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Unidade II
5 COMPARAÇÃO E SÍNTESE DOS DISTINTOS MODELOS MACROECONÔMICOS
A revolução keynesiana foi marcada por colocar que o maior problema da Grande Depressão,
nos anos 1930, era a falta de demanda agregada. A escola keynesiana triunfou desse período até
aproximadamente meados dos anos 1970, quando o mundo passou novamente por outra grande crise
e houve o questionamento do funcionamento das políticas intervencionistas keynesianas.
Dessa mudança, surgiu a escola monetarista, cujo principal expoente foi Milton Friedman, a partir da
publicação, em 1970, de The Counter‑Revolution in Monetary Theory. Esse autor, junto aos demais monetaristas,
resgatou as hipóteses clássicas; sua abordagem teórica baseava‑se na teoria quantitativa da moeda (TQM), que
estabelece que o estoque de moedas determina o nível geral de preços. Dessa maneira, uma expansão monetária
deve ser equivalente à taxa de crescimento do produto real, para evitar o fenômeno inflacionário.
Com relação à curva de Phillips, essa escola incorpora a hipótese de que os trabalhadores usem
a expectativa futura do nível de preços, dados os salários nominais. Essa abordagem ficou conhecida
como curva de Phillips versão Friedman‑Phelps. Portanto, essa escola criticou a primeira versão da curva
de Phillips, que embasava as decisões dos agentes nos salários nominais e não reais. A diferença dos
monetaristas foi considerar as expectativas dos agentes quanto à inflação futura.
Na nova abordagem da curva de Phillips, são associados o conceito de taxa natural de desemprego
ou Nairu e a formação de expectativas a partir da informação do passado. Isso implicou uma curva de
Phillips aceleracionista ou aumentada de expectativas.
Observação
Segundo Além (2010, p. 283), a formação de expectativas está embasada nas seguintes hipóteses:
Considerando que os agentes são capazes de aprender com os erros do passado, os trabalhadores,
por exemplo, não sofrem de ilusão monetária, ou seja, podem ajustar suas posições lentamente a partir
de seus próprios erros e das suas expectativas do passado.
Em que:
α = constante que mensura quanto do erro de previsão é incorporado à estimativa da inflação futura.
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Unidade II
Perceba que, segundo essa escola, apenas os trabalhadores erram suas expectativas de inflação esperada.
CPh Ip
B C
∆P1
A
U
U1 U0
CPh cp2
CPh cp1
Supondo que inicialmente a economia esteja em equilíbrio no ponto A, onde a curva de Phillips
de longo prazo (vertical – CPhlp) se encontra com a curva de Phillips de curto prazo (CPhcp1), caso o
governo queira reduzir a taxa de desemprego de Un para U1, ele pode aplicar uma política monetária
expansionista. Isso faz com que haja um excesso de demanda de bens e de trabalho cujo efeito é
um aumento de preços e salários nominais. Porém, o preço das mercadorias se ajusta mais rápido
que os salários nominais. Como estava numa situação de equilíbrio, conforme os salários nominais
aumentam, os trabalhadores interpretam equivocadamente que houve aumento de salário real, pois
ainda não viram o aumento dos preços. A partir disso, ofertam mais mão de obra e sofrem de uma ilusão
monetária temporariamente, porque os salários reais na realidade caem, devido ao aumento dos preços.
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MACROECONOMIA APLICADA
As empresas, por sua vez, procuram mais trabalhadores com essa queda salarial, acarretando uma taxa
de desemprego abaixo do nível de pleno emprego (de Un para U1). O novo ponto de equilíbrio agora é o
B, porém não é um equilíbrio de longo prazo.
Como os trabalhadores aprendem com os erros do passado, eles perceberão que os salários reais, na
verdade, caíram, e não aumentaram. Portanto, irão pressionar por salários nominais maiores, o que leva
ao deslocamento da curva CPhcp para a direita e para cima. No ponto C, na nova curva CPhcp2, a inflação
esperada e a efetiva são iguais novamente, o que corrige o erro de previsão dos trabalhadores. Com o
aumento do salário real, as empresas demitem alguns trabalhadores, e a taxa de desemprego aumenta
para Un. Nesse novo ponto de equilíbrio (C), houve um aumento do nível de preços.
Há uma segunda versão aceleracionista que supõe que os agentes precisem ser novamente
surpreendidos para que haja a manutenção de uma taxa de desemprego abaixo da taxa natural.
Para tanto, a expansão maior precisa ser maior ainda, porque os agentes, ao observarem o passado,
rapidamente reorganizam suas posições, de maneira que a política monetária expansionista perde efeito.
Esse princípio de aceleração mostra que não há um trade‑off estável entre inflação e nível de
emprego. Portanto, a longo prazo ou quando todas as expectativas estão ajustadas, a curva de Phillips é
vertical ao nível da taxa natural de desemprego. Isso significa que uma política monetária expansionista
gera apenas elevação de preços, sem que seja acompanhada por um aumento do produto da economia
e do nível de emprego.
É importante lembrar que a revolução keynesiana se notabilizou dos anos 1930 aos 1970, que foi
quando a inflação elevada e o desemprego atingiram as economias desenvolvidas e houve um enorme
questionamento quanto à capacidade das políticas keynesianas.
• Total flexibilidade de preços e salários, tanto a curto quanto a longo prazo, garantindo que
a economia opere sempre em equilíbrio. Dessa maneira, não há necessidade de políticas
intervencionistas para estabilizar a economia.
• Os agentes observam e decidem a partir das informações reais, ou melhor, das variáveis reais,
como os preços relativos, portanto não sofrem de ilusão monetária.
Ainda de acordo com Além (2010), os economistas novo‑clássicos, no que se refere às hipóteses
centrais, defendem que:
• Preços e salários sejam flexíveis, permitindo que o mercado opere em equilíbrio (market clearing)
conforme as pressões de oferta e demanda.
• Os agentes otimizam suas escolhas a partir das informações disponíveis, permitindo a esses
agentes estarem sempre em equilíbrio.
• Os agentes não cometem erros sistemáticos quando utilizam as informações disponíveis, pois
suas expectativas são racionais.
Como os agentes operam em concorrência perfeita, eles são tomadores de preços (price takers), e
não fazedores de preços, então, não havendo outras externalidades, o equilíbrio competitivo é um ótimo
de Pareto, o que leva à maximização da oferta total da economia.
Uma das inovações dessa escola foi a introdução das expectativas racionais. Diferentemente dos
monetaristas, para os novo‑clássicos, a melhor base de informação para tomarem suas decisões é o
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MACROECONOMIA APLICADA
futuro, e não o passado; assim, eles observam o futuro ao construírem suas expectativas de variação
de preços ou taxa de inflação. Os novo‑clássicos são muito enfáticos quanto ao processo de tomada
de decisão, pois, segundo esses, os agentes incorreriam em erros sistemáticos se tomassem como base
informações do passado, pois a demanda agregada se altera.
Na versão forte, as expectativas são formadas com base em todas as informações relevantes disponíveis
sobre a variável que está sendo antecipada. Ademais, é importante considerar que os indivíduos usam as
informações disponíveis de maneira inteligente, isto é, compreendem como as variáveis que observam
afetarão a variável que estão tentando prever.
Portanto, os agentes econômicos conseguem prever de acordo com a realização das variáveis futuras.
Em média, os valores reais das variáveis são iguais aos previstos. Os erros de previsão das expectativas
racionais apresentam média zero e são aleatórios. Assim, esse método é o mais eficiente e preciso dentre
as expectativas com relação ao futuro.
Segundo Além (2010), a equação das expectativas racionais apresenta as seguintes características:
Em que:
∈t+1 = termo de erro aleatório, com média e correlação iguais. Significa que os agentes na média não
errarão, caso usem de maneira inteligente as informações existentes.
novo‑clássicos supõem que os agentes olham o futuro (forward‑looking) e contam com informações
disponíveis. Segundo a implicação fundamental forte, esses agentes econômicos não formam
expectativas sistematicamente erradas ao longo do tempo.
As expectativas dos agentes na média estão corretas, ou seja, as variáveis reais observadas ou efetivas
coincidem com as previstas.
Apesar de os novo‑clássicos dizerem que não há trade‑off entre inflação e desemprego, diversos
estudos empíricos mostravam que havia esse trade‑off ao menos a curto prazo. Portanto, uma política
monetária expansionista seria capaz de aumentar o nível de emprego e de renda. Robert Lucas, um dos
principais expoentes da escola novo‑clássica, respondeu a essa análise empírica chamando a atenção
para a racionalidade dos agentes, porém considerando que as informações existentes são imperfeitas ou
incompletas. A hipótese da expectativa racional continua válida, mas nem toda informação necessária
está disponível para os agentes no momento de sua decisão. Dessa maneira, apenas um choque
monetário não antecipado pelos agentes poderia levar a um efeito sobre a economia real (emprego e
renda), o que ficou conhecido como oferta agregada de Lucas com “surpresa” monetária.
Caso haja uma política monetária surpresa e os agentes não antecipem essa política, considerando
a Teoria Quantitativa da Moeda, o efeito é um aumento do nível geral de preços.
No mercado de trabalho, os trabalhadores devem decidir a alocação do seu tempo entre trabalho
e lazer. Supondo que eles saibam o salário real médio, uma expansão monetária surpresa leva a um
aumento do salário nominal que é percebido pelos agentes como um aumento real dos salários. Isso
fará que os trabalhadores aumentem suas disponibilidades para o trabalho no presente, em detrimento
do lazer, dado que podem reduzir o trabalho no futuro.
Já no mercado de produtos, a expansão monetária leva a um aumento dos preços dos produtores.
Como a informação é incompleta, esses produtores entendem que o aumento de preços é, na realidade,
um aumento dos preços relativos, o que leva a um aumento da produção.
Portanto, dada a informação incompleta, uma expansão monetária não antecipada pelos agentes
econômicos pode levar a uma expansão do emprego e do produto, deslocando a curva de demanda
agregada do ponto A para o ponto B e a curva de demanda por mão de obra de X para Z. Nesse caso,
dado o efeito da política monetária, a moeda não é neutra a curto prazo.
Em que:
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MACROECONOMIA APLICADA
∝ = constante que mensura o efeito da diferença entre Pi e Pie na produção efetiva da firma.
Quando Pi > Pie, a firma i aumenta sua produção efetiva em relação à produção potencial, pois ocorre
a percepção de que há um aumento do preço relativo do seu produto.
Quanto maior for ∝, mais elástica (e menos inclinada) será a curva de oferta agregada de Lucas de
curto prazo e maior será o efeito sobre o aumento do nível geral de preços não antecipado sobre as
variáveis reais da economia.
OA lp
P
OA cp
B
P1
A
P0
DA1
DA0
Y
Y0 Y1
W Ns
Z
W1
X
W0
Nd(P1)
Nd(P0)
N
N0 N1
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Unidade II
Partindo do ponto de equilíbrio (A) na curva de oferta de Lucas, no ponto B, após a surpresa dos
agentes com relação à política expansionista monetária, o produto está acima do seu potencial, e
a taxa de desemprego, abaixo do nível natural. Veja que, na figura anterior, a demanda por mão de
obra aumentou acima do equilíbrio de pleno emprego (de N0 para N1). Portanto, a curto prazo, há um
trade‑off entre desemprego e inflação, dadas a informação incompleta e a surpresa dos agentes diante
da política monetária.
Nesse modelo de informação incompleta de Lucas da curva de oferta agregada, as firmas observam
apenas os preços relativos ao seu próprio mercado. Assim, um preço elevado é entendido como uma
maior demanda pelo seu produto. Supondo a economia como mercados distintos, “ilhas isoladas”, se o
preço do produto da ilha estiver relativamente maior que o de outros mercados, os habitantes da ilha i
desejarão produzir mais.
Os agentes, tanto produtores como consumidores, têm as mesmas informações sobre seus preços,
porém não sabem quanto da variação de seus preços reflete variações do nível geral de preços,
nem quanto refletem variações dos preços relativos. Os agentes apresentam expectativas racionais,
todavia todas as informações não são suficientes para saber exatamente o que está ocorrendo, dado
que a informação é incompleta. Caso o agente acredite que o aumento de seu preço vai ocorrer
devido ao aumento do nível geral de preços, ele simplesmente aumenta seus preços sem modificar a
quantidade produzida. Lembrando que a OA é vertical (o mercado de trabalho está no equilíbrio de
pleno emprego). Caso ele espere que haja uma mudança nos preços relativos, o agente aumenta tanto
os preços quanto a quantidade produzida: OA é menos inclinada. Em economias que apresentam
grande instabilidade de preços, a OA será mais inclinada, porque os agentes, na hora de fazer a
extração de sinal, tendem a pensar que houve um aumento do nível geral de preços. Em economias
mais estáveis, OA será menos inclinada porque os agentes, na extração de sinal, tendem a pensar que
houve uma mudança no preço relativo.
Saiba mais
No caso da oferta de Lucas, considerando a teoria quantitativa da moeda, o efeito será um aumento
da inflação de mesma magnitude que a expansão monetária, com deslocamento da curva de oferta
agregada de curto prazo.
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OA cp0
P2
B
P1
A
P0
DA1
DA0
Y
Y0 Y1
Ns2
W Ns1
Y
W2 Z
W1
W0 X
Nd(P1)
Nd(P0)
N
N0 N1
Figura 30 – A curva de oferta de mão de obra a longo prazo
Observação
A partir dos anos 1980, diante dos ciclos econômicos, a escola novo‑clássica se renovou a partir dos
modelos de ciclos reais de negócios. Segundo esses modelos, as flutuações econômicas vêm dos choques
reais, principalmente, os de origem tecnológica pelo lado da oferta, e não da demanda. Lembrando que,
nos anos 1960 e 1970, as flutuações econômicas eram explicadas por Friedman (1985) e por Lucas,
por meio dos choques monetários, isto é, com a variação da base monetária com impacto sobre a
demanda agregada nominal. Ao contrário disso, os ciclos reais de negócios não explicam as flutuações
pela demanda agregada, mas pela oferta agregada.
Por essa teoria, flutuações no produto são oriundas de choques reais na economia, com os mercados
se ajustando rapidamente e permanecendo sempre em equilíbrio. Uma diferença desse modelo é que
essas flutuações constituem posições de equilíbrio. Mudanças antecipadas de política monetária não
teriam efeitos reais sobre a economia, somente mudanças não antecipadas teriam; no entanto, tais
efeitos são rapidamente corrigidos. Portanto, choques na demanda não são muito importantes.
Quais são os choques que afetam a economia? Quais são e como operam os mecanismos
multiplicadores? Por que os choques parecem ter efeitos persistentes?
Considerando que os pensadores dos ciclos reais de negócios defendem as flutuações econômicas
como processo de ajuste racional dos agentes econômicos, isto é, rejeitam a visão de falhas de mercado,
Além (2010, p. 297) destaca que, para esses pensadores:
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Dessa maneira, qualquer intervenção do governo a partir de políticas fiscais pode levar a um
desequilíbrio com redução do bem‑estar. Como a moeda é neutra a curto e a longo prazo, a política
monetária também não apresenta efeito real sobre a economia. Portanto, o produto potencial pode se
alterar, a depender dos fatores de oferta.
As flutuações são explicadas pela substituição intertemporal de lazer, por exemplo. Caso
haja um choque tecnológico com aumento de produtividade, o salário real se torna maior,
então os trabalhadores estarão mais dispostos a substituir lazer por trabalho ao longo do ciclo
econômico, o que gera um aumento do produto potencial. Eles se preocupam com o esforço
(quantidade de trabalho) total, mas não se incomodam com quando trabalhar. Observe, contudo,
que a substituição intertemporal do lazer não implica que a oferta de trabalho seja sensível a
mudanças permanentes no salário.
Outro exemplo que se pode examinar é em caso de um choque de produtividade negativo, como
uma externalidade positiva no fato do estabelecimento de uma lei ambiental ou de um aumento do
custo das matérias‑primas, uma nova tributação sobre a produção. Esses atos aumentam o custo para
o produtor, o que leva a uma redução do produto potencial.
O efeito multiplicador dos ciclos econômicos é estimulado por perturbações que alteram os níveis
de equilíbrio do produto e do emprego em mercados específicos e na economia em geral. As principais
perturbações consideradas são choques sobre produtividade ou choques da oferta, e choques sobre a
despesa pública.
Os críticos à escola novo‑clássica consideram inconcebível a noção de que os ciclos econômicos reais
são fenômenos de equilíbrio. Para os críticos, as flutuações têm fundamentos da demanda agregada e
da oferta agregada e, portanto, é importante a ação diante dos desvios custosos em relação ao produto
potencial.
Tendo em vista que a falta de credibilidade pode ser resultado dos poderes discricionários
das autoridades econômicas na condução da política monetária, o problema poderia
ser solucionado pela transferência da política anti‑inflacionária para um banco central
independente, que estaria livre de potenciais pressões políticas.
O sistema de metas inflacionárias adotado por diversos países, inclusive o Brasil, reflete
essa preocupação com a transparência da política monetária.
No início dos anos 1970, a economia dos Estados Unidos da América enfrentava um problema ao
qual a princípio a curva de Phillips havia dado a resposta. Esse problema era a coexistência de inflação e
desemprego elevados. De acordo com a curva de Phillips, havia um trade‑off entre essas duas variáveis.
Em parte, esse fenômeno mostrava uma limitação da teoria novo‑clássica de explicar as flutuações
econômicas e de garantir os mecanismos de ajuste da economia. Essa crise foi superada apenas no final
dos anos 1970.
A partir do início dos anos 1980, a escola novo‑keynesiana surgiu como contraponto às análises
dos novo‑clássicos. Portanto, afasta‑se das hipóteses adotadas pelos novo‑clássicos, isto é, descarta a
concorrência perfeita e o market clearing contínuo. Com isso, um dos objetivos era explicar o desemprego
e o papel da demanda agregada na determinação do produto e do nível de emprego. De acordo com
esses pensadores, as reduções da demanda agregada levam à redução da oferta, pois os preços são
rígidos.
• As firmas são formadoras de preços, portanto têm uma parte de poder sobre o mercado.
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MACROECONOMIA APLICADA
• Diante dos custos de remarcação de preços, os preços são alterados periodicamente de forma não
sincronizada, com implicações sobre o ciclo econômico.
• Agentes econômicos racionais tomam suas decisões a partir das expectativas racionais.
• Abordagem matemática.
Dessa maneira, quando há uma expansão monetária, todas as firmas deveriam ajustar
proporcionalmente seus preços, como previsto pelos modelos clássicos. Porém, há custos – custos de
menu – para realinhar os preços, e esses custos, em geral, podem ser maiores do que a perda de receita
ao permanecer com o preço anterior.
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Unidade II
Essa rigidez de preços a curto prazo pode ser explicada pelos seguintes fatores:
• Falhas de coordenação.
• Custos de menu.
• Existência de insiders/outsiders.
• Salário-eficiência.
Esses custos podem existir também para coletar informação, bem como para manter os clientes e
contratos com fornecedores ou salariais de médio prazo. Diante de uma alteração de preços na economia,
as firmas só irão mudar seus próprios preços se os benefícios forem maiores que os custos.
A longo prazo, quando os preços são todos flexíveis, as políticas de estimulo da demanda agregada
perdem eficácia. Ainda assim, defende‑se o uso das políticas econômicas para ajustar a economia a
curto prazo, pois há um longo período entre o curto e o longo prazo.
Observação
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Quadro 2 – Principais características das escolas de pensamento
Modelo de
Fontes de Preços e Regras e
Escola formação de Curto prazo Longo prazo Política monetária Política fiscal
instabilidade salários discricionariedade
expectativas
eficaz a curto prazo
possibilidade de equilíbrio de pleno para afetar o nível de
Monetarista adaptativas flexíveis equilíbrio abaixo da taxa emprego (taxa natural emprego e renda; a sempre ineficaz regras
natural de desemprego de desemprego) longo prazo, só impacta
as variáveis nominais
ineficaz a curto e longo
prazo para afetar o
Novo‑clássica equilíbrio de pleno
equilíbrio à taxa natural nível de emprego e
(informação não há racionais flexíveis emprego (taxa natural sempre ineficaz regras
de desemprego renda; a longo prazo,
perfeita) de desemprego)
MACROECONOMIA APLICADA
só impacta as variáveis
nominais
eficaz a curto prazo
Novo‑clássica possibilidade de equilíbrio de pleno para afetar o nível de
choques
(informação racionais flexíveis equilíbrio abaixo da taxa emprego (taxa natural emprego e renda; a sempre ineficaz regras
monetários
imperfeita) natural de desemprego de desemprego) longo prazo, só impacta
as variáveis nominais
choques reais/ ineficaz a curto e longo
equilíbrio de pleno equilíbrio de pleno
Ciclos reais de de oferta prazo para afetar o
racionais flexíveis emprego (taxa natural emprego (taxa natural sempre ineficaz regras
negócios (principalmente nível de emprego e
de desemprego) de desemprego)
tecnológicos) renda
eficaz a curto prazo
eficaz a curto prazo
equilíbrio de pleno para afetar o nível
rígidos possibilidade de para afetar o nível de
insuficiência de emprego, mas de emprego e renda;
Novo‑keynesiana racionais a curto equilíbrio abaixo do emprego e renda; a discricionariedade
demanda a velocidade de a longo prazo, efeito
prazo pleno emprego longo prazo, só impacta
convergência é baixa deslocamento e
as variáveis nominais
inflação de demanda
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Unidade II
Após o percurso de diversos modelos macroeconômicos, iremos partir para o debate que se inaugura
com a teoria pós‑keynesiana, já que os desdobramentos das análises de Keynes ainda ocupam o centro
das discussões da macroeconomia contemporânea.
Para isso, o caminho que trilharemos será pautar, de forma sucinta, as principais questões
teóricas e implicações dos modelos neoclássico, monetarista, novo‑clássicos e novo‑keynesianos,
com o objetivo de mostrar que esses modelos, apesar do grau de refinamento de suas estruturas
teórico‑analíticas, são inconsistentes com as características das modernas economias empresariais,
propostas por Keynes.
Em outras palavras, entende‑se que os modelos destacados ajudam pouco para a compreensão do
mundo real. Assim, por intermédio da teoria pós‑keynesiana, criticam‑se tais formas de apreensões
da dinâmica econômica e a consistência dos pressupostos que sustentam tais abordagens ortodoxas,
principalmente quanto às caracterizações e soluções das crises cíclicas de produção e emprego das
economias monetárias.
[...] por um lado, existe uma análise interpretativa da Teoria Geral, conhecida
como diagramas IS‑LM, que está centrada na proposição de que o
desemprego involuntário keynesiano se constitui em um caso particular da
teoria clássica devido tão‑somente à existência da armadilha da liquidez;
por outro, existe um approach, denominado desequilibrista, que interpreta o
princípio da demanda efetiva de Keynes em um contexto no qual a economia
se move, ao longo do tempo, de uma situação de equilíbrio parcial para uma
de equilíbrio geral.
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MACROECONOMIA APLICADA
Nos três modelos apresentados, a primeira equação de cada um deles representa a definição da curva
LM, sendo as duas equações seguintes, em cada modelo, respectivamente, as suas definições da curva IS.
Assim, como nos informa o modelo de Hicks, temos as condições de equilíbrio dos mercados monetário
e real, dadas as possíveis combinações entre taxas de juros e níveis de renda em uma economia nos três
modelos distintos.
Quando Hicks compara os diferentes modelos, ele realiza duas ponderações: a primeira seria a
comparação entre os modelos clássico e especial de Keynes, que para esse autor teriam diferenças quanto
à função poupança e à demanda por moeda. A diferença essencial se encontra na análise da demanda
por moeda, que em Keynes é explicada pela função preferência pela liquidez e, no caso clássico, é parte
integrante da equação quantitativa da moeda de Cambridge (FERRARI FILHO, 1996, p. 80).
Desse modo, quando a economia keynesiana se encontra num caso de armadilha da liquidez, as
suas equações monetárias demonstradas no modelo da Teoria Geral passam a ter a mesma relação
funcional que a apresentada pelo modelo clássico, ou seja, a de que variações na demanda por moeda
dependem unicamente do nível de renda. Com base nesse argumento, a teoria neoclássica entende que
a ocorrência de desemprego involuntário corresponderia a uma incapacidade da política monetária em
alterar o nível da taxa de juros e, consequentemente, o nível de renda.
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Unidade II
Mas em síntese, nas duas versões, independentemente de utilizar‑se do equilíbrio parcial ou geral,
as flutuações cíclicas nos níveis de produto e emprego estão relacionadas ao fato de que os preços,
em unidades monetárias, se ajustam lentamente para retornar ao ponto de equilíbrio entre oferta e
demanda, já que acreditam na vigência do equilíbrio walrasiano a longo prazo.
O papel da relação entre a moeda e os níveis de preços e do produto também será trabalhado pela
escola monetarista de Friedman (1985). Ao alicerçar o papel da moeda na determinação dos níveis de
produto e emprego a curto prazo e do estoque de moeda no nível de preços a longo prazo, como vimos,
o autor também realiza críticas ao modelo keynesiano.
A crítica da análise de Keynes se circunscreve ao fato de sua teoria não apresentar uma explicação
monetária satisfatória para as crises, dado o papel central da política monetária e de suas regras. Ao
se remeter ao modelo de equilíbrio geral walrasiano, Friedman (1985) elabora a hipótese de taxa de
desemprego natural e da insustentabilidade da relação da curva de Phillips a longo prazo ao incluir
regras de formação das expectativas dos níveis de inflação.
Nesse sentido, a conclusão de Friedman (1985) em relação às limitações da política monetária é que
esta, ao longo do tempo, provoca tão somente distúrbios nominais na economia. Logo, os monetaristas
entendem que a economia é inerentemente estável – excetuando‑se os distúrbios monetários de
curto prazo –, portanto, sem a necessidade de quaisquer políticas econômicas ativas, tanto fiscais
como monetárias, para garantir a estabilidade econômica. Defende a máxima do livre-mercado como
garantidor da estabilidade.
Tal solução ficará mais latente no interior da teoria novo‑clássica, nos anos de 1970, em que a
economia clássica passa a incorporar a hipótese das expectativas racionais nos modelos de equilíbrio
geral. Com essa formulação, o modelo novo‑clássico busca ser uma alternativa teórica à abordagem
keynesiana, que tomaria por base a hipótese de longo prazo da curva de Phillips e que não teria poder
explicativo para processos de estagflação, onde não se observaria o trade‑off entre inflação e desemprego.
110
MACROECONOMIA APLICADA
Assim, por conter falhas teóricas e econométricas, os modelos keynesianos não representariam o
melhor guia para operacionalizar as políticas econômicas, fato defendido pelos autores novo‑clássicos.
Isso ficaria mais claro com a adoção das expectativas racionais, que também seria um fator de crítica a
Friedman (1985). Nesse caso, as expectativas dos agentes sobre o valor esperado de uma variável não
seriam uma função estável de seus valores passados, mas corresponderiam a um modelo de expectativas
com informações completas e com a utilização das informações disponíveis no presente, e não baseadas
nas ocorrências do passado, como nas expectativas adaptativas.
Em resumo, suas críticas ao arcabouço keynesiano estão em rejeitar o papel da demanda agregada e
centrar as atenções na oferta agregada, reforçando a ocorrência da lei dos mercados com autocorreção
e neutralidade da moeda. Dentre todas as críticas, é a mais contundente, por acreditar na total
inconsistência teórica da análise de Keynes.
Esse último fato não foi compartilhado pela teoria novo‑keynesiana, que buscou revitalizar a
economia keynesiana com fundamentos microeconômicos, dando maior ênfase ao fato da ocorrência
de rigidez de preços e salários, que representaria a principal questão da teoria de Keynes.
Nesse ponto, a teoria novo‑keynesiana apresenta uma tentativa de dar consistência teórica aos
problemas de falhas de mercado que leva os agentes econômicos a buscarem otimizar suas decisões em
meio às imperfeições. Logo, sua referência a Keynes limita‑se a explicação do desemprego involuntário
devido à rigidez de preços e salários, pois adota a hipótese de expectativas racionais.
A resposta às críticas perante as concepções teóricas de Keynes será desenvolvida pela leitura
pós‑keynesiana, que entenderá que as teorias macroeconômicas, destacadas anteriormente,
distanciam‑se da análise revolucionária de Keynes por convergirem a uma representação da economia
de longo prazo em que ocorreriam a autorregulação do mercado e a manutenção do nível de pleno
emprego da economia.
Tais proposições, conforme a concepção pós‑keynesiana, seriam desenvolvidas num contexto econômico
em que a moeda não seria neutra – apresentando propriedades que a diferem de outros ativos econômicos
–, com o futuro incerto e imprevisível e o desemprego como resultado normal da atividade econômica.
Se olharmos por esse prisma, a interpretação de Hicks, em seu modelo neoclássico, apresenta alguns
equívocos em relação à teoria de Keynes, pois substitui a concepção de equilíbrio parcial adotada na TG
pela análise de equilíbrio geral, bem como separa os mercados real e monetário, invertendo a relação
causal entre investimento e poupança e desconsiderando o papel das expectativas na dinâmica da
demanda efetiva. Logo, mutilando as principais ideias sobre o processo de ajustamento econômico
enfatizado por Keynes.
Observação
Hicks contraria a lógica keynesiana da demanda efetiva ao analisar a relação causal entre investimento
e poupança, pois acredita que um crescimento do investimento não possa ocorrer sem um crescimento
da poupança ou da quantidade de moeda em uma economia. Assim, volta ao argumento clássico de
poupança prévia como elemento central na dinâmica dos investimentos.
Além disso, o modelo neoclássico não abarca o papel das expectativas, num ambiente de incerteza,
nos diagramas da IS‑LM, e novamente se distancia das proposições de Keynes na TG. Em resposta, os
pós‑keynesianos mostram que a teoria keynesiana vai muito além de uma teoria da economia em
depressão, como denominada por Hicks, já que esta teoria também se aplica a situações em que as
restrições quantitativas não são somente de demanda.
Como bem defendem os autores pós‑keynesianos, com base em diversas passagens da TG, o
desemprego involuntário ocorre mesmo quando preços e salários são flexíveis, pois a suposição de
inflexibilidade ao longo da demonstração de Keynes será abandonada ao longo de sua exposição, sendo,
portanto, um fator analítico de contraponto com a abordagem clássica. Desse modo, na visão de Keynes
a flexibilidade de preços e salários não garante o pleno emprego de forma contínua em uma economia.
Dito isso, fica difícil aceitar a hipótese de que falhas de mercado, caracterizadas pela rigidez de
preços e salários, sejam a causa do desemprego involuntário keynesiano, constituindo somente um dos
fatores que podem ocorrer ao longo da dinâmica de uma economia monetária.
Será a caracterização dessa economia monetária que servirá de resposta às críticas lançadas pelos
modelos monetaristas e novo‑clássicos em relação à teoria keynesiana. Na percepção de Ferrari Filho
(1996, p. 96) esse debate se centraria em dois pontos:
Isso fica latente, pois as análises monetárias dos modelos monetaristas e novo‑clássicos não
aprofundam as questões inerentes às propriedades essenciais da moeda. Em seu resgate, a teoria
pós‑keynesiana ressalta que na TG a moeda possui duas propriedades essenciais: a de possuir elasticidade
113
Unidade II
de produção igual a zero, já que a moeda não é produzida pela quantidade de trabalho que o setor
privado incorpora no processo produtivo; e a de possuir uma elasticidade‑substituição nula, porque não
há nenhum outro ativo, não líquido, que possa exercer as três funções da moeda.
Observação
Dessas três propriedades, Keynes ressalta o papel de reserva de valor porque a retenção de ativos
líquidos constitui‑se em uma segurança contra a incerteza dos retornos futuros, logo a retenção de ativos
líquidos é recorrentemente utilizada pelos agentes econômicos. Por isso, a insuficiência de demanda
efetiva ocorre em situações em que a incerteza acerca do futuro aumenta, pois os indivíduos passam a
reter moeda, postergando, assim, suas decisões de dispêndio que, em último caso, geram impactos no
nível de produto e aumentos da taxa de desemprego.
Assim, desmente‑se a afirmação de Friedman (1985) de que a moeda não tem importância na
economia de Keynes, já que a moeda tem um papel central no entendimento da dinâmica econômica,
ou seja, a teoria de Keynes seria uma teoria monetária da produção. Por conta disso, a moeda não pode
ser neutra, ao passo que a neutralidade monetária é comumente incorporada nos modelos monetaristas,
pelo menos a longo prazo, e novo‑clássicos, tanto a curto quanto a longo prazo.
Isso terá impactos, portanto, no entendimento da economia real e em seus processos de ajustamento.
Para os pós‑keynesianos, as hipóteses dos modelos novo‑clássicos, dentre elas o ajuste de todos os
preços via mercado e os agentes sempre com comportamentos otimizadores e expectativas racionais,
não corresponderiam à dinâmica do sistema econômico. Esse seria um mundo hipotético, em que
haveria o equilíbrio geral de Walras e da mão invisível para conduzir a economia para a alocação
eficiente dos recursos.
Em situações de flutuações cíclicas dos níveis de produto, emprego e preços observados no sistema
econômico, as expectativas por parte dos agentes econômicos parecem ser formadas não com base em
um processo estocástico e estatisticamente controlado, mas num processo que Keynes denominou de
conhecimento incerto, logo, ressaltando, novamente, a incerteza inerente aos processos econômicos.
poderia ser aceita a dicotomia rígida entre variáveis monetárias e reais da teoria neoclássica. Os
autores pós‑keynesianos criticam fortemente a teoria neoclássica, considerando‑a uma base teórica
irreal e irrelevante.
Para Keynes, a lei de Say teria validade somente em uma economia de trocas (de escambo), não
monetária, também chamada de economia cooperativa ou de salários reais, ou então em uma economia
neutra, em que a moeda assumiria papel meramente facilitador de trocas. Ou seja, uma economia
imaginária, que faria parte da utopia liberal.
Nesses casos, garantir‑se‑ia que o gasto agregado seria sempre igual à renda agregada, de modo que
a economia permanecesse no pleno emprego. Em uma economia empresarial, ou de salários nominais,
ao contrário, existem flutuações de demanda efetiva e de emprego e, em vista disso, não se garante o
pleno emprego.
Nessa economia empresarial, as decisões são tomadas com base em expectativas sobre o futuro,
dada a existência de incerteza, o que coloca a possibilidade de erros em decisões econômicas. A teoria
keynesiana possui o conceito de tempo histórico – e não num tempo lógico neoclássico –, em que existe
um passado irrevogável e um futuro desconhecido, envoltos numa fragilidade das informações por
parte dos agentes.
Na economia capitalista real, existe uma diferença de objetivos e de poder de decisão entre
empresários e trabalhadores (assim como os consumidores). Enquanto os empresários buscam a
acumulação de dinheiro, os trabalhadores têm como objetivo a obtenção de bens de consumo. Os
empresários comandam os recursos e tomam decisões que regem a operação da economia, decidindo
sobre produção, emprego e investimentos com base em suas expectativas sobre a rentabilidade futura
de seus negócios, tomando decisões segundo premissas observadas que são insuficientes, o que lhes
impõe a incerteza.
Segundo Keynes, os empresários não fazem somente cálculos sobre lucros para tomarem suas
decisões, possuindo, além disso, um instinto espontâneo de agir. Isso não leva ao irracionalismo, uma
vez que as expectativas de longo prazo são, muitas vezes, estáveis, com os empresários baseando‑se
em determinados estados de confiança. Nisso reside a explicação de por que os investimentos são o
elemento mais instável da demanda efetiva.
115
Unidade II
De acordo com este autor, a teoria neoclássica não conseguiria provar a existência de um equilíbrio
geral de pleno emprego alcançado pela autorregulação do processo de mercado em uma economia com
ativos de capital e com instituições e práticas financeiras capitalistas. Assim, os modelos neoclássicos
não explicariam a instabilidade financeira, presente nas economias, ao tomar como causadores de ciclos
e crises fatores exógenos, por exemplo, variações na quantidade de moeda ou utilização de gastos fiscais
pelos governos por motivos políticos.
Deste modo, a economia capitalista não é simplesmente uma economia de mercado, mas
fundamentalmente uma economia de finanças. Essa economia é caracterizada pela existência de dois
sistemas de preços relativos com determinantes diferentes. Como nos aponta Dathein (2000, p. 8‑9):
Com determinantes diferentes, não podemos acreditar que o mercado teria capacidades de induzir
que os dois preços tenham variações a uma mesma taxa, logo, exigindo diferentes formas de avaliação
num processo econômico.
116
MACROECONOMIA APLICADA
As relações desses dois sistemas de preços, com dois horizontes de tempo diferentes e dependentes
de distintas variáveis, em suas relações com as condições financeiras da economia, determinariam os
investimentos, no entendimento de Minsky. Esses investimentos, em conjunto com outras variáveis,
determinam a demanda efetiva e, portanto, o emprego.
Com uma visão de moeda endógena, essa análise de Keynes precisa ser modificada. Mas ressalva
que o fato de existir criação e destruição privada de moeda não indica que o governo perca
completamente o controle sobre a oferta de moeda. Por isso, a ação do governo será a de disciplinar
o processo de variação monetária dada pela destruição e criação de moeda ao manter um ambiente
financeiro robusto.
Para Minsky (1982), a principal transação que ocorre na economia é a troca de dinheiro no
presente por dinheiro no futuro, por exemplo, quando ocorrem investimentos ou a aquisição de
ativos de capital. Por isso, a teoria econômica não pode abstrair‑se do tempo fazendo uma análise
meramente estática. Admitindo‑se a existência de flutuações do produto e de poder de mercado,
a função de produção neoclássica não pode ser a base para a análise teórica da produção, nem
a teoria da produtividade marginal, a base para a análise das remunerações relativas dos fatores,
dentre eles os lucros.
A atividade econômica gera fluxos de caixa, que contêm os lucros, usados como garantias
para financiar posições em ativos de capital ou para validar dívidas e os preços que foram pagos
pelos ativos de capital no passado, permitindo honrar as obrigações de pagamentos originadas
em decisões passadas de financiamento. Dessa forma, a economia capitalista somente funciona
de forma equilibrada com a existência de investimentos geradores de lucros, e as flutuações nos
investimentos determinam se as dívidas poderão ou não ser pagas. O problema fundamental que
se coloca faz referência aos motivos que levariam os investimentos a flutuarem, ou seja, qual
o mecanismo que transforma um aperto financeiro em uma crise financeira. Para solucionar
tais indagações, Minsky chama a atenção para as diferentes posturas financeiras que podem ser
adotadas pelos agentes econômicos.
117
Unidade II
Por último, a postura financeira Ponzi corresponderia aos agentes econômicos cujos fluxos de renda
são inferiores aos compromissos financeiros em todo o período, necessitando de refinanciamento de
parcela superior ao serviço da dívida, que contribui para o crescimento da dívida total, o que significa
uma postura de alto risco. Para Minsky, os investimentos de longo prazo e de retorno incerto têm
aspectos que se assemelham a essa postura financeira.
Tanto empresas com finanças especulativas quanto aquelas em situação Ponzi necessitam
constantemente se endividar ou vender ativos para cumprirem seus compromissos totais, além de que
a viabilidade da situação Ponzi depende de uma expectativa de crescimento dos preços dos ativos da
empresa no futuro. A quantidade e a variabilidade da ocorrência de finanças hedge, especulativa e
Ponzi variam de tempos em tempos e de acordo com a estrutura de cada economia, sendo a base para
o entendimento dos ciclos e das crises financeiras e econômicas.
Ao afetar os preços e as demandas por produtos, o sistema financeiro corrobora a elevação dos
componentes das dívidas e dos seus serviços em relação às rendas auferidas por parte das empresas,
gerando endogenamente crises financeiras, que paralisam os investimentos e, portanto, ocasionam
maior desemprego.
Vamos ver com mais detalhes esse mecanismo endógeno gerador de crises e ciclos financeiros. Para
Minsky (1982), se a economia estiver em um período de tranquilidade, próxima ao pleno emprego,
118
MACROECONOMIA APLICADA
haverá a diminuição das exigências dos emprestadores de dinheiro. Existe a tendência a uma alteração
das aplicações dos agentes econômicos, em que poderá haver um aumento das posições financeiras
especulativas e Ponzi por parte das empresas e dos demais agentes, respaldados pelos mercados
financeiro e bancário.
O próprio sistema financeiro gera endogenamente os recursos necessários para o aumento dos
investimentos ou exigidos pelo aumento dos preços dos bens de capital. Quando a participação das
finanças especulativas e Ponzi ganha preponderância na estrutura financeira total, a economia torna‑se
mais sensível a mudanças nos patamares das taxas de juros praticadas no mercado. No caso de um
aumento da taxa de juros, as posições hedge podem tornar‑se especulativas, e as especulativas podem
tornar‑se estruturas de financiamento Ponzi.
Ao mesmo tempo, uma maior taxa de juros gera uma queda no valor presente dos lucros esperados
pelos bens de capital, que em termos de eficiência marginal do capital (EmgK) provoca uma diminuição
dos investimentos. Com uma situação de queda dos lucros, dos investimentos realizados no passado,
chegamos à situação de deterioração da capacidade de pagamento dos empresários. Nesse contexto,
mesmo sem uma crise financeira aberta, as expectativas de longo prazo são afetadas, aumentando
os prêmios de risco de projetos de investimentos, levando os empresários e banqueiros a buscarem
posições financeiras menos especulativas, diminuindo a liquidez da economia. Depois de certo período
de instabilidade pode surgir, também endogenamente, uma fase de estabilidade financeira, mas agora
com baixo nível de atividade econômica, em razão da queda dos investimentos, até ser retomada,
novamente, a fase ascendente do ciclo.
Temos, com isso, a mais contemporânea das formulações no âmbito da teoria pós‑keynesiana. Para
tal modelo, as crises financeiras são resultado do funcionamento normal da economia. Os ciclos de
instabilidade são endógenos ao sistema econômico, em razão da busca de interesses próprios dos agentes
em uma economia descentralizada, apta a apresentar expansões incoerentes ou bolhas especulativas, na
concepção de Minsky.
No entanto, essas crises podem ser evitadas ou atenuadas, dependendo das ações dos
bancos centrais como financiadores de última instância, de aumento dos gastos fiscais –
mesmo que gerem déficits – por parte dos governos para sustentar os lucros e eventuais
mudanças no balanço de pagamentos. Isso é necessário, pois a forma privada de criação de
recursos é inerentemente míope e precisa ser suplementada pela visão de longo prazo que os
governos têm capacidade de ter.
Por fim, a alternativa à crise é basicamente uma combinação de ações do Banco Central e do governo
que permitam a sustentação do emprego e da renda. A ação do Banco Central, em momentos pré‑crise,
deve ser promover intervenções para sustentar os preços dos ativos e dar liquidez necessária e robusta
às instituições financeiras, enquanto os governos devem gerar ou aumentar seus gastos públicos para
sustentar a demanda e os lucros. Voltamos, portanto, às propostas de políticas macroeconômicas ativas
que caracterizam a teoria keynesiana.
119
Unidade II
Saiba mais
Keynes (1936) já afirmava que a instabilidade era algo intrínseco ao sistema capitalista.
Sua teoria era embasada na análise sobre a variável investimento agregado, que é composta de
formação bruta de capital fixo e de variação de estoques. O investimento agregado dependia de um
cenário econômico favorável à realização da produção, e a incerteza sobre o futuro poderia levar os
empresários a reduzir o nível de produção e com isso haveria uma queda do produto.
É possível analisar as flutuações econômicas por meio do ciclo de estoques em que, sendo o
investimento agregado à soma da formação bruta de capital fixo e da variação de estoque, quando
o estoque aumenta, a tendência é uma queda futura do nível de investimento devido à queda da
realização da produção.
120
MACROECONOMIA APLICADA
I = FBKF + ∆ Estoques
I = é o investimento agregado;
Percebe‑se que a demanda agregada (DA) determina a flutuação do produto (Y), em que a DA
é composta de consumo e investimento agregados. No lado do investimento, temos a variação de
estoques, que possui quatro variáveis em subdivisões: variação de estoque, estoque desejado, nível de
estoque e produção para estoque. Temos, na tabela apresentada, por etapas ou período de tempo, o
consumo agregado (C), o investimento agregado (I), a demanda agregada (DA), a variação de estoques
(Var. E), o estoque desejado (E desejado), que representa 10% da demanda agregada, o nível de estoque
(Nível E), a produção para estoque (Produção E) e o produto ou PIB (Y).
A tabela supõe na Etapa 2 um aumento do nível de investimento que eleva a demanda agregada e
causa uma queda do nível de estoques, fazendo que as empresas passem a produzir mais para atender
o aumento da demanda, como forma também de repor o estoque vendido. Como a demanda agregada
determina o nível de renda, haverá um aumento do produto.
121
Unidade II
Y = C + I + ∆ Estoques
C = é o consumo agregado;
I = é o investimento agregado;
Geralmente, os empresários esperam que o consumo presente (Ct) seja igual ao consumo do período
anterior ou ao consumo passado (Ct‑1). A variável consumo é considerada uma variável com certa
estabilidade, pois está dividida entre consumo autônomo (C) e a propensão marginal a consumir (cY),
que pode ser formalizada assim:
Então, verifica‑se que uma parte da função consumo depende da propensão marginal a consumir:
C = cY
Ct = Ct‑1
Ct = cYt‑1
Y = C + I + ∆ Estoques
122
MACROECONOMIA APLICADA
Y = 2 cYt – cYt‑1 + I
I = I0 + d ∆ Yt
ou
I = I0 + d ∆ (cYt – cYt‑1)
Essa equação apresenta a função investimento formada por um componente autônomo somado a
um componente que decorre do comportamento da renda no período anterior. Considerando‑se que o
consumo seja função da renda defasada de um período, temos:
C = cYt
Sendo Y = C + I, temos:
Y = (c + d) Yt + I0 – dcYt‑1
123
Unidade II
Taxa de
juros (i) LM
ie
i2
IS 2 IS 1
Y2 Ye Nível de
renda (Y)
Observação
Portanto, as flutuações são resultado das variáveis que determinam o produto. A principal delas
é o investimento agregado como um dos gastos autônomos que compõem a demanda agregada. A
teoria keynesiana, diante de tal diagnóstico, propõe mecanismos de compensação da queda de gastos
autônomos por meio da intervenção do Estado na economia de modo a utilizar a política econômica
fiscal, monetária, cambial e creditícia para regular a demanda agregada e gerar um cenário favorável
para a produção e o emprego.
A teoria do ciclo real de negócios afirma que há uma percepção equivocada das flutuações
econômicas devido a uma análise pelo lado da oferta agregada como principal determinante do
produto da economia. Portanto, as flutuações da demanda agregada não são o objeto de estudo para
essa agenda de pesquisa. A curva de oferta agregada é composta de capital, trabalho e tecnologia,
isto é, são essas as principais variáveis que determinam essa curva. Assim, o valor monetário de cada
fator de produção (preços e salários) impacta diretamente essa variável, que sofre variações positivas
e negativas.
O ciclo real de negócios é uma agenda de pesquisa da Escola de Chicago (EUA), em que duas linhas
de pensamento econômico, monetaristas (Friedman) e novo‑clássicos (Lucas), formalizam sua estrutura
teórica, em que temos:
124
MACROECONOMIA APLICADA
Y = Yp + ∆ (P – Pe)
A Escola de Chicago faz um contraponto ao referencial teórico keynesiano quando este adota políticas
econômicas discricionárias para elevar os níveis de produto e renda. A política monetária expansionista
impacta a produção e o emprego, devido ao fato de os agentes econômicos terem a expectativa de
preços estáveis e, portanto, fixarem preços e salários com base nessa expectativa. Dada uma elevação
da base monetária e dado um aumento nominal de preços e salários, os agentes se ajustam à demanda
e passam a produzir e trabalhar mais.
O aumento da base monetária pelo Banco Central desloca a demanda agregada para a direita e eleva
o nível geral de preços, o que não era esperado pelos trabalhadores e empresários, ou seja, os agentes
erram devido à assimetria de informação e cometem erros de percepção e de análise econômica. O
aumento de preços é entendido como aumento de preços relativos, e não aumento do nível geral de
preços, por isso a oferta aumenta.
Para os trabalhadores, o aumento dos salários nominais é considerado como aumento dos salários
reais e resulta na oferta de mais horas de trabalho. Na verdade, há uma redução dos salários reais, em
que as empresas contratam mais trabalhadores e elevam a produção, portanto a flutuação está em
função da assimetria de informação dos agentes econômicos.
As flutuações econômicas ocorrem pelo desvio entre o nível de preços efetivo e o nível de preços
esperado. Caso a variação seja prevista por meio de expectativas racionais, os agentes econômicos
não aumentam a oferta de produção e trabalho, e a política monetária expansionista perde seu efeito.
Percebe‑se que se o governo não tivesse adotado uma política econômica, as variáveis se ajustariam via
preços, sendo a política econômica, ou seja, o governo, o fator de instabilidade da economia.
A análise do resultado da política econômica pela teoria dos ciclos reais de negócios pode ser feita
pelo modelo IS‑LM, dadas as curvas IS,Y=C(Y‑T) + I(r) + G, e LM, M/P=Ky‑hi, cujo produto é determinado
pela oferta agregada composta de capital (K) e trabalho (T), isto é, Y = F(K, N), em que não há expectativa
de inflação, não havendo necessidade da execução de uma política econômica discricionária.
No modelo IS‑LM, as variações de preços e os saldos reais definem a posição da LM que sempre
interceptará a curva IS ao nível de renda de pleno emprego. Se a intersecção IS‑LM for abaixo do
pleno emprego, haverá queda do nível de preços e elevação dos saldos monetários reais, deslocando
a LM para a direita até o ponto em que ambas se interceptem no nível de pleno emprego, em que os
preços se estabilizam.
125
Unidade II
Taxa de
juros (i) LM
LM 2
ie
i2
IS
Ye Yp Nível de
renda (Y)
A posição da curva IS, que é determinada pela política fiscal, mantém-se constante. O deslocamento
da curva LM via variação de preços leva a economia à renda potencial, determinando o produto e a taxa
de juros. Não houve aumento da oferta de moeda nominal, mas real, devido à queda de preços gerada
em um contexto de equilíbrio abaixo do pleno emprego.
Entretanto, os preços e os salários não são flexíveis como se imagina, apresentando certa
rigidez, conforme afirmam os novo‑keynesianos, pois a queda da demanda agregada não será
ajustada por queda de preços devido à rigidez, mas pela elevação do desemprego involuntário,
o que leva ao debate da execução de políticas econômicas para gerar a estabilidade econômica
por meio de instrumentos fiscais e monetários. São várias as questões colocadas, já que as
políticas econômicas apresentam limitações no combate aos choques econômicos por causa
das possibilidades de defasagens. Segundo Lopes e Vasconcellos (2011, p. 256), há dois tipos
de defasagem:
126
MACROECONOMIA APLICADA
A adoção de uma política econômica, assim como seus resultados, como desemprego e/ou
inflação, sempre serão objetos de discussão entre os economistas da linha keynesiana, dentre eles os
novo‑keynesianos, e as correntes monetaristas e novo‑clássicas. Quando se adota uma política econômica,
ela começará a surtir efeito numa conjuntura econômica, diferente do período de diagnóstico, e a
causar outros efeitos sobre a economia. Por exemplo, pode‑se adotar uma política econômica com
objetivos de crescimento econômico e redução do desemprego, entretanto os resultados podem ser de
endividamento público e inflação.
Entre as políticas fiscal e monetária, a primeira possui uma defasagem interna maior que
a segunda, que possui uma defasagem externa maior. A implementação da política fiscal não
depende apenas do governo executivo, diferentemente da política monetária, que é, no Brasil,
decidida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom/BCB), mas também é
competência do Poder Legislativo (Congresso Nacional), já que as questões de tributação e de
gastos públicos devem ser regidas por lei. As decisões tomadas passam a vigorar no ano seguinte
ao da sua aprovação.
127
Unidade II
Nível de
preços (P) Y pleno
emprego
Y efetivo
Aumento da
arrecadação Aumento dos gastos públicos
pública
Nível de
renda (Y)
Na figura apresentada, temos o nível de renda de pleno emprego ou PIB potencial como
uma linha que apresenta crescimento linear e constante. Já a segunda linha que apresenta
flutuações é o nível de renda efetiva ou PIB efetivo. Quando a renda efetiva está acima da linha
de pleno emprego, significa que a demanda agregada está acima da oferta agregada e resulta
em uma inflação de demanda. No ponto em que o PIB efetivo está acima do PIB potencial,
o estabilizador automático eleva a arrecadação do governo devido à elevação do nível de
renda. Em uma possível queda do nível de atividade, em que o PIB efetivo esteja abaixo do PIB
potencial, o desemprego poderá se elevar, logo o governo aumenta seus gastos públicos para
retomar o nível de atividade e reduzir a flutuação econômica com o objetivo de se aproximar
da situação de estabilidade macroeconômica.
Para tentar fazer previsão e antecipar as flutuações, utilizam‑se dois tipos de instrumentos da
análise econômica. O primeiro é a elaboração de indicadores econômicos e sociais, que servem para o
acompanhamento do comportamento das principais variáveis, por exemplo, o PIB, os índices de preços e
as taxas de desemprego, para avaliar o nível de atividade econômica. Mas o objetivo é se antecipar com
indicadores antecedentes. Por isso, temos o PIB trimestral, o índice de preços quinzenal, entre outros.
Mas podemos criar e analisar indicadores, como a produção de papelão, que é essencial para embalar
os produtos novos, o nível de compras no setor de serviços (atacado e varejo) e as expectativas dos
consumidores e dos empresários, como forma de criar um cenário otimista para prever as variáveis de
consumo e investimento futuros.
128
MACROECONOMIA APLICADA
O segundo instrumento é a criação de cenários econômicos por meio da análise de conjuntura, cuja
formação, geralmente de economistas, leva o conhecimento técnico para a construção de modelos
econômicos que trabalham com variáveis endógenas e variáveis exógenas, cujos valores buscamos
determinar. Por meio da construção de coeficientes e parâmetros estatísticos, busca‑se entender o
comportamento das variáveis, ou seja, o cálculo dos coeficientes e a estimação de parâmetros permitem
relacionar as variáveis. A partir disso, formulam‑se as hipóteses sobre o comportamento das variáveis e
elaboram‑se as suposições com base no diagnóstico de comportamento dos agentes econômicos.
a) Problemas de arbitrariedade
dos agentes que reverão suas estimativas. Com isso, se os agentes acreditarem
nas propostas do governo, independente deste cumpri‑las, a inflação tende
a ceder. Contudo, uma vez que o governo tenha atingido o objetivo a que se
propunha, mesmo sem efetivar as medidas, por que tomá‑las e arcar com o
ônus político da recessão? Ou seja, uma vez conseguido o objetivo, tem‑se
um estímulo a renegar a política anunciada.
Percebe‑se que há uma discussão entre as várias escolas e correntes de economistas. O debate atual
entre a Escola de Chicago (monetaristas e novo‑clássicos) e a corrente keynesiana, principalmente os
pós‑keynesianos e os novo‑keynesianos, tem se mostrado bastante frutífero para a teoria econômica
que busca entender as flutuações e a estabilidade econômicas. A microeconomia é um campo de estudo
econômico cuja relação com a macroeconomia é fundamentar a análise por meio de fundamentos
microeconômicos ou microfundamentos como forma de exigir mais técnica e competência da ciência
econômica. Temos de adotar tais ferramentas metodológicas visando entender o sistema econômico e
seus agentes, com o objetivo maior do bem‑estar econômico e social.
C= Ct + cY, em que:
Ct > 0 e 0<c<1
Sabendo que:
C = consumo agregado;
130
MACROECONOMIA APLICADA
cY
Ct
Nível de
renda (Y)
O consumo, ao depender da renda, leva a política fiscal a apresentar eficácia sobre a renda, isto
é, o governo pode, por meio dos instrumentos fiscais, elevar e reduzir a renda, além de poder elevar
o efeito multiplicador. Os estudos de Keynes sobre o consumo também permitiram analisar que a
razão entre os níveis de consumo e renda forma a propensão média a consumir. Um aumento da
renda faz essa propensão cair, ou seja, há uma parte das famílias que apresenta renda mais elevada
e que possui uma propensão marginal mais elevada a poupar, isto é, troca o consumo presente pelo
consumo futuro. Entretanto, a análise keynesiana é de curto prazo, e vários estudos surgiram no
século XX, procurando verificar a relação entre consumo e renda. Segundo Lopes e Vasconcellos
(2011, p. 263-264):
Sobre as explicações referentes à função consumo de curto prazo e a de longo prazo, sabemos que
a função de curto prazo tem como base a renda das classes sociais e seus orçamentos familiares no
131
Unidade II
período de um ano. Já a função consumo de longo prazo tem como base a renda e os gastos familiares
de determinados períodos de tempo maiores que um ano, denominados séries de tempo, isto é, a soma
de dois anos ou mais.
função consumo de longo prazo
C
Ct
Nível de
renda (Y)
Consumo por
classes de renda
Y = Classes de renda
132
MACROECONOMIA APLICADA
Consumo anual
C
Ct
Y = anos
A função consumo de curto prazo e com base em orçamentos familiares demonstra que quanto
maior a renda, maior será o consumo. Entretanto, em classes sociais com níveis de renda mais elevados,
o consumo apresenta variação com taxas decrescentes porque, nessas classes sociais, há maior
propensão a poupar do que a consumir. Já sobre a função consumo de longo prazo, os estudos empíricos
demonstram que é uma curva linear, cuja propensão marginal e média ao consumo são idênticas e
constantes, mas a única diferença reside no ponto de origem.
De acordo com a decisão das famílias de quanto consumir e poupar hoje se constitui a
abordagem do consumo intertemporal, isto é, a decisão do consumo presente (Ct) ou do consumo
futuro (Ct+1). Essa é uma análise que podemos estender para os agentes econômicos superavitários
que gastam menos do que ganham e os agentes superavitários que gastam mais do que ganham,
ou seja, elevam o consumo presente e comprometem a capacidade de consumo futuro devido à
restrição orçamentária intertemporal.
Ao partir da suposição de que as famílias alocam o consumo e a poupança entre presente (t) e futuro
(t+1), considera‑se que Yt e Ct sejam a renda e o consumo no presente e Yt+1 e Ct+1 a renda e o consumo
no futuro. Agora, vamos supor a possibilidade de se fazer empréstimos bancários. O nível de poupança
no presente pode ser formalizado assim:
St = Yt – Ct
Agora, isolamos Ct e C t+1 e dividimos ambos os lados do resultado por (1+r), chegando a:
Ct + C t+1 / (1 + r) = Yt + Yt+1 / (1 + r)
Na figura a seguir, o ponto A representa o consumo de toda a renda no período presente. Como
a renda é toda consumida, não há poupança, e a renda no período futuro é igual à renda no período
presente. No ponto B, há poupança no período presente, o que eleva a capacidade de consumo no
período futuro. Já no ponto C, o consumo é maior que a renda presente, devido à possibilidade de
empréstimos bancários, fato que reduz o consumo futuro em razão da dívida contraída.
Ct+1
A
Y t+1
Ct
Yt
O agente econômico, neste caso, as famílias, faz escolhas por meio de suas preferências de como
alocar o consumo, isto é, quanto consumir nos períodos presente e futuro. Essa escolha é representada
por curvas de indiferença que são convexas, em que todos os pontos da curva de indiferença futura
(Ut+1) são melhores que os pontos da curva de indiferença presente (Ut).
134
MACROECONOMIA APLICADA
Consumo no
período t+1
Ut+1
Ut
B
Consumo no
período t
R Ct
Um aumento da renda presente desloca a restrição orçamentária para cima, o que irá elevar a renda
e o consumo no período futuro.
135
Unidade II
Ct+1
Ut+1
Rt Ut Rt+1
Ct
Mudanças na taxa de juros provocam mudanças no consumo. Uma elevação da taxa de juros
provoca um aumento do consumo no período futuro e resulta no efeito renda. O aumento da taxa
de juros faz o poder de comprar ser maior no período futuro do que no período presente, portanto o
consumo será realizado no futuro devido ao efeito substituição. O efeito total se dá pelos dois efeitos
juntos.
Ct+1
Rt+1
Rt
–(1+rt+1) –(1+rt)
Ct
136
MACROECONOMIA APLICADA
Além da hipótese da renda permanente, há o modelo do ciclo de vida dentro da escolha intertemporal,
em que as famílias escolhem o quanto poupar e o quanto consumir conforme suas expectativas e seu
nível de renda ao longo da vida. Como há uma tendência de baixa renda, aumento e queda da renda
ao longo do tempo e da vida, há uma escolha intertemporal entre presente e futuro, seja por meio de
uma poupança espontânea, por exemplo, os planos de previdência privada, seja por meio da poupança
compulsória, por exemplo, a poupança pública por meio da contribuição previdenciária descontada,
geralmente, em folha de pagamento.
A variável investimento (I) no sentido econômico representa produção e emprego. Ela é composta
da formação bruta de capital fixo e da variação de estoques, cujo impacto é a elevação da capacidade
produtiva da economia. A curto prazo, o investimento representa demanda agregada, ou seja, gastos
com máquinas, equipamentos, imóveis, construção civil, entre outros, e a longo prazo representa a
oferta agregada, isto é, a capacidade de produção.
D = taxa de depreciação;
K = estoque de capital.
As empresas tomam as decisões sobre os investimentos com base em expectativas sobre o futuro
e têm de ser alinhadas com as decisões das famílias em suas escolhas intertemporais sobre o consumo
presente e o futuro. Tanto as empresas como as famílias podem decidir como utilizar sua renda entre
consumo, investimento e aplicação em ativos financeiros. Conforme o modelo de alocação intertemporal,
a poupança pode ser formalizada assim:
St = Yt + Ct
St = Bt + It
137
Unidade II
Pmg K = (1+r)
Segundo Lopes e Vasconcellos (2011, p. 275‑276), há outra importante contribuição sobre a decisão
de investir que foi desenvolvida por James Tobin (1960), conhecida como Teoria q, que é a razão entre o
valor de mercado do capital instalado, avaliado pelo mercado de ações, e o custo de reposição do capital
instalado. Tobin, ao afirmar que as empresas consideram em suas decisões de investimento a variável q,
faz a seguinte análise:
A teoria de James Tobin revela que os empresários fazem uma análise de custo de oportunidade ao
relacionar a aplicação financeira no mercado de ações ou realizar investimentos produtivos na economia.
O governo tem como fonte de sua receita pública impostos diretos, impostos indiretos, contribuições
e outras receitas. Já os gastos públicos englobam as despesas correntes ou custeio, transferências e
subsídios, e os gastos com as empresas públicas.
A carga tributária bruta é a arrecadação pública por meio do total de impostos que ao subtrairmos
as transferências como serviços da dívida pública (pagamento de juros), gastos com seguridade social e
138
MACROECONOMIA APLICADA
subsídios, resulta na carga tributária líquida ou receita corrente líquida, que dá condições para pagar as
despesas correntes ou o consumo do governo. A diferença entre a receita corrente líquida e a despesa
corrente forma a poupança corrente do governo.
A poupança corrente do governo é utilizada para os investimentos públicos. Caso os gastos com
investimento superem a poupança pública, estamos diante de um déficit público que será financiado
por meio da venda de títulos públicos. Essa forma de financiamento leva ao endividamento público por
meio da rolagem da dívida, isto é, o pagamento dos juros, na maioria dos casos sem amortização do
principal, o que eleva o estoque e o fluxo da dívida pública, e à necessidade de elevação da arrecadação
pública para pagar o déficit público.
No Brasil, temos três conceitos que medem o déficit público, conhecido como necessidade de
financiamento do setor público (NFSP), são eles:
NFSP cn = G – T + i B
Sendo:
NFSP = G – T + r B
Sendo:
139
Unidade II
NFSP cp = G – T
Sendo:
A NFSP cn leva em conta a taxa de juros nominal que é a base de remuneração do estoque da dívida
pública. Em um contexto com elevada inflação o resultado nominal não apresenta fundamentos, passando
a haver a necessidade de eliminar a inflação, isto é, trabalhar com a taxa de juros real, ou seja, subtraindo
da taxa de juros nominal a inflação, para chegar ao resultado operacional (NFSP co). Já o conceito primário
(NFSP cp) é a diferença entre gastos e receitas públicas correntes ou não financeiros, isto é, exclui as
despesa com juros. Se essa subtração der um resultado negativo, significará um superávit fiscal (G –T).
Observação
Exemplo
Vamos supor que a receita do governo (T) seja $ 1.000, os gastos do governo (G) sejam $ 800, o
estoque da dívida pública seja $ 10.000, os juros nominais (i) sejam 15% e a inflação (π) seja de 10%.
Quais são os resultados primário, operacional e nominal do governo?
NFSP cp = G – T
NFSP cp = – $ 200
Cabe uma observação aqui sobre o resultado negativo, que demonstra que o governo gastou menos
do que arrecadou, ou seja, o resultado negativo significa um superávit fiscal.
O resultado operacional é aquele que exclui a inflação, isto é, considera‑se a taxa de juros real, que é o
resultado da taxa de juros nominal (15%) menos a inflação (10%) e pode ser calculado da seguinte forma:
140
MACROECONOMIA APLICADA
NFSP co = G – T + r B
NFSP co = $ 300
O resultado positivo demonstra que o governo gastou mais do que arrecadou, ou seja, o resultado
positivo significa um déficit fiscal devido ao pagamento de juros da dívida.
Já o resultado nominal é aquele que leva em conta a inflação, isto é, considera a taxa de juros
nominal (15%) e pode ser calculado da seguinte forma:
NFSP cn = G – T + i B
NFSP cn = $ 1.300
O resultado positivo demonstra que o governo gastou mais do que arrecadou, ou seja, o resultado
positivo significa um déficit fiscal devido ao pagamento de juros da dívida.
Sabe‑se que uma política fiscal expansionista por meio da redução de impostos eleva a renda
disponível dos agentes econômicos e seu nível de consumo, que somado ao efeito multiplicador,
possibilita uma tendência de crescimento econômico.
Entretanto, a redução de impostos pelo governo poderá ser financiada via endividamento público
com vencimento futuro, cuja carga tributária apresentará uma tendência de crescimento.
A partir da restrição orçamentária intertemporal, a política fiscal expansionista poderá será anulada,
pois os agentes econômicos têm a expectativa de que a elevação dos gastos públicos no período presente
signifique uma elevação da carga tributária no período futuro. Portanto, os agentes econômicos passam
a economizar o valor da redução dos impostos para pagar o aumento desses impostos no período
futuro. Essa forma de decisão é denominada equivalência ricardiana.
A questão do déficit público em que o governo poderá incorrer pode ser analisada a partir de dois
períodos (presente e futuro), ao se simplificar o conceito de déficit público (NFSP) da seguinte forma:
NFSP = Gt – Tt
141
Unidade II
Em que:
Vamos considerar que o governo irá financiar o déficit público por meio da venda de títulos públicos,
cuja arrecadação de impostos no período futuro poderá ser suficiente para liquidar a dívida pública e as
despesas correntes, isto é:
A letra r representa a taxa de juros real que remunera os títulos públicos. Ao considerar as duas
equações, isolando T t e T t+1, e dividindo por (1 + r), temos:
T t + T t+1 / (1 + r) = G1 + G t+1 / (1 + r)
Essa equação resulta na restrição orçamentária intertemporal do governo que afirma o seguinte:
dado um corte nos impostos no primeiro período (∆T), sem uma redução dos gastos públicos, haverá a
necessidade de uma elevação dos impostos no período futuro em (1 + r):
∆T.(1 + r)
Vamos considerar a restrição orçamentária intertemporal dos agentes econômicos em dois períodos
(presente e futuro), mas agora incluindo os impostos:
Rearranjando os termos:
Percebe‑se que o nível de consumo permanente dos agentes econômicos deve ser igual ao
valor presente da produção menos o valor presente dos impostos. A restrição orçamentária
intertemporal dos agentes econômicos em dois períodos (presente e futuro) conclui o seguinte:
se a carga tributária for reduzida no período presente (∆T), em que se tenha uma restrição
orçamentária intertemporal do governo, haverá elevação dos impostos no período futuro em
∆T.(1 + r) e não haverá alteração no consumo dos agentes econômicos no período presente,
portanto os agentes econômicos passarão a economizar o valor da redução dos impostos para
pagar o aumento futuro destes.
142
MACROECONOMIA APLICADA
Os impostos são a principal fonte de receita do governo. Entretanto, determinar uma carga tributária
eficiente é um dos desafios do setor público. Para fazer uma análise, temos a curva de Laffer, que
demonstra a relação entre a receita tributária e a taxa de impostos. O gráfico apresentado na figura a
seguir demonstra que um aumento na taxa de impostos elevará a receita pública a um ponto máximo,
mas caso a taxa continue crescendo, haverá redução da receita pública.
Receita
tributária
(T)
t máxima Taxa de
impostos
(t)
O aumento de impostos pode levar as pessoas a trocar horas de trabalho por horas de lazer. Uma
carga de impostos muito elevada poderá levar à evasão fiscal devido à elevação da sonegação. Portanto,
uma carga tributária ótima (t máxima) é uma forma de elevar a receita e reduzir a evasão fiscal.
Outra alternativa para elevação da receita é o imposto inflacionário, isto é, aumento da emissão de
moeda nominal (senhoriagem) que provocará elevação do nível de preços e queda dos valores reais e do
poder aquisitivo. Podemos formalizar o imposto inflacionário assim:
Em que:
πe = inflação esperada;
Da mesma forma que analisamos a carga tributária com uma alíquota máxima, a receita por meio do
imposto inflacionário apresenta limites, pois a emissão de moeda ou o aumento nominal da quantidade
143
Unidade II
de moeda em circulação eleva a taxa de inflação e desvaloriza a moeda, o que faz os agentes econômicos
reduzirem a demanda por moeda (L).
Portanto, há um imposto inflacionário máximo que está relacionado com a taxa de inflação (π). Ao
passar desse ponto máximo, decresce a receita advinda do imposto inflacionário, havendo a necessidade
de nova emissão de moeda e a possibilidade de um descontrole de aumento da base monetária que
poderá resultar em uma hiperinflação.
Nos últimos anos, as abordagens críticas da teoria dominante na economia desenvolveram novas formas
de pensar a macroeconomia através do resgate de autores com importantes contribuições para essa ciência.
A partir desse esforço foram revisitados e reformulados os principais pontos sobre os condicionantes da
trajetória das principais variáveis macroeconômicas, dentre elas o produto, a renda e o emprego.
Numa dessas abordagens heterodoxas, temos um modelo que tem como base o resgate da abordagem
clássica do excedente, originada pelo economista Piero Sraffa, que segue sendo desenvolvida por autores
ligados à escola de Cambridge, no Reino Unido. Em linhas gerais, este projeto pode ser resumido em
três pontos: o primeiro, uma crítica à teoria marginalista baseada no princípio da substituição, também
denominado utilidade, que trata o capital com as mesmas características dos fatores não reprodutíveis,
como o trabalho e a terra.
O segundo ponto está no resgate da teoria geral do valor e da distribuição com base no conceito
de excedente, possibilitando uma teoria objetiva dos preços relativos que reflita as reais condições
técnicas de produção e os mecanismos de distribuição de renda. O terceiro ponto consiste em integrar
na análise o princípio da demanda efetiva buscando uma ponte entre as teorias keynesiana‑kaleckiana
e o conceito de excedente. Nesse ponto, tal elo permite entender as flutuações da economia a curto
prazo, mas também o processo de acumulação de longo prazo.
Em outras palavras, busca mostrar a importância da ideia de investimento autônomo com base nas
inovações na dinâmica do crescimento econômico em uma dada economia; além disso, ressaltar que
144
MACROECONOMIA APLICADA
Para chegarmos a essa síntese teórica, vários conceitos são retomados dentro da discussão
macroeconômica e reavaliados à luz da abordagem do excedente, com o intuito de ressaltar as deficiências
da teoria neoclássica e pós‑keynesiana na explicação da dinâmica das economias capitalistas.
Nessa vertente teórica o exame sobre a ligação entre o processo de distribuição de renda e de
acumulação de capital se faz presente. Isso prescinde de uma breve descrição da abordagem clássica
do excedente como base para uma teoria “objetiva” dos preços relativos, em que preços competitivos
reflitam as condições técnicas de produção e os mecanismos de distribuição de renda.
A abordagem que iremos apresentar contrasta com a definida pelos modelos neoclássicos. Em termos
gerais, as teorias neoclássicas que explicam os fenômenos de crescimento econômicos seriam aquelas em
que todos os fatores de produção tendem a ser plenamente utilizados através da combinação da noção
de substituição de fatores com flexibilidade de seus preços, ou seja, em situação de pleno emprego, que
se classificaria em dois grandes grupos.
No primeiro grupo teríamos as teorias neoclássicas do crescimento exógeno, que são aquelas em que
a acumulação de capital tem retornos marginais decrescentes. No outro grupo, as teorias neoclássicas
do crescimento endógeno em que, apesar de os preços dos fatores continuarem a ser determinados por
funções de oferta e demanda baseadas no princípio de substituição, por uma série de motivos, os fatores
de produção que podem ser acumulados não têm retornos marginais decrescentes, e sim constantes.
Partindo desses pressupostos, tais modelos neoclássicos teriam dificuldades em explicar teoricamente
e empiricamente duas fortes associações da dinâmica econômica: a relação entre taxas de investimento
em capital fixo e taxa de crescimento do produto e, posteriormente, a relação entre taxas de investimento
e taxa de crescimento do produto per capita ou por trabalhador.
Do ponto de vista teórico, as críticas mais importantes que foram feitas às teorias neoclássicas do
crescimento corresponderam à crítica monetária e externa. Baseadas nas teorias de Keynes e Kalecki, em
que taxa de juros exprime um fenômeno estritamente monetário e uma crítica real e interna à noção
de substituição de fatores de produção relacionada às dificuldades de tratar o capital como um fator de
produção idêntico aos demais, levantada por Piero Sraffa. Tais teorias denominaremos pertencentes ao
conjunto de teorias heterodoxas de crescimento.
Claro que há muitas diferenças entre as teorias heterodoxas do crescimento, pois por serem
heterodoxas notadamente são menos homogêneas entre si. Mas, apesar disso, existem dois aspectos
gerais em comum a estas teorias em contraposição às teorias neoclássicas, já que advogam pela
determinação assimétrica da distribuição a partir do princípio clássico do excedente e pela ausência do
princípio de pleno emprego da força de trabalho.
145
Unidade II
Da noção clássica do excedente, todas as teorias heterodoxas do crescimento herdaram a ideia de uma
relação inversa entre as rendas da propriedade em geral e o nível do salário real, para uma determinada
técnica dada. Essa relação inversa leva a uma determinação assimétrica da distribuição quando uma das
variáveis distributivas é determinada exogenamente e a outra seria ajustada residualmente.
Nesse caso, adotariam a noção de o capital e o trabalho serem fatores complementares, e que a
oferta de trabalho tende a se ajustar às necessidades da acumulação de capital. Tal situação origina‑se
de uma série de processos como a estrutura do mercado de trabalho – a divisão entre o mercado
formal e o informal –, mudanças na taxa de participação de distintos grupos sociais ou, finalmente,
migrações internas e internacionais. Concomitantemente, a necessidade de mão de obra se reduz devido
ao crescimento da produtividade, compreendido como parcialmente endógeno e em função da própria
acumulação de capital.
Como o trabalho não é visto como um fator destinado à escassez, o produto potencial da economia
é limitado basicamente pelo estoque de capital acumulado e sua eficiência produtiva. Neste caso, o
crescimento desta capacidade produtiva vai depender crucialmente da evolução do investimento.
Quando focamos o caso das relações entre poupança e investimento, muitos autores heterodoxos
supõem que a poupança potencial seja condição necessária e suficiente para o investimento a longo
prazo. Deve‑se ressaltar que poupança potencial, nessas teorias, em geral, significa poupança de
plena utilização do capital instalado, e não pleno emprego do trabalho. Essa abordagem era aceita
146
MACROECONOMIA APLICADA
por autores clássicos como Adam Smith e David Ricardo, assim como entre os autores da tradição
da economia do desenvolvimento temos Lewis, Rosenstein‑Rodan, Nurkse, Prebisch, Furtado e os
neomarxistas.
Esse entendimento busca justificar a conclusão de que possíveis reduções do consumo em economias
capitalistas levariam ao aumento do nível de investimento. Recorrentemente afirmadas sem argumento
teórico mais sólido, ao apresentar somente uma identificação mecânica das decisões de poupar e
investir, remetendo à suposição da Lei de Say, tendo a longo prazo a situação de que a oferta agregada
cria sua própria procura.
Nessa divisão, parte dos autores, dentre eles Smith, Ricardo, Lewis e alguns neomarxistas,
enfatizam o quanto uma alta parcela do excedente, em geral, e dos lucros, em particular, representaria
automaticamente estímulos ao crescimento de uma economia. Porém, outros autores, como Nurkse,
Prebisch, Baran e Furtado, temiam que o consumo excessivo das elites dos países em desenvolvimento
fosse um entrave ao processo de acumulação, por ocasionar a redução da poupança potencial.
Dentro deste debate, os autores que chamam a atenção para a questão dos retornos crescentes de
escala apontam para o fato de que a baixa taxa de poupança potencial adviria, em boa parte, da baixa
produtividade decorrente das reduzidas dimensões do mercado, como reflexos do estágio efetivo do
processo de acumulação de capital. Por conta disso, ressaltam a questão do aumento de produtividade
das economias em desenvolvimento.
O aumento de produtividade poderia ser alcançado pela via dos investimentos públicos ou pela
coordenação, por parte do Estado, de um conjunto de investimentos privados em setores estratégicos
com externalidades positivas. No caso de uma ocorrência simultânea de ambos, as taxas de retorno
seriam muito superiores às taxas de retorno privadas de cada projeto realizado isoladamente. Mas,
segundo Serrano (2007, p. 17):
Já dentre as teorias heterodoxas do crescimento que seguem a crítica de Marx, Keynes e Kalecki,
em relação à Lei de Say, e num contexto de uma economia monetária, a curto ou a longo prazo, as
decisões de investimento seriam independentes das decisões de poupança e, portanto, determinariam o
montante de poupança agregada. Assim, o nível de investimento agregado é independente do nível de
poupança potencial da economia; portanto, numa economia capitalista, casos de reduções do consumo
não representariam estímulos diretos ao investimento.
147
Unidade II
Existem, no entanto, basicamente duas versões desse princípio através do qual, mesmo a longo
prazo, são os gastos em investimento que geram um montante agregado equivalente de poupança
efetiva. Essas duas versões dão origem a teorias da acumulação e distribuição diversas.
Em uma primeira abordagem, num horizonte de longo prazo, a poupança seria resultado do processo
inflacionário e mudanças induzidas por ela na distribuição funcional da renda. Numa segunda versão,
também a longo prazo, o argumento defende que o investimento gera poupança através de variações
do produto e da renda real.
A solução baseada na distribuição supõe que a longo prazo a economia estará sujeita a uma grande
restrição estrutural pelo lado da oferta, que condiciona a renda real a um nível dado e que não sofre
variações com aumentos dos gastos em investimento. Com a ocorrência de uma inflação de demanda, a
distribuição de renda altera‑se em favor das classes que podem poupar maior fração de seus rendimentos,
ou seja, o investimento geraria um processo de poupança forçada que representa a principal conclusão
da teoria da distribuição de Cambridge.
Observação
Mas veremos que a lógica que leva ao surgimento de uma poupança forçada apresenta problemas
tanto na análise teórica como na empírica. Nesse caso, o mecanismo de ajuste deveria funcionar
simetricamente, seja em situações em que temos um excesso de demanda agregada – propiciando
uma concentração da renda –, seja em situações em que a demanda agregada está abaixo do produto
potencial, nesse caso, levando a uma queda de preços em relação aos salários e a uma consequente
diminuição da parcela dos lucros na renda total.
Quando analisamos um caso de excesso de demanda agregada a longo prazo, a conclusão também
não se apresenta satisfatória. Isso ocorre porque a teoria não consegue explicar o fato de a criação de
capacidade do investimento não ser capaz de eliminar as restrições de oferta, portanto apresentando
sempre um excesso de demanda agregada a longo prazo. Além disso, implica que haja uma relação inversa
entre os níveis de investimento e de consumo a longo prazo, coisa que não se observa empiricamente
nas economias capitalistas, nem mesmo nas menos desenvolvidas.
148
MACROECONOMIA APLICADA
Nesse caso, o produto é determinado pela demanda efetiva agregada. Não há uma relação inversa,
e sim positiva, entres os níveis de investimento e consumo a longo prazo. Na teoria de Kalecki, tais
conclusões só seriam totalmente possíveis em economias capitalistas avançadas, o que não limitou a
adoção desta visão por economistas em países em desenvolvimento.
Neste ponto apresentaremos a importância do papel da demanda efetiva como principal explicação para
a trajetória de crescimento das principais variáveis macroeconômicas. Esse caminho será mostrado através
de um problema levantado por um modelo de crescimento econômico pós‑keynesiano, realizado por Harrod,
que foi conhecido como a instabilidade fundamental da taxa garantida de crescimento. Assim, veremos que
um modelo do tipo supermultiplicador, em que a distribuição é dada exogenamente e com gastos autônomos
que não criam capacidade produtiva, representa a melhor resposta ao problema da instabilidade.
Harrod, com esse modelo, procura estudar qual a condição para a ocorrência de um crescimento
econômico equilibrado, situação em que temos uma conciliação dos efeitos da demanda e da
capacidade de investimento, originando assim um equilíbrio entre a demanda agregada e a capacidade
produtiva. Essa condição destacada ganha expressão no modelo de Harrod, que parte da identidade
entre investimento e poupança agregados após algumas manipulações acaba por derivar sua equação
fundamental, demonstrada na seguinte expressão:
I S Y* Y
≡
K Y K Y *
Tal expressão indica que a taxa de crescimento do estoque de capital (I/K) corresponde à propensão
média a poupar (S/Y) multiplicada pelo inverso da relação normal capital‑produto (Y*/K = 1/v) e também
149
Unidade II
pelo grau efetivo de utilização da capacidade (Y/Y * = u). Destaca‑se neste modelo que a propensão média
a poupar é totalmente determinada pela propensão marginal a poupar, s , sendo dada exogenamente
ao modelo. Como destacam Serrano e Freitas (2013, p. 2), isso decorre do fato de que, na especificação
de seu modelo, Harrod não considerou a existência de consumo agregado autônomo.
Por adotar essa hipótese o nível do produto da economia será determinado pela demanda efetiva
com base no gasto canalizado ao investimento produtivo através de:
Y = I / s
A partir disso, em razão de um dado valor da propensão marginal a poupar, a taxa efetiva de
crescimento da economia (g) iguala‑se à taxa de crescimento do investimento, isso porque o consumo
cresce sempre na mesma proporção que o investimento realizado. Neste contexto, a taxa de crescimento
do estoque de capital (gk)também acompanha, mesmo com alguma defasagem, a taxa de crescimento
do investimento líquido.
Que nesse caso segue a tendência para que (gk = g), possibilitando a obtenção da seguinte equação:
g = (s / v )u
Será a partir da equação apresentada que, adotando um grau normal de utilização da capacidade, com
u = 1, poderemos deduzir a equação fundamental de Harrod que expressa a condição para que ocorra um
crescimento equilibrado entre demanda e capacidade nesse modelo. Tal situação é dada pela expressão:
gw = s/v
Nesse ponto, temos a taxa garantida (gw) como a representação da taxa que permite esse tipo de
crescimento equilibrado. Essa taxa garantida é uma função positiva da propensão marginal a poupar e
negativa quanto à relação normal capital‑produto, ambas determinadas de forma exógena. Notamos
que tal representação reflete apenas as condições de oferta, mesmo com a pretensão de Harrod em
estender para o longo prazo, quando temos variações na capacidade produtiva, o mesmo diagnóstico
keynesiano num contexto de curto prazo. Se olharmos mais atentamente, extrapolando a análise para
o longo prazo, a taxa garantida pode ratificar a validade da lei de Say.
150
MACROECONOMIA APLICADA
Para Serrano e Freitas (2013, p. 3), isso seria garantido pela equação apresentada quando g = gw
adotar uma propensão marginal a consumir igual a 1, o que corresponderia à própria representação
algébrica da lei de Say. Mas se rejeitarmos a lei de Say, como fez Harrod, a conclusão a que se chega é a
de não haver motivo nenhum para o crescimento da economia corresponder à taxa garantida.
Em decorrência disso, toda vez que o investimento e, posteriormente, o estoque de capital crescer
a uma taxa g exógena diferente da taxa garantida (gw), o grau de utilização será diferente do normal
(u ≠ 1) Lembremos que a taxa garantida representa a única taxa em que o investimento, a demanda
e a capacidade produtiva crescem de forma equilibrada, ou seja, apresentando (u = 1).
Logo, qualquer outra taxa de crescimento motivada por um investimento induzido, como
demonstrou Harrod, provoca desequilíbrios cumulativos. Decorre que quando (g > gw) temos uma
situação de sobreutilização da capacidade produtiva (u > 1), enquanto apresentando (g < gw), temos
uma subutilização da capacidade produtiva (u < 1). Tal resultado ocorre supondo que o investimento
seja totalmente induzido e sensível ao grau de utilização da capacidade produtiva. Diante disso, como
descrevem Serrano e Freitas (2013, p. 4):
Com o que foi descrito podemos ter a seguinte constatação: embora uma dada taxa de
crescimento dos investimentos g leve a um grau de utilização da capacidade estável, já que o
estoque de capital cresce à mesma taxa que crescem a demanda agregada e o investimento, ocorre
que cada mudança na taxa de crescimento implica ao seu grau de utilização uma alteração de valor,
pois o efeito inicial de um aumento de g é aumentar a demanda mais do que a capacidade. Isso
ocorre porque o investimento reflete primeiramente um aumento da demanda e só posteriormente
resulta no aumento de capacidade produtiva. A relação inversa correspondente ocorre no caso de
uma queda de g.
Assim, cada rodada de redução (ou aumento) da taxa de crescimento do investimento devido a
uma queda (aumento) do grau de utilização da capacidade levaria a um novo grau de utilização da
capacidade menor (maior) (SERRANO; FREITAS, 2013, p. 4.)
151
Unidade II
Exemplo
1 − GEt s 1 − 0,1
Gt = 1 − . Gt = 1 − .0,1 = 0,1
GEt v 0,1
1 − 0, 2
Gt = 1 − .0,1 = 1 − 0, 4 = 0, 6
0, 2
Se os empresários esperarem uma taxa de crescimento da renda maior que s/v, eles vão investir mais,
o que, via multiplicador, aumentará ainda mais o nível de renda. Então, a taxa verdadeira excederá suas
expectativas otimistas e, dessa forma, eles revisarão suas expectativas, supondo uma taxa de crescimento
ainda maior para o período seguinte.
1 − 0,1
Gt = 1 − .0, 2 = 1 − 18
, = ( −0, 8)
0,1
152
MACROECONOMIA APLICADA
Se os empresários esperarem uma taxa de crescimento menor do que a taxa garantida, eles
reduzirão os investimentos, o que, via multiplicador, reduzirá ainda mais o nível de renda. Então a taxa
de crescimento verdadeira será menor que suas expectativas, eles sentirão que foram superotimistas e
revisarão suas expectativas negativamente para o próximo período.
Este problema é chamado de “fio da navalha”: dado um equilíbrio de pleno emprego, qualquer
pequeno desvio da taxa de crescimento dos investimentos em relação à taxa garantida (s/v) vai gerar
efeitos cumulativos, desviando a economia do crescimento em estado estável.
A situação de instabilidade reafirma‑se como fundamental, nos termos de Harrod, já que o processo
de ajustamento vai na direção errada, isso independente do valor específico do coeficiente de reação do
investimento ou do seu grau de utilização. Para ilustrarmos essa situação, nos momentos em que a taxa
efetiva de crescimento se encontra abaixo da garantida e o grau de utilização está baixo, o crescimento
no ritmo da taxa garantida só é possível com um aumento do investimento, mas os sinais de mercado
em razão do baixo grau de utilização acabam por incentivar uma redução do investimento privado.
Mas tais afirmações, que caracterizam esse impasse, só se apresentariam na realidade quando as
hipóteses utilizadas pelas teorias pós‑keynesianas não fossem contestadas. Dentre estas hipóteses, duas
são essenciais: ocorrência de investimento autônomo e ausência de consumo agregado autônomo, que
representam gastos autônomos que não geram nova capacidade produtiva pelo setor privado.
Será neste ponto que a macroeconomia da demanda efetiva irá divergir da teoria pós‑keynesiana.
Para Harrod, o investimento autônomo representa o principal responsável pelo impasse em questão,
sendo o fator necessário para a demanda agregada se ajustar à capacidade produtiva, resultando num
grau normal de utilização desta capacidade e, em decorrência, indispensável na resolução do problema
da instabilidade fundamental de Harrod (SERRANO, FREITAS, 2013, p. 8).
No entanto, para a macroeconomia da demanda efetiva isso não corresponde à verdade. Admitindo
o problema da instabilidade fundamental da taxa de crescimento aliado ao casamento do acelerador e
do multiplicador, tal instabilidade fundamental desaparece tão logo se admita a existência de gastos em
consumo autônomos.
S
= s − (Z / Y )
Y
Diante dessa expressão detectamos que as duas propensões só serão iguais (S / Y = s ) na ausência
do consumo autônomo (Z = 0). Com isso, o papel da propensão marginal será de representar um teto
para a propensão média, que, neste caso, será estritamente menor do que ela. Como nos alertam
Serrano e Freitas (2013, p. 9):
153
Unidade II
S / Y = [I / (I + Z)]s
S / Y = f .s
Aqui a incógnita f corresponderia à razão entre a propensão média e a marginal a poupar. Após tal
derivação vemos que a propensão média não é mais determinada unicamente pela propensão marginal
a poupar. Ela passa a depender também dos níveis de investimento e de consumo autônomo.
Dito isso, iremos agora observar o que ocorre numa economia adotando a existência de consumo
autônomo, tendo como condição adicional o investimento induzido a longo prazo. Ao definir como h
uma dada propensão marginal a investir, ou taxa de investimento, obtemos:
I/Y = h
Nessas condições, o nível de produto será dado por um supermultiplicador, que, como ressaltamos
anteriormente, levará em conta as ocorrências de consumo e investimento induzido, dando-nos uma
nova relação, representada por:
Y = Z / (s − h)
Se nesse modelo considerarmos como dada a propensão marginal a poupar e a propensão a investir,
a demanda efetiva e a economia irão crescer puxadas pela taxa de crescimento do gasto em consumo
autônomo, z . Soma‑se a isso que a propensão média a poupar é inteiramente determinada pela
154
MACROECONOMIA APLICADA
propensão marginal a investir, isso, para qualquer valor da propensão a investir menor que s . Como
nos alertam Serrano e Freitas (2013, p. 10), isso é facilmente demonstrável utilizando a equação do
supermultiplicador e, assim, determinando a parcela do consumo autônomo no produto:
Z / Y = (s − h)
S / Y = s (s − h)
Originando:
S/Y = h
Vemos que nesse modelo a propensão média a poupar é inteiramente determinada pela propensão
a investir h, mesmo com a propensão marginal a poupar sendo exógena. Ao reunirmos esses resultados,
num modelo de supermultiplicador, podemos construir uma equação em que:
z = [h / v ]u
Temos, assim, com a presença de gastos autônomos que não geram capacidade e crescem a uma
taxa independente z , que o investimento induzido passa a não ocasionar a instabilidade fundamental,
como apontado pelo modelo de Harrod. Esse modelo com um supermultiplicador adotando consumo
autônomo apresenta‑se totalmente estável, e o processo de ajustamento agora será na direção correta.
Vamos entender melhor a construção dessa solução.
Vamos partir de uma situação em que o grau de utilização da capacidade está em seu nível normal,
com uma taxa z de crescimento do consumo autônomo se reduzindo permanentemente. Tal redução
tem um impacto negativo de mesma magnitude na taxa de crescimento do produto g, sendo dadas as
propensões marginais a consumir e a investir.
O primeiro impacto será que o grau efetivo de utilização da capacidade se reduz (u < 1), como
reflexo do menor crescimento da demanda agregada; posteriormente, tanto a taxa de crescimento da
capacidade produtiva como o estoque de capital terão taxas menores. Essa situação de lento crescimento
da capacidade será efetivada pelo ritmo mais lento que apresentará o nível de investimento, já que, para
uma dada taxa de investimento induzido h, temos uma redução da taxa de crescimento dos gastos
autônomos e, finalmente, com igual nível de redução da taxa de crescimento do estoque de capital
(SERRANO; FREITAS, 2013, p. 11).
Após essas implicações, temos que a taxa de crescimento do estoque de capital vai se adaptando ao
menor crescimento do produto, levando o grau de utilização para um nível inferior ao normal, que pode
ser ratificado pela equação anteriormente deduzida. Ao longo do tempo, a própria taxa de investimento
155
Unidade II
induzido h irá se reduzir devido à baixa utilização da capacidade produtiva, ou seja, uma redução na
propensão marginal a investir que resultará em dois efeitos para a economia. Como nos alertam Serrano
e Freitas (2013, p. 12):
Mas ao aceitarmos a presença dos gastos autônomos, cuja taxa de crescimento é exógena, qualquer
elevação desses gastos implica que a taxa de crescimento da demanda agregada e do produto seja
reduzida em menor grau que a queda da taxa de crescimento do investimento, enquanto a queda
posterior do crescimento do estoque de capital será igual à redução do crescimento do investimento.
Isso terá impactos no grau de utilização que poderá se elevar novamente, pois mesmo com a demanda
agregada apresentando um ritmo de crescimento menor o impacto final da redução do crescimento do
estoque de capital será ainda maior. Tal situação seria improvável sem a ocorrência de consumo autônomo.
Neste processo de ajustamento, o fato descrito seguirá essas implicações enquanto o grau de utilização
estiver abaixo do nível normal e se encerrará no momento em que a taxa de investimento induzido tiver
sido reduzida o suficiente, permitindo que, ao grau de utilização normal, a taxa de crescimento do estoque
de capital vá se adaptando ao ritmo de crescimento mais baixo dos gastos autônomos.
No caso de uma elevação da taxa de crescimento dos gastos autônomos ( z ), esse processo ocorre
simetricamente na direção contrária. Teríamos uma sobreutilização da capacidade de produção, com
aumentos graduais na taxa de investimento (h) que redundam numa ampliação ainda maior da utilização
da capacidade. Num segundo momento, a aceleração do crescimento da capacidade em comparação ao
da demanda agregada levaria a uma redução do grau de utilização em direção ao seu nível normal, em
que a taxa de crescimento da capacidade produtiva adapta‑se à maior taxa de crescimento dos gastos
autônomos z .
Ao observarmos esse processo, temos que o comportamento do crescimento liderado pelos gastos
autônomos Z seria caracterizado como estável, já que a reação do investimento induzido ao desequilíbrio
entre demanda agregada e capacidade produtiva gera uma redução maior do crescimento da capacidade
do que da demanda no caso de subutilização e um aumento maior da expansão da capacidade do que
da demanda no caso de sobreutilização, portanto o processo de ajustamento direciona a economia na
direção correta.
Quando comparamos com o modelo de Harrod, no qual o ajustamento causava instabilidade, por
não existir consumo autônomo o nível da demanda cresce ou diminui sempre na mesma proporção que
o crescimento da capacidade. Como nos explicam Serrano e Freitas (2013, p. 13):
Como vimos anteriormente, dadas s e v, as variações da taxa de investimento h alteram a fração f = [I/
(I + Z)] possibilitando que a economia endogenamente gere a taxa de poupança requerida pela expansão
da demanda agregada e do investimento, possibilitando que o grau de utilização tenda a 1. Se utilizarmos
a linguagem de Harrod, tal situação diz que a taxa efetiva de crescimento é dada pela expansão dos
gastos autônomos em consumo e a taxa garantida iria se ajustar à taxa efetiva por conta das variações da
propensão média a poupar da economia, tendo como causa as variações induzidas da taxa de investimento.
Concluímos que o resgate do modelo de Harrod, pela macroeconomia da demanda efetiva, visa
solucionar as imperfeições deste modelo ao enfatizar o papel dos gastos autônomos – que não
criam capacidade – como fator importante para o equilíbrio entre demanda e capacidade produtiva,
adotando‑se tanto um elemento acelerador como multiplicador, dados pelo investimento induzido e
pelo consumo induzido, respectivamente. Assim, a partir deste cenário, temos como derivar os impactos
econômicos pelo comportamento destes mesmos gastos autônomos.
No que diz respeito ao investimento produtivo privado, podemos caracterizá‑lo como investimento
autônomo ou investimento induzido quando pensamos na relação técnica necessária entre investimento
e expansão da capacidade produtiva. Se o investimento é caracterizado como autônomo, então, dada
a relação técnica, a evolução da capacidade produtiva será uma consequência das decisões de investir.
Mas no caso de constatarmos o investimento como induzido, em resposta a uma evolução esperada
da demanda, na presença de um mecanismo do tipo acelerador flexível ou ajuste de estoque de capital,
a própria evolução da demanda efetiva ditará o ritmo de expansão da capacidade produtiva e o nível de
investimento compatível com esse processo.
Portanto, temos a distinção de dois modelos de crescimento, sendo uma primeira teoria baseada na
ideia do investimento fundamentalmente autônomo, logo representando uma variável independente, e
um segundo modelo no qual o investimento é visto como induzido e a dinâmica do investimento, mesmo
sendo independente da propensão a poupar, será vista como uma variável dependente, ambas vistas no
interior de um processo de acumulação. Iremos agora para uma apresentação destas duas famílias de
modelos, ressaltando que os modelos do segundo tipo são os mais eficazes para propiciar um maior nível
de renda e emprego, conforme os pressupostos da teoria da macroeconomia da demanda efetiva.
Para uma dada relação capital‑produto, o aumento absoluto do estoque de capital e da capacidade
produtiva da economia depende do nível de investimento. Já as taxas de crescimento do estoque de
capital e da capacidade produtiva dependem do montante de investimento em relação ao estoque de
capital ou ao produto potencial existente.
Como não se postula uma tendência ao grau de utilização normal, neste tipo de modelo, uma alta
taxa de investimento (em relação ao produto efetivo) não significa necessariamente uma alta taxa de
investimento em relação ao produto potencial nem uma alta taxa de crescimento do estoque de capital.
Ocorre que o produto efetivo pode estar muito abaixo ou, dentro de certos limites de capacidade ociosa
planejada, consideravelmente acima do produto potencial normal.
Por consequência, nas teorias de crescimento liderado pela demanda em que o investimento
produtivo é autônomo, embora as taxas de crescimento da economia e do estoque de capital dependam
da tendência da taxa de crescimento do nível de investimento, não há motivo algum para que se
obtenha qualquer relação entre a taxa de investimento (como proporção do produto) e a taxa de
crescimento do produto, nem do produto por trabalhador, nem do produto per capita. Uma alta parcela
do investimento no produto efetivo meramente reflete uma baixa propensão marginal a consumir e
poderá perfeitamente coexistir com baixas taxas de crescimento do produto e da capacidade produtiva
se o grau de utilização da capacidade for baixo.
Simetricamente, com um alto grau efetivo de utilização da capacidade, uma alta taxa de crescimento
e de acumulação de capital pode ser compatível com uma baixa taxa de investimento (como parcela do
produto). O investimento pode ser, ao mesmo tempo, relativamente baixo no que concerne ao produto
e relativamente alto no que se refere ao estoque de capital (e ao produto potencial).
Em termos empíricos, este tipo de modelo, no qual o grau médio de utilização da capacidade é a
variável de ajuste no processo de crescimento, não consegue explicar a relação observada entre taxas
de investimento (como parcela do produto) e taxa de crescimento, seja do produto efetivo, seja do
produto per capita.
158
MACROECONOMIA APLICADA
Além disso, a evidência econométrica dos chamados testes de causalidade, em geral, aponta
uma forte relação de que é o produto (ou a taxa de crescimento) que precede ou causa os níveis de
investimento produtivo (ou a taxa de investimento), ao invés do oposto, o que contraria a noção de
investimento autônomo e reforça a noção de investimento induzido a longo prazo.
Estas, no entanto, não devem ser vistas como dificuldades da noção de crescimento liderado pela
demanda em geral, e sim como resultado da hipótese de que o investimento produtivo é autônomo a
longo prazo.
Uma alternativa é o outro tipo de modelo de crescimento liderado pela demanda, no qual o
investimento produtivo privado é totalmente induzido a longo prazo pelo processo de ajustamento
da capacidade à demanda através do mecanismo do acelerador flexível. O crescimento da demanda
depende da expansão dos gastos autônomos improdutivos (como o consumo autônomo, o investimento
residencial, as exportações e os gastos públicos), que injetam novo poder de compra monetário na
economia e não criam capacidade para o setor privado. Estes modelos são conhecidos como modelos
de supermultiplicador.
Nesses modelos de crescimento, a demanda agregada aumenta à taxa de crescimento dos gastos
autônomos improdutivos, que geram adicionalmente consumo induzido e investimento induzido, dadas
as propensões marginais a consumir e a investir da economia. Com uma dada taxa de investimento
produtivo, o estoque de capital e a capacidade produtiva tenderão a crescer à mesma taxa que o produto,
liderados pela expansão dos gastos autônomos improdutivos.
Este mecanismo de acelerador flexível ou ajuste do estoque do capital faz com que, a longo
prazo, o grau médio de utilização da capacidade da economia não tenda a se afastar muito de
seu nível normal ou planejado. Tanto o nível quanto a taxa de crescimento do produto potencial
tendem a seguir a expansão da demanda agregada, liderada pela taxa de crescimento dos gastos
autônomos improdutivos.
159
Unidade II
Essa maior taxa de investimento implica necessariamente que o investimento aumentou mais do
que o produto e a renda, e faz que não só o nível como também a própria taxa de poupança (ou
propensão média a poupar) aumentem, sem nenhuma necessidade de mudança na propensão marginal
a consumir ou na distribuição de renda.
Com essas propriedades, o modelo do supermultiplicador não tem as deficiências teóricas dos
modelos kaleckianos de crescimento puxados pelos investimentos produtivos autônomos, pois leva em
conta que, numa economia capitalista, a concorrência impõe aos produtores a necessidade constante
de tentar ajustar a capacidade produtiva à demanda.
O modelo do supermultiplicador também não tem as dificuldades empíricas do modelo puxado pelo
investimento autônomo. O próprio fato de o investimento produtivo ser totalmente induzido explicaria
os resultados dos testes de causalidade mencionados, nos quais é a evolução do produto que a longo
prazo determina o investimento, e não o oposto, como nos modelos kaleckianos.
Saiba mais
160
MACROECONOMIA APLICADA
Quando passamos para a discussão da economia aberta, vemos que as diferenças entre as teorias
neoclássicas e heterodoxas levam a uma visão totalmente diferente do funcionamento do comércio
internacional e dos efeitos dos fluxos de capitais.
Isso ocorre porque o mecanismo tradicional de ajuste automático, que presumivelmente equilibraria o
comércio e garantiria a especialização via vantagens comparativas, requer ampla flexibilidade de salários reais.
Para o mecanismo tradicional funcionar, um país com tendência ao déficit externo, por exemplo, deveria ser
capaz de reduzir seus termos de troca e sua taxa de câmbio real através de deflação ou desvalorizações cambiais.
Países e regiões que não forem competitivos internacionalmente na produção de bens de alta
elasticidade-renda terão, necessariamente, de ajustar sua balança comercial, limitando o volume de
importações, reduzindo seu nível de atividade ou fazendo alguma substituição de importações. Haverá
uma restrição externa ao crescimento de uma dada economia.
Nas teorias heterodoxas, os preços relativos dependem fundamentalmente dos custos unitários
(diretos e indiretos) do trabalho. Esses custos, porém, refletem tanto os coeficientes de trabalho direto e
indireto quanto os salários reais pagos em cada região (embora não sejam exatamente proporcionais a
eles). Nessas teorias, temos diferentes explicações sobre as discrepâncias entre os níveis e a evolução da
produtividade e dos salários reais entre regiões de diferentes níveis de desenvolvimento.
Vários autores desenvolvimentistas explicavam, por exemplo, a tendência à deterioração dos termos
de troca para países especializados em bens primários, baseados na ideia de que, nos países centrais,
os custos unitários de trabalho dos produtos exportados tendiam a se estabilizar, pois os salários reais
historicamente tendiam a seguir o crescimento da produtividade.
No caso dos países periféricos, a baixa produtividade dos setores domésticos produtores de
alimentos e o excesso estrutural de mão de obra enfraqueciam o poder de barganha dos trabalhadores
e mantinham os salários reais estagnados. Os ganhos de produtividade dos setores exportadores da
periferia levavam a preços internacionais menores a curto prazo, através de aumentos desordenados
da oferta, que se dariam num prazo mais longo porque os custos unitários de trabalho tenderiam a
diminuir. Essa tendência agravaria ainda mais a tendência à polarização advinda do fato de que os
padrões de comércio são guiados por vantagens absolutas, em vez de comparativas.
161
Unidade II
Nas teorias heterodoxas, a introdução de fluxos internacionais de capitais nos modelos não elimina
a tendência à polarização da economia internacional, pois as condições de sustentabilidade de um
processo de crescimento com endividamento externo requerem uma alta taxa de crescimento das
exportações em relação às taxas internacionais de juros. Mas isso só será possível se os problemas
estruturais de competitividade externa forem resolvidos, dado que as taxas de juros internacionais são
exógenas em relação aos países em desenvolvimento.
Já a liberalização dos fluxos de capitais de curto prazo gera problemas adicionais de tendência
a ciclos especulativos de endividamento externo excessivo e valorização cambial, invariavelmente
seguidos por crises cambiais e fuga de capitais. Graves problemas de liquidez externa são gerados
quando o ciclo se reverte. O montante dos passivos externos cresce em relação às reservas externas do
país, e as dificuldades, com a restrição externa, acabam afetando decisivamente o ritmo de acumulação
de capital, pois forçam os governos a executar políticas macroeconômicas contracionistas. Tais políticas
impedem o crescimento estável e acelerado da demanda efetiva necessário para induzir altas taxas de
investimento produtivo através do mecanismo do supermultiplicador.
Resumo
que implicaria dizer que não ocorrem erros sistemáticos ao longo do tempo.
Com informação completa e correta, quaisquer que sejam as políticas
econômicas adotadas, a economia se move para o ponto de equilíbrio ao
nível potencial. Portanto, as políticas econômicas não exercem um efeito
real a longo prazo. A política monetária é sempre ineficaz, inclusive a curto
prazo, pois a moeda é neutra.
164
MACROECONOMIA APLICADA
Exercícios
C) O modelo dos novo‑clássicos propõe que um choque monetário positivo e não antecipado gere
expansão da renda real, inflação e queda do salário real.
D) Os ciclos econômicos são provocados por choques tecnológicos, segundo a concepção dos
novo‑keynesianos.
E) Os novo‑keynesianos acreditam que a rigidez de preços e salários seja uma das principais causas
da neutralidade da moeda a curto prazo.
A – Alternativa incorreta.
B – Alternativa incorreta.
C – Alternativa correta.
Justificativa: o choque monetário expansionista não antecipado surtiria efeitos reais na economia,
expandindo o produto real (renda real) e provocando queda no salário real, pois o aumento do produto
seria acompanhado pela expansão monetária e, portanto, pela inflação. O ponto central é o papel das
expectativas racionais, pois a antecipação do choque não traria qualquer efeito real caso os agentes
conseguissem se adequar ao anúncio prévio.
165
Unidade II
D – Alternativa incorreta.
E – Alternativa incorreta.
Justificativa: os keynesianos, sejam novos ou não, acreditam que a moeda não seja neutra a curto
prazo, por ser o mais líquido dos ativos. Diante da incapacidade de estabelecer a relação entre risco e
retorno sobre os investimentos, o agente retém moeda, já que, quando a incerteza cessar, deter moeda
será a garantia de agir de imediato nas suas decisões.
Questão 2. (Anpec, 2004). Considerando as várias abordagens das flutuações econômicas, julgue as
afirmativas a seguir.
III – Segundo os modelos originais na tradição dos ciclos econômicos reais, variáveis nominais, como
a oferta de moeda, não exercem impacto sobre as variáveis reais, como o produto e o emprego.
IV – A existência de custos de menu faz que os salários nominais, mas não os preços, sejam rígidos.
V – De acordo com os modelos originais na tradição dos ciclos econômicos reais, as flutuações
econômicas são devidas a algum tipo de rigidez real do sistema de preços.
A) I e II.
B) II e III.
C) III e IV.
D) V.
E) III.
166
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 241.
Figura 2
FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 242.
Figura 3
FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 252.
Figura 4
FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 252.
Figura 7
DATHEIN, R. O crescimento do desemprego nos países desenvolvidos e sua interpretação pela teoria
econômica: as abordagens neoclássica, keynesiana e schumpeteriana. 2000. Tese (Doutorado em
Economia) – Instituto de Economia, Unicamp, Campinas, 2000. p. 3.
Figura 8
DATHEIN, R. O crescimento do desemprego nos países desenvolvidos e sua interpretação pela teoria
econômica: as abordagens neoclássica, keynesiana e schumpeteriana. 2000. Tese (Doutorado em
Economia) – Instituto de Economia, Unicamp, Campinas, 2000. p. 4.
Figura 9
DATHEIN, R. O crescimento do desemprego nos países desenvolvidos e sua interpretação pela teoria
econômica: as abordagens neoclássica, keynesiana e schumpeteriana. 2000. Tese (Doutorado em
Economia) – Instituto de Economia, Unicamp, Campinas, 2000. p. 7.
Figura 10
FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 257.
Figura 11
FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 244.
167
Figura 12
SNOWDON, B.; VANE, H. R. Modern macroeconomics: its origins, development and current state.
Cheltenham; Northampton: Edward Elgar, 2005. Adaptado.
Figura 13
Figura 14
Figura 15
VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. Tradução de Maria José Cyhlar Monteiro e Ricardo
Doninelli. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Adaptado.
Figura 16
Figura 17
Figura 18
Figura 21
CARVALHO, F. J. C.; et al. Economia monetária e financeira: teoria e política. Rio de Janeiro: Elsevier/
Campus, 2012. Adaptado.
Figura 22
SNOWDON, B.; VANE, H. R. Modern macroeconomics: its origins, development and current state.
Cheltenham: Edward Elgar, 2005. Adaptado.
168
Figura 24
Figura 26
ALÉM, A. C. Macroeconomia: teoria e prática no Brasil. São Paulo: Elsevier, 2010. p. 285.
Figura 27
ALÉM, A. C. Macroeconomia: teoria e prática no Brasil. São Paulo: Elsevier, 2010. p. 293.
Figura 28
Figura 29
Figura 30
Figura 34
Figura 35
Figura 36
Figura 37
169
Figura 38
Figura 39
Figura 40
Figura 41
Figura 42
Figura 43
REFERÊNCIAS
Textuais
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172
Exercícios
173
174
175
176
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000