativa para 2006 implica-
se, ainda, considerar que nem todos os rá redução de 150 mil postos de professo-
concluintes com licenciatura atuarão, ne- res. Esses profissionais poderão ser
cessariamente, como professores. remanejados para outros níveis de ensino,
Contudo, como sabemos, o Brasil ain- em especial para a Educação Infantil. No
da não consegue assegurar a Educação In- Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série, tam-
fantil e o Ensino Médio a um número sig- bém em função do cenário de adequação do
nificativo de brasileiros que aspiram a es- fluxo escolar, até o ano de 2006, deverão ser
ses níveis de ensino. Logo, não basta ver necessários 98 mil novos professores. Por
a demanda atual de professores sem con- fim, para o Ensino Médio, que passa por
siderar a expansão do sistema, que tem um processo de grande expansão, a neces-
seu referencial estratégico definido pelo sidade estimada é de um incremento de 125
Plano Nacional de Educação. Estas ne- mil novos docentes. Mesmo considerando
cessidades são indicadas na Tabela 6, os dados da Tabela 5 que apontam para um
construída a partir das metas de expan- grande número de novos licenciados na dé-
são de atendimento do PNE e conside- cada, estimam-se graves problemas, em es-
rando a relação aluno/professor vigente pecial nas áreas de Física e Química, para
em 2002. Observamos que, com o incre- atender ao incremento da matrícula no En-
mento das matrículas na Creche, a sino Médio. Vale ressaltar que essa avaliação
12
considerou constante a relação matrícula/ Assim é que 32,6% dos docentes da 3ª sé-
professor registrada em 2002. rie do Ensino Médio (153 mil) têm, em mé-
Um outro aspecto a ser considerado dia, mais de 45 anos de idade. Consideran-
quando se busca avaliar a necessidade de do que em aproximadamente quinze anos
professores é a idade daqueles que se en- esses docentes poderão se aposentar, pode-
contram em exercício. E o que se constata mos mais uma vez salientar a preocupação
pela Tabela 7 é que quanto mais alta a série em formar novos docentes para que não haja
de atuação maior é a idade do docente. falta de professores em salas de aula.
Para finalizar este item discutiremos 2002, por 68% das matrículas e por 71% dos
como andam os cursos de Pedagogia, que além concluintes. Há, contudo, grande variação en-
dos administradores e supervisores educaci- tre as regiões com a rede pública predomi-
onais formam também professores habilita- nando no Norte e Nordeste e a rede privada
dos para atuar na Educação Infantil e nas nas Regiões Sudeste e Sul.
séries iniciais do Ensino Fundamental. Os Já a Tabela 9 apresenta a situação dos
dados da Tabela 8 indicam que, ao menos do processos seletivos dos cursos de Pedago-
ponto de vista quantitativo e considerando o gia. Por ela constata-se que a oferta de vagas
país como um todo, não há por que nos pre- no setor privado é cinco vezes maior que a
ocuparmos com a falta de pedagogos nos pró- do setor público, enquanto na relação can-
ximos anos. Só no período de 2000 a 2002 didatos/vaga a razão é exatamente inversa.
foram formados mais de 120 mil profissio- Observa-se no setor privado a existência de
nais e, mantidas as atuais taxas, até 2006 o praticamente uma vaga para cada candida-
país terá um contingente adicional de outros to, o que indica uma carreira pouco seletiva
200 mil concluintes. Constata-se, contudo, e o resultado é que mais de 40 mil vagas
que a distribuição de concluintes é muito de- oferecidas por este setor não são preenchi-
sigual ao longo do país, com largo predomí- das. Embora na rede pública a procura seja
nio da Região Sudeste sobre as demais. Pre- bem maior que a oferta de vagas, ainda cons-
ocupa, em especial, a situação das Regiões tata-se a existência, em 2002, de mais de
Norte e Nordeste, que são as mais carentes 1.500 vagas não preenchidas. O número de
em profissionais com nível superior e onde o ingressantes em 2002, que foi superior a 80
número de licenciados em Pedagogia ainda é mil alunos, parece indicar também para um
muito pequeno. Constata-se também o pre- aumento no número de licenciados em Pe-
domínio do setor privado na formação dos dagogia nos próximos anos, isto desde que
pedagogos. Este segmento respondia, em não haja um incremento da evasão.
13
Tabela 8 – Número de cursos de graduação, matrículas e concluintes no curso de
Pedagogia por categoria administrativa – Brasil e regiões – 2000-2002
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À guisa de conclusão sobre a situação podemos tirar é que talvez, longe de estimu-
dos cursos de formação de professores no lar uma política de expansão desenfreada de
Brasil, o que se constata é que, com exceção cursos de licenciatura, talvez seja mais ade-
das áreas de Física e Química, mais do que a quada uma política de atrair os profissionais
falta de futuros licenciados, o problema cons- que possuem a titulação adequada mas que,
tatado é que nem sempre os licenciados es- em virtude das condições de trabalho, não
tão ingressando no exercício do magistério se encontram no exercício do magistério.
seja pelos baixos salários, seja por que os Neste aspecto cabe, inclusive, avaliar a pro-
cursos de formação nem sempre se encon- cedência de políticas que estimulem a migra-
tram onde maior é a falta de professores ha- ção de licenciados dos grandes centros urba-
bilitados. Do ponto de vista das políticas nos para o interior e das Regiões Sudeste para
públicas a diretriz mais importante que as Regiões Norte e Nordeste.
15
3. Mercado de Trabalho
consideravelmente sua participação e conse- Região Sudeste está na rede privada. Para
qüentemente terá aumentado o número de as demais regiões, o percentual de docentes
docentes na Educação Infantil. que atuam em Creche é maior na rede pú-
O Gráfico 6 mostra que a maioria dos blica, com destaque para as Regiões Norte
docentes (58%) que atuam em Creche na (81,6%) e Nordeste (70,8%).
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Tabela 11 – Número de funções docentes atuando em Classe de Alfabetização e
Pré-Escola por rede – Brasil – 1991-2002
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Em 2002, o Censo Escolar registrou um apresentou maior declínio, passando de 8.098
estoque de 38.281 docentes atuando em Clas- em 1996 para 48 em 2.002, seguido do Nor-
ses de Alfabetização, sendo 22.880 na rede deste, com um declínio de 41.539 em 1996
pública. Cabe observar que este contingente para 16.841 em 2002.
foi de 89.921 em 1991, sendo 76.188 na rede Enquanto a Pré-Escola e o Ensino Fun-
pública. Resultado do declínio apresentado damental de 1ª a 4ª série registram maior
por essa “modalidade de ensino”. Na rede percentual de aumento na rede particular, a
pública, as Regiões Sul e Centro-Oeste tive- rede pública supera a rede particular no
ram menor redução no número de docentes Ensino Fundamental de 5ª a 8ª série e o
no período de 1996 a 2002. O Sudeste Ensino Médio.
19
O aumento no número de docentes aumento, tanto no Ensino Fundamental de
no Ensino Fundamental de 5ª a 8ª foi de 5ª a 8ª série quanto no Ensino Médio, foi
30,9% de 1996 para 2002, sendo 34,2% a Nordeste. Isso se explica pelo constante
na rede pública. No Ensino Médio este aumento das matrículas no segundo segui-
acréscimo foi de 43,3%, com 50,8% na mento do Ensino Fundamental nessa
rede pública. A região que registrou maior região.
20
Tabela 14 – Número de funções docentes atuando no Ensino Fundamental de 5ª a 8ª
série por rede – Brasil e regiões – 2002
21
4. Escolaridade do Professor
23
Em termos de escolaridade, 14% das Brasil, visto que uma parcela dessas encon-
funções docentes que atuam em Creche têm tra-se não regularizada e, portanto, não res-
formação inferior ao Ensino Médio, e esse ponde aos questionários do Censo Escolar.
quadro mostra-se relativamente uniforme ao Diante disso, podemos adiantar que os pro-
se comparar as regiões geográficas. Contu- blemas de qualificação dos profissionais nes-
do, nunca é demais ressaltar sobre as preca- se segmento são bem mais graves do que os
riedades das estatísticas sobre creches no indicadores da Tabela 17 parecem apontar.
Tabela 17 – Percentual de funções docentes em Creche por grau de formação
Brasil e Regiões – 2002
4.2 Professores que Atuam aumentou de 16,3% (1996) para 22,5% (2002).
em Pré-Escola Todas as regiões contribuíram para esse
aumento: Sul, que passou de 21,8% (1996)
O índice de docentes com formação su- para 28,4% (2002); Centro-Oeste, de 21,1%
perior e licenciatura atuando na Pré-Escola (1996) para 27,5% (2002); Sudeste, de 28,2%
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(1996) para 33,5% (2002); Nordeste, de 3,8% Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série, dimi-
(1996) para 8% (2002); e, finalmente, a região nuiu de 15,3% (1996) para 2,8% (2002), e de
Norte, com o menor crescimento, passando 1% (1996) para 0,3% (2002) para os que atu-
de 2% (1996) para 3,1% (2002). am de 5ª a 8ª série. As regiões que mais con-
tribuíram para essa redução, considerando o
Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série, foram:
4.3 Professores que Atuam Norte, passando de 33,3% (1996) para 5,6%
no Ensino Fundamental (2002); e Nordeste, de 27,7% (1996) para
5,1% (2002). Nas demais regiões, o número
A proporção de docentes com formação de docentes com este nível de formação pra-
até o Ensino Fundamental, lecionando no ticamente acabou. No Ensino Fundamental
25
de 5ª a 8ª série, o percentual está em um De maneira geral observa-se que o nível
nível muito baixo, chegando, no máximo, a de qualificação dos docentes tem melhora-
0,6%; podemos destacar a Região Sudeste do muito nos últimos anos. Há, entretanto,
que, em 2002, registrou apenas 0,1% dos de se avançar mais para o completo atendi-
professores com esse nível de formação. mento das metas do PNE.
A Tabela 20, que apresenta o grau de docentes do País não possuem esse grau de
formação das funções docentes de 5ª a 8ª formação, chegando a 59% na Região Norte
série, indica que ainda há um longo cami- e 52% na Região Nordeste. Tendo em vista
nho a percorrer para o pleno atendimento o aumento esperado nas matrículas neste se-
da exigência mínima legal que é a de licen- tor, em especial nas regiões onde a carência
ciatura plena. Pela tabela, constata-se que de professores habilitados é maior, cabe o
aproximadamente 32% das funções alerta para o problema em questão.
Tabela 20 – Percentual de funções docentes que atuam no Ensino Fundamental de 5ª a
8ª série por grau de formação – Brasil e regiões – 1991/2002
26
4.4 Professores que Atuam de formação adequada. Na Região Norte ob-
no Ensino Médio serva-se que 15% dos docentes, embora te-
nham curso superior, não são licenciados.
Embora o Ensino Médio seja o nível Existem diferenças bastante significativas
de ensino que detém os professores com entre regiões, Estados e municípios, o que
melhor escolaridade, cabe salientar que 21% mostra que, assim como nas séries finais do
deles ainda não têm a formação mínima Ensino Fundamental, é preciso investir na
exigida pela legislação. formação dos docentes, em especial naque-
A Região Sudeste tem mais de 85% dos las regiões do País e nas áreas do conheci-
seus docentes de Ensino Médio com nível mento onde a carência é mais crítica.
Tabela 21 – Percentual de funções docentes que atuam no Ensino Médio por grau de
formação – Brasil e regiões – 1991/2002
27
4.5 Professores que Atuam legislação posterior que aumentaram as exi-
na Educação Superior gências de formação mesmo para os estabe-
lecimentos isolados de ensino.
A Educação Superior de graduação tem Um dado que merece comentário é que,
registrado melhoria constante no nível de neste aspecto, a situação do Nordeste não
qualificação dos seus professores. Em 1991, destoa muito daquela das outras regiões do
mestres e doutores eram apenas 35% dos País, particularmente do Sudeste, fato que
docentes. Com um aumento de praticamen- pode ser explicado pela maior participação
te 155% no período (1991 a 2002), o núme- das instituições públicas na primeira região,
ro de mestres e doutores já representa mais que apresentam uma melhor qualificação de
de 54% dos docentes neste nível de ensi- seu pessoal docente, quando comparada
no, efeito que pode ser atribuído à LDB e à com a segunda.
28
4.6 Professores que Atuam um mesmo professor, além das atividades ad-
na Zona Rural ministrativas que caberiam a um diretor, mi-
nistre, simultaneamente, aulas para diferen-
tes séries.
A educação do campo encontra-se na
Se na zona urbana já se observa ca-
pauta de discussão das políticas públicas,
rência de pessoal qualificado para atuar
diante das suas especificidades e da neces-
na educação básica, no meio rural esse
sidade de que ela seja um instrumento para
quadro é ainda mais crítico. No Brasil,
o desenvolvimento sustentável dessa região.
menos de 10% dos docentes da zona ru-
Diante disso, a questão do professor exige ral que atuam nas séries iniciais do ensi-
uma abordagem própria e contextualizada no fundamental têm formação superior,
nessa realidade. enquanto na zona urbana esse contingen-
A área rural, no Brasil, concentra cerca te representa 38% das funções docentes.
de 50% dos estabelecimentos de ensino de Cabe observar, entretanto, que nas Regi-
educação básica e apenas 14% dos estudan- ões Sul e Sudeste os percentuais são bem
tes. Suas escolas são, geralmente, pequenas melhores que nas demais regiões do País.
e unidocentes. De acordo com o Censo Es- Isso pode ser explicado pela maior oferta
colar 2002, dentre os 100.084 estabelecimen- de cursos superiores, o que acarreta au-
tos rurais de ensino que oferecem o ensino mento da existência de professores habi-
fundamental de 1ª a 4ª série, 63.928 ofere- litados. Políticas de remuneração segura-
cem exclusivamente turmas multisseriadas. mente influenciam ainda mais essas
Essa predominância de organização exige que disparidades.
29
No segundo ciclo do ensino funda- ensino fundamental é bastante reduzido, ao
mental (5ª a 8ª série), apesar de o quadro se comparar com aquelas que oferecem as
revelado pelos números do Censo Esco- séries iniciais. Ao se analisar o número
lar 2002 ser melhor do que o das séries de matrículas, observa-se que no ensino
iniciais, observa-se que menos da metade fundamental de 1ª a 4ª existiam, em 2002,
dos docentes tem formação superior e, em torno de 4,8 milhões de alunos, en-
como era de se esperar, com grandes dife- quanto nas séries finais o número de alu-
renças regionais. Na zona urbana pratica- nos não ultrapassou 1,5 milhões. É possí-
mente 80% dos docentes têm curso vel que boa parcela dos alunos que con-
superior. cluem a 4ª série do ensino fundamental e
Vale ressaltar que o universo de esco- que pretendem continuar os estudos fique
las rurais que oferecem as séries finais do obrigada a procurar escolas na área urbana.
30
satisfatórias. Dentre os itens de infra-estrutu- melhorar as condições de ensino oferecidas à
ra relacionados na Tabela 27, biblioteca é um população rural. É tarefa de difícil solução e
recurso pedagógico básico que deveria estar que demanda diferentes estratégias. De qual-
presente em todas as escolas, independente quer forma, melhorar a qualificação dos do-
de sua localização. Infelizmente as diferenças centes que atuam nessas áreas tem como fator
entre as localizações ainda são muito grandes, limitador a disponibilidade de mão-de-obra
principalmente quando se observa as regiões qualificada nessas localidades. Formação con-
geográficas. 51% dos docentes que trabalham tinuada para os profissionais que já atuam na
na zona rural da Região Sul contam com bi- zona rural e políticas de formação e melhoria
blioteca, enquanto na Região Nordeste das condições profissionais são tarefas que
somente 7,8% possuem esse recurso. podem ser fomentadas e implantadas pelo
De uma maneira geral os dados mostram poder público para diminuir a distância entre
que, de fato, há muito que se avançar para o meio urbano e o rural.
Tabela 26 – Ensino Médio – Percentual de funções docentes por grau de formação e
localização – Brasil e regiões – 2002
31
5. Indicadores de Remuneração,
Gênero e Formação Continuada
33
Entre as profissões consideradas, os de carreira do serviço público e de autôno-
profissionais com menor rendimento men- mos, como administrador, técnico de nível
sal são os professores de Educação Infantil superior no serviço público, policial civil,
e do Ensino Fundamental seguidos dos pro- oficial das Forças Armadas, economista, ad-
fessores de Ensino Médio, Suboficial das vogado e médico, que têm salários médios
Forças Armadas, Professor-Pesquisador do de três a até sete vezes maiores do que o
Ensino Superior e agente administrativo salário médio dos profissionais de menor
público, que têm salários de 1,4 a até 2 ve- rendimento. No Brasil, médicos e advoga-
zes maiores do que os salários do primeiro dos ganham, em média, quatro vezes o que
grupo de profissionais. ganha um professor que atua nas séries fi-
Em seguida, com salários bastante di- nais do ensino fundamental. Não se trata
ferenciados, aparecem outros profissionais aqui da questão de quem deve ganhar mais.
34
A questão em foco é avaliar a magnitude da é que quanto maior o número de profissio-
diferença entre os salários desses profissio- nais, menor o salário.
nais, ambos com formação em nível superi-
or. A profissão em destaque é a de juiz, com
um rendimento médio de quase 20 vezes o
valor do rendimento médio mensal do pro-
5.2 Gênero e Formação
fessor da educação infantil, por exemplo. Continuada
A região com maior variação de salá-
rio é a Nordeste, onde as médias salariais Os dados apresentados a seguir quanto
de diversas profissões chegam a ser de 7 ao gênero e à formação continuada dos pro-
a até 34 vezes o valor do salário de um fessores foram obtidos a partir da última ava-
professor da educação infantil ou do en- liação do Saeb realizada em outubro de 2001.
sino fundamental. A região que apresen- O Sistema Nacional de Avaliação da Educa-
ta menor variação é a Região Centro-Oes- ção Básica (Saeb) é uma avaliação realizada
te, que apresentou variações de duas a pelo Inep a cada dois anos, por amostragem,
nove vezes entre os menores e os maiores com objetivo de diagnosticar a Educação
salários. Em todos os casos, as Regiões Básica. Os alunos de 4ª série e 8ª série do
Norte e Nordeste encontram-se abaixo da Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensi-
média nacional. As Regiões Centro-Oes- no Médio são avaliados nas disciplinas de
te, Sudeste e Sul apresentam médias sa- Matemática e Língua Portuguesa. Em con-
lariais maiores do que a média do Brasil, junto com as provas aplicadas aos alunos,
sendo a primeira provavelmente bastante são aplicados questionários para o diretor
influenciada pelo Distrito Federal. Entre da escola, professores de Matemática e
os professores, existem diferenças muito Língua Portuguesa e para escola. A última
grandes entre os salários pagos nas dife- avaliação ocorreu em outubro de 2001.
rentes regiões do Brasil. Um professor do A distribuição dos professores por gê-
Sudeste, por exemplo, ganha em média, nero varia bastante segundo a disciplina e a
duas vezes o que ganha um professor do série, conforme descrito na Tabela 29. Em
Nordeste. Língua Portuguesa, independentemente da
Tornar uma profissão mais atrativa re- série avaliada, a proporção de professores
quer, entre outros fatores, a possibilidade
do sexo feminino representa a maioria. No
de obtenção de bons salários. Há, de fato,
entanto, a proporção de mulheres vai dimi-
correlação entre nível salarial da carreira e
nuindo gradativamente conforme a série
demanda nos processos seletivos para in-
pesquisada aumenta. Já em Matemática, a
gresso nas instituições de ensino superior.
proporção de docentes do sexo feminino é
Comparando o gráfico 26 com as Tabelas 3
maior na 4ª série (91,1%), e diminui
e 4, constata-se claramente que quanto mai-
or a média salarial de uma profissão de ní- gradativamente até a 3ª série do Ensino Mé-
vel superior, maior é a demanda dos cur- dio, quando a proporção de docentes do sexo
sos na respectiva área, sobretudo na rede masculino assume a maioria, representan-
pública. Nesse aspecto, se é evidente que do 54,7% dos docentes.
bons salários não bastam para melhorar a A percentagem média de professores de
qualidade do ensino, sem eles dificilmente 4ª série do Ensino Fundamental com
se conseguirá atrair os graduandos mais bem capacitação em nível de pós-graduação (con-
preparados para a atividade docente na siderando Especialização, Mestrado e Dou-
educação básica. Uma outra forma de anali- torado) é muito baixa no Brasil e varia bas-
sar as diferenças é comparar os salários com tante entre as regiões. Menos de 30% dos
o número de profissionais existentes em professores tinham, em 2001, pós-gradua-
cada área. Assim, segundo os dados da ção no Brasil. A percentagem cai para 10%
Tabela 28, havia, em 2001, cerca de 2 mi- na Região Norte, na 4ª série. À medida que
lhões de professores da Educação Básica, a série aumenta, a capacitação dos professo-
para 271 mil advogados, 257 mil médicos, res em nível de pós-graduação também au-
137 mil professores universitários e apenas menta, tanto em Língua Portuguesa quanto
14 mil delegados e 10 mil juízes. Assim, o em Matemática. Na 3ª série do Ensino Mé-
que se observa, em especial nas carreiras dio, cerca de 49,4% dos professores de Lín-
onde o poder público é o maior empregador, gua Portuguesa e 47,8% dos professores de
35
Matemática possuem pós-graduação. As percentual de professores com este grau de
desigualdades regionais permanecem na 8ª formação, na melhor das hipóteses, não che-
série do Ensino Fundamental e na 3ª série ga a 1% para os professores da 4ª série; 2%,
do Ensino Médio. Considerando-se apenas para os professores da 8ª e 5%, para os pro-
mestrado e doutorado, vemos que o fessores da 3ª série do Ensino Médio.
36
Tabela 30 – Distribuição percentual dos professores por disciplina e série,
segundo o nível de pós-graduação e a unidade geográfica – Sistema Nacional
de Avaliação da Educação Básica – Saeb/2001
37
A ampla maioria dos professores ava- últimos dois anos, conforme Tabela 31. Há
liados no Saeb nas três séries pesquisadas uma pequena tendência de queda de parti-
alegou ter participado de, pelo menos, al- cipação em atividades de formação continu-
guma atividade de formação continuada nos ada, à medida que a série aumenta.
Os dados da Tabela 32 que buscam re- lado, os cursos de formação continuada (úl-
lacionar a participação dos professores em tima linha da Tabela 30), aparentemente apre-
cursos de pós-graduação com o desempe- sentam pouco impacto no desempenho dos
nho dos alunos no Saeb mostram que, de alunos, e isto significa que mudanças sensí-
uma forma geral, este impacto é positivo, em veis devem ser feitas nesta área, pois, como
especial para aqueles que possuem mestrado vimos, boa parte dos professores participa
ou doutorado e ministram a disciplina de desses cursos.
Língua Portuguesa. Há, sempre, contudo, O Gráfico 30 mostra o que já havía-
que se olhar com muita cautela esses dados, mos comentado: há uma relação direta
pois como não há um controle sobre o perfil entre a formação docente e o nível
dos alunos, o que o desempenho pode estar socioeconômico dos alunos e este é um
captando não é um efeito da melhor qualifi- problema muito sério, se pretendemos
cação do professor e sim o fato de que pro- construir um sistema educacional iguali-
fessores mais qualificados tendem a lecio- tário. O que os dados mostram é que os
nar para alunos com melhor nível socio- alunos que já são economicamente mais
econômico e que, normalmente, já apresen- beneficiados também se beneficiam da pre-
tam melhor desempenho no Saeb. Por outro sença de professores mais qualificados.
38
Tabela 32 – Proficiência média dos alunos por série e disciplina, segundo cursos de
pós- graduação e formação continuada do professor – Sistema Nacional
de Avaliação da Educação Básica – Saeb/2001
O resultado deste fato é mostrado na Ta- ao desempenho dos seus alunos em testes pa-
bela 34, que aponta que há uma relação forte dronizados. O risco é que sejam beneficiados
entre a escolaridade do professor e o desem- exatamente aqueles professores que já traba-
penho do aluno. Por isso há que se tomar lham em melhores condições e com alunos
muito cuidado com as políticas que buscam que já possuem uma melhor cultura escolar
vincular prêmios e abonos para os docentes em função da melhor escolaridade dos pais.
39
Tabela 33 – Distribuição percentual dos professores por escolaridade e série,
segundo o salário do professor – Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Básica – Saeb/2001
40
6. Condições de Trabalho
do Professor
41
repetência dos alunos. Pela Tabela 36 fica desigualdades já existentes na sociedade
evidente o caráter discriminatório de nos- quando seria uma de suas funções minorá-
so sistema de ensino quando percebemos las. Obviamente, o professor quando atua
que a rede privada trabalha com uma rela- na escola pública encontra também uma
ção alunos por turma bem menor que aque- condição de trabalho, no que se refere a
la da rede pública. Mais uma vez o siste- este indicador, pior do que quando minis-
ma educacional tende a reproduzir as tra aulas no setor privado.
42
Tabela 36 – Número médio de alunos por turma segundo o nível de ensino e
dependência administrativa – Brasil e regiões – 2002
Em relação à localização das escolas, essa condição deve-se muito mais à dis-
os estabelecimentos rurais, em geral, pos- tribuição espacial dos alunos nas escolas
suem uma média menor de alunos por tur- rurais ser fragmentada em estabelecimen-
ma quando comparados com os estabeleci- tos de pequeno porte, boa parte deles
mentos urbanos, conforme descrito na Ta- multisseriados, ao passo que alunos que
bela 37. Em princípio, isso poderia sugerir estudam em escolas urbanas concentram-
um diferencial de qualidade a favor das es- se predominantemente em escolas de mé-
colas rurais. Cabe ressaltar, no entanto, que dio ou grande porte.
43
Em relação à infra-estrutura e aos re-
cursos oferecidos pela escola, pode-se ob-
servar que esses variam bastante por rede
e em nível regional, conforme descrito na
Tabela 39. Enquanto 80% das funções do-
centes da rede privada atuam em escolas
com biblioteca, na rede pública esse índi-
ce é de 55%. Com relação a laboratório de
informática, a relação é de 64% versus
Tabela 39 – Percentual de funções docentes segundo a infra-estrutura disponível na escola – Brasil – 2002
26%, relação similar no que se refere ao
acesso à Internet. A desproporção de re-
cursos mantém-se quando olhamos para a
presença de laboratório de ciências: 46%
na privada contra 20% na pública. Esses
poucos indicadores deixam claro o quan-
to as condições que o professor encontra
para realizar o seu ofício em uma escola
pública são piores que aquelas encontra-
das na rede privada, muito embora essas
últimas também deixem muito a desejar,
assim como o fato de possuir um bem ou
serviço não assegura a sua utilização já que
é muito comum encontrarmos em escolas
públicas ou privadas bibliotecas e laborató-
rios pouco utilizados.
As discrepâncias entre as redes apare-
cem também entre regiões. Assim, enquan-
to na Região Sul 78% das funções docen-
tes atuam em escolas públicas que possu-
em biblioteca, 34% que possuem laborató-
rios informática e 38% laboratórios de ci-
ências, na Região Nordeste esses índices
são de, respectivamente, 34%, 12% e 6%.
Cabem, aqui, as mesmas observações feitas
no parágrafo anterior quanto às diferenças
entre as condições de exercício profissio-
nal. Um professor do Nordeste terá muito
mais dificuldade que seu colega do Sul em
oferecer um ensino de boa qualidade aos
seus alunos, mesmo supondo um nível de
qualificação equivalente.
44
7. Conclusão
45
de cursos de formação continuada, o colocados à disposição dos professores para
percentual daqueles que cursaram uma pós- que possam exercer seu ofício. Assim é que
graduação, mesmo que na modalidade lato apenas um terço dos docentes que atuam na
sensu, ainda é pequeno. Pior do que isto, rede pública da Região Nordeste trabalha em
os resultados do Saeb parecem indicar que escolas com biblioteca, menos da metade do
a freqüência a estes cursos de formação con- índice da Região Sul. O mesmo vale para a
tinuada pouco afeta o desempenho dos alu- presença de laboratórios de informática ou
nos, o que indica a necessidade de ampliar de ciências. Esta desigualdade que marca
as pesquisas nessa área e, eventualmente, como uma lei de ferro o sistema educacio-
reorganizar esses cursos, redefinindo seus nal brasileiro nos faz perguntar sobre até que
objetivos e métodos. ponto esse sistema cumpre o mandamento
Outro elemento importante que este mais importante da Constituição Federal que
estudo mostra é que a metade dos profes- estabelece que todos são iguais perante a lei.
sores das áreas de língua portuguesa e ma- Mudar essa lógica significa mudar o
temática, em especial nas séries finais do papel da União, dos Estados e dos municí-
Ensino Fundamental e no Ensino Médio, pios no financiamento da educação no País,
assume jornadas de trabalho acima de 30 significa repactuar a federação. Hoje no Bra-
horas semanais (um quinto acima de 40 sil, e o Fundef mostrou isso com clareza, os
horas). É evidente que esta duração de recursos financeiros fornecidos pela
jornada, que envolve, na prática, o traba- vinculação constitucional não asseguram um
lho semanal com, pelo menos, uma cen- patamar mínimo de qualidade para a maio-
tena de alunos, compromete a qualidade ria das escolas brasileiras, assim como não
do trabalho docente e reflete-se no baixo garantem um padrão mínimo de eqüidade
índice de aproveitamento dos alunos. No entre as redes pública e privada e entre as
mesmo sentido os indicadores confirmam diferentes regiões do País.
também uma elevada relação aluno por Uma escola de qualidade pressupõe um
turma. Constata-se que mais de 15% das professor qualificado, com um salário com-
turmas das séries iniciais do Ensino Fun- patível com seu nível de formação, requer
damental possuem mais de 30 alunos, ainda uma jornada de trabalho que garanta,
assim como mais da metade das turmas de preferência, a dedicação exclusiva a uma
das séries finais deste mesmo nível de escola, com turmas não superiores a 30 alu-
ensino. No Ensino Médio a situação é nos e com recursos didáticos que incluam,
mais crítica: um quinto das turmas pos- pelo menos, uma biblioteca com profissio-
sui mais de 40 alunos. nal habilitado, um laboratório de ciências e
Condição fundamental, embora não de informática e um kit de material didático
suficiente para um ensino de boa qualida- para o aluno e para o professor. Uma escola
de, é a existência de uma estrutura adequa- dessas não é barata, mas relembrando Aní-
da de equipamentos. Aqui o que se cons- sio Teixeira, um projeto desses
tata é que quase a metade dos professores
da rede pública leciona em escolas sem bi- É custoso e caro, porque são custosos e caros
bliotecas; quatro quintos em escolas que não os objetivos a que visa. Não se pode fazer
possuem laboratório de ciências e três quar- educação barata – como não se pode fazer
guerra barata. Se é a nossa defesa que
tos em escolas que não possuem laborató- estamos construindo, o seu preço nunca
rio de informática. No setor privado esses será demasiado, pois não há preço para a
números, embora também ruins, o que co- sobrevivência. E (...) todos sabemos que
loca em dúvida a propalada qualidade do sem educação não há sobrevivência
setor, são bem melhores que aqueles apre- possível.1
sentados pelas escolas públicas. Esse últi-
mo fato chama a atenção para outro aspec- Se essa frase, pronunciada por ocasião
to: há uma grande discrepância entre as da inauguração do Centro Educacional Car- 1
Teixeira, 1950, citado por
redes e entre as diferentes regiões do País neiro Ribeiro (Escola Parque), já era verda- BASTOS, Zélia. Centro Educa-
deira em 1950, o que dizer hoje? cional Carneiro Ribeiro: uma
no que se refere aos recursos didáticos experiência de educação inte-
gral em tempo integral de ati-
vidades. Bahia: Fundação Aní-
sio Teixeira, Secretaria da Edu-
cação da Bahia, Escola Parque,
2000.
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