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A distribuição de poder, antes que se argumente quanto à sua polaridade e os seus núcleos,

deve-se, ao meu ver, argumentar quanto às esferas populacionais que tratam, através de
ideologias, de se opor à ordem estabelecida, seja ela qual for. Devemos, primeiro, recorrer
aos fatos.
Os indícios e acontecimentos pós-Guerra Fria atentam para uma ordem unipolar, mas que
está longe da "paz" esperada na queda do regime soviético. Os eventos bélicos logo no
começo da década de 90 demonstram esse fato, ainda que demonstrem também a união
entre os países articulados junto à potência norte-americana. No âmbito dessa união, as
revoluções de Cores na orla da antiga União Soviética, a adoção das políticas do Consenso
de Washington, o desmembramento da Iugoslávia e da Tchecoslováquia, a independência
dos países bálticos, além de sérias mudanças de conduta em países como Angola,
Moçambique, até mesmo Cuba (em menor escala), entre outros, indicam a "vitória" desse
modelo unipolar e da unidade ideológica global.
Por outro lado, anos mais tarde essas mudanças apresentaram sérias crises e problemas
sociais aos países, os que adotaram as mudanças econômicas, sofreram com condições de
calamidade na ordem social, o que mais tarde iria fazer ascender uma política alternativa
ao Consenso de Washington, principalmente na América Latina. Nesse contexto, cita-se a
ALBA e a revolução bolivariana orquestradas por uma esquerda nova, chamada de
"socialismo do século XXI". No Leste Europeu, a desestabilização da Iugoslávia causou uma
guerra civil étnica-religiosa. Diversos países da África entraram em conflitos. Dessa época
se iniciam problemas como o dos tutsis e hutus em países como Ruanda, Congo, Burundi,
além do problema de Darfur, no Sudão. A Ásia Central sofre uma mudança radical com as
revoluções de Cores, entretanto a política continua autoritária e a democracia é mascarada;
o avanço do neoliberalismo nessa região global culmina hoje em revoltas, como a atual na
República Quirguiz.
Ainda para fragilizar as parcerias da potência hegemônica, dessa década se datam quedas
de governantes como Augusto Pinochet no Chile e Suharto na Indonésia, pró-EUA.
Todos esses acontecimentos em conjunto com a ascensão econômica chinesa põe a
unipolaridade e domínio americano contra a parede.
Mesmo assim, os EUA são a maior potência bélica da história. Nunca antes se viu alguém
com tamanho poderio e facilidade de persuasão no cenário internacional. Mesmo com os
milhões de desafetos de sua política econômica espalhados pelo mundo, todos os países
hoje são reféns do capital internacional, assim acabando numa posição de impotência em
frente à força americana e dos órgãos financeiros mundiais. As devidas reformas sociais
não podem ser tocadas à frente devido à essa impotência.
Contudo, é exatamente esse ponto forte americano que pode demonstrar sua derrocada; o
investimento massiço no fator militar, em detrimento de fatores sociais, podem levar a
super-potência a definhar. A concentração de renda aumenta nesse país e o desemprego
assume índices estratoféricos nunca antes vistos. A economia se encontra em crise após o
caos de 2008 e a liberalização e desregulamentação mostram seus frutos. O capital
especulativo começa a enfrentar barreiras protecionistas em diversos países.
Para fortalecer essa oposição à hegemonia, se nota o crescimento das ideologias
altermundialistas na população global, lutando por reformas sociais que retornem os
governos às camadas populares. Nesse âmbito, destaca-se o Fórum Social Mundial como
exemplo desse conflito ideológico, frequentemente não se tratando mais de uma questão
de esquerda ou direita, mas sim humanista e anti-neoliberal. Alternativas como a da ALBA,
o fortalecimento de blocos econômicos e a consciência dos mesmos ante o bote neoliberal
se mostram como empecilhos à consolidação dessa hegemonia.
Do outro lado do globo, o fortalecimento de países como China e Índia, ainda que não
tenham capacidade alguma de estabelecer um contra-ponto bélico aos EUA, estabelece um
núcleo de poder que cresce cada vez mais em âmbito regional e global, se opondo ao
estado americano, que declina em termos econômicos e sociais.

Acredito que a hegemonia norte-americana está instável, embora seja de uma força
gigantesca nos dias de hoje. Como fatores que a ajudam, cito a dependência econômica, a
existência de elites pró-norte em praticamente todos os países e o poderio bélico norte-
americano. Como oposição, cito a ascensão de potências como

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