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29.dez.2019 às 2h00
mundo.shtml) do
blockchain, que funciona para armazenar informações e
assegurar modelos pouco convencionais
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/03/crime-organizado-recruta-talentos-da-informatica-e-se-adapta-a-era-
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Neste ponto, faz uma comparação com o dinheiro de pedra da ilha Rossel,
que desde então se tornou conhecido de um punhado de gente no Ocidente.
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O tal dinheiro de pedra, na realidade, não é da ilha Rossel, mas de uma outra
ilha do Pacífico Sul chamada Yap, que fica a cerca de 3.000 km de distância
da primeira.
Yap, por sua vez, fica a 450 km de Palau, arquipélago cuja formação rochosa
permite a extração de aragonita e calcita, duas formas cristalinas do
carbonato de cálcio. Por volta do ano 500 d.C., exploradores nativos de Yap
descobriram esses minérios e, maravilhados com sua consistência, passaram
a lapidar peças no formato de rosquinhas e as transportaram para casa, para
utilizá-las em rituais religiosos.
Não tardou para que essas peças passassem a desempenhar papel análogo ao
de nossas pedras preciosas, sendo batizadas de rai. Tal como o da esmeralda
e o do diamante, o valor do rai varia de acordo com suas características
minerais, integridade e até mesmo história.
É assim que até hoje as rosquinhas servem para transações de valor elevado e
socialmente relevantes, em contraste com o dólar americano, que chegou à
região durante a Segunda Guerra Mundial e é usado nas transações do dia a
dia.
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Por exemplo, um nativo cujo filho tenha causado dano a um vizinho pode
indenizá-lo pela transmissão dos direitos proprietários sobre uma rosquinha,
que adquiriu de uma terceira pessoa e pode estar na propriedade de uma
quarta. A rosquinha é tratada como elemento de uma narrativa biográfica
amplamente conhecida, que vai incorporando novos capítulos a cada
transação.
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humana.shtml).
selvagem.shtml).
Esse processo cria demanda por uma autoridade externa que, com sorte, é
preenchida por especialistas dispostos a descobrir e registrar os dispositivos
fundamentais do código, os quais ficam reduzidos a objetos de estudo. O que
era para ser distribuído e originário às vezes é preservado num formato
centralizado e acadêmico.
Esse processo não chega a ser afetado pela universalização dos smartphones.
Poderíamos imaginar que transações com o rai passassem a ser registradas
nos aparelhos dos nativos de Yap, muitos dos quais preferem hoje morar na
Austrália e na Nova Zelândia.
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Evitar que a rosquinha de pedra possa ser vendida duas vezes é como evitar
que uma pessoa ou grupo possa descaracterizar uma língua ancestral pela
tentativa maliciosa de introduzir palavras em seu repertório fragilizado. A
diferença é que, no primeiro caso, o prejuízo transcende os aspectos
culturais, sendo diretamente pessoal e financeiro.
eua.shtml)Nakamoto (https://www1.folha.uol.com.br/tec/2019/05/craig-wright-que-diz-ser-o-criador-do-bitcoin-
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A ideia é que ele seja capaz de resolver problemas ancestrais como o do rai,
em que é necessário garantir acesso simultâneo a tudo o que acontece e, a
partir daí, gerar consensos tácitos sobre a autenticidade desses eventos ou
operações, mas sem que seja preciso engajar ativamente toda a comunidade
para chancelar tais entendimentos. Em outras palavras, ele busca o consenso
sem que todos tenham que consentir.
O ano era 1990. No ano anterior, Tim Berners-Lee havia inventado a World
Wide Web (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/03/1425370-os-25-anos-da-world-wide-web.shtml) , e a
dupla intuía, corretamente, que os desafios relativos à preservação da
propriedade intelectual e afins se generalizariam.
Essa última etapa é de especial importância, uma vez que força quem quiser
alterar maliciosamente um documento a também alterar o anterior (para
que as divergências entre os dois registros do seu hash não transpareçam) e
assim por diante, até o primeiro documento incluído no serviço. Em 1994,
resolveram colocar a ideia em prática comercialmente, por meio de um
serviço privado que, além de armazenar os arquivos, gerava e mantinha os
hashes, para assegurar que permanecessem invioláveis.
avia, porém, uma questão em aberto. Como garantir que mesmo os gestores
do serviço, isto é, eles próprios, que tinham acesso aos discos rígidos, não
seriam capazes de adulterar a cadeia de hashes e, com isso, os documentos?
A solução a que chegaram foi a publicação semanal de um hash de todos os
hashes da semana na seção de achados e perdidos do jornal The New York
Times.
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Parece justo, portanto, dizer que Haber e Stornetta tiveram o “insight”
original que deu origem ao blockchain. A grande contribuição de Satoshi foi
o tratamento que ele deu aos problemas da privacidade e da centralização.
Esse não era um objetivo apenas de Satoshi, mas algo perseguido desde o
final da década de 1970 por criptógrafos que ficaram conhecidos como
cypherpunks.
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O libra, moeda digital que o Facebook sonha lançar, por exemplo, está
brigando para ocupar esse ambiente, com delegados como Visa e Uber, que
pagaram US$ 10 milhões cada um pelo direito de validar transações e, depois,
ser remunerado por isso.
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futurista-de-carros-eletricos-trem-bala-e-apps-de-saude.shtml) de
moedas digitais de Banco Central
(CBDC), uma das tendências prestes a entrar na pauta das discussões diárias
dos economistas ao redor do mundo.
Essas moedas digitais, que podem ou não ter registro em blockchain, adotam
o princípio da desintermediação em relação aos bancos de varejo. A
possibilidade que se abre com as CBDCs é tanto a de tornar a economia mais
eficiente quanto a de controlar mais de perto o comportamento de agentes
privados, servindo eventualmente até para perseguir dissidentes.
Pense, por exemplo, numa rede social cujo código não rode num servidor
proprietário, mas se encontre espalhado por milhares de computadores.
Como ninguém tem controle absoluto, tais softwares precisam trazer uma
série de instruções para que façam o que se espera deles e, ainda mais, para
que possam adquirir flexibilidade. Essa lacuna foi preenchida pelos
chamados de contratos inteligentes, outra sacada de Nick Szabo (1994),
repaginada diversas vezes.
Em sua aparente simplicidade, tais contratos nada mais são do que trechos
de código que se autoexecutam, à medida que certas condições são
satisfeitas. Na prática, abrem a possibilidade de converter um sem-número
de acordos textuais, dependentes da ação humana para que adquiram efeitos
práticos em processos computacionais, capazes de impactar a realidade sem
a interferência de ninguém ou, como é mais comum, pela interferência
pontual de alguém que forneça algumas informações externas.
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Pense, por exemplo, num contrato inteligente que paga um vendedor assim
que o recebimento do produto é acusado pelos correios, ou em portos onde
cargas conferidas por sensores levam à ativação de contratos, que
transferem as autorizações necessárias para desembaraçar as mercadorias.
Há diversos desenvolvimentos dessa natureza em curso, num movimento
que já é chamado de Quarta Revolução Industrial.
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Ilustrações de Terry Winters, artista plástico nascido em Nova York, membro da Academia
Americana de Artes e Letras. Suas obras estão em exposição no Auroras, em São Paulo, até
31 de janeiro.
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