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Módulo 6

Processo Civil Romano,


Direito Romano Medieval
e Influências do Direito
Romano no Brasil
Sumário
Módulo 6
Módulo 6
Processo Civil
Romano, Direito
Romano Medieval
e Influências do
Direito Romano
no Brasil

1. Processo Civil Romano 162


1.1 Conceituações preliminares 162

1.2 Conceitos básicos do Direito Processual 163

1.3 Sistemas processuais 166

2. Direito Romano Medieval e Moderno 172


2.1 Leis romanas bárbaras 173

2.2 Glosadores e pós-glosadores 174

2.3 Ordenações portuguesas e Direito brasileiro 175

2.4 O Direito Romano e o Corpus Juris Civilis 177

2.5 Conclusão: a presença do Direito Romano no Direito brasileiro 178

Referências 180 Questões 181 Créditos 184 Anotações 185


1. PROCESSO CIVIL ROMANO

Olá!
Neste módulo vamos finalizar o estudo desta disciplina à
distância. No entanto, se ainda restam dúvidas, você pode
recapitular os módulos anteriores, responder novamente aos
exercícios e conferir as dicas do professor clicando em Podcast.
via
conversando Bons estudos!

A seguir, confira a meta para este módulo.

Este módulo tem como objetivo descrever as diversas formas do


exercício do ‘jus actionis’ no Direito Romano, identificando o
modo como chegaram à modernidade. Além disso, este estudo
se propõe a analisar a evolução deste Direito após a queda de
Roma e demonstrar sua presença no Direito brasileiro atual.
PrOPOSITUM
objetivo

1.1 Conceituações preliminares

COMMENTARIus
comentário
A pesquisa histórica demonstra que as comunidades humanas
primitivas inicialmente adotavam procedimentos de autotutela,
evoluindo progressivamente para formas mais humanizadas de
composição dos seus conflitos, de acordo com o aperfeiçoamento das relações
sociais. Foram, primeiramente, constituídos os sacerdotes como julgadores,
dada a sua maior aproximação com o sagrado e o numinoso, pois o ato de julgar
era entendido como uma atribuição dos deuses. Depois, o ofício de julgar foi sendo
desvinculado dos conceitos espirituais e passado para a esfera do Estado, ficando
esta tarefa reservada aos reis. Mais adiante, os reis delegavam prepostos para esta
função, surgindo então os magistrados. Estas etapas acompanharam o surgimento
e o desenvolvimento desse instrumento jurídico que chamamos “processo”.

O processo judicial (‘jus actionis’) decorre do direito subjetivo que o cidadão tem de poder
acionar as autoridades públicas, quando tem um direito seu violado. O Estado, por sua vez, atua através
de órgãos próprios, segundo as normas legais. O processo é resultado do aperfeiçoamento desses
procedimentos em vista da defesa dos interesses materiais e pessoais juridicamente protegidos.

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MÓDULO VI

Já observamos, no início do curso, que a palavra ‘jus’ significava, para


os romanos, tanto o aspecto objetivo quanto o aspecto subjetivo do Direito.
Sempre que se fala em direito, está implícita a participação do Estado,
porque sem esta proteção estatal, o direito deixaria de existir ou restaria
ineficaz. É aqui que se fundamenta a teoria da ‘actio’ (ação), ou seja, a
MEMORARE
lembrando atividade estatal destinada à proteção do direito.

NOTIO PERMAGNA
importante
Processo, em geral, é um conjunto de atos e regras que o possuidor de um direito
deve seguir a fim de obter o seu reconhecimento. Processo civil romano é o conjunto
das ações e regras que o cidadão romano devia seguir para realizar o seu direito. Por
isso, direito e ação são conceitos estritamente relacionados na atividade jurídica dos
romanos. Aliás, todo o sistema jurídico romano, dada a sua característica casuística, é
muito mais um sistema de ações e de meios processuais do que de teorias e enunciados.

O estudo teórico do Direito Romano, conforme foi dividido no decorrer de todo o curso, é subtraído
pelos romanistas do contexto geral do ‘jus actionis’, que compreende o aparelhamento judiciário romano
e o modo de impulsioná-lo, em vista da efetivação da justiça.

A definição de ‘actio’, dada pelo jurisconsulto Celso, é: o direito de perseguir em juízo aquilo
que é devido a alguém.1 A ‘actio’ é a evolução mais perfeita do exercício do direito subjetivo, que
se iniciou com o “fazer justiça com as próprias mãos”. No entanto, muito embora toda esta evolução,
o Direito continuou reconhecendo a possibilidade da autotutela, em casos de emergência, como é o
exemplo da legítima defesa. Porém, essas possibilidades devem ser restringidas ao máximo, porque o
sistema judiciário não tolera o abuso do direito, que facilmente pode ocorrer nessas circunstâncias.

1.2 Conceitos básicos do Direito Processual

Conceitos Órgãos Ação


basicos DO Colegiados Juízes ou
Direito
Processual Jus e Judicium Árbitros
Representação Processual Partes
Jurisdição Magistrados

1 Nihil aliud est actio quam ius iudicio persequendi quod sibi debeatur. (Digesto, 44, 7, 51)

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direito romano

## Ação: em latim, ‘actio’ deriva do verbo ‘agere’ (agir, realizar). O Direito Romano
está montado num sistema de ações da lei (actiones legis), passando por um processo
histórico evolutivo, até chegar à sua forma mais evoluída, que ainda hoje é seguida.
Havia as ações pessoais (actiones in personam) e ações reais (actiones in rem).

## Jus e Judicium: são os nomes com que os romanistas designam as duas fases em que
tramitava o processo civil romano mais antigo, separadas em dois momentos. ‘Jus’ era
a fase em que a questão tramitava perante o magistrado (in jure); ‘Judicium’ era a fase
posterior, realizada perante um juiz ou árbitro, que podia ser escolhido pelas partes ou
designado pelo magistrado para julgar a questão (apud judicem).

## Partes: eram o ‘actor’ (autor) e o ‘reus’ (réu). Todo cidadão romano ‘sui juris’ podia
ser parte num processo como autor ou réu. Em geral, as partes compareciam a juízo
acompanhadas por parentes e amigos. Essas pessoas eram convidadas (ad + vocatas
= chamadas para) assistir a disputa, sem intervir. Não havia, no início, a figura do
advogado, como hoje conhecemos.

## Representação Processual: entre os romanos, não era conhecido o sistema da


representação direta, nem mesmo no sistema processual. Daí que o representante
(procurator), se fosse o caso, agia em nome próprio, e não em nome do representado.
Somente no período de Justiniano, surgiu a figura do “advogado” como representante
da parte, podendo se manifestar em nome desta.

## Magistrados: convém lembrar que o magistrado romano não era somente o julgador de causas.
A função da magistratura era diversificada e evoluiu historicamente. No início da República
(510 a.C.), a magistratura era exercida pelos cônsules, que possuíam atribuições executivas e
judiciárias, além dos senadores, que exerciam a magistratura senatorial e possuíam atribuições
legislativas. Com a criação dos ‘praetores’ (pretores), no ano 367 a.C., passaram estes a
exercer a administração da justiça, deixando os cônsules com funções executivas e militares.
Eram magistrados superiores, aos quais fora concedido o ‘imperium’, ou seja, o supremo
poder da ‘jurisdictio’ (jurisdição: dizer o direito - jus dicere) e da ‘coercitio’ (coerção: castigar
os descumpridores), sendo auxiliados por juízes inferiores (juízes pedâneos). No tempo do
império, a ‘jurisdictio’ era exercida pelo Imperador e seus prepostos.
Os ‘praetores’ (pretores) dividiam-se em:

øø Pretores urbanos: julgavam causas entre os cidadãos romanos;

øø Pretores peregrinos: julgavam causas entre cidadãos romanos e estrangeiros


ou entre estrangeiros somente;

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MÓDULO VI

øø Edis curuis: julgavam as questões envolvendo vendas de animais e de escravos;

øø Governadores: nas províncias romanas, acumulavam as funções executivas


e judiciárias. 2

## Jurisdição: poder que o magistrado tem de “dizer o direito” (jus dicere), juntamente
com o ‘imperium’ (poder de mando). A ‘jurisdictio’ era realizada com a pronúncia
de uma destas três palavras formulares obrigatórias: ‘do’ (designo um julgador para
a questão); ‘dico’ (declaro o direito em favor de fulano); ‘addico’ (adjudico, isto é,
entrego a coisa a fulano).

Havia outros órgãos julgadores que atuavam numa segunda fase processual:

## Juízes ou Árbitros: Eram cidadãos designados pelos magistrados para o julgamento de


uma causa determinada, função semelhante à exercida por quem compõe hoje o tribunal do
júri. Não eram permanentemente juízes ou árbitros, ou seja, eram designados caso a caso,
de modo que, terminado o julgamento da causa, cessava a sua atividade de julgador. Havia
um livro (álbum judicum) onde constava uma relação de pessoas cadastradas para esta
atividade, podendo ser escolhido pelas partes, ou designado diretamente pelo magistrado.
Porém, o juiz é sempre singular, já os árbitros podem ser vários, para a mesma causa.

## Órgãos Colegiados: eram grupos de cidadãos encarregados do julgamento de determinadas ações:

øø Recuperatores: existiram no final da República, eram um conselho de três a


cinco cidadãos, que julgavam causas entre romanos e estrangeiros;

øø Decenviri litibus juricandis: colegiado de dez cidadãos, que existiu entre os anos
242 a 227 a. C., para julgar ações que envolviam a liberdade e as vendas públicas;

øø Centunviri: conselho de 150 cidadãos, que existiu na segunda metade da


República, para julgar ações sobre propriedade, sucessão e estado das pessoas.

øø Questiones perpertuae: existiram no final da República, funcionavam sob a


presidência de um pretor, para julgamento das ações criminais. Compunha-se
de cinquenta cidadãos, formando uma espécie de grande tribunal do júri nos
moldes modernos, em que o pretor apenas presidia e anunciava o resultado, não
interferindo nas decisões.

2 Conforme Cretella Jr. (op. cit, pág. 290), os romanos não tinham a noção da separação dos poderes. Os
magistrados romanos eram cidadãos eleitos, nem sempre conhecedores do Direito, pois exerciam funções
políticas cumulativamente. Daí porque delegavam a função propriamente dita de julgar aos ‘judices’ por ele
indicados. Somente no alto império surgiram os magistrados especializados.

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direito romano
1.3 Sistemas processuais
O Direito Romano conheceu três sistemas processuais, dentro de sua evolução histórica. O mais
antigo é o sistema ‘legis actiones’ ou ações da lei, cujos primórdios remontam à Lei das XII Tábuas.
Em 149 a. C., com a lei Aebutia, foi criado um sistema de fórmulas processuais (processo formular),
que foi aos poucos abolindo o mais antigo. Estes dois sistemas são denominados ‘ordo judiciorum
privatorum’ (ordem dos juízos privados), quando não havia ainda o julgamento por um juiz estatal, mas
por juízes privados. A partir do século III d. C., passou a vigorar o sistema ‘extraordinaria cognitio’,
que foi o início da justiça administrada e aplicada pelo Estado.

a) ‘Ordo judiciorum privatorum’

NOTIO PERMAGNA
importante
O primeiro tipo processual deste sistema denomina-se ‘Legis Actiones’, que
remonta à Lei das XII Tábuas, porém a sua existência é anterior, oriunda do
Direito Consuetudinário oral. Eram instrumentos processuais exclusivos dos
cidadãos romanos, tendo em vista a guarda de seus direitos subjetivos previsto no
antigo ‘jus quiritarium’. Caracterizava-se pela pronúncia de certas palavras rituais
regulamentadas no ‘jus civile’. Essas palavras rituais (verba certa) eram obrigatórias e
imutáveis, causando nulidade o seu uso incorreto. Ou seja, o não uso das ‘verba certa’ ou
a troca de palavras significava perda da ação. Não cabia apelação das decisões.

Cretella Júnior3 assim descreve o procedimento adotado nesse sistema processual: “o réu é
procurado pelo autor que, se o encontra na rua, lhe dirige as ‘verba certa’ chamando-o ao tribunal.
O réu é obrigado a atender à citação e, se não a atende, o autor arranja testemunhas e o prende. Se o
demandado foge, o autor tem o direito de empregar a força, prendendo-o e torcendo-lhe o pescoço.”
Neste sistema, todas as ações processuais são empreendidas pelas partes, não havendo participação da
autoridade judiciária ou de seus auxiliares.

O processo civil romano antigo se desenvolvia em duas fases. A primeira chamava-se In


Jure. O autor comparece perante o magistrado e expõe as suas pretensões e o réu as contesta. Após
isso, inicia-se a segunda fase, chamada de In Judicio ou Apud Judicem. O magistrado designa
um juiz ou árbitro para julgar a demanda, marcando uma data para o julgamento. Na ocasião do
julgamento, as partes travarão os embates judiciários perante o juiz ou árbitro, cada um defendendo
o seu ponto de vista. Caso o réu não compareça na hora marcada, espera-se por ele até o meio
dia. Ao final dos embates ou ao final do prazo, o juiz ou árbitro proferirá a sentença, cabendo ao
vencedor providenciar a sua execução. Caso o devedor ofereça resistência à execução, o credor
poderá intentar uma ação executória, dando início a outro processo.

3 Cretella Jr., op. cit, pág. 293

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MÓDULO VI

Segundo Gaio4, as ‘legis actiones’ eram de cinco espécies:

## Legis actio per sacramentum: era uma espécie geral, usada sempre que a lei não prescrevia
um tipo especial. As partes faziam, perante o magistrado, uma espécie de juramento ou
de aposta (sacramentum) entre si, ficando marcada uma data após trinta dias para ambos
comparecerem ao fórum a fim de exporem suas alegações e ouvirem o pronunciamento
de um juiz. O objeto da aposta podia ser animais (carneiros, bois) ou dinheiro. O vencido
pagava a aposta. Se fossem animais, esses eram sacrificados aos deuses; se fosse dinheiro,
seria revertido em favor do Estado, uma espécie de antecipação do que são hoje as custas
processuais. Esta parte ritual era seguida também nos outros tipos de ações.

## Legis actio per judicis (arbitrive) postulationem: era uma ação específica utilizada
para cobrança de dívidas oriundas de contratos verbais solenes, de partilhas de herança
ou de bens comuns (coproprietários), sem necessidade de aposta sacramental. Fazia-
se mediante petição oral diretamente ao juiz ou árbitro e este convocava o(s) réu(s).
Seguia-se, no mais, o ritual anterior.

## Legis actio per conditionem: era uma ação específica utilizada para cobrança de
dívidas provenientes de empréstimos de dinheiro ou de coisas determinadas. O nome
‘conditionem’ significa um aviso (conditio), notificação ou citação do réu diretamente
pelo autor para que pagasse a dívida vencida ou devolvesse a coisa. Caso o réu se
negasse, então o autor o citava para comparecer, dentro de trinta dias, ao fórum para
ouvirem o pronunciamento do juiz. Seguia-se, no mais, o ritual anterior.

## Legis actio per manus injectionem: era uma espécie de execução legal em caso de
cobranças de dívidas monetárias ou de execução de decisões judiciais. A palavra
‘injectionem’ significa apoderamento do devedor pelo credor. Em épocas mais antigas, o
devedor podia ser morto pelo credor em caso de não pagamento da dívida. O pagamento
podia ser feito por ele próprio ou por um parente ou amigo. Posteriormente, esse rigor
foi aliviado, podendo o credor instituir uma “servidão” sobre o corpo do devedor e
depois vender esta servidão ‘trans Tiberim’ (do outro lado do rio Tibre, isto é, fora de
Roma). No final da República, o réu que não pagasse o débito não poderia ser morto
nem vendido como escravo, mas seu credor poderia levá-lo para sua casa e mantê-lo
preso até que pagasse sua dívida com trabalho.

## Legis actio per pignoris captionem: era uma espécie de execução real, voltada para os
bens do devedor, não para a sua pessoa física. A palavra ‘pignoris’ significa penhor. Por
esta ação, o credor, mesmo sem a presença ou a ordem do magistrado, podia apoderar-
se dos bens do devedor diretamente ou através dos publicanos e guardar consigo como
garantia do pagamento da dívida, até a quitação do débito. Trata-se de uma prática
comum entre os povos antigos, não apenas entre os romanos. Era um tipo de ação
sumária que, em geral, se realizava sem a interferência do magistrado.

4 Institutas, IV, 2 - Gaio

167
direito romano
illustratio
dica
Segundo os romanistas, as três primeiras ações seriam as fontes do nosso atual
processo de conhecimento e as duas últimas, do processo de execução. Convém
destacar ainda que as ações ‘per sacramentum’ podiam ser intentadas ‘in
personam’, quando a discussão envolvia contratos ou serviços, ou ‘in rem’,
quando envolviam objetos, originando-se daí as ações pessoais e as ações reais.

Este sistema ‘legis actiones’, que era dirigido preponderantemente pelos particulares, quase
sem controle do Estado, foi caindo em desuso com o aperfeiçoamento da máquina estatal, tendo sido
substituído pelo sistema do processo formular. Com efeito, o crescimento da máquina pública não podia
admitir um sistema em que o magistrado fosse mero expectador, sem poder de interferir nas ações.
Além disso, o seu excessivo formalismo e a total oralidade tornaram necessário um aprimoramento dos
instrumentos processuais, de modo que houvesse maior controle por parte das autoridades e também
que não se restringisse apenas aos cidadãos romanos.
NOTIO PERMAGNA
importante
O segundo tipo processual da ‘ordo judiciorum privatorum’ foi o Processo Formular.
Iniciado com a Lei Aebutia (149 a.C.)5, foi utilizado paralelamente com o
sistema ‘legis actiones’ até que este foi abolido pelo imperador Augusto (17 a.C.).
Tinha algumas partes escritas, embora mantivesse ainda atos orais. Por força do
‘jus gentium’, passou a ser adotado também por estrangeiros. Chamava-se ‘formula’ ao
documento escrito pelo magistrado, indicando a questão que um juiz devia resolver.

Embora o processo formular continuasse a ter duas fases, tal como era nas ‘legis actiones’ (fase 1 -
as partes dirigem-se ao magistrado superior; fase 2 - este designa um juiz para julgar a causa), a criação
da fórmula significou um aumento do poder do magistrado na dinâmica processual. Nesse caso, o pretor
tem mais autonomia porque compete a ele tomar por termo o pedido e enquadrá-lo juridicamente, pois
agora era este quem resumia os pontos da lide, que seriam submetidos ao juiz, desviando-se também
do rigorismo das palavras rituais “verba certa” do sistema anterior. O juiz, por sua vez, pode participar
ativamente das discussões entre as partes, deixando de ser mero expectador passivo. Isso torna o processo
mais rápido, menos formalista e também mais justo.
illustratio
dica
A primeira fase processual do Processo Formular desenvolve-se também
perante o magistrado. Deixa de existir, porém, o aspecto da violência a ser
empregada em caso de recusa do réu. No novo sistema, caso o réu citado pelo
autor não compareça, o magistrado aplica-lhe uma multa. Nova recusa do réu
configura delito, que como tal será punido pelo magistrado. As partes expõem os fatos e
suas razões, inclusive as provas, o autor através da ‘postulatio’, e o réu pode confessar
ou negar. Após colher os elementos necessários, o magistrado resume a questão na ‘litis
contestatio’ e as partes concordam que um juiz resolva o litígio, fazendo uma espécie
de contrato judiciário. A fórmula é escrita pelo magistrado, na qual ele orienta o juiz
para o proferimento da sentença, passando-se para a segunda fase processual.

5 Conforme Cretella Jr. (op. cit., pág. 300), é impossível determinar a data da Lei Aebutia, sendo certo apenas
que entre esta e as leis Julias, do imperador Augusto, decorreram aproximadamente 100 anos.

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MÓDULO VI

A segunda fase se desenvolve diante do juiz. Incumbe às partes desenvolverem as provas


apresentadas ao magistrado na fase anterior, cabendo ao autor o ônus de provar a sua
pretensão e ao réu o direito de opor as suas exceções. As provas podem ser orais ou escritas.
Apreciando as provas e argumentos de ambas as partes, o juiz, ao formar sua convicção,
profere a ‘sententia’. Caso ele não consiga formar um juízo conclusivo, pode abster-se de
julgar aquela causa, sendo substituído por outro. O julgamento é feito sempre nos termos da
fórmula, tal como o magistrado de hoje, que deve julgar nos termos da lei. Pela sentença, o
juiz vai realizar o terceiro princípio geral do direito romano: dar a cada um o que é seu.

No período republicano, ainda não se conheciam os recursos das sentenças, para que fossem
submetidas a um novo julgamento em instância superior. Havia, porém, alguns procedimentos que
correspondiam a um recurso indireto. Por exemplo, a parte perdedora podia tentar anular a sentença,
oferecendo o dobro da condenação para o caso de ter o seu pedido recusado. No período do império foi
instituído o recurso de apelação, o qual seria dirigido ao magistrado que escreveu a fórmula. Em caso
de insucesso, cabia um último recurso diretamente ao imperador.

Após a sentença final, não poderiam as partes litigar em juízo pelo mesmo motivo, baseado no
princípio de que a coisa julgada tem-se por verdadeira sobre o mesmo assunto e entre as mesmas
pessoas. Nasce o princípio jurídico da coisa julgada, que, em Roma, não é absoluto, mas relativo,
pois não se aplica à sentença proferida pelo juiz, somente à possibilidade de nova ação, à fórmula dada
pelo magistrado. Caso a pessoa tentasse ingressar com nova ação pelo mesmo motivo, o magistrado a
recusaria. Contudo, a decisão proferida pelo juiz não era contemplada pelo instituto da coisa julgada,
pois tendo sido proferida por um particular, não tinha a autoridade de decisão oficial.

A execução continuava atribuída ao vencedor em caráter particular, como era no sistema das
‘legis actiones’, porém não mais com a morte ou a escravidão do devedor. Os pretores, através do ‘jus
honorarium’, introduziram a prática da ‘venditio bonorum’ (venda dos bens) do devedor para satisfação
da obrigação, em vez das sanções corporais.

attende
atenção
Com o surgimento dos recursos de apelação ao magistrado autor da fórmula
processual, a figura do juiz ou árbitro particular foi-se tornando obsoleta,
passando o magistrado prolator da fórmula a julgar logo a ação, em vez de
encaminhar ao juiz. Esta prática deu origem a um novo sistema processual,
denominado de ‘cognitio extra ordinem’ ou ‘extraordinaria cognitio’, o que
significa o abandono da ‘ordo judiciorum privatorum’ e, com ela, a abolição dos
dois sistemas processuais derivados dela: legis actiones e processo formular. Passa-
se, então, para a terceira fase do processo civil romano.

169
direito romano

b) ‘Extraordinaria cognitio’
A evolução do Direito Processual romano prosseguiu, a partir do século III d.C., com a
‘extraordinaria cognitio’ ou ‘cognitio extra ordinem’, assim denominada por não mais seguir a ‘ordo
judiciorum privatorum’.

As principais modificações trazidas foram:

øø Unificação das duas fases processuais (in jure – in judicio) e processo com
documentos escritos;

øø Juízes com formação jurídica;

øø Possibilidade da representação processual (advocacia) e o direito de apelação


(jus appelationis);

øø Na prática, o Estado romano assumiu o comando do processo.

CURIOsitas
curiosidade
Esta mudança processual teve início com um costume adotado pelos imperadores de
comparecerem pessoalmente ao fórum e se colocarem à disposição dos cidadãos para julgarem
duas demandas. Fazendo uso do seu poder sem limites, o imperador julgava sem a observância
dos formalismos e ninguém podia contrapor-se a isso. Por vezes, o imperador também delegava este
poder a funcionários de sua confiança, cujas decisões eram tidas como se fossem do próprio imperador. Tal
costume terminou por romper com a ordem formalista anterior, produzindo uma nova processualística.

Isso significou também a assunção da função jurisdicional pelo Estado, fato que trouxe como
consequência a extinção da gratuidade da justiça, devendo as partes arcarem com as custas do processo,
pagas ao Estado. Por todas essas inovações, levou o nome de ‘cognitio extraordinaria’ ou ‘cognitio
extra ordinem’. O novo sistema rapidamente ganhou a preferência do povo romano e dos magistrados,
primeiro nas províncias e, por fim, em Roma. Assim, o processo vai se retirando do universo privatizado
e passando para a esfera do publicismo, isto é, do direito público.

Outra característica dessa nova ordem processual foi a sua tramitação reservada aos interessados
na lide, diferentemente da ordem anterior, na qual tudo era assistido por todos. O juiz passou a ter uma
sala própria no fórum, num compartimento separado por paredes (cancellae) e vedado por uma cortina,
que só era aberta no momento de proferir a sentença. A oralidade é substituída por documentos escritos,
redigidos pelos auxiliares do juiz e pelos advogados.

A magistratura passou também a ter maior atenção do poder público, criando-se a hierarquia
dos magistrados, o que possibilitou o surgimento do recurso de apelação, permitindo ao perdedor a
possibilidade de recorrer a um outro magistrado de categoria mais elevada.

170
MÓDULO VI

Havia três classes de magistrados:

## Superiores (os imperadores, os quais podiam julgar em qualquer instância, mas também
eram a instância máxima, e os praefecti pretorii);

## Ordinários (os magistrados, os prefeitos de Roma e de Constantinopla e os


governadores das províncias);

## Pedâneos (juízes de pequenas causas, que ficavam na parte anterior do fórum e apreciavam
as causas mais simples, reservando aos magistrados as causas mais complexas).

CURIOsitas
curiosidade
Aperfeiçoou-se também o instituto da representação, que antes era indireta, e, a
partir de Justiniano, surgiu a figura do ‘procurator’ ou representante para a lide, a
quem uma pessoa confere poderes para representá-lo e agir em seu lugar. Podiam representar
tanto o autor quanto o réu. Foi nessa época que os advogados começaram a se reunir em corporações,
constituindo uma classe social de destaque, com maiores prerrogativas. Eles participavam também do
rateio das custas processuais (sportulae), juntamente com os serventuários da justiça.

O processo tramitava todo perante o magistrado. O autor apresentava o seu pedido (libellus
conventionis) e o juiz mandava fazer a citação por escrito (litis demonstratio), entregue oficialmente ao
réu. A citação é feita pelo “executor”, um agente público. Embora o réu fosse obrigado a comparecer,
a sua revelia não significava perda da ação, cabendo ao autor provar o seu direito perante o juízo (‘si
bonam causam habuerit’, isto é, que tinha uma boa causa).

Também a contestação do réu devia ser por escrito (libellus contradictionis), após dez dias. As
partes e seus advogados faziam um juramento de boa fé perante o juiz e procediam-se aos debates e
apresentação das provas. Realizadas as provas, era proferida a decisão final (sententia), da qual era
possível a interposição de recursos de apelação (appelatio), que podia remeter a lide até o imperador.
Havendo apelação, a execução da sentença ficava suspensa, até a decisão final da autoridade superior.

NOTIO PERMAGNA
importante
A execução da sentença deixou de ficar a cargo do vencedor da ação, sendo
feita por agentes da organização judiciária. Era admitido o emprego da força
pública, caso houvesse resistência do executado, mas a execução dirigia-se aos
bens do devedor, não mais à sua pessoa. Caso, porém, o devedor não tivesse bens para
pagar a dívida, podia ser preso em prisão pública. Como se verifica, este avanço
processualístico significou, na prática, um intervencionismo do Estado onde antes era
esfera privativa dos cidadãos, ou seja, o abandono de um princípio que sempre foi muito
caro ao ‘jus civile’, que era a não intervenção estatal nos negócios privados.

171
direito romano

A nova ordem processual sintetizou os diferentes institutos processuais utilizados nas etapas anteriores,
integrando-os e harmonizando-os num bloco compacto. Este formato é seguido até os nossos dias na grande
maioria dos países do mudo, sobretudo nos povos de língua neolatina. O estudo das raízes da processualística
romana, à luz dos dados históricos, ajuda a compreender a atual teoria geral do processo, demonstrando
novamente a importância do estudo do Direito Romano pelos estudantes do curso de Direito.

Concluímos aqui a parte temática do estudo do


Direito Romano. Passaremos a apresentar, a seguir,
a continuidade da influência da matriz jurídica
romana na Europa e no Oriente Próximo mesmo
após a queda do Império Romano, demonstrando a
via
conversando permanência de sua presença na Idade Média, bem como
sua importância para a formação dos direitos nacionais
dos países europeus modernos, até a sua chegada ao Brasil,
trazido pelas mãos dos colonizadores portugueses.

2. DIREITO ROMANO MEDIEVAL E MODERNO

A derrota de Roma para os bárbaros, no século V, e a posterior derrota de Constantinopla para os


turcos, no século XV, puseram fim ao império político dos romanos, mas não à sua influência social e
cultural, pois esta continuou a se manifestar forte e duradoura na Europa e nos demais territórios não
europeus antes dominados pelos romanos.

Os povos que venceram os romanos pelas armas sabiam muito bem o valor da cultura por eles transmitida,
especialmente na forma da organização social, nos conhecimentos científicos e, sobretudo, na produção
jurídica. Os romanos haviam construído um sistema de estradas que percorria toda a Europa, parte da Ásia e
da África, que continuou sendo utilizado ainda por muitos séculos, pelo menos até a época das navegações. A
administração das cidades, o sistema tributário, a moeda e a língua usadas pelos romanos serviram de fontes
subsidiárias para que os povos bárbaros, de cultura inferior, organizassem as suas sociedades e preparassem
o advento das novas culturas que se moldavam nos antigos territórios romanos.

illustratio
dica
Assim é que, desde a Idade Média até a Revolução Francesa, os modelos
social, jurídico e político herdados dos romanos foram dominantes na Europa
ocidental e no Mediterrâneo, sendo transferidos para o continente americano
através das expedições colonizadoras de portugueses e espanhóis. As Leis
Romanas Bárbaras e o monumental trabalho dos Glosadores são uma clara
demonstração da continuidade da influência romana na área do Direito.

172
MÓDULO VI

2.1 Leis romanas bárbaras


Durante o período histórico conhecido como Idade Média, que vai da queda do Império Romano
do Ocidente (476 d.C.) à Tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453, houve muitas
transformações na Europa, intimamente associadas às invasões bárbaras, época em que o Direito
Romano entrou em decadência no território europeu.

attende
atenção
As invasões dos bárbaros tiveram importante influência na formação do
regime feudal, no qual a autoridade dos reis foi aos poucos substituída pelo
poder local dos senhores de terras. Assim, o “Direito Medieval” representou um
retrocesso em relação ao Código de Justiniano, condensando-se em coleções orais,
contendo o primitivo direito consuetudinário, e algumas leis escritas regulando
as novas relações decorrentes do feudalismo, expedidas por algumas autoridades
europeias mais esclarecidas, com vigência territorial mais restrita.

Esta legislação medieval elaborada sob a influência dos bárbaros dividia-se em leis bárbaras
para os romanos, leis bárbaras para os bárbaros e leis bárbaras para bárbaros e romanos. Com
efeito, os bárbaros (os visigodos, por exemplo) editaram leis para serem aplicadas aos súditos romanos.
Assim, a Lex Romana Visigothorum (lei romana dos visigodos) foi baixada por Alarico II, em 506,
para ser aplicada as romanos no reino visigótico.

NOTIO PERMAGNA
importante
Tais codificações foram compiladas com aproveitamento de textos romanos diversos,
por exemplo, dos Código Gregoriano, Hermogeniano, Teodosiano, das sentenças do
jurisconsulto Paulo, das respostas de Papiniano e das Institutas de Gaio. Como exemplo
de lei bárbara para os bárbaros, temos a Lex Romana Burgundiorum (Lei Romana dos
Burgúndios ou Borguinhões), também chamada Lex Gundobalda (Lei Gundobalda), para
reger as relações entre os Borguinhões. Exemplo de lei bárbara de aplicação geral é o Edictum
Theodorici (Edito de Teodorico) aplicável aos godos e aos romanos.

Ressalte-se que, nessa época, por causa da expansão do Cristianismo no território europeu, havia
ainda grande influência das leis canônicas da Igreja Romana (Corpus Juris Canonici). Convém destacar
que essas leis canônicas tinham sido elaboradas ainda na época do Império Romano e eram totalmente
compatíveis com as leis civis romanas, de tal maneira que o uso da legislação canônica correspondia,
indiretamente, ao uso das normas romanas nela contidas.

Acrescentem-se ainda a Lex Salica (Lei Sálica), que, para muitos juristas, tem origem céltica;
a Lei dos Francos Ripuários, geralmente aceita como tendo sido escrita por ordem de Teodorico II
e mais conhecida por Lex Ripuaria ou Ripuariorum; a Lex Francorum Chamavorum (Lei dos

173
direito romano

Francos Camavos); o Pactus, mais tarde chamado de Lex Alammanorum (Lei dos Alamanos); o
Fuero Juzgo (ou o Breviarium Alericianum), denominação sob a qual foi aplicada na Espanha a
Lex Romana Visigothorum.

illustratio
dica
As Leis Romanas Bárbaras marcaram o início das legislações
próprias das nações europeias, ainda em fase de formação
política. Algumas regiões da Europa, nessa época, sofriam com
as invasões dos mouros (muçulmanos), sobretudo na Península
Ibérica, dificultando a organização política desses povos. Com a
gradual consolidação dos estados europeus modernos, essas leis, assim
como o trabalho interpretativo dos Glosadores, foram fundamentais
para o desenvolvimento do Direito europeu moderno.

A partir do século X, com a criação das Universidades europeias e com a instalação dos primeiros
cursos jurídicos, essas correntes jurídicas romana, bárbara e canônica combinaram-se para formar o chamado
“jus commune”, base jurídica comum de onde emergiu mais tarde o Direito das Nações modernas. Os
Glosadores ajudaram a resgatar também o Código de Justiniano, que passou a denominar-se Corpus Juris
Civilis, contribuindo ainda para o início da ciência jurídica moderna, com suas glosas e seus comentários.

2.2 Glosadores e pós-glosadores

CURIOsitas
curiosidade
A retomada do estudo do Direito Romano na Europa foi obra dos monges do
mosteiro de Bolonha, na Itália, no século X. Devido à grande quantidade
e variedade das leis vigentes no território europeu, esses monges passaram a
estudar o Digesto do Código de Justiniano, fazendo a sua adaptação às novas
condições sociais e políticas da Europa medieval, através de análises do texto latino
escrito nas entrelinhas ou nas margens das páginas. Esses breves comentários eram
chamados de “glosas”, surgindo daí o título de Glosadores a eles atribuído.

Este trabalho foi iniciado com o monge Irnério que, após encontrar parte dos manuscritos do
Digesto, em uma biblioteca de Pisa, criou em Bolonha, no século XII, uma Escola com a finalidade de
atualizar os ensinamentos de Justiniano e aplicá-los na prática. Isso correspondeu à primeira Escola de
Direito criada na Europa, após aquelas existentes na Roma antiga. Irnério procurava atualizar o texto do
Código de Justiniano, adaptando-o aos costumes da época e às normas canônicas, criando um grupo de
especialistas em Direito, dentre os quais se destacou outro monge, Acúrsio, que escreveu a obra Magna
Glosa, na qual comenta todo o livro do Digesto. Este livro serviu como referência para os estudantes
de Direito da Europa durante vários séculos, sendo conhecido também fora da Itália, em Paris, Oxford,
Valência, Salamanca, Lisboa e Coimbra.

174
MÓDULO VI

Sucedendo os Glosadores, surgiram no século XIII os Pós-Glosadores ou Comentadores os


quais deram sequência ao trabalho daqueles na Escola de Bolonha e se tornaram o centro de referência
do estudo do Direito na Europa. Este novo grupo começou com Cino de Pistoia, mas o mais famoso
comentador foi o monge italiano Bártolo de Sassoferrato, também professor da Escola de Bolonha.

NOTIO PERMAGNA
importante
Bártolo criticava o método tradicional dos glosadores, que ele considerava muito
formal e analítico, propondo em vez disso que se fizessem estudos mais completos, com
o desenvolvimento de temas em longos comentários, relacionando o Direito Romano
com o Direito Canônico e os demais direitos regionais. Utilizava, para tanto, do método
escolástico adotado nas Universidades medievais para o estudo da filosofia e da teologia, por
influência de Santo Tomás de Aquino. Aos poucos, os estudos de Bártolo passaram a ocupar o
lugar de destaque da antiga Magna Glosa, de Acúrsio, transformando-se na metodologia do
estudo do Direito que se tornou padrão na Europa, até a Revolução Francesa.
Desse modo, em vários países europeus, como na Alemanha, na França, na Espanha
e em Portugal, ocorreu a recepção do Direito Romano, que passou por um processo de
adaptação e vigorou como direito ordinário até o surgimento das codificações modernas. O
Direito Romano passou a ser considerado como uma espécie de “direito comum” a todos os
povos europeus, suprindo ou mesmo substituindo os costumes e normas locais, ganhando
status de norma geral em todo o continente. Em Portugal, por exemplo, as conhecidas
Ordenações Portuguesas são fruto da organização jurídica do Direito Português, a partir
dos costumes lusitanos, dos estudos dos Glosadores e Pós-Glosadores e das normas canônicas.

Apesar de não serem especialistas em Direito, uma vez que o seu objeto próprio de estudo era
a filosofia e a teologia, as escolas de Bolonha (Glosadores e Pós-Glosadores) são consideradas as
percussoras da ciência jurídica moderna, por haverem transformado o Direito em uma matéria de estudo
das Universidades, o que antes não existia. A influência sobretudo de Bártolo na Europa foi de tamanha
importância que se afirmava naquela época: “ninguém é jurista se não for bartolista”. Em Portugal, foi
necessária uma ação enérgica do governo, através de uma lei aprovada pelo Marquês de Pombal, em
1769, então primeiro-ministro nacional, proibindo a utilização dos comentários de Bártolo, que eram
mais conceituados pelos profissionais do Direito do que as próprias Ordenações do reino.

2.3 Ordenações portuguesas e Direito brasileiro

No século XIII, após a expulsão dos mouros da Península Ibérica, Portugal começou a se organizar
como estado autônomo e independente. Esta organização política trouxe a necessidade de uma reformulação
do seu direito, que ainda estava ligado ao antigo sistema feudal, apenas modificado pela influência da Lex
Romana Visigothorum, trazida para lá cerca de um século antes. Nessa época, encontrava-se em pleno apogeu
a Escola de Bolonha, que formava juristas de todas as nacionalidades europeias. O governo português viu
neste fato uma resposta para os seus problemas jurídicos e assim contratou juristas Pós-Glosadores oriundos
de Bolonha como conselheiros para promoverem a atualização jurídica dos bacharéis lusitanos.

175
direito romano
illustratio
dica
Foi assim que se deu a recepção do Direito Romano em Portugal, durante o
reinado de D. Diniz, o responsável pela organização política portuguesa. Aos
poucos, o Direito trazido pelos bolonheses foi substituindo aos velhos costumes
portugueses, tendo sido introduzido como matéria nova no curso de Direito da
Universidade de Lisboa, fundada em 1290, onde o Direito Romano passou a ser estudado
ao lado do Direito Canônico. Ação semelhante também se verificou na Universidade
de Coimbra, onde foi criada uma cátedra específica para o estudo do Direito Romano.

A consolidação dessa nova matriz jurídica trazida pelos estudiosos de Bolonha foi fundamental
para o surgimento das Ordenações Portuguesas, cuja primeira edição foi publicada alguns anos depois,
em 1446, pelo Rei Afonso V, sendo denominadas por isso de Ordenações Afonsinas. Estas continham
todas as leis, regras e normas tradicionais, adaptadas e reorganizadas de acordo com os princípios do
Direito Canônico e segundo os novos ensinamentos dos Pós-Glosadores. A doutrina destes passou a ser
reconhecida oficialmente como fonte subsidiária do Direito Português.

Mantendo as mesmas linhas gerais, as Ordenações Afonsinas foram reformuladas pelo rei D.
Manuel, em 1521, transformando-se nas Ordenações Manuelinas. Alguns anos mais tarde, em 1603,
foi a vez do rei D. Felipe fazer novas atualizações dessas normas, que passaram a ser chamadas de
Ordenações Filipinas. Este foi o Direito Português trazido para as terras brasileiras. Por ocasião do
descobrimento do Brasil, em 1500, ainda estavam em vigor as Ordenações Afonsinas. Porém, quando
começou efetivamente a colonização portuguesa no Brasil, com a criação das Capitanias Hereditárias,
em 1533, já estavam em vigor as Ordenações Manuelinas.

Por fim, ante o fracasso das Capitanias, o governo português criou a primeira organização
propriamente estatal em terras brasileiras, através do sistema de Governos Gerais, tendo sido Tomé
de Sousa o primeiro Governador Geral. Este recebeu delegação do rei de Portugal para implantar no
Brasil a primeira máquina estatal, que passou a funcionar através da criação de Câmaras Municipais, da
nomeação de Juízes de Direito, da instalação de Coletorias Fiscais para arrecadação de impostos, dos
ouvidores e fiscais da Coroa. Tudo isso foi realizado sob o comando das Ordenações Manuelinas, que
passaram a vigorar no Brasil e em Portugal. Portanto, o primeiro estatuto jurídico que prevaleceu em
terras brasileiras foram estas ordenações.

COMMENTARIus
comentário
Concluímos, assim, que o ordenamento jurídico brasileiro tem as mesmas origens
e características do Direito Romano contidas no Direito Português, podendo-se
afirmar que a própria Lex Romana Visigothorum vigorou no Brasil, de forma
indireta, através das Ordenações Portuguesas. O nosso Direito tem, pois, uma linha
de influência direta do Direito Romano, com a interpretação dada pelos

176
MÓDULO VI

Glosadores e Pós-Glosadores de Bolonha. Toda a estrutura do Direito Civil brasileiro provém


dos princípios, das classificações, dos métodos e ritos processuais herdados do Direito Romano.
Basta nos lembrarmos de que as Ordenações Filipinas tiveram vigor em terras brasileiras até a
aprovação do nosso Código Civil de 1916, quando já tinham sido revogadas em Portugal.

Em relação ao Código Civil de 1916, projeto elaborado por Clóvis Beviláqua, que era grande
admirador do Direito Romano, dos seus 1.807 artigos, cerca de 1400 são provenientes, de forma direta ou
indireta, das disposições jurídicas contidas no Digesto de Justiniano. É importante lembrar que o Brasil teve
a sua primeira Constituição aprovada ainda no tempo do Império, por D. Pedro I, em 1824. No entanto, o
nosso Direito Civil continuou seguindo as regras das Ordenações Filipinas, completadas subsidiariamente
com as regras do Direito Canônico, sobretudo na parte referente ao direito matrimonial e patrimonial.

NOTIO PERMAGNA
importante
É óbvio que, após a independência, o Direito brasileiro foi cada vez mais adquirindo
características próprias, fruto das necessidades sociais específicas do nosso povo e com
a influência da formação recebida por juristas brasileiros em outras Universidades
europeias, sobretudo na França, que se tornou o centro de referência cultural do
mundo, a partir do século XIX. No entanto, isso não eliminou as raízes romanas do Direito
brasileiro, que persistem até hoje. O novo Código Civil de 2002, que alterou em parte o anterior
de 1916, introduziu diversos comandos atualizados no perfil do nosso Direito, sem no entanto
descaracterizar a matriz romanista, que é a sua marca mais profunda.

2.4 O Direito Romano e o Corpus Juris Civilis


Quando se fala hoje em Direito Romano, a primeira referência bibliográfica histórica acerca do
tema é o Corpus Juris Civilis. Merece, portanto, uma breve explicação esse compêndio clássico.

Conforme exposto acima, os Glosadores e Pós-Glosadores foram os responsáveis pela retomada do


Direito Romano clássico na Europa, a partir do século X, com os estudos sobre o Digesto de Justiniano.
Depois foi estabelecida a Escola de Bolonha e, em decorrência, várias gerações de juristas europeus
foram formadas tendo como base de seus estudos o Direito Romano.

attende
atenção
Todavia, conforme também já exposto antes, o Digesto era apenas
uma das partes do Código de Justiniano, ao lado do próprio
Código, das Institutas e das Novellas. Os Glosadores italianos
não utilizavam como base de seus estudos o Código de Justiniano
completo, talvez até porque não dispusessem de todo o seu conteúdo.
As glosas se referem, portanto, ao conteúdo do Digesto.

177
direito romano

No século XVI, os romanistas franceses começaram um trabalho de busca em diversas bibliotecas


antigas, tanto na Europa como no Oriente próximo quanto na região de Constantinopla e no norte da
África, na tentativa de reaver os demais textos e assim recompor o compêndio completo do Direito
Justinianeu. Tal objetivo foi alcançado no final do século XVI, quando Dionísio Godofredo publicou, em
1583, quatro volumes contendo o Códex, o Digesto ou Pandectas, as Institutas e as Novellas, reunindo-
os sob o título de Corpus Juris Civilis. Este passou a ser, a partir de então, o nome de referência para
identificação do antigo Código de Justiniano.

O nome Corpus Juris Civilis foi escolhido por analogia com o direito canônico da Igreja Católica,
que não era, na época, um único código, mas um conjunto legislativo de várias épocas históricas, reunidas
sob o título de Corpus Juris Canonici. Como se tratava de um compêndio legislativo que era adotado pelos
Glosadores e Pós-Glosadores como fonte subsidiária do Direito por eles ensinado, Dionísio Godofredo
optou por utilizar um título assemelhado, substituindo a palavra final Canonici por Civilis.

2.5 Conclusão: a presença do Direito Romano no Direito brasileiro


Com essas informações complementares, concluímos o nosso curso de Direito Romano. O propósito
deste estudo, conforme destacado desde o início, foi mostrar a atualidade do Direito Romano e a sua
importância na formação jurídica dos profissionais do Direito da atualidade. Ao mesmo tempo, procurou-
se apresentar uma visão histórica da evolução da ciência do Direito, tomando como fio condutor a presença
e a utilização dos princípios, conceitos, teorias e procedimentos criados pelos romanos, nas diferentes
épocas e nas múltiplas sociedades que se instalaram na Europa, após o fim do Império Romano.

O que se pode agora destacar, à guisa de conclusão, é a forte influência dos Glosadores e Pós-
Glosadores na formação do nosso Direito, tanto europeu quanto brasileiro. Quando nós afirmamos que o
Direito brasileiro provém das fontes do Direito Romano, agora podemos entender que isso não se refere à
fontes clássicas do Direito tal qual era praticado em Roma, mas se refere à interpretação que foi dada ao
Direito Romano pelos professores de Bolonha, responsáveis pela formação dos juristas europeus e pela
criação da base jurídica comum, que serviu de inspiração para os Direitos nacionais dos países da Europa.

COMMENTARIus
comentário
Qual a principal diferença, então, entre o Direito Romano original de Roma
e aquele trabalhado e ensinado pelos Glosadores e Pós-Glosadores medievais?
Esta diferença está na metodologia do seu estudo e na técnica de sua aplicação.
Enquanto o Direito em Roma era totalmente casuístico, ou seja, desenvolvia-se caso
a caso, dando aos pretores romanos total liberdade e autoridade para encontrar a
melhor solução jurídica para cada caso, os professores de Bolonha criaram uma

178
MÓDULO VI

tipologia do direito baseada em princípios gerais retirados dos ensinamentos dos romanos. A ideia de
transformar os ensinamentos jurídicos do Digesto em princípios foi importante para a criação da
ciência jurídica moderna, mas, por outro lado, introduziu uma nova vertente de produção jurídica,
que é o estudo jurídico “em tese”, ou seja, separado do caso concreto, desconhecido pelos antigos romanos.

Enquanto os pretores romanos sempre analisavam e decidiam diante de casos concretos, não se
preocupando em desenvolver conceitos ou teorias jurídicas, os Glosadores e Pós-Glosadores deixaram de
lado os casos concretos e passaram a realizar comentários sobre princípios gerais, aplicáveis a diversos
casos. Desse modo, os professores de Bolonha introduziram no Direito as teorias da lógica pura medieval
e esse foi o principal componente inovador trazido pelo Direito Romano medieval, o qual contribuiu para
o excesso de formalismo que marca o Direito moderno, abrindo caminho para o positivismo jurídico.

Conforme visto no decorrer do estudo, o Direito Romano arcaico e quiritário era essencialmente
formalista, mas, aos poucos e por influência do ‘jus honorarium’, que era o poder jurisdicional dos pretores,
e com a criação dos ‘jus gentium’, que era o Direito Romano flexibilizado para ser aplicados aos estrangeiros,
houve uma superação daquele formalismo inicial, chegando-se a formulações e práticas jurídicas dinâmicas,
constantemente atualizadas pela experiência e pela competência dos magistrados romanos, na solução das
novas lides que apareciam com frequência, fruto do rápido crescimento da metrópole romana.

Embora sem deixar de reconhecer a importância contributiva do trabalho dos Glosadores e


Pós-Glosadores medievais para a criação do Direito moderno, devemos, porém, compreender que a
sua produção jurídica resultou no retorno do excessivo formalismo ao Direito, fato que já havia sido
superado desde os tempos do Direito Romano pós-clássico. Isso, porém, não foi uma atitude proposital
dos monges de Bolonha, mas resultado da própria circunstância em que se encontravam. Com efeito,
naqueles tempos medievais, onde predominavam a filosofia e a teologia escolásticas, ambas marcadas
por excessiva argumentação baseada na lógica formal e pela utilização de conceitos gerais abstratos, essa
metodologia de estudo filosófico e teológico teve um peso considerável nos estudos e nos ensinamentos
dos monges, que eram filósofos e teólogos de formação, e apenas ocasionalmente estudiosos do Direito.

Podemos verificar esta diferença sobre o modo autenticamente romano de compreender o Direito e
o modo reinterpretado pelos professores bolonheses quando confrontamos o nosso sistema jurídico com o
sistema da ‘common law’, dominante na Inglaterra e, a partir dela, nos países sob sua influência cultural. A
Inglaterra, talvez pelo fato de ser uma ilha, veio a receber pouca influência cultural jurídica dos Glosadores
e Pós-Glosadores de Bolonha, não se alinhando ao ‘jus commune’ europeu, mas mantendo a utilização do
sistema jurídico tradicional, com base no direito jurisprudencial e na equidade. Se considerarmos a atuação
dos pretores romanos, conforme foi apresentado no decorrer deste curso, verifica-se que o Direito inglês
está mais próximo das matrizes romanas históricas do que os sistemas jurídicos da ‘civil law’, os quais são
baseados no direito legislativo, como é o caso do Brasil e da maioria dos países ocidentais.

179
direito romano

Nessa linha de raciocínio, podemos concluir que o Direito Romano é também fonte do direito
jurisprudencial inglês da ‘common law’, seja pelo fato de ter havido uma insignificante influência dos
ensinamentos dos professores bolonheses no território inglês, permanecendo os modelos jurídicos
romanos clássicos, seja porque os reflexos da Revolução Francesa foram também de pouca monta na
sociedade inglesa. Essas informações vêm complementar o nosso estudo sobre a importância do Direito
Romano, demonstrando a sua presença mesmo em um sistema jurídico que, aparentemente, lhe é oposto.

Por fim, esperamos que o estudo, que ora encerramos, tenha


contribuído de forma significativa para a formação profissional
dos nossos alunos e alunas, além de haver despertado em todos o
interesse pela continuidade do estudo do Direito Romano.
via
conversando

Referências
bibliografia e outras fontes

ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 13ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003.

CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de Direito Romano. 29ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.

LUIZ, Antônio Filardi. Curso de Direito Romano. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1999.

MARKY, Thomas. Curso Elementar de Direito Romano. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

PESSOA, Eduardo. História do Direito Romano. São Paulo: Habeas Editora, 2001.

RICCOBONO, Salvatore. Roma: Madre de las Leyes. Buenos Aires: Depalma Ediciones, 1975.

TABOSA, Agerson. Direito Romano. 2ª ed. Fortaleza: Editora FA7, 2003.

180
Questões
para revisão e aprofundamento

1. Na perspectiva histórica evolutiva, o que significa o Processo Civil Romano?

2. O que significa a característica casuística do sistema jurídico romano?

3. Explique o conceito da ‘actio’ romana.

4. O que significam as ‘actiones in personam’ e as ‘actiones in rem’?

5. Quem podia ser parte (autor ou réu) no Processo Civil Romano? Por que?

6. Explique como ocorria o sistema da representação processual em Roma.

7. Qual a compreensão do conceito de “magistrado” em Roma? Como se distinguia do juiz?

8. O que significam os conceitos de ‘jurisdictio’ e de ‘coercitio’?

9. Quais as palavras formulares obrigatórias para o exercício da jurisdição?

10. Além dos magistrados, quais eram os outros órgãos julgadores existentes em Roma?

11. O sistema processual romano mais antigo é a ‘ordo judiciorum privatorum’. Qual a relação
deste com o ‘jus quiritarium’?

12. O que eram as palavras rituais ou “verba certa” no sistema processual mais antigo?

13. Explique as fases processuais do sistema das “legis actiones”.

14. O que é o ‘sacramentum’ e qual a sua função no processo civil romano antigo?

15. O que representava a ‘conditio’ na ação ‘per conditionem’?

16. Qual o significado e o resultado prático da ‘manus injectionem’?

17. O que significa a ‘pignoris captionem’?

18. Por que o sistema das ‘legis actiones’ foi substituído pelo processo formular?

19. O processo formular seguia o ‘jus gentium’. Qual a principal consequência prática disso?

20. Qual a principal mudança processual introduzida pelo uso da fórmula?

181
direito romano
21. De que modo o processo formular influenciou na conduta do juiz?

22. Qual a mudança trazida pelo processo formular acerca da citação do réu?

23. O que estava contido na ‘litis contestatio’?

24. Havia obrigatoriedade para o juiz de julgar e de seguir a fórmula?

25. De que modo funcionava o sistema de recursos na era republicana?

26. Por que o conceito da “coisa julgada” era relativa, no processo civil romano?

27. De que modo o ‘jus honorarium’ alterou o sistema de execução de sentenças judiciais?

28. Em termos conceituais, o que significou a criação do sistema da ‘cognitio extra ordinem’?

29. Quais as principais modificações trazidas com o novo sistema processual extraordinário?

30. O processo extraordinário acarretou a publicização do Direito processual romano.


Explique.

31. Explique a evolução da magistratura romana, após o processo extraordinário.

32. De que modo também foi alterado o sistema da representação processual?

33. A revelia do réu acarretava a sua condenação nos termos pedidos pelo autor? Justifique.

34. De que modo a execução da sentença também mudou no processo extraordinário?

35. Qual a repercussão do processo extraordinário romano no processo civil contemporâneo?

36. Por que a derrota militar dos romanos não ocasionou o abandono do seu sistema jurídico
e social?

37. Como surgiram e quais eram as leis romanas bárbaras?

38. De que modo as leis canônicas foram aproveitadas no direito medieval?

39. Qual a importâncias das leis bárbaras e canônicas para os países europeus?

40. O que é o ‘jus commune’ europeu?

41. Quem eram os Glosadores e por que tinham esse nome?

42. Qual a importância dos trabalhos de Irnério e de Acúrsio?

182
QUESTõES

43. Qual a inovação jurídica trazida pelos Pós-Glosadores?

44. Qual a grande contribuição de Bártolo de Sassoferrato?

45. Que relação existe entre os monges de Bolonha e as Ordenações Portuguesas?

46. Por que se diz que os Glosadores e Pós-Glosadores são os criadores da ciência jurídica
moderna?

47. Qual a importância do trabalho de D. Diniz para a recepção do Direito Romano em


Portugal?

48. Em que circunstâncias o Direito português, contido nas Ordenações, foi introduzido em
terras brasileiras?

49. Como se pode observar a influência indireta das leis romanas bárbaras e do ensinamento
dos Glosadores e Pós-Glosadores no Direito Brasileiro?

50. Em que aspecto o projeto do Código Civil Brasileiro de 1916, da autoria de Clóvis
Beviláqua, foi influenciado pelo Direito Romano?

51. Por que razão podemos afirmar que a reforma do Código Civil Brasileiro, em 2002, não
alterou substancialmente a matriz romanista do nosso Direito Civil?

52. Qual a principal diferença entre o Direito Romano original de Roma e a interpretação
dada pelos juristas medievais e que influiu nos Direitos dos países modernos?

183
Créditos
quem faz

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Núcleo de Educação a Distância
Coordenação do Núcleo de Educação a Distância
Andrea Chagas Alves de Almeida
Produção de Conteúdo Didático
Antonio Carlos Machado
Projeto Instrucional
Bruna Batista dos Santos
Jackson de Moura Oliveira
Assessoria Pedagógica - Desenvolvimento NEaD
Ariane Nogueira Cruz
Produção de Áudio e Vídeo
José Moreira de Sousa
Lilian Dantas Oliveira
Pedro Henrique de Moura Mendes
Identidade Visual/ Arte
Francisco Cristiano Lopes de Sousa
João José Barros Marreiro
Régis da Silva Pereira
Sérgio Oliveira Eugênio de Souza
Viviane Cláudia Paiva
Diagramação
Régis da Silva Pereira
Sávio Félix Mota
Programação
Rafael Rodrigues de Moraes
Revisão
Janaína de Mesquita Bezerra
Luís Carlos de Oliveira Sousa

O trabalho Direito Romano- Módulo 6 Processo Civil Romano, Direito Romano Medieval e Influências do Direito
Romano no Brasil de Antonio Carlos Machado, Núcleo de Educação a Distância da UNIFOR está licenciado com
uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

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Anotações

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