Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo:
Abstract:
1
achieve our goal, we use the officials documents produced by captaincy governor and
provincial presidents, the notes and transcript documents of Irineu Pinto (Datas e notas
para a história da Paraíba) and inventories post-mortem of Parahyba do Norte city.
2
Introdução
1
Até o século XIX, a grafia do nome da província variou bastante. Na documentação identificamos os
seguintes termos: “Parayba”, “Parahiba”, “Paraíba” etc. Utilizaremos “Parahyba” por ser a mais comum,
ao nosso ver.
2
Alguns desses estudos são Rocha (2009), Lima (2008) e Silva (2010).
3
Este trabalho será dividido em três partes. A primeira está voltada para o final do
século XVIII. Durante mais de quatro décadas a então capitania da Parahyba esteve
subordinada econômica e politicamente a sua vizinha Pernambuco. Este fato é
fundamental para compreendermos em que estado encontrava-se a Parahyba na virada
para o século XIX e como a capitania/província se portou na primeira metade do
oitocentos.
4
informações registradas e os documentos transcritos por Irineu Ferreira Pinto em sua
obra Datas e Notas para a História da Paraíba (1908)3.
A situação era pior por dois motivos: a economia mundial encontrava-se também
em crise no século XVII e fenômenos climáticos como secas e enchentes não
permitiram a reestruturação produtiva da Parahyba4. Apesar de a partir de 1690 o
mercado mundial voltar a se reaquecer, as capitanias do Norte continuaram em uma
situação limitada economicamente. As primeiras décadas do século XVIII apresentaram
relativa melhora, principalmente, para Pernambuco e Bahia, mas a partir de 1730, os
números voltam a cair (GALLOWAY, 1974). A Paraíba foi uma das mais afetadas por
essas condições.
Gustavo Lopes (2008) defende que uma das principais estratégias utilizadas pela
elite econômica de Pernambuco para se recuperar economicamente desse cenário de
crise foi a articulação com o comércio atlântico de escravos. Acreditamos que essa ideia
3
Irineu Pinto foi um dos membros fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP),
assumindo o cargo de bibliotecário. Uma das primeiras obras da historiografia paraibana, Datas e Notas
para a História da Paraíba (1908) foi uma compilação de documentos feita pelo autor. Como muitos
desses documentos não foram preservados, essa obra assume uma importância fundamental para a
pesquisa histórica sobre a Paraíba. Utilizaremos a edição fac-símile publicada em 1977.
4
Um bom debate sobre a crise do século XVII e suas várias interpretações pode ser encontrado em Elliot
(2009).
5
possa ser estendida para o caso da Bahia. Contudo, diferentemente dessas duas
capitanias, a Parahyba não se envolveu diretamente nessa atividade econômica.
6
os ganhos econômicos na região: a anexação da Parahyba a Pernambuco foi oficializada
em 1755. Além desses aspectos, havia interesses políticos e econômicos de alguns
grupos da elite da Parahyba que visavam a anexação. Analisando o caso específico de
Mamanguape (Vila de Monte-mor), no litoral norte da capitania, José Inaldo Chaves
Júnior (2013) demonstra as relações e interesses estabelecidos pelos proprietários e
comerciantes dessa praça com Recife. A eles era mais interessante escoar a produção
pelo porto da capital de Pernambuco, pois seria mais rentável, além dos conflitos com
os proprietários e negociantes da capital da Parahyba.
5
Não vamos nos adentrar a esse debate, mas recomendamos a leitura dos seguintes textos para
compreender a visão da historiografia da Paraíba sobre a Companhia de Comércio: Maximiano Machado
(1977, p. 448), Almeida (1978, vol. II, p. 73), Celso Mariz (1978, p. 12), Elza Régis de Oliveira (2007, p.
111-113) e José Octávio Mello (2008, p. 83).
7
de escravos etc. A melhor atitude a se tomar diante disso seria o fim da subordinação
(A.H.U., D. 2473, 1799)6.
6
A transcrição deste documento também pode ser encontrada em Irineu Pinto (1977, Vol. II, p.205-213)
8
Essa leitura poderia ser reforçada se levássemos em consideração o pedido feito
pelos proprietários e negociantes da Parahyba em 1806, requisitando graça ao Rei sobre
os impostos de escravos importados da África para a Capitania. Isso era feito sob o
argumento de que a seca ocorrida no ano anterior teria deixado “em total ruína os
habitantes destes sertões, pela mortandade dos gados, que jamais podião existir pela
falta de pastos, e os engenhos ficarão igualmente destruídos na sua escravatura” (A.H.U,
1806, D. 3345).
9
o século XIX7. A extração de madeiras despontou como importante atividade voltada
para a exportação e conectou os mercados de Portugal com a Parahyba. Todas essas
mudanças foram expressas em números.
10
devido aos problemas causados pela seca. Contudo, logo após o fim da seca, as receitas
da capitania voltam a apresentar números equiparados aos anteriores. Ademais, vale
destacar que, apesar das dificuldades encontradas com o fenômeno da seca e da queda
dos rendimentos, a Parahyba não apresentou resultados negativos.
Esse quadro positivo mantém-se nas décadas seguintes. Não temos dados
objetivos como os apresentados pelos governadores entre os anos de 1795 e 1805,
contudo, a historiografia e outras fontes nos dão elementos para identificar a situação
econômica da Parahyba entre 1806 e 1837, que não apresentou foi das mais
desesperadoras.
A década de 1810 foi marcada pela abertura dos portos brasileiros ao mercado
internacional, não se restringindo apenas a Portugal. Isso representou um aumento
significativo nos números de importações e exportações do Brasil. Esse período, porém,
apresentou quedas constantes nos preços do açúcar e algodão, interferindo na economia
do Brasil (PRADO JÚNIOR, 2006; PINTO, 1988).
Em três décadas, a Parahyba sofreu apenas com duas secas: 1825 e 1838, que
interferiram na produção. Não identificamos nenhuma enchente que tivesse
comprometido as margens do rio Paraíba. Desta feita, nada nos leva a crer que houve
uma mudança radical na economia da Parahyba no período referido. As únicas
oscilações que poderiam interferir estavam ligadas ao mercado externo que, na década
de 1820, não foi favorável.
11
Presidente de Províncias trazem-nos dados sobre os rendimentos da província. De
acordo com os números dos Presidentes:
Esses números, como os demais aqui discutidos, são apenas aproximações e não
podem ser levados em conta de maneira absoluta. Sabemos que os cálculos feitos
possuíam falhas, além de que boa parte da produção da província continuava saindo
pelo porto de Recife. Contudo, mesmo com as ressalvas, os dados apresentados podem
nos ajudar a pensar a economia da Parahyba no final da primeira metade do XIX.
O que podemos observar é uma situação crescente nas rendas na Parahyba até
1840, ano de seca na província, que apresentou uma queda abrupta em seus
rendimentos. Em 1843 e 1844, outra seca afetou a referida província, contudo, ao que
parece, não impactou diretamente nas rendas. Da mesma maneira como ocorreu no
início do século XIX, a Parahyba manteve-se com saldo sempre positivo, apesar das
oscilações.
12
As exportações também se apresentaram superiores às importações, culminando
em anos de superávit entre 1837 e 1850. Com o gráfico a seguir, podemos identificar
melhor a relação importação/exportação da Parahyba.
1,200,000
1,000,000
800,000
Exportação
600,000 Importação
400,000
200,000
0
1836183718381839184018411842184318441845184618471849
Fontes: Relatórios de Presidente de Província da Paraíba dos anos de 1837 a 1850; Pinto (1977, vol. 2).
Com exceção do ano de 1845, as importações foram sempre inferiores às
exportações. Ou seja, a Parahyba durante décadas, vendeu mais do que comprou,
deixando sua balança comercial sempre favorável. Isso está expresso também nas
receitas e despesas que já discutimos anteriormente.
13
A posse escrava na Parahyba oitocentista
9
A cidade da Parahyba teve vários nomes em sua história. Foi fundada com o nome de Nossa Senhora
das Neves. Após a União Ibérica, tornou-se Filipéia e sob o domínio holandês mudou para Frederica,
retomando o nome inicial após a expulsão dos neerlandeses. A partir do século XVIII comumente foi
chamada de Parahyba do Norte. Este nome permaneceu até 1930, quando passou a ser denominada de
João Pessoa. Almeida (1978) traz uma discussão sobre a fundação da cidade e de suas várias
denominações.
10
Sobre o processo de conquista e colonização da Parahyba, sugerimos a leitura de Gonçalves (2007).
14
Essa mesma situação foi encontrada por viajantes como Henry Koster que, em
1810, visitou a cidade. Para o inglês, a capital da capitania era ainda uma cidade
pequena e com uma arquitetura modesta. Em suas palavras, a cidade da Parahyba do
Norte encontrava-se na seguinte situação:
Ou seja, diante desses relatos, podemos acreditar que a Parahyba não teve muitas
mudanças na sua urbanização durante quase todo o século XIX. A cidade encontrava-se
em uma situação de pouca densidade demográfica (sobretudo, se relacionadas a outras
regiões como Recife), poucas ruas pavimentadas, arquitetura modesta e havia pouca
distinção entre o que poderíamos chamar de rural e urbano.
15
documentação, podemos identificar em que atividades os africanos estavam
distribuídos, como se dava a concentração da propriedade escrava, o preço dos
escravizados etc. Infelizmente, temos poucos inventários para o período estudado, cerca
de 50, dos quais 18 já foram sistematizados e apresentamos aqui. Isso se dá, sobretudo,
pela dificuldade de acesso aos acervos dos cartórios, portadores dessa documentação. A
partir dessas fontes, traçamos algumas características da sociedade escravista na
Parahyba, ressaltando que essas informações serão melhor discutidas na pesquisa mais
ampla que estamos desenvolvendo.
16
como propriedade, sendo apenas 11% os que tinham mais de 60 pessoas escravizadas,
caracterizando uma grande propriedade. Além das dificuldades em se obter
escravizados, devido às condições econômicas, o fato de ser um ambiente urbano (não
completamente rural) pode contribuir na compreensão dessa característica.
O que nos chama atenção é a quantidade de pessoas que não possuíam escravos.
Em uma sociedade escravista, a propriedade de uma pessoa escravizada era o padrão a
ser alcançado. Contudo, a Parahyba não tinha como principal característica a grande
propriedade, chegando a ter muitas pessoas sem escravos. Isso se dava porque a
capitania/província ter uma presença muito grande de pessoas livres pobres. Para se ter
uma ideia, durante a primeira metade do século XIX, calculamos uma média de 13% de
escravizados nos registros de batismo da Freguesia de Nossa Senhora das Neves, cidade
da Parahyba do Norte (GUIMARÃES, 2013).
Esse número não mudou muito em relação ao que foi apresentado por Medeiros
(1999, p. 55). Segundo a autora, a capitania da Parahyba tinha, em 1802, cerca de 20%
de pessoas escravizadas. Esse número caiu a cada década, chegando a apresentar 13%
em 1851. Com efeito, o que podemos identificar é uma redução da quantidade de
pessoas escravizadas (que já não era muito grande) na primeira metade do século XIX
na Parahyba, aumentando a proporção das pessoas livres e pobres. Tais pessoas não
poderiam ter escravos e, quando possuíam, era em pequena quantidade.
17
Não Consta 22 (8,33%)
Total 264 (100%)
Fonte: Inventários do Arquivo do Cartório Monteiro da Franca
Ao calcularmos os números gerais dos preços dos africanos, temos uma média
de 256 mil réis para cada escravizado vindo da África no período estudado. A média dos
crioulos circulava em torno de 343 mil réis. Contudo, esses números não dizem muitas
coisas se analisados de maneira isolada. Se analisarmos os preços dos escravizados de
acordo com a idade, percebemos importantes variações. Os africanos adultos (entre 15 e
40 anos) tinham um valor médio de 479 mil réis. Os já idosos (mais de 40 anos)
custavam cerca de 192 mil. Não conseguimos identificar crioulos com mais de 40 anos,
porém, os adultos tinham um preço próximo da média de 439 mil réis. Era mais fácil,
em linhas gerais, comprar crioulos do que africanos, mas seus valores no mercado não
mudavam muito.
18
A média de escravos por proprietários, de acordo com os inventários
pesquisados, é de 14, 66 escravos. Contudo, esse número também não nos diz muita
coisa. A concentração de escravos era muito alta na Parahyba oitocentista. Como já
demonstramos anteriormente (ver tabela 3), havia uma quantidade muito pequena de
grandes proprietários de terra. Entretanto, esses homens concentravam boa parte da
população escravizada. 211 escravos (79, 92%) estiveram sob a propriedade de apenas
dois homens: João de Mello Azedo e José Gregório da Silva Coutinho. Ou seja, cerca de
10% dos proprietários pesquisados concentravam quase 80% de todos os escravos da
cidade da Parahyba que identificamos nos inventários.
Essas informações pode nos levar à conclusão de que para se obter africanos na
cidade da Parahyba era preciso ter boas condições econômicas para isso. Para as pessoas
que possuíam poucos escravos, a possibilidade de comprar africanos era reduzida. Esta
só aumentava, quando os africanos iam sendo desvalorizados devido à idade. Além do
mais, comprar escravizados vindos da África era um grande investimento. Para poder
entrar nesse mercado, era necessário ter uma atividade lucrativa que permitisse o
negócio. Como a economia da Parahyba vinha se atingindo números estáveis, muitos
senhores de engenho puderam comprar africanos. Aos pequenos proprietários, esse
investimento não era tão interessante, voltando-se para outros escravos como crioulos,
pardos e cabras.
19
Considerações Finais
20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Fontes Impressas
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. 12ª edição. Fortaleza: ABC Editora,
2003.
Fontes Manuscritas
Inventários de:
21
Antonio Xavier – 1817
22
- Arquivo Histórico Ultramarino (A.H.U.)
Bibliografia
23
CHAVES JÚNIOR, Inaldo. “As duras cadeias de hum governo subordinado”: história,
elites e governabilidade na Capitania da Paraíba (c.1755-1799). Dissertação de
Mestrado em História. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia – UFF, 2013.
24
História econômica. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade
de São Paulo. 2008.
MELLO, José Octávio de Arruda. História da Paraíba: lutas e resistências. 11ª edição.
João Pessoa: A União, 2008.
PINTO, Virgílio Noya. Balanço das transformações econômicas no século XIX. In.:
MOTTA, Carlos Guilherme. Brasil em perspectiva. 17ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1988 , p. 126 – 145.
25
PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2006.
PROST, Antoine. Imaginação e atribuição causal. In.: Doze lições sobre história.
Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2008, p. 153 - 168
ROCHA, Solange Pereira da. Gente negra na Paraíba oitocentista: população, família e
parentesco espiritual. São Paulo, Editora UNESP, 2009.
26