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interação sociodiscursiva
Marcos Baltar 1
Maria Eugênia T. Gastaldello 2
Marina A. Camelo 3
Bárbara M. Lipp 4
Universidade de Caxias do Sul - UCS
Introdução
Desde a metade do século passado as pesquisas no âmbito da Lingüística
vêm oferecendo importantes contribuições para subsidiar o trabalho com a
educação básica de nível superior em nosso país. Destacam-se os aportes das
teorias que discutem os gêneros textuais: Sócio-Retórica, Interacionismo
1
Professor pesquisador do Departamento de Letras da Universidade de Caxias do
Sul (UCS).
2
Professora pesquisadora do Departamento de Educação Universidade de Caxias
do Sul (UCS).
3
Estudante pesquisadora do curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
4
Estudante pesquisadora do curso de Comunicação da Universidade de Caxias do
Sul (UCS).
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Pressupostos teóricos
Contribuição do interacionismo sociodiscursivo (ISD)
Bronckart, e outros colaboradores (1985 et al., 1997, 2004, 2006),
num quadro inicialmente da psicologia da linguagem, inspirados na
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O termo ensinagem está sendo utilizado com o propósito de superar a tradicional
dicotomia existente entre ensino e aprendizagem.
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Ver definição de Competência discursiva em Baltar (2006).
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Contribuição da sócio-retórica
Dos autores da sócio-retórica que têm contribuído para a discussão dos
gêneros textuais dentro do quadro da lingüística, destacamos especialmente os
trabalhos de Swales (1990), Bhatia (1993) e Bazerman (2004, 2007). É
possível dizer que os três têm em comum o fato de levarem em consideração,
ao mesmo tempo, aspectos formais e contextuais na categorização de gêneros
textuais, atribuindo vital importância às práticas sociais situadas dos usuários
na análise e categorização dos textos/gêneros. Swales (1990, p.58) define
gênero como:
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Termo tomado de empréstimo de Voloshinov/Bakhtin (1986).
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Bhatia, por sua vez, embora muito influenciado pelo trabalho de Swales,
destaca o fato de que a análise de Swales negligencia os aspectos psicológicos,
incluindo os cognitivos, que contribuem para a dinamicidade dos gêneros.
Bhatia (1993, p. 16) comenta que:
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Enquanto o termo agente de letramento postulado por Kleiman (2003) define o
professor (ou outro agente) como um mediador de práticas sociais situadas no
mundo letrado, pelas quais os estudantes passam ao longo de seu processo de
letramento, o termo agente para o ISD (BRONCKART, 2005), contrastando a
noção de ator, refere-se a um actante que não é fonte do agir.
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no tecido social, para permitir que os indivíduos possam ingressar nessa práxis,
com autonomia inclusive para transformá-la.
No que concerne ao letramento midiático radiofônico, proposto desde
a escola, é possível prever uma sensível transformação nos indivíduos que
participam da discussão, análise da mídia convencional e da elaboração de
rádios escolares, que passam a ler essa mídia diferentemente, podendo
influenciar decisivamente na construção de uma mídia do futuro.
Outrossim, o acesso a essas práticas permite extrapolar o modelo
asséptico de letramento escolar, mecânico, individualizado, centrado no
domínio da escrita como tecnologia desvinculada da vida social.
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Ver Rojo (2000) sobre gêneros textuais de outras esferas sociais que são
escolarizados, funcionando na escola como objetos de ensino.
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Ver Baltar (2006, p. 109-121) sobre o uso de jornal na escola.
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Rádio Comercial
As emissoras comerciais diferenciam-se por serem empresas cujo
objetivo prioritário é a obtenção de lucro. Elas representam crescente parcela
de emissoras no Brasil e, como conseqüência disso, atingem a maioria dos
ouvintes, devido sua potência de alcance. Caracterizam-se pela veiculação de
peças publicitárias intercaladas intencional ou subliminarmente em sua
programação. O foco primordial é a informação e o entretenimento. Essas
emissoras possuem dois tipos de clientes: os ouvintes que são compradores em
potencial e os anunciantes que patrocinam os programas em troca de
publicidade. Estão associadas à grande mídia, são estreitamente vinculadas a
grupos econômicos e políticos. Atuam sobre a égide do discurso mass mídia,
do capital, do mercado, da relação vertical do poder, que escolhe a quem e a
que vai dar visibilidade social.
Rádio Comunitária
As rádios comunitárias diferenciam-se das rádios comerciais por serem
produzidas e veiculadas pelos próprios moradores de uma comunidade e por
não possuírem fins lucrativos. Têm o intuito de promover e qualificar o
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Rádio Educativa
Essas emissoras têm por objetivo a veiculação de programas de cunho
educativo. Em princípio, a concepção da programação é feita por educadores
e a execução por comunicadores. Essas rádios não possuem fins lucrativos e são
mantidas pela União, governos estaduais ou municipais, fundações e
universidades. Seu foco é a difusão do conhecimento e a formação de opinião
do ouvinte, alinhado a um perfil editorial próprio de cada instituição. Esse
modelo de rádio permite um diálogo da produção local com a produção
regional e nacional, respeitando o multiculturalismo.
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Sobre rádio comunitária recomendamos assistir ao filme Uma onda no ar, cujo
argumento central é a história da implementação da rádio comunitária denominada
Rádio Favela, na cidade de Belo Horizonte-MG.
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A escola José Protázio é uma escola ciclada, que organiza seu trabalho didático-
pedagógico de forma trimestral, seguindo a pedagogia dialógica freireana. Situa-se
em um bairro da periferia da cidade de Caxias do Sul.
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Ver sobre SD, Schneuwly; Dolz (2004).
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