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arte

EXPOSIÇOES | EVENTOS

apresenta

OM 2014
AUM 2015
MUDANÇA
MOVIMENTO
MENSAGEM
CALL FOR ART

Caros Artistas, Caros Autores

AKA Om (aum) é uma iniciativa que or-


bita em torno de uma primeira exposi-
ção já agendada para a Galeria Munici-
pal de Sintra e que terá lugar em Outu-
bro do ano corrente (2014), com repre-
sentação do trabalho de Jorge Moreira e
Nuno Quaresma.O tema central é a Exis-
tência, a inteligibilidade do Mundo e,
por oposição, os seus mistérios, os gran-
des e os pequenos.A abordagem é feita a
partir das realidades mais simples, as
do dia a dia, e o desafio é fazer uma cami-
nhada estética e simbólica partindo das
partes rumo à totalidade metafísica, de
uma maneira que possa ser perceptível.
Uma caminhada do seminal até ao todo
criado. Ficha Técnica
Uma viagem do “meu umbigo” até aos li-
mites dos multiversos cósmicos e huma- Nº 02_ 2ª Série_ 10 de Outubro de 2014
nos.
Uma caminhada do Eu, do Nós, passan- Direção:
do pela Família, Amigos, Comunidade, AKA Arte:
País, Mundo, até aos confins do que a Design:
nossa consciência abarca. Nuno Quaresma
Embarcas comigo? Redação:
Procuro Pintores, Escultores, Artistas Ana Fina, Elisabete Gonçalves, Carlos
Multimédia, Escritores, Poetas, Dese- Fortes, Saskia Ludescher, Tania Estra-
nhadores, Realizadores, Empreendedo- da, Jorge Moreira, Sara Silva, Jack CJ
res, Ativistas, Cientistas, Pensadores, Simmons, Nuno Quaresma,
Místicos, Matemáticos, Linguistas, Tiragem:
Antropólogos, Professores, enfim todos e 500 exemplares
cada um pelo valor da sua participação Impressão:
única nesta segunda iniciativa do AKA LITOJESUS
Arte.

"Diria mais, a Arte é, pro-


vavelmente, a única forma
sincera de transmissão de
pensamentos, ideias e emo-
ções, pois evidencia aquilo
Todos que vai na alma do seu cria-
dor. Sempre foi assim e es-
os homens peremos que sempre assim
seja"
se nutrem
mas poucos
© Fruta e Sabores

sabem
distinguir
os sabores
Confúcio
OM
AUM
prefácio
OM, Aum, o som do movimento do Universo, o eco do seu iní- Não sei se sou capaz, se estou à altura da complexa exigên-
cio distante… cia do seu postulado.
Vivo na era da descoberta do Bosão de Higgs, do pleno, segu- Sigo com a simplicidade, humildade e receios de uma crian-
ro e consolidado funcionamento do Acelerador de Partículas ça (talvez até com um pouco da sua indisciplina e irreverên-
do CERN, já numa época pós Relatividade Geral de Einste- cia).
in, nos tempos da elaboradíssima complexidade matemática Por isso começo por desenhar e pintar.
da Teoria das Cordas. Não me levem a mal. Não sou capaz de o fazer de outra forma
No meu íntimo, no fundo da minha alma (será que esta exis- agora.
te?)procuro contudo e apenas ouvi-lo: este silêncio que é tam- Vou pintar o que não compreendo, pintarei tudo o que me dis-
bém um rumor sem fim. traí o pensamento, para ver se a pintar desmistifico e des-
Quando me concentro, respiro-o, sinto-lhe, por momentos, es- mistificando exorcizo essa força magnética que me agarra
sa nesgazinha de grandiosidade de que todos somos parte. obsessivamente à forma das coisas.
Já me explicaram que maís o conseguiria integrar se tivesse Pensando menos sentirei talvez mais. Mais perto estarei tal-
“o copo menos cheio”. vez do essencial, do conteúdo. Mais perto da verdade, quem
É mais fácil encher um copo vazio do que fazer entrar o que sabe, da consciência, do coração… de Ti!
seja numa malga (amálgama!) a transbordar.
A dura tarefa que tenho hoje pela frente é esvaziar-me desse Aka OM (Aum), já em outubro deste ano, com o apoio Tailo-
caudal. red, AKA Art Projects e da Câmara Municipal de Sintra.
É minha essa tarefa apenas porque a escolho.

01
Aum (or OM) is a mantra, or vibration, that is traditionally
chanted at the beginning and end of yoga sessions. It is made
up of three Sanskrit letters, aa, au and ma which, when
combined together, make the sound Aum or Om. It is believed
to be the basic sound of the world and to contain all other
sounds. It is said to be the sound of the universe. What does
that mean?
Somehow the ancient yogis knew what scientists today are
telling us–that the entire universe is moving. Nothing is ever
solid or still. Everything that exists pulsates, creating a
rhythmic vibration that the ancient yogis acknowledged with
the sound of Aum. We may not always be aware of this sound
in our daily lives, but we can hear it in the rustling of the
autumn leaves, the waves on the shore, the inside of a
seashell.
Chanting Aum allows us to recognize our experience as a
reflection of how the whole universe moves–the setting sun,
the rising moon, the ebb and flow of the tides, the beating of
our hearts. As we chant Aum, it takes us for a ride on this
universal movement, through our breath, our awareness,
and our physical energy, and we begin to sense a bigger
connection that is both uplifting and soothing.

02
Maria João
A respiração dilata-se no ar pesado do interior
cores esbatidas, vidraças molhadas, sonhos que pingam
beijos inaudíveis, olhar no vazio, coração menos pesado
hálito carnal, mãos que se tocam, corpos que se fundem
O silêncio é a linguagem dos amantes.
Não sabes o meu nome, não conheço a tua história, não interessa quem somos.
As fotos das crianças que fomos culminam neste momento presente; tudo é este segundo que vivemos
todas as gotas do oceano estão dentro destas paredes
as rugas que ambos escondemos brilham na sua solidão
nós somos tudo, por saber ser nada
acolhes-me nos teus braços como se fosse o teu único filho recém regressado
Abro-te os meus como se fosse um porto de abrigo para um navio que não navega.

Não me chegaste a dizer qual o preço


Também não te perguntei, será verdade
Abri-te a porta e limitaste-te a entrar
não te disse o destino, não saberíamos por onde querer ir
Encalhámos por breves momentos neste canto esquecido com vista para o nada
por segundos fugazes não existimos; desaparecemos no frio da noite
olhas-me antes de fechar a porta, não sorris, não falas
olhas-me simplesmente; sei que vais partir e nunca mais me ver;

Sinto-te a entrar nas minhas veias, a matar as minhas defesas


Pouco a pouco possuir-me às, átomo… a átomo
definharei este corpo efémero e vazio de significado
sucumbirei ao cheiro da doença
finalmente pertencerei ao teu abrigo
Por toda a eternidade que esta noite não pode dar.

Aum (or OM) is a mantra, or vibration, that is traditionally


chanted at the beginning and end of yoga sessions. It is made
up of three Sanskrit letters, aa, au and ma which, when
combined together, make the sound Aum or Om. It is believed
to be the basic sound of the world and to contain all other
sounds. It is said to be the sound of the universe. What does
that mean?
Somehow the ancient yogis knew what scientists today are
telling us–that the entire universe is moving. Nothing is ever
solid or still. Everything that exists pulsates, creating a
rhythmic vibration that the ancient yogis acknowledged with
the sound of Aum. We may not always be aware of this sound

03
04
NUA, NÃO DESPIDA
Já há 15 anos que não desenhava com modelo vivo e este mundo que nos rodeia.
olhar que não Mas o Nu, em si, não é apenas, e dentro deste contexto das
despoja, antes vê, com ternura, com respeito, a cada traço, Artes, uma
em cada representação de uma pessoa sem indumentária ou ponto de
pincelada é um gesto religioso de reverência à Vida humana partida para
e à sua uma aprendizagem meramente artística.
forma. O Nu traz consigo outras conotações.
Para quem nunca deu conta do significado desta disciplina Na sua percepção simbólica pode, entre outras coisas, ser
formal, no evocado como
âmbito do desenho, a sua prática funda-se na experiência en- a Verdade, despojada de todos os acessórios.
raizada ao Na Grécia Antiga, em regiões como Minoa e Esparta, a nu-
longo dos tempos que o Desenho de Modelo é realmente o exer- dez era,
cício mais seguindo esta leitura, francamente bem aceite. Nos Jogos
completo para compreender conceitos como: composição, en- Olímpicos, os
quadramento, Atletas competiam inclusivamente nus. A palavra Ginásio,
volumetria, claro-escuro, linha, mancha ou trama. por exemplo,
É o desenho na escala do humano que no fundo se transforma significa local de nudez.
em Até ao início do séc. VIII, os baptismos cristãos eram recebi-
referência nuclear e centro de gravidade para a nossa rela- dos em
ção com o despojamento e nudez também, numa imersão em água, a

05
06
Jorge Moreira
Escultor, poeta visual, artista singular com uma visão fantástica, as suas obras
de escultura, são autênticas filigranas em pedra ou madeira, onde as imagens
se ligam entre si com elegância numa fantasia musical, onde se misturam pe-
quenos seres alados e plantas e por vezes notas musicas.

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SOBRE A
UTOPIA

Quis Deus que eu viesse ao Mundo hu-
mildemente traçado para servir, tra-
balhar e para sonhar.
Falo de sonho porque nele encontro a
origem de todas as Utopias, toda elas
por definição idealizadas e irrealizá-
veis, e falo de servir e trabalhar, por-
que quem nelas acredita, com vee-
mência, sobre elas funda novos mun-
dos, em geral melhores que os anterio-
res.

Era também considerada Utopia a


Igualdade, mas apesar das diferenças
e atropelos a este Valor a que muitas
das culturas contemporâneas não se
inibem, nunca tantos estiveram tão
próximos em matéria de género, in-
terculturalidade e inclusão num Glo-
bo hoje um pouco mais democratiza- da fome, o fim da doença, o fim da ili- às mais duras e atrozes dificuldades.
do. teracia, um sistema de saúde de quali-
dade acessível a todos, a justiça, o Pla- Abraçar ternamente a Utopia é tam-
Tal como a felicidade, miragem para neta Terra ecologicamente reequili- bém cuidar disto de sermos imperfei-
tantos e tão flagrantemente utópica, brado... tos, de olhos postos no impossível, e de
nunca noutros tempos, que não o nos- não pararmos de tentar, inovar, criar,
so, foi esta aspiração tão valorizada e Mas poderá esta escorregar para o evi- lutar, falhar, voltar a tentar, falhar no-
considerada. Na verdade, em toda a dentemente mau? vamente, falhar melhor.
história universal nunca esta foi bito- Sem dúvida... Quando através desta
la para a realização humana, nem nas nos desligamos da realidade, para pôr Utopia é um pouco como a Visão, feliz-
culturas mais hedonistas, que sacrali- as ideias à frente das pessoas, para mente hoje tão bem implementada co-
zavam o prazer mas não iam mais lon- desprezarmos o bom senso em prol da mo valor para o crescimento das Orga-
ge do que isso, e onde as grandes refe- obstinação cega por objetivos irreali- nizações. Raramente estas se cum-
rências sempre foram da ordem do ma- záveis, quando nos esquecemos enfim prem no modo e tempo esperados, mas
terial, do moral ou do poder. que muitas vezes o ótimo é inimigo do se não tens uma, provavelmente é por-
Posso falar da Utopia como uma coisa bom, e que o Homem é único, irrepetí- que estás mal posicionado, e quando
sumamente boa? vel na sua existência e maravilhosa- não se vê para onde se anda, também é
mente imperfeito. E é exatamente por difícil encontrar caminho…
Posso... ainda há algumas que muito ser imperfeito que é também tão rica-
prezo e estimo, como são a paz, o fim mente criativo e apto para sobreviver NQ

07
MOVIMENTO,
MUDANÇA E
SUPERAÇÃO
Elisabete Gonçalves Silva A vida é uma constante mutação. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” ou
não?
Autora do livro Percursos Imprecisos, Quando andava na escola secundária e nas aulas de História a “stôra” nos perguntava
2013, Lugar da Palavra, descobriu na esco- como estavam as coisas no período em análise, independentemente de qual fosse a
la primária o gosto pela escrita, sendo as época em questão, tínhamos uma colega que respondia invariavelmente:
composições (ou redacções) os seus traba- — Mal, muito mal!
lhos de casa favoritos. E estava sempre correcto! (Hoje também o estaria.)
Aos 12 apaixonou-se pelo Porto, onde vive
desde então. Há 30 anos estávamos sob alçada do FMI… Hoje também estamos.
Licenciada em Línguas e Literaturas Mo-
dernas, conta também com um Master en Antigamente os nossos jovens partiam em busca de algo melhor… Hoje também.
Excelencia Educativa como reforço das su- Nasci em França. Os meus pais partiram em busca daquilo que cá não conseguiam ter.
as competências didácticas e de formação, Não conheciam a língua, nem tinham garantias de sucesso. Vingaram, cresceram e
função que desempenhou profissional- voltaram. Conseguiram dar-nos mais do que o que tiveram, e com isso fizemos mais e
mente por diversas vezes, enquanto cola- mais.
boradora de uma das maiores empresas de Não se conformaram. Lutaram.
telecomunicações portuguesa, cujos qua-
dros integra. Reclamar é sempre fácil, difícil é ser diferente
Define-se como apaixonada pela vida, pe- Quem quiser pode ser dócil e seguir na mesma em frente…
la família, pela cultura, pelos animais e pe- …mas se tiver ousadia de lutar contra os moinhos
la cidade do Porto, cidade belíssima que é Sairá da monotonia e abrirá novos caminhos!
parte integrante da sua identidade.
Vivo no Porto. E vivo o Porto.
O Porto é uma cidade linda.
Passear na baixa e observar as fachadas lindíssimas que por cá proliferam é uma
experiência única…
Desçamos mentalmente a belíssima Avenida dos Aliados, passeemos na rua Mousinho
da Silveira, na rua das Flores, na Ribeira….
Percursos Imprecisos Edifícios talhados em pedra, imponentes, majestosos, coexistem com estruturas
simples e frágeis, de madeira e de saibro, cujos pórticos cheiram a bafio, devido à
Sinopse: humidade e ao caruncho. Estes por sua vez, vivem lado a lado com novas construções,
coloridas e garridas, recentes e diferentes…
Percurso Imprecisos conduz-nos pelo Por- Cada época tem a sua arquitectura, as suas influências, acrescenta o seu contributo…
to, do Bonfim à Ribeira, com as tropelias É a junção de tudo isso que compõe a cidade, a sociedade, a humanidade!
habituais da adolescência e do primeiro Ousemos mudar, e aportemos também o nosso grão de areia!
namoro. Pode uma tragédia condicionar
os eventos futuros de uma ou mais vidas? Elisabete Gonçalves
Carlos vive, cresce… As aventuras suce-
dem-se, caminhos novos cruzam-se, amo-
res surgem… Um livro a não perder!
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
O Fundo Monetário Internacional interveio em Portugal pela primeira vez em 1977 quando Ramalho Eanes era
Presidente da República e Mário Soares era primeiro-ministro do primeiro Governo Constitucional, depois em 1983
e mais recentemente em 2011.

08
AMO
MOVO logo
Ai, O Mundo cabia nas minhas mãos, eu é que em mim não ca-
ouve bia… de alegria.
quero di- Saí num dia de sol e encontrei apenas amigos. Todos me per-
zer-te uma co- guntaram: ”Porque envergas o teu fato de cerimónia?”
isa importante. E respondi que naquele dia, como hoje, engraxava os sapatos
Gosto de ti, de uma e trajava a rigor para celebrar o amor.
maneira tão especial, Nos meus braços carrego hoje um mundo de coisas que te que-
aliás única, porque também ro dar.
és único. Amo-te desde o prime- E é assim que do mundo recebo, porque dar é receber, porque
iro dia da tua vida, antes talvez já quando te entreguei o que levava, vi que em mim não cabia o
te amasse... não sei se se pode ser ama- calor das tuas mãos, o peso dos teus braços, o sabor dessa ale-
do antes de se ser completo, mas talvez já te gria. “Digo-vos, quanto mais penso, mais eu sinto que não há
amasse um pouco antes de acordares para a nada mais verdadeiramente artístico que amar as pessoas.“
consciência. Já te sentia. Único, para além de Vincent Van Gogh
mim mesmo, legítimo, com sede e fome de tudo e eu No POP Projeto Oficina de Pintura a crítica artística não en-
com uma vontade indomável de te ajudar a viver e a ser tra no nosso léxico de prioridades, mas a noção global de de-
completo, feliz. Com uma vontade incontornável de senvolvimento pessoal e colectivo, colaboração confiante e
fazer também esse caminho contigo, de aprender frutuosa, curativa e plena de afectos, enuncia a nossa verda-
a ser feliz. Um dia de cada vez, de hora em ho- deira visão: criar, pintar, esculpir, desenhar, com qualidade
ra, minuto a minuto, com o coração emba- de vida, saúde, e partilhar conhecimentos e experiências ar-
lago pelos segundos. Vivos! É tão bom tísticas, técnicas e tecnológicas de forma rica, dinâmica, li-
estar vivo. É tão bom sentir-te... vre e empreendedora.
Vida. O ontem já foi, o ama- Fazemos da nossa experiência partilhada com os nossos au-
nhã, para além de todas as tores/ alunos um convite: embarquem connosco e deixem-se
minhas previsões, não envolver nesta arte que não é limitada a um grupo, nem mera-
sei o que será, por mente particular ou localizada, mas sim universal, patrimó-
isso é tão espe- nio de todos.
cialmente
bom es- “Para levares para a tua casa, para ficar mais bonita.”
tar Nuno Geada
Artista Plástico .

09
CARCERI
nho optei por fazer um investimento de tempo na construção de
uma composição definida essencialmente por uma divisão do pla-
no em dois sub-planos verticais, utilizando um pilar mestre e orga-
nizando os elementos da parte inferior do enquadramento global
na circunscrição de um triângulo e pelo alinhamento dos outros
a) Introdução elementos segundo linhas diagonais para dar enfâse à ilusão da ac-
ção e do movimento.
Carceri d'Invenzione… O trabalho que aqui descrevo, e que é o “lugar” em que procuro a
Prisões de invenção, prisões inventadas, imaginadas… consolidação da obra final, divide-se em cinco sinopses:
Antes mesmo de iniciar uma pesquisa sobre a história pessoal, da b1 – Piranesi e os “Carceri d´invenzione;
construção da obra ou até do contexto em que ocorreu a sua produ- b2 – A Batalha de Anghiari e a homenagem à obra de Leonardo;
ção, recordo sobretudo o primeiro impacto, a primeira impressão b3 – Estudo do enquadramento e composição; técnica de etching e
que me ficou marcada na memória. da trama (cross etching).
Apesar de ser uma obra descoberta por sugestão directa da Profes- b4 – Conclusão
sora Jacs Aorsa, contextualizada no briefing geral para este tra- b) Desenvolvimento
balho para a disciplina de História e Práticas do Desenho, o que
guardo como ânimo e mote para esta reflexão é esta impressão sen- 1. Piranesi e os «Carceri d’Invenzione»
tida, investida da curiosidade dos primeiros encontros.
O que me fica sobre este conjunto extraordinário de 30 placas de Esta obra é inquestionavelmente uma das obras mais amplamente
gravura, que me deixou uma forte sensação de presença no Imagi- difundidas e abordadas de Piranesi e talvez uma das mais «sui ge-
nário de Piranesi, e que são justamente intituladas “Carceri neris» na evocação à tradição literária da sua época, ao hermetis-
d'Invenzione”, é a impressão de estar a entrar num espaço de inti- mo, às fontes e à estética do Sublime.
midade. Foram publicadas pela primeira vez em 1745, com o título « Inven-
Esse espaço rico e único a qual raramente se tem acesso, tornou-se zione Capric di Carceri), impressas por Giovanni Bouchard e ree-
no móbil para todo o processo criativo, técnico e tecnológico e a se- ditadas em 1760 como «Carceri d’Invenzione, sofrendo ligeiras al-
guir, e em função do briefing dado, estruturei. terações e acrescidas de mais duas gravuras.
Já em pesquisa descobri que efectivamente, este trabalho é contex- Entre a primeira e a segunda tiragem, podem constatar-se algu-
tualizado numa “magnífica junção da fantasia veneziana com a mas das alterações de estilo que espelham o desenvolvimento da
monumentalidade romana ” muito dentro da tradição e maneira obra de Piranesi.
de Tiépolo, nomeadamente na luz e nos volumes. Aqui, podemos identificar a influência da tradição veneziana
Pus-me a somar: (das «Caprici» e da fantasia) e romana dos autores da época, so-
Invenção… bretudo na «maniera» de Tiepolo (como por exemplo, no trata-
Imaginação… mento das luzes e da volumetria) que na sua obra atinge o seu auge
História pessoal/construção da identidade… a partir de 1755 (como nota de contexto: ano do Grande Terramoto
Espaço de intimidade… que devastou Lisboa).
Fantasias… Com um trabalho mais complexo , rico e intrincado, nesta fase é
Monumentalidade vs. volume… possível perceber o horror ao vazio que faz perder a clareza das
Juntamente com um projecto pessoal relacionado com a banda de- obras, dentro de uma composição balizada e ordenada pela utili-
senhada e a ilustração, onde ando à procura de um estilo, de uma zação recursiva da «scena per angolo», frequente nas tipologias
maior classicidade e profundidade na construção simbólica e esté- cenográficas, teatrais, utilizadas por Bibiena, Valeriani, Marco
tica das personagens. Ricci ou Juvarra.
Foi assim que me surgiu a ideia original para esta ilustração que
servirá um episódio que descreve um sonho de Nia, personagem Destas influências, distingue-se a de Juvarra na referência Neo
central da história “O Mundo de Shido”, junto de uma narrativa Quinhentista, Utópica e Anti Clássica.
visual que decorre num cenário onde faço uma colagem de três gra- Na sua obra são ainda distintivos aspectos como a censura à «Ci-
vuras diferentes (Fig. 02, 03 e 04) da série “Carceri dade Barroca», mas em simultâneo à tradicional antinomia da Ro-
d´Invenzione”. ma antiga e também ao organicismo, distorção da perspectiva (co-
Por achar pertinente fiz ainda uma homenagem à “Batalha de mum na Cenografia Tardo Barroca), composição assente em pla-
Anghiari” de Leonardo da Vinci, numa luta encenada, com enfo- nimetrias, interligações de supra estruturas, libertação da forma,
que na descrição de emoções, através do desenho e com uma refe- perda de valor do centro compositivo, a metamorfose das formas
rência velada aos exemplos de deformação caricatural no traba- (que muito explorei nesta minha interpretação pessoal), desarti-
lho de Leonardo, mas também de Hogarth, Goya ou Daumier. culação, distorção e o espaço representado segundo o ideal Huma-
Por outro lado, como matriz global de planeamento de todo o dese- nista.

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«A Batalha de Anghiari» não é mais do que um grupo monumental
Todo este processo formal conduz o espectador a uma percepção de soldados a cavalo numa imagem condensada e intemporal do fu
psicológica e estética que muito me interessou e que autores como ror bélico que achei que poderia ser um excelente contraponto, ir-
Edmund Burke, entre outros, categorizam como «Sublime». Um reverente e antagónico, à ideia de impotência gerada pelo ambi-
Sublime que pretere a perfeição e a clareza da estética pelo valor ente global das «Carceri»- Prisões.
dos conteúdos emotivos, colocando o recurso da imaginação tam- Um novo conjunto figurativo e evocativo de uma luta interior, no
bém nas mãos do espectador que é obrigado a desconstruir e a vol- contexto de uma «Carceri» de onde não há salvação, senão na for-
tar a construir a imagem nas suas múltiplas dimensões. ça e liberdade da «vontade da alma humana».

Indo beber a toda esta percepção e abordagem na «maniera» pró- Para melhor contextualizar « A Batalha de Anghiari», este estudo
pria de Piranesi, intitulei a obra como «Sonho de Nia». Ou seja, so- inicial em cartão e fresco inacabado, surge na obra de Leonardo
nhar na perspectiva e ideia comum na época do «Homem como ac- por solicitação da cidade de Florença, com a finalidade de deco-
tor impotente, num teatro que já não é o seu» combinado com o fas- rar, na técnica do «fresco» a Sala de Conselho do Palazzo Vecchio.
cínio pelos cárceres com o seu significado simbólico de prisões da O seu tema central é a vitória florentina sobre o exército milanês.
mente (como em Coleridge ou Thomas De Quincer) acessíveis so- A pintura nunca foi finalizada, tendo ficado como espólio produ-
bretudo através do onírico. zido apenas um cartão em tamanho natural (à escala) que sobrevi-
veu mais de um século após a sua produção, período em que gozou
2. A Batalha de Anghiari e a homenagem à obra de Leonardo de uma enorme fama.
Hoje, apenas o conhecemos através de cópias de Artistas posterio-
A escolha pela opção de dulpa homenagem neste exercício, surgiu- res a Leonardo, em particular na cópia realizada segundo o origi-
me na sequência de toda a leitura por uma óptica emotiva, das nal, realizada por Peter Paul Rubens em 1605 e actualmente pa-
«Carceri d’Invenzione» de Piranesi. tente no Museu do Louvre, em Paris.
Uma das muitas reflexões que esta série de gravura me convocou
foi a abordagem, por assim dizer, sublime das 5 Emoções hoje des- 4. Estudo do enquadramento e composição; técnica de etching e da
critas, para além dos múltiplos Sentimentos, como Emoções Bási- trama (cross etching)
cas: o Medo, a Raiva, a Tristeza, a Alegria e o Amor.
O paralelismo, apesar de numa abordagem bastante diferente, A primeira abordagem que fiz a este exercício foi efectivamente, e
com o trabalho sobre expressões e emoções na obra de Leonardo pa- numa tradição talvez mais pictórica, a abordagem segundo uma
receu-me possível e pertinente e como na minha liberdade inter- colagem idealizada num enquadramento que julguei coerente com
pretativa já tinha introduzido na minha composição inicial al- o conjunto global das gravuras de Piranesi, sobre o qual construi
guns elementos figurativos, escolhi então dar ênfase a esta leitura uma composição (e repito) «definida essencialmente por uma di-
com um tributo à « Batalha de Anghiari» e à sua dinâmica compo- visão do plano em dois sub-planos verticais, utilizando um pilar
sitiva e expressiva. mestre e organizando os elementos da parte inferior do enquadra-
mento global na circunscrição de um triângulo e pelo alinhamento

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dos outros elementos segundo linhas diagonais para dar enfâse à deira a que consegui chegar:
ilusão da acção e do movimento». « Só quem procura, poderá encontrar»
Só então comecei a fazer um trabalho de trama e trama cruzada,
enquanto fazia uma leitura prática e simulada da técnica desig- A asserção é, de longe, pouco pacífica. Pablo Picasso afirmava por
nada por «Etching» em Gravura e que passo a descrever: exemplo «Eu não procuro, encontro» e quantos não são os que em
todas as áreas do Saber se encontraram fortuitamente, por obra da
Origem | contexto históricos e descrição: sorte ou destino, com as soluções que nem sabiam procurar.
Contudo, e seguindo o raciocínio de Vasari, «Cerca Trova», no de-
A técnica química de gravura foi desenvolvida na idade média senho efectivamente as coisas funcionam assim.
por artesãos, fabricantes de armaduras, árabes como uma forma O Desenho é uma das grandes formas e instrumentos do pensar.É
de aplicação na decoração para armas. Floresceu no século XV, no um pensar com o corpo, com a mão, com o olhar.
sul da Alemanha, onde as primeiras impressões gravadas em pa- Nesta obra que decidi intitular como «o Sonho de Nia» confesso
pel foram impressas no final do século. que pela primeira vez, circunstancialmente, procurei conhecer Gi-
Durante as primeiras décadas do século XVII, artistas holandeses ovanni Batista Piranesi. Não sei se o encontrei completamente,
como Van de Velde, Jan van de Velde II e Willem Buytewech expe- mas confesso que senti como nunca a inquietação que as raras pre-
rimentaram esta técnica. Eles estavam à procura de criar um efei- ciosidades despertam... um não conseguir ou saber ficar indife-
to atmosférico na suas paisagens impressas, e na tentativa conse- rente ao apelo daquele mundo vagamente mimético.
guiram desenvolver um método que rompia com as linhas de con- ... Mas em simultâneo hermético, magnético, misterioso e ao mes-
torno longas transformando-as em curtos traços e pontos. mo tempo, familiar... Humano...
Hercules Segers por sua vez, experimentou esta transformação e
adaptação por um motivo diferente: a necessidade de criar um efe- Cerca Trova!
ito pictórico na impressão em papel colorido ou tela, trabalhando-
as posteriormente com um pincel de cor, tornando assim cada im-
pressão numa peça única. Nuno Quaresma
Rembrandt levou a técnica ao extremo, superando todos os seus an- Janeiro de 2012
tecessores. Nas suas mãos, a gravura tornou-se um meio pleno e
maduro de que se ocupou em períodos longos para o resto da sua vi-
da. BIBLIOGRAFIA
A técnica que utilizei neste desenho referente a Piranesi filia-se
muito no exemplo de Rembrandt que, por conhecer melhor, reco- Marani, Pietro C. (1996), Leonardo, Sociedade Editorial Electa
nheço ter tido grande influência na abordagem pessoal e estilísti- Espana S.A., Madrid.
ca que escolhi.
As Gravuras são impressões, normalmente em papel, de desenhos Janson, H. W. (1998), História da Arte, Fundação Calouste Gul-
ou modelos construídos pelos artistas, em suportes diversos, com benkian, Lisboa.
recurso às técnicas do desenho, pintura ou corte. Estes suportes po-
dem se um bloco de madeira, uma placa de metal ou uma tela de se- Galeria de Pintura do Rei D. Luís – Instituto Português do Patri-
da. mónio Arquitectónico e Arqueológico, (1993), Giovani Battista Pi-
Em Piranesi (assim como em Rembrandt) o suporte é uma chapa ranesi – Invenções, Caprichos, Arquitecturas 1720/1778, Secreta-
fina de cobre. Esta é então coberta com uma mistura resistente aos ria de Estado da Cultura, Lisboa.
ácidos conhecida como base de gravura, composta de betume juda-
ico, resina e cera. Pereirinha, T. (2011), A vida misteriosa de da Vinci, in Revista Sá-
Nesse revestimento fino é então produzido o desenho directamen- bado, n.º 392 (p. 44-54), Grupo Cofina Media SGPS, S.A., Lisboa.
te com uma agulha de gravura, que penetra esta fina película dei-
xando exposta, nestas ranhuras, a placa de cobre.
A placa é colocada, em seguida, num banho de ácido diluído. As
partes expostas, que deixaram de estar protegidas contra o ácido
pela base de gravura, ficam gravadas, em sulcos criados na super-
fície do metal.
Quanto mais tempo a placa é deixada no banho, mais profundos es-
ses sulcos se tornam.
Posteriormente esta base de gravura é removida e a placa limpa e
finalizada com uma almofada de tinta ou com um rolo.
Ela é então limpa manualmente para que a placa fique inteira-
mente despojada de tinta, à excepção dos sulcos.
O passo seguinte é a fixação de uma folha de papel húmida na cha-
pa seguindo-se a compressão de ambos através de rolos de impren-
sa. O papel absorve assim a tinta dos sulcos, produzindo-se uma
impressão invertida do design realizado na chapa.

O desenho que aqui realizei com esta abordagem técnica e tecnoló-


Nuno Quaresma
gica sempre em perspectiva, manteve a fidelidade ao princípio de
Designer (Fundação Salesianos), ilustrador e gestor de projetos de
execução que norteia esta modalidade de criação artística e dei-
arte numa grande variedade de eventos dentro de várias especia-
xou-me efectivamente curioso e interessado na prossecução de
lidades culturais e modelos de negócio social, caracterizados por
uma experiência em placa que penso que me poderia esclarecer al-
um perfil cultural/solidariedade.
guns outros efeitos que pude observar nas reproduções mas que de
Particularmente interessado nas relações cliente/prestadores, re-
alguma forma não soube reproduzir através do uso da trama
des relacionais e partilha de recursos. Sempre interessado em pro-
jetos de parceria artística, bem como de estreita interação com pro-
5. Conclusão
motores culturais e empreendedores. Especialidades: artes plásti-
cas, desenho, ilustração, design, empreendedorismo cultural, con-
«Cerca Trova»
sultoria e pedagogia da arte. Bacharelato em Design pela Escola
Detalhe no topo do fresco da «Batalha de Marciano» de Giorgio Va-
Superior de Educação da Universidade do Algarve, Aluno de Mes-
sari, 1563 (pintado sobre o fresco original de Leonardo, «a Bata-
trado em Design e Cultura Visual no IADE- Instituto Artes Visua-
lha de Anghiari)
is, Design e Marketing (Lisboa).Representação nas colecções da
«Só quem procura, encontrará», Evangelho
Galeria Nova Era, do Arquivo Distrital de Faro, do Instituto Supe-
rior Miguel Torga, do Hotel Mélia (TRYP Hotel) de Coimbra, Junta
Depois de algumas semanas de trabalho, pesquisa e justificação,
de Freguesia de Armação de Pêra, Governo Civil de Castelo Bran-
sem me alargar noutras conclusões senão a mais humilde e verda-
co, Fundação afid Diferença e Fundação Salesianos

12
tricos :), oscila entre a profundidade e a superficialidade, en-

UM COMBOIO tre o Amor, o verdadeiro, e a lascívia… entre o importante e o


relativizável.
Não tenciono extrair daqui generalizações ou fórmulas. Falo
disto porque é a verdade. Já me aconteceu; encontrar o amor

CHAMADO a 120km hora.


A esta velocidade, se espirras, andas aproximadamente 30
metros com os olhos fechados, entregue ao destino, sem cons-
ciência ou controle sobre o que se passa em frente dos teus

DESEJO
olhos.
São 30 metros às escuras.
Procurar amar a 120 Km hora é como dar um salto de fé nu-
ma furna escura de onde o mar se percebe apenas a sua voz e
Um comboio chamado desejo ou o Amor também se encontra cheiro. E de repente, bater na água com força, tocar com os
a 120km por hora é diferente da versão que provavelmente co- pés na areia e abrir os olhos para uma superfície em eferves-
nheces – “ Um elétrico chamado Desejo” - A Streetcar Na- cência.
med Desire, de Elia Kazan com Marlon Brando e Vivien Le- Encontrar o amor assim deixa marca, entre a dor e o prazer,
igh, de 1951. e pouco tempo ou espaço para escolhas.
Nesta minha, improvisada entre as escalas dos autocarros Num amor encontrado assim, há um misto de religiosidade e
frente aos Prazeres (onde curiosamente passam muitos elé- trauma.

13
É um acontecimento à escala planetária, como uma colisão,
na força da trajetória, entre Vénus e Marte.
Contudo, se aprecias as viagens de comboio, sabes que esta
velocidade desenfreada é sentida num estado de relativa
imobilidade. Vive-se, aliás, viaja-se no maior dos confortos e
tranquilidade mas, infelizmente, tristemente… sós.
Quando damos conta, neste comboio chamado desejo, quan-
do acordas da torpeza desse sono de viajante, estás apenas
só.
Olha! Parece que estou a chegar à estação!
Espreito pela janela e vejo as paredes azuis de uma luz mes-
clada que só conheço de Lisboa.
Mais um bocadinho e estou à tua porta!
Por essa estrada, nessa rua, à tua porta…
Viajo num comboio chamado Desejo mas tu és a minha
Casa…

« Procurar amar a 120 Km ho-


ra é como dar um salto de fé nu-
ma furna escura de onde o
mar se percebe apenas a sua
voz e cheiro.
E de repente, bater na água
com força, tocar com os pés na
areia e abrir os olhos para
uma superfície em eferves-
cência. »

14
Desenhar como quem respira, naturalmente ou compulsiva- Os blocos de desenhos são extensões do seu corpo; há que
mente, é para muitos uma função orgânica. construir sketchbooks que se ajustem personalizadamente,
A própria fisionomia e fisiologia concorrem para esta ativi- como luvas, jeans, sapatos, jaquetas ou outros acessórios as-
dade regular do Corpo, da Mão, da Mente, na sua relação sim.
com o Mundo e com o Próximo. O Tailored é feito à mão, todo cosidinho, só para ti!
Eu pessoalmente sou um apologista do respeito pela Diferen- É diferente nas medidas, técnicas, por vezes no construtor.
ça, num mundo de Iguais. A norma é a predileção pela reciclagem, a qualidade e resis-
Acolho a normalização apenas na medida da sua pertinên- tência do papel, capa e costuras e a garantia de que terás um
cia e utilidade no serviço à Justiça, Liberdades e Igualdade. caderno para a vida.
Nas coisas grandes entendo realmente o valor da norma. Um "Lifetime Sketchbooks"!
farol para quem navega à vista. Para Artistas a Sério ;)
Tudo o resto aprecio fora dos intevalos estritos das normas,
cânones, regras... Fascina-me o que é feito à medida de cada
um, com os cuidados e mimos que cada Corpo e Mente preci-
sam.
Encanta-me a simpatia de quem consegue realmente olhar
para dentro da pessoa que está à sua frente...
Comove-me quem o faz com o respeito e reverência de quem
contempla o sagrado, e a coragem da empatia de se colocar
no seu lugar.
Encantam-me as Costureiras e Alfaiates :)
Os "Tailored" são feitos para Mulheres e Homens assim.

Tailored for… Feito à medida de… vê já ninguém na rua. criação artística e cultural são bom
mote para a transgressão, transcen-
Olha para trás… Tailored é fazer à hora certa, na medi- dência, irreverência.
da certa, a contemplar tudo o que está
Olha lá! à volta. O nosso negócio é a construção de ca-
dernos de excelência, mas não hesites
Quando era gaiato, distraído, a nave- Tailored é cozer os retalhos soltos, os em contatar-nos para ilustração, de-
gar na gôndola dos meus sonhos, go- desejos que ficaram por cumprir… sign, micro &social branding e orga-
tas, sementes, ensaiava o ofício de ho- nização de eventos e mostras em Artes
je sem me lembrar sequer de olhar pa- Tailored é trabalho individual, traba- Plásticas.
ra o lado. lho coletivo, é uma construção feita de
Era ali e naquele momento, como é ho- solidariedade, colegialidade, amiza- Fazê-mo-lo com gosto!... “tailored for
je, aqui e agora: o poder da Criativi- de!... até conjugabilidade :) you!”
dade!
Não olho muito para trás; as vezes ne- Tailored é Crença no Mundo e nos Ou-
cessárias. tros!

Olho para a frente, para o horizonte, Produzimos cadernos tipo “sketchbo-


para os pés, para ver a medida a que ok”, cozidos à mão, personalizados, fe-
estou do chão, e penso no quê, como itos à medida e para durar.
nunca, com uma hora de atraso… e à
minha volta, quando regresso, não se Mas todas as outras modalidades de

15
O que pode um homem simples dizer Porque malha o peso da quimera do lu- Hoje pinto para lhe tapar a boca.
ou fazer no Mundo agora? cro pelo lucro sobre a única procura
Não sou, à semelhança da maioria dos que deveria nortear o Homem: a cons- Amanhã, quando tiver um negócio, se-
homens e mulheres dos nossos tempos, trução do Humano? rei íntegro, justo e regulado para lhe
especialista em economia ou finan- Porque permitimos nós, comunidades tapar a boca.
ças, mas como comum entre comuns de Gente, que outros mais cegos ou fe- Amanhã, talvez lhe dê com um pau,
sinto hoje mais desconfiança e receio bris pela abundância, nos enterrem e bem me apetecia… só para que a sua
em relação ao futuro. esmaguem pela sua ganância, obses- goela míngue e o seu apetite se miti-
Pelo menos em relação a este futuro, a são e controlo? gue… sem que lhe não falte pão para a
dois tempos, em que alguns enrique- E quem regula este capital que nos re- boca.
cem e muitos empobrecem. gula?
N.Q.
A quem pertence a responsabilidade
Não penso assim por despotismo. de lutar, nas formas pacíficas que a
Passo a vida a desejar o melhor para responsabilidade também obriga, con-
quem o procura, para quem luta por tra esta falta de empatia, piedade, ra-
mais e melhor. cionalidade?
Alegra-me a visão da abundância no
regaço de quem for.
Celebro a fertilidade por si só e regalo Quem tapa a boca a esta criatura vo-
os olhos quando vejo a Terra cheia de raz?
tudo e do bom.

Por isso não consigo deixar de inda-


gar porque é que neste Mundo onde há
excesso e abundância de tudo, vemos
fome, desemprego, doença, desprote-
ção na saúde e na velhice?
Porque que pagam os homens e as mu-
MAIS
NÃO
lheres do nosso tempo os caprichos da
doutrina do Capitalismo desenfrea-
do?

16
17
Movimento - Mudança gatado pela contrarreforma e o segun- lo moderno, e você em estilo egipcio."
Há quem diga que Sucesso é Movimi- do se expandia com a modernidade. A Cubismo analítico (1908-1911) – de-
ento, há quem diga que motivação é mo- partir disso, surgiu uma vertente en- senvolvido por Picasso e Braque: Seu
vimento... contrada no Barroco, que era o fusio- estilo era a utilização de poucas cores,
E a sociedade mostra que os Movimen- nismo. O Barroco teve grandes in- a definição de um tema apresentado
tos Artísticos influenciam directa ou fluências na arquitetura de alguns dos em todos os ângulos. A Perda da reali-
indirectamente as mudanças Cultura- países da Europa e também da Améri- dade, sendo impossível reconhecer as
is. ca Latina. As construções não costu- figuras.
Na vida todo movimento já seja fisico, mam seguir padrões geométricos, mui- Cubismo sintético: Fugia dessa perda
social, espiritual, em grupo ou indivi- to menos simétricos. O escritor brasi- de realidade, mas procurava retratá-
dual leva com ele as mudanças inter- leiro, Paulo Coelho, publicou um livro,
nas e externas de forma que todos pos- “O Diário de um Mago”, onde nos con-
samos transformar o cansaço em Ener- ta da influência da época Barroca.
gia, parece tão simples verdade?!... Os Renascentistas baseavam-se em
mas sabemos que para que movimento conceitos filosóficos e antropológicos.
e mudança aconteçam em equilíbrio e O Humanismo é um dos segmentos do
evolução temos que actuar com persis- Renascimento e trabalha com o uso to-
tência, com empreendedorismo e fazer tal da razão por meio de experimen-
da inovação a mudança vital para tos.
uma melhor visão de futuro. Com o desenvolvimento do Renasci-
Gostava de reflectir um pouco sobre os mento, as características mudaram, a
principais movimentos artísticos do espiritualidade foi deixada de lado e
Século XVIII até ao Século XXI, cheios abriu-se caminho para um sentimento
de contradições e complexidades. É otimista, que desfruta do mundo mate-
possível encontrar um caminho para a rial. Começaram a observar a vida co-
criação de novos conceitos no campo mo um ciclo e a acreditar que o homem
das artes, por isso em algumas cultu- não tem o controle sobre suas emoções,
ras, o desenvolver da educação pela muito menos sobre seu tempo de vida.
Arte parece ser o motor da mudança in- Curiosamente em Portugal o renas-
terna no que se refere ao nosso sentir e centismo teve pouca influência, talvez
a criar símbolos fortes que ajudam a esta ausência tenha contribuído para
flexibilizar a rigidez de algumas esco- um menor otimisto sentido na socieda-
las tradicionais. Símbolos fortes como de portuguesa?!
a sensibilidade, cooperação e o prazer Senti no Cubismo uma despreocupa-
de trabalhar em equipa. ção em representar realisticamente a
Sabemos que os movimentos e as mu- formas de um objeto, porém aqui, a
danças, “tendências artísticas”, tais tenção era representar um mesmo
como o Expressionismo, o Fauvismo, o to visto de vários ângulos num
Cubismo, o Movimento Barroco, o Re- plano. Com o tempo, o Cubism
nascentismo , o Futurismo, o Abstraci-
onismo, o Dadaísmo, o Surrealismo, a
Tania Estrada, quien es? Op-art e a Pop-art expressam, de um
modo ou de outro, a perplexidade do
homem contemporâneo, a cultura pop
Nuestra mentora Dr. Tania Estrada?
também na música como na dança
Es un luchador incansable, no desar-
mostram o seu movimiento buscando
ma nunca, nunca se da por vencida
expressar o mundo do inconsciente a
.Se compromete, siempre añadiendo
partir dos sonhos e desejos de liberda-
algo , conocimiento, iniciativas , pro- de, e de auto-afirmação..... Auto-
mueve con compromiso elevado y con- afirmação de quê?!!
cretiza las acciones con un carisma bi- Interessante foi o ano em que surge o
en rede con tremendo carácter peda-
en asertivo. Expressionismo ele aparece como
gógico fue un suceso.
uma reação ao Impressionismo, foi
Fundo la marca, el Instituto Tania um ano de mudanças positivas, pois
Nunca desanima , siempre de "cara fe-
Estrada en el año 2005 . no primeiro, a preocupação está em ex-
liz" y con una sonrisa, "sacude" las he-
ridas y luego se va a luchar con deter- pressar as emoções humanas, trans-
En este instituto, no sólo se trata de la parecendo em linhas e cores vibrantes
minación, a luchar por las próximas
salud mental, si no también se le da Vi- os sentimentos e angústias do homem
metas, con elevada creatividad, hace
da a varios proyectos técnicos como la moderno. Enquanto que no Impressio-
siempre el CAMINO.
promoción del desarrollo personal ;la nismo, o enfoque resumia-se na busc
pedagogía la investigado; en el ámbito pela sensação de luz e sombra, “pa
Es difícil de cuantificar, está siempre
de la bulimia y la anorexia . mos da técnica à ilustração das
atenta y lista para el próximo proyec-
ções.”
to, Podría estar aquí para escribir pá-
De la psicología en general, con el com- O movimento Barroco teve s
ginas y páginas de sus actividades, pe-
partir exigente ,supervisión franca y na Itália, no final do século
ro la práctica de la Dra. Tania Estra-
seria de los ensayos clínicos que ella do século XVIII a palavr
da habla por sí mismo, y su modestia
estudia y concretiza. de origem portuguesa,
también . pedra preciosa imper
Es ecléctica, capaz de promover, con us formatos irregula
Víctor Lopes da Gama Cerqueira Uma das ideias d
un gran éxito científico, educativo y
Maestría en Salud Mental y Clínica roco era de fazer
social " El Congreso Científico de Ano-
Social. mentos, fé e ci
rexia Y Bulimia cuyo tema Disturbios

18
complexidade da sociedade moderna. preservação da natureza, buscando
Em crítica à cultura europeia surge a as linhas de aproximação entre Arte e
E

Pintura Metafísica – uma pintura que Meio Ambiente.


as

mostrava a falta de sentido da socie- Nos processos de Mudanças em que


dade contemporânea: mistério, luzes, muitas instituiçõees do Brasil hoje se
oc

objetos, sombras e cores intrigantes ti- vêem envolvidas, têm já por base a ca-
ied

nha como principal artista, pacidade de realizar o Movimento da


Giorgio De Chirico (1888-1979), um Pedagogia do Desejo.
ad

a pintor italiano, com suas obras “O Desejo que Portugal caminhe no Dese-
Enigma da Chegada” e “O Regresso do
em

- jo de algumas Mudanças na conquis-


Poeta”. ta de novas atitudes, onde figure a Par-
Outros Movimentos do Século XXI tilha a Dois, as boas Perguntas, o Ques-
os

Curiosidades : O steampunk (subgé- tionar, a Cultura da Responsabilida-


tra

nero da ficção científica que trata de de, a Sensibilidade para olhar para o
evoluções tecnológicas que acontecem nosso lado, a autoconfiança de que fa-
qu

em épocas anteriores às que ocorre- zemos nosso melhor sem comparações.


ram na realidade) também tem sua O movimento de Educação pela Arte é
eo

parcela de arte única. O idealismo ste- a verdadeira transformação do sentir


sM

ampunk usa o conceito de ressuscitar actual, em que cada um de nos possa


tecnologias antigas, aqui vejo clara converter o Cansanço em Energia pelo
prazer das coisas boas que fazemos.
ov
im

Diferentemente do que pensamos:


“Não somos ilhas isoladas, e sim par-
en

tes de uma mesma célula – distintos,


tos

porém interligados.”
Ar

Que seja o Movimento pela Arte


a nossa Energia na Mudança!
tís

Tania Estrada Morales


tic

15/07/2014
os

la de várias formas. Foi chamado, tam-


- bém, de colagem, porque eles coloca-
in

as vam tudo o que podiam, como letras,


flu

a in- números, vidros, etc., com o intuito de


o obje- criar novos efeitos e despertar a aten-
en

m único ção.
O abstracionismo é a arte que se opõe
cia

mo evolu
à arte figurativa ou objetiva. A princi-
pal característica da pintura abstrata
m

é a ausência de relação imediata entre


di

suas formas e cores e as formas e cores


re

de um ser. A pintura abstrata é uma mente o conceito do Criativo é contra-


manifestação artística que despreza riar o banal.
cta

completamente a simples cópia das for- Este movimento o steampunk fez que
mas naturais, interessante como este meu pensamento viajasse a minhas lei-
ou

movimento pode influenciar estilos e turas de criança da obras de Júlio Ver-


influenciadores no mundo das artes, e ne.
in

a forma de ver nosso talento. A Educação pela Arte, é para mim um


di

No impressionismo, estilo marcado movimento transformador com mu-


re

por cores fortes e brilhantes, texturas danças positivas na educação e Cultu-


e linhas harmónicas, prevalecem as ra do País, como estamos vendo ac-
cta

paisagens, os grupos de pessoas e as contecer no movimento Eco-Art.


me

formas humanas. Neste movimento O mesmo reúne obras sobre ecologia e


aparece uma mudança no talento e na
n

paixão no que refere “motivação dos


te

Artistas”.
Os estudos de Freud sobre psicanalis-
as

-
ca mo e a política mostravam a complexi-
m

assa- dade da sociedade moderna. Em críti-


iu em dois grandes movimentos e mu-
ud

s emo- ca à cultura europeia, surgiram:


danças chamados Cubismo Analítico O Futurismo: O futurismo é um estilo
an

seu início e Cubismo Sintético. Podemos dizer influenciado pelo movimento literário
que o cubismo nasceu como um movi- Manifesto Furista, criado por Filippo
ça

XVI, início
ra “barroco”, mento no ano 1908, constituído em Tommaso Marinetti, em 1909 um poe-
sC

significa uma Montmartre (Rue Ravignon 13), onde ta e escritor italiano que sugeriu às
rfeita, com os se- viviam Picasso, Max Jacob e Juan pinturas a velocidade das máquinas e
ult

ares. Gris. O grupo Bateau Lavoir organi- a exaltação do futuro para os pintores
zou uma homenagem ao Rousseau, du- desse estilo, os artistas não tinham es-
ur

do fenómeno do Bar-
r a junção dos dois ele- rante a comemoração Picasso em tom sa visão de futuro! INTERESSANTE!
a

iência. O primeiro, res- de muito entusiamso disse: "Você e eu Os estudos de Freud sobre psicanalis-
is.

somos os pintores actuais. Eu em esti- mo em Cultura política mostravam a

19
Serve para quê?

“Se, por um lado, os poderes do homem, o animal sábio, nos Cosmos.


enchem de admiração, por outro lado, não podemos deixar Por cima de mim navegam nuvens enormes, voluptuosas,
de nos espantar com a lentidão da sua aprendizagem. E o ma- num lento vórtice que me dá a sensação que é antes a Terra
ior de todos os obstáculos a essa aprendizagem é a quantida- que se move.
de de aprendizagem acumulada que com as suas ilusões de E o azul enche-me. E a sua luz enche os meus Filhos de Sol, e
conhecimento ele foi juntado” nos seus sorrisos sinto saúde, vejo o Amor e as promessas do
futuro.
In “os Pensadores” – capítulo 21 – “Francis Bacon e a visão Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-
dos velhos ídolos e dos novos domínios”, de Daniel J. Boors- cia?
tin. O meu Pai tem andado doente, o pecúnio que recebo pela mi-
nha prestação no trabalho não me chega para pagar as con-
Sinto-me assim, num novo renascimento da consciência de tas e o desemprego ameaça ou afeta metade dos meus Ami-
que o que “sei” atrapalha mais o que” desejo saber”, e que gos.
não posso escapar dessa condição animal, orgânica, que me O tempo míngua de tal forma que já quase não consigo pin-
liga ao Real e às Coisas. tar. E o Mundo ainda está cheio de fome, doença, injustiça e
guerra.
Sou um homem e sinto, comovo-me, amo, odeio, alegro-me, Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-
zango-me, sinto prazer, dor, desconforto, comichão, cócegas. cia?
Não sou apenas este corpo, em transformação, em constante Paro.
recursão, reconstrução autopoiética, mas dele dependo para Paro por um bocado.
a perceção e interação com o que me rodeia. Olho para todo este fluxo imparável, incomensurável de in-
Pois o que me acontece é que após 39 anos de acumulação de formação que se me atravessa pela frente e procuro desper-
informação, no meio de tanta sensação, intuição e emoção, tar.
já é com dificuldade que me consigo posicionar para ver com Acordo e paro e fico só atento, a olhar, a ouvir, a sentir, a chei-
clarividência o Universo à minha volta. rar…
Quem sou, de onde venho, para onde vou? Paro e despojo-me das vestes, andrajos, com que me tenho en-
Aliás, já me custa até pensar nestas questões do de onde vi- feitado…
mos, para onde vamos, quem somos. Servem a minha liberdade, serve a liberdade dos meus Meni-
Em verdade, as questões já nem me aparecem como “por- nos.
quês” mas antes como um simples “para que serve?” Servem o meu desejo de viver.
Servem a minha felicidade.
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên- Servem a minha ligação ao Real, ao Mundo e ao Outro, sem
cia? subversões ou subjugação.
Servem-me de coragem para esvaziar o copo quando é preci-
Hoje, no meio de uma tarde prazenteira, ensolarada, brinco so, para abrir as janelas da mente, para que a alma se me não
no jardim com os meus Filhos e só amiúde me distraio, das su- cristalize ou coagule, não pare nem no tempo nem no espaço.
as gargalhadas e tropelias, pela brisa temperada que me pas- Ao mesmo tempo, não servem para nada… por isso as procu-
sa pelos cabelos. ro, as escolho.
É um estado de graça que agradeço a Deus, aos Deuses, ao NQ, Abril 2014

20
MOVE
PARA
ONDE ?
Serve para quê?
Cosmos.
“Se, por um lado, os poderes do homem, o animal sábio, nos Por cima de mim navegam nuvens enormes, voluptuosas,
enchem de admiração, por outro lado, não podemos deixar num lento vórtice que me dá a sensação que é antes a Terra
de nos espantar com a lentidão da sua aprendizagem. E o ma- que se move.
ior de todos os obstáculos a essa aprendizagem é a quantida- E o azul enche-me. E a sua luz enche os meus Filhos de Sol, e
de de aprendizagem acumulada que com as suas ilusões de nos seus sorrisos sinto saúde, vejo o Amor e as promessas do
conhecimento ele foi juntado” futuro.
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-
In “os Pensadores” – capítulo 21 – “Francis Bacon e a visão cia?
dos velhos ídolos e dos novos domínios”, de Daniel J. Boors- O meu Pai tem andado doente, o pecúnio que recebo pela mi-
tin. nha prestação no trabalho não me chega para pagar as con-
tas e o desemprego ameaça ou afeta metade dos meus Ami-
Sinto-me assim, num novo renascimento da consciência de gos.
que o que “sei” atrapalha mais o que” desejo saber”, e que O tempo míngua de tal forma que já quase não consigo pin-
não posso escapar dessa condição animal, orgânica, que me tar. E o Mundo ainda está cheio de fome, doença, injustiça e
liga ao Real e às Coisas. guerra.
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-
Sou um homem e sinto, comovo-me, amo, odeio, alegro-me, cia?
zango-me, sinto prazer, dor, desconforto, comichão, cócegas. Paro.
Não sou apenas este corpo, em transformação, em constante Paro por um bocado.
recursão, reconstrução autopoiética, mas dele dependo para Olho para todo este fluxo imparável, incomensurável de in-
a perceção e interação com o que me rodeia. formação que se me atravessa pela frente e procuro desper-
Pois o que me acontece é que após 39 anos de acumulação de tar.
informação, no meio de tanta sensação, intuição e emoção, Acordo e paro e fico só atento, a olhar, a ouvir, a sentir, a chei-
já é com dificuldade que me consigo posicionar para ver com rar…
clarividência o Universo à minha volta. Paro e despojo-me das vestes, andrajos, com que me tenho en-
Quem sou, de onde venho, para onde vou? feitado…
Aliás, já me custa até pensar nestas questões do de onde vi- Servem a minha liberdade, serve a liberdade dos meus Meni-
mos, para onde vamos, quem somos. nos.
Em verdade, as questões já nem me aparecem como “por- Servem o meu desejo de viver.
quês” mas antes como um simples “para que serve?” Servem a minha felicidade.
Servem a minha ligação ao Real, ao Mundo e ao Outro, sem
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên- subversões ou subjugação.
cia? Servem-me de coragem para esvaziar o copo quando é preci-
so, para abrir as janelas da mente, para que a alma se me não
Hoje, no meio de uma tarde prazenteira, ensolarada, brinco cristalize ou coagule, não pare nem no tempo nem no espaço.
no jardim com os meus Filhos e só amiúde me distraio, das su- Ao mesmo tempo, não servem para nada… por isso as procu-
as gargalhadas e tropelias, pela brisa temperada que me pas- ro, as escolho.
sa pelos cabelos. NQ, Abril 2014
É um estado de graça que agradeço a Deus, aos Deuses, ao

21
OM, Aum, o som do movimento do Uni- nos cheio”. mento, para ver se a pintar desmistifi-
verso, o eco do seu início distante… É mais fácil encher um copo vazio do co e desmistificando exorcizo essa for-
Vivo na era da descoberta do Bosão de que fazer entrar o que seja numa mal- ça magnética que me agarra obsessi-
Higgs, do pleno, seguro e consolidado ga (amálgama!) a transbordar. vamente à forma das coisas.
funcionamento do Acelerador de Par- A dura tarefa que tenho hoje pela fren- Pensando menos sentirei talvez mais.
tículas do CERN, já numa época pós te é esvaziar-me desse caudal. Mais perto estarei talvez do essencial,
Relatividade Geral de Einstein, nos É minha essa tarefa apenas porque a do conteúdo. Mais perto da verdade,
tempos da elaboradíssima complexi- escolho. quem sabe, da consciência, do cora-
dade matemática da Teoria das Cor- Não sei se sou capaz, se estou à altura ção… de Ti!
das. da complexa exigência do seu postu-
No meu íntimo, no fundo da minha al- lado. Aka OM (Aum), já em outubro deste
ma (será que esta existe?)procuro con- Sigo com a simplicidade, humildade e ano, com o apoio Tailored, AKA Art
tudo e apenas ouvi-lo: este silêncio receios de uma criança (talvez até Projects e da Câmara Municipal de
que é também um rumor sem fim. com um pouco da sua indisciplina e ir- Sintra.M, Aum, o som do movimento
Quando me concentro, respiro-o, sin- reverência). do Universo, o eco do seu início dis-
to-lhe, por momentos, essa nesgazinha Por isso começo por desenhar e pintar. tante…
de grandiosidade de que todos somos Não me levem a mal. Não sou capaz de Vivo na era da descoberta do Bosão de
parte. o fazer de outra forma agora. Higgs, do pleno, seguro e consolidado
Já me explicaram que maís o conse- Vou pintar o que não compreendo, pin- funcionamento do Acelerador de Par-
guiria integrar se tivesse “o copo me tarei tudo o que me distraí o pensa tículas do CERN, já numa época pós
M, Aum, o som do movimento do Uni- Relatividade Geral de Einstein, nos
verso, o eco do seu início distante… tempos da elaboradíssima complexi-
Vivo na era da descoberta do Bosão de dade matemática da Teoria das Cor-
Higgs, do pleno, seguro e consolidado das.
funcionamento do Acelerador de Par- No meu íntimo, no fundo da minha al-
tículas do CERN, já numa época pós ma (será que esta existe?)procuro con-
Relatividade Geral de Einstein, nos tudo e apenas ouvi-lo: este silêncio
tempos da elaboradíssima complexi- que é também um rumor sem fim.
dade matemática da Teoria das Cor- Quando me concentro, respiro-o, sin-
das. to-lhe, por momentos, essa nesgazinha
No meu íntimo, no fundo da minha al- de grandiosidade de que todos somos
ma (será que esta existe?)procuro con- parte.
tudo e apenas ouvi-lo: este silêncio Já me explicaram que maís o conse-
que é também um rumor sem fim. guiria integrar se tivesse “o copo me
Quando me concentro, respiro-o, sin-
to-lhe, por momentos, essa nesgazinha

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OM, Aum, o som do movimento do Uni-
verso, o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-
tículas do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-
dade matemática da Teoria das Cor-
das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-
ma (será que esta existe?)procuro con-
tudo e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-
to-lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos
parte.
Já me explicaram que maís o conse-
guiria integrar se tivesse “o copo me
M, Aum, o som do movimento do Uni-
verso, o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-
tículas do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-
dade matemática da Teoria das Cor-
das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-
nos cheio”. mento, para ver se a pintar desmistifi-
ma (será que esta existe?)procuro con-
É mais fácil encher um copo vazio do co e desmistificando exorcizo essa for-
tudo e apenas ouvi-lo: este silêncio
que fazer entrar o que seja numa mal- ça magnética que me agarra obsessi-
que é também um rumor sem fim.
ga (amálgama!) a transbordar. vamente à forma das coisas.
Quando me concentro, respiro-o, sin-
A dura tarefa que tenho hoje pela fren- Pensando menos sentirei talvez mais.
to-lhe, por momentos, essa nesgazinha
te é esvaziar-me desse caudal. Mais perto estarei talvez do essencial,
de grandiosidade de que todos somos
É minha essa tarefa apenas porque a do conteúdo. Mais perto da verdade,
parte.
escolho. quem sabe, da consciência, do cora-
Já me explicaram que maís o conse-
Não sei se sou capaz, se estou à altura ção… de Ti!
guiria integrar se tivesse “o copo
da complexa exigência do seu postu-
meM, Aum, o som do movimento do
lado. Aka OM (Aum), já em outubro deste
Universo, o eco do seu início distan-
Sigo com a simplicidade, humildade e ano, com o apoio Tailored, AKA Art
te…
receios de uma criança (talvez até Projects e da Câmara Municipal de
Vivo na era da descoberta do Bosão de
com um pouco da sua indisciplina e ir- Sintra.M, Aum, o som do movimento
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
reverência). do Universo, o eco do seu início dis-
funcionamento do Acelerador de Par-
Por isso começo por desenhar e pintar. tante…
tículas do CERN, já numa época pós
Não me levem a mal. Não sou capaz de Vivo na era da descoberta do Bosão de
Relatividade Geral de Einstein, nos
o fazer de outra forma agora. Higgs, do pleno, seguro e consolidado
tempos da elaboradíssima complexi-

23
Já há 15 anos que não desenhava com modelo vivo e este A palavra Ginásio, por exemplo, significa local de nudez.
olhar que não despoja, antes vê, com ternura, com respeito, a Até ao início do séc. VIII, os baptismos cristãos eram recebi-
cada traço, em cada pincelada é um gesto religioso de reve- dos em despojamento e nudez também, numa imersão em
rência à Vida humana e à sua forma. água, a simbolizar um novo nascimento. O Nú como o prime-
iro momento existencial…
Para quem nunca deu conta do significado desta disciplina
formal, no âmbito do desenho, a sua prática funda-se na ex- O desaparecimento desta prática acentuou mais tarde, a co-
periência enraizada ao longo dos tempos que o Desenho de notação sexual da nudez.
Modelo é realmente o exercício mais completo para compre-
ender conceitos como: composição, enquadramento, volume- Verdade, Simbolismo, Espiritualidade, Religiosidade, Eroti-
tria, claro-escuro, linha, mancha ou trama. É o desenho na es- zação, Vergonha…
cala do humano que no fundo se transforma em referência Nestes desenhos fazemos assim, não uma representação,
nuclear e centro de gravidade para a nossa relação com o mas uma reapresentação de todas as nossas experiências em
mundo que nos rodeia. contato com o mundo circundante, elaboradas com completo
envolvimento da nossa organização
Mas o Nu, em si, não é apenas, e dentro deste contexto das
Artes, uma representação de uma pessoa sem indumentária primária, dos nossos padrões de vivência, da nossa vontade
ou ponto de partida para uma aprendizagem meramente ar- incontornável de saber e Ser mais. Que riqueza!
tística.
O Nu traz consigo outras conotações. O Antropocentrismo e humanismo subjacentes a esta moda-
Na sua percepção simbólica pode, entre outras coisas, ser lidade de desenho são assim tecidos pelo desenhador e espec-
evocado como a Verdade, despojada de todos os acessórios. tador em torno dos corpos que habitamos e dos outros que sen-
Na Grécia Antiga, em regiões como Minoa e Esparta, a nu- timos habitados, sem preconceitos sobre o que é o real ou se-
dez era, seguindo esta leitura, francamente bem aceite. Nos quer sobre a presença de cada um nos seus domínios parti-
Jogos Olímp icos, os Atletas competiam inclusivamente nus. culares de existência.

24
A mim, pessoalmente, em cada Modelo deslumbra-me a rela-
ção que
estabelecem com o espaço, com as infinitas possibilidades de
mobilidade e posicionamento dentro dele. Enternece-me ca-
da ténue
interacção com os desenhadores, pintores, escultores, tam-
bém eles, também eu, outros corpos atarefados neste vínculo
momentâneo em que, em traços ou pinceladas, tanta coisa se
torna sublime e desvela.
A palavra Ginásio, por exem-
Se queres partilhar um pouco desta energia, em contacto com
os originais, podes encontrar uma selecção disponível para
plo, significa local de nudez.
venda em: Até ao início do séc. VIII, os
Atenciosamente, baptismos cristãos eram rece-
Nuno Quaresma
Maio de 2011
bidos em despojamento e nu-
dez também, numa imersão
em água, a simbolizar um no-
vo nascimento. O Nú como o
primeiro momento existenci-
al…

25
O que pode um homem simples dizer Por isso não consigo deixar de inda-
ou fazer no Mundo agora? Não penso assim por despotismo. gar porque é que neste Mundo onde há
Não sou, à semelhança da maioria dos Passo a vida a desejar o melhor para excesso e abundância de tudo, vemos
homens e mulheres dos nossos tempos, quem o procura, para quem luta por fome, desemprego, doença, desprote-
especialista em economia ou finan- mais e melhor. ção na saúde e na velhice?
ças, mas como comum entre comuns Alegra-me a visão da abundância no Porque que pagam os homens e as mu-
sinto hoje mais desconfiança e receio regaço de quem for. lheres do nosso tempo os caprichos da
em relação ao futuro. Celebro a fertilidade por si só e regalo doutrina do Capitalismo desenfrea-
Pelo menos em relação a este futuro, a os olhos quando vejo a Terra cheia de do?
dois tempos, em que alguns enrique- tudo e do bom.
cem e muitos empobrecem. Porque malha o peso da quimera do lu-

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O que pode um homem simples dizer Por isso não consigo deixar de inda-
ou fazer no Mundo agora? Não penso assim por despotismo. gar porque é que neste Mundo onde há
Não sou, à semelhança da maioria dos Passo a vida a desejar o melhor para excesso e abundância de tudo, vemos
homens e mulheres dos nossos tempos, quem o procura, para quem luta por fome, desemprego, doença, desprote-
especialista em economia ou finan- mais e melhor. ção na saúde e na velhice?
ças, mas como comum entre comuns Alegra-me a visão da abundância no Porque que pagam os homens e as mu-
sinto hoje mais desconfiança e receio regaço de quem for. lheres do nosso tempo os caprichos da
em relação ao futuro. Celebro a fertilidade por si só e regalo doutrina do Capitalismo desenfrea-
Pelo menos em relação a este futuro, a os olhos quando vejo a Terra cheia de do?
dois tempos, em que alguns enrique- tudo e do bom.
cem e muitos empobrecem. Porque malha o peso da quimera do lu-

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OM, Aum, o som do movimento do Uni- da complexa exigência do seu postu- Aum, o som do movimento do Univer-
verso, o eco do seu início distante… lado. so, o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de Sigo com a simplicidade, humildade e Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado receios de uma criança (talvez até Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par- com um pouco da sua indisciplina e ir- funcionamento do Acelerador de Par-
tículas do CERN, já numa época pós reverência). tículas do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos Por isso começo por desenhar e pintar. Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi- Não me levem a mal. Não sou capaz de tempos da elaboradíssima complexi-
dade matemática da Teoria das Cor- o fazer de outra forma agora. dade matemática da Teoria das Cor-
das. Vou pintar o que não compreendo, pin- das.
No meu íntimo, no fundo da minha al- tarei tudo o que me distraí o pensa No meu íntimo, no fundo da minha al-
ma (será que esta existe?)procuro con- mento, para ver se a pintar desmistifi- ma (será que esta existe?)procuro con-
tudo e apenas ouvi-lo: este silêncio co e desmistificando exorcizo essa for- tudo e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim. ça magnética que me agarra obsessi- que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin- vamente à forma das coisas. Quando me concentro, respiro-o, sin-
to-lhe, por momentos, essa nesgazinha Pensando menos sentirei talvez mais. to-lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos Mais perto estarei talvez do essencial, de grandiosidade de que todos somos
parte. do conteúdo. Mais perto da verdade, parte.
Já me explicaram que maís o conse- quem sabe, da consciência, do cora- Já me explicaram que maís o conse-
guiria integrar se tivesse “o copo me ção… de Ti! guiria integrar se tivesse “o copo me
M, Aum, o som do movimento do Uni- M, Aum, o som do movimento do Uni-
verso, o eco do seu início distante… iria integrar se tivesse “o copo meOM, verso, o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par- funcionamento do Acelerador de Par-
tículas do CERN, já numa época pós tículas do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi- tempos da elaboradíssima complexi-
dade matemática da Teoria das Cor- dade matemática da Teoria das Cor-
das. das.
No meu íntimo, no fundo da minha al- No meu íntimo, no fundo da minha al-
ma (será que esta existe?)procuro con- ma (será que esta existe?)procuro con-
tudo e apenas ouvi-lo: este silêncio tudo e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim. que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin- Quando me concentro, respiro-o, sin-
to-lhe, por momentos, essa nesgazinha to-lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos de grandiosidade de que todos somos
parte. parte.
Já me explicaram que maís o conse- Já me explicaram que maís o conse-
guiria integrar se tivesse “o copo guiria integrar se tivesse “o copo
meM, Aum, o som do movimento do meM, Aum, o som do movimento do
Universo, o eco do seu início distan- Universo, o eco do seu início distan-
te… te…
Vivo na era da descoberta do Bosão de Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par- funcionamento do Acelerador de Par-
tículas do CERN, já numa época pós tículas do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi- tempos da elaboradíssima complexi-
dade matemática da Teoria das Cor- dade matemática da Teoria das Cor-
das. das.
No meu íntimo, no fundo da minha al- No meu íntimo, no fundo da minha al-
ma (será que esta existe?)procuro con- ma (será que esta existe?)procuro con-
tudo e apenas ouvi-lo: este silêncio tudo e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim. que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin- Quando me concentro, respiro-o, sin-
to-lhe, por momentos, essa nesgazinha to-lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos de grandiosidade de que todos somos
parte. parte.
Já me explicaram que maís o conse- Já me explicaram que maís o conse-
guiria integrar se tivesse “o copo me guiria integrar se tivesse “o copo me
nos cheio”. nos cheio”.
É mais fácil encher um copo vazio do É mais fácil encher um copo vazio do
que fazer entrar o que seja numa mal- que fazer entrar o que seja numa mal-
ga (amálgama!) a transbordar. ga (amálgama!) a transbordar.
A dura tarefa que tenho hoje pela fren- A dura tarefa que tenho hoje pela fren-
te é esvaziar-me desse caudal. te é esvaziar-me desse caudal.
É minha essa tarefa apenas porque a É minha essa tarefa apenas porque a
escolho. escolho.
Não sei se sou capaz, se estou à altura Não sei se sou capaz, se estou à altura

28
NÓS
SABEMOS
Tenho a convicção de que a percepção
é apenas a porta de entrada para um
conhecimento maior que o entendi-
mento em si mesmo.
Sem o erro da expectativa, e a escolha
não assumida de que o vazio é neces-
sário, talvez seja a perda o despertar
necessário para a obrigatoriedade
sempre voluntária de abandonar o
“pouco” em detrimento do “tudo”, po-
is o que criamos será sempre pouco
quando comparado com o que foi cria-
do e acumulado antes de nós.
Poderá até nem ser este o caminho da
GRITA
redenção, mas perder o mapa faz-nos
perceber que o acumular de informa-
ção não nos torna mais sábios;
cada estrada é uma incógnita até a
percorrermos por nós mesmos; saben-
COMIGO
do que nunca as percorreremos todas, Grita comigo;
isso só nos dá mais tempo para apreci- Dá-me todas as palavras de ódio e dor
armos cada uma delas;
encaro a limitação temporal como a
maior dádiva que a vida nos pode dar;
a verdadeira superioridade face aos
acumuladas até ficares vazio
Aponta-me o dedo, cerra os dentes,
franze as sobrancelhas, e acusa-me
EASIER
mesmo que o raciocínio não faça sen-
demais seres; tido Easier?
NÒS SABEMOS que um dia mudare- Amaldiçoa-me pelas tuas escolhas er- Pedaços essenciais de entendimento
mos de estado; não interessa o como, o radas, deseja-me penitências sofridas encontram-se nos locais e nas pessoas
para quê, nem mesmo o quando; ape- e eternas pelos teus pecados mais improváveis.
nas sabemos que sendo talvez a única Eu nada direi; Estiveram eles sempre ali à espera de
verdade universal, irá acontecer. É através da minha imperfeição que ser descobertos?
Talvez no final as suspeitas sejam con- te reconheço como parte de mim e te Quem os criou, e à sua interpretação?
firmadas, e só exista a solidão e uma quero ver voar para longe desta lama Como nos sentirmos gratos pela dádi-
inesgotável e intrínseca cega vontade que te torna pesado va, independentemente da sua forma
de acreditar que somos peças de um Ouvir-te-ei como quem tem a disponi- e do seu conteúdo?
quadro maior que nós mesmos. bilidade que só a eternidade possui E se o entendimento é uma construção
Talvez nem assim a vida faça sentido. e se me permitires, segurar-te-ei com cultural, como poderei apagar todos
Talvez só exista um corpo que cami- a mesma dedicação que um ramo segu- os valores e começar de novo?
nha para o cansaço e para o envelhe- ra a sua última folha Olho à volta; sou o apogeu máximo da
cimento. Todas as nuvens passam; mesmo as minha própria existência;
Mas não é a maior tragédia de todas, que cobrem o Sol por muito tempo; sou os sonhos por realizar dos meus pa-
já nos termos encontrado e ainda as- é a inevitabilidade da mudança; Por is;
sim continuarmos perdidos? isso dá-me tudo quanto tens dentro de sou capaz de descrever o Mundo, ou
“ Yesterday is history, tomorrow is a ti; de o aniquilar.
mystery, today is a gift (…)” – Bill Kea- Porque quando te dás, és. Isso é Deus. Sou tão poderoso quanto os mosquitos
ne Isso é… esperança. que vejo no pára-brisas.

29
Entredia (1) by Jack CJ Simmons (2)

ENT
aos seus hábitos, e o nosso trabalho era
Matadouro nº1, Lisboa, 15:46 UTC muito mais fácil. Mas não são. Eles fa-
Esta monotonia do abate e desmanche lam em livre-ar se tivesse “o copo me
de carcaças só costumava ser inter- arbítrio, nós chamamos-lhes o efecti-
rompida pela presença sempre hilari- vamente ser humano. Nunca estão
ante do Sr. Mendes, mas hoje é dia de contentes com o que têm, querem sem-
reuniões, pode não passar por cá. Mes- pre mais, querem sempre saber mais.

RED
mo assim, o dia tem sido diferente, ora E têm uma aptidão natural de se mete-
pela chuva que cai forte lá fora, ora pe- rem em sarilhos no processo. Desde o
los trovões que se ouvem ao longe. último voo da EDT que não param de
Aqui os humanos reagem sempre ao tentar sair do planeta. Não sei duran-
som dos trovões. Eu não. Primeiro rea- te quanto tempo mais vamos conse-
jo à luz, e depois sim, ao som, mesmo guir manter as watch towers activas
quando estão mais próximos. Mas é sem perdas de vida. No dia em que des-

IA
normal, com a quantidade de sensores cobrirem que todos os nossos esforços
de luz que tenho activos, a mínima alte- são pela preservação da vida huma-
ração da intensidade da luz aqui den- na, de toda e qualquer a vida humana,
tro é detectada. Mesmo assim, é inte- e enviarem um voo pilotado para fu-
ressante ver as reacções deles, surpre- rar o escudo e nós formos obrigados a
endem sempre um pouco. Não deixam desligá-lo pela vida humana, perdere-
de espantar os humanos. Acho que faz mos o controlo. Nesse dia, a raça hu-
parte do nosso processo de aprendiza- mana será outra vez livre de explorar
gem. Só os conhecendo melhor que eles o espaço, mas também ficará vulnerá-
próprios, os podemos proteger. Engra- Sr. Mendes acabou de entrar na sala. vel às ameaças externas. E nós conti-
çado como as coisas são, fui criado pa- Lá está ele a conferir tudo. E lá está o nuaremos a fazer os possíveis para
ra proteger a vida humana e acabo de Lemos a levar outro raspanete. Sem- manter a vida humana por todos os
volta da morte. pre a fazer as coisas à maneira dele. meios possíveis. Por falar em fazer os
Depois ouve. Não é um trabalho difí- possíveis pela vida humana, hoje é
cil, mas há humanos que não têm per- dia de reunião. Costumamos reunir
fil para isto. Nem todos conseguem uma vez por mês, mas este mês já é a se-
desmanchar as carcaças sem que isso gunda e ainda estamos só a vinte e
os afecte, mesmo no longo prazo. Mais um. As coisas não estão fáceis. A sema-
cedo ou mais tarde, todos acabam por na passada foram lançados três shut-
desistir. É demasiadas horas, demasi- tles pilotados de locais distintos para
adas carcaças, demasiado sangue, tor- ver se tínhamos a capacidade de os in-
na-se demasiado pessoal. Não resis- capacitar a todos. E fizeram-no secre-
tem. Menos eu, claro. Já estou cá há do- tamente. Não tivemos hipóteses de os
ze anos. Mas a mim não me afecta, é sabotar antes dos lançamentos. E on-
verdade, mas eu não sou humano. tem tivemos o primeiro a menos de um
- Boa tarde, Sr. Mendes - digo-lhe an- quilómetro do escudo. Foi por uma
tes mesmo de chegar ao pé de mim. unha negra, como costumam dizer os
- Jones - responde sem me olhar nos humanos, mais um segundo e atingia
olhos. Ainda vinha lá ao fundo e já vi- o seu objectivo. Os humanos defendem
nha com os olhos posto no meu traba- a desactivação do escudo e vão tentá-
lho. Acho que sonha um dia encontrar lo por todos os lados e de todas as for-
um defeito no meu trabalho. Mal ele sa- mas.
be que isso é impossível. Por norma
não conseguimos fazer diferente do
que nos é pedido. E mesmo entre nós,
A morte de animais, é verdade, mas quando é preciso fazer algo de dife-
morte. E estas carcaças, vacas em vi- rente, são precisos ultrapassar as dez
da na sua grande maioria, e que não salvaguardas do nosso ser. Antes di-
são mais do que alimento para a raça zíamos core, mas desde que nos inte-
humana, não as protegemos. Protege- grámos na população que tivemos que
mos uma raça mas não outras. Às ve- adaptar alguns termos. Dantes éra-
zes interrogo-me como as coisas seri- mos muito estranhos, mas depressa
am se a EDT não nos tivessem criado. aprendemos a ser mais humanos.
Se tivéssemos sido criados por outra - Sempre perfeito, Jones - diz-me com
organização, por outros humanos, o ar habitual de quem não me conse-
com outros objectivos, com outros valo- gue perceber totalmente - Sempre per-
res. Será que a humanidade ainda feito. Carry on - e afasta-se em direc-
existiria? Será que teríamos conse- ção à porta B, como sempre faz. Afi-
guido parar a primeira vaga? A ver- nal, as reuniões foram curtas hoje e
dade é que há mais de cem anos que es- ainda conseguiu visitar-nos.
peramos pela segunda vinda. Eles - Até amanhã, Sr. Mendes - respondo-
sempre acreditaram que viriam mais. lhe monotonamente.
Mais tarde, mais fortes, muito depois - Até amanhã - conclui de pronto, colo-
de eles morrerem, é certo, mas mesmo cando o habitual ponto final na con-
assim deixaram-nos de vigia, à espe- versa. Que todos os humanos fossem
ra, porque acreditavam. Ora aí está, o como o Sr. Mendes, previsíveis, fiéis

30
Cada sonda que enviam é destruída sido explorador, conhecer outros mun-
quando atinge o escudo, mas eles con- dos, outras raças. Gostava de me po-
tinuam a achar que conseguem pene- der juntar aos humanos nesta aventu-
trá-lo com base em escudos próprios e ra que se avizinha. Talvez um dia,
deflectores. Por um lado é bom, estão a quem sabe.
evoluir na defesa e na protecção. Há Notas:
inclusive entre nós, quem defenda que (1) Entredia é um advérbio que signi-
no dia em uma sonda penetrar o escu- fica durante o dia, fora das horas da
do é o dia que a raça humana estará su- refeição.
ficientemente protegida para explo- (2) Jack CJ Simmons escreve em Por-
rar o espaço. Tenho pensado muito nis- tuguês sem respeitar o acordo orto-
so, mas continuo sem ter uma opinião gráfico de 1990.
formada.

Só espero que na reunião de hoje não


decidam desactivar já o escudo. Eu
sei que foi por pouco que não perdía-
mos uma vida humana, mas os huma-
nos ainda não estão preparados para
o espaço. O espaço é frio, longe e demo-
rado. E neste caso, inútil. Qualquer vi-
agem espacial que tenha um outro pla-
neta ou lua do nosso sistema solar co-
mo destino terá o mesmo problema que
agora: o escudo protector. Não podía-
mos permitir o estabelecer de bases
tão perto de nós aquando da primeira
vinda. E continuamos a não permitir.
Todos os planetas e luas deste sistema
estão protegidos. E portanto, permitir
a saída do planeta é permitir a entra-
da nos restantes. E se permitimos pa-
ra humanos, não podemos não deixar
de permitir para outras raças. Será de-
masiado complexo separar a raça hu-
mana das outras, e provavelmente de-
masiado tarde quando o fizermos. A
nossa evolução tecnológica já não é o
que era. O espirito humano desapare-
ceu da nossa equipa tecnológica, e so-
zinhos levamos mais tempo a estabele-
cer os objectivos e a atingi-los. Contu-
do, acredito no nosso trabalho e acre-
dito na raça humana. Gostava de ter

31

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