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(11) 2478-3413
Eu, Rosemeire, ofereço com afeto este livro:
Ao meu esposo, Alberto, minha filha, Liliane, e meu filho, Daniel, que
são luzes que brilham incondicionalmente e mantêm a chama acesa
pelo caminho.
Aos meus pais, Manoel e Norma, no colo de quem abri os olhos e pude
enxergar luz pela primeira vez.
Ao Sergio, meu irmão, com quem brinquei e brinco de “Viver em
família, uma grande ideia!”.
À tia Linda, que continuou o trabalho materno com amor e dedicação,
me dando dois presentes: meus irmãos Marcelo e Marcos. Às cinco
sobrinhas que me alegram com sua presença querida.
À minha avó, Maria Robertina, modelo de força e coragem que me
ensina e entusiasma.
À minha família ampliada por sogro, sogra, cunhadas, cunhados,
sobrinhos.
Aos grandes amigos e amigas sempre ao meu lado.
À vida, por me proporcionar tantos encontros de aprendizagem e
crescimento.
Agradecimentos
Primeiramente, nosso obrigado às crianças que foram a principal razão
para buscarmos caminhos para os desafios de educar nos dias de hoje.
Queremos agradecer a todos os pais e mães que participaram do curso A
Arte de Educar em Família. Foram vocês que nos inspiraram e nos
incentivaram para que o curso se transformasse em livro.
Obrigado a vocês, Alberto Laviano, Christa Glass, Mariana Resende de
Caires, Paula Myers e Sergio Resende, por terem se dedicado à leitura da
primeira cópia e feito valiosas sugestões e contribuições.
Agradecemos a Isabel Diniz pelo carinho e cuidado com que trabalhou os
detalhes e a diagramação, dando forma ao livro.
Obrigado, Patrícia Botelho, pela disponibilidade de fazer sugestões e
colaborar nos toques finais.
Finalmente, somos gratas de coração ao Felipe Mendes, o qual, desde o
início, com sua dedicação e experiência editorial, nos acompanhou dando
sugestões e colaborando da redação até a revisão.
Prefácio
Vivemos em um mundo cada vez mais interdependente e interativo. Um
mundo, ao mesmo tempo, grande e pequeno, individual e plural. O volume de
informações, em forma de imagens e textos, que recebemos diariamente é
demasiado grande e quase não existe pausa para pensar e refletir.
Essa pausa - necessária - veio para mim na forma do encontro que tive
com as autoras deste livro, por meio do curso A ARTE DE EDUCAR EM
FAMÍLIA. Definitivamente, um divisor de águas na maneira de entender a
minha história e meu papel na vida de meus filhos e de minha família.
O curso virou este precioso livro. Quando fui convidada para escrever
esta introdução - além da surpresa e emoção iniciais -, deixei a ideia
assentar por alguns dias, brinquei com os pensamentos, reli anotações que
fiz ao longo do curso e, aí, me deparei com algo lindo, do Manoel de Barros,
o qual, sempre certeiro, diz assim:
“(...) o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade.
A gente só descobre isso depois de grande.
A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela
intimidade que temos com as coisas.”
As palavras contidas neste livro têm o poder de resgatar a intimidade
com o nosso “quintal”. As autoras nos conduzem delicadamente à reflexão
sobre cada fase que passamos, sendo possível ressignificar experiências e
redescobrir a imensidão e beleza que têm os nossos “quintais”.
Com o curso, ganhei uma consciência mais clara sobre meu papel de
mãe. Passei a me preocupar menos com o ideal de perfeição, e mais com o
exercício de olhar para meus filhos... Qual o setênio em que se encontram?
De que maneira posso acolher e orientar? Como devo exercitar a minha
autoridade, de maneira equilibrada e consistente? Dou espaço suficiente
para que eles valorizem seus sonhos e aprendam a fazer os sacrifícios
necessários para realizá-los? Estou conseguindo imprimir um ritmo
harmonioso à vidinha deles?
Claro... Ainda erro muito... Questiono muito... Me preocupo muito. Mas
as palavras, agora contidas neste livro, me dão apoio, direção e propósito. E
o meu desejo é que façam o mesmo a todos os que tiverem a sorte de lê-lo.
Paula Myers
Sumário
Primeiras Palavras 21
O Desenvolvimento do Ser Humano 25
A Importância dos Pais 25
Um Olhar Para o Desenvolvimento a Partir Das Fases 26
Um Olhar Para o Desenvolvimento Nos Três Primeiros
Setênios 28
Um Olhar Para a Constituição Humana 32
As Fases do Desenvolvimento da Criança 35
O Primeiro Setênio - 0 a 7 Anos 35
1º ano: aprendendo a ANDAR 36
2º ano: aprendendo a FALAR 41
3º ano: aprendendo a PENSAR 43
Confiança e segurança 46
Imitação e ambiente familiar 48
O Segundo Setênio - 7 a 14 Anos 49
O Terceiro Setênio - 14 a 21 Anos 54
Ritmo Como Organizador da Vida e Promotor da Saúde 61
A Relação entre Ritmo e Rotina 64
Sono e a saúde 66
O ritmo e a formação dos hábitos na vida prática 69
Momentos diários 70
Momentos semanais 72
Momentos mensais 72
Momentos anuais 72
Limite e Autoridade: Um Caminho para a Liberdade 77
Limites como referência de vida 77
Limites: aprendendo a ser livre 82
A Educação por Meio da Alimentação 91
A relação criança-alimento 98
O alimento, seus processos e características 103
O Brincar e o Desenvolvimento Saudável da Criança 109
O brincar e o corpo em ação 110
O brincar como caminho de aprendizagem social 112
O brincar e o desenvolvimento do pensar 113
Como o brincar atua na criança? 114
Brincadeiras e brinquedos 120
A Educação Pela Imagem 127
A força da imagem 127
Imagem e criatividade 129
Histórias: uma imagem para cada fase 131
O Afeto e a Sexualidade 135
Sexualidade e o desenvolvimento da humanidade 136
Afeto e sexualidade: físico, social e individual 137
A educação sexual nas diferentes fases 139
1º Setênio (0 a 7 anos) 140
2º Setênio (7 a 14 anos) 144
3º Setênio (14 a 21 anos) 148
Celebrando a Vida Através das Festas do Ano 153
Natal – 25 de dezembro 156
São João – 24 de junho 159
Páscoa – data móvel 161
Michael – 29 de setembro 163
Aniversário 165
Palavras Finais 169
Bibliografia 173
Primeiras Palavras
Partindo das nossas vivências e experiências como profissionais,
realizando orientação de pais e, também, como mães, nós - Rosemeire
(pedagoga) e Sandra (psicóloga) - decidimos compartilhar este aprendizado
profissional e pessoal por meio de: A ARTE DE EDUCAR EM FAMÍLIA.
Inicialmente, A Arte de Educar em Família constituiu-se em um curso de
dez encontros, com temas selecionados. Cada encontro trazia um assunto
específico, que era apresentado de forma teórica e vivencial. Os pais
refletiam sobre o conteúdo e compartilhavam suas vivências, questões,
ansiedades e expectativas a respeito da educação dos filhos.
Com as experiências trocadas nos cursos, os pais realizavam mudanças
nas suas vidas familiares. Os testemunhos relatados por eles nos motivaram a
continuar este trabalho. Em uma avaliação, ao final do programa, um dos pais
nos disse, com veemência: “É muito importante divulgar esse conteúdo tão
relevante, que vocês trazem de uma forma pragmática e simples”. Isso foi
fundamental para impulsionar a produção de A Arte de Educar em Família
em forma de livro.
Os capítulos são inspirados nos temas abordados nos encontros. Este não
é um livro teórico-didático. Damos algumas sugestões, mas longe de definir o
que é certo ou errado. Acreditamos que cada um possui a sua verdade e seus
valores familiares.
Constituir família e educar filhos é uma tarefa desafiadora. E o que é
família, hoje?
Ao tentar responder a pergunta, há quem prefira: “Família é um núcleo de
amor, uma oficina para a vida”. Outros buscam uma definição mais objetiva:
“Família é uma manifestação de agrupamento, que diferencia os homens dos
outros animais”. De um modo ou de outro, as conclusões costumam variar
em cima de um mesmo tema. A partir de nossa experiência, chegamos a uma
definição prática e atual: “Família é um conjunto de pessoas que, unidas por
um afeto, se autodesenvolvem a partir da convivência, lidando com vitórias e
derrotas. Podem viver ou não sob o mesmo teto, e serem consanguíneas ou
não”.
Se você está lendo este livro, muito provavelmente está querendo
constituir família, ou já tem filhos e anda pensando na melhor forma de criá-
los. Muitas dúvidas surgem, isto é natural.
Quem é pai ou mãe sabe que, durante todo o processo de educação de
uma criança, devemos fazer importantes escolhas. Só que, muitas vezes, não
há tempo para refletir sobre um caminho a ser tomado. Aí se pode acertar ou
errar. Mas quem quer errar na educação do próprio filho?
Às vezes agimos como nossos pais agiram: “Eles passaram pelas mesmas
aflições, e cá estou eu”, você pensa. Entretanto, o desafio dos pais de hoje é
traduzir os valores e hábitos que herdamos para o contexto atual, mas de olho
no futuro que vem por aí. O século 21 trouxe inovações com as quais ainda
estamos aprendendo a lidar.
Quando se observa a evolução da família, ao longo da história, percebe-se
que os filhos, na verdade, não tinham tanta importância assim. No final do
século 17, por exemplo, a relação entre pai e filho era quase nula, porque as
crianças não ocupavam o centro da relação entre marido e mulher.
Essa visão mudou com a Revolução Industrial, no século 18. A família
diminuiu sua relação comunitária e se fechou em casa. O trabalho tornou-se
uma atividade prioritariamente masculina e a mãe acabou ficando com os
deveres do lar. Entre estas obrigações estava o bem-estar da criança.
Atualmente, a realidade é diferente: surgem novas e variadas formas de
constituições de núcleos familiares. As famílias possuem características
peculiares, e estão mais fechadas em seu próprio núcleo, apesar da
comunicação globalizada. A relação entre o casal ocorre com maior exigência
de ordem social, profissional, emocional e sexual. Os filhos ganham um novo
espaço na família. Os papéis de cada um na relação familiar se modificaram.
Assim, educar os filhos exige que busquemos novas formas, fazendo escolhas
para encontrarmos o equilíbrio entre as exigências do passado e a abertura
vivenciada nos dias de hoje.
Por isso, nas páginas seguintes, colocamos à disposição aspectos do
desenvolvimento e da educação da criança, criando um espaço de reflexão e
visando contribuir para que cada um encontre, a partir da sua própria
experiência, a sabedoria de educar seus filhos.
Esperamos que vocês aproveitem. Boa leitura!
O Desenvolvimento
do Ser Humano
Olhar de criança, no colo balança.
Ciclo. Dança.
A alma encanta, futuro alcança.
A fala: mansa... Ouvir a canção.
Esperança.
Calor no coração!
Rosemeire Laviano
É claro que não se trata de uma divisão rigorosa, mas ajuda muito a
entender como funciona a evolução de uma pessoa. Vamos retomá-la,
mostrando que a divisão pode ser subdivida, mantendo as três fases.
Vejamos, por exemplo, nos três primeiros setênios:
Seguindo o mesmo raciocínio, podemos reduzir a linha do tempo para
sete anos e, ainda assim, perceberemos que há a presença das três.
Essa linha do tempo pode ser encurtada até o período de três anos, para
que notemos que cada ano de nossas vidas é dedicado a um movimento, seja
o de experimentar, conversar ou interiorizar. Uma criança de dois anos está
no seu momento de conversar. Não é à toa que é, justamente nessa idade, que
ela desenvolve a fala.
Este raciocínio pode ser aplicado para qualquer fase da vida, basta fazer
as contas. Um adulto de 45 anos, por exemplo, passa por uma fase de muita
reflexão porque está em uma época de interiorização.
Um Olhar Para o Desenvolvimento
Nos Três Primeiros Setênios
No primeiro setênio, do nascimento até 7 anos, podemos observar que a
criança se desenvolve por meio do ato de “experimentar”, com uma intensa
vontade de conhecer o mundo que a cerca em diferentes níveis. Este ato de
experimentar o mundo ocorre através da vontade e do movimento, com
predominância do sistema metabólico-motor. Não é por acaso que, nesta
época, as crianças agem sem pensar, com o seu instinto, e atuam
principalmente com os braços e pernas. Nossas sábias avós já diziam: “O
juízo da criança está nas canelas”. Figurativamente, neste período, a criança
aprende a ANDAR na vida.
No segundo setênio, dos 7 aos 14 anos, a criança entra na fase do
“conversar”, isto é, conversar no sentido de trocar. A criança que já
experimentou o mundo de uma forma vivencial, agora quer trocar as suas
experiências próprias com o universo que a cerca. Possui um entusiasmo
natural pela vida e quer aprender, conhecer e entender como o mundo
funciona, saber as leis da natureza, os códigos sociais, etc. A vontade de
conhecer se liga ao entusiasmo. Conhecer com entusiasmo traz um pulsar da
respiração e do coração, processo que acontece através do sistema rítmico e
está relacionado ao sentir. Figurativamente, neste período, a criança aprende
a FALAR na vida.
No terceiro setênio, dos 14 aos 21 anos, a criança, que agora já é um
jovem adolescente, entra na fase do “interiorizar”, em que a vontade está
relacionada aos seus desejos. Ele está ligado aos seus pensamentos e às suas
ideias - este processo acontece, predominantemente, por meio do sistema
neurossensorial. É quando os jovens começam a refletir, contestar e
questionar o mundo, e se perguntam: “Quem sou eu neste mundo?”.
Começam a descobrir os seus ideais de vida. Figurativamente, neste período,
o adolescente aprende a PENSAR sobre a vida.
Nesses três períodos da vida, o ser humano construiu a sua casa e reuniu a
bagagem para sair para a viagem da vida. Somente então é que podemos
dizer que o EU de uma pessoa está pronto para vivenciar no mundo a sua
própria individualidade.
Existe uma história dos colonizadores da América do Norte, a qual as
crianças gostam de ouvir, chamada “Joãozinho Semente de Maçã”, que nos
remete à ideia do desenvolvimento humano e a influência dos pais.
“Era uma vez um menino chamado Joãozinho. Ele gostava muito de comer maçãs e ficava
muito feliz ao ver as pequenas sementinhas marrons e lustrosas que dormiam, lá dentro, em
cinco quartinhos. Um dia sua mãe lhe contou que cada uma dessas sementinhas poderia
transformar-se numa macieira, se fosse posta na terra, aquecida pelo sol, regada pela chuva e
abençoada por Deus.
Joãozinho então começou a juntar as sementinhas e todo mundo chamava-o de Joãozinho
Semente de Maçã. Quando já havia juntado uma boa porção, pediu à sua mãe: - Por favor,
mãezinha, costura-me uma bolsinha em que eu possa guardar as minhas sementes!
A mãe pegou um retalhinho de pano e costurou uma bolsinha e Joãozinho pôs as sementes lá
dentro.
Quando a bolsinha ficou cheia, ele foi falar com sua mãe: - Por favor, mãezinha, costure uma
bolsa maior para as minhas sementinhas!
A mãe pegou um retalho maior, costurou uma bolsa maior e Joãozinho pôs as sementinhas
nela. E quando essa bolsa ficou cheia, Joãozinho foi pedir mais uma vez à sua mãe: - Por
favor, mãezinha, costure uma bolsa maior para minhas sementinhas!
Depois que essa bolsa ficou cheia, ele foi pedir mais uma vez, e ela então pegou um pano bem
grande e costurou um grande saco.
Quando este saco ficou cheio, Joãozinho já era João, um jovem, e disse à sua mãe: - Agora
irei pelo mundo e plantarei as sementes, para que todas as crianças possam alegrar-se com as
maçãs.
E preparou-se para a viagem: sapatos ele não tinha, mas ele estava acostumado a andar
descalço e as solas de seus pés estavam bem grossas. Na cabeça pôs uma panela, numa mão
levou o bastão, no ombro o saco com as sementes. Mas levava também um livro cheio de
orações e histórias santas, para pedir a bênção de Deus.
Assim disse adeus à sua mãe e saiu cantando:
O bom Deus cuida de mim,
e vou cantando assim:
Agradeço os seus presentes,
a chuva, o sol e as sementes.
Por onde João Semente de Maçã passava, ele plantava as sementinhas. Às vezes ele passava a
noite numa fazenda ou ficava uns dias ajudando por lá. Quando se despedia, espalhava
sementinhas de maçã em volta da casa. Eles teriam um belo pomar algum dia!
E ele continuou caminhando, caminhando, sempre seguindo o sol, até que um dia não pôde
continuar: ele havia chegado ao mar. E o saco estava vazio. Durante o inverno ficou morando
com uns amigos e na primavera quando tomou o seu caminho para voltar para casa, a
primeira plantinha já havia crescido e não era maior que seu dedo mindinho. As próximas
plantinhas já tinham o tamanho de seu dedo anular, outras estavam como o dedo médio, e
algumas já tinham o tronco da grossura de seu polegar. Continuou andando e foi encontrando
árvores cada vez maiores, primeiro do tamanho de sua mão, depois do comprimento de seu
antebraço, e do comprimento do seu braço todo. E cada vez maiores estavam, até que chegou
em casa; lá as árvores estavam da altura dele. Sua mãe ouviu-o chegar cantando:
O bom Deus cuida de mim,
e vou cantando assim:
Agradeço os seus presentes,
a chuva, o sol e as sementes.
Ela correu a encontrá-lo e deu-lhe uma maçã que havia amadurecido nas suas árvores.
Essa é a história de Joãozinho Semente de Maçã.”
Texto extraído do livro Conte outra vez – Contos rítmicos, volume 1, traduções Karin Stasch.
• Desenvolvimento da
motricidade
• Cabeça, tronco, pernas • Parto natural
• Sustenta a cabeça, • Amamentação
senta-se e anda • Esperar a conquista
• Dá ordem e direção ao • Não fazer antes, não fazer por ela
movimento • Não colocá-la em andador
• Conquista a postura ereta • Utilizar gestos plenos de presença, com ternura
• Conquista o espaço
• Estimulação neurossensorial
Chega a adolescência!
Com ela, transformações ocorrem. Fisicamente, o corpo da criança muda
com a diferenciação da atividade dos hormônios feminino e masculino.
Mudam também todo o seu comportamento, suas emoções e ideias.
A maturação sexual surge como um marco importante nesta fase. O
adolescente descobre, cada vez mais, o ser mulher e o ser homem, e deseja
vivenciar esses papéis em todas as dimensões. Mas, calma: sobre a
sexualidade falaremos mais, em um capítulo à parte.
O anseio pela autonomia torna-se agora uma busca que se apresenta nas
pequenas atitudes: tomar um ônibus sozinho, fazer viagens só com os amigos,
ir para as primeiras festas que se estendem noite afora, enfrentar uma fila
imensa só para ver o ídolo favorito, trabalhar para conseguir o seu próprio
dinheiro, etc.
Assim como as organizações física e vital estão relacionadas com o
primeiro e segundo setênios, agora a organização anímica está à disposição e
impulsiona a manifestação do Eu, que busca entrar no mundo adulto. Aparece
a vontade de adquirir independência, viver as próprias sensações; quer
descobrir, explorar, conquistar o mundo, e se torna idealista. Descobre os
conceitos de justiça, amor, lealdade e igualdade, entre outros, e procura
entender seus significados verdadeiros e como são vividos.
Entretanto, o jovem vivencia intensamente sentimentos polares. Aparece
uma saudade do tempo de criança, ao mesmo tempo em que quer se
distanciar dele; uma euforia se mistura com uma melancolia; uma vontade de
realizar ideais com um marasmo paralisante. Essa vivencia de ambivalência é
natural, e aparece em todos, nos introvertidos e nos extrovertidos,
independentemente de percebermos ou não. Mesmo aqueles que aparentam
uma calma e tranquilidade também estão imersos nesse tumulto interior.
Isso faz com que o adolescente anseie por uma compreensão geral do
mundo e da sua posição dentro dele. Está na fase de interiorização, isto é,
tomar consciência de si próprio, do mundo que o cerca e de suas relações.
Algumas questões surgem: “quem sou eu?”, “que mundo é este em que
vivemos?”, “quem e como são os meus pais?”, “quem são os meus
verdadeiros amigos?”, “para onde eu vou?”, “o que é verdadeiro nas pessoas
e no mundo?”, “não seria tudo uma ilusão, até eu mesmo?”
Durante este período, o jovem vive e percebe o contraste do mundo. Por
vezes, é atraído por imagens do bem, quer ser um indivíduo que luta pela
igualdade e pela justiça. Por outras, é atraído por imagens adversas e, mesmo
que se sinta assustado, quer vivenciá-las. A fascinação pelas polaridades:
poder, violência, mentira, bondade, sinceridade, empatia e igualdade social
são vividos como opções de mesmo valor. Por exemplo: eles são capazes de
apreciar MPB com ricas construções para falar de amor, ao mesmo tempo em
que um funk que fala explicitamente de sexo.
Os adolescentes vivem entre essas duas polaridades constantemente, e
têm dificuldade de decidir por uma delas. Experimentam diversas
possibilidades e subestimam os perigos e os riscos que elas oferecem:
“comigo nunca vai acontecer”; “eu tenho controle sobre a situação... e paro
na hora que eu quiser”. Gostam de vivenciar o limiar do perigo, para
descobrirem até onde são capazes de ir.
Uma característica marcante nesta época é a necessidade de conhecer as
verdades do mundo. E isso começa pelas verdades reveladas pelas atitudes de
seus pais e dos adultos ao seu redor. “O que meus pais e professores falaram
e falam para mim, até hoje, corresponde de fato às suas atitudes?”. O jovem
precisa reconhecer a coerência de vida dos adultos para respeitá-los e
acreditar neles.
Além disso, é preciso ajudar o jovem a desenvolver senso crítico em
relação ao mundo. É uma época de fazer escolhas e tomar decisões em um
âmbito social maior e mais complexo do que a família e a escola. Assim,
começa a construir a sua própria história de vida.
Essa é a razão pela qual os pais devem permitir que seus filhos tomem
mais decisões e arquem com as consequências. Ser pai e mãe, neste
momento, é assumir um papel de coadjuvante nas escolhas dos filhos,
ajudando-os a refletirem, e trazendo elementos para contribuir nas decisões.
Devem usar a sua sabedoria de vida para apresentar as vantagens e
desvantagens em cada um dos caminhos a serem escolhidos.
O adolescente precisa aprender que o tamanho da sua liberdade
corresponde ao tamanho da sua responsabilidade. Na medida em que os pais
percebem que o jovem tem responsabilidade e assume consequências, devem
deixá-lo fazer as próprias escolhas. No entanto, é preciso ressaltar que, em
algumas situações, os jovens precisam de limites, e ainda há decisões que
devem ser dos pais.
Mas como fazer para evitar que seu filho acabe caindo em determinadas
armadilhas da vida, sem ser invasivo o bastante para perdê-lo de vez? Uma
destas formas é acompanhar as amizades dos filhos de perto. Faça questão de
conhecê-los, convide-os para sua casa, estabeleça contato com os pais deles.
Essa intimidade ajudará a conhecer com quem seu filho está se relacionando
e isso será fundamental no caminho que ele escolherá.
Essa aproximação surtirá mais efeito se os pais tiverem trabalhado o
limite com os filhos, nos dois primeiros setênios. Lembre-se de que limite
tem relação direta com segurança. É justamente isso que ele precisa ter
quando se deparar pela primeira vez com a possibilidade de experimentar ou
não um cigarro de maconha. “Mas eu sempre ensinei que ele deve ficar longe
de drogas, e ele já sabe disso”, dirá um pai desavisado. Não devemos ter a
ilusão de que a educação por meio de discursos que demos até agora para
nossos filhos é suficiente para imunizá-lo.
Acontece que, no terceiro setênio, o adolescente está lapidando sua
individualidade, e sua primeira manifestação é grupal. Basta ver como os
meninos e meninas de 15 e 16 anos costumam associar-se a grupos de
interesse comum e cultivar os mesmos gostos. Viver no limiar e com
adrenalina faz parte dos sinais naturais da adolescência: ele precisa disso para
construir a sua identidade, com os seus próprios juízos de valores.
O ensinamento consolidado do limite irá contrapor-se com uma
característica muito presente neste terceiro setênio: o princípio do prazer. A
adolescência é a fase de vivência de sensações e prazer puro e simples. O
jovem que tem seu limite trabalhado terá mais possibilidades de saber quais
os momentos corretos para agir de acordo com o princípio do prazer ou de
acordo com suas responsabilidades. Aprende a fazer escolhas e assumir as
consequências das mesmas, entrando assim para a vida adulta.
Educar está longe de ser apenas uma aplicação de conceitos e regras
predeterminadas. Preferimos compreender a educação por meio da imagem
de uma pintura que se torna uma obra de arte.
Nesse processo, vamos pincelando em uma tela várias tonalidades. Três
correntes de tonalidades compõem esta obra: hereditariedade, ambiente e
individualidade. A hereditariedade é o pano de fundo da tela. O ambiente é a
atuação dos pais nos três primeiros setênios. A individualidade é o que o
dono da tela faz com ela depois dos 21 anos, quando ele próprio pincela e é
responsável pelo colorido que quer dar para a sua própria história.
A tela do filho, que antes era pintada principalmente pelos pais, agora é
pintada por ele mesmo, acrescida de uma mescla do colorido da própria vida,
da qual os pais fazem parte. A partir dos 21 anos é o momento em que os pais
começam a observar o filho pincelando a sua tela cada vez mais por si
mesmo.
Depois de conhecer um pouco destas três primeiras fases de vida, você
deve estar com muitas perguntas, tais como: E agora, como avaliar a
educação que estou oferecendo para o meu filho? O que preciso modificar, e
como? O que minhas atitudes geram nele?
Calma, ainda há tempo para começar de novo. O quadro da vida sempre
pode ser refeito pelos pais e, mais tarde, pela própria pessoa. Parar e observar
a obra é necessário. A tela pode receber novas cores, ao percebemos que falta
alguma. Novas tonalidades podem ser descobertas e criadas, outras
transformadas… Basta observar para ver o que está faltando e, depois, ir para
a ação. Ou seja: vá repintar a tela da vida!
Várias atitudes podem contribuir para sua ação no cotidiano. É justamente
sobre isso que falaremos nos próximos capítulos.
Hora de ir dormir
• Prepare o ambiente para uma boa noite de sono. Conforme a hora de deitar for se aproximando,
diminua as luzes. Apague o máximo possível de luzes da casa. Para quem quiser continuar acordado,
fechar a porta do cômodo pode ser uma alternativa.
• Faça o seu filho notar que a noite chegou. Contemplar a noite pela janela é simples, e ajuda a
perceber que a hora de se deitar está próxima. Veja a lua. Já apareceu a primeira estrela? Observar
ajuda a criar uma ligação com os ritmos da natureza.
• Evite deixá-lo em frente à televisão, computador, jogos eletrônicos ou videogame momentos antes de
ir deitar-se. Estes aparelhos inibem o sono. Desligue qualquer equipamento eletrônico que possa
atrapalhar o sono.
• Evite atividades físicas e brincadeiras que agitem ou que sejam de natureza estimulante no final do
dia.
• Antes de colocá-lo para dormir, uma massagem com óleo de lavanda, nas panturrilhas e nos pés,
pode ajudar.
• Aqueça os pés e a barriga quando ele já estiver na cama.
• Cante canções de ninar. É gostoso dormir ao som da voz materna ou paterna.
• Contos de fadas também são aliados para a hora de dormir. Em um tom de voz calmo, conte uma
pequena história. Caso o seu filho já saiba ler, é um bom momento para ter uma leitura a dois, ou ler
sozinho.
• Dê-lhe um beijo de boa noite e retire-se do quarto.
“Mas não fica chato fazer as refeições todo dia na mesma hora ou colocar
meu filho para dormir sempre do mesmo jeito?”. Lembre-se de que um dia,
uma semana, um mês ou um ano jamais é igual ao outro.
Muda o clima, a cor do céu, o som da rua, o humor das pessoas... E, por
incrível que pareça, nem você nem seu filho são os mesmos, há sempre
espaço para novidades.
Associados aos momentos diários, também temos outros eventos
semanais, mensais e anuais, que podemos aproveitar para fazer com que a
criança se aproprie do tempo e do espaço, notando as diferenças de cada
lugar e de cada período.
Momentos semanais
Repetir a ação semanalmente cria alegria e bons sentimentos que ficam
“gravados” no coração. Para isso, estabeleça alguma atividade que se repetirá
sempre no mesmo dia. Por exemplo: todo sábado é dia de piquenique, ou toda
quarta é dia de ir passar a tarde na casa da vovó.
Momentos mensais
Repetir uma ação mensalmente revitaliza e traz entusiasmo. Sugestões: ir
viajar, participar de alguma ação social, ir a um concerto musical, etc.
Momentos anuais
No ritmo anual, temos as férias, quando toda a família pode ir várias
vezes para o mesmo local, gerando gostosas lembranças para carregar na sua
vida. Temos também os aniversários, as festas religiosas, as estações do ano,
etc.
Para que estes momentos se tornem conquistas efetivas, a persistência é
necessária e importante. Se repetirmos a ação diariamente, durante uma
semana, atuaremos na organização anímica. Se a repetirmos durante um mês,
essa repetição atuará na organização vital. Se o fizermos durante um ano,
atuaremos na nossa organização física. Se reafirmarmos a nossa decisão e
realizarmos a ação com presença efetiva todos os dias, estaremos atuando no
Eu, fortalecendo a vontade e a individualidade.
Ao realizar qualquer ação, tanto consigo mesmo ou com o outro, é
importante que estejamos vivenciando a situação de “corpo e alma”.
Um exemplo prático pode ser tomado para ajudar a clarear as ideias:
depois de um longo dia de trabalho, você chega em casa com uma série de
coisas para resolver. Logo que encontra o seu filho, que passou o dia inteiro
longe de você, ele começa a requisitar sua atenção. Como não dá para deixar
as tarefas de lado, resolve lançar mão da sua capacidade de fazer mais de uma
coisa ao mesmo tempo, e inicia uma conversa com ele ao mesmo tempo em
que escreve um e-mail. Passa-se um tempo, você já eliminou alguns afazeres,
e ele continua pedindo atenção. Este é o exemplo de rotina que desgasta tanto
os pais, que dificilmente conseguem se concentrar, quanto os filhos, que
percebem que estão ficando para escanteio e continuam procurando atenção.
O mesmo exemplo pode ter um desfecho diferente para ambos. Basta que
os pais separem um tempo para dedicarem-se, inteiramente, ao filho. Desta
forma, sua necessidade de afeto ficará saciada com a qualidade de interação
no tempo que vivenciou com os pais.
Basicamente, os cuidados que os pais devem tomar estão relacionados a
um princípio: quando estiver com seu filho, dedique-se a ele. Isto significa
que podem fazer algo, garantindo a qualidade da relação em que ambos
estarão vivenciando plenamente o momento presente.
“Quando estamos condicionados pelo pensamento linear, só conseguimos ver em linha reta.
Mas quando observamos o dia, o ano e as estações, percebemos que todos são ciclos que
definem o ritmo de nossas vidas. Nesses ciclos há conclusão e continuidade. Se olharmos
como se move uma roda, veremos que existe beleza, perfeição e harmonia em seu ritmo. Ela
sempre se volta para si para começar de novo. Neste ponto, passado é futuro, futuro é passado
e presente é o encontro dos dois, o momento chamado agora.”
Brahma Kumaris
Calma, é bem provável que, depois de ler até aqui, você já queira mudar o
ritmo de sua vida. Lembre-se de que quando queremos fazer uma mudança,
não dá para ser tudo de uma vez só. Temos que escolher um momento e
iniciarmos por ele. É um passo após o outro...
O fluir da vida requer pausas. É como o ritmo da respiração: entre a
inspiração e a expiração vive a pausa. O ritmo, independentemente de ser
diário, semanal, mensal ou anual, deve sempre ser permeado por pequenos ou
grandes momentos de pausa, pois ela constrói a ponte entre uma ação e outra.
Assim, um momento de recolhimento durante o dia, um descanso, o final de
semana, ou mesmo as férias, são algumas pausas das quais necessitamos para
o equilíbrio da vida.
“Atenta às pausas, às pequenas que inesperadamente o destino com frequência te concede!
Um dia o que há de vir chegará assim!”
Friedrich Doldinger
Tu que reinas
Acima das estrelas,
Faz-nos dignos de receber com devoção
O que a terra nos dá.
Helene Ganster
2. Emocional
As refeições são um despertar do prazer dos sentidos, da alegria de viver,
da realização e satisfação. A alimentação é uma das fontes de reposição da
vitalidade e energia, que levam a um bem-estar. Não se trata de um bem-estar
apenas físico, mas também emocional.
Quantas vezes, após uma refeição, nos sentimos mais felizes e satisfeitos
com a vida? Quem não se lembra do cheiro da comida da vovó? Que delícia!
Quantas saudades e recordações nos trazem almoços e jantares de que já
participamos...
Essa relação afetiva com o alimento inicia-se mesmo antes do
nascimento. O prazer e a plenitude já existem na vida intrauterina. A partir do
momento da concepção, através do cordão umbilical, o bebê recebe o
alimento de forma aconchegante e confortável. Neste ambiente, as influências
do estado emocional da mãe atuam diretamente no bebê.
A amamentação revela-se como primeiro alimento de natureza humana
que precisa ser buscado. Daí a importância de se criar um ambiente propício
para este momento. Ao amamentar, ou oferecer a mamadeira, concentre-se no
que está fazendo. Telefonemas, conversas paralelas ou até mesmo a televisão
competem com a sua presença no ato. Colocar atenção e presença na ação
traz saúde física e emocional. De uma maneira natural, estes cuidados
permitem uma relação cooperativa. Assim, o ato de alimentar cria um vínculo
amoroso entre pais e filho, construindo alicerces afetivos importantes para a
formação do ser humano.
Nesta relação entre alimentar e ser alimentado, descobrimos que a vida é
uma eterna troca de afetividade e doação, e que precisamos uns dos outros, ao
mesmo tempo em que vivemos uns para os outros. O preparar e o servir ao
outro com prazer é uma aprendizagem que ocorre no âmbito inconsciente, e
que carregamos para a vida.
A alimentação permeia o desenvolvimento emocional da relação dos pais
com os filhos de várias formas. Por exemplo: durante a amamentação, é o
esforço da criança e a entrega paciente e amorosa da mãe. Outra é o
sentimento de satisfação ao ver o filho crescer alimentando-se de forma
saudável. Alimentar bem e de maneira equilibrada deve ser um desejo
importante dos pais.
Por outro lado, as crianças podem testar os pais pela alimentação, pois
sabem que este fator toca profundamente o âmago deles. A criança percebe e
pode utilizar isso como meio de autoafirmar-se: “Não quero isso, não gosto
daquilo, não quero comer nada...”. Quando, por palavras ou gestos, nossos
filhos se recusam a comer, já ficamos preocupados, muitas vezes acabamos
cedendo e eles assumem as rédeas da própria dieta. Nós, pais, devemos
discernir se é um teste de limites ou se é uma característica individual, e lidar
a tempo com estas situações. Devemos evitar uma relação de conflito e,
menos ainda, deixar que eles decidam a qualidade da sua alimentação.
Os sentidos, principalmente paladar, olfato, tato e visão, têm uma relação
direta com a alimentação. Os sentidos e as vivências relacionadas a eles
dependem da história individual de cada um e do hábito familiar aprendido.
Existe uma relação entre a característica individual e as preferências
alimentares.
Desta maneira, cada criança, de acordo com seu temperamento, possui
preferências alimentares que devem ser observadas e respeitadas pelos pais.
Uma criança pode apreciar mais certo tipo de sabor dentre outros, como
ácidos, amargos ou adocicados, e outra ainda pode preferir alimentos
salgados. É claro que, para que ela possa nos mostrar e eleger suas
preferências, é preciso que tenha experimentado todos mais de uma vez.
Ainda é preciso lembrar que é possível que, quando adolescente, o filho
rejeite os preceitos alimentares da família. Isso faz parte de um processo
natural do desenvolvimento.
Daí a importância de os pais, desde a mais tenra idade, apresentarem as
cores e sabores naturais pertinentes ao mundo dos alimentos, para que, mais
tarde, na vida adulta, eles possam escolher conscientemente sua alimentação.
3. Físico
A alimentação variada e de boa qualidade propicia ao ser humano um
bom amadurecimento físico e o fortalecimento da vitalidade. A escolha
correta da alimentação auxilia o ser humano a desenvolver as capacidades
necessárias para a sua atuação no mundo.
Uma alimentação sem diversidade e critério leva à saturação do
organismo, enquanto que a variedade propicia saúde, suprindo as diferentes
necessidades do corpo. O organismo requisita forças diferenciadas para
digerir os diferentes alimentos. O crescimento, formação e funcionamento do
organismo dependem desta variedade. As forças originadas neste processo se
transformam em potencial, um patrimônio da saúde, para serem usadas
quando houver necessidade no futuro próximo ou longínquo.
Qual a primeira reação ao se deparar e experimentar algo novo,
desconhecido, senão estranhar e negá-lo? É justamente isso o que faz uma
criança que nunca se deparou com uma beterraba e, em um jantar, encontra
algo avermelhado no prato. É natural que ela tenha receio e se recuse a
comer, evitando enfrentar as dificuldades aparentes em experimentar um tipo
novo de comida. Neste momento, alguns pais acabam oferecendo uma
alternativa de fonte de energia de mais fácil aceitação, só para que a criança
coma alguma coisa - por exemplo, uma batata frita, um biscoito ou um lanche
de fast-food.
Se este tipo de atitude se repete, ela acostuma-se nesse caminho fácil, o
problema se estabelece e acaba se tornando um hábito inadequado. A criança
sabe que basta negar a novidade que lhe será ofertada e receberá um alimento
mais prazeroso, com o qual já está familiarizada. Isso faz com que o
organismo acabe saturado da mesma fonte de energia. As consequências
poderão ser diversos tipos de doenças, tais como obesidade e colesterol, que
acometem o ser humano não só em uma fase adulta do desenvolvimento, mas
também na infância. O caminho é mais fácil para ambos os lados, mas além
de prejudicar o físico, também acaba enfraquecendo a força de vontade da
criança. No final das contas, leva a um enfraquecimento global.
Já se tem conhecimento de que crianças mal alimentadas qualitativamente
são mais suscetíveis de se tornarem hiperativas ou terem problemas de
comportamento. Deficiências nutricionais, açúcares refinados e carboidratos,
resíduos pesticidas, conservantes e corantes artificiais têm sido todos
associados a alterações de pensamento, comportamento e desordens, como
déficit de atenção e hiperatividade.
Uma alimentação equilibrada e completa, em termos nutritivos, é
essencial do ponto de vista da saúde, crescimento e desenvolvimento
adequados.
A relação criança-alimento
Mas como fazer com que o nosso filho coma os alimentos saudáveis da
melhor maneira possível? De que maneira ensinar nosso filho a lidar com
uma dieta variada? Qual, então, é a saída para bebês ou crianças que recusem
estas experiências alimentares?
Não há motivos para desespero. Ter paciência, experimentar diferentes
estratégias e até mesmo deixar que sinta fome! A criança não morrerá, nem
adoecerá por isso. O importante é sempre oferecermos um alimento saudável
na hora certa. Lembremos: coerência, repetição e ritmo é que formam hábitos
saudáveis. Para tudo é necessário um tempo, e cada criança tem o seu. É
preciso esperar e persistir!
Distraí-la com a televisão, embora seja uma tática muito difundida, faz
com que não preste atenção no que está comendo ou coma rápido demais,
sem mastigar adequadamente e sem sentir o sabor. Também faz com que não
participe do social familiar, e adquira uma atitude passiva diante do ato de
comer, ou seja, não está presente no ato de comer. Esta atitude é
extremamente nociva e forma hábitos alimentares prejudiciais à sua saúde.
O ideal é encontrar uma porta de entrada para que a criança aceite
experimentar sensações novas, sem que ela associe o momento de comer a
algo traumático. Por este motivo, forçá-la não vale a pena. Que tal sugerir
com jeito? Tente fazer com que ela sinta vontade de vencer o desafio: “Coma
esse pedaço...”, é uma ideia. E, quando ela comer, valorize o feito. A criança
se sente forte quando consegue provar o desconhecido, vencendo um desafio.
Às vezes, esta porta de entrada aparece com o humor, uma brincadeira ou
uma história. O recurso imaginativo das histórias é muito eficiente na
alimentação das crianças pequenas. Aqui vão algumas sugestões: a casa
precisa de tijolos, então a carne será o tijolo, o arroz será o cimento, o
brócolis será a árvore do jardim, e assim por diante; uma maçã cortada de
diferentes maneiras pode se tornar um barquinho, uma coroa de rei e, se
cortada ao meio, na horizontal, nela se encontra uma bonita estrela. Faça suas
próprias descobertas: a criança, em geral, dá as ideias. Falar por imagens é a
linguagem da criança pequena, e é com ela que desenvolvemos hábitos.
Depois de incorporados, esse recurso torna-se desnecessário. Como dizem as
avós: “É de pequenino que se torce o pepino”.
Cozinhar junto com a criança é extremamente saudável, embora não seja
muito prático. Além de intensificar a convivência com os filhos, ela
desenvolve uma relação de respeito e curiosidade com o alimento. É claro
que os pais não deverão deixar que a criança opere um fogão, mas se o
cardápio do almoço prevê um purê, por que não deixá-la amassar as batatas?
Ela não será tão rápida quanto você seria, mas não é preciso duvidar que sua
vontade de comer o purê será maior.
“Mas meu filho, quando cozinha comigo, acaba sempre levando os
alimentos crus à boca. O que fazer?” E não é justamente essa curiosidade de
experimentar o novo que você está querendo desenvolver nele? Beliscar faz
parte do processo de cozinhar, e é saudável. “Ele não vai perder o apetite?” É
claro que não adianta exagerar, mas nada que não seja resolvido dizendo:
“Vamos esperar a comida ficar pronta”.
Outro fator que aguça a fome e a vontade de experimentar o alimento é o
tempo que se espera para comê-lo. Paciência é uma virtude que ficou
desestimulada com a invenção do delivery e do fast-food. É tão bom sentir
aquele cheiro apetitoso que nos faz salivar! O aroma aguça o olfato e
estimula o apetite.
A quantidade de comida que se oferece para a criança também interfere
na formação da relação dela com o alimento e o hábito de alimentar-se. O
ideal é que se coloque pouco no prato, para que perceba que já comeu tudo e
tenha vontade de repetir, se for o caso. Se o prato tem comida demais e o
resto vai para o lixo, o respeito pela comida vai também; também não adianta
enchê-lo até as bordas e exigir que não sobre um grão de arroz. Isso fará com
que a criança atribua o ato de comer a uma experiência desgastante. Neste
caso, basta servi-la com porções modestas e variadas. Assim, a refeição se
torna um momento agradável, que tem um início, meio e fim que a criança é
capaz de realizar.
A verdade é que quanto mais próxima for a relação da criança com o
alimento, desde sua origem até ser servido, maior será sua vontade de comê-
lo. Sorte daqueles pais que possuem uma pequena horta em casa e podem
plantar, junto com os filhos, uma cenoura ou um pé de alface. Aguçar os
sentidos também é uma grande saída para ajudar a criança a comer os
alimentos saudáveis, da melhor maneira possível, e de ensiná-la a lidar com
uma dieta variada.
A variação alimentar também está relacionada à energia que os alimentos
são capazes de transmitir. Em uma associação rápida, um prato que apresenta
um aspecto colorido é alegre. Outro, que tem apenas tons amarelos, pode não
ser tão divertido. Neste caso, o sentido da visão também é requisitado. Existe
até o ditado popular que diz “comemos com os olhos” ou “só de olhar, já dá
água na boca”.
Mais um motivo para variar os alimentos é a diversidade de texturas, que
faz com que os músculos usados para mastigação não sejam sempre os
mesmos. Isso faz com que o organismo faça esforços diferentes para lidar
com diferentes tipos de substâncias. E não é assim na vida? Não temos que
enfrentar vários tipos de problemas, e nos desdobrar para isso? Este caminho
difícil, mas prazeroso, trilhado no processo de alimentação, permite que a
criança desenvolva um vigor, que está altamente relacionado à sua força de
vontade no viver. Para que esta relação seja intensificada, é importante que os
pais ofereçam o alimento natural e não disfarçado. Um leite com groselha ou
chocolate, por exemplo, é muito mais atraente para a criança, mas não é o
leite em si. Seu aspecto e gosto são mascarados. Lembre-se de que, na vida,
os problemas não vêm disfarçados, mas crus, esperando para serem
mastigados e digeridos.
Este hábito, de lidar com o esforço na hora de comer, traz melhores
resultados se já for incentivado desde a amamentação. Aliás, amamentar deve
ser um processo de paciência da mãe, e de força de vontade do filho. Para que
ele consiga sugar todo o leite, é preciso se esforçar, e isso demanda uma
dedicação da mãe. Isso torna a atitude de alargar o bico da mamadeira,
alegando que o bebê não consegue sugar o leite, não recomendável. Além de
não incentivar a força de vontade, atrapalha o processo de desenvolvimento
da respiração e musculatura do rosto. Os resultados decorrentes disso são
uma má formação dentária e respiratória.
O ser humano, ao se alimentar, além de garantir a sua sobrevivência e
desenvolver o sistema digestivo, desenvolve outro aspecto que é o
relacionado à fala. O desenvolvimento da fala está sujeito também ao modo
como cada um se alimenta. As estruturas orais desenvolvidas na mastigação e
na fala são exatamente as mesmas. Os movimentos corretos executados na
alimentação - sugar, mastigar, deglutir e respirar - são funções básicas para
uma boa articulação da fala.
A alimentação pode ser uma ginástica oral. Se o cardápio da criança
contém alimentos que estimulem a mastigação, essa é a maneira mais natural
e eficaz para o fortalecimento muscular oral.
Por vezes, os lanches oferecidos para as crianças, com boa intenção, são
gostosos e moles, a fim de facilitar. Exemplos: pão cortado e sem casca,
salgadinhos, balas, iogurtes, doces variados, etc. Algumas crianças
desenvolvem o hábito de mastigar só para tirar o caldo e, depois, cuspir no
prato; não gostam de alimento cru ou hortaliças, preferem sempre purê,
macarrão e sopa, ou seja, alimentos fáceis de mastigar. A ingestão de muito
líquido durante a refeição é também um indício de que a criança não está
produzindo saliva suficiente pela e para a mastigação. É preciso lembrar que,
desta forma, estão tornando a musculatura oral deficiente e preguiçosa. Cria-
se um círculo vicioso: a criança não se esforça para mastigar e, assim, fica
cada vez mais difícil mastigar coisas duras.
O alimento, seus processos
e características
Como você está vendo até aqui, educar pela alimentação inclui diversos
aspectos a serem considerados. Vamos agora pensar um pouco também no
que está por trás do alimento que colocamos em nossa mesa.
Do ponto de vista da qualidade, temos perguntas que devem ser
respondidas:
Como é o alimento? Quais são as suas propriedades? Como cresce? Como
a planta é cultivada? Como o animal é criado? Como é preparado para
consumo?
Não adianta nada variar a alimentação se a comida não for saudável.
Atualmente, os alimentos andam cheios de aromatizantes, acidulantes,
corantes, vitaminas artificiais e diversos outros produtos químicos criados
para conservar e realçar o sabor e a cor. Esses aditivos despertam o paladar,
mas viciam. Por outras vezes, são usados hormônios, antibióticos, adubos e
pesticidas que fazem com que cresçam rápido, aumentem de tamanho e
durem mais.
Como é possível, por exemplo, que um leite fora da geladeira dure mais
de 30 dias e seja saudável? Naturalmente não é. Este tipo de alimento sacia a
fome, mas perdeu sua essência e não nutre suprindo as necessidades, com
todas as suas verdadeiras propriedades e com vitalidade. Via de regra, quanto
maior o tempo de validade do alimento, menos vitalidade ele poderá oferecer.
Por isso, deve-se dar preferência para os alimentos mais próximos da sua
origem e característica natural. O que tem tempo de validade curto é o mais
saudável, pois no processo digestivo deixa suas propriedades vitais para o
organismo humano.
O grão de arroz é um bom exemplo do que acontece com os cereais neste
sentido. O arroz branco, que estamos acostumados a comer, não possui o
gérmen. E o que é o gérmen senão toda a reserva de energia e vitalidade que
o grão ainda tem para germinar? Sem essa pequena, mas importante parte, o
grão não é capaz de germinar, e não germinar é sinal de que já perdeu a sua
essência. No processo de “beneficiamento”, os grãos perdem o gérmen e a
fibra, tornando-se sem valor nutritivo. Raramente o arroz branco é atacado
por carunchos. Os cereais crescem em direção à luz e, por isso, tem muita
vitalidade. Daí a importância de colocarmos no cardápio alimentos cuja
natureza tenha sido preservada, como, por exemplo, o arroz integral.
Outro exemplo é o açúcar, que pode ser processado ou simples. O simples
é aquele que encontramos de forma natural nas frutas e em alguns cereais, por
exemplo, sendo saudável para o ser humano. As frutas frescas ou secas
possuem os nutrientes que não estão presentes no açúcar branco que é
refinado no processo de industrialização. Dentre os processados, o açúcar
branco é o que mais sofre desnaturação.
Quanto mais especializado for o processamento e refino, menos nutrientes
recebe o organismo e mais rápida será a absorção pela corrente sanguínea.
Pensando no açúcar da cana, temos gradativamente mais nutrientes na
seguinte escala: melado de cana, açúcar mascavo, açúcar demerara e açúcar
branco. Ao consumirmos o açúcar menos processado ou das frutas, leva-se
maior tempo para que alcance a corrente sanguínea, o que resulta em uma
sensação de maior saciedade. Ao contrário, o consumo de açúcar branco gera
mais vontade de consumir açúcar, criando um ciclo vicioso que não é
saudável para nenhum organismo. O açúcar refinado fornece inicialmente
uma energia rápida, que depois leva à irritabilidade e agitação e,
posteriormente, à sonolência e desatenção. Também é sabido que o açúcar em
excesso faz mal para a dentição infantil. O açúcar poderia ser usado como o
sal, como tempero e não como base de uma alimentação.
Buscar a consciência na alimentação inclui também interessar-se pela
origem do alimento. Hoje em dia, tanto a agricultura orgânica como a
biodinâmica tem dedicado o seu trabalho para produzir alimentos com uma
melhor qualidade em todos os sentidos. Não leva em conta só o alimento em
si, considera também todas as relações advindas do cultivo. Assume, assim,
um compromisso com a saúde da terra e do ser humano que planta, distribui e
do que consome, em uma atitude sustentável, consciente e ética.
No caso dos animais, a maneira como são criados também deve ser
observada com atenção. O confinamento, a forma do abate e a utilização de
antibióticos e de hormônios para acelerar o crescimento e aumentar a
produtividade prejudicam a qualidade e interferem diretamente na saúde.
“A maneira que comemos representa o nosso mais profundo engajamento com o mundo
natural. Isto também pode ser a ocasião para aprofundar a nossa apreciação deste
engajamento, para o benefício do mundo natural e do nosso relacionamento com ele”.
Michael Polla
BRINCADEIRAS
IDADE FASE E
BRINQUEDOS
Brincar com o
próprio corpo:
rolar,
engatinhar,
arrastar-se, etc.
Explorar o
ambiente, o
espaço ao seu
redor, objetos,
alimentos.
Brinquedos de
Fase do diferentes
Experimentar texturas e
0 Desenvolvimentoaromas, entre
a do andar, falar eles: carrinhos
3 e pensar. de madeira,
anosAdquire bola, boneca,
noções do bichinhos de
próprio corpo pelúcia,
e do espaço. sementes, panos.
Puxar ou
empurrar
carriolas e
carrinhos cheios
de coisas.
Pegar, tirar e
colocar objetos
em cestos,
encaixar,
empilhar e
derrubar.
Fantasiar
transformando,
por exemplo, um
banco em um
trem ou em um
avião.
Ênfase Brincadeiras que
nos giram em torno
sentidos de heróis e
do tato, bandidos, entre
equilíbrio, Fase do
o bem e o mal.
movimento Conversar
Jogos rítmicos
e É quando a
como cirandas,
vitalidade. fantasia
brincadeiras
criadora e o
3 cantadas e
jogo simbólico
a declamadas.
se
5 Ouvir contos
desenvolvem
anos rítmicos e contos
As forças do
de fadas,
desenvolvimento
principalmente
se ligam aos
os contos de
ritmos e ao
Grimm.
emocional.
Brincar com o
corpo através
dos movimentos
de pular, correr,
girar, balançar,
subir e descer
em árvores,
muretas, ficar de
cabeça para
baixo, etc.
Reproduzir
histórias e
situações
vivenciadas no
Fase do
dia a dia.
Interiorizar
Geralmente, os
Tem percepção
do mundo pais são muito
5 exterior. imitados.
a Imagem e A brincadeira
7 fantasia ainda tem início, meio
anossão fortes, mas e fim, são mais
precisam de conscientes e
instrumentos com propósito
para realizar as definido.
suas Brincadeiras
brincadeiras. corporais com
desafios que
ampliem
habilidades e
possibilidades.
BRINCADEIRAS
IDADE FASE E
BRINQUEDOS
Fase do
Experimentar
A fantasia Brincadeiras com
ainda é muito
presente, movimento.
cada vez mais Jogos de regras,
se como pega-pega
assemelhando ou barra
à realidade manteiga.
vivenciada. Caça ao tesouro.
A regra Jogos muitas
7 a ganha um vezes inventados,
9 espaço com elaborações
anos essencial. E mentais.
se algo sai do Colecionar
combinado, objetos e criar
eles dizem, brincadeiras com
com a boca eles
cheia: “Não é Brincadeiras que
justo!”. É a testam as leis da
época de natureza: peso,
cobrar a leveza,
coerência, de velocidade, etc.
disputar a
vitória.
Fase do
Conversar
Desperta para Brincadeiras
a crítica e desafiadoras na
perde a natureza.
fantasia. Brincadeiras de
Ênfase 9 a Desenvolve o susto e mágicas.
nos 12 pensamento Jogos de
sentidos anos mágico e tabuleiro ou
do supersticioso. cartas, que
olfato, Surgem, ao envolvam regras,
paladar, mesmo sorte, raciocínio e
visão tempo, o ação.
e medo e a
térmico. objetividade.
É a época de
Fase do
descobrir o
Interiorizar
esporte e a arte.
O social se
Meninos:
manifesta
Lutar e medir
com a
forças.
formação de
Provocar as
grupos
meninas,
12 a mistos, para a puxando os
14 realização de cabelos e coisas
anos atividades do tipo.
com objetivo
Buscar aventuras.
comum.
Meninas:
Fantasia x
Colecionar
criatividade.
papéis de cartas.
Ocorre a
Escrever em
diferenciação
diários.
do masculino
Viajar em
e feminino.
sonhos.
Fase
adolescente
A criança
Esportes com
abandona a
14 competições,
fantasia e
anos rodas de música,
começa a
em jogos
ligar-se no
diante estruturados,
outro, no
festas, namoros.
relacionamento
com grupo de
amigos
A menina Laura
A menina Laura morava numa casa com gostoso quintal.
Era uma tarde quente de verão, e ela pediu:
- Mamãe, posso brincar de bolinha de sabão?
Brincar de bolinha de sabão no quintal era uma de suas brincadeiras
prediletas. A mãe deu-lhe uma canequinha com água de sabão, canudo de
mamona e estava tudo pronto:
Laura, sentada no banco do quintal, soprou seu canudo.
Saíram pequenas bolinhas, depois algumas maiores e, atrás, uma
grandona.
A menina olhava as bolhas coloridas que subiam, levadas pela brisa.
Depois desciam e caíam ao chão.
Lá estava Laura, a caneca, o canudo e poucas bolinhas de sabão voando
pelo ar e caindo ao chão.
Do outro lado do quintal apareceu uma carinha espiando a brincadeira.
Era Maria, sua amiguinha, que veio e disse:
- Posso sentar ao seu lado?
No banco eram Laura, Maria, duas canecas, dois canudos e algumas
bolinhas de sabão voando pelo ar e caindo ao chão.
Depois a campainha tocou. A tia veio visitar. No quintal apareceu o
primo João, que logo pediu:
- Posso brincar de bolinha de sabão?
E no banco estavam Laura, Maria, João, três canecas, três canudos e
mais bolinhas de sabão voando pelo ar e caindo ao chão.
Correndo lá de dentro veio o primo Fernando, dizendo:
- Que gostoso, posso brincar?
E no banco eram Laura, Maria, João, Fernando, quatro canecas, quatro
canudos e um bocado de bolinhas de sabão voando pelo ar e caindo ao chão.
Na porta da cozinha apareceu Zezinho, o caçulinha:
- Também quero uma canequinha!
O banco ficou lotado: eram Laura, Maria, João, Fernando, Zezinho,
cinco canecas, cinco canudos, e muitas, muitas bolinhas de sabão voando
pelo ar e caindo pelo chão.
De repente:
Que diversão! As cinco crianças levantaram do banco e correram para
pegar as bolinhas de sabão, antes delas caírem no chão.
Rosemeire Resende Laviano
O Afeto e a Sexualidade
“O desejo sexual é a expressão corporal da aspiração ao amor, e esta última
é a própria expressão social da aspiração ao espírito.”
Rudolf Steiner
Natal – 25 de dezembro
Se quisermos festejar o Natal de modo cristão,
deve existir em nós próprios um Pastor e um Rei.
Um pastor que ouve o que outras pessoas não ouvem,
e que com todas as forças da dedicação,
mora logo abaixo do céu constelado;
A esse Pastor, anjos anseiam por revelar-se.
E um Rei que distribui dádivas,
que não se deixa guiar por nada mais,
a não ser pela estrela das alturas.
E que se põe a caminho,
para ofertar todas as suas dádivas
ao pé de uma manjedoura.
Mas além do Pastor e do Rei,
deve existir também em nós uma criança,
que quer nascer agora!
Rudolf Steiner
Nesta festa se comemora o nascimento de Jesus e, assim, revivemos o
nosso próprio renascimento interior. Esta festa tem a característica de ser
tradicionalmente comemorada com um encontro entre familiares. O
nascimento de uma criança traz o sentimento de renovação e de esperança.
Temos três boas razões para comemorar o Natal. A primeira delas nos
remete ao passado, pelo fato histórico do nascimento de Jesus como um
marco na trajetória da humanidade. A segunda razão é o reviver do fato
histórico no presente, como uma possibilidade de renascimento e renovação
de nossas forças interiores. A terceira nos remete à esperança de mudança
para o futuro da humanidade, a partir de uma nova ética de valores, advinda
do impulso do amor.
O Natal é um período para cultivar e renovar a esperança e a fé de que o
ser humano é capaz de superar as suas dificuldades, de se renovar, como um
renascimento em si mesmo.
O período de comemoração do Natal se inicia quatro domingos antes do
dia 25 de dezembro. Essa época tem o nome de Advento, que traz o sentido
da espera e da construção e preparo gradativos, até se chegar ao dia. Para os
adultos e filhos mais velhos, estes momentos despertam sentimentos de calma
e interiorização e, para as crianças, alegria de acompanhar cada etapa do
processo e marcar a passagem do tempo.
Para vivenciar o sentido do Natal, podemos usar o recurso da construção
do presépio e torná-lo vivo, movendo as figuras humanas e os animais. O
cenário pode ser feito em quatro etapas, simbolizando a totalidade
representada pelos quatro reinos da natureza: mineral, vegetal, animal e
humano.
No primeiro domingo do Advento colocamos os elementos do reino
mineral - terra e água - como se fossem pequenos lagos e pedras, indicando o
caminho por onde seguirão Maria e José, compondo o cenário. No segundo
domingo, colocamos os elementos do reino vegetal: musgos, plantas, flores,
galhos, pinhas. Uma sugestão é semear algumas sementes de alpiste, para que
cresçam nas semanas subsequentes. No terceiro domingo, é trazido o reino
animal: o boi, o burro e os carneiros. No quarto domingo, chegam os seres
humanos: Maria e José são colocados, e os pastores junto ao seu rebanho. O
menino Jesus só deve ser colocado na noite do dia 24 para o dia 25 de
dezembro. Os três reis magos devem ser colocados distantes, e depois do dia
25 é que começam a andar, só chegando próximos à manjedoura do menino
Jesus no dia 6 de janeiro, que é o Dia de Reis.
Outro costume que pode ser cultivado no Advento é confeccionar a coroa
de Advento, um arranjo em forma circular, com quatro velas. Ela pode ser
decorada com laço de fita, sementes e folhas secas da época. Ao acender as
velas, cria-se um momento familiar no qual é possível, a cada domingo,
realizar uma pequena reflexão ou leitura, cantar e contar histórias de Natal
para as crianças. No primeiro Advento acende-se apenas uma vela e, a cada
domingo, acende-se uma vela a mais, até que no quarto domingo as quatro
velas são acesas. Essa mesma coroa pode ser usada para adornar a mesa no
dia de Natal.
Quando nasceu, o menino Jesus foi presenteado pelos pastores e pelos reis
magos. Esses presentes tinham o significado de dádivas que seriam
necessárias para lhe dar forças para cumprir a sua missão. Podemos reviver o
ato de presentear, confeccionando pequenas lembranças como estrelas,
cartões, biscoitos e outros, e dá-los para as pessoas que amamos. É uma
forma de cultivar um hábito familiar saudável, que deixa boas recordações de
um Natal caloroso e acolhedor, ressignificando o seu sentido.
São João – 24 de junho
“Viva São João!
O outono entrou, folhas vão cair,
Vou me agasalhar, frio não vou sentir,
O inverno então vai se aproximar,
No meu coração o Sol vai surgir.
Viva São João! Viva São João!
No céu, mil balões, pipoca e pinhão.
Viva São João! Viva São João!
A fogueira arde em meu coração!”
Extraído do livro “Joaninas e Juninas Brasileiras”
Bibliografia
§ Asbeck, E. - Tempo de festas - Ed. Antroposófica, São Paulo - 2011
§ Brigadão, J.N. - Mostrar Caminhos - Prevenção ao abuso de drogas e
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§ Burkhard, G. - Novos Caminhos de Alimentação – volumes (1, 2, 3, 4)
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§ Doherty, W.J. e Carlson, B.Z. A Família em Primeiro Lugar – Ed.
Cultrix, São Paulo - 2004
§ Faber, A e Mazlish, E. - Como falar para seu filho ouvir e como ouvir
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§ Grimm, J. e W. - Os contos de Grimm – Tradução: Tatiana Belinky -
Paulus Ed., São Paulo - 1989
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Ed. Escrituras, São Paulo - 2002
§ Stach, K. - Conte outra vez - contos rítmicos – Ed. Antroposófica, São
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São Paulo - 2007
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– Ed. Record, São Paulo - 2011
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