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Introdução

objeto de O presente trabalho tem como objeto de estudo o feminismo radical enquanto
investigação
o que quer saber? movimento social. Busca-se uma maior compreensão de suas origens e sua diferença
em relação à outras vertentes do feminismo. Porém, para entender esse movimento, é
necessário retomar o contexto sociocultural em que ele emerge.

O termo “patriarcado” vem da junção das palavras gregas pater (pai) e arkhe (origem e
comando). Na antiguidade, essa primeira expressão servia para designar um sistema
familiar e político onde os homens eram responsáveis pela administração do lar e da
sociedade de acordo com preceitos religiosos. Posteriormente, é atribuído à escritora
Kate Millet, em Sexual politics (Política sexual, 1971) o conceito de patriarcado
utilizado pelo feminismo contemporâneo, que o enxerga como uma pirâmide social
onde os homens são donos do poder. É, ainda, sinônimo de “dominação masculina” e
“opressão feminina”, uma vez que os homens, ao terem supremacia e autoridade,
controlam todas as esferas da sociedade, em seus campos públicos e privados.
(MILLET, abud QG FEMINISTA)

Por sua vez, a nomenclatura “Feminismo” foi primeiramente empregada em 1911,


quando homens e mulheres passaram a substituir os termos “movimento das
mulheres”, “busca por direitos das mulheres” por uma expressão sucinta e afirmativa
que procurava o espaço da mulher dentro de uma sociedade patriarcal. Conforme a
escritora e feminista Cátia Cristina Garcia, em sua obra Breve História do Feminismo,

“(...) o feminismo pode ser definido como a tomada de


consciência das mulheres como coletivo humano, da
opressão, dominação e exploração de que foram e são
objeto por parte do coletivo de homens no seio do
patriarcado sob suas diferentes fases históricas, que as
move em busca da liberdade de seu sexo e de todas as
transformações da sociedade que sejam necessárias
para esse fim.” (GARCIA, 2011)

Sendo assim, o feminismo é um movimento social e político composto por mulheres


que objetiva a igualdade de gêneros e o fim da supremacia masculina nos âmbitos
sociais, econômicos e políticos. Foi a organização que primeiro identificou o sexo
biológico como parte do campo político, adicionando-o para além da análise da esfera
pública.

A origem exata do movimento é incerta. Sociólogos e historiadores acreditam que o

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eclodir da Revolução Francesa, em 1789, e a queda da monarquia absolutista de Luís
XVI tenham despertado nas mulheres o simbolismo coletivo e a luta por direitos iguais
como uma unidade independente. Em 1791, por exemplo, Olímpia de Gouges
declarou que, uma vez que as mulheres possuíam os mesmos direitos naturais dos
homens, elas deveriam participar também da vida pública e política do país.

Contudo, atualmente historiadoras e teólogas feministas vêm recuperando as histórias


de monjas da Idade Média que lutaram pelo direito das mulheres e viveram com
autonomia e independência. Ao reconstruir as origens do feminismo, estudiosos têm
descoberto que, na Europa, foi no ambiente religioso que as mulheres buscaram
autonomia e voz própria. As mulheres que se recusavam a viver submissas aos
homens buscavam refúgio em monastérios e conventos, onde podiam estudar e
administrar o próprio culto religioso. Segundo a doutora em História Medieval e
professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carolina Fortes,

“Para quem procurava liberdade, a vida religiosa era de


fato uma boa opção. A mulher que não queria casar
buscava essa vida”. ( FORTES, apud, LEÃO, 2017)

Denominado pela academia de protofeminismo ou pré-feminismo, o conceito busca


abranger mulheres que lutaram pela independência feminina antes do sec. XX,
quando o movimento ganhou nome e popularidade. Dentre essas vozes está a de
Mary Wollstonecraft, hoje um conhecido nome do protofeminismo, ou seja, as
"feministas" pré-feminismo. Em sua obra mais famosa, Reivindicação dos Direitos da
Mulher (1792), ela afirma que:

“(...) se a Razão oferece sua sóbria luz, se as mulheres


são realmente capazes de agir como criaturas
racionais, que não sejam tratadas como escravas nem
como animais que, submetidos ao homem, dependem
da sua razão.” (WOLLSTONECRAFT, 1792).

A razão, pois, tornava-se uma característica masculina, enquanto as mulheres eram


associadas ao oposto da razão: ao fútil, descartável, à pureza. Ainda, ressaltam-se
outras percussoras do período pré-feminismo como Safo, Ada Lovelace, Hipátia de
Alexandria, entre outras.

Posteriormente, a Primeira Onda data do fim do século XIX até meados do século XX.
Esse período pode ser considerado como a onda das reivindicações: as mulheres (que
se autodenominavam suffragettes, ou sufragistas) clamavam por direitos básicos

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inacessíveis à sua época, como o voto e a participação política e pública. Ademais,
feministas negras requeriam a abolição da escravidão e o direito das mulheres ao
acesso educacional, como a leitura e o sistema de ensino. Portanto, foi um período
marcado pelo liberalismo e de luta pela igualdade de direitos e oportunidades entre
homens e mulheres, ainda que teóricas marxistas e anarquistas, como Alexandra
Kollontai e Emma Goldman, respectivamente, tenham focado em introduzir ao
feminismo as pautas socialistas, com foco nas mulheres operárias.
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A Segunda Onda localiza-se temporalmente de meados dos anos 50 até os anos 90,
onde se começou a analisar a raiz da opressão feminina com base no sexo biológico
(macho - fêmea) e na condição feminina reprodutora. Esse período é marcado pelo
surgimento do Feminismo Radical, que distinguiu, pela primeira vez, os conceitos de
sexo e gênero. De acordo com Simone de Beavouir, o sexo é algo concreto, palpável,
responsável pela distinção física e morfológica entre espécies animais e pela diferença
hormonal e celular entre seres, enquanto gênero é uma ferramenta de opressão
imposta às fêmeas humanas, que as oprime, desumaniza e, acima de tudo, exclui da
sociedade humana. (BEAVOUIR, 2019). As teóricas radicais também foram pioneiras
em assuntos como maternidade e heterossexualidade compulsórias, lesbianidade e
sexualidade feminina, barriga de aluguel, direito ao aborto legal, feminilidade e,
atrelado ao Feminismo Marxista, na luta contra a prostituição e a pornografia.

Após a breve apresentação feita, surgem questões acerca do tema que busca-se
responder nesta pesquisa. Qual a origem léxica do termo “radical”? Quais as principais
pautas que distinguem o feminismo radical das demais vertentes? Como a luta radical
está presente na contemporaneidade? Como o movimento organiza-se dentro de uma
sociedade patriarcal?

Partindo das questões norteadoras levantadas, a presente pesquisa tem como


objetivos:

Objetivo geral:

Analisar as especificidades do feminismo radical em relação aos demais movimentos


feministas na contemporaneidade brasileira.

Objetivos específicos:

● Compreender o conceito de feminismo radical e a etimologia do termo.

● Entender o fenômeno do feminismo radical dentro da sociedade patriarcal


brasileira.
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● Analisar como a luta radical diferencia-se das demais e quais suas
especificidades, tais quais suas reivindicações.

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Metodologia

Em um primeiro momento, o vigente trabalho utiliza de uma pesquisa documental para


a construção de um referencial teórico sobre o Feminismo Radical. Essa base teórica
fundamenta-se em artigos contemporâneos redigidos por escritoras adeptas ao
feminismo radical, que difundem seus ideais através de portais online e redes sociais.
Ademais, têm-se como fontes bibliográficas análises recentes de obras de
percussoras radicais como Kate Millet, Carol Hanisch e Megan Tyler. Por fim, os
coletivos brasileiros QG Feminista, Feminismo com Classe, Arquivista Radical e
Sapataria Radical, além da edição comemorativa de 70 anos da obra O Segundo
Sexo, de Simone de Beauvoir, foram bases imprescindíveis para a construção do
artigo em questão.

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Capítulo 1 - Feminismo Radical: história e definição

De acordo com o dicionário Michaelis, o termo “radical” refere-se ao que faz parte ou
provém da raiz, relativo à base, ao fundamento, à origem de qualquer coisa. Dessa
forma, a vertente radical nasce nos Estados Unidos, nos anos 60, influenciada pela
luta do Movimento pela Libertação das Mulheres (MLM), organização política que deu
início à segunda onda do feminismo. Logo, o movimento radical busca, por sua vez,
investigar a origem da opressão sobre as mulheres. (MIRANDA, 2018)

Originalmente, pode-se considerar o feminismo radical como um movimento


ginocêntrico, uma vez que, conscientemente, busca centralizar as mulheres em suas
análises políticas e socioeconômicas. É assim que se diferencia de outras vertentes
que possuem centralizações flexíveis e adaptáveis ao tempo, como o marxismo, que
enxerga nas classes sociais a causa da opressão feminina. Utilizando de uma análise
materialista, a vertente enxerga o sexo biológico feminino como a causa da opressão
contra as mulheres, e o sistema hierárquico de gênero como a ferramenta utilizada
para controlar a sexualidade e reprodução femininas. (MIRANDA, 2018)

Conforme a análise dialética de Simone de Beauvoir, principal contribuinte do


movimento, ser mulher é uma realidade material. Isso significa que a única diferença
existente entre homens e mulheres são seus corpos biológicos, e a reprodução dos
estereótipos de gênero é o responsável pela submissão feminina. (BEAUVOIR apud
MIRANDA, 2018).

Ademais, a socialização feminina é uma maneira de atribuir papeis sociais às


mulheres pelas suas características biológicas, processo que apenas sujeitos nascidos
do sexo feminino vivenciam. Faz-se necessária, pois, a organização de um movimento
político formado única e exclusivamente por mulheres, a fim de libertá-las.

Em primeira análise, o feminismo radical é uma organização política feita por mulheres
para mulheres, a fim de extinguir a supremacia masculina de todos os âmbitos da
sociedade. Em oposição ao liberalismo, o radical reforça que “igualdade” entre
gêneros não é o suficiente para eliminar a dominação masculina. Em Gyn/ Ecology a
escritora Mary Daly afirma que:

“Feminismo radical não é sobre reconciliação


com o pai. Ao invés disso, é afirmar nosso
nascimento original, nossa fonte, movimento,
onda original. Esse descobrir de nossa

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integridade original é lembrar nossas
identidades.” (DALY, 1978).

Ainda, em artigo para a plataforma digital Medium, o coletivo Feminismo Com Classe
afirma categoricamente que:

“Não é sobre as escolhas que fazemos. É sobre as


escolhas que não podemos fazer. Sobre as escolhas
que homens podem fazer sobre nós. Sobre em que
condições as escolhas são feitas. Se somos atacadas
como um grupo, o status de uma é interdependente do
status da outra. Ou somos libertas como um grupo ou
não somos. Todas ou nenhuma.” (FCC, 2019)

Portanto, somente uma reestruturação radical da sociedade é capaz de eliminar os


processos do patriarcado. Para a vertente, a eliminação do gênero enquanto
instituição hierárquica é a única maneira de abater o sistema patriarcal e toda sua
dominação.

Consequentemente, o feminismo radical busca resgatar o uso de termos


existencialistas para se referir à classe de mulheres, como fêmeas humanas, a fim de
enfatizar a materialidade feminina. Assim, o movimento busca conceituar mulheres
como todo ser humano adulto do sexo feminino que passou, durante toda a vida, por
modificações e estereótipos sociais.

Em segundo plano, o radical expõe a opressão primária das mulheres, ou seja, a


tirania social que homens exercem sobre as mulheres. Essa opressão social somente
é possível dentro de uma sociedade patriarcal, uma vez que se torna a estrutura de
dominação masculina.

Em entrevista, a autora Maria Mies retorna às origens do patriarcado como um sistema


de dominância masculina. Anteriormente, o matriarcado não significava supremacia,
mas sim, que a origem da vida humana advém de uma mãe, de uma mulher. Sendo

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assim, o poder materno refere-se ao cuidado com um ser até que ele cresça e se
desenvolva sozinho. (MIES, apud FEMINISMO RADICAL, 2016)

Além disso, em seu livro The Social Origins of the Sexual Division of Labor, ou
literalmente “As Origens Sociais da Divisão Sexual Trabalhista”, Mies expõe a
transformação do termo grego “arché” de “origem” para “mando, dominação”. Dessa
forma, o poder da mãe é substituído pela dominância do pai, que aparece não como o
pai físico que cuida do filho, mas sim como um soberano sobre-humano que domina
por completo a sociedade. ( MIES, 1981)

Em sua análise mais recente da obra, o fórum Feminismo Radical publicou na


plataforma Médium que:

“(...) o patriarcado é no final um inimaginável,


incompreensível clamor totalmente desconexo e
abstraído das condições materiais da existência
terrena, o que ultrapassa qualquer coisa banal como
algum tipo de “inveja do nascimento”. A sua meta é
nada menos que a substituição do “corpo feminino
gerador da vida” por um “não-corpo, maquinário não-
fêmea” e reivindicar esse maquinário como a meta e o
fim da história humana.” (FEMINISMO RADICAL, 2016)

Posteriormente, a feminista radical Carol Hanisch introduziu a frase “O pessoal é


político”, que se tornou um dos principais pilares da luta radical. No trecho, Hanisch
busca a eliminação da fronteira entre público e privado e intensifica o coletivismo do
movimento. Por conseguinte, o feminismo radical, ao contrário de outras vertentes, é
essencialmente coletivista e não individualista, e trás para a vida pessoal a luta
comunitária. Isto implica em análises que abraçam as mulheres como uma classe
social oprimida que, apesar de todas as distinções classicistas, raciais e sociais,
unem-se por uma opressão em comum: a baseada na biologia feminina. Por fim, o
estudo da submissão feminina tem em vista acabar com todas as formas de repressão
feminina mundial, como a prostituição e a pornografia. (QGFEMINISTA, 2019)

Na prática, a materialização da teoria vem através de ações coletivas e da análise de


violências dolorosas contra as mulheres, como a violência doméstica, estupro, incesto,
violência reprodutiva e feminicídio. Em escala mundial, feministas radicais vêm se
esforçando para trabalhar em prol da cooperação e colaboração entre mulheres, além

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da ajuda para mulheres em situações de risco. Na década de 1970, o Rape Crises
Centre Movement, ou Movimento de Crise do Estupro, composto por ativistas radicais,
buscou quebrar o silêncio sobre o abuso sexual e dar voz às experiências de mulheres
vítimas de estupro. Ainda, o Domestic Violence Movement, também desenvolvido por
feministas radicais, objetivou a luta contínua contra o abuso patriarcal e, sobretudo,
contra a violência doméstica. No Canadá, o Vancouver Rape Relief, o mais antigo
centro de acolhimento e abrigo para mulheres sobreviventes de violência do país, é
composto por feministas radicais que, recentemente, também abriram a Biblioteca de
Mulheres, visando à disseminação da teoria feminista para todas as mulheres.
(QGFEMINISTA, 2019).

Em síntese, o feminismo radical é um movimento que se distingue das demais


vertentes pelo seu materialismo e coletivismo. O ativismo radical acredita na união
entre teoria e prática para a construção de um futuro mais justo para todas as
mulheres, ainda que não acredite na igualdade de sexos. Sua análise e base teórica
contribuem para uma revolução progressiva e contínua, na qual todas as mulheres
podem desempenhar diariamente um papel importante na vida de outras em sua volta,
em um movimento de apoio e prestimosidade mútuos. Nas palavras de Gail Chester,
em 1979:

“Porque as feministas radicais não reconhecem uma


divisória entre nossa teoria e prática, somos capazes
de dizer que a revolução pode começar agora, ao
tomarmos ações positivas para mudar nossas vidas (...)
é uma visão muito mais otimista e humana de mudança
do que a noção androdefinida da construção rumo a
uma revolução em algum momento num futuro distante,
uma vez que todos os preparativos estiverem feitos.”
(CHESTER, 1979).

Capítulo 2 - A distinção entre sexo e gênero

Como a maior parte das espécies existentes, os seres humanos reproduzem


sexuadamente através do encontro do gameta feminino (óvulo) com o masculino
(espermatozoide), durante uma relação sexual. Consequentemente, indivíduos

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normais são biologicamente distintos entre macho e fêmea, de acordo com suas
características sexuais primárias e secundárias.

De acordo com a pesquisadora Maria de Fátima da S. Duarte, em seu artigo


Maturação física: uma revisão da literatura, com especial atenção à criança brasileira
para a Universidade de Illinois, as características primárias referem-se ao
desenvolvimento do sistema reprodutor. Em fêmeas humanas, manifesta-se a
formação dos ovários, do útero e da vagina, enquanto em machos humanos destaca-
se o progresso dos testículos, próstata e produção de esperma. Por sua vez, as
características sexuais secundárias são responsáveis pelo dimorfismo sexual, isto é,
pela diferenciação física existente entre homens e mulheres. Nas mulheres, os altos
níveis de estrogênio são encarregados do aumento do quadril, crescimento de seios,
menstruação e aparecimento de pelos pubianos, enquanto nos homens as elevadas
taxas de testosterona levam ao engrossamento da voz, crescimento de pelos faciais,
aparecimento do pomo-de-adão e alargamento dos ombros. Sendo assim, em casos
normais, a criança humana nasce inequivocamente fêmea ou macho, sendo
facilmente reconhecida e classificada pelo seu órgão sexual, genótipo e fenótipo.
(DUARTE, 1993)

Já o gênero é definido pela professora de Teoria Política da Universidade de Illinois e


feminista radical Rebecca Reilly-Cooper como um conjunto de regras e padrões
sociais arbitrariamente impostos no nascimento, de acordo com o sexo biológico, a fim
de atribuir valor superior a uma classe sexual à custa da outra. Enquanto mulheres
são instruídas a comportarem de maneira passiva e submissa, homens são ensinados
a performarem superioridade e dominação, criando uma falsa imagem de que as
mulheres necessitam de homens que comandam suas fraquezas. Uma vez que a
fragilidade feminina é socialmente ensinada como um fator comum, naturaliza-se a
opressão por base do sexo biológico e facilita a exploração do sistema reprodutor
feminino. (REILLIY-COOPER, 2016)

Deste modo, o feminismo radical adota uma postura crítica do sistema de gênero e o
define categoricamente como um conjunto de normas impostas e construídas
socialmente para hierarquizar as relações entre homens e mulheres.

Em seu livro O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir afirma que:

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum


destino biológico, psíquico, econômico define a forma
que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é

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o conjunto da civilização que elabora esse produto
intermediário entre o macho e o castrado que
qualificamos de feminino. Só a mediação de outrem
pode constituir um indivíduo como outro.” (BEAUVOIR,
2019)

Embora o trecho seja constantemente interpretado de maneira equívoca, Beauvoir


exemplifica o processo pelo qual a fêmea humana passa para receber o rótulo de
mulher. De acordo com a escritora existencialista, ao nascer, nenhuma fêmea humana
possui papeis sociais biologicamente ou psicologicamente inerentes. A sociedade é a
principal responsável por atribuir condutas conforme o sexo biológico e impor
características e ações para as mulheres, devido à presença do sistema reprodutor
feminino. Deste modo, uma vez que a vertente radical adota indubitavelmente uma
dialética existencialista, para o movimento a fêmea humana surge no mundo e
somente com a interferência da civilização é estereotipada enquanto mulher.

Posto que a teoria radical seja crítica ao gênero, posiciona-se contrariamente ao pós-
modernismo, que aborda a estrutura de gênero como uma auto identificação possível
para seres humanos. Uma vez que a opressão das mulheres tem sua raiz no sexo
biológico, alterar a definição de “fêmea” ou “mulher” para agrupar todo indivíduo que
sente-se como uma apaga o estudo das opressões inerentes ao feminino, como
violência obstétrica (durante o trabalho de parto), maternidade compulsória (a
imposição da natalidade às mulheres como uma dádiva divina), estupro corretivo
(abuso sexual de lésbicas a fim de “corrigir” sua sexualidade), padrões estéticos e
demais abusos psicológicos, físicos, econômicos e sociais.

Em seu artigo As mulheres e a ditadura militar no Brasil, a doutora em história do


Brasil e professora da UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul - Ana Maria Colling analisa o sistema de gênero como fruto de uma
cultura produzida durante a história, sem ligação direta com as características
biológicas dos seres humanos, que constantemente modela e remodela as relações
sociais institucionalizadas. Durante a obra, Colling diz que:

“A ideia de gênero, diferença de sexos baseada


na cultura e produzida pela história,
secundariamente ligada ao sexo biológico e
não ditada pela natureza, tenta desconstruir o
universal e mostrar a sua historicidade. São as
sociedades, as civilizações que conferem

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sentido à diferença, portanto não há verdade
na diferença entre os sexos, mas um esforço
interminável para dar-lhe sentido, interpretá-la
e cultivá-la.” ( COLLING, 2015)

Uma vez que gênero é conceituado pela teoria radical como um sistema hierárquico,
enquanto aos homens são atribuídas características ligadas à virilidade, à destreza, à
dominância, às mulheres são impostos valores de fragilidade, submissão, fraqueza.
Assim, constrói-se um sistema fechado no qual acredita-se que as diferenças
atribuídas à homens e mulheres são inatas à essência humana, enquanto são
produtos de construções sociais impostas ao nascimento. De acordo com o coletivo
Sapataria Radical,

“O termo igualdade de gêneros não faz sentido porque,


por definição, gênero é uma hierarquia, não uma
dualidade. Não há como igualar masculinidade e
feminilidade, pois elas são fundamentadas nessa
hierarquia. Uma não existe sem a relação de poder
sustentada pela outra.” (SAPATARIA RADICAL, 2016)

Ainda de acordo com o coletivo,

“O patriarcado não vai encontrar seu fim enquanto


existir o conceito de essência feminina e essência
masculina, enquanto nós mesmas acreditarmos que
somos o que somos porque nascemos com vagina. O
fim do patriarcado só se dará com o fim do gênero: com
o fim de qualquer imposição social dada a partir do
sexo biológico, e por consequência com o fim de toda e
qualquer institucionalização e misoginia”. (SAPATARIA
RADICAL, 2016)

Em suma, não existem distinções entre homens e mulheres para além do dimorfismo
de seus corpos. Outros sim, conforme a análise existencialista de Simone de Beauvoir,
não existem condutas sociais que são biologicamente ou psicologicamente inatas à
indivíduos da espécie humana. Somente a interferência de valores externos é capaz
de moldar indivíduos do sexo feminino para serem submissas aos homens, que
assumem papel dominante na sociedade. ( BEAUVOIR, 2019)

Desta forma, para a vertente radical, o patriarcado (estrutura de opressão masculina)


não pode ser eliminado através de ideologias reformistas que pregam a igualdade

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entre as classes sexuais, uma vez que, inconscientemente, papeis sociais
continuariam a serem atribuídos distintamente para homens e mulheres. Para as
participantes do movimento, não se muda uma repressão enraizada com alterações
constitucionais e legais, mas sim, com a abolição da estrutura de gênero.

Capítulo 3 - O fenômeno da socialização feminina em uma sociedade patriarcal

A história semântica do termo “patriarcado” remete, primeiramente, a uma análise


religiosa. De acordo com Christine Delphy, socióloga francesa, para o Dicionário
Crítico do Feminismo, dicionários franceses conceituam a expressão como as
autoridades eclesiásticas, os chefes de família antes e depois do dilúvio e os altos
cargos religiosos ocupados por membros da igreja. Atualmente, a Igreja Ortodoxa
utiliza, para se referir aos dignitários, a expressão “o patriarca de Constantinopla”.
(DELPHY, 2009)

Na Grécia Antiga, a etimologia do termo vem de pater (pai) e arché, (início ou


comando), referindo-se à autoridade do pai dentro da instituição familiar e de cargos
políticos. Segundo o autor Nikos A. Vrissimtzis, em seu livro Amor, Sexo e Casamento
na Grécia Antiga, as mulheres não podiam exercitar cargos públicos e eram utilizadas,
nas relações heterossexuais, como instrumentos de reprodução, uma vez que a
homossexualidade masculina era o mais aceito na sociedade. (VRISSIMTZIS, 2002)

Posteriormente, no século XIX, em comunidades agrícolas, o adjetivo “patriarcal” era


utilizado para categorizar virtudes associadas ao homem, como bons costumes, a
frugalidade e a vida no campo. Nessa época, o termo “patriarcal” também opunha-se à
conceitos de corrupção e indústria associados a vida na cidade. (DELPHY, 2009)

Foi somente em 1971 que a escritora e feminista radical Kate Millet conceituou, em
seu livro Sexual Politics (Política Sexual), o patriarcado como um sistema político
utilizado pelos homens para oprimirem as mulheres com base em seu sexo biológico.
(MILLET, 1971) Nessa nova compreensão feminista, o patriarcado designa uma
formação social em que os homens detêm o poder de todas as esferas sociais,
econômicas e políticas. Pode-se relacionar ainda o termo com a expressão
“androcentrismo”, que se concerne à tendência social de supervalorizar a figura
masculina, colocando seus pensamentos no centro de todas as análises públicas e
privadas. (WARD, 1903)

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De acordo com a socióloga francesa Claude Zaidman em seu artigo Educação e
Socialização, socialização é o processo pelo qual homens e mulheres passam após a
descoberta de seu sexo biológico. No caso das mulheres, caracteriza-se pela
atribuição de características associadas à fragilidade e fraqueza, como cores claras,
maquiagem, depilação e demais processos ligados à reprodução da feminilidade. Já
nos homens, tipifica-se a reivindicação de aspectos ligados à dominância e
superioridade, como fortalecimento dos músculos, ausência da expressão de
sentimentos, gosto por esportes e restantes atributos da masculinidade. (ZAIDMAN,
2009)

Sendo assim, conforme Cynthia Valley, escritora e PHD em psicologia da mídia pela
Fielding Graduate University:

“A socialização de gênero é o processo pelo qual


aprendemos as regras de gênero, normas e
expectativas de nossa cultura. Os agentes mais
comuns da socialização de gênero – em outras
palavras, as pessoas que influenciam o processo – são
pais, professores, escolas e mídia. Através da
socialização de gênero, as crianças começam a
desenvolver suas próprias crenças sobre gênero e
formar sua própria identidade.”(VALLEY, 2009)

Por analogia, o fenômeno de socialização somente é possível dentro de uma


sociedade patriarcal, onde os homens possuem o controle da civilização e podem
influenciar as instituições externas a atribuírem características aos indivíduos humanos
pelo seu sexo biológico. Os adjetivos atribuídos à feminilidade forçam as mulheres a
terem determinados padrões sociais que não podem desviar. Nas palavras de
Verônica Malluf, ativista radical e escritora:

“A feminilidade e todas as construções sociais


associadas a ela são mecanismos de controle das
mulheres. Em outras palavras, ela serve
exclusivamente para limitar sua existência dentro do
que não ameace a hegemonia de poder do
patriarcado.” (MALLUF, 2018)

Sendo assim, a teórica atesta que a feminilidade é fruto de construções sociais, e não
inata ao ser humano, como faz-se parecer. Dentro dessa lógica, a mulher não possui
poder de escolha dentro de uma sociedade patriarcal, uma vez que é implicitamente

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forçada a adotar padrões comportamentais que as caracterizam como frágeis e
submissas.

Ainda, teóricas radicais esforçam-se para entender qual a relação intrínseca entre a
feminilidade e o aumento do número de casos de pedofilia na sociedade
contemporânea. De acordo com a escritora Alicen Grey, em seu texto Você já escutou
sobre cultura do estupro, mas você já escutou sobre cultura da pedofilia?, tal cultura
caracteriza-se pela imposição e normalização de características pré-púberes em
mulheres adultas, como a necessidade de depilação, órgãos sexuais claros e
pequenos, magreza excessiva e a disseminação de vídeos pornográficos com atrizes
que simulam ser jovens ou até adolescentes. (GREY, 2015)

Como sequelas da feminilidade pode-se citar, na contemporaneidade:

1. Aumento de cirurgias de labioplastia, ou seja, de remoção de pele dos lábios


vaginais. Embora em alguns casos a remoção de tecido seja necessária para curar
anormalidades na região, na maior parte dos casos é feita pela estética de uma
vagina pequena e fechada. De acordo com a psiquiatra Dra. Lih-Mei Liao, a
maioria das mulheres que realizam o procedimento possuem lábios considerados
normais e são motivadas pela ansiedade em ter um padrão estético. (LIAO, 2012)
No Brasil, o número de mulheres que fizeram a cirurgia cresceu 80%, atingindo
23.155 em 2016, o número mais alto do mundo, de acordo com dados da
Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS, 2016)

2. Desenvolvimento de distúrbios alimentares, sobretudo em mulheres influenciadas


pela mídia e pela indústria da moda, além de transtornos mentais comumente
encontrados em indivíduos do sexo feminino, tais quais depressão, ansiedade e
síndrome do pânico. Segundo levantamento da Secretaria de Estado da Saúde de
São Paulo, 77% das jovens entrevistadas apresentam propensão a desenvolverem
algum tipo de distúrbio alimentar, como anorexia, bulimia ou compulsão por comer.
A pesquisa ainda revelou que 85% acreditam que existe um padrão de beleza imposto
pela sociedade. (SES, 2014)

3. A depilação, embora seja comum em civilizações antigas como o Egito Antigo,


apenas a partir do século XIX foi resignada a uma noção de higiene e necessidade
para as mulheres. A popularização da chamada “depilação brasileira”, ou seja, a
retirada completa dos pelos pubianos por cera aconteceu ao longo dos anos 90
com a abertura do salão “J. Sisters” em Nova York. Nos Estados Unidos, em
pesquisa realizada por Teresa Tsang, em 2015, 34% dos universitários não

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namorariam uma garota que não se depila. Posteriormente, a disseminação da
indústria pornográfica no século XXI transformou a depilação em uma estética
sexual de agrado dos homens. A depilação, pois, passou a ser uma
obrigatoriedade para as mulheres tanto no campo público quanto privado. (QG
FEMINISTA, 2017)
4. Conforme o colunista Carlos Alberto Pacheco, o mercado de maquiagem
representa 14% do mercado mundial (US$ 33,0 bi - 2004), o terceiro maior
segmento do setor cosmético. (PACHECO, 2006) O uso de dermocosméticos que
buscam retardar o envelhecimento da pele e prevenir o aparecimento de rugas e
linhas de expressão também tornaram-se populares. Além de ter se tornado
sinônimo de cuidado, a indústria de cosméticos tornou-se uma imposição para as
mulheres que querem adentrar o mercado de trabalho, a fim de estarem bem
vistas para o público alvo empresarial.
5. Segundo dados do site pornográfico PornHub, em 2013 e 2014 a categoria mais
pesquisada era Teen (adolescente), somando quase 80 bilhões de visualizações.
(PORNHUB, 2014) De acordo com Carol Correia, no portal QG Feminista, o estudo
mais conceituado sobre conteúdo pornográfico concluiu que 90% das cenas
continham pelo menos um ato agressivo de violência física e verbal combinadas.
Além disso, estudos populacionais afirmam que, em média, indivíduos que
consomem pornografia estão mais propensos a reproduzirem agressões durante
suas relações sexuais do que indivíduos que não consomem pornografia.
(CORREIA, 2018)

Sendo assim, o feminismo radical enxerga na feminilidade um conjunto de construções


sociais que oprimem e rebaixam a mulher a uma inferioridade em relação ao homem.
Para a vertente, a chamada “liberdade de escolha” das mulheres na
contemporaneidade é uma ilusória, uma vez que assume-se um nível de autonomia e
emancipação que para as mulheres não existe, posto que, enquanto classe social, são
forçadas a adotarem padrões comportamentais e estéticos desde o nascimento.

Para mulheres negras, indígenas, pobres, lésbicas ou acima do peso, ou seja,


marginalizadas por questões além do gênero, o radical realiza recortes de raça, peso,
classe e sexualidade, que indicam que, para esses grupos, a feminilidade é mais do
que uma imposição: é a única maneira que elas têm de serem enxergadas como
mulheres em uma sociedade patriarcal. Uma vez que fogem da heteronormalidade ou
dos padrões de cor e sexualidade, as mulheres são inferiorizadas e oprimidas por
diversos outros fatores.

21
Por fim, Meagan Tyler, escritora feminista, afirmou em texto para o site The
Conversation:

“O argumento da escolha é fundamentalmente falho


porque assume-se um nível de liberdade consumada
que para a realidade das mulheres, simplesmente não
existe. Claro, nós fazemos escolhas, mas essas
escolhas são moldadas e restritas pelas condições de
desigualdade em que vivemos. Só faria sentido
celebrar sem críticas o poder de escolha em um mundo
pós patriarcado.” (TYLER, 2015)

Capítulo 4 – Feminismo radical no Brasil

4.1 - A ascensão do feminismo radical no Brasil contemporâneo

No Brasil, a escritora e feminista Dionísia Pinto Lisboa foi a responsável pela


disseminação do movimento feminista nas letras nacionais. Com base na obra inglesa
Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher, de Mary Wollstonecraft, a intelectual
brasileira (de pseudônimo Nísia Floresta) publicou no país aos 22 anos seu livro
Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832). Na obra, Nísia denuncia o mito
da superioridade masculina e busca comprovar que mulheres são tão capazes quanto
os homens de receber cargos altos e de serem consideradas seres inteligentes e
racionais. Além de reivindicar os direitos das mulheres, Nísia lutou pela abolição da
escravidão, pela proclamação da república, pelos indígenas e pela liberdade religiosa,
em um país comandado pela Igreja Católica. (SOUZA; CARARO, 2017) Em seu livro,
Nísia afirma que:

“Se cada homem, em particular, fosse obrigado a declarar o


que sente a respeito de nosso sexo, encontraríamos todos de
acordo em dizer que nós nascemos para seu uso, que não
somos próprias senão para procriar e nutrir nossos filhos na
infância, reger uma casa, servir, obedecer, e aprazer a nossos
amos, isto é, a eles homens.”. (FLORESTA, 1832)

22
Por análise, no trecho da obra Nísia expõe a finalidade da mulher brasileira do século
XIX: servir ao homem e à instituição familiar enquanto indivíduo submisso. Naquela
época, a mulher deveria apenas acatar as decisões do patriarca da casa, não tinha
direito a cargos políticos tão pouco trabalhistas, e era destinada ao trabalho
doméstico.

Após a primeira edição, Nísia também fundou o Colégio Augusto para meninas, com o
ensino de língua estrangeira, português, música, dança, matemática, geografia, entre
outros, incluindo a população feminina no sistema educacional brasileiro que, na
época, correspondia somente a cerca de 15% do total de estudantes do país.
(SOUZA; CARARO, 2017)

Em meados do século XIX começou no país a circulação dos primeiros periódicos


escritos por mulheres. O Jornal das Senhoras, por exemplo, de Joana Paula Manso
Noronha, incentivava as mulheres cariocas a buscarem melhoras sociais e
emancipação política dos homens, além de fazer críticas ao comportamento
dominante e superior do homem brasileiro da época. Posteriormente, como explica
Constância Lima Duarte, em seu artigo Feminismo e literatura no Brasil, por volta de
1870, o número de jornais publicados por mulheres, sobretudo no Rio de Janeiro,
cresceu monumentalmente e deu espaço para que mais mulheres posicionassem-se
sobre as injustiças cometidas contra o sexo feminino no país. (DUARTE, 2003)

O século XX foi, consequentemente, o eclodir da revolução feminista no país. As


feministas de época clamavam pelo direito ao voto, ao curso superior e à ampliação do
campo de trabalho feminino nacional, uma vez que gostariam de trabalhar em
comércios, indústrias e repartições. Muitos nomes se destacam desse período, como o
da bióloga e ativista Bertha Lutz, que fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da
Mulher, movimento que conquistou, entre outros direitos, o acesso ao voto feminino
em 24 de fevereiro de 1932, sob o governo de Getúlio Vargas. (DUARTE, 2003)

Por fim, os anos 70 trouxeram de fora uma intensa revolução sexual e literária para o
Brasil, com a introdução de temáticas como o aborto, sexualidade feminina,
mortalidade materna, prostituição e as condições trabalhistas as quais as mulheres
eram submetidas. (DUARTE, 2003) Conforme a professora de história da Universidade
Federal da Grande Dourados (UFGD) Ana Maria Colling, em seu artigo As mulheres e a
ditadura militar no Brasil, inseridas no país em meio a uma ditadura militar, as mulheres
militantes foram consideradas “seres desviantes” e sua autonomia foi constantemente
desqualificada pelos indivíduos masculinos da época. Abandonadas também pelas
organizações de esquerda, que visavam apenas a luta de classes e o debate

23
proletariado vs. burguesia, as feministas dos anos 70 lutaram pela emancipação
feminina, por debates contra a primazia masculina e pela igualdade entre sexos.
(COLLING, 2015)

Apesar de identificarem-se as origens do feminismo no Brasil, sua vertente radical foi


pouco difundida, uma vez que seu surgimento coincide com o período da Ditadura
Militar brasileira. Devido à escassez de textos documentados sobre o início do
movimento radical no Brasil, é impossível afirmar com certeza o começo de sua
atuação no país.

Contudo, parte das teóricas feministas atuais admite a existência de uma quarta onda
do movimento, disseminada através da internet. Tal qual uma espécie de Primavera
Árabe, as cyber ativistas organizam-se por intermédio das redes sociais e combinam
manifestações e atos políticos pela liberdade e emancipação feminina.

Por conseguinte, atualmente a internet é a principal fonte de disseminação do


Feminismo Radical no Brasil. Entre os principais fóruns de propagação do movimento,
destacam-se:

QG FEMINISTA: a revista digital ressalta-se como o meio de transmissão mais


influente do feminismo radical no Brasil contemporâneo. Prestigiadas em redes sociais
como o Instagram, Twitter, Facebook e Youtube, as contribuintes do portal realizam
traduções gratuitas de livros e artigos estrangeiros, resenhas de obras clássicas e
radicais e indicações de grandes personalidades feministas, como Andrea Dworkin,
Alexandra Kollontai e Kate Millet. Seus artigos estão completos no web portal Médium,
e já foram aclamadas em exposição ao MASP – Museu de Arte de São Paulo.

FEMINISMO COM CLASSE: o portal mescla discursos marxistas e anticapitalistas


com a teoria feminista radical. Em artigos autorais e traduções gratuitas, as autoras
fazem críticas ao comportamento da esquerda contemporânea e aliam classe e
gênero na luta pela emancipação feminina em face à sociedade patriarcal.

ARQUIVISTA RADICAL: trabalham com traduções de textos importantes para o


feminismo radical desde os anos 80. Atualmente, publicam traduções e textos autorais
no portal Médium.

SAPATARIA RADICAL: o movimento reforça a importância da luta lésbica no país e


de introduzirem a lesbianidade dentro do movimento feminista. Abordam, entre outros
assuntos, heterossexualidade compulsória, lesbofobia e relacionamentos amorosos
contemporâneos. Ademais, trabalham constantemente publicando artigos para o portal

24
QG Feminista.

Ao adequarem as pautas radicais para a realidade nacional, os coletivos supracitados


destacam-se por tratarem de assuntos que afetam diretamente a realidade da mulher
brasileira, como prostituição, pornografia, feminilidade e a busca por padrões
estéticos, gênero, classe e raça.

Em suma, ainda que não seja possível identificar as raízes do feminismo radical no
Brasil, atualmente a vertente vem propagando-se através da internet. Extremamente
influentes nas redes sociais, as feministas radicais brasileiras lutam pela emancipação
feminina em face ao patriarcado e pela disseminação acessível do movimento no país,
enquanto traduções oficiais de percussoras radicais ainda são uma ilusória.

4.2 – O Feminismo Radical e o seu posicionamento no espectro político-


ideológico

No cenário político brasileiro contemporâneo, percebe-se a sociedade dividida entre


duas ramificações da política: a esquerda e a direita. De modo geral, enquanto a
esquerda defende os direitos humanos, o progressismo e a busca por uma sociedade
igualitária, a direita representa a luta pelo tradicionalismo, conservadorismo e
propriedade privada. (BARROSO, 2016) Ainda, percebe-se a influência das religiões
cristãs nas pautas de tal segmento político.

Por sua vez, apesar de o movimento feminista constituir uma espécie de “tabu
ideológico” para o país, uma vez que é discriminado por uma parcela da direita, o
feminismo radical se diverge das demais vertentes por ser amplamente rechaçado por
ambos os espectros políticos.

Como analisado anteriormente, de modo geral, o feminismo radical enxerga no


sistema de gênero uma hierarquia onde o homem domina a mulher através de uma
estrutura denominada patriarcado. As normas de gênero são impostas desde o
nascimento, e correspondem a papeis sociais atribuídos aos indivíduos humanos de
acordo com seu sexo biológico. Em suma, o sexo biológico é o motivo pelo qual
mulheres são oprimidas, e gênero é a ferramenta utilizada para a submissão feminina.

Em primeira análise, percebe-se que a maior parte da direita brasileira é composta por
religiosos cristãos muito influenciados pela Bíblia Sagrada. De acordo com a obra, em
Gênesis 1:27:

25
“E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou.” (GÊNESIS
1:27)

Por análise, Deus criou os seres humanos, enquanto animais, com papeis de gênero
biologicamente inatos ao seu sexo de nascimento. Por exemplo, se fêmeas humanas
são socialmente vistas como seres mais frágeis e submissos, estas são características
inerentes à sua condição biológica e que não podem ser mudadas. Em determinada
passagem bíblica, a religião afirma que:

“As mulheres sejam submissas a seus maridos, como


ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como
Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o
Salvador.” (EFÉSIOS 5:21-22)

Ainda em análise bibliográfica da obra mais vendida do mundo, os seguidores da


religião acreditam que a homossexualidade é um pecado como qualquer outro, uma
vez que, segundo a doutrina, toda relação sexual fora do casamento entre homem e
mulher é errada. Para exemplificar, em um trecho é constatado que:

“Com homem não te deitarás, como se fosse mulher;


abominação é.” (LEVÍTICO, 18:22)

Em síntese, posto que a ideologia radical é pautada na emancipação da mulher em


face ao homem e no destaque à lesbianidade, é incompatível que reaja com a direita
brasileira. Ainda, por desconhecimento, o termo “radical” é comumente associado a
uma militância extremista, sendo ainda mais rejeitado pela direita.

No que tange à esquerda, o feminismo de terceira onda é amplamente apoiado pelo


meio. Esse movimento refere-se ao surgimento do neoliberalismo nos anos 90 e é
marcado pela revolução digital, onde o feminismo passou a se desenvolver
especialmente na internet. O conceito de interseccionalidade, ainda, foi adicionado
ao movimento em 1989 por Kimberlé Creenshaw, a fim de reconhecer as outras
opressões sofridas por mulheres, como classe, raça e sexual. (Creenshaw, apud QG
FEMINISTA, 2018).

A terceira onda foi amplamente marcada pelo liberalismo e pela “liberdade de


escolha”, aspectos onde começa a se diferenciar do feminismo radical. Enquanto as
teóricas de segunda onda levantaram-se contra instrumentos de beleza e
feminilidade, as feministas liberais apropriaram-se de tais objetos como símbolo de
resistência. Para o movimento, sexo biológico também é uma construção social

26
enviesada pelo olhar masculino, e pautas como prostituição e pornografia podem ser
consideradas como liberdade sexual, e não mais como uma opressão das
capacidades reprodutoras femininas. Nesse momento, o conceito de individualismo
também se fortaleceu. (QG FEMINISTA, 2018)

Em relação às teorias de gênero, a tese de doutorado Problemas de Gênero, de


Judith Butler, foi inserida no movimento como base de pauta. Juntamente a teoria
queer, que se desenvolveu ao longo dos anos 80, o grupo enxerga o gênero como
uma performance pessoal. (QG FEMINISTA, 2018) Palavra advinda de agressões
verbais como “aberração”, o queer abrange todas as pessoas que desviam do
padrão de heteronormatividade, tais quais gays, lésbicas e homossexuais.
(MISKOLCI,2012) No que lhe diz conceito, a teoria posiciona-se contra o sistema
binário de gênero, ou seja, acredita que parte da opressão social parte da divisão de
gênero em apenas dois espectros: masculino e feminino. Como parte da solução, a
teoria estuda a existência de gêneros não-binários (como a tese de PhD de Mair
Cayley intitulada, em tradução livre, “Histórias de gêneros não binários”), e defende
fervorosamente o transativismo, ou seja, a militância pelo direito de transexuais.
(GERMANO, 2017)

A vertente radical raramente dialoga com a esquerda brasileira (ou movimento


queer), por opor-se à ideia de que gênero é passível de identificação. Uma vez que
esse sistema é uma ferramenta de opressão às mulheres, não pode ser objeto de
auto reconhecimento, posto que ninguém se identifica com a própria opressão.
Devido a isso, o radical caracteriza enquanto mulher o indivíduo adulto do sexo
feminino que passou pelo processo de socialização durante toda a vida. Com esse
conceito, não abrange mulheres transexuais na vertente, uma vez que tais
indivíduos, enquanto seres humanos do sexo masculino, não passaram durante a
vida pelo que uma mulher biológica passou.

Ainda, o feminismo radical também recusa a concepção de que gênero é um


sentimento ou um espectro. Conforme anteriormente analisado por Rebecca Reilly-
Cooper, o sistema de gênero diz respeito a um conjunto de normas sociais
coercivamente impostas aos indivíduos da espécie humana de acordo com seu sexo
biológico. Enquanto uma estrutura compulsória posta por forças externas, não é
possível que indivíduos identifiquem-se internamente com tais padrões sociais.
(REILLY-COOPER, 2016)

27
Por fim, a teoria queer utiliza do termo “cisgênero” para caracterizar uma pessoa que
se identifica com o gênero imposto no nascimento, enquanto “transgêneros” são a
parcela da sociedade que desvia dos papeis “cisnormativos”. Enquanto teoria, o
movimento radical discorda do uso do termo, uma vez que nenhuma mulher
identifica-se com o gênero, ou seja, com a própria opressão. (REILLY-
COOPER,2016)

Sendo assim, por serem críticas e abolicionistas de gênero, constantemente teóricas


radicais são acusadas por movimentos de esquerda de serem transfóbicas, ou seja,
preconceituosas contra transexuais, além de receberem ataques diretos e
xingamentos específicos pela sua crença, como TERF (Trans Exclusionary Radical
Feminist, ou Feminista Radical que Exclui Trans).

Deste modo, ainda que encontre um ambiente desfavorável no Brasil, o movimento


feminista liberal ainda possui o apoio da esquerda pós-moderna. O radical, por sua
vez, enfrenta adversidades em ambas as esferas da política nacional: esquerda e
direita, uma vez que recebe ataques e constrangimento de todas as direções, ora
por discordância ideológica, ora por desconhecimento sobre a vertente.

28
Considerações finais

O presente trabalho teve, como principal finalidade, desvelar as especificidades do


feminismo radical no mundo contemporâneo. Ao longo da pesquisa, constatou-se que,
ao contrário do estereótipo atribuído ao movimento, a palavra “radical” é relativa à raiz,
a origem da opressão feminina, e não a um ativismo extremista. As seguidoras do
movimento foram pioneiras na distinção conceitual dos termos sexo e gênero e, a
partir de tal diferenciação, encontraram no sexo biológico a razão pela opressão
feminina. Apesar de ter nascido com a ascensão da segunda onda feminista, nos anos
60, as pautas principais do movimento ainda são adequadas à realidade atual das
mulheres, como a análise crítica da indústria do sexo (com foco na prostituição e na
pornografia), a oposição à feminilidade e aos padrões de beleza impostos aos corpos
femininos, maternidade e heterossexualidade compulsórias, resistência lésbica e
direito ao aborto legal e seguro. Uma vez que não enxergam na igualdade de gêneros
uma possível saída para a opressão feminina, as feministas radicais sugerem a
abolição do sistema hierárquico de gênero para a manutenção de uma sociedade justa
para homens e mulheres. No Brasil, embora sua origem não seja facilmente
reconhecida, o feminismo radical firmou-se com a disseminação das redes sociais no
século XXI e a acessibilidade a portais digitais de fácil publicação de artigos,
sobretudo a rede Médium.

Ademais, ainda que esteja em intensa propagação no país, o feminismo radical


enfrenta intenso preconceito e discriminação da maioria das militâncias políticas. No
geral, discorda do transativismo e do feminismo liberal, pois não é possível identificar-
se com um gênero, visto que é sinônimo de opressão, e diverge do conservadorismo,
pois o gênero não é inato ao sexo biológico, mas sim, uma construção social. Desse
modo, ainda que enfrente um cenário hostil, o feminismo radical resiste no mundo
contemporâneo através de suas adeptas e seguidoras influentes, das quais não
deixam a teoria cair em esquecimento.

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