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COMENTÁRIOS SOBRE A AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2332.

Eduardo Luís da Silva Pacheco

1. INTRODUÇÃO
”Ao contrário do que muita gente imagina, a gente não
nasce pronto e vai se gastando, a gente nasce não pronto e vai se fazendo.”
Mário Sérgio Cortella

O DL 3.365/41 aborda o tema de desapropriação por utilidade pública. Em


2001, com o advento da MP 2.183-56, algumas modificações foram impostas,
entretanto, para o presente trabalho, a abordagem se resume aos dois pontos
motivadores para a iniciativa da OAB em ajuizar ADI. São eles o art. 15-A e o § 1º do
art. 27.

O art. 15 – A refere-se aos juros compensatórios em caso de imissão prévia


da posse, quando a desapropriação se da por necessidade ou utilidade pública e
interesse social, havendo divergência entre o preço ofertado em juízo e o valor do
bem.

O §1º do art. 27 trata sobre a limitação dos honorários em R$ 151.000,00


(cento e cinquenta e um mil reais), quando a sentença que fixar o valor da
indenização for superior ao preço oferecido, implicando condenação ao
desapropriante a pagar honorários ao advogado.

Aqui, cabe apresentar o impacto das mudanças inseridas pela MP 2.183-56 e


o posicionamento do Supremo Tribunal Federal com a ADI ajuizada pela OAB.

2. DESAPROPRIAÇÃO

Marçal Justen Filho define desapropriação como [...] “um ato estatal unilateral
que produz a extinção da propriedade sobre um bem ou direito e aquisição do
domínio sobre ele pela entidade expropriante, mediante indenização justa”.
Sendo assim, desapropriar não se trata de um procedimento, mas um ato.
Não obstante, esse ato precisa de um procedimento prévio, sendo a desapropriação
o ato final desse procedimento.

Não é coerente comparar ato de desapropriação com compra e venda, pois a


compra e venda é oriunda de uma ação bilateral, ou seja, a autonomia de vontade
das partes prevalece para a conclusão do processo. Aqui, estamos tratando de um
ato unilateral, mesmo existindo uma contraprestação financeira, e, ainda, podendo
as partes convergir para o feito.

Outro tema bastante comum em equiparação errônea é a questão da


transferência do bem. Aqui não se fala em transferência, pois o proprietário terá sua
posse extinta, sendo o poder público expropriante. É importante destacar o feito,
pois transferência de propriedade mantém vínculo com eventuais defeitos que o bem
possuía antes da tradição. Nesse caso, por ser uma ação originária, não cabe
declinar eventuais responsabilidades por danos anteriores à desapropriação.

São diversas as modalidades expropriatórias, dependendo do tipo de


necessidade que o bem se destinará. O ponto em análise será o estabelecido na
Constituição federal, em seu art. 5º, XXIV, que estabelece a desapropriação por
necessidade ou utilidade pública e a desapropriação por interesse social.

2.1. DESAPROPRIAÇÃO POR NECESSIDADE OU UTILIDADE PÚBLICA.

A desapropriação por necessidade ou utilidade pública possui caráter


abrangente, sendo o objetivo da desapropriação o interesse público. Atender a
coletividade de forma mais ampla e efetiva em detrimento do interesse particular. É
o estado cumprindo sua função estatal.

Qualquer ente federativo será competente para essa modalidade de


desapropriação, com o destaque pela prévia indenização correspondente ao
proprietário.

2.2. A DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL.


A concepção dessa modalidade se deu como instrumento de promoção da
reforma agrária. Nesse caso, a função social da propriedade alcança o patamar mais
alto no debate em questão. Um exemplo que ilustra bem essa modalidade de
desapropriação é o perdimento do bem quando usado para plantio de substancias
psicotrópicas sem autorização. Observada a utilização da propriedade fora da
função social, poderá determinar o perdimento do bem em razão da reforma agrária.

O destaque é que a competência para o feito é privativa da União.

3. ART. 15-A DO DL 3.365/41.

O art. 15-A aborda a garantia da justa indenização na possibilidade do poder


público, via judicial, garantir a posse antes de a desapropriação chegar ao fim. Isso é
a imissão da posse. Ocorre que se o preço ofertado em juízo divergir do valor do
bem fixado em sentença incidirá juros compensatórios sobre o valor da diferença
apurada.

O grande quesito enfrentado pelo STF na ADI 2332 foi a relação do


percentual de juros que incidiria nesses casos. Preliminarmente, em 2001, o STF
decide com sendo inconstitucional a redução dos juros para 6% e determina a volta
da taxa fixa em 12%. Essa decisão, por sua vez, em sentido ex-nunc, ou seja,
produzindo efeitos apenas a partir daquela data. Na mesma decisão foi suspensa a
eficácia dos §§1º e 2º do art. 15-A, que tratam das condicionantes para incidência de
juros compensatórios (comprovação de perda de renda e grau de utilização).

Em 2018, julgando o mérito, o STF resolveu mudar o posicionamento daquele


mantido em liminar.

No julgamento definitivo decide ser constitucional o percentual fixo em 6% ao


ano para remuneração do proprietário pela imissão provisória de seu bem, previsto
do DL 3.365/41. Torna, ainda, sem efeitos, as súmulas 618/STF e 408/STJ.

Salienta-se que o STF declarou o vocábulo “até” como inconstitucional, por


acreditar gerar insegurança jurídica na discricionariedade da decisão. Assim, fica
estipulado o percentual em 6%, invariavelmente.
O STF decide que a base de cálculo dos juros compensatórios será a
diferença entre 80% do preço ofertado em juízo e o valor do bem fixado na
sentença, defendendo o princípio do prévio e justo preço.

Na apreciação da medida liminar, o STF considerou os §§ 1º e 2º do art. 15-A


do DL 3.365/41como inconstitucionais. O argumento foi que os juros compensatórios
seriam devidos independentes da geração de renda. A indenização seria pelo fato
do proprietário ficar sem seu bem.

Em 2018, novamente, o STF muda de posição, decidiu que os §§ 1º e 2º do art. 15-


A do DL 3.365/41 são, na verdade, constitucionais. O voto do Min. Alexandre de
Morais foi predominante para o feito, afirmando que tais dispositivos não violam o
direito de propriedade nem vulneram o caráter justo da indenização. Isso porque é
correto dizer que os juros compensatórios destinam-se a compensar tão somente a
perda de renda comprovadamente sofrida pelo proprietário, renda decorrente da
privação da posse e da exploração econômica do bem entre a data da imissão na
posse pelo poder público e transferência compulsória ao patrimônio público, que
ocorre com o pagamento do preço fixado na sentença.

4. HONORÁRIOS - § 1º DO ART. 27 DO DL 3.365/41


O § 1º DO ART. 27 DO DL 3.365/41, previa que “a sentença que fixar o valor
da indenização quando este for superior ao preço oferecido condenará o
desapropriante a pagar honorários do advogado, que serão fixados entre meio e
cinco por cento do valor da diferençaA perda da propriedade é compensada pelo
valor principal, pela correção monetária e pelos juros moratórios. Em suma, os juros
compensatórios não têm a função de indenizar o valor da propriedade em si, senão
o de compensar a perda da
, observado o disposto no § 4º do art. 20 do Código de Processo Civil, não
podendo os honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil
reais)”.

Dessa forma, estipula os honorários na variação de 0,5% a 5% e limitando em


R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil reais).

O STF considerou constitucional a variação dos honorários em 0,5% a 5%.


Entretanto, com relação ao limite estipulado em R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e
um mil reais), o STF decidiu ser inconstitucional, pois limitar os honorários em um
determinado valor fixo (que não seja um percentual) viola o princípio da
proporcionalidade e acaba refletindo no justo preço da indenização que o
expropriado deve receber (art. 5º, XXIV, da CF/88).

5. CONCLUSÃO

Diante o exposto, é possível concluir que em um lapso temporal, no mesmo


processo, é possível existir evolução considerável a ponto de determinar diferenças
extraordinárias no entendimento da Suprema Corte.

Conclui-se, também, que a decisão do STF, nitidamente, estabelece uma


preocupação especial ao desapropriado, garantindo o suporte necessário para que
seu direito seja resguardado. Esse posicionamento impede a disparidade de força
que o estado possui com relação ao indivíduo.
REFERÊNCIAS:

FILHO, Marçal Justen. Curso de Direito Administrativo. 13ª ed. São Paulo:
Thomson Reuters – Revista dos Tribunais, 2018.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/2183-56.htm

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3365.htm

http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=307554703&ext=.pdf

http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=1868340

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