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Pedro F. P. Ferreira
Fábio A. da Cunha
pedro.ferracuti@hotmail.com.br
fabioalfaia@unb.br
Faculdade do Gama, Universidade de Brasília
St. Leste Projeção A - Gama Leste, 72444-240, Brasília - DF, Brasil
Resumo. O presente trabalho apresenta uma modelagem matemática da combustão gasosa sem pré-
mistura e verifica o efeito do mecanismo de reação sobre os campos de velocidade, temperatura e
concentração de espécies químicas. No modelo matemático utilizado o campo de escoamento é obtido
por meio da solução das equações de Navier-Stokes, o campo de temperatura é obtido por meio da
solução da equação de conservação de energia (considerando as perdas de calor por radiação) e os
campos de concentração de espécies são obtidos por meio da solução das equações de conservação
para espécies químicas individuais. Um código computacional na linguagem do software MATLAB
foi programado para a realização das simulações, considerando domínio bidimensional e simetria
axial. O modelo de simulação proposto é validado por meio de comparação com dados experimentais.
Conforme Turns [3], ao discorrer sobre uma reação de combustão é necessário compreender que
uma reação química elementar ocorre quando as moléculas dos produtos se formam após uma única
colisão entre as moléculas dos reagentes. Uma reação não-elementar é formada por duas ou mais
etapas elementares. O conjunto de etapas elementares de uma reação representa o mecanismo dessa
reação. Um mecanismo detalhado de combustão pode incluir milhares de reações elementares e
dezenas de espécies químicas. Um dos mecanismos de reação mais citados na literatura para
combustão do metano é o GRI-Mech. Este é baseado em um conjunto de reações elementares, onde os
valores atribuídos para os parâmetros da taxa de reação são fornecidos pela associação de dados
teóricos, experimentais e numéricos. As primeiras versões do GRI-Mech foram o GRI-Mech 1.1,
Frenklach et al. [4], e o GRI-Mech 1.2, Frenklach et al. [5]. A versão atual é referenciada de GRI-
Mech 3.0.
Reconhecendo a complexidade de um mecanismo de reação detalhado, a modelagem racional e a
simulação de fenômenos de combustão são invariavelmente confrontadas com a necessidade de
mecanismos mais simples, mas quimicamente realistas, Law [6]. Cálculos de combustão com
mecanismos de reação detalhados estão restritos a poucas situações, que geralmente envolvem muitas
simplificações. A utilização de mecanismos de reação detalhados com fluidodinâmica computacional
torna-se impraticável para computação pessoal, uma vez que para cada espécie química considerada
deve-se resolver uma equação diferencial de conservação. Geralmente é mais desejável eliminar
espécies do que reações, porque se reduz diretamente o número de equações de conservação de
espécies que precisam ser resolvidas, HA et al. [7].
Existe uma variedade de mecanismos simplificados que podem ser utilizados em simulações
CFD: mecanismos globais, quasi-globais, reduzidos e esqueléticos.
Um mecanismo esquelético consiste em uma versão reduzida de um mecanismo de reação
detalhado, em que foi realizada uma ponderação entre a gama de aplicabilidade, a complexidade e a
precisão desejada. São eliminadas de espécies e reações que têm influência insignificante sobre certos
fenômenos de interesse. Tal eliminação pode ter base experimental ou uma avaliação sistemática dos
efeitos de diferentes espécies individuais e reações sobre a resposta de certos fenômenos de
combustão.
Com base em um mecanismo esquelético, assumindo estado quase-estacionário a certas espécies
e suposições de equilíbrio parcial a algumas reações é possível derivar um mecanismo reduzido, com
um número mínimo de equações a serem resolvidas, Zhou e Mahalingam [8]. As reações individuais
no mecanismo reduzido são agrupadas, com suas respectivas taxas de reação dependentes daqueles
elementares que constituem o mecanismo esquelético, Law [6]. Um mecanismo reduzido de 5 etapas
desenvolvido por Hewson e Bollig [9] para combustão de CH4 é exibido na tabela 2, baseado no
mecanismo detalhado para combustão de metano exibido em Seshadri e Williams [10], constituído de
39 reações elementares envolvendo 17 espécies químicas, incluindo N2.
Figura 1- (a) Mecanismo Global. Westbrook e Dryer [13]. (b) Mecanismo Global. Jones e Lindstedt
[14].
Remark 3: Forma falloff do Lindemann. Este tratamento é aplicado caso nenhum parâmetro
especifico de falloff for dado. Em pressões no meio dos limites inferior e superior de pressões, o
coeficiente de taxa é dado pela formula de Lindemann:
kinf
k . (4)
kinf
1
ko [ M ]
Nos casos onde não é dado parâmetros do coeficiente de taxa no limite superior de pressão (i.e., a
partícula de colisão M como reagente não está em parêntesis), a reação ocorre no limite de pressão
inferior.
Remark 4: Forma falloff do Troe. Um tratamento mais refinado dos efeitos da pressão que o método
de Lindemann é possível utilizando os parâmetros de Troe. O parâmetro de falloff Fcent para reações
unimoleculares é calculado a partir dos valores de a, b, c, e d encontrados na formula de Troe.
[ X ] i
vi''
Kc
prod
. (10)
[ X i ]vi
'
reag
Onde [Xi] é a concentração molecular e v’’ e v’ são os coeficientes estequiométricos dos produtos e
dos reagentes respectivamente.
Na ausência da constante Kc, é possível calculá-la a partir de uma constante de equilíbrio para uma
reação de equilíbrio genérica, Kp.
K p K c ( RuT / P o )
v'' v'
. (11)
Onde Kp é calculado a partir das pressões parciais e coeficientes estequiométricos, como mostrado a
seguir.
v''
Pi
i
o
prod P
Kp v'
Pi
i
o
reag P
. (12)
Para reações bimoleculares, a relação Kc=Kp pode ser utilizada.
Remark6: Taxa de produção. A taxa de produção wk para as k espécies pode ser escrita da seguinte
maneira.
Y
P R
v jn v jn
m K
Y K
wk (v v ) k jf (T ) n k rj (T ) n .
P R
(13)
jk jk
j 1 n 1 Wn n 1 Wn
A função k jf k rj é o coeficiente de taxa direto (reverso) da reação j. Assumimos que k jf depende
da temperatura modificada de Arrhenius.
exp E jf / RT
jf
k jf Ajf T (14)
O mecanismo de reação global de quatro passos de Westbrook e Dryer [13] é utilizado nas
simulações do presente estudo, conforme apresentado na Tabela 2:
Tabela 2. Mecanismo de reação global para o metano
Reação Nº Reação
1 CH4 + 0.5O2 → CO + 2H2
2 CO + 0.5O2 → CO2
3 CO2 → CO + 0.5O2
4 H2 + 0.5O2 → H2O
O mecanismo de reação esquelético desenvolvido por Smooke, Mitchell e Keyes [1] será
utilizado no presente estudo, conforme apresentado a seguir, com 15 espécies e 42 reações:
O estudo experimental de chama laminar feito por Mitchell et al. [18] foi a referência para o
presente trabalho.
A chama laminar é confinada em uma câmera cilíndrica axissimétrica vertical, com dois tubos
concêntricos de raios Ri e Ro, nos quais passam combustível e ar, respectivamente, como mostrado na
Fig. 2. Um esquema da chama laminar difusa também é representado na Fig. 2.
Um vidro cilíndrico é utilizado para definir a fronteira do sistema. O raio interno Ri tem 0.635 cm
e o raio externo Ro tem 2.54 cm. A câmera tem 30 cm de comprimento.
Uma das malhas utilizadas é exibida na Fig. 3. As condições de contorno e condições iniciais
utilizadas na simulação então na Tabela 4. Os valores da velocidade e fração de mistura nas entradas
estão na Fig. 2.
Entrada de combustível
Velocidade axial na entrada: uF=4.5cm/s
Velocidade radial na entrada: vF=0cm/s
Temperatura: TF=298K
Fração de massa: YCH4=1
Razão de mistura: f=1.
Entrada de ar:
Velocidade axial de entrada: uA=9.88cm/s
Velocidade radial de entrada: vA=0cm/s
Temperatura: TA=298K
Fração de massa: YO2=0.233 e YN2=0.767
Razão de mistura: f=0
Condições de operação:
Pressão na saída do queimador: p=101325Pa
Temperatura de referência: Tref=Twall=298K
5 Resultados e discussão
Figura 4. Comparação de perfis em z=5,0 cm. (a) Fração molar H2O e CO2 (b) Fração molar CH4 e O2.
Dados experimentais Mitchell et al. [18].
Figura 5. Comparação de perfis em z=1,2 cm. (a) Fração molar H2O e CO2 (b) Fração molar CH4 e O2.
Dados experimentais Mitchell et al. [18].
Figura 6. Perfil radial de temperatura. (a) z=1,2 cm (b) z=5,0 cm. Dados experimentais Mitchell et al.
[18].
Figura 7. Perfil de temperatura no eixo de simetria. Dados experimentais Mitchell et al. [18].
Os resultados apresentados nas Fig. 4 a Fig. 8 mostram que o modelo utilizado no presente
trabalho captura a tendência dos resultados experimentais.
A partir da Fig. 4 e Fig. 5 pode-se encontrar o limite da chama nas alturas z=1,2 e z=5,0 cm, que
ocorre quando as frações molares de CH4 e O2 se igualam a zero. A concentração máxima de H2O e
CO2 ocorre quando o perfil de temperatura radial também é máximo. Este efeito também foi
observado por Mitchell [2] e Smooke [1]. A temperatura, fora da região de reação, decai
aceleradamente uma vez que a energia é conduzida para longe da região da chama, Mitchell [2].
Os perfis de temperatura, presentes na Fig. 6, apresentam comportamento bastante similar ao das
curvas experimentais mesmo fora dos limites da chama, devido a utilização do modelo de taxas finitas
implementado no presente trabalho. Os perfis de temperatura apresentados no presente trabalho
possuem boa concordância com os dados experimentais.
A velocidade axial apresenta comportamento mencionado por Guessab et al. [19], decrescendo
em todos valores de z e tendendo a zero a partir de uma distância radial, tal comportamento é exibido
na Fig. 8. A expansão durante combustão explica o pico na velocidade no limite da chama, mais
visível nas curvas com z=2,4 e 1,2 cm, apresentado na Fig. 8. Fenômeno também mencionado por
Mitchell [2].
O perfil de chama para os modelos utilizados no presente trabalho são apresentados na Fig. 9.
A altura da chama é definida por Smooke [1], Leitão [20], Sauer [21], Xu [22], como a posição
axial na qual se localiza a maior temperatura ao longo do eixo de simetria. O mesmo critério foi
utilizado no presente trabalho.
Analisando a Fig. 7, pode-se observar que a altura da chama é superestimada, justificando a
discrepância no perfil de fração molar de CH4 em z=5,0 cm em relação aos dados experimentais,
conforme apresentado por Leitão [20].
6 Conclusão
A modelagem e a simulação da combustão laminar sem pré-mistura foi realizada neste trabalho
utilizando dois mecanismos de reação química diferentes.
Os resultados obtidos foram condizentes com os dados experimentais, encontrando poucas
divergências. Tais divergências podem ser contornadas utilizando uma modelagem mais detalhada e
uma malha mais refinada.
O tempo gasto utilizando o mecanismo esquelético é 6,26 vezes maior que o mecanismo global,
portanto conclui-se que, para uma análise preliminar, a utilização de um mecanismo simples, como o
mecanismo global utilizado no presente trabalho, é uma ótima simplificação para aplicações dentro da
engenharia. É evidente que para aplicações que necessitam uma acurácia maior a implementação de
mecanismos mais detalhados é necessária.
References