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por
Teroeireo. e d i ç ã o
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Duas palauras
AUTO R
r·ríropolis. 7. Xl i I . 1911 .
-o••·-- -
PRlMEIRJ\ PJ\RTE
lo theatro real de Wiesbaden
- -«0 »- -
TI
Em Oberammergau
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angerhanns -- J o ão Comprido -
era chamado o comma11dantc úo
g rande paquete alkmão Cap Ar-
ama, t: ·isso, apes ar de ser elle
justamente a antithcse: baixinho
<~ gordo. Como quer qu e seja,
porém , a importante com pa11 hia
hamburgueza de vapores sabi a
por que o es colh er a para commandar o então
maio r e melhor d e seus paquetes üa li.nha sul-
am~ricana. Sobre ter uma compctcncia nautica
de verdade<iro «lobo d o man>, de cxperienc:a mH
vezes robustecida, de prudencia e calma compro-
vadas em numerosas si tu ações difficeis, o capi-
tão Langerhanns se djstingu.:a por uma deli-
c1tdeza de maneiras e. de trato extraordinaria.
Durante todo o tempo que durava, por exemplo,
a travc~s ia da Mancha, ou etn qu alquer outro
po nto de imminente perigo possivel, o capitão
nerr. um -instante abandonava a po nte de com-
mando : mal, porém, o máu po nto passava, e
entregava elle a direcção ao i.mmed iato - eil·o
pressuroso a descer ao convés e aos ·s alões,
c:umprímentand o amavelmente ao~ viajan tes , co m
uma palavra d e ve rd ad ei ro e solicit o amigo p ara
cad;J um delles, ora g racejando, ora an:mand o-os,
sempr<' co;n rnmli c;J tiv o e lou ção. Estimavam-n'o
todos ta:nto como o admiravam. Sentiam-se b t: nl,
perfeita me nte a \·ontade, no conforiavel monstro
de aço; e, confia nt es no co mma ndo e na expe-
rie nci t desse capitão habit, niu g uem deixava pe-
netrar no espirito apprchcnsões e temo res.
M uito trabalh o tivera o dr. An ton:o para
conseguir lo g::r no p aquete , no qual havjam
tom ad o passagem o commend ador e a fi lha. As
saudades que no cora çã o s;: l h~ d espe rtaram, ao
rec~b er uma carta em qu e lhe ia a no t ic!a de
achar-se e nferm a s ua mãt· e xtremosa e querid a,
deram-lhe an imo e fo r ça pa ra vencer todas as
difficuld ades; fo rça ram-n'o mesmo a i nterrompe r
seus estudos e a via~c m de le itosa, que a co·n-
selho e a pedido da pro pria mãe e 111p reh e nde r a;
e, depois de fati g antes es fo rços po r o hter tatn-
bem urna passag-cnt a b ordo, elllba1·dra em Bou-
logne sim.
O Co rnme ndador, que conH.:çava devéras a
sentir affcição p o r aqucltc ra paz d:stincto de
educação e trat o, arrancã ra-1 h e a promessa de
passar a lg un s d ias e m sua residenC:a de Bo-
tafogo, para con hece r sua f a111i lia; e o j oven
doutor, o brigado a a ~ uardar no 'Ri o o despac h o
de suas bagagens, antes de proseguir é1 viagem,
não podia , sem se llh>s tr ar descortcz, recus ar o
offerecim cnto Renti l, qu e d e fó rm a tão capti-
vantc I he er a fe ito.
No Cap Arcona, o ndl' se co mpttlllw de al-
le màes . e a rge nti nos a mai o ria dos passagei ros,
l"l dr. Antonio da Costa Barros parecia perte n ce r
á f amíli a do connn c nd ador, com o q uai penna-
ncci a a mór parte do te mpo, ora nos lentos e
prolo ng ados pa sseios d iscretean tes pe lo tom ba-
dilho, o ra faz<: ndo UJila p artida no co nfortavel
salão de fum an tes , o ra entre t e ndo palestra ani-
•ada n o luxu oso salão.
A' noite era-lhes costume assts t1r, no mes-
mo ~alão de palestras, aos co ncertos da orchestra
de bordo , em cujo repcrtorio se encontravam,
ao lado de s!z udas peças classicas, as part:t uras
ligeiras das ulti mas o peretas de F ranz Le h :í r c
Lco Fali.
Nos dois ultimus co ncertos, p orém, Ja a
a!tep~·[l( , d o~ passagei ros cst;n ra mui to longe d e
se.· ;, mes lll a que nos primeiros d ias : o appare-
Jh o do tele grapho sem tio havia tra nsndtitlo gra·
ves not icias de impo rtantes per turbações da or-
dem em Lisbóa, onde ex p lodi ra uma rc,·o lta, á
qua l h avia ad her id o a tnar!nha.
Os passageiros, cuja curios-idade estava su·
pt>rex ci hda, agg lo mera\ am-se di an te da tah oa on-
de os des pachos e ra m affi xados, :i proporção que
chegavam. 1\ espcct:üiva ans iosa crescia a cada
r. ovo marconi g ramma. As noticias já davam a
revolução co mo victo ri{1sa, c muitos passageiros
re ceia\·;m1 qu e o vapor t in~ sse de ser forçado
:; d~nwrar- sc em Lisboa, c I.Jll~ estivesse em
g r ande parte pe rdida sua corrcspo nd cncia.
O desp~rtar da .nadru.gada de 5 de Outubro
de 19i O encontrou em g r ande ah·oroço os pas-
sageiros do Cap Arcona, d.iante de Lisbôa. En-
ch i<Jm cllcs o cnnvt~s, rrecipita11do-sc par a a
<tfln!rada, c com binocu los inYest :·gavam ao lon-
g<' a cid ade, o castell o re al, as fortalezas, exami-
nando os g randes estragos produzidos pelos pro-
jcctis d;1 ar ti lhar:.a nos ultirnos com bates c bom-
b;,rdcios.
O COlll!tJentJ.alor não pen: tittiu q ue Jud!th,
dese j osa de vêr de p 2rto a cidade conflagrada,
de!.cess·<: a te rr a, mas r ~so l vcu ir resso aln tentc:, em
compa·n hi a do d outor. que se offcrecia a ir bus.
car noticias. D!minuto foi o numero de passa~
gciros corajosos que se anitnaram a dese mbar-
cai· <' tom ara m o pcqlleni n o vapor da compan hia,
qu~· os tr:wsp ortou ao cães.
Toda a c idade esta\·a a! nJa deba!xu da im-
rr<. ~~ã (l de trrror das rrimeiras horas de comba-
tes, e , pela manhan, não se abriram os bancos,
as lojas e mesmo muitas outras casas. Pouquís-
simo movi 11:cn to nas ruas, apenas quas.i exclu-
siv<.mcnte percorridas por pequenos grupos de
so ldados e paisanos armados, que conduziam
presc- alg um mo n:n-c hista. ou qualquer outro in-
d: \i idu o, ho mem nu senhora, que fosse su~;pejto
aos rev olucionari a s de intensos ao 110\'0 regimen
repu blicano, ou, por qualqu ~T outro moti\'o, lhes
nhi~f. C em desagrado.
Da g-ranàt> praça D. Pedro em d iante, o s
es1r::;gos rnakPiaes pro duzid os pelas bombas c
bal:1s dos co mhutt·s da 11 ()i(e c da madrugada
ar)J'escntavaill-Se mai s numerosos e importailtes.
Largos rombos, aqui c ali, em muralha,;; e pare-
des, dt•munstnvam a violcncia da jornada san-
r;·renta, de que r ~sultára a quéda do secular throno
bra gantino. O grand~ monumento que se erg-ue
á ent rada da amiJla a\"CTI•i da da L·iberdade fôra
attingid o e damn!ficado por um projectil de ca-
n hã o. Al g un s postes da illuminaçã o elettrica viam-
se fendid os pelas balas; os fios que trausmittem
a energia ao s trrunways esta vam cortados. De
quando em vez se csharrava em uma barricada,
á guisa de tr inche ira, ou s<~ ouvia a voz rí spida
e im peri-osa de urna se ntinclla, impedtndo a pas-
sage m por est a ou aquella direcção.
Pelas ru as quasi se não viam senhoras. Os
cocLciros de praça, pouco numerosos, conduzindo
em tipoias r aros fregueze s, hav:arn prendido ao s
seus carr os u ma es pecie de banclcirlnhas das c ô-
res grita-ntes da n ove l republica, verde e encar-
nad c. Os autom ovcis quas i todos haviam sido
postos á dis posiçã o elo go ve rno provisorio.
U m ~, impres são es tr anha apoderava-se do
espectad or im p assíve l do despertar el a cidade,
áquel b h ur a mati-nal, q ue s ucced ia á f orl1I ida vel
tra r: dorma çào po lítica e n acio na l po rtu g ueza:
abso l utam ente s;;· no t ava o m enor s.i•gnal
n ão
de en t h u ~i as11 w
cs pont ane o Lia m assa. Llo verda-
dd ro po Yo, pe lo ad\'c nto d as novas instituições
dtmocraticas. Os elementos que ergu ialll, de quau-
do em vez, os «VÍ\'ilS» <Í rcpuulica, ~m saudação
aos bandos de soldados ou grupos armados, eram
suspeitissimos, ger alm ente for mados por ind iv!-
duoc; de caras patibulares c ameaçadoras.
O commendador, obs<:rvando a frcqucn cia
com que se Sltcccdiam os gru pos dos paizanos
ma llrapilh os, typos rnal encarados, que não po-
diam insp irar a mínima co nfiauça. atcrrororiza-
doramentc ar111 ados, com a carabina ás costas
ou (' rewolver carregad-o na miio, ostcnsi-..· ame ntc
ás c~cancara s, nu;iJa cxhibiçã() imn1oral de f o r-
ça c violenda, não pôde de ixar d.? d izer ao
ccmpad1ciro:
Ai! da nove l republica, quando se vir
forç ad;• a chamar ;i ordem esses perigosos ele-
mentos de que se \'ale ag-ora.. . Esses ho me ns
ferozes não se deixar ão facilmente desarmar, e
não será t<.~rcfa sem pc:rigo o f orçai-os a con-
ter-se nos limites da ordem, nem a soffrear-J hcs
os appetites sangu inarios, despertados e postos
em furor esta noite!
Palavras propheticas eram e::.sas, que os
sangrentos successos posteri()res, as viole ntas de-
predações, as pcrsCJ.,ruições politicas e reli giosas,
os ultrajes ;í rnnral ~.: ;Í lih~rdack, as inféltnc:s
<.~ffro ntas á civilizaçã o, as ca lumnias clamo rosas
contra a honra, a propriedade e a vida até de
senhoras indefesas e .• por isso m:::smo, d: g-nas d o
maximc_: respeito, c antes da protccção que do
aggravo, toda essa longa e t-e•·oltantc s~rie dz:
crimes c de miser:as que se succedcrmu á al-
vor a da tragi ca de 5 de O utubro, veiu con Fir-
mar, para ete rno opprobrio e lut() da nohrc i:
dt:sgnçada nação lusitana.
O doutor sentia s ubir-lhe o asco, ao vêr
quantas victimas da sanha selva.g ern dos vence-
dores do dia eram brutalmente arrastad as p ara
os calaboiços, perseguidas por um odio sec tario
infamiss.i rn o, a pretexto de prolllovcr a s.!guran ça
da rcpublica! ...
Buscando fugir ás dolorosas impressões que
os ass altavam, reso lveram os dois atn iJZos tomar
um automo\'cl, depois do allrloço qu~ ligeira
e rap idamenk to maram em um hotel, e partir
em vis·i ta ao celebri' convento dos Jerony mos,
a grande maravi lha de arc hiltctura, verdadc!ra
obra dt• renda em pedra. Fo i-lhes im pos~·i n:: l , po-
rém, encontrar um s<Í auto dispnni\'e); d:' carro
não lhes sobrava tem po; arriscavam-s-: a perder
o vapor que , dentro em pouco, ia partir, e scnia
imprudencia permanecer por d..:masia do teut po no
meio daquelle :unbientc ameaçador, onde as fé-
ras humanas, momentan(·amente n:pousando, a
todo instante poderiam de no\·o despertar e m
seu fur01 satani·co.
Na praça D. Pedro acautpa\·a um batalhão
de arti lharia e ut etralhador as, que t:l!ltos estn-
g-os ha\'iarn causado pouw antes. Assistia-se a
um incessante ,·ae-vcm J~ soldactus e pa.izanos
armados ; uma H'l. ou outra llfll militar a ca-
vallo, ga lopando, diri?'ia-sc ao qu artel ge ne ral ,
a levar ou buscar ordens , a trans111 itti r a lgtl ma
cornmunicação importante; de tt mpus a te mpos
atravessava a praça um ufficial de alta pate·n te,
esquecid o do jurament o de fid e lidade que fi zera
ao rei, a dispôr-st- ao serv iço de s<?us novos s·,:-
nhores .. . Triste!
- · V amos, doutor. Já que nflo r odemos ir
aos Jeronym os, \' amos ver -;i desco brim os al gu-
ma outra coisa notavcl na cidade.
Seguiram por algu mas ruas. Em toda parte
o mesmo espectaculo desolador, o mesmo en--
llw siasmo pela mu dança de govern<l. Em frent e
da egreja, o commcndador parou.
Entremos. doutor r t·la\'e r<Í talvt>z ahi
Jen tro aJg1tma CO.isa digna de vt'r-SC'.
C oltt o qui zer. Vamos !
Subir am os poucos degráus e entraram. Su-
hito, estacar am immoveis, corno que paralysados.
O templo, nãu muito grand<: e de aspecto vul-
llar, tinha sido theatro de profanações incri ve~s .
Sobr~ o altar, omk ainda pouco antes se havia
celebr:ldO a santa M!ss a. sentava-se agora um
soldado, <k cig:trrn â bocca, palestrando com dois
typos, Í g"H~lilll e llte :lrm::ldos, tllaS <:S tes ;í raiLana.
Uma ima ~;~I Il do Sagrado Coração de Jesus, ou-
tra da Sant issillla V1r gem, jaziam derrullad.1s no
chão, I? Ulll d o~ r <l·iZ!l·;toS, lllll carbon:tri o, justa-
m<:-nh: ;w en!r:m_ ·m os do is brasileiros, C~Jill um
brutal pontapt:, que. mai!' ri go rosamente, se de-
via dizer um coice, atirou pa ra um canto a ima-
l{<'m da Virgem.
O tabcmarulu, aiH.:rl t>, fô ra c\·identementc
profanatkJ . o ~i bo ri<l d:: ouro, uespu jado das
sag-r;;das l iostias, fôra Illiscrav<~lmenk injuriado
a scn·ir de ... v<1so noch1rno 1 . • •
O co mn:u :dador, presa de irresi sli 1·cl accesso
de cólera. exclam ou:
Cu sou r~·pub l ic:Jtlll e maçon, mas isto
é di;;bolico!
Ca-n alhas! gritou o douto r em voz
f orte.
O soldado, as~ c n tado sobre o altar limita-
va-se a rir cvnicame nte. mas 0~ dois cark)J1arios
avunçararr; aYÍ1eaçadorcs. para os brasileiros. Um
já chef; Íira lll·esmo a ergu-er a arma contra o
cotnrn<'ndador, fJUando. uum abrir e fechar d'olhos,
Anlot;io appl.icou-lhe urn f orm:darcl soccu que
u prostrou, c, ;;rrancando-lltc a carabin a carregada,
hradou :
S~ se mexerem, s ão homens mortos! Ca-
nalh as ! __ . Féras! .. .
Prçso~ de terror, os tres rq lllhlica nos, ~
l}rd crn do douto r, retirara m-se le ntam ente para
o ca nto opposl·o, deixand o as armas nndc ellas
já antes dc scansavalll.
-- Cnd1m endador. \-o lk o senh or immedia-
tame-ntc para bordo! 'Eu scguin'i depois.
Aband o-nai- o em pe rigo ? Isso, unr bra-
sileiro não n faz, doutor!
Não estou e m perigo :llg-uru. A4uelles
co bnrde., a2'or-a se i t i armas, não ousa rãtJ tugir
nem mugir. Si,porém, salürmos juntos, atiça-
rão contra nós toda essa matilha canalha de
catbo n:Jrios. Vá, pois, o senhor sózinho e sem
escrupulos .
.. _ Só si prometkr seg'uir-me logo c não
se cxpôr a outro perigo.
···- Promdto, pois não ; mas não demore.
E' o unico meio de nos salvarmos CQtn vida. De
mais, si o lanchão chegasse ao vapor s~rn o se-
nhor, que tcrrivel seria para sua filha!
· -- Bem, VDll, meu amigo ; mas antes re-
ceba este abraço, que é s~ncero.. . E agora
arrematou co mmo vid·o até bn've!
- At~ á dsta, commendador.
Mal o con11m:ndaclor Marcos de Castro dei-
x<ir a o amigo, puxou do rdogio c affligiLI-se:
o lanchão lanraria o cães dentro em dez mi-
nutos. Que pe.~saria Jud.ith, si não o visse en-
tre os pass ageiros d e volta! ...
Impaciente c rccc~i-oso de maior atrazo, cor-
reu quanto lhe permittiam as pernas cansadas,
mas infelizmente não conseguiu chegar tão de-
pressa quanto desejava. Ao virar de uma es-
qu:n:~ viu-se envolvido por um grupo turbulento
de carbonarios, soldados, garôtos c pov iléo, que
e';coltavam un1 padrt~ e algumas freiras entre
cb .:tc:otas c insultos os mais baixos e vilões.
- Escap<·i de uma para cahir em outra.
~ ue republica id éal , qu'(; ass im, infamemente,
maltrata se!lbon1s l que de: llLiliCira tão covarde ;;:
injuriosa trata filhas das mais distindas famí-
li as! Pod\":riam c! las fa ze r algum mal? ... Que
m al ? ...
As chalaças em al~FlZail'fa au g mc n!avam, a
cad a nov a brutalidade que irromp ía da bo cca al-
\·:,:r cic um dos gloriosos ca rbonarios, a cada
urn d os !.!,"l'O ssei ros empurrões que esses animaes
e m fur ia achavam be m dar a s~·nhoras virtuo-
sissimas. filhas do paiz, que h<1Yian1 co!llmettido
ape n as o cri:m· m:fandu d e preferir o modesto
ha bito re li·giü ~ l) ao fig1 tri !ln rtq u intado de Pa-
ris, c :is illundanices frivulas p n:f:~rinun ;1 vida
de sacrific:o pelos 4ue soffrem.
O ultimo si lvo do pequen:rw \·:~por da co m-
p a nhia vibrára, chamando os reta.rclatarios ; estava
a embarcação prestes a lt~rg ar o cáes, qua•ndo
o capítão, vendo um dos passa ~c iros qu~ corria
a toda pre ssa, >llandou que ::spera~sc um pouco
ainda, a n:colher o atrazado.
--«O;;--
IV
Alfredo Mourão
Te nente d o 4. l:lat. d • lnf~ nt e ri-n
Li rbóa
RIYIBS
--((0))--
VII
Em casa do commandador
--«0»--
VIII
Em pleno campo
--<U»--
IX
lo leito da dôr
- -·<{]»--
X
Escaramuças
- -<<0»- -
XI
Moderno?
- - <0>--
XII
Trama ás occultas
Duas lrmans
--((0»--
xrv
lnnocancla
Um marinheiro ás direitas
se t~t.i! -:1
a torar-tHC a froute, 4llaHdo !iu:T tle ""-
parar-me de minha lll àe; q ue ro qu ..: c lla me co n-
forte em dia o ultimo qua11du tamb ~m a
mim me chegar a hora da !llortc ...
O joverí militar falava com \.()/. ardente ,.
enthusiasüca. A altcnção d:: todos vo lt<íra-s·~ p ara
ellc, todos pendentes de seus iab:os eloqucn tcs.
A noiva, o rg-ulh osa, fitava- o com o s olllos bri-
lhantes. O prop río dr. Costa Barro s sentia-se
arrastado pelo vigor c p ::l a cxuberantt dc,:: são
com que o j o1·cn marinh eiro deft>udia suas in-
timas convicções .
E que rem saber uma coisa? O qu;;
aànda ma.is me confirllla na fé cat Christo c
em sua o bra ... o qu ~ fat. co m qite e u jámais
me env~::r gonhe de minha re ligião, é que J esus
conquis to u não apenas as inte ll i~e ncias, o que
já era <;lifficil, mas tam be m os co rações ...
«T o dos sabem o qu·e é e o qll{: val e o amor,
e eu, hoje, noivo fe liz, n ão preciso entoa r seu
cantico s ublime. Mas, fran came nte , corno é e lle
de pouca duração nest e mundo! Quantos ju-
ramentos de uma am it.ade eterna fazen;os na
infancia e na mocidade ! Não serão sinceros? ...
Talvez o sejam. Mas \'em os anno s, vêm com
ellcs as se parações. . . e, pouco a pouco, as do-
ces im ag-e ns dos que amavamos tanto l'ão em-
p a llidecendo ... . es batendo-se . .. até q11c de t odo
se somt'm.. . Novo :llnor nos s urge, ma:s fo rte,
mais vibrante, mais impetuoso, capaz de vencer
o mundo, capaz de e scalar os . as tros . .. é o :mwr
dos dois s~xos.. . E' puro - ao menos d"2vt:'
e pódc sel-o; -- é forte, é completo; a pessôa
que verdadeiramente ama dá-se toda á pessôa
amada. Po·is be m: e sse grand.c amor se rá eter-
no ? Uma força h a d e v~ r que lhe pun ha ter-
mo, um a força que e u não sah~re•i vencer, por
mais que ardentemen te ame : a mor te.. . Q_u cm,
depois ddla, fala.rá de ·nosso g rande am or ar-
dente, sagrado, impetuoso, vencedor ? . . . Os fi ..
lhos? Eu não conheço nem o no me u os bis-
avós de meus pacs, que se devem tambem ter
amado co m o mesmo amo r ...
«H a o amo r dos paes aos filhos, ha o dos
f ilhos aos paes. Sei que são g randes, fortes ,
capazes de sacrifícios, lllas já nã o permittem
cc mp;:raçãc co m o d o s .:- s p o~o:; entre s i. P o r
muitos annos os f ilh os nã o avaliam a for;;a d o
amor dos p aes, e , quand o começam a compre-
he nde l-o, abando nam-n'os em 'busca de outro
amor... 1-'azem-lhes o mesmo que clles, por
sua V (:Z. fize r am aos seus progenit:>res ...
«E ntrc·tanto.. . vejo eu um tum ulu, que p -
::1a-is f oi t!sq ue cido. E' ll l<I só, o tm ico ::m toda
:t historia: (: hri sto vi ve, C l11·is to reina, Christo
gon :rna por tndos os se cul us ! Jovem, co mo nós ,
dot1tor, donzell as, l indas e puras como minha
uoiv~: c minh a cunh ada, adu ltos de d istincta r.o-
liição co 1no metJs sogros, todos, t odos esses, âté
a vida sacrificaram <\ ás vezes, após to mentos
horri\cis, porque não queriam ser infiéis c trai-
dore!':' a ess-~ Jesus, que mo rreu ha ta-n to !empo,
que j á lhes não falava, qu e j á nilo us an·imava,
que nã o os pod.• t f a-soinar com o encanto de sua
pnlavra. de seus olh ares , de :->et1s gestos, de sua
presen ça! . ..
:<P assaram-se os s~c u los, c lugub re ech ôa
n:! Eu rop a o clamor treme ndo: «f oi profanad<J
o ttnnu lo de Clu·isto! Os infi éis apoderar am-se
dos Santos Logawcs !» . . . Um fre mito de h or-
r or e de indig nação percorre e faz vibrar todas
as nações, c aos milhares de milhares os chris-
tãos dei x:nn o lar, a fa milia, a pat r ia, para, ala:n-
ceados pelas mais tremendas privações, irem a•r-
ran car aos prof an adores o turnul o d<J querido
M e:>trc! ... .
«E o utros christãos hou ve, e ou tr o s ha,
dou tor, q ue re nunci am a mais aind a: ao amor
puro, <JIIC os podi a uu ir a pcs::.ôas queridas de
outro ~e xo, e q ue os pode ria fa zer f eiJzes . ..
P ri,·:: JH ·S<' desk santo a111o r, -Fógem ;í sua se-
durçàu, :~ha n d -ona m :1 família, pae, miie, irmãos.
~ 156 '::::>->
-··- «[ )}-· - -
XVI
Na Camara e no Paiz
- --«[)>----
XV II
De volta ao lar
--<q'J»--
XVl!I
--«0))--
XIX
--«<>--
XX
Na Cocllilha Rica
......·- «Di>- -
XXI
Raflectla!
- -<0»- -·
X XII
A Missa
--«0 »--
XXIII
23 de Nonmbro de 191O
--«0»--
XXV
A enfermeira
lovos horrores
Lagrimas a risos
··~ ~
csde havia dias andava judith quasi
inconsolavel, com os o lhos frequcn-
tcmt!nte lacrimosos, en tumecidas as
= palpebras, de tanto que chorava.
--·· Não de\·es assim affligir-te tanto - dizia-
lhe a mãe. - Nossa Senhora ha de por força
proteger teu noivo !
·-- Tem confiança, maninha reforçava
Dulce -· jámais se ouvi'l.l dizer que N ossa Se-
nhora h ouvesse abandonado quem a ella re-
corre.
Sim - - respondia a noiva, desolada --
mas ha já dois dias não tenho noti cias delk,
c quem sabe si nã o está para ahoi f erido .. . ou
morto, no combate ou no bo mbardeio! ...
··- Si assi-m fussc, já o teríamos sabido --
interpôz Marcos. As rn ;is noticias não se
fazem c~perar mu ito. Pódcs f-icar socegada, fi-
lhinha, que por certo nada de mal lhe acont eceu.
· Ah! como hei de agrad-~ccr a Nossa
Senhora, si o salvar!.. . Fiz uma pro messa de
ir com clle a Apparecida, Jogo que vol te são e
feliz, c o bknha alguns di as de licença.
Iremos ju-ntas c agradecerem o s :w mes.
1110 tempo, maninha.
- E' um \'erdadeiro horror essa historia
de revoltas - - diss.e o cornmendador, dirig-indo-
se á esposa. - Afin a l de con tas, já hoje, no
entanto, não me admiram muito . A t:hibata re-
vólt;;., e têm razão os que se n:voltam contra.
e \la. Mas que meio encontra o official par<J<
fazer-se obedecido~ O capr ll ãn, nu exercito on
na armada, usaria de meios suaso rios c, mesmo
quando offendido, perdoaria o aggra\·o c prose-
guiria em sua missão salvadora. Mas um uffi-
cial não pôde nem deve dcix<Jr-sc desfcitear
impunemente.
- São coisas essas bem triste" rcspo·n-
deu D. Sinhá. Não p cxham CJJtàu os po-
bres homens viver em paz?
-- Os interesses se chocun, c dahi se ori-
gi nam as lutas. Estou mesmo convencido de que
sem a reli-gião não poderá subsisti r u estado.
A policia é praticamente impotentt' para repel-
lir as audacias dos perversos.
Emqua·nto os paes dialogavalll, Dulce, pro-
curand<' distrahir a sua querida lllallinha c apa-
ga r-lhe os tristes pensamentos que a :iffligiam,
convidou-a a fazerem uma visita a D. t-l::lcna,
que, apesar de aprese ntar-s e physicamente me-
nos fraca, não havia ainda obtido me lhoras 4u~
fizessem cr êr prox im o o dia ern qne recuperasse
o u so da fala, não obstante o rigoroso tratam t•nto
a que se subm ette ra. pela clectricidadc, (' qu e lhe
era applicado por um dos mais ccl<'brcs t'Spc-
cialistas elo Rio.
Judith annuiu au convite c ar in hos;,• da ir-
man.
Enc<.mtraram lllàl: c filho Ll li l t <lll t~• abati-
d os, p or se terem posto ;1 lcmhra r, sattdoso s, a
rec<>rda ção de Truclinh a, a q1terida lrmort·rtâa,
que não podjam csquec~·r. Corupn.:ht:ndiarn-sc
perfeitamente os dois, embora D. Helena só res-
pondesse por meio de gestos c poucas vezes
se utilizasse da lousa. Antoni o ape nas ;una ,·cz
fizer ~ sa hir i l mã\' a passt: iu )'l" l() r~il>, de c:lr-
ro a mostrar-Ih..: algumas da belle zas da mo -
cte'rna capital; a situaçã o política, aggravada
agora co m a decretação d o est ad o de sitio, e
a propria infelicid ade qu<: para a p obre senh ora
~ra a rri vação da fala, faziam com que O. He-
lena preferi sse permanecer em casa, ou - (:
isso já era muito pa ra e ll a -- fazer peque-no
pa!'sei(, pelo jardim florid<l, um \'erdadei ro pri-
mor d e gosto e d·e arte.
Por algwnas vezes Dulce fôra lêr trechos
escolhidos á sua nov a amiga, que immensa-
lllente a preciava c de coração agradecia a gen-
til delicadeza da jo ven. Nesse momento, Anto-
nio não consegui a desviar os ol h ares da s ilhueta
elegante da moça, cuja voz lhe echo ava n o.
coração co mo a maís formosa e encantadora
d as harm o ui as, e cu ja3 feições reflectiam numa
aureola as límpidas emoções, que lhe agita vam
a alm ,l pura ck ,·irgem.
· Q uc!ll sempre assi m pudesse o u vil- a! ...
Quem sempre ass·im pudesse tel-a! - murmu-
rava ao joven ad\•ogad o o coraçã o embevecid o.
Tambcm por esta vez Dulce, que receiára
nã fJ ser facil manter con\'crsação vi va, diante
da tristeza quasi invencível de q u e se d e ixára
possuir a irman, munira-se de um livro que fôra
esc()[her á estante, que comp uze ra de obras es-
co lhidíssirnas, e tro uxe-o , escolhendo um que,
em certas h oras de desanim o ou indisposição
ne rvosa , mai s de uma vez lhe d éra fo rç a e
co ragem.
De facto, embora todos se esforçassem por
vencei-a, não foi poss ível f azer dcsapparecer a
a nuvem de tristeza que maguava os esp íritos
de A11t onio, de s ua mã e enferm a e d e Jud irt h.
De quand o em quando, por mais que para avi-
va l-a se esforçassem tod()s, a palestra· ca hia, co-
rn o que prestes a morrer. Dulce então exhibw
um pequeno li vro, manual elegantemente im·
rreSSI) nas offici-na~ Snlcsianas de São Pmllo.
~ 250 ~
- -«[]»---
XXVIII
• • •
IN O ICE
P RIMEI RA PARTE
SEGUNDA PARTE
XV -
Um madnheiro ás direHas 143
XVI -
Na Camara c no Paiz . 160
XVII De volta ao lar . . . .
- 167
XVIII -
Dez mil senhoras . . . . . . . . 174
XIX -
O <<Ürissa» em aguas da Guana-
bara . . . . . 182
XX - Na Cochilha Rica . 189
XXI - Reflectia! . . . . . . . 197
XXII - A Missa . . . . . . . . . 206
XXIII - 23 de Novem bro de 191 O . . . 212
XXIV - Em São Clemente - Um discurso
parlamentar . . 226
XXV - A enfermeira . . . . . . . 232
XXVI - Novos horrores . . . . . . 239
XXVII - Lagrim as c sorrisos . . . . 247
XXVIIJ - Nossa Senho ra d' Apparecida 252
ROMANCES E CONT OS
Ai ! meu Portugal. Romance eontemporaneo por Frei
Pedro Sinzig, O. F. M. 381 paginas 13X 19 em.
. . . depuz o livro, esperei, li de novo, examinei, com-
parei, analysel, - e eis aqui num como breve estudo o re-
sultado.
Pôde-se resumir nas seguintes proposições : o At I M~N
Porlugrú offerece ao s~nlimento artlstico os encantos de uma
engenhosluima ficçio ; ao tntendlrntfllo, as salutares lições da
mes1ra da vida : a Histeria ; ao cortlrãO, Impulsos suavemente
fortes para o bem. . . - L. Brentono, S. j.
Anjinho. (O) Contu ViP.nnense, e Morto por lmpru-
dencla, pela Baroneza Eurik von Handel- Maz-
zetti. 2• edição.
SJo duas historietas simples e encantadoras, mas que
chegam a commou:r até b lagrimas, tio emocionantes sio os
episodios descriptos e narrados, naturalmente decorrentes uns
dos outros, até ao desfecho final. Duas obras primas. - Eq.
Jl~erneck.