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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE HISTÓRIA

Disciplina: História e Cultura Indígena


Docente: Leandro Mendes Rocha
Discente: Jorge Luiz Rodrigues

Goiânia-GO. 2019
Segunda Avaliação

A fala de Davi Kopenawa é direcionada para dois pontos específicos, um discurso


etnográfico que é transformado em mensagem política e um saber cosmológico como um
discurso étnico. No texto de Bruce Albert - O ouro canibal e a queda do céu, Davi
Kopenawa é indicado como um mediador cultural de grande importância para o período
conhecido como "corrida do ouro". Diante de grandes ondas de desmatamento e invasão
de território Yanomami, causando grandes epidemias e infortúnios, Davi se encontra
como interlocutor presente entre a cosmológia yanomami e a diálogo com os brancos.
A atividade dos garimpeiros as mitologias vão sendo reformuladas, como um
mecanismo de articulação entre o povo yanomami e os brancos (garimpeiros). Dentro
desse campo, Davi faz diversos apelos através dos contos e saberes yanomami, voltados
para os ideais xamânicos, e os associando aos acontecimentos decorrentes do garimpo.
As epidemias são chamadas de xawara e posteriormente são retransmitidas e
reformuladas para uma tradução mais próxima de "poluição", onde é perceptível que a
atividade garimpeira fora um método descontrolado e em vários casos com caráter ilegal.
Davi faz uso de um discurso ambientalista através das ONG's que tem como
objetivo auxiliar na transformação ecológica das florestas, fazendo com que seja criado
um equilíbrio ou uma sustentabilidade. Para Davi isso é apenas uma forma do branco em
marginalizar a própria floresta, usando o termo "meio ambiente", faz com que o próprio
sentido venha a tona, como "meio", uma forma de relativizar o que deve ser explorado e
o que deve ser preservado.
Com efeito, ele trabalha com um discurso político e etnográfico que da luz as
demarcações territoriais para os yanomami, usufruindo da cosmologia xamânica para
denunciar as atitudes dos brancos que agem de maneira negligente para com a floresta.
Um exemplo é a extensão do termo xawara waki, -xi, que é um meio de interpretar o
efeito estufa através da tradução/tradição xamânica. É neste sentido que o antropólogo
Bruce Albert fala sobre uma crítica xamânica da economia política. Onde persiste a
mitologia xamânica como frente de comunicação e tradução através de Davi Kopenawa
para com os brancos. Transformando o que seria uma formação cultural em algo que
perpassa a criação e transformação cultural e cai na interetnicidade e na etnopolítica, da
qual os brancos constroem "os índios" e vice-versa.
Assim o discurso político de Davi encontra-se como dito anteriormente em uma
via de mão dupla, onde trabalha a retomada das relações cosmológicas de suas tradições
aos palanques dos discursos que são impostos pelo Estado e também pelas ONG's. Dentro
de seu próprio discurso pode-se notar as mudanças na mitologia como forma de
resistência yanomami, como por exemplo a visão apocalíptica dos xamãs e em seguida a
transformação do termo "ecologia" para as palavras de Omamë.
Um trecho que se encaixa perfeitamente na demonstração de como a utilização da
mitologia parte de um discurso etnológico e político é quando o antropólogo Bruce Albert
usufrui das palavras de Levi-Strauss: "A utilização política dos mitos resulturá, a longo
prazo, na formação de gênero narrativos onde a lógica histórica vai, definitivamente,
sobrepujar as regras e os objetivos do pensamento mítico" (Levi-Strauss 1984).
Desta forma a criatividade de líderes de contato é incrivelmente notável. Uma vez
que a mesma faz relações interétnicas. Algo que vai muito além de apenas uma história
induzida e vai de encontro com a cultura e o formato de sociedade que temos em mente,
um meio de reprodução cultural que serve de amostragem tanto para os brancos como no
seio do povo yanomami.

Bibliografia
ALBERT, Bruce. O ouro canibal e a queda do céu: uma crítica xamânica da economia
política da natureza.Pdf
AFONSO, G. Mitos e Estações no céu tupi-guarani.Pdf

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