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Unidade II

Unidade II
5 COMPARAÇÃO E SÍNTESE DOS DISTINTOS MODELOS MACROECONÔMICOS

A revolução keynesiana foi marcada por colocar que o maior problema da Grande Depressão,
nos anos 1930, era a falta de demanda agregada. A escola keynesiana triunfou desse período até
aproximadamente meados dos anos 1970, quando o mundo passou novamente por outra grande crise
e houve o questionamento do funcionamento das políticas intervencionistas keynesianas.

5.1 Modelo monetarista

Dessa mudança, surgiu a escola monetarista, cujo principal expoente foi Milton Friedman, a partir da
publicação, em 1970, de The Counter‑Revolution in Monetary Theory. Esse autor, junto aos demais monetaristas,
resgatou as hipóteses clássicas; sua abordagem teórica baseava‑se na teoria quantitativa da moeda (TQM), que
estabelece que o estoque de moedas determina o nível geral de preços. Dessa maneira, uma expansão monetária
deve ser equivalente à taxa de crescimento do produto real, para evitar o fenômeno inflacionário.

A despeito de concordarem com os clássicos sobre a condução da política monetária, os monetaristas


aceitam a possiblidade de a moeda não ser neutra a curto prazo, pois a demanda por saldos reais não é
perfeitamente estável a curto prazo.

Com relação à curva de Phillips, essa escola incorpora a hipótese de que os trabalhadores usem
a expectativa futura do nível de preços, dados os salários nominais. Essa abordagem ficou conhecida
como curva de Phillips versão Friedman‑Phelps. Portanto, essa escola criticou a primeira versão da curva
de Phillips, que embasava as decisões dos agentes nos salários nominais e não reais. A diferença dos
monetaristas foi considerar as expectativas dos agentes quanto à inflação futura.

Na nova abordagem da curva de Phillips, são associados o conceito de taxa natural de desemprego
ou Nairu e a formação de expectativas a partir da informação do passado. Isso implicou uma curva de
Phillips aceleracionista ou aumentada de expectativas.

Observação

A taxa natural de desemprego também é concebida como Nairu


(Non‑accelerating inflation rate of unemployment). Pode ser caracterizada pela
presença de desemprego friccional apenas, indicando pleno emprego dos fatores de
produção da economia. No nível de desemprego natural, dado pela Nairu, a inflação
é estável. Portanto, se o desemprego for maior que o natural, haverá uma queda no
nível geral de preços; se o desemprego estiver abaixo do natural, haverá inflação.
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MACROECONOMIA APLICADA

Segundo Além (2010, p. 283), a formação de expectativas está embasada nas seguintes hipóteses:

i) o salário nominal se ajusta de forma a equilibrar o mercado (igualar a


oferta e demanda de trabalho);

ii) os trabalhadores decidem quanto trabalho ofertar a cada salário


nominal, formando uma expectativa de nível de preços (Pe) e
calculando a partir dela o salário real, que é a variável relevante; e

iii) os empregadores decidem quanto trabalho demandar a cada


salário nominal utilizando seu conhecimento sobre o preço de
seu próprio produto para converter o salário nominal em salário
real, que será igualado ao produto marginal do trabalho, para a
maximização do lucro.

Nesse modelo, os agentes observam o passado – melhor conjunto de informações disponível – e


aprendem com seus próprios erros. Assim, as expectativas de inflação são tomadas a partir das taxas
de inflação efetivas observadas no passado. Desse modo, quando a taxa de inflação é plenamente
antecipada, a economia retorna ao ponto de equilíbrio dado pela taxa natural de desemprego. Nesse
ponto, os níveis maiores de preços e salários são maiores e estão equilibrados à mesma taxa de
expansão monetária.

Considerando que os agentes são capazes de aprender com os erros do passado, os trabalhadores,
por exemplo, não sofrem de ilusão monetária, ou seja, podem ajustar suas posições lentamente a partir
de seus próprios erros e das suas expectativas do passado.

Em termos matemáticos, pode‑se expressar a formação das expectativas de preços por:

∆Pet = ∆Pet −1 + α ( ∆Pt −1 − ∆Pet −1)

Em que:

∆Pet = taxa de inflação esperada em t;

∆Pet –1 = taxa de inflação esperada no momento t‑1;

∆Pt –1 = inflação efetiva ocorrida em t‑1;

∆Pet –1 = inflação esperada em t‑1;

α = constante que mensura quanto do erro de previsão é incorporado à estimativa da inflação futura.

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Para entender o funcionamento da curva de Phillips aceleracionista, suponha uma situação de


equilíbrio de pleno emprego, em que a taxa de desemprego esteja no nível natural. Imagine agora que o
governo decida reduzir a taxa de desemprego para níveis menores que o nível natural. Para isso, aplica‑se
uma política monetária expansionista e, como os agentes sabem que o resultado é um aumento dos
preços, isso incentiva os ofertantes a produzirem mais e, então, aumenta a demanda por mão de obra.
Diante disso, como os trabalhadores subestimaram a inflação esperada, esse novo excesso de mão de
obra leva a um aumento do salário nominal. Caso a inflação efetiva supere a esperada, o salário real não
aumenta, o que reduz o nível de desemprego abaixo do nível natural. O efeito final dessa política é um
aumento da demanda agregada, dos preços, do produto e do emprego.

Perceba que, segundo essa escola, apenas os trabalhadores erram suas expectativas de inflação esperada.

Na figura a seguir é possível verificar esse mecanismo de ajuste:


U < Un U = Un U > Un
∆P > ∆Pe ∆P = ∆Pe ∆P < ∆Pe

CPh Ip

B C
∆P1

A
U
U1 U0
CPh cp2

CPh cp1

Figura 26 – A segunda versão da curva de Phillips: aceleracionista

Supondo que inicialmente a economia esteja em equilíbrio no ponto A, onde a curva de Phillips
de longo prazo (vertical – CPhlp) se encontra com a curva de Phillips de curto prazo (CPhcp1), caso o
governo queira reduzir a taxa de desemprego de Un para U1, ele pode aplicar uma política monetária
expansionista. Isso faz com que haja um excesso de demanda de bens e de trabalho cujo efeito é
um aumento de preços e salários nominais. Porém, o preço das mercadorias se ajusta mais rápido
que os salários nominais. Como estava numa situação de equilíbrio, conforme os salários nominais
aumentam, os trabalhadores interpretam equivocadamente que houve aumento de salário real, pois
ainda não viram o aumento dos preços. A partir disso, ofertam mais mão de obra e sofrem de uma ilusão
monetária temporariamente, porque os salários reais na realidade caem, devido ao aumento dos preços.
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MACROECONOMIA APLICADA

As empresas, por sua vez, procuram mais trabalhadores com essa queda salarial, acarretando uma taxa
de desemprego abaixo do nível de pleno emprego (de Un para U1). O novo ponto de equilíbrio agora é o
B, porém não é um equilíbrio de longo prazo.

Como os trabalhadores aprendem com os erros do passado, eles perceberão que os salários reais, na
verdade, caíram, e não aumentaram. Portanto, irão pressionar por salários nominais maiores, o que leva
ao deslocamento da curva CPhcp para a direita e para cima. No ponto C, na nova curva CPhcp2, a inflação
esperada e a efetiva são iguais novamente, o que corrige o erro de previsão dos trabalhadores. Com o
aumento do salário real, as empresas demitem alguns trabalhadores, e a taxa de desemprego aumenta
para Un. Nesse novo ponto de equilíbrio (C), houve um aumento do nível de preços.

Há uma segunda versão aceleracionista que supõe que os agentes precisem ser novamente
surpreendidos para que haja a manutenção de uma taxa de desemprego abaixo da taxa natural.
Para tanto, a expansão maior precisa ser maior ainda, porque os agentes, ao observarem o passado,
rapidamente reorganizam suas posições, de maneira que a política monetária expansionista perde efeito.

Desse modo, somente a parte não antecipada da taxa de inflação consegue


influir no lado real da economia permitindo um trade‑off entre inflação
e desemprego a curto prazo; em outras palavras, somente um erro de
expectativas torna inexistente a “dicotomia clássica”, segundo a qual as
variáveis reais são independentes das variáveis monetárias [...] para que a taxa
de desemprego se mantenha abaixo de sua taxa natural indefinidamente, é
necessário que a inflação se acelere para que as expectativas inflacionárias
dos agentes sejam constantemente frustradas (ALÉM, 2010, p. 286).

Esse princípio de aceleração mostra que não há um trade‑off estável entre inflação e nível de
emprego. Portanto, a longo prazo ou quando todas as expectativas estão ajustadas, a curva de Phillips é
vertical ao nível da taxa natural de desemprego. Isso significa que uma política monetária expansionista
gera apenas elevação de preços, sem que seja acompanhada por um aumento do produto da economia
e do nível de emprego.

5.2 Modelo novo‑clássico de expectativas racionais

Ao contrário dos economistas monetaristas, os da escola novo‑clássica estabeleceram suas análises


numa crítica quanto à eficiência das políticas ativas de estabilização, ou seja, eram totalmente contrários
aos pensadores keynesianos.

É importante lembrar que a revolução keynesiana se notabilizou dos anos 1930 aos 1970, que foi
quando a inflação elevada e o desemprego atingiram as economias desenvolvidas e houve um enorme
questionamento quanto à capacidade das políticas keynesianas.

Os teóricos da escola novo‑clássica, assim como os da escola monetarista, resgataram seus


pressupostos teóricos junto aos clássicos, chegando, portanto, a uma conclusão bastante semelhante,
isto é, concordavam com as políticas não intervencionistas (FROYEN, 2006).
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De acordo com Além (2010), as hipóteses resgatadas dos clássicos foram:

• Total flexibilidade de preços e salários, tanto a curto quanto a longo prazo, garantindo que
a economia opere sempre em equilíbrio. Dessa maneira, não há necessidade de políticas
intervencionistas para estabilizar a economia.

• Todos os agentes são racionais e se empenham continuamente em maximizar os seus ganhos,


dadas as restrições.

• Os agentes observam e decidem a partir das informações reais, ou melhor, das variáveis reais,
como os preços relativos, portanto não sofrem de ilusão monetária.

Ainda de acordo com Além (2010), os economistas novo‑clássicos, no que se refere às hipóteses
centrais, defendem que:

• Preços e salários sejam flexíveis, permitindo que o mercado opere em equilíbrio (market clearing)
conforme as pressões de oferta e demanda.

• Os agentes econômicos tomam suas decisões de escolha em variáveis reais, especificamente,


preços relativos.

• Os agentes otimizam suas escolhas a partir das informações disponíveis, permitindo a esses
agentes estarem sempre em equilíbrio.

• Os agentes não cometem erros sistemáticos quando utilizam as informações disponíveis, pois
suas expectativas são racionais.

A hipótese fundamental é a de market clearing contínuo, isto é, partindo da suposição de concorrência


perfeita, os mercados operam sempre em equilíbrio contínuo. Esse resultado é possível tanto a curto
quanto a longo prazo, pois os agentes conseguem responder bem às oscilações de demanda e oferta,
uma vez que conhecem os preços da economia.

Como os agentes operam em concorrência perfeita, eles são tomadores de preços (price takers), e
não fazedores de preços, então, não havendo outras externalidades, o equilíbrio competitivo é um ótimo
de Pareto, o que leva à maximização da oferta total da economia.

Para os pensadores da escola novo‑clássica, a economia se equilibra à taxa natural de desemprego,


e qualquer ponto fora disso é visto como um fenômeno voluntário, ou seja, indivíduos que não estão
dispostos a trabalhar pelo nível de salário vigente. A inflação é vista como um fenômeno estritamente
monetário, o que significa que não interfere nas decisões reais da economia, por exemplo, investimento
e consumo.

Uma das inovações dessa escola foi a introdução das expectativas racionais. Diferentemente dos
monetaristas, para os novo‑clássicos, a melhor base de informação para tomarem suas decisões é o
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MACROECONOMIA APLICADA

futuro, e não o passado; assim, eles observam o futuro ao construírem suas expectativas de variação
de preços ou taxa de inflação. Os novo‑clássicos são muito enfáticos quanto ao processo de tomada
de decisão, pois, segundo esses, os agentes incorreriam em erros sistemáticos se tomassem como base
informações do passado, pois a demanda agregada se altera.

Na versão forte, as expectativas são formadas com base em todas as informações relevantes disponíveis
sobre a variável que está sendo antecipada. Ademais, é importante considerar que os indivíduos usam as
informações disponíveis de maneira inteligente, isto é, compreendem como as variáveis que observam
afetarão a variável que estão tentando prever.

Portanto, os agentes econômicos conseguem prever de acordo com a realização das variáveis futuras.
Em média, os valores reais das variáveis são iguais aos previstos. Os erros de previsão das expectativas
racionais apresentam média zero e são aleatórios. Assim, esse método é o mais eficiente e preciso dentre
as expectativas com relação ao futuro.

Segundo Além (2010), a equação das expectativas racionais apresenta as seguintes características:

∆Pet+1 = ∆Pt+1 + ∈t+1

Em que:

∆Pet+1 = taxa de inflação esperada em (t+1);

∆Pt+1 = inflação realmente observada em (t+1);

∈t+1 = termo de erro aleatório, com média e correlação iguais. Significa que os agentes na média não
errarão, caso usem de maneira inteligente as informações existentes.

Considerando que os agentes se baseiam em informações completas e corretas, a previsão econômica


se realiza, e todos os agentes acabam obtendo a mesma chance de lucrar, sem que haja benefício de
algum agente em específico.

Corroborando a hipótese de ausência de erros de expectativas, a terceira versão da curva de Phillips


dos novo‑clássicos mostra que haveria alteração do nível de produto e emprego do ponto de equilíbrio
caso houvesse mudança na preferência ou mesmo choques tecnológicos. Assim, dadas as hipóteses do
modelo novo‑clássico, a curva de Phillips não apresenta um trade‑off entre inflação e desemprego nem
a curto nem a longo prazo. Ademais, a moeda é neutra a curto e a longo prazo. Portanto, os desvios
sistemáticos das previsões das variáveis em relação à variável real não se concretizam, mesmo com
utilização das políticas econômicas.

De acordo com os novo‑clássicos, os monetaristas se equivocaram ao estabelecer que as expectativas


eram dadas pelas informações do passado, pois essa suposição determina que os agentes ajustam suas
posições parcialmente de acordo com o erro cometido no passado. Isso significa que os agentes não
levam em consideração outras informações disponíveis, apesar dos erros de previsão. Os pensadores
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novo‑clássicos supõem que os agentes olham o futuro (forward‑looking) e contam com informações
disponíveis. Segundo a implicação fundamental forte, esses agentes econômicos não formam
expectativas sistematicamente erradas ao longo do tempo.

As expectativas dos agentes na média estão corretas, ou seja, as variáveis reais observadas ou efetivas
coincidem com as previstas.

Apesar de os novo‑clássicos dizerem que não há trade‑off entre inflação e desemprego, diversos
estudos empíricos mostravam que havia esse trade‑off ao menos a curto prazo. Portanto, uma política
monetária expansionista seria capaz de aumentar o nível de emprego e de renda. Robert Lucas, um dos
principais expoentes da escola novo‑clássica, respondeu a essa análise empírica chamando a atenção
para a racionalidade dos agentes, porém considerando que as informações existentes são imperfeitas ou
incompletas. A hipótese da expectativa racional continua válida, mas nem toda informação necessária
está disponível para os agentes no momento de sua decisão. Dessa maneira, apenas um choque
monetário não antecipado pelos agentes poderia levar a um efeito sobre a economia real (emprego e
renda), o que ficou conhecido como oferta agregada de Lucas com “surpresa” monetária.

Caso haja uma política monetária surpresa e os agentes não antecipem essa política, considerando
a Teoria Quantitativa da Moeda, o efeito é um aumento do nível geral de preços.

No mercado de trabalho, os trabalhadores devem decidir a alocação do seu tempo entre trabalho
e lazer. Supondo que eles saibam o salário real médio, uma expansão monetária surpresa leva a um
aumento do salário nominal que é percebido pelos agentes como um aumento real dos salários. Isso
fará que os trabalhadores aumentem suas disponibilidades para o trabalho no presente, em detrimento
do lazer, dado que podem reduzir o trabalho no futuro.

Já no mercado de produtos, a expansão monetária leva a um aumento dos preços dos produtores.
Como a informação é incompleta, esses produtores entendem que o aumento de preços é, na realidade,
um aumento dos preços relativos, o que leva a um aumento da produção.

Portanto, dada a informação incompleta, uma expansão monetária não antecipada pelos agentes
econômicos pode levar a uma expansão do emprego e do produto, deslocando a curva de demanda
agregada do ponto A para o ponto B e a curva de demanda por mão de obra de X para Z. Nesse caso,
dado o efeito da política monetária, a moeda não é neutra a curto prazo.

A equação da curva de oferta de Lucas pode ser dada por:

Yi = Ypi + ∝ (Pi − Pie )

Em que:

Yi = produção efetiva da firma i;

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MACROECONOMIA APLICADA

Ypi = produção potencial de pleno emprego da firma i;

Pi = preço do produto da firma i;

Pie = nível geral de preços da economia esperado pela firma i;

∝ = constante que mensura o efeito da diferença entre Pi e Pie na produção efetiva da firma.

Quando Pi > Pie, a firma i aumenta sua produção efetiva em relação à produção potencial, pois ocorre
a percepção de que há um aumento do preço relativo do seu produto.

Quanto maior for ∝, mais elástica (e menos inclinada) será a curva de oferta agregada de Lucas de
curto prazo e maior será o efeito sobre o aumento do nível geral de preços não antecipado sobre as
variáveis reais da economia.
OA lp
P

OA cp

B
P1
A
P0
DA1

DA0
Y
Y0 Y1

Figura 27 – A curva de oferta de Lucas a curto prazo

W Ns

Z
W1
X
W0

Nd(P1)
Nd(P0)
N
N0 N1

Figura 28 – A curva de oferta de mão de obra a curto prazo

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Partindo do ponto de equilíbrio (A) na curva de oferta de Lucas, no ponto B, após a surpresa dos
agentes com relação à política expansionista monetária, o produto está acima do seu potencial, e
a taxa de desemprego, abaixo do nível natural. Veja que, na figura anterior, a demanda por mão de
obra aumentou acima do equilíbrio de pleno emprego (de N0 para N1). Portanto, a curto prazo, há um
trade‑off entre desemprego e inflação, dadas a informação incompleta e a surpresa dos agentes diante
da política monetária.

Nesse modelo de informação incompleta de Lucas da curva de oferta agregada, as firmas observam
apenas os preços relativos ao seu próprio mercado. Assim, um preço elevado é entendido como uma
maior demanda pelo seu produto. Supondo a economia como mercados distintos, “ilhas isoladas”, se o
preço do produto da ilha estiver relativamente maior que o de outros mercados, os habitantes da ilha i
desejarão produzir mais.

Os agentes, tanto produtores como consumidores, têm as mesmas informações sobre seus preços,
porém não sabem quanto da variação de seus preços reflete variações do nível geral de preços,
nem quanto refletem variações dos preços relativos. Os agentes apresentam expectativas racionais,
todavia todas as informações não são suficientes para saber exatamente o que está ocorrendo, dado
que a informação é incompleta. Caso o agente acredite que o aumento de seu preço vai ocorrer
devido ao aumento do nível geral de preços, ele simplesmente aumenta seus preços sem modificar a
quantidade produzida. Lembrando que a OA é vertical (o mercado de trabalho está no equilíbrio de
pleno emprego). Caso ele espere que haja uma mudança nos preços relativos, o agente aumenta tanto
os preços quanto a quantidade produzida: OA é menos inclinada. Em economias que apresentam
grande instabilidade de preços, a OA será mais inclinada, porque os agentes, na hora de fazer a
extração de sinal, tendem a pensar que houve um aumento do nível geral de preços. Em economias
mais estáveis, OA será menos inclinada porque os agentes, na extração de sinal, tendem a pensar que
houve uma mudança no preço relativo.

Saiba mais

Sobre a teoria econômica e a abordagem realizada por Robert Lucas


(1972), leia:

SIMONSEN, M. H. Teoria econômica e expectativas racionais. Biblioteca


Digital FGV, [s.d.]. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.
php/rbe/article/download/261/6789>. Acesso em: 7 dez. 2015.

A longo prazo, como se realizariam os ajustes?

No caso da oferta de Lucas, considerando a teoria quantitativa da moeda, o efeito será um aumento
da inflação de mesma magnitude que a expansão monetária, com deslocamento da curva de oferta
agregada de curto prazo.

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MACROECONOMIA APLICADA

Na figura a seguir, o ajuste se dá no ponto C. No mercado de mão de obra, a curva de oferta de


mão de obra se desloca para a esquerda até o ponto Y. Nesse ponto, retorna‑se ao nível de equilíbrio
de emprego e de produto, porém com inflação e salários maiores.
OA lp
P OA cp1

OA cp0
P2
B
P1
A
P0
DA1

DA0
Y
Y0 Y1

Figura 29 – A curva de oferta de Lucas a longo prazo

Ns2

W Ns1

Y
W2 Z
W1

W0 X

Nd(P1)
Nd(P0)
N
N0 N1
Figura 30 – A curva de oferta de mão de obra a longo prazo

Observação

Expectativas adaptativas: o conjunto de informações usado para formar


expectativas está no passado. Caso haja desvio da variável prevista com a
efetiva, esses erros são ajustados nas novas escolhas.

Expectativas racionais: o conjunto de informação usado para formar


expectativas está no futuro e no presente. Na média os agentes acertam as
previsões. Não significa que os agentes não erram, isto é, não são capazes de
prever de forma exata. Os agentes erram quando contam com informações
disponíveis incompletas.
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Segundo os pensadores da escola novo‑clássica, não há política macroeconômica que consiga


sistematicamente alterar o curso da economia, nem a curto nem a longo prazo.

5.3 Modelo de ciclos econômicos reais

A partir dos anos 1980, diante dos ciclos econômicos, a escola novo‑clássica se renovou a partir dos
modelos de ciclos reais de negócios. Segundo esses modelos, as flutuações econômicas vêm dos choques
reais, principalmente, os de origem tecnológica pelo lado da oferta, e não da demanda. Lembrando que,
nos anos 1960 e 1970, as flutuações econômicas eram explicadas por Friedman (1985) e por Lucas,
por meio dos choques monetários, isto é, com a variação da base monetária com impacto sobre a
demanda agregada nominal. Ao contrário disso, os ciclos reais de negócios não explicam as flutuações
pela demanda agregada, mas pela oferta agregada.

Por essa teoria, flutuações no produto são oriundas de choques reais na economia, com os mercados
se ajustando rapidamente e permanecendo sempre em equilíbrio. Uma diferença desse modelo é que
essas flutuações constituem posições de equilíbrio. Mudanças antecipadas de política monetária não
teriam efeitos reais sobre a economia, somente mudanças não antecipadas teriam; no entanto, tais
efeitos são rapidamente corrigidos. Portanto, choques na demanda não são muito importantes.

Então, as questões que se colocam são:

Quais são os choques que afetam a economia? Quais são e como operam os mecanismos
multiplicadores? Por que os choques parecem ter efeitos persistentes?

Considerando que os pensadores dos ciclos reais de negócios defendem as flutuações econômicas
como processo de ajuste racional dos agentes econômicos, isto é, rejeitam a visão de falhas de mercado,
Além (2010, p. 297) destaca que, para esses pensadores:

[...] as flutuações econômicas representam o processo de ajuste racional


dos agentes econômicos a novos pontos de equilíbrio de pleno emprego,
determinados por choques de produtividade, resultantes em grande
medida de avanços aleatórios da tecnologia. Os choques de oferta afetam
a função de produção da economia, o que gera flutuações do produto
agregado e do emprego à medida que os agentes econômicos racionais
reagem à nova estrutura de preços relativos, alterando suas decisões de
oferta de trabalho e consumo.

Tendo em vista que a instabilidade é o resultado de agentes econômicos


racionais respondendo de forma ótima a mudanças no ambiente econômico,
as flutuações observadas devem ser consideradas como posições de
equilíbrio ótimas de Pareto. A flutuação do produto nada mais é do que
um contínuo equilíbrio de pleno emprego que se move como resultado de
choques de oferta.

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MACROECONOMIA APLICADA

Dessa maneira, qualquer intervenção do governo a partir de políticas fiscais pode levar a um
desequilíbrio com redução do bem‑estar. Como a moeda é neutra a curto e a longo prazo, a política
monetária também não apresenta efeito real sobre a economia. Portanto, o produto potencial pode se
alterar, a depender dos fatores de oferta.

As flutuações são explicadas pela substituição intertemporal de lazer, por exemplo. Caso
haja um choque tecnológico com aumento de produtividade, o salário real se torna maior,
então os trabalhadores estarão mais dispostos a substituir lazer por trabalho ao longo do ciclo
econômico, o que gera um aumento do produto potencial. Eles se preocupam com o esforço
(quantidade de trabalho) total, mas não se incomodam com quando trabalhar. Observe, contudo,
que a substituição intertemporal do lazer não implica que a oferta de trabalho seja sensível a
mudanças permanentes no salário.

A substituição intertemporal de lazer gera grandes movimentos na quantidade de trabalho realizado


em resposta a pequenas mudanças nos salários reais, mostrando que a elasticidade é elevada.

Outro exemplo que se pode examinar é em caso de um choque de produtividade negativo, como
uma externalidade positiva no fato do estabelecimento de uma lei ambiental ou de um aumento do
custo das matérias‑primas, uma nova tributação sobre a produção. Esses atos aumentam o custo para
o produtor, o que leva a uma redução do produto potencial.

O efeito multiplicador dos ciclos econômicos é estimulado por perturbações que alteram os níveis
de equilíbrio do produto e do emprego em mercados específicos e na economia em geral. As principais
perturbações consideradas são choques sobre produtividade ou choques da oferta, e choques sobre a
despesa pública.

Os críticos à escola novo‑clássica consideram inconcebível a noção de que os ciclos econômicos reais
são fenômenos de equilíbrio. Para os críticos, as flutuações têm fundamentos da demanda agregada e
da oferta agregada e, portanto, é importante a ação diante dos desvios custosos em relação ao produto
potencial.

Os custos do combate à inflação e a importância de bancos centrais independentes

Uma importante preocupação da política econômica relaciona‑se aos custos – em


termos de redução do produto e do emprego – de reduzir a inflação. Como já visto, da
mesma forma que os economistas monetaristas, para os novo‑clássicos, a inflação também
é um fenômeno essencialmente monetário, ou seja, o aumento do nível geral de preços é
o resultado de um excessivo crescimento da oferta de moeda. Entretanto, há discordância
entre as duas escolas em relação ao custo do combate à inflação, também conhecido como
“taxa de sacrifício”.

Em contraste com os keynesianos (síntese neoclássica) e monetaristas, para os


novo‑clássicos, se a política monetária tiver credibilidade, mudanças na oferta de moeda que
sejam anunciadas/antecipadas não terão nenhum efeito sobre o nível de renda e emprego
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da economia, mesmo a curto prazo. Como os agentes econômicos seguem o modelo de


expectativas racionais, uma contração monetária anunciada fará com que eles revisem
imediatamente suas expectativas de inflação para baixo. Sendo assim, as autoridades
monetárias são capazes de reduzir a taxa de inflação sem os custos de redução do nível de
emprego e produto previstos por keynesianos e monetaristas. Ou seja, a “taxa de sacrifício”
seria igual a zero.

A ênfase na manutenção de regras claras de conduta para se manter a estabilidade


de preços cria as bases para o estabelecimento de bancos centrais independentes, cuja
discricionariedade é limitada por compromissos explícitos de combate à inflação.

Tendo em vista que a falta de credibilidade pode ser resultado dos poderes discricionários
das autoridades econômicas na condução da política monetária, o problema poderia
ser solucionado pela transferência da política anti‑inflacionária para um banco central
independente, que estaria livre de potenciais pressões políticas.

O sistema de metas inflacionárias adotado por diversos países, inclusive o Brasil, reflete
essa preocupação com a transparência da política monetária.

Fonte: Além, 2010, p. 296.

No início dos anos 1970, a economia dos Estados Unidos da América enfrentava um problema ao
qual a princípio a curva de Phillips havia dado a resposta. Esse problema era a coexistência de inflação e
desemprego elevados. De acordo com a curva de Phillips, havia um trade‑off entre essas duas variáveis.
Em parte, esse fenômeno mostrava uma limitação da teoria novo‑clássica de explicar as flutuações
econômicas e de garantir os mecanismos de ajuste da economia. Essa crise foi superada apenas no final
dos anos 1970.

5.4 Modelo novo‑keynesiano

A partir do início dos anos 1980, a escola novo‑keynesiana surgiu como contraponto às análises
dos novo‑clássicos. Portanto, afasta‑se das hipóteses adotadas pelos novo‑clássicos, isto é, descarta a
concorrência perfeita e o market clearing contínuo. Com isso, um dos objetivos era explicar o desemprego
e o papel da demanda agregada na determinação do produto e do nível de emprego. De acordo com
esses pensadores, as reduções da demanda agregada levam à redução da oferta, pois os preços são
rígidos.

As principais hipóteses dessa escola são:

• Presença de concorrência imperfeita entre as firmas.

• As firmas são formadoras de preços, portanto têm uma parte de poder sobre o mercado.

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MACROECONOMIA APLICADA

• As decisões de precificar são tomadas considerando a concorrência.

• As alterações de preços apresentam um custo superior ao ganho de alterá‑la continuamente.

• Diante dos custos de remarcação de preços, os preços são alterados periodicamente de forma não
sincronizada, com implicações sobre o ciclo econômico.

• Agentes econômicos racionais tomam suas decisões a partir das expectativas racionais.

• Agentes racionais são maximizadores de bem‑estar.

• Apropriação de fundamentos microeconômicos para explicar os fenômenos macroeconômicos.

• Abordagem matemática.

Os modelos novo‑keynesianos mantêm o pressuposto de racionalidade dos indivíduos dos modelos


clássicos, porém não corroboram a hipótese de que os mercados não se equilibram rapidamente, e
os preços nem sempre se ajustam às mudanças na oferta de moeda, ou seja, mantêm os resultados
da OA‑DA. Apesar de acreditarem na hipótese das expectativas racionais, observam que a economia
demora mais para retornar ao equilíbrio do que previsto por esses modelos.

Dessa maneira, quando há uma expansão monetária, todas as firmas deveriam ajustar
proporcionalmente seus preços, como previsto pelos modelos clássicos. Porém, há custos – custos de
menu – para realinhar os preços, e esses custos, em geral, podem ser maiores do que a perda de receita
ao permanecer com o preço anterior.

De acordo com Além (2010, p. 299):

As diferenças dos resultados do modelo novo‑keynesiano em relação


ao modelo novo‑clássico só existem a curto prazo. Isso ocorre porque
o modelo novo‑clássico trabalha com a hipótese de preços flexíveis,
enquanto os novos keynesianos defendem a existência de preços rígidos
a curto prazo.

A longo prazo, os resultados esperados pelas duas escolas são os mesmos:


equilíbrio com pleno emprego, inexistência de desemprego involuntário e
inexistência de flutuações econômicas.

A curto prazo, a rigidez pode existir no mercado de bens ou no mercado de


trabalho, ou nos dois ao mesmo tempo. O raciocínio é o seguinte: a partir
de uma redução da demanda agregada, o ajuste ocorre via redução das
quantidades ofertadas, em vez de haver uma redução dos preços porque
estes são rígidos.

105
Unidade II

Essa rigidez de preços a curto prazo pode ser explicada pelos seguintes fatores:

• Existência de contratos nominais.

• Falhas de coordenação.

• Custos de menu.

• Existência de insiders/outsiders.

• Defasagem temporal dos reajustes salariais.

• Salário-eficiência.

Esses custos podem existir também para coletar informação, bem como para manter os clientes e
contratos com fornecedores ou salariais de médio prazo. Diante de uma alteração de preços na economia,
as firmas só irão mudar seus próprios preços se os benefícios forem maiores que os custos.

Esses fundamentos microeconômicos listados ajudam a explicar as flutuações macroeconômicas.


Caso houvesse preços flexíveis, seria possível manter um market clearing contínuo. Portanto, as políticas
monetária e fiscal expansionistas podem ser eficazes para expandir a demanda agregada e ajustar os
hiatos do produto.

A longo prazo, quando os preços são todos flexíveis, as políticas de estimulo da demanda agregada
perdem eficácia. Ainda assim, defende‑se o uso das políticas econômicas para ajustar a economia a
curto prazo, pois há um longo período entre o curto e o longo prazo.

Observação

A grande contribuição dos pensadores novo‑keynesianos ao debate


da macroeconomia contemporânea é destacar os fenômenos da rigidez
dos preços e dos salários. A escola novo‑keynesiana criticou a escola
novo‑clássica sob o argumento de que a análise de longo prazo não dava
conta de explicar os fenômenos macroeconômicos. Para tanto, era preciso
focar a análise de curto prazo.

5.5 Comparativo dos modelos macroeconômicos

A seguir, o quadro comparativo das escolas de pensamento da macroeconomia que resume as


variantes entre elas.

106
Quadro 2 – Principais características das escolas de pensamento

Modelo de
Fontes de Preços e Regras e
Escola formação de Curto prazo Longo prazo Política monetária Política fiscal
instabilidade salários discricionariedade
expectativas
eficaz a curto prazo
possibilidade de equilíbrio de pleno para afetar o nível de
Monetarista   adaptativas flexíveis equilíbrio abaixo da taxa emprego (taxa natural emprego e renda; a sempre ineficaz regras
natural de desemprego de desemprego) longo prazo, só impacta
as variáveis nominais
ineficaz a curto e longo
prazo para afetar o
Novo‑clássica equilíbrio de pleno
equilíbrio à taxa natural nível de emprego e
(informação não há racionais flexíveis emprego (taxa natural sempre ineficaz regras
de desemprego renda; a longo prazo,
perfeita) de desemprego)
MACROECONOMIA APLICADA

só impacta as variáveis
nominais
eficaz a curto prazo
Novo‑clássica possibilidade de equilíbrio de pleno para afetar o nível de
choques
(informação racionais flexíveis equilíbrio abaixo da taxa emprego (taxa natural emprego e renda; a sempre ineficaz regras
monetários
imperfeita) natural de desemprego de desemprego) longo prazo, só impacta
as variáveis nominais
choques reais/ ineficaz a curto e longo
equilíbrio de pleno equilíbrio de pleno
Ciclos reais de de oferta prazo para afetar o
racionais flexíveis emprego (taxa natural emprego (taxa natural sempre ineficaz regras
negócios (principalmente nível de emprego e
de desemprego) de desemprego)
tecnológicos) renda
eficaz a curto prazo
eficaz a curto prazo
equilíbrio de pleno para afetar o nível
rígidos possibilidade de para afetar o nível de
insuficiência de emprego, mas de emprego e renda;
Novo‑keynesiana racionais a curto equilíbrio abaixo do emprego e renda; a discricionariedade
demanda a velocidade de a longo prazo, efeito
prazo pleno emprego longo prazo, só impacta
convergência é baixa deslocamento e
as variáveis nominais
inflação de demanda

Fonte: Além, 2010, p. 301‑302.

107
Unidade II

6 KEYNESIANOS, MONETARISTAS, NOVO‑CLÁSSICOS E


NOVO‑KEYNESIANOS: UMA LEITURA PÓS‑KEYNESIANA

Após o percurso de diversos modelos macroeconômicos, iremos partir para o debate que se inaugura
com a teoria pós‑keynesiana, já que os desdobramentos das análises de Keynes ainda ocupam o centro
das discussões da macroeconomia contemporânea.

Com os rumos do debate macroeconômico, os autores pós‑keynesianos buscam o resgate do legado


de Keynes que leva ao entendimento da dinâmica de uma economia monetária da produção, já que a
discussão em macroeconomia se localiza tanto na compreensão dos problemas econômicos da economia
real quanto na proposição de soluções.

Para isso, o caminho que trilharemos será pautar, de forma sucinta, as principais questões
teóricas e implicações dos modelos neoclássico, monetarista, novo‑clássicos e novo‑keynesianos,
com o objetivo de mostrar que esses modelos, apesar do grau de refinamento de suas estruturas
teórico‑analíticas, são inconsistentes com as características das modernas economias empresariais,
propostas por Keynes.

Em outras palavras, entende‑se que os modelos destacados ajudam pouco para a compreensão do
mundo real. Assim, por intermédio da teoria pós‑keynesiana, criticam‑se tais formas de apreensões
da dinâmica econômica e a consistência dos pressupostos que sustentam tais abordagens ortodoxas,
principalmente quanto às caracterizações e soluções das crises cíclicas de produção e emprego das
economias monetárias.

Primeiramente, um grande debate se abre em relação à teoria da síntese neoclássica, seja


por sua leitura dos conceitos de Keynes, seja pelas propostas de políticas macroeconômicas.
Destacam‑se duas estruturas teóricas relacionadas à revolução keynesiana, como aponta Ferrari
Filho (1996, p. 79):

[...] por um lado, existe uma análise interpretativa da Teoria Geral, conhecida
como diagramas IS‑LM, que está centrada na proposição de que o
desemprego involuntário keynesiano se constitui em um caso particular da
teoria clássica devido tão‑somente à existência da armadilha da liquidez;
por outro, existe um approach, denominado desequilibrista, que interpreta o
princípio da demanda efetiva de Keynes em um contexto no qual a economia
se move, ao longo do tempo, de uma situação de equilíbrio parcial para uma
de equilíbrio geral.

O mais divulgado e difundido no debate macroeconômico foi o diagrama da IS‑LM


desenvolvido por Hicks em um artigo de 1937. Nessa análise, as contribuições da teoria
keynesiana e clássica podem ser representadas por uma estrutura teórica similar, onde Hicks
objetiva comparar as ideias desses dois modelos. Em seu esforço de comparação, Hicks apresenta
sua síntese em três modelos:

108
MACROECONOMIA APLICADA

Quadro 3 – Modelos de Hicks

Modelo “Especial” Modelo da Teoria


Modelo Clássico de Keynes Geral
M = KI M = L(i) M = L(i,I)
Ix = C(i) Ix = C(i) Ix = C(i)
Ix = S( i,I ) Ix = S(I) Ix = S(i)

Fonte: Ferrari Filho, 1996, p. 80.

Em que M é a quantidade de moeda, k é a constante da equação quantitativa da moeda de Cambridge,


I é o nível de renda, Ix é o investimento total, i é a taxa de juros e S é a poupança.

Nos três modelos apresentados, a primeira equação de cada um deles representa a definição da curva
LM, sendo as duas equações seguintes, em cada modelo, respectivamente, as suas definições da curva IS.
Assim, como nos informa o modelo de Hicks, temos as condições de equilíbrio dos mercados monetário
e real, dadas as possíveis combinações entre taxas de juros e níveis de renda em uma economia nos três
modelos distintos.

Quando Hicks compara os diferentes modelos, ele realiza duas ponderações: a primeira seria a
comparação entre os modelos clássico e especial de Keynes, que para esse autor teriam diferenças quanto
à função poupança e à demanda por moeda. A diferença essencial se encontra na análise da demanda
por moeda, que em Keynes é explicada pela função preferência pela liquidez e, no caso clássico, é parte
integrante da equação quantitativa da moeda de Cambridge (FERRARI FILHO, 1996, p. 80).

Em segundo lugar, ao comparar os modelos de Keynes, o modelo especial e o da teoria geral,


Hicks entende que em sua análise monetária no âmbito da Teoria Geral (TG) a apresentação da
demanda por moeda como função dos motivos especulação e transação remete a um Keynes que
volta a adotar uma teoria monetária quantitativista e, portanto, representaria uma derivação do
modelo clássico.

Desse modo, quando a economia keynesiana se encontra num caso de armadilha da liquidez, as
suas equações monetárias demonstradas no modelo da Teoria Geral passam a ter a mesma relação
funcional que a apresentada pelo modelo clássico, ou seja, a de que variações na demanda por moeda
dependem unicamente do nível de renda. Com base nesse argumento, a teoria neoclássica entende que
a ocorrência de desemprego involuntário corresponderia a uma incapacidade da política monetária em
alterar o nível da taxa de juros e, consequentemente, o nível de renda.

Tendo como referência a conclusão hicksiana de que a economia keynesiana


é a economia da depressão, a síntese neoclássica interpreta a revolução
keynesiana como sendo tão‑somente a solução fiscalista de Keynes para as
crises temporárias de desemprego (FERRARI FILHO, 1996, p. 82).

109
Unidade II

Já na interpretação da TG, na abordagem desequilibrista, Partinkin formaliza um modelo keynesiano


de desequilíbrio em que o desemprego involuntário tem explicação na rigidez de salários no mercado
de trabalho. Portanto, os desequilíbrios dinâmicos do sistema de equilíbrio geral de Walras seriam a
base dos desequilíbrios dados pela teoria keynesiana. Em uma segunda versão, dentro da vertente
desequilibrista, o modelo adotado seria de desequilíbrio geral, detectando‑se as regras de racionamento
nos mercados de bens e de trabalho com as implicações no equilíbrio macroeconômico em razão das
restrições quantitativas.

Mas em síntese, nas duas versões, independentemente de utilizar‑se do equilíbrio parcial ou geral,
as flutuações cíclicas nos níveis de produto e emprego estão relacionadas ao fato de que os preços,
em unidades monetárias, se ajustam lentamente para retornar ao ponto de equilíbrio entre oferta e
demanda, já que acreditam na vigência do equilíbrio walrasiano a longo prazo.

O papel da relação entre a moeda e os níveis de preços e do produto também será trabalhado pela
escola monetarista de Friedman (1985). Ao alicerçar o papel da moeda na determinação dos níveis de
produto e emprego a curto prazo e do estoque de moeda no nível de preços a longo prazo, como vimos,
o autor também realiza críticas ao modelo keynesiano.

A crítica da análise de Keynes se circunscreve ao fato de sua teoria não apresentar uma explicação
monetária satisfatória para as crises, dado o papel central da política monetária e de suas regras. Ao
se remeter ao modelo de equilíbrio geral walrasiano, Friedman (1985) elabora a hipótese de taxa de
desemprego natural e da insustentabilidade da relação da curva de Phillips a longo prazo ao incluir
regras de formação das expectativas dos níveis de inflação.

Generalizando a análise friedmaniana, variações iniciais na taxa de desemprego


ocorrem devido ao fato de que os agentes econômicos não conseguem prever
a inflação futura. Contudo, com o passar do tempo, a partir de um processo
contínuo de revisão das expectativas, a inflação esperada pelos agentes
econômicos tende a ajustar‑se à inflação corrente e, como resultado dessa
antecipação inflacionária, por parte dos agentes econômicos, o nível de emprego
retorna à sua taxa natural de desemprego (FERRARI FILHO, 1996, p. 85).

Nesse sentido, a conclusão de Friedman (1985) em relação às limitações da política monetária é que
esta, ao longo do tempo, provoca tão somente distúrbios nominais na economia. Logo, os monetaristas
entendem que a economia é inerentemente estável – excetuando‑se os distúrbios monetários de
curto prazo –, portanto, sem a necessidade de quaisquer políticas econômicas ativas, tanto fiscais
como monetárias, para garantir a estabilidade econômica. Defende a máxima do livre-mercado como
garantidor da estabilidade.

Tal solução ficará mais latente no interior da teoria novo‑clássica, nos anos de 1970, em que a
economia clássica passa a incorporar a hipótese das expectativas racionais nos modelos de equilíbrio
geral. Com essa formulação, o modelo novo‑clássico busca ser uma alternativa teórica à abordagem
keynesiana, que tomaria por base a hipótese de longo prazo da curva de Phillips e que não teria poder
explicativo para processos de estagflação, onde não se observaria o trade‑off entre inflação e desemprego.
110
MACROECONOMIA APLICADA

Assim, por conter falhas teóricas e econométricas, os modelos keynesianos não representariam o
melhor guia para operacionalizar as políticas econômicas, fato defendido pelos autores novo‑clássicos.
Isso ficaria mais claro com a adoção das expectativas racionais, que também seria um fator de crítica a
Friedman (1985). Nesse caso, as expectativas dos agentes sobre o valor esperado de uma variável não
seriam uma função estável de seus valores passados, mas corresponderiam a um modelo de expectativas
com informações completas e com a utilização das informações disponíveis no presente, e não baseadas
nas ocorrências do passado, como nas expectativas adaptativas.

Ao não adotar as expectativas racionais, o modelo keynesiano incorreria em erros sistemáticos de


avaliação, pois, acreditando num trade‑off temporário ou permanente entre inflação e desemprego,
utilizaria erroneamente políticas de administração da demanda agregada, que, na realidade, segundo os
novo‑clássicos, não teriam impactos na determinação do nível de equilíbrio da economia correspondente
a uma taxa natural de desemprego. As mudanças no nível de equilíbrio, nesse caso, seriam explicadas por
choques exógenos de oferta, seja por variações tecnológicas ou mudanças na produtividade, implicando
mudanças nos preços relativos da economia.

Em resumo, suas críticas ao arcabouço keynesiano estão em rejeitar o papel da demanda agregada e
centrar as atenções na oferta agregada, reforçando a ocorrência da lei dos mercados com autocorreção
e neutralidade da moeda. Dentre todas as críticas, é a mais contundente, por acreditar na total
inconsistência teórica da análise de Keynes.

Esse último fato não foi compartilhado pela teoria novo‑keynesiana, que buscou revitalizar a
economia keynesiana com fundamentos microeconômicos, dando maior ênfase ao fato da ocorrência
de rigidez de preços e salários, que representaria a principal questão da teoria de Keynes.

Nesse exercício de atualização da teoria keynesiana, os novo‑keynesianos analisam os desequilíbrios


da economia a partir de modelos de rigidez de salários nominais, como salário‑eficiência, contrato
implícito e insider‑outsider e pelo comportamento dos preços cuja rigidez seria dada por modelos de
custos de ajustamento de preços, ambos relacionados às estruturas de mercados imperfeitos.

No caso da rigidez de salários, ao compreender o trabalho como um bem não homogêneo,


mudanças na remuneração do trabalhador podem ocasionar diminuições na produtividade do
trabalho. No caso do modelo de salário‑eficiência, as empresas evitam reduzir salários, porque
temem que as referidas quedas de produtividade e de lucro, ao serem realizadas, reduzam a
participação delas no mercado.

Já no modelo de contrato implícito, as firmas oferecem contratos que impossibilitam a diminuição


dos salários reais dos trabalhadores e garantem a permanência e a produtividade deles, com reflexos
positivos para os ganhos empresariais. Fato muito próximo da explicação dos modelos insider‑outsider,
em que temos uma remuneração maior aos trabalhadores qualificados e sindicalizados, os insiders, em
relação aos desprovidos de qualificação e organização, denominados outsiders. A partir dessa estrutura
organizacional no mercado de trabalho, existe um acordo entre as firmas e os trabalhadores que impede
a redução dos salários. Todos esses fatos explicariam a rigidez dos salários nominais e os desequilíbrios
no mercado de trabalho.
111
Unidade II

No caso dos preços, há os modelos de custos de ajustamento, denominados modelos de custo de


menu, já que mesmo quando ocorrem variações de demanda, as decisões de mudanças de preços por
parte da firma são postergadas, porque estas implicam reestruturação de custos e estão relacionadas ao
poder de monopólio das empresas.

Nesse ponto, a teoria novo‑keynesiana apresenta uma tentativa de dar consistência teórica aos
problemas de falhas de mercado que leva os agentes econômicos a buscarem otimizar suas decisões em
meio às imperfeições. Logo, sua referência a Keynes limita‑se a explicação do desemprego involuntário
devido à rigidez de preços e salários, pois adota a hipótese de expectativas racionais.

A resposta às críticas perante as concepções teóricas de Keynes será desenvolvida pela leitura
pós‑keynesiana, que entenderá que as teorias macroeconômicas, destacadas anteriormente,
distanciam‑se da análise revolucionária de Keynes por convergirem a uma representação da economia
de longo prazo em que ocorreriam a autorregulação do mercado e a manutenção do nível de pleno
emprego da economia.

O resgate pós‑keynesiano consiste em reafirmar a posição de Keynes quanto à negação de um sistema


econômico autorregulador, ou seja, que possui mecanismos econômicos que evitem as flutuações e as
depressões econômicas. Conforme Ferrari Filho (1996, p. 92), Keynes desenvolve um projeto a partir de
três proposições teóricas:

• Uma teoria da determinação da renda (propensão a consumir e multiplicador da renda).

• Uma teoria do investimento (eficiência marginal do capital).

• Uma teoria da taxa de juros (preferência pela liquidez).

Tais proposições, conforme a concepção pós‑keynesiana, seriam desenvolvidas num contexto econômico
em que a moeda não seria neutra – apresentando propriedades que a diferem de outros ativos econômicos
–, com o futuro incerto e imprevisível e o desemprego como resultado normal da atividade econômica.

Se olharmos por esse prisma, a interpretação de Hicks, em seu modelo neoclássico, apresenta alguns
equívocos em relação à teoria de Keynes, pois substitui a concepção de equilíbrio parcial adotada na TG
pela análise de equilíbrio geral, bem como separa os mercados real e monetário, invertendo a relação
causal entre investimento e poupança e desconsiderando o papel das expectativas na dinâmica da
demanda efetiva. Logo, mutilando as principais ideias sobre o processo de ajustamento econômico
enfatizado por Keynes.

Observação

No equilíbrio parcial, desenvolvido por Alfred Marshall, o comportamento


de um mercado específico é obtido independentemente dos preços e
quantidades obtidos e fornecidos por outros mercados.
112
MACROECONOMIA APLICADA

No modelo IS‑LM, ao separar em diferentes departamentos os mercados de bens e monetário,


descaracteriza a teoria de Keynes, já que essas duas esferas fazem parte de uma teoria de escolha de
ativos, portanto representam mercados interdependentes, sendo tal divisão uma construção equivocada.

Hicks contraria a lógica keynesiana da demanda efetiva ao analisar a relação causal entre investimento
e poupança, pois acredita que um crescimento do investimento não possa ocorrer sem um crescimento
da poupança ou da quantidade de moeda em uma economia. Assim, volta ao argumento clássico de
poupança prévia como elemento central na dinâmica dos investimentos.

Além disso, o modelo neoclássico não abarca o papel das expectativas, num ambiente de incerteza,
nos diagramas da IS‑LM, e novamente se distancia das proposições de Keynes na TG. Em resposta, os
pós‑keynesianos mostram que a teoria keynesiana vai muito além de uma teoria da economia em
depressão, como denominada por Hicks, já que esta teoria também se aplica a situações em que as
restrições quantitativas não são somente de demanda.

As indagações levantadas pelos desequilibristas e, por extensão, pelos novo‑keynesianos


restringem‑se ao entendimento dos fatores centrais do desequilíbrio econômico, na teoria de Keynes,
representados pela existência de rigidez de preços e salários. Ao longo da TG, Keynes admite a suposição
de inflexibilidade de preços e salários, mas tal fato não configura nem condição necessária, nem
suficiente para a ocorrência do desemprego involuntário.

Como bem defendem os autores pós‑keynesianos, com base em diversas passagens da TG, o
desemprego involuntário ocorre mesmo quando preços e salários são flexíveis, pois a suposição de
inflexibilidade ao longo da demonstração de Keynes será abandonada ao longo de sua exposição, sendo,
portanto, um fator analítico de contraponto com a abordagem clássica. Desse modo, na visão de Keynes
a flexibilidade de preços e salários não garante o pleno emprego de forma contínua em uma economia.

Dito isso, fica difícil aceitar a hipótese de que falhas de mercado, caracterizadas pela rigidez de
preços e salários, sejam a causa do desemprego involuntário keynesiano, constituindo somente um dos
fatores que podem ocorrer ao longo da dinâmica de uma economia monetária.

Será a caracterização dessa economia monetária que servirá de resposta às críticas lançadas pelos
modelos monetaristas e novo‑clássicos em relação à teoria keynesiana. Na percepção de Ferrari Filho
(1996, p. 96) esse debate se centraria em dois pontos:

[...] em primeiro lugar, a teoria monetária desses modelos é, essencialmente,


diferente da teoria monetária de Keynes; segundo, algumas hipóteses
dos referidos modelos têm suas consistências lógicas fragilizadas
quando confrontadas com a dinâmica comportamental das economias
empresariais modernas.

Isso fica latente, pois as análises monetárias dos modelos monetaristas e novo‑clássicos não
aprofundam as questões inerentes às propriedades essenciais da moeda. Em seu resgate, a teoria
pós‑keynesiana ressalta que na TG a moeda possui duas propriedades essenciais: a de possuir elasticidade
113
Unidade II

de produção igual a zero, já que a moeda não é produzida pela quantidade de trabalho que o setor
privado incorpora no processo produtivo; e a de possuir uma elasticidade‑substituição nula, porque não
há nenhum outro ativo, não líquido, que possa exercer as três funções da moeda.

Observação

As três funções da moeda seriam a de funcionar como unidade de


conta, meio de troca e reserva de valor ao longo do tempo.

Dessas três propriedades, Keynes ressalta o papel de reserva de valor porque a retenção de ativos
líquidos constitui‑se em uma segurança contra a incerteza dos retornos futuros, logo a retenção de ativos
líquidos é recorrentemente utilizada pelos agentes econômicos. Por isso, a insuficiência de demanda
efetiva ocorre em situações em que a incerteza acerca do futuro aumenta, pois os indivíduos passam a
reter moeda, postergando, assim, suas decisões de dispêndio que, em último caso, geram impactos no
nível de produto e aumentos da taxa de desemprego.

Assim, desmente‑se a afirmação de Friedman (1985) de que a moeda não tem importância na
economia de Keynes, já que a moeda tem um papel central no entendimento da dinâmica econômica,
ou seja, a teoria de Keynes seria uma teoria monetária da produção. Por conta disso, a moeda não pode
ser neutra, ao passo que a neutralidade monetária é comumente incorporada nos modelos monetaristas,
pelo menos a longo prazo, e novo‑clássicos, tanto a curto quanto a longo prazo.

Isso terá impactos, portanto, no entendimento da economia real e em seus processos de ajustamento.
Para os pós‑keynesianos, as hipóteses dos modelos novo‑clássicos, dentre elas o ajuste de todos os
preços via mercado e os agentes sempre com comportamentos otimizadores e expectativas racionais,
não corresponderiam à dinâmica do sistema econômico. Esse seria um mundo hipotético, em que
haveria o equilíbrio geral de Walras e da mão invisível para conduzir a economia para a alocação
eficiente dos recursos.

Em situações de flutuações cíclicas dos níveis de produto, emprego e preços observados no sistema
econômico, as expectativas por parte dos agentes econômicos parecem ser formadas não com base em
um processo estocástico e estatisticamente controlado, mas num processo que Keynes denominou de
conhecimento incerto, logo, ressaltando, novamente, a incerteza inerente aos processos econômicos.

Nessas ponderações da teoria keynesiana reside a explicação da ocorrência de desemprego


involuntário. Já que seriam as insuficiências de demanda efetiva devido ao entesouramento de moeda e
o papel das expectativas que justificariam esses acontecimentos recorrentes, em detrimento das análises
que defendem a ocorrência de rigidez ou a escolha intertemporal entre renda e lazer como fatores
explicativos para as mudanças no equilíbrio no mercado de trabalho.

Portanto, em seu percurso, a teoria pós‑keynesiana esclarece, enfatiza e acrescenta elementos


em relação à teoria de Keynes, pois se entende que esse autor elaborou uma teoria monetária do
emprego, ou seja, considerou que as variáveis monetárias causariam efeitos reais e, por isso, não
114
MACROECONOMIA APLICADA

poderia ser aceita a dicotomia rígida entre variáveis monetárias e reais da teoria neoclássica. Os
autores pós‑keynesianos criticam fortemente a teoria neoclássica, considerando‑a uma base teórica
irreal e irrelevante.

Para Keynes, a lei de Say teria validade somente em uma economia de trocas (de escambo), não
monetária, também chamada de economia cooperativa ou de salários reais, ou então em uma economia
neutra, em que a moeda assumiria papel meramente facilitador de trocas. Ou seja, uma economia
imaginária, que faria parte da utopia liberal.

Nesses casos, garantir‑se‑ia que o gasto agregado seria sempre igual à renda agregada, de modo que
a economia permanecesse no pleno emprego. Em uma economia empresarial, ou de salários nominais,
ao contrário, existem flutuações de demanda efetiva e de emprego e, em vista disso, não se garante o
pleno emprego.

Nessa economia empresarial, as decisões são tomadas com base em expectativas sobre o futuro,
dada a existência de incerteza, o que coloca a possibilidade de erros em decisões econômicas. A teoria
keynesiana possui o conceito de tempo histórico – e não num tempo lógico neoclássico –, em que existe
um passado irrevogável e um futuro desconhecido, envoltos numa fragilidade das informações por
parte dos agentes.

Este tempo move‑se em uma só direção, havendo possibilidade


de ajustamentos, mas não de reversão das decisões. No caso dos
investimentos, leva‑se em conta que os bens de capital são duráveis
e não maleáveis e, portanto, que as correções de rota têm custos não
desprezíveis (DATHEIN, 2000, p. 2).

O comportamento do empresário keynesiano é completamente diferente do empresário neoclássico.


Para Keynes, o empresário faz prognósticos sobre a demanda futura, age de acordo com expectativas
em contexto de incerteza.

Na economia capitalista real, existe uma diferença de objetivos e de poder de decisão entre
empresários e trabalhadores (assim como os consumidores). Enquanto os empresários buscam a
acumulação de dinheiro, os trabalhadores têm como objetivo a obtenção de bens de consumo. Os
empresários comandam os recursos e tomam decisões que regem a operação da economia, decidindo
sobre produção, emprego e investimentos com base em suas expectativas sobre a rentabilidade futura
de seus negócios, tomando decisões segundo premissas observadas que são insuficientes, o que lhes
impõe a incerteza.

Segundo Keynes, os empresários não fazem somente cálculos sobre lucros para tomarem suas
decisões, possuindo, além disso, um instinto espontâneo de agir. Isso não leva ao irracionalismo, uma
vez que as expectativas de longo prazo são, muitas vezes, estáveis, com os empresários baseando‑se
em determinados estados de confiança. Nisso reside a explicação de por que os investimentos são o
elemento mais instável da demanda efetiva.

115
Unidade II

De acordo com a teoria neoclássica, um aumento de poupança sempre leva a um aumento de


investimento. Por isso, coloca‑se, por exemplo, a desejabilidade de uma concentração de renda nas
mãos das famílias e empresas mais ricas, caso se deseje maior taxa de crescimento econômico, pois estas
possuem maior propensão a poupar e, portanto, a acumulação será acrescida. Para a teoria keynesiana,
ao se considerar a possibilidade de aplicações de renda não ativadoras de produção e emprego, uma
concentração de renda pode levar a uma redução de consumo e investimento.

6.1 Hipótese da instabilidade financeira

Dentro do arcabouço teórico pós‑keynesiano, Hyman Minsky apresenta uma interpretação ou


complementação teórica denominada de hipótese da instabilidade financeira, em que Minsky vai além
do que está explicitado na TG de Keynes, por integrar em sua análise as implicações da estrutura dos
passivos das empresas sobre a atividade econômica.

De acordo com este autor, a teoria neoclássica não conseguiria provar a existência de um equilíbrio
geral de pleno emprego alcançado pela autorregulação do processo de mercado em uma economia com
ativos de capital e com instituições e práticas financeiras capitalistas. Assim, os modelos neoclássicos
não explicariam a instabilidade financeira, presente nas economias, ao tomar como causadores de ciclos
e crises fatores exógenos, por exemplo, variações na quantidade de moeda ou utilização de gastos fiscais
pelos governos por motivos políticos.

Na visão de Minsky (1982), a instabilidade financeira é geradora de ciclos econômicos, sendo o


resultado do funcionamento normal da economia capitalista, ou seja, resulta endogenamente do
comportamento dos agentes econômicos. Sendo assim, caberia aos governos intervir para controlar e
guiar a economia, principalmente as instituições e a evolução financeira, para garantir o pleno emprego
sem inflação ao assegurar uma estrutura financeira robusta e estável.

Deste modo, a economia capitalista não é simplesmente uma economia de mercado, mas
fundamentalmente uma economia de finanças. Essa economia é caracterizada pela existência de dois
sistemas de preços relativos com determinantes diferentes. Como nos aponta Dathein (2000, p. 8‑9):

Os preços dos bens correntes dependem da visão sobre as condições de


demanda de curto prazo e do conhecimento corrente das taxas de salários
nominais, sendo determinados por expectativas de curto prazo. Já os preços
dos ativos de capital e dos ativos financeiros (que são preços presentes
de rendas futuras) dependem da visão corrente sobre os fluxos de lucros
futuros e do valor subjetivo corrente em relação à incerteza incorporada
no valor futuro do dinheiro. Estes preços, portanto, são determinados por
expectativas de longo prazo e possuem uma volatilidade muito maior que
os primeiros.

Com determinantes diferentes, não podemos acreditar que o mercado teria capacidades de induzir
que os dois preços tenham variações a uma mesma taxa, logo, exigindo diferentes formas de avaliação
num processo econômico.
116
MACROECONOMIA APLICADA

As relações desses dois sistemas de preços, com dois horizontes de tempo diferentes e dependentes
de distintas variáveis, em suas relações com as condições financeiras da economia, determinariam os
investimentos, no entendimento de Minsky. Esses investimentos, em conjunto com outras variáveis,
determinam a demanda efetiva e, portanto, o emprego.

A hipótese da instabilidade financeira integra na análise, portanto, as instituições financeiras e as


práticas financeiras, as quais impõem condições e exigências em relação ao comportamento futuro da
economia, dando sustentação para uma teoria financeira dos investimentos, que corresponderia a uma
teoria sobre o comportamento cíclico da economia.

Na visão da hipótese da instabilidade financeira, a oferta de moeda é considerada endógena.


Moeda será criada toda vez que os bancos financiarem negócios ou adquirem ativos, ocorrendo uma
destruição de moeda no momento em que os empréstimos forem pagos ou pela venda de ativos por
parte dos bancos. Assim, num ambiente financeiro e bancário moderno, a oferta monetária precisaria
ser vista como endógena. Neste ponto, Minsky tem uma interpretação diversa daquela de Keynes, já
que este último autor toma a oferta de moeda como exógena, e por isso os governos poderiam intervir
aumentando a oferta monetária visando estimular a demanda efetiva.

Com uma visão de moeda endógena, essa análise de Keynes precisa ser modificada. Mas ressalva
que o fato de existir criação e destruição privada de moeda não indica que o governo perca
completamente o controle sobre a oferta de moeda. Por isso, a ação do governo será a de disciplinar
o processo de variação monetária dada pela destruição e criação de moeda ao manter um ambiente
financeiro robusto.

Para Minsky (1982), a principal transação que ocorre na economia é a troca de dinheiro no
presente por dinheiro no futuro, por exemplo, quando ocorrem investimentos ou a aquisição de
ativos de capital. Por isso, a teoria econômica não pode abstrair‑se do tempo fazendo uma análise
meramente estática. Admitindo‑se a existência de flutuações do produto e de poder de mercado,
a função de produção neoclássica não pode ser a base para a análise teórica da produção, nem
a teoria da produtividade marginal, a base para a análise das remunerações relativas dos fatores,
dentre eles os lucros.

A atividade econômica gera fluxos de caixa, que contêm os lucros, usados como garantias
para financiar posições em ativos de capital ou para validar dívidas e os preços que foram pagos
pelos ativos de capital no passado, permitindo honrar as obrigações de pagamentos originadas
em decisões passadas de financiamento. Dessa forma, a economia capitalista somente funciona
de forma equilibrada com a existência de investimentos geradores de lucros, e as flutuações nos
investimentos determinam se as dívidas poderão ou não ser pagas. O problema fundamental que
se coloca faz referência aos motivos que levariam os investimentos a flutuarem, ou seja, qual
o mecanismo que transforma um aperto financeiro em uma crise financeira. Para solucionar
tais indagações, Minsky chama a atenção para as diferentes posturas financeiras que podem ser
adotadas pelos agentes econômicos.

117
Unidade II

Existem, segundo Minsky, três tipos básicos de posturas financeiras das


empresas, famílias e governos nas relações entre seus compromissos
de pagamentos de contratos (suas dívidas) e seus fluxos de receitas,
chamadas de posturas hedge, especulativa e Ponzi. A estabilidade da
estrutura financeira e, portanto, da economia como um todo, depende
do mix das posturas financeiras, sendo a postura hedge correspondente
a uma economia mais estável, enquanto a postura especulativa e a
Ponzi tornam a economia mais suscetível à instabilidade financeira
(DATHEIN, 2000, p. 10).

De forma resumida, a postura financeira hedge corresponderia à situação em que os agentes


possuem um fluxo de caixa esperado que gere um excedente ou pelo menos iguale, em todos os
períodos, os compromissos contratuais de pagamentos de passivos. Contrasta com a posição dos agentes
econômicos com finanças especulativas, situação na qual o fluxo de caixa esperado para todo o período
previsto excede o total de pagamentos de dívidas, mas, a curto prazo, o fluxo de caixa é inferior aos
compromissos totais neste mesmo prazo, necessitando que parte do serviço da dívida seja refinanciada.
Ou, por exemplo, os retornos poderiam cobrir apenas os pagamentos de juros, enquanto o principal teria
de ser renegociado.

Por último, a postura financeira Ponzi corresponderia aos agentes econômicos cujos fluxos de renda
são inferiores aos compromissos financeiros em todo o período, necessitando de refinanciamento de
parcela superior ao serviço da dívida, que contribui para o crescimento da dívida total, o que significa
uma postura de alto risco. Para Minsky, os investimentos de longo prazo e de retorno incerto têm
aspectos que se assemelham a essa postura financeira.

Tanto empresas com finanças especulativas quanto aquelas em situação Ponzi necessitam
constantemente se endividar ou vender ativos para cumprirem seus compromissos totais, além de que
a viabilidade da situação Ponzi depende de uma expectativa de crescimento dos preços dos ativos da
empresa no futuro. A quantidade e a variabilidade da ocorrência de finanças hedge, especulativa e
Ponzi variam de tempos em tempos e de acordo com a estrutura de cada economia, sendo a base para
o entendimento dos ciclos e das crises financeiras e econômicas.

Segundo a hipótese da instabilidade financeira, o capitalismo possui falhas inerentes e inescapáveis.


Nessa hipótese, o capitalismo não conseguiria manter‑se próximo ao pleno emprego por um longo
período, pelo fato de o sistema financeiro afetar os preços e as demandas por produtos e ativos de
capital e financeiros.

Ao afetar os preços e as demandas por produtos, o sistema financeiro corrobora a elevação dos
componentes das dívidas e dos seus serviços em relação às rendas auferidas por parte das empresas,
gerando endogenamente crises financeiras, que paralisam os investimentos e, portanto, ocasionam
maior desemprego.

Vamos ver com mais detalhes esse mecanismo endógeno gerador de crises e ciclos financeiros. Para
Minsky (1982), se a economia estiver em um período de tranquilidade, próxima ao pleno emprego,
118
MACROECONOMIA APLICADA

haverá a diminuição das exigências dos emprestadores de dinheiro. Existe a tendência a uma alteração
das aplicações dos agentes econômicos, em que poderá haver um aumento das posições financeiras
especulativas e Ponzi por parte das empresas e dos demais agentes, respaldados pelos mercados
financeiro e bancário.

O próprio sistema financeiro gera endogenamente os recursos necessários para o aumento dos
investimentos ou exigidos pelo aumento dos preços dos bens de capital. Quando a participação das
finanças especulativas e Ponzi ganha preponderância na estrutura financeira total, a economia torna‑se
mais sensível a mudanças nos patamares das taxas de juros praticadas no mercado. No caso de um
aumento da taxa de juros, as posições hedge podem tornar‑se especulativas, e as especulativas podem
tornar‑se estruturas de financiamento Ponzi.

Ao mesmo tempo, uma maior taxa de juros gera uma queda no valor presente dos lucros esperados
pelos bens de capital, que em termos de eficiência marginal do capital (EmgK) provoca uma diminuição
dos investimentos. Com uma situação de queda dos lucros, dos investimentos realizados no passado,
chegamos à situação de deterioração da capacidade de pagamento dos empresários. Nesse contexto,
mesmo sem uma crise financeira aberta, as expectativas de longo prazo são afetadas, aumentando
os prêmios de risco de projetos de investimentos, levando os empresários e banqueiros a buscarem
posições financeiras menos especulativas, diminuindo a liquidez da economia. Depois de certo período
de instabilidade pode surgir, também endogenamente, uma fase de estabilidade financeira, mas agora
com baixo nível de atividade econômica, em razão da queda dos investimentos, até ser retomada,
novamente, a fase ascendente do ciclo.

Temos, com isso, a mais contemporânea das formulações no âmbito da teoria pós‑keynesiana. Para
tal modelo, as crises financeiras são resultado do funcionamento normal da economia. Os ciclos de
instabilidade são endógenos ao sistema econômico, em razão da busca de interesses próprios dos agentes
em uma economia descentralizada, apta a apresentar expansões incoerentes ou bolhas especulativas, na
concepção de Minsky.

No entanto, essas crises podem ser evitadas ou atenuadas, dependendo das ações dos
bancos centrais como financiadores de última instância, de aumento dos gastos fiscais –
mesmo que gerem déficits – por parte dos governos para sustentar os lucros e eventuais
mudanças no balanço de pagamentos. Isso é necessário, pois a forma privada de criação de
recursos é inerentemente míope e precisa ser suplementada pela visão de longo prazo que os
governos têm capacidade de ter.

Por fim, a alternativa à crise é basicamente uma combinação de ações do Banco Central e do governo
que permitam a sustentação do emprego e da renda. A ação do Banco Central, em momentos pré‑crise,
deve ser promover intervenções para sustentar os preços dos ativos e dar liquidez necessária e robusta
às instituições financeiras, enquanto os governos devem gerar ou aumentar seus gastos públicos para
sustentar a demanda e os lucros. Voltamos, portanto, às propostas de políticas macroeconômicas ativas
que caracterizam a teoria keynesiana.

119
Unidade II

Saiba mais

A questão da instabilidade financeira representa uma das principais


linhas de pesquisa da teoria pós‑keynesiana. Para aprofundar seus
conhecimentos a respeito do tema e também sobre a teoria de Hyman
Minsky, leia:

DEOS, S. A contemporaneidade de Minsky. Dossiê da crise, Porto


Alegre, p. 20‑22, 2008. Disponível em: <http://www.akb.org.br/
upload/080820121726488142_AKB_DOSSI%C3%8A_DA_CRISE.pdf>.
Acesso em: 7 dez. 2016.

DEOS, S. Instabilidade financeira numa economia de mercado de


capitais. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 19, n. 2, p. 38‑61, 1998. Disponível em:
<http://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/viewFile/1923/2298>.
Acesso em: 7 dez. 2016.

7 TÓPICOS INTERMEDIÁRIOS DE MACROECONOMIA APLICADA

7.1 Ciclos econômicos, ciclos reais de negócios e política econômica

A macroeconomia caracteriza‑se por estudar as flutuações econômicas. A contabilidade social


tornou‑se um grande instrumento metodológico e estatístico ao permitir mensurar as variáveis
macroeconômicas de forma agregada e, assim, a possibilidade do estudo das variáveis que determinam o
produto ou PIB, como consumo, investimento, gastos do governo, exportação e importação. As agendas
de pesquisas econômicas foram adiante, perceberam que o ciclo de negócios e o nível de preços também
determinam o produto, em que a hipótese de preços rígidos é um dos pontos de desenvolvimento
teórico recente.

Keynes (1936) já afirmava que a instabilidade era algo intrínseco ao sistema capitalista.
Sua teoria era embasada na análise sobre a variável investimento agregado, que é composta de
formação bruta de capital fixo e de variação de estoques. O investimento agregado dependia de um
cenário econômico favorável à realização da produção, e a incerteza sobre o futuro poderia levar os
empresários a reduzir o nível de produção e com isso haveria uma queda do produto.

É possível analisar as flutuações econômicas por meio do ciclo de estoques em que, sendo o
investimento agregado à soma da formação bruta de capital fixo e da variação de estoque, quando
o estoque aumenta, a tendência é uma queda futura do nível de investimento devido à queda da
realização da produção.

120
MACROECONOMIA APLICADA

I = FBKF + ∆ Estoques

I = é o investimento agregado;

FBKF = é a formação bruta de capital fixo;

∆ Estoques = é a variação de estoques.

Tabela 1 – Ciclo de estoques

Etapas C I DA Var. E E desejado Nível E Produção E Y


1 4.500,00 250,00 4.750,00 – 475,00 475,00 – 5.500,00
2 4.500,00 500,00 5.000,00 500,00 500,00 975,00 ‑ 475,00 4.525,00
3 3.720,00 500,00 4.220,00 305,00 422,00 1.280,00 ‑ 858,00 3.362,00
4 2.789,60 500,00 3.289,60 72,40 328,96 1.352,40 ‑ 1.023,44 2.266,16
5 1.912,93 500,00 2.412,93 ‑ 146,77 241,29 1.205,63 ‑ 964,34 1.448,59
6 1.258,87 500,00 1.758,87 ‑ 310,28 175,89 895,35 ‑ 719,46 1.039,41
7 931,53 500,00 1.431,53 ‑ 392,12 143,15 503,23 ‑ 360,08 1.071,45
8 957,16 500,00 1.457,16 ‑ 385,71 145,72 117,52 28,19 1.485,35
9 1.288,28 500,00 1.788,28 ‑ 302,93 178,83 ‑ 185,41 364,24 2.152,52
10 1.822,02 500,00 2.322,02 ‑ 169,50 232,20 ‑ 354,90 587,11 2.909,12

Lopes e Vasconcellos (2011, p. 126). Adaptado.

Percebe‑se que a demanda agregada (DA) determina a flutuação do produto (Y), em que a DA
é composta de consumo e investimento agregados. No lado do investimento, temos a variação de
estoques, que possui quatro variáveis em subdivisões: variação de estoque, estoque desejado, nível de
estoque e produção para estoque. Temos, na tabela apresentada, por etapas ou período de tempo, o
consumo agregado (C), o investimento agregado (I), a demanda agregada (DA), a variação de estoques
(Var. E), o estoque desejado (E desejado), que representa 10% da demanda agregada, o nível de estoque
(Nível E), a produção para estoque (Produção E) e o produto ou PIB (Y).

A tabela supõe na Etapa 2 um aumento do nível de investimento que eleva a demanda agregada e
causa uma queda do nível de estoques, fazendo que as empresas passem a produzir mais para atender
o aumento da demanda, como forma também de repor o estoque vendido. Como a demanda agregada
determina o nível de renda, haverá um aumento do produto.

Entretanto, o aumento da produção elevará o nível de estoques, em que os empresários decidem


reduzir o nível de produção com a queda na demanda agregada e do produto. Esse processo cíclico leva
o nível de produto às flutuações econômicas, em que as convergências para situações de equilíbrio são
determinadas pelos níveis de estoques. O produto é uma variável que não se ajusta à demanda de forma
instantânea, sendo o resultado de fortes expansões ou contrações do nível de atividade econômica.
Podemos formalizar o produto assim:

121
Unidade II

Y = C + I + ∆ Estoques

Y = é o nível de renda ou produto agregado;

C = é o consumo agregado;

I = é o investimento agregado;

∆ Estoques = é a variação de estoques.

Geralmente, os empresários esperam que o consumo presente (Ct) seja igual ao consumo do período
anterior ou ao consumo passado (Ct‑1). A variável consumo é considerada uma variável com certa
estabilidade, pois está dividida entre consumo autônomo (C) e a propensão marginal a consumir (cY),
que pode ser formalizada assim:

C = C + cY, em que 0 < c <1

C = é consumo autônomo que é realizado pela despoupança;

c = é a propensão marginal a consumir, isto é, a relação entre consumo e renda ou percentual da


renda que vai para o consumo e varia entre 0 e 1;

Y = é o nível de renda ou produto.

Então, verifica‑se que uma parte da função consumo depende da propensão marginal a consumir:

C = cY

Em que o nível de consumo presente (Ct) é igual ao consumo passado (Ct‑1):

Ct = Ct‑1

O consumo presente é determinado pelo nível de renda do período anterior:

Ct = cYt‑1

A formalização da variação de estoques é:

∆Estoques t‑1 = cY t – c Y t‑1

Caso haja um aumento do nível de renda e do consumo, teoricamente, as empresas tendem a


manter um nível de estoques desejado para atender rapidamente à demanda agregada.

Y = C + I + ∆ Estoques
122
MACROECONOMIA APLICADA

Y = cYt + (cYt – cYt‑1) + I

Y = 2 cYt – cYt‑1 + I

As expressões apresentadas colocam a economia em uma posição de equilíbrio quando Y t = Y t‑1,


em que a variação de estoque (∆ Estoques) seja igual a zero. Caso ocorra uma variação da demanda,
haverá variação no nível de estoques, ocasionando uma flutuação da demanda agregada e do produto.
A teoria keynesiana também explica o comportamento cíclico da economia por meio do modelo
multiplicador‑acelerador, em que o investimento é determinado pela variação da produção ocorrida no
período anterior (Yt‑1). Podemos formalizar assim:

I = I0 + d ∆ Yt

ou

I = I0 + d ∆ (cYt – cYt‑1)

Essa equação apresenta a função investimento formada por um componente autônomo somado a
um componente que decorre do comportamento da renda no período anterior. Considerando‑se que o
consumo seja função da renda defasada de um período, temos:

C = cYt

Sendo Y = C + I, temos:

Y = cYt + I0 + d(cYt – cYt‑1)

Y = (c + d) Yt + I0 – dcYt‑1

A equação final apresentada revela que se elevarmos o investimento autônomo, haverá um


crescimento do produto presente em relação ao nível de produto anterior. Por sua vez, haverá um
crescimento adicional do investimento que diminuiu a variação da renda, restabelecendo o equilíbrio
quando Y t = Y t‑1.

A teoria keynesiana, ao analisar as flutuações econômicas, coloca as oscilações do investimento em


razão das incertezas e decisões dos empresários, isto é, da eficiência marginal do capital (Emg K). Se Emg
K passar por uma tendência de queda, poderá haver retração do nível de investimento autônomo. No
modelo IS‑LM, isso representa um deslocamento da curva IS para a esquerda, cujo resultado é a retração
do produto.

123
Unidade II

Taxa de
juros (i) LM

ie

i2

IS 2 IS 1
Y2 Ye Nível de
renda (Y)

Figura 31 – Queda do nível de investimento no modelo IS‑LM

Observação

O modelo IS‑LM representa a síntese neoclássica da teoria keynesiana,


cuja curva IS (Investment‑Saving) representa o lado real e a curva LM
(Liquidity‑Money) representa o lado monetário da economia.

Portanto, as flutuações são resultado das variáveis que determinam o produto. A principal delas
é o investimento agregado como um dos gastos autônomos que compõem a demanda agregada. A
teoria keynesiana, diante de tal diagnóstico, propõe mecanismos de compensação da queda de gastos
autônomos por meio da intervenção do Estado na economia de modo a utilizar a política econômica
fiscal, monetária, cambial e creditícia para regular a demanda agregada e gerar um cenário favorável
para a produção e o emprego.

A teoria do ciclo real de negócios afirma que há uma percepção equivocada das flutuações
econômicas devido a uma análise pelo lado da oferta agregada como principal determinante do
produto da economia. Portanto, as flutuações da demanda agregada não são o objeto de estudo para
essa agenda de pesquisa. A curva de oferta agregada é composta de capital, trabalho e tecnologia,
isto é, são essas as principais variáveis que determinam essa curva. Assim, o valor monetário de cada
fator de produção (preços e salários) impacta diretamente essa variável, que sofre variações positivas
e negativas.

O ciclo real de negócios é uma agenda de pesquisa da Escola de Chicago (EUA), em que duas linhas
de pensamento econômico, monetaristas (Friedman) e novo‑clássicos (Lucas), formalizam sua estrutura
teórica, em que temos:

124
MACROECONOMIA APLICADA

Y = Yp + ∆ (P – Pe)

Y = é o produto ou nível de renda da economia;

Yp = é o produto ou nível de renda da economia de pleno emprego;

P = é o nível de preços vigente.

Pe = é o nível de preços esperado.

A Escola de Chicago faz um contraponto ao referencial teórico keynesiano quando este adota políticas
econômicas discricionárias para elevar os níveis de produto e renda. A política monetária expansionista
impacta a produção e o emprego, devido ao fato de os agentes econômicos terem a expectativa de
preços estáveis e, portanto, fixarem preços e salários com base nessa expectativa. Dada uma elevação
da base monetária e dado um aumento nominal de preços e salários, os agentes se ajustam à demanda
e passam a produzir e trabalhar mais.

O aumento da base monetária pelo Banco Central desloca a demanda agregada para a direita e eleva
o nível geral de preços, o que não era esperado pelos trabalhadores e empresários, ou seja, os agentes
erram devido à assimetria de informação e cometem erros de percepção e de análise econômica. O
aumento de preços é entendido como aumento de preços relativos, e não aumento do nível geral de
preços, por isso a oferta aumenta.

Para os trabalhadores, o aumento dos salários nominais é considerado como aumento dos salários
reais e resulta na oferta de mais horas de trabalho. Na verdade, há uma redução dos salários reais, em
que as empresas contratam mais trabalhadores e elevam a produção, portanto a flutuação está em
função da assimetria de informação dos agentes econômicos.

As flutuações econômicas ocorrem pelo desvio entre o nível de preços efetivo e o nível de preços
esperado. Caso a variação seja prevista por meio de expectativas racionais, os agentes econômicos
não aumentam a oferta de produção e trabalho, e a política monetária expansionista perde seu efeito.
Percebe‑se que se o governo não tivesse adotado uma política econômica, as variáveis se ajustariam via
preços, sendo a política econômica, ou seja, o governo, o fator de instabilidade da economia.

A análise do resultado da política econômica pela teoria dos ciclos reais de negócios pode ser feita
pelo modelo IS‑LM, dadas as curvas IS,Y=C(Y‑T) + I(r) + G, e LM, M/P=Ky‑hi, cujo produto é determinado
pela oferta agregada composta de capital (K) e trabalho (T), isto é, Y = F(K, N), em que não há expectativa
de inflação, não havendo necessidade da execução de uma política econômica discricionária.

No modelo IS‑LM, as variações de preços e os saldos reais definem a posição da LM que sempre
interceptará a curva IS ao nível de renda de pleno emprego. Se a intersecção IS‑LM for abaixo do
pleno emprego, haverá queda do nível de preços e elevação dos saldos monetários reais, deslocando
a LM para a direita até o ponto em que ambas se interceptem no nível de pleno emprego, em que os
preços se estabilizam.
125
Unidade II

Taxa de
juros (i) LM

LM 2

ie

i2

IS
Ye Yp Nível de
renda (Y)

Figura 32 – Aumento da base monetária no modelo IS‑LM

A posição da curva IS, que é determinada pela política fiscal, mantém-se constante. O deslocamento
da curva LM via variação de preços leva a economia à renda potencial, determinando o produto e a taxa
de juros. Não houve aumento da oferta de moeda nominal, mas real, devido à queda de preços gerada
em um contexto de equilíbrio abaixo do pleno emprego.

Entretanto, os preços e os salários não são flexíveis como se imagina, apresentando certa
rigidez, conforme afirmam os novo‑keynesianos, pois a queda da demanda agregada não será
ajustada por queda de preços devido à rigidez, mas pela elevação do desemprego involuntário,
o que leva ao debate da execução de políticas econômicas para gerar a estabilidade econômica
por meio de instrumentos fiscais e monetários. São várias as questões colocadas, já que as
políticas econômicas apresentam limitações no combate aos choques econômicos por causa
das possibilidades de defasagens. Segundo Lopes e Vasconcellos (2011, p. 256), há dois tipos
de defasagem:

Defasagem interna: correspondente ao intervalo de tempo que


transcorre entre a ocorrência do choque econômico e a ação política por
parte do governo. Esta defasagem decorre do tempo que se gasta com o
reconhecimento do choque e com a implementação da política adequada.
Um ponto relevante na questão do reconhecimento é saber se a perturbação
econômica é temporária ou permanente. Por temporária entende‑se um
desvio de rota que logo tende a ser corrigido pelos rumos normais dos
negócios. Nesse caso, a melhor alternativa pode ser não fazer nada em
relação ao choque. Caso identifique‑se que o choque seja permanente, a
alternativa da intervenção pública pode ser mais adequada. Entretanto,
uma vez reconhecido que o choque seja permanente, tem‑se um segundo
problema: identifica‑se o choque, estuda‑se a melhor forma de corrigi‑lo

126
MACROECONOMIA APLICADA

para depois implementá‑lo. Tanto a análise da melhor política quanto sua


implementação demandam tempo.

Defasagem externa: esta defasagem refere‑se ao intervalo de tempo entre


a implementação da política e sua repercussão sobre a economia, ou seja,
até que comece a surtir efeito sobre o desempenho econômico.

A adoção de uma política econômica, assim como seus resultados, como desemprego e/ou
inflação, sempre serão objetos de discussão entre os economistas da linha keynesiana, dentre eles os
novo‑keynesianos, e as correntes monetaristas e novo‑clássicas. Quando se adota uma política econômica,
ela começará a surtir efeito numa conjuntura econômica, diferente do período de diagnóstico, e a
causar outros efeitos sobre a economia. Por exemplo, pode‑se adotar uma política econômica com
objetivos de crescimento econômico e redução do desemprego, entretanto os resultados podem ser de
endividamento público e inflação.

A existência de defasagens acaba se tornando um forte argumento para os economistas da Escola


de Chicago quanto à intervenção do governo, já que pode causar resultados diferentes dos objetivos
propostos. Ou seja, deixar a economia convergir para o seu equilíbrio de “forma natural”, ou melhor, sem
a “mão visível” do Estado, e sim por meio de uma “mão invisível” do sistema econômico.

Entre as políticas fiscal e monetária, a primeira possui uma defasagem interna maior que
a segunda, que possui uma defasagem externa maior. A implementação da política fiscal não
depende apenas do governo executivo, diferentemente da política monetária, que é, no Brasil,
decidida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom/BCB), mas também é
competência do Poder Legislativo (Congresso Nacional), já que as questões de tributação e de
gastos públicos devem ser regidas por lei. As decisões tomadas passam a vigorar no ano seguinte
ao da sua aprovação.

Ao estudar o modelo keynesiano simples, há alternativas para a redução de defasagens, como o


estabilizador automático que é a tributação (tY) relacionado ao nível de renda. Portanto, quando o nível
de renda se eleva, automaticamente, há uma elevação da arrecadação pública, que passa a constituir
um fundo público para ser utilizado em uma conjuntura de crise econômica por meio de transferências
(seguro‑desemprego, bolsa de estudos, entre outras) para as famílias manterem seu nível de gastos
pessoais, e por meio da concessão de subsídios para as empresas, como forma de redução do nível de
preços e realização da produção, para evitar as flutuações econômicas.

127
Unidade II

Nível de
preços (P) Y pleno
emprego
Y efetivo

Aumento da
arrecadação Aumento dos gastos públicos
pública

Nível de
renda (Y)

Figura 33 – Relação entre a renda de pleno emprego e a efetiva

Na figura apresentada, temos o nível de renda de pleno emprego ou PIB potencial como
uma linha que apresenta crescimento linear e constante. Já a segunda linha que apresenta
flutuações é o nível de renda efetiva ou PIB efetivo. Quando a renda efetiva está acima da linha
de pleno emprego, significa que a demanda agregada está acima da oferta agregada e resulta
em uma inflação de demanda. No ponto em que o PIB efetivo está acima do PIB potencial,
o estabilizador automático eleva a arrecadação do governo devido à elevação do nível de
renda. Em uma possível queda do nível de atividade, em que o PIB efetivo esteja abaixo do PIB
potencial, o desemprego poderá se elevar, logo o governo aumenta seus gastos públicos para
retomar o nível de atividade e reduzir a flutuação econômica com o objetivo de se aproximar
da situação de estabilidade macroeconômica.

A existência de defasagens irá depender da capacidade e da competência dos policy makers ou


gestores de política econômica de fazer um diagnóstico e propor objetivos, metas e resultados esperados
como forma de tornar a política econômica não apenas eficiente, mas também eficaz, não minimizando
a tendência de desemprego, mas reduzindo o desemprego, ou não criando uma tendência de queda da
inflação, mas levando a uma redução contínua e generalizada do nível de preços.

Para tentar fazer previsão e antecipar as flutuações, utilizam‑se dois tipos de instrumentos da
análise econômica. O primeiro é a elaboração de indicadores econômicos e sociais, que servem para o
acompanhamento do comportamento das principais variáveis, por exemplo, o PIB, os índices de preços e
as taxas de desemprego, para avaliar o nível de atividade econômica. Mas o objetivo é se antecipar com
indicadores antecedentes. Por isso, temos o PIB trimestral, o índice de preços quinzenal, entre outros.
Mas podemos criar e analisar indicadores, como a produção de papelão, que é essencial para embalar
os produtos novos, o nível de compras no setor de serviços (atacado e varejo) e as expectativas dos
consumidores e dos empresários, como forma de criar um cenário otimista para prever as variáveis de
consumo e investimento futuros.

128
MACROECONOMIA APLICADA

O segundo instrumento é a criação de cenários econômicos por meio da análise de conjuntura, cuja
formação, geralmente de economistas, leva o conhecimento técnico para a construção de modelos
econômicos que trabalham com variáveis endógenas e variáveis exógenas, cujos valores buscamos
determinar. Por meio da construção de coeficientes e parâmetros estatísticos, busca‑se entender o
comportamento das variáveis, ou seja, o cálculo dos coeficientes e a estimação de parâmetros permitem
relacionar as variáveis. A partir disso, formulam‑se as hipóteses sobre o comportamento das variáveis e
elaboram‑se as suposições com base no diagnóstico de comportamento dos agentes econômicos.

Mesmo levando em conta questões técnicas e fundamentadas em história e teoria econômica, o


debate continua. Entre outros questionamentos sobre a formulação e a implementação de políticas
econômicas, segue a pergunta: o governo deve adotar critérios por meio de um conjunto de regras? Por
exemplo, se o PIB cresceu 5% no ano, o Banco Central deve elevar a base monetária em 5% no mesmo
ano e evitar um crescimento monetário nominal? Ou o Banco Central adota uma atuação discricionária
e arbitrária ao perceber que o PIB apresenta tendência de queda e eleva a base monetária em 5% como
forma de elevar a liquidez e o crédito na economia, cujo objetivo seria elevar o consumo e o investimento
para evitar a flutuação econômica? Segundo Lopes e Vasconcellos (2011, p. 258), há algumas críticas às
políticas discricionárias:

a) Problemas de arbitrariedade

Incompetência: o processo político é aleatório, e não tem como separar


sugestões de charlatões das de economistas competentes. Muitas vezes
o proponente da política econômica não possui condições de avaliar
satisfatoriamente o que deve ser feito;

Oportunismo: os responsáveis pela política econômica podem ter interesses


que entram em choque com o bem‑estar social, por exemplo, fins eleitoreiros,
ou mesmo interesses pessoais. Isto acontece em situações em que existem
órgãos reguladores de determinadas atividades, mas permite‑se que o
agente regulador/fiscalizador seja capturado pelo regulado/fiscalizado; por
exemplo, diretores do Banco Central que possuem interesses conjuntos com
o sistema bancário: pode‑se sujeitar a política monetária aos interesses
dos bancos. Outro exemplo refere‑se ao chamado ciclo político, pelo qual
a política econômica do governo depende do estágio do mandato em que
se encontra e adota políticas austeras contra a inflação nos primeiros anos
para liberar no período final, de modo a gerar mais emprego e expansão
econômica para conseguir se reeleger.

b) Inconsistência temporal das políticas discricionárias

A questão, nesse sentido, refere‑se ao incentivo do governo em manter


políticas anunciadas. O governo pode, por exemplo, anunciar forte controle
monetário e dos gastos públicos com antecedência, como parte de um plano
de combate à inflação. Uma vez feito o anúncio, isto afetará as expectativas
129
Unidade II

dos agentes que reverão suas estimativas. Com isso, se os agentes acreditarem
nas propostas do governo, independente deste cumpri‑las, a inflação tende
a ceder. Contudo, uma vez que o governo tenha atingido o objetivo a que se
propunha, mesmo sem efetivar as medidas, por que tomá‑las e arcar com o
ônus político da recessão? Ou seja, uma vez conseguido o objetivo, tem‑se
um estímulo a renegar a política anunciada.

Percebe‑se que há uma discussão entre as várias escolas e correntes de economistas. O debate atual
entre a Escola de Chicago (monetaristas e novo‑clássicos) e a corrente keynesiana, principalmente os
pós‑keynesianos e os novo‑keynesianos, tem se mostrado bastante frutífero para a teoria econômica
que busca entender as flutuações e a estabilidade econômicas. A microeconomia é um campo de estudo
econômico cuja relação com a macroeconomia é fundamentar a análise por meio de fundamentos
microeconômicos ou microfundamentos como forma de exigir mais técnica e competência da ciência
econômica. Temos de adotar tais ferramentas metodológicas visando entender o sistema econômico e
seus agentes, com o objetivo maior do bem‑estar econômico e social.

7.2 Consumo, investimento e governo: a utilização de fundamentos


microeconômicos por meio da escolha intertemporal para o crescimento
econômico

A evolução recente da macroeconomia tem aprofundado os fundamentos microeconômicos como


forma de desenvolver a teoria econômica a partir de um modelo que permita uma análise econômica das
políticas macroeconômicas com maior eficácia. Levando em conta não somente as variáveis agregadas,
mas considerando também como cada agente econômico toma decisão em suas escolhas no dia a dia,
por exemplo: consumir ou aplicar sua renda? Comprar ou financiar uma residência? Dessa forma, temos
a renda permanente, o ciclo de vida e a escolha intertemporal como conceitos relevantes para analisar
a macroeconomia e seus fundamentos.

7.2.1 Consumo e escolha intertemporal

Para os policy makers, o consumo agregado é um dos principais determinantes do produto e da


renda, pois em alguns países representa mais de 60% do PIB. Com a evolução da contabilidade social, a
teoria econômica keynesiana procurou estudar os principais determinantes do produto interno bruto,
em que faz a seguinte análise: quanto maior o nível de renda, maior será o consumo agregado. Keynes
(1936) estruturou a sua função consumo da seguinte forma:

C= Ct + cY, em que:

Ct > 0 e 0<c<1

Sabendo que:

C = consumo agregado;

130
MACROECONOMIA APLICADA

Y = nível de renda agregada;

Ct = consumo autônomo que independe do nível de renda;

c = propensão marginal a consumir.


C

cY

Ct

Nível de
renda (Y)

Figura 34 – Função consumo keynesiana

O consumo, ao depender da renda, leva a política fiscal a apresentar eficácia sobre a renda, isto
é, o governo pode, por meio dos instrumentos fiscais, elevar e reduzir a renda, além de poder elevar
o efeito multiplicador. Os estudos de Keynes sobre o consumo também permitiram analisar que a
razão entre os níveis de consumo e renda forma a propensão média a consumir. Um aumento da
renda faz essa propensão cair, ou seja, há uma parte das famílias que apresenta renda mais elevada
e que possui uma propensão marginal mais elevada a poupar, isto é, troca o consumo presente pelo
consumo futuro. Entretanto, a análise keynesiana é de curto prazo, e vários estudos surgiram no
século XX, procurando verificar a relação entre consumo e renda. Segundo Lopes e Vasconcellos
(2011, p. 263-264):

Com o desenvolvimento de técnicas econométricas, não tardaram a aparecer


trabalhos empíricos objetivando testar a função consumo keynesiana. Um
dos estudos mais importantes deve‑se ao economista Simon Kuznets que,
com base em série temporal para o período de 1869 a 1938, verificou
uma proporcionalidade entre renda e consumo, rejeitando a hipótese de
a propensão média a consumir ser decrescente em relação à renda. Essa
evidência sugeria que, a longo prazo, a função consumo se comportaria
diferentemente da análise keynesiana.

Sobre as explicações referentes à função consumo de curto prazo e a de longo prazo, sabemos que
a função de curto prazo tem como base a renda das classes sociais e seus orçamentos familiares no

131
Unidade II

período de um ano. Já a função consumo de longo prazo tem como base a renda e os gastos familiares
de determinados períodos de tempo maiores que um ano, denominados séries de tempo, isto é, a soma
de dois anos ou mais.
função consumo de longo prazo
C

função consumo de curto prazo

Ct

Nível de
renda (Y)

Figura 35 – Funções consumo de curto e de longo prazos

Consumo por
classes de renda

Y = Classes de renda

Figura 36 – Função consumo com base em orçamentos familiares

132
MACROECONOMIA APLICADA

Consumo anual
C

Ct

Y = anos

Figura 37 – Função consumo por séries de tempo

A função consumo de curto prazo e com base em orçamentos familiares demonstra que quanto
maior a renda, maior será o consumo. Entretanto, em classes sociais com níveis de renda mais elevados,
o consumo apresenta variação com taxas decrescentes porque, nessas classes sociais, há maior
propensão a poupar do que a consumir. Já sobre a função consumo de longo prazo, os estudos empíricos
demonstram que é uma curva linear, cuja propensão marginal e média ao consumo são idênticas e
constantes, mas a única diferença reside no ponto de origem.

De acordo com a decisão das famílias de quanto consumir e poupar hoje se constitui a
abordagem do consumo intertemporal, isto é, a decisão do consumo presente (Ct) ou do consumo
futuro (Ct+1). Essa é uma análise que podemos estender para os agentes econômicos superavitários
que gastam menos do que ganham e os agentes superavitários que gastam mais do que ganham,
ou seja, elevam o consumo presente e comprometem a capacidade de consumo futuro devido à
restrição orçamentária intertemporal.

Ao partir da suposição de que as famílias alocam o consumo e a poupança entre presente (t) e futuro
(t+1), considera‑se que Yt e Ct sejam a renda e o consumo no presente e Yt+1 e Ct+1 a renda e o consumo
no futuro. Agora, vamos supor a possibilidade de se fazer empréstimos bancários. O nível de poupança
no presente pode ser formalizado assim:

St = Yt – Ct

No período futuro, o consumo é dado da seguinte forma:

C t+1 = (1+r).S + Y t+1

Em que r representa a taxa de juros real. Ao combinar as duas equações, temos:

C2 t+1 = (1+r).(Yt – Ct) + Y t+1


133
Unidade II

Agora, isolamos Ct e C t+1 e dividimos ambos os lados do resultado por (1+r), chegando a:

Ct + C t+1 / (1 + r) = Yt + Yt+1 / (1 + r)

Esta última equação representa a restrição orçamentária intertemporal do consumidor, isto é, um


limite para consumir no presente e no futuro, em que a taxa de juros é um fator (1 + r) que iguala a
renda em ambos os períodos. O lado direito da equação representa a riqueza da família no presente.

Na figura a seguir, o ponto A representa o consumo de toda a renda no período presente. Como
a renda é toda consumida, não há poupança, e a renda no período futuro é igual à renda no período
presente. No ponto B, há poupança no período presente, o que eleva a capacidade de consumo no
período futuro. Já no ponto C, o consumo é maior que a renda presente, devido à possibilidade de
empréstimos bancários, fato que reduz o consumo futuro em razão da dívida contraída.
Ct+1

A
Y t+1

Ct
Yt

Figura 38 – Restrição orçamentária intertemporal

O agente econômico, neste caso, as famílias, faz escolhas por meio de suas preferências de como
alocar o consumo, isto é, quanto consumir nos períodos presente e futuro. Essa escolha é representada
por curvas de indiferença que são convexas, em que todos os pontos da curva de indiferença futura
(Ut+1) são melhores que os pontos da curva de indiferença presente (Ut).

134
MACROECONOMIA APLICADA

Consumo no
período t+1

Ut+1

Ut
B

Consumo no
período t

Figura 39 – Preferências do consumidor

Ao combinar a curva de indiferença com a restrição orçamentária, chega‑se ao equilíbrio no ponto E,


em que a curva de indiferença tangencia a restrição orçamentária intertemporal. A partir do equilíbrio,
há como analisar de que modo a elevação da renda impacta o consumo.
Ct+1

R Ct

Figura 40 – Equilíbrio do consumidor

Um aumento da renda presente desloca a restrição orçamentária para cima, o que irá elevar a renda
e o consumo no período futuro.

135
Unidade II

Ct+1

Ut+1
Rt Ut Rt+1
Ct

Figura 41 – Aumento da renda intertemporal

Mudanças na taxa de juros provocam mudanças no consumo. Uma elevação da taxa de juros
provoca um aumento do consumo no período futuro e resulta no efeito renda. O aumento da taxa
de juros faz o poder de comprar ser maior no período futuro do que no período presente, portanto o
consumo será realizado no futuro devido ao efeito substituição. O efeito total se dá pelos dois efeitos
juntos.
Ct+1
Rt+1

Rt

–(1+rt+1) –(1+rt)
Ct

Figura 42 – Aumento da taxa de juros intertemporal

A hipótese da renda permanente dentro da teoria do consumo na escolha intertemporal representa


a decisão das famílias de manter um padrão de consumo estável em todos os períodos de tempo, aqui,
presente e futuro. Isso ocorre devido às expectativas que os agentes econômicos têm do futuro, pois
em momentos de crescimento econômico e emprego, as famílias poupam, e em momentos de crise e
desemprego, as famílias realizam a despoupança.

136
MACROECONOMIA APLICADA

Além da hipótese da renda permanente, há o modelo do ciclo de vida dentro da escolha intertemporal,
em que as famílias escolhem o quanto poupar e o quanto consumir conforme suas expectativas e seu
nível de renda ao longo da vida. Como há uma tendência de baixa renda, aumento e queda da renda
ao longo do tempo e da vida, há uma escolha intertemporal entre presente e futuro, seja por meio de
uma poupança espontânea, por exemplo, os planos de previdência privada, seja por meio da poupança
compulsória, por exemplo, a poupança pública por meio da contribuição previdenciária descontada,
geralmente, em folha de pagamento.

7.2.2 Investimento e a decisão de investir

A variável investimento (I) no sentido econômico representa produção e emprego. Ela é composta
da formação bruta de capital fixo e da variação de estoques, cujo impacto é a elevação da capacidade
produtiva da economia. A curto prazo, o investimento representa demanda agregada, ou seja, gastos
com máquinas, equipamentos, imóveis, construção civil, entre outros, e a longo prazo representa a
oferta agregada, isto é, a capacidade de produção.

Portanto, ao calcular a taxa de acumulação de capital, estamos analisando o incremento do estoque


de capital na economia. Tanto nas contas nacionais do Brasil como no balancete das empresas, existe
o valor da depreciação, que é o valor para a reposição de capital devido ao seu desgaste. Podemos
formalizar o investimento assim:

I bruto = I líquido + d.K, em que:

I bruto = investimento bruto;

I líquido = investimento líquido;

D = taxa de depreciação;

K = estoque de capital.

As empresas tomam as decisões sobre os investimentos com base em expectativas sobre o futuro
e têm de ser alinhadas com as decisões das famílias em suas escolhas intertemporais sobre o consumo
presente e o futuro. Tanto as empresas como as famílias podem decidir como utilizar sua renda entre
consumo, investimento e aplicação em ativos financeiros. Conforme o modelo de alocação intertemporal,
a poupança pode ser formalizada assim:

St = Yt + Ct

Onde St, Yt e Ct representam a poupança, a renda e o consumo no período presente. A poupança


no período presente pode ser alocada entre ativos financeiros (Bt) e investimento (It), agora da
seguinte forma:

St = Bt + It
137
Unidade II

No período futuro, o consumo é dado por:

Ct+1 = Yt+1 + (1 + r). Bt

Ao combinar as três equações, temos:

C t+1 = Y t+1 + ( 1+ r).(Yt – Ct – It)

Ao isolar Ct e Ct+1 e dividir ambos os lados por (1 + r), temos:

Ct + C t+1 / (1 + r) = (Yt – It) + Yt+1 / (1 + r)

Que representa a restrição orçamentária intertemporal, considerando o investimento. O ponto de


maximização do retorno ao fazer a alocação intertemporal será quando a produtividade do capital (Pmg
K) for igual à taxa de juros real (1+r), isto é:

Pmg K = (1+r)

Segundo Lopes e Vasconcellos (2011, p. 275‑276), há outra importante contribuição sobre a decisão
de investir que foi desenvolvida por James Tobin (1960), conhecida como Teoria q, que é a razão entre o
valor de mercado do capital instalado, avaliado pelo mercado de ações, e o custo de reposição do capital
instalado. Tobin, ao afirmar que as empresas consideram em suas decisões de investimento a variável q,
faz a seguinte análise:

Se o valor da empresa avaliado pelo mercado acionário for igual ao custo


de reposição de seu capital instalado, temos que q = 1. Se q > 1, o mercado
acionário está valorizando a empresa mais do que ela vale em termos de
reposição do capital instalado. Segundo a análise de Tobin, o investimento
depende de q ser maior ou menor do que a unidade. Se q > 1, vale a pena
investir, pois a valorização da empresa no mercado mais do que compensa o
custo de se aumentar o estoque de capital. De forma análoga, se q < 1, não
haverá incentivos ao investimento.

A teoria de James Tobin revela que os empresários fazem uma análise de custo de oportunidade ao
relacionar a aplicação financeira no mercado de ações ou realizar investimentos produtivos na economia.

7.2.3 Governo e restrição orçamentária intertemporal

O governo tem como fonte de sua receita pública impostos diretos, impostos indiretos, contribuições
e outras receitas. Já os gastos públicos englobam as despesas correntes ou custeio, transferências e
subsídios, e os gastos com as empresas públicas.

A carga tributária bruta é a arrecadação pública por meio do total de impostos que ao subtrairmos
as transferências como serviços da dívida pública (pagamento de juros), gastos com seguridade social e
138
MACROECONOMIA APLICADA

subsídios, resulta na carga tributária líquida ou receita corrente líquida, que dá condições para pagar as
despesas correntes ou o consumo do governo. A diferença entre a receita corrente líquida e a despesa
corrente forma a poupança corrente do governo.

A poupança corrente do governo é utilizada para os investimentos públicos. Caso os gastos com
investimento superem a poupança pública, estamos diante de um déficit público que será financiado
por meio da venda de títulos públicos. Essa forma de financiamento leva ao endividamento público por
meio da rolagem da dívida, isto é, o pagamento dos juros, na maioria dos casos sem amortização do
principal, o que eleva o estoque e o fluxo da dívida pública, e à necessidade de elevação da arrecadação
pública para pagar o déficit público.

No Brasil, temos três conceitos que medem o déficit público, conhecido como necessidade de
financiamento do setor público (NFSP), são eles:

A) Necessidade de Financiamento do Setor Público conceito nominal (NFSP cn)

NFSP cn = G – T + i B

Sendo:

G = gasto não financeiro;

T = arrecadação não financeira;

B = estoque da dívida pública;

i = taxa de juros nominais, inclui a correção monetária.

B) Necessidade de Financiamento do Setor Público Operacional (NFSP co)

NFSP = G – T + r B

Sendo:

G = gasto não financeiro;

T = arrecadação não financeira;

B = estoque da dívida pública;

r = taxa de juros real, exclui a inflação.

C) Necessidade de Financiamento do Setor Público Primário (NFSP cp)

139
Unidade II

NFSP cp = G – T

Sendo:

G = gasto não financeiro;

T = arrecadação não financeira.

A NFSP cn leva em conta a taxa de juros nominal que é a base de remuneração do estoque da dívida
pública. Em um contexto com elevada inflação o resultado nominal não apresenta fundamentos, passando
a haver a necessidade de eliminar a inflação, isto é, trabalhar com a taxa de juros real, ou seja, subtraindo
da taxa de juros nominal a inflação, para chegar ao resultado operacional (NFSP co). Já o conceito primário
(NFSP cp) é a diferença entre gastos e receitas públicas correntes ou não financeiros, isto é, exclui as
despesa com juros. Se essa subtração der um resultado negativo, significará um superávit fiscal (G –T).

Observação

A necessidade de financiamento do setor público (NFSP) representa


o resultado fiscal de tudo o que foi gasto e recebido pelo setor público.
Nos gastos do governo, temos os gastos não financeiros, como folha de
pagamento do funcionalismo, material de escritório, aluguéis, manutenção,
combustível, entre outros. Já os gastos financeiros do setor público são,
basicamente, o pagamento de juros, principalmente da dívida pública.

Exemplo

Vamos supor que a receita do governo (T) seja $ 1.000, os gastos do governo (G) sejam $ 800, o
estoque da dívida pública seja $ 10.000, os juros nominais (i) sejam 15% e a inflação (π) seja de 10%.
Quais são os resultados primário, operacional e nominal do governo?

Podemos calcular o resultado primário da seguinte forma:

NFSP cp = G – T

NFSP cp = $ 800 – $ 1.000

NFSP cp = – $ 200

Cabe uma observação aqui sobre o resultado negativo, que demonstra que o governo gastou menos
do que arrecadou, ou seja, o resultado negativo significa um superávit fiscal.

O resultado operacional é aquele que exclui a inflação, isto é, considera‑se a taxa de juros real, que é o
resultado da taxa de juros nominal (15%) menos a inflação (10%) e pode ser calculado da seguinte forma:
140
MACROECONOMIA APLICADA

NFSP co = G – T + r B

NFSP co = $ 800 – $ 1.000 + ($ 10.000x0,05)

NFSP co = ‑$ 200 + $500

NFSP co = $ 300

O resultado positivo demonstra que o governo gastou mais do que arrecadou, ou seja, o resultado
positivo significa um déficit fiscal devido ao pagamento de juros da dívida.

Já o resultado nominal é aquele que leva em conta a inflação, isto é, considera a taxa de juros
nominal (15%) e pode ser calculado da seguinte forma:

NFSP cn = G – T + i B

NFSP cn = $ 800 – $ 1.000 + ($ 10.000 x 0,15)

NFSP cn = ‑$ 200 + $1.500

NFSP cn = $ 1.300

O resultado positivo demonstra que o governo gastou mais do que arrecadou, ou seja, o resultado
positivo significa um déficit fiscal devido ao pagamento de juros da dívida.

Restrição orçamentária intertemporal

Sabe‑se que uma política fiscal expansionista por meio da redução de impostos eleva a renda
disponível dos agentes econômicos e seu nível de consumo, que somado ao efeito multiplicador,
possibilita uma tendência de crescimento econômico.

Entretanto, a redução de impostos pelo governo poderá ser financiada via endividamento público
com vencimento futuro, cuja carga tributária apresentará uma tendência de crescimento.

A partir da restrição orçamentária intertemporal, a política fiscal expansionista poderá será anulada,
pois os agentes econômicos têm a expectativa de que a elevação dos gastos públicos no período presente
signifique uma elevação da carga tributária no período futuro. Portanto, os agentes econômicos passam
a economizar o valor da redução dos impostos para pagar o aumento desses impostos no período
futuro. Essa forma de decisão é denominada equivalência ricardiana.

A questão do déficit público em que o governo poderá incorrer pode ser analisada a partir de dois
períodos (presente e futuro), ao se simplificar o conceito de déficit público (NFSP) da seguinte forma:

NFSP = Gt – Tt
141
Unidade II

Em que:

NFSP = é a necessidade de financiamento do setor público;

Gt = são os gastos do governo no período presente;

Tt = é a arrecadação do governo no período presente.

Vamos considerar que o governo irá financiar o déficit público por meio da venda de títulos públicos,
cuja arrecadação de impostos no período futuro poderá ser suficiente para liquidar a dívida pública e as
despesas correntes, isto é:

Tt+1 = (1 + r).D + G t+1

A letra r representa a taxa de juros real que remunera os títulos públicos. Ao considerar as duas
equações, isolando T t e T t+1, e dividindo por (1 + r), temos:

T t + T t+1 / (1 + r) = G1 + G t+1 / (1 + r)

Essa equação resulta na restrição orçamentária intertemporal do governo que afirma o seguinte:
dado um corte nos impostos no primeiro período (∆T), sem uma redução dos gastos públicos, haverá a
necessidade de uma elevação dos impostos no período futuro em (1 + r):

∆T.(1 + r)

Vamos considerar a restrição orçamentária intertemporal dos agentes econômicos em dois períodos
(presente e futuro), mas agora incluindo os impostos:

C t + C t+1 / (1 + r) = (Y t – T t) + [(Y t+1 – t+1 / (1 + r)]

Rearranjando os termos:

C t + C t+1 / (1 + r) = Y t + Y t+1 / (1 + r) – [(T1 t – T t+1) / (1 + r)]

Percebe‑se que o nível de consumo permanente dos agentes econômicos deve ser igual ao
valor presente da produção menos o valor presente dos impostos. A restrição orçamentária
intertemporal dos agentes econômicos em dois períodos (presente e futuro) conclui o seguinte:
se a carga tributária for reduzida no período presente (∆T), em que se tenha uma restrição
orçamentária intertemporal do governo, haverá elevação dos impostos no período futuro em
∆T.(1 + r) e não haverá alteração no consumo dos agentes econômicos no período presente,
portanto os agentes econômicos passarão a economizar o valor da redução dos impostos para
pagar o aumento futuro destes.

142
MACROECONOMIA APLICADA

Impostos e inflação como fontes de receita pública

Os impostos são a principal fonte de receita do governo. Entretanto, determinar uma carga tributária
eficiente é um dos desafios do setor público. Para fazer uma análise, temos a curva de Laffer, que
demonstra a relação entre a receita tributária e a taxa de impostos. O gráfico apresentado na figura a
seguir demonstra que um aumento na taxa de impostos elevará a receita pública a um ponto máximo,
mas caso a taxa continue crescendo, haverá redução da receita pública.

Receita
tributária
(T)

t máxima Taxa de
impostos
(t)

Figura 43 – Curva de Laffer

O aumento de impostos pode levar as pessoas a trocar horas de trabalho por horas de lazer. Uma
carga de impostos muito elevada poderá levar à evasão fiscal devido à elevação da sonegação. Portanto,
uma carga tributária ótima (t máxima) é uma forma de elevar a receita e reduzir a evasão fiscal.

Outra alternativa para elevação da receita é o imposto inflacionário, isto é, aumento da emissão de
moeda nominal (senhoriagem) que provocará elevação do nível de preços e queda dos valores reais e do
poder aquisitivo. Podemos formalizar o imposto inflacionário assim:

Imposto Inflacionário = πe . (∆L/P)d

Em que:

πe = inflação esperada;

(∆L/P)d = demanda por moeda.

Da mesma forma que analisamos a carga tributária com uma alíquota máxima, a receita por meio do
imposto inflacionário apresenta limites, pois a emissão de moeda ou o aumento nominal da quantidade

143
Unidade II

de moeda em circulação eleva a taxa de inflação e desvaloriza a moeda, o que faz os agentes econômicos
reduzirem a demanda por moeda (L).

Portanto, há um imposto inflacionário máximo que está relacionado com a taxa de inflação (π). Ao
passar desse ponto máximo, decresce a receita advinda do imposto inflacionário, havendo a necessidade
de nova emissão de moeda e a possibilidade de um descontrole de aumento da base monetária que
poderá resultar em uma hiperinflação.

8 AVANÇOS RECENTES: A CONTRIBUIÇÃO DA MACROECONOMIA DA


DEMANDA EFETIVA

Nos últimos anos, as abordagens críticas da teoria dominante na economia desenvolveram novas formas
de pensar a macroeconomia através do resgate de autores com importantes contribuições para essa ciência.
A partir desse esforço foram revisitados e reformulados os principais pontos sobre os condicionantes da
trajetória das principais variáveis macroeconômicas, dentre elas o produto, a renda e o emprego.

Numa dessas abordagens heterodoxas, temos um modelo que tem como base o resgate da abordagem
clássica do excedente, originada pelo economista Piero Sraffa, que segue sendo desenvolvida por autores
ligados à escola de Cambridge, no Reino Unido. Em linhas gerais, este projeto pode ser resumido em
três pontos: o primeiro, uma crítica à teoria marginalista baseada no princípio da substituição, também
denominado utilidade, que trata o capital com as mesmas características dos fatores não reprodutíveis,
como o trabalho e a terra.

O segundo ponto está no resgate da teoria geral do valor e da distribuição com base no conceito
de excedente, possibilitando uma teoria objetiva dos preços relativos que reflita as reais condições
técnicas de produção e os mecanismos de distribuição de renda. O terceiro ponto consiste em integrar
na análise o princípio da demanda efetiva buscando uma ponte entre as teorias keynesiana‑kaleckiana
e o conceito de excedente. Nesse ponto, tal elo permite entender as flutuações da economia a curto
prazo, mas também o processo de acumulação de longo prazo.

Ficará claro ao longo da apresentação o papel central da demanda efetiva, considerada a


determinante do nível de produção, mesmo a longo prazo, sendo, portanto, a sua expansão necessária
para o crescimento dos investimentos e da capacidade produtiva.

Veremos ao longo deste modelo, como descreve Serrano (2001, p. 3):

[...] o papel central que o gasto improdutivo desempenha como


estímulo à acumulação, através de uma análise baseada num modelo do
supermultiplicador clássico ou Sraffiano, um esquema onde a distribuição é
exógena ao processo de acumulação e a economia cresce puxada pelo efeito
acelerador e multiplicador da expansão do consumo improdutivo.

Em outras palavras, busca mostrar a importância da ideia de investimento autônomo com base nas
inovações na dinâmica do crescimento econômico em uma dada economia; além disso, ressaltar que
144
MACROECONOMIA APLICADA

o mecanismo do investimento induzido e do supermultiplicador consistem no esquema teórico mais


adequado para analisar o efeito da expansão do gasto improdutivo autônomo sobre o processo de
acumulação de capital.

Para chegarmos a essa síntese teórica, vários conceitos são retomados dentro da discussão
macroeconômica e reavaliados à luz da abordagem do excedente, com o intuito de ressaltar as deficiências
da teoria neoclássica e pós‑keynesiana na explicação da dinâmica das economias capitalistas.

8.1 Distribuição de renda e acumulação do capital

Nessa vertente teórica o exame sobre a ligação entre o processo de distribuição de renda e de
acumulação de capital se faz presente. Isso prescinde de uma breve descrição da abordagem clássica
do excedente como base para uma teoria “objetiva” dos preços relativos, em que preços competitivos
reflitam as condições técnicas de produção e os mecanismos de distribuição de renda.

A abordagem que iremos apresentar contrasta com a definida pelos modelos neoclássicos. Em termos
gerais, as teorias neoclássicas que explicam os fenômenos de crescimento econômicos seriam aquelas em
que todos os fatores de produção tendem a ser plenamente utilizados através da combinação da noção
de substituição de fatores com flexibilidade de seus preços, ou seja, em situação de pleno emprego, que
se classificaria em dois grandes grupos.

No primeiro grupo teríamos as teorias neoclássicas do crescimento exógeno, que são aquelas em que
a acumulação de capital tem retornos marginais decrescentes. No outro grupo, as teorias neoclássicas
do crescimento endógeno em que, apesar de os preços dos fatores continuarem a ser determinados por
funções de oferta e demanda baseadas no princípio de substituição, por uma série de motivos, os fatores
de produção que podem ser acumulados não têm retornos marginais decrescentes, e sim constantes.

Partindo desses pressupostos, tais modelos neoclássicos teriam dificuldades em explicar teoricamente
e empiricamente duas fortes associações da dinâmica econômica: a relação entre taxas de investimento
em capital fixo e taxa de crescimento do produto e, posteriormente, a relação entre taxas de investimento
e taxa de crescimento do produto per capita ou por trabalhador.

Do ponto de vista teórico, as críticas mais importantes que foram feitas às teorias neoclássicas do
crescimento corresponderam à crítica monetária e externa. Baseadas nas teorias de Keynes e Kalecki, em
que taxa de juros exprime um fenômeno estritamente monetário e uma crítica real e interna à noção
de substituição de fatores de produção relacionada às dificuldades de tratar o capital como um fator de
produção idêntico aos demais, levantada por Piero Sraffa. Tais teorias denominaremos pertencentes ao
conjunto de teorias heterodoxas de crescimento.

Claro que há muitas diferenças entre as teorias heterodoxas do crescimento, pois por serem
heterodoxas notadamente são menos homogêneas entre si. Mas, apesar disso, existem dois aspectos
gerais em comum a estas teorias em contraposição às teorias neoclássicas, já que advogam pela
determinação assimétrica da distribuição a partir do princípio clássico do excedente e pela ausência do
princípio de pleno emprego da força de trabalho.
145
Unidade II

Da noção clássica do excedente, todas as teorias heterodoxas do crescimento herdaram a ideia de uma
relação inversa entre as rendas da propriedade em geral e o nível do salário real, para uma determinada
técnica dada. Essa relação inversa leva a uma determinação assimétrica da distribuição quando uma das
variáveis distributivas é determinada exogenamente e a outra seria ajustada residualmente.

Nesse caso, adotariam a noção de o capital e o trabalho serem fatores complementares, e que a
oferta de trabalho tende a se ajustar às necessidades da acumulação de capital. Tal situação origina‑se
de uma série de processos como a estrutura do mercado de trabalho – a divisão entre o mercado
formal e o informal –, mudanças na taxa de participação de distintos grupos sociais ou, finalmente,
migrações internas e internacionais. Concomitantemente, a necessidade de mão de obra se reduz devido
ao crescimento da produtividade, compreendido como parcialmente endógeno e em função da própria
acumulação de capital.

Como o trabalho não é visto como um fator destinado à escassez, o produto potencial da economia
é limitado basicamente pelo estoque de capital acumulado e sua eficiência produtiva. Neste caso, o
crescimento desta capacidade produtiva vai depender crucialmente da evolução do investimento.

Em resumo, as abordagens heterodoxas contribuem para o entendimento da dinâmica econômica


porque congregam elementos centrais em comum, como: a abundância de mão de obra, a determinação
do produto potencial pelo estoque de capital e a importância central do investimento para o
crescimento da capacidade produtiva. Constituindo um ponto de distinção o debate sobre a forma em
que a distribuição de renda é determinada quando os salários reais estão acima dos níveis mínimos de
subsistência. Como descreve Serrano (2007, p. 15):

Assim, a distribuição era vista como determinada por salários barganhados


por autores clássicos e Marx e talvez em parte pelas taxas monetárias de juros
na visão de Sraffa e alguns de seus seguidores; para Kalecki, por margens
de lucro exógenas determinadas por fatores de organização industrial como
o grau de concorrência no mercado de produto; para os seguidores da
chamada teoria da distribuição de Cambridge, pela necessidade de obter
poupança forçada diante de alguma suposta rigidez estrutural no lado da
oferta da economia.

A rigor, os diferentes entendimentos teóricos sobre a distribuição representam diferentes aspectos


de uma abordagem geral para a distribuição baseada na noção clássica do excedente, com a exceção
da teoria da distribuição de Cambridge. Esta última teoria não é compatível com as demais, pois, ao
postular que a distribuição de renda é a variável de ajuste entre oferta e demanda agregada a longo
prazo, não deixa nenhum espaço para que outros elementos influenciem a distribuição. Neste caso, a
forma de distribuição afetaria a determinação do investimento a longo prazo.

Quando focamos o caso das relações entre poupança e investimento, muitos autores heterodoxos
supõem que a poupança potencial seja condição necessária e suficiente para o investimento a longo
prazo. Deve‑se ressaltar que poupança potencial, nessas teorias, em geral, significa poupança de
plena utilização do capital instalado, e não pleno emprego do trabalho. Essa abordagem era aceita
146
MACROECONOMIA APLICADA

por autores clássicos como Adam Smith e David Ricardo, assim como entre os autores da tradição
da economia do desenvolvimento temos Lewis, Rosenstein‑Rodan, Nurkse, Prebisch, Furtado e os
neomarxistas.

Esse entendimento busca justificar a conclusão de que possíveis reduções do consumo em economias
capitalistas levariam ao aumento do nível de investimento. Recorrentemente afirmadas sem argumento
teórico mais sólido, ao apresentar somente uma identificação mecânica das decisões de poupar e
investir, remetendo à suposição da Lei de Say, tendo a longo prazo a situação de que a oferta agregada
cria sua própria procura.

Nessa divisão, parte dos autores, dentre eles Smith, Ricardo, Lewis e alguns neomarxistas,
enfatizam o quanto uma alta parcela do excedente, em geral, e dos lucros, em particular, representaria
automaticamente estímulos ao crescimento de uma economia. Porém, outros autores, como Nurkse,
Prebisch, Baran e Furtado, temiam que o consumo excessivo das elites dos países em desenvolvimento
fosse um entrave ao processo de acumulação, por ocasionar a redução da poupança potencial.

Dentro deste debate, os autores que chamam a atenção para a questão dos retornos crescentes de
escala apontam para o fato de que a baixa taxa de poupança potencial adviria, em boa parte, da baixa
produtividade decorrente das reduzidas dimensões do mercado, como reflexos do estágio efetivo do
processo de acumulação de capital. Por conta disso, ressaltam a questão do aumento de produtividade
das economias em desenvolvimento.

O aumento de produtividade poderia ser alcançado pela via dos investimentos públicos ou pela
coordenação, por parte do Estado, de um conjunto de investimentos privados em setores estratégicos
com externalidades positivas. No caso de uma ocorrência simultânea de ambos, as taxas de retorno
seriam muito superiores às taxas de retorno privadas de cada projeto realizado isoladamente. Mas,
segundo Serrano (2007, p. 17):

Embora a questão das externalidades do investimento público e a


importância dos retornos crescentes de escala para a produtividade em
nada dependam da noção de que o investimento seja determinado pela
poupança potencial, estes autores claramente faziam a conexão nesta
direção. Embora, naturalmente, estes autores considerassem a produção
em cada mercado isolado determinada pela demanda, o nível global
de produção e, portanto, a extensão geral do mercado, era visto como
determinado pela capacidade previamente instalada que era suposta
plenamente utilizada, a partir da “lei de Say”.

Já dentre as teorias heterodoxas do crescimento que seguem a crítica de Marx, Keynes e Kalecki,
em relação à Lei de Say, e num contexto de uma economia monetária, a curto ou a longo prazo, as
decisões de investimento seriam independentes das decisões de poupança e, portanto, determinariam o
montante de poupança agregada. Assim, o nível de investimento agregado é independente do nível de
poupança potencial da economia; portanto, numa economia capitalista, casos de reduções do consumo
não representariam estímulos diretos ao investimento.
147
Unidade II

Existem, no entanto, basicamente duas versões desse princípio através do qual, mesmo a longo
prazo, são os gastos em investimento que geram um montante agregado equivalente de poupança
efetiva. Essas duas versões dão origem a teorias da acumulação e distribuição diversas.

Em uma primeira abordagem, num horizonte de longo prazo, a poupança seria resultado do processo
inflacionário e mudanças induzidas por ela na distribuição funcional da renda. Numa segunda versão,
também a longo prazo, o argumento defende que o investimento gera poupança através de variações
do produto e da renda real.

A solução baseada na distribuição supõe que a longo prazo a economia estará sujeita a uma grande
restrição estrutural pelo lado da oferta, que condiciona a renda real a um nível dado e que não sofre
variações com aumentos dos gastos em investimento. Com a ocorrência de uma inflação de demanda, a
distribuição de renda altera‑se em favor das classes que podem poupar maior fração de seus rendimentos,
ou seja, o investimento geraria um processo de poupança forçada que representa a principal conclusão
da teoria da distribuição de Cambridge.

Observação

A teoria da distribuição de Cambridge foi proposta na década de 1950


como uma teoria válida em condições normais nos países capitalistas
avançados por alguns economistas ligados àquela escola, com destaque
para Nicholas Kaldor, Joan Robinson e Luigi Pasinetti.

Mas veremos que a lógica que leva ao surgimento de uma poupança forçada apresenta problemas
tanto na análise teórica como na empírica. Nesse caso, o mecanismo de ajuste deveria funcionar
simetricamente, seja em situações em que temos um excesso de demanda agregada – propiciando
uma concentração da renda –, seja em situações em que a demanda agregada está abaixo do produto
potencial, nesse caso, levando a uma queda de preços em relação aos salários e a uma consequente
diminuição da parcela dos lucros na renda total.

Numa situação de baixa utilização da capacidade, o mecanismo pressupõe perfeita flexibilidade


para baixo dos preços e das margens de lucro, mesmo a longo prazo. Mas, por outro lado, condiz com a
lógica das empresas capitalistas; mesmo num ambiente competitivo, ocorre a busca pela preservação
de suas margens mínimas de lucro com diminuição da produção em razão de queda da demanda,
principalmente a longo prazo.

Quando analisamos um caso de excesso de demanda agregada a longo prazo, a conclusão também
não se apresenta satisfatória. Isso ocorre porque a teoria não consegue explicar o fato de a criação de
capacidade do investimento não ser capaz de eliminar as restrições de oferta, portanto apresentando
sempre um excesso de demanda agregada a longo prazo. Além disso, implica que haja uma relação inversa
entre os níveis de investimento e de consumo a longo prazo, coisa que não se observa empiricamente
nas economias capitalistas, nem mesmo nas menos desenvolvidas.

148
MACROECONOMIA APLICADA

Na segunda versão, a produção consegue responder a estímulos de demanda a longo prazo e a


distribuição não precisa se alterar automaticamente. O produto e a renda real é que são as variáveis de
ajuste. Portanto é mais razoável a longo prazo supor que, nas economias capitalistas, tanto desenvolvidas
quanto em desenvolvimento, mesmo em condições competitivas, o investimento determina a poupança
agregada através da segunda via descrita, isto é, através dos níveis de produto e renda real.

Nesse caso, o produto é determinado pela demanda efetiva agregada. Não há uma relação inversa,
e sim positiva, entres os níveis de investimento e consumo a longo prazo. Na teoria de Kalecki, tais
conclusões só seriam totalmente possíveis em economias capitalistas avançadas, o que não limitou a
adoção desta visão por economistas em países em desenvolvimento.

Diante de aumentos da demanda, a oferta da economia responderá tanto através do aumento do


grau de utilização efetivo da capacidade já instalada quanto, em prazos mais longos, pela expansão da
capacidade posteriormente criada pelo próprio aumento do investimento. O crescimento do produto é
liderado pela demanda efetiva.

8.2 Princípio da demanda efetiva a curto e a longo prazo

Neste ponto apresentaremos a importância do papel da demanda efetiva como principal explicação para
a trajetória de crescimento das principais variáveis macroeconômicas. Esse caminho será mostrado através
de um problema levantado por um modelo de crescimento econômico pós‑keynesiano, realizado por Harrod,
que foi conhecido como a instabilidade fundamental da taxa garantida de crescimento. Assim, veremos que
um modelo do tipo supermultiplicador, em que a distribuição é dada exogenamente e com gastos autônomos
que não criam capacidade produtiva, representa a melhor resposta ao problema da instabilidade.

Em 1939, Harrod construiu um modelo de crescimento econômico baseado tanto no “princípio


da aceleração” como na “teoria do multiplicador”. Nesse exercício fica clara a percepção do autor
sobre o caráter dual do investimento. O multiplicador trata o investimento como um componente
da demanda agregada da economia, enquanto o acelerador trata o investimento como gerador de
capacidade produtiva.

Harrod, com esse modelo, procura estudar qual a condição para a ocorrência de um crescimento
econômico equilibrado, situação em que temos uma conciliação dos efeitos da demanda e da
capacidade de investimento, originando assim um equilíbrio entre a demanda agregada e a capacidade
produtiva. Essa condição destacada ganha expressão no modelo de Harrod, que parte da identidade
entre investimento e poupança agregados após algumas manipulações acaba por derivar sua equação
fundamental, demonstrada na seguinte expressão:

I  S   Y*   Y 
≡   
K  Y   K   Y * 

Tal expressão indica que a taxa de crescimento do estoque de capital (I/K) corresponde à propensão
média a poupar (S/Y) multiplicada pelo inverso da relação normal capital‑produto (Y*/K = 1/v) e também
149
Unidade II

pelo grau efetivo de utilização da capacidade (Y/Y * = u). Destaca‑se neste modelo que a propensão média
a poupar é totalmente determinada pela propensão marginal a poupar, s , sendo dada exogenamente
ao modelo. Como destacam Serrano e Freitas (2013, p. 2), isso decorre do fato de que, na especificação
de seu modelo, Harrod não considerou a existência de consumo agregado autônomo.

Por adotar essa hipótese o nível do produto da economia será determinado pela demanda efetiva
com base no gasto canalizado ao investimento produtivo através de:

Y = I / s

Onde I representa o nível de investimento e s é a propensão marginal a poupar.

Lembrando novamente que nesse modelo a propensão marginal é correspondente à propensão


média a poupar.

A partir disso, em razão de um dado valor da propensão marginal a poupar, a taxa efetiva de
crescimento da economia (g) iguala‑se à taxa de crescimento do investimento, isso porque o consumo
cresce sempre na mesma proporção que o investimento realizado. Neste contexto, a taxa de crescimento
do estoque de capital (gk)também acompanha, mesmo com alguma defasagem, a taxa de crescimento
do investimento líquido.

Desse modo, podemos relacionar a taxa de crescimento do investimento e do estoque de capital,


dada pela expressão:

gk = gk( −1) (1 + g) / (1 + gk( −1) )

Que nesse caso segue a tendência para que (gk = g), possibilitando a obtenção da seguinte equação:

g = (s / v )u

Será a partir da equação apresentada que, adotando um grau normal de utilização da capacidade, com
u = 1, poderemos deduzir a equação fundamental de Harrod que expressa a condição para que ocorra um
crescimento equilibrado entre demanda e capacidade nesse modelo. Tal situação é dada pela expressão:

gw = s/v

Nesse ponto, temos a taxa garantida (gw) como a representação da taxa que permite esse tipo de
crescimento equilibrado. Essa taxa garantida é uma função positiva da propensão marginal a poupar e
negativa quanto à relação normal capital‑produto, ambas determinadas de forma exógena. Notamos
que tal representação reflete apenas as condições de oferta, mesmo com a pretensão de Harrod em
estender para o longo prazo, quando temos variações na capacidade produtiva, o mesmo diagnóstico
keynesiano num contexto de curto prazo. Se olharmos mais atentamente, extrapolando a análise para
o longo prazo, a taxa garantida pode ratificar a validade da lei de Say.
150
MACROECONOMIA APLICADA

Para Serrano e Freitas (2013, p. 3), isso seria garantido pela equação apresentada quando g = gw
adotar uma propensão marginal a consumir igual a 1, o que corresponderia à própria representação
algébrica da lei de Say. Mas se rejeitarmos a lei de Say, como fez Harrod, a conclusão a que se chega é a
de não haver motivo nenhum para o crescimento da economia corresponder à taxa garantida.

Em decorrência disso, toda vez que o investimento e, posteriormente, o estoque de capital crescer
a uma taxa g exógena diferente da taxa garantida (gw), o grau de utilização será diferente do normal
(u ≠ 1) Lembremos que a taxa garantida representa a única taxa em que o investimento, a demanda
e a capacidade produtiva crescem de forma equilibrada, ou seja, apresentando (u = 1).

Logo, qualquer outra taxa de crescimento motivada por um investimento induzido, como
demonstrou Harrod, provoca desequilíbrios cumulativos. Decorre que quando (g > gw) temos uma
situação de sobreutilização da capacidade produtiva (u > 1), enquanto apresentando (g < gw), temos
uma subutilização da capacidade produtiva (u < 1). Tal resultado ocorre supondo que o investimento
seja totalmente induzido e sensível ao grau de utilização da capacidade produtiva. Diante disso, como
descrevem Serrano e Freitas (2013, p. 4):

Decorre disto que frente a uma sobreutilização da capacidade (u > 1) as


empresas em conjunto reagiriam aumentando seus investimentos, enquanto
que diante de uma situação de subutilização da capacidade (u < 1) elas
tenderiam a reduzir os investimentos. Nos dois casos a reação das empresas
faria com que a taxa efetiva de crescimento se afastasse cada vez mais da
taxa garantida (teríamos, respectivamente, g >> gw e g >> gw).

Com o que foi descrito podemos ter a seguinte constatação: embora uma dada taxa de
crescimento dos investimentos g leve a um grau de utilização da capacidade estável, já que o
estoque de capital cresce à mesma taxa que crescem a demanda agregada e o investimento, ocorre
que cada mudança na taxa de crescimento implica ao seu grau de utilização uma alteração de valor,
pois o efeito inicial de um aumento de g é aumentar a demanda mais do que a capacidade. Isso
ocorre porque o investimento reflete primeiramente um aumento da demanda e só posteriormente
resulta no aumento de capacidade produtiva. A relação inversa correspondente ocorre no caso de
uma queda de g.

Assim, cada rodada de redução (ou aumento) da taxa de crescimento do investimento devido a
uma queda (aumento) do grau de utilização da capacidade levaria a um novo grau de utilização da
capacidade menor (maior) (SERRANO; FREITAS, 2013, p. 4.)

Temos com isso o denominado problema da instabilidade fundamental


de Harrod, ou seja, as divergências entre g e gw, independente de sua
magnitude, temos uma ampliação do respectivo mecanismo descrito.
Portanto, a instabilidade da taxa garantida de crescimento de Harrod
reafirma a situação de desajuste entre a demanda agregada e a capacidade
produtiva a longo prazo.

151
Unidade II

Exemplo

O problema da instabilidade fundamental de Harrod consiste num desajuste entre a taxa


s
de crescimento esperada Get e a taxa garantida da economia v . Em decorrência disso temos uma
e
discrepância entre o estoque de capital verdadeiro (Gt) e o esperado (Gt ) . Veremos tal comportamento
em três casos diferentes:

1º caso – Taxa de Crescimento dos investimentos igual à Taxa Garantida:


e s e
Supondo que Gt = , então Gt = Gt
v
Adotando: Get = 0,1 s/v = 0,1

1 − GEt s 1 − 0,1
Gt = 1 − . Gt = 1 − .0,1 = 0,1
GEt v 0,1

Se os empresários esperarem uma taxa de crescimento equivalente à taxa garantida, então


suas expectativas serão realizadas e psicologicamente eles estariam preparados a continuar em um
avanço similar.

2º caso – Taxa de Crescimento dos investimentos maior que a Taxa Garantida:


s e
Supondo que Get > então Gt > Gt
v
Adotando: Get = 0, 2 s/v = 0,1

1 − 0, 2
Gt = 1 − .0,1 = 1 − 0, 4 = 0, 6
0, 2

Se os empresários esperarem uma taxa de crescimento da renda maior que s/v, eles vão investir mais,
o que, via multiplicador, aumentará ainda mais o nível de renda. Então, a taxa verdadeira excederá suas
expectativas otimistas e, dessa forma, eles revisarão suas expectativas, supondo uma taxa de crescimento
ainda maior para o período seguinte.

3º caso – Taxa de Crescimento dos investimentos menor que a Taxa Garantida:


e s e
Supondo que Gt < então Gt < Gt
v
e
Adotando: Gt = 0,1 s/v = 0,2

1 − 0,1
Gt = 1 − .0, 2 = 1 − 18
, = ( −0, 8)
0,1

152
MACROECONOMIA APLICADA

Se os empresários esperarem uma taxa de crescimento menor do que a taxa garantida, eles
reduzirão os investimentos, o que, via multiplicador, reduzirá ainda mais o nível de renda. Então a taxa
de crescimento verdadeira será menor que suas expectativas, eles sentirão que foram superotimistas e
revisarão suas expectativas negativamente para o próximo período.

Este problema é chamado de “fio da navalha”: dado um equilíbrio de pleno emprego, qualquer
pequeno desvio da taxa de crescimento dos investimentos em relação à taxa garantida (s/v) vai gerar
efeitos cumulativos, desviando a economia do crescimento em estado estável.

A situação de instabilidade reafirma‑se como fundamental, nos termos de Harrod, já que o processo
de ajustamento vai na direção errada, isso independente do valor específico do coeficiente de reação do
investimento ou do seu grau de utilização. Para ilustrarmos essa situação, nos momentos em que a taxa
efetiva de crescimento se encontra abaixo da garantida e o grau de utilização está baixo, o crescimento
no ritmo da taxa garantida só é possível com um aumento do investimento, mas os sinais de mercado
em razão do baixo grau de utilização acabam por incentivar uma redução do investimento privado.

Mas tais afirmações, que caracterizam esse impasse, só se apresentariam na realidade quando as
hipóteses utilizadas pelas teorias pós‑keynesianas não fossem contestadas. Dentre estas hipóteses, duas
são essenciais: ocorrência de investimento autônomo e ausência de consumo agregado autônomo, que
representam gastos autônomos que não geram nova capacidade produtiva pelo setor privado.

Será neste ponto que a macroeconomia da demanda efetiva irá divergir da teoria pós‑keynesiana.
Para Harrod, o investimento autônomo representa o principal responsável pelo impasse em questão,
sendo o fator necessário para a demanda agregada se ajustar à capacidade produtiva, resultando num
grau normal de utilização desta capacidade e, em decorrência, indispensável na resolução do problema
da instabilidade fundamental de Harrod (SERRANO, FREITAS, 2013, p. 8).

No entanto, para a macroeconomia da demanda efetiva isso não corresponde à verdade. Admitindo
o problema da instabilidade fundamental da taxa de crescimento aliado ao casamento do acelerador e
do multiplicador, tal instabilidade fundamental desaparece tão logo se admita a existência de gastos em
consumo autônomos.

Ao admitir a existência de consumo agregado autônomo, Z, crescendo a uma determinada taxa


independente ( z ), temos, ao contrário do que se admite no modelo de Harrod, o fato de as propensões
marginal e média a poupar não serem equivalentes. A propensão média a poupar (S/Y) é dada por:

S
= s − (Z / Y )
Y

Diante dessa expressão detectamos que as duas propensões só serão iguais (S / Y = s ) na ausência
do consumo autônomo (Z = 0). Com isso, o papel da propensão marginal será de representar um teto
para a propensão média, que, neste caso, será estritamente menor do que ela. Como nos alertam
Serrano e Freitas (2013, p. 9):

153
Unidade II

Note também que, embora a propensão marginal a poupar seja exógena, a


propensão média a poupar depende positivamente do nível do produto. Um
aumento do produto causado por um aumento do investimento diminui
o peso relativo da “despoupança” representada pelos gastos em consumo
autônomo, aumentando a razão entre propensão média e a (dada) propensão
marginal a poupar.

Conseguimos visualizar isso ao escrevermos a expressão da propensão média a poupar em termos


das variáveis independentes (s,IeZ ). Sendo S/Y=I/Y e Y = (I + Z) / s , temos:

S / Y = [I / (I + Z)]s

S / Y = f .s

Aqui a incógnita f corresponderia à razão entre a propensão média e a marginal a poupar. Após tal
derivação vemos que a propensão média não é mais determinada unicamente pela propensão marginal
a poupar. Ela passa a depender também dos níveis de investimento e de consumo autônomo.

Ao ocorrer um aumento do investimento em relação ao aumento do gasto autônomo Z, temos


uma elevação do nível e da taxa de poupança. Temos, portanto, que a propensão média a poupar é
uma variável endogenamente determinada, para qualquer valor abaixo do seu limite superior s . Na
existência de gastos improdutivos autônomos, a propensão marginal a poupar só definiria esse limite
superior sem interferência no valor efetivo da propensão média a poupar. Portanto, em situações abaixo
deste limite, a determinação da poupança nesta economia, via mudanças na fração f, será dada pelo
nível de investimento.

Dito isso, iremos agora observar o que ocorre numa economia adotando a existência de consumo
autônomo, tendo como condição adicional o investimento induzido a longo prazo. Ao definir como h
uma dada propensão marginal a investir, ou taxa de investimento, obtemos:

I/Y = h

Nessas condições, o nível de produto será dado por um supermultiplicador, que, como ressaltamos
anteriormente, levará em conta as ocorrências de consumo e investimento induzido, dando-nos uma
nova relação, representada por:

Y = Z / (s − h)

Se nesse modelo considerarmos como dada a propensão marginal a poupar e a propensão a investir,
a demanda efetiva e a economia irão crescer puxadas pela taxa de crescimento do gasto em consumo
autônomo, z . Soma‑se a isso que a propensão média a poupar é inteiramente determinada pela

154
MACROECONOMIA APLICADA

propensão marginal a investir, isso, para qualquer valor da propensão a investir menor que s . Como
nos alertam Serrano e Freitas (2013, p. 10), isso é facilmente demonstrável utilizando a equação do
supermultiplicador e, assim, determinando a parcela do consumo autônomo no produto:

Z / Y = (s − h)

Se continuarmos a derivação dessa equação, substituindo essa equação na equação da taxa de


poupança, teremos:

S / Y = s (s − h)

Originando:

S/Y = h

Vemos que nesse modelo a propensão média a poupar é inteiramente determinada pela propensão
a investir h, mesmo com a propensão marginal a poupar sendo exógena. Ao reunirmos esses resultados,
num modelo de supermultiplicador, podemos construir uma equação em que:

z = [h / v ]u

Temos, assim, com a presença de gastos autônomos que não geram capacidade e crescem a uma
taxa independente z , que o investimento induzido passa a não ocasionar a instabilidade fundamental,
como apontado pelo modelo de Harrod. Esse modelo com um supermultiplicador adotando consumo
autônomo apresenta‑se totalmente estável, e o processo de ajustamento agora será na direção correta.
Vamos entender melhor a construção dessa solução.

Vamos partir de uma situação em que o grau de utilização da capacidade está em seu nível normal,
com uma taxa z de crescimento do consumo autônomo se reduzindo permanentemente. Tal redução
tem um impacto negativo de mesma magnitude na taxa de crescimento do produto g, sendo dadas as
propensões marginais a consumir e a investir.

O primeiro impacto será que o grau efetivo de utilização da capacidade se reduz (u < 1), como
reflexo do menor crescimento da demanda agregada; posteriormente, tanto a taxa de crescimento da
capacidade produtiva como o estoque de capital terão taxas menores. Essa situação de lento crescimento
da capacidade será efetivada pelo ritmo mais lento que apresentará o nível de investimento, já que, para
uma dada taxa de investimento induzido h, temos uma redução da taxa de crescimento dos gastos
autônomos e, finalmente, com igual nível de redução da taxa de crescimento do estoque de capital
(SERRANO; FREITAS, 2013, p. 11).

Após essas implicações, temos que a taxa de crescimento do estoque de capital vai se adaptando ao
menor crescimento do produto, levando o grau de utilização para um nível inferior ao normal, que pode
ser ratificado pela equação anteriormente deduzida. Ao longo do tempo, a própria taxa de investimento

155
Unidade II

induzido h irá se reduzir devido à baixa utilização da capacidade produtiva, ou seja, uma redução na
propensão marginal a investir que resultará em dois efeitos para a economia. Como nos alertam Serrano
e Freitas (2013, p. 12):

Inicialmente reduzirá adicionalmente a demanda agregada e o produto


reduzindo ainda mais o grau de utilização da capacidade. Posteriormente, a
redução da taxa de investimento reduzirá a taxa de crescimento do estoque
de capital e da capacidade produtiva.

Mas ao aceitarmos a presença dos gastos autônomos, cuja taxa de crescimento é exógena, qualquer
elevação desses gastos implica que a taxa de crescimento da demanda agregada e do produto seja
reduzida em menor grau que a queda da taxa de crescimento do investimento, enquanto a queda
posterior do crescimento do estoque de capital será igual à redução do crescimento do investimento.

Isso terá impactos no grau de utilização que poderá se elevar novamente, pois mesmo com a demanda
agregada apresentando um ritmo de crescimento menor o impacto final da redução do crescimento do
estoque de capital será ainda maior. Tal situação seria improvável sem a ocorrência de consumo autônomo.

Neste processo de ajustamento, o fato descrito seguirá essas implicações enquanto o grau de utilização
estiver abaixo do nível normal e se encerrará no momento em que a taxa de investimento induzido tiver
sido reduzida o suficiente, permitindo que, ao grau de utilização normal, a taxa de crescimento do estoque
de capital vá se adaptando ao ritmo de crescimento mais baixo dos gastos autônomos.

No caso de uma elevação da taxa de crescimento dos gastos autônomos ( z ), esse processo ocorre
simetricamente na direção contrária. Teríamos uma sobreutilização da capacidade de produção, com
aumentos graduais na taxa de investimento (h) que redundam numa ampliação ainda maior da utilização
da capacidade. Num segundo momento, a aceleração do crescimento da capacidade em comparação ao
da demanda agregada levaria a uma redução do grau de utilização em direção ao seu nível normal, em
que a taxa de crescimento da capacidade produtiva adapta‑se à maior taxa de crescimento dos gastos
autônomos z .

Ao observarmos esse processo, temos que o comportamento do crescimento liderado pelos gastos
autônomos Z seria caracterizado como estável, já que a reação do investimento induzido ao desequilíbrio
entre demanda agregada e capacidade produtiva gera uma redução maior do crescimento da capacidade
do que da demanda no caso de subutilização e um aumento maior da expansão da capacidade do que
da demanda no caso de sobreutilização, portanto o processo de ajustamento direciona a economia na
direção correta.

Quando comparamos com o modelo de Harrod, no qual o ajustamento causava instabilidade, por
não existir consumo autônomo o nível da demanda cresce ou diminui sempre na mesma proporção que
o crescimento da capacidade. Como nos explicam Serrano e Freitas (2013, p. 13):

A ausência de consumo autônomo tornava impossível uma variação na taxa


de investimento que era univocamente determinada pela propensão marginal
156
MACROECONOMIA APLICADA

a poupar. Já no modelo do supermultiplicador Sraffiano a propensão média a


poupar depende inteiramente da propensão a investir. Como esta aumenta em
resposta à sobreutilização da capacidade, o mesmo ocorre com a propensão
média a poupar, que acaba se ajustando à taxa de investimento induzido
requerida para ajustar a capacidade à demanda agregada.

Como vimos anteriormente, dadas s e v, as variações da taxa de investimento h alteram a fração f = [I/
(I + Z)] possibilitando que a economia endogenamente gere a taxa de poupança requerida pela expansão
da demanda agregada e do investimento, possibilitando que o grau de utilização tenda a 1. Se utilizarmos
a linguagem de Harrod, tal situação diz que a taxa efetiva de crescimento é dada pela expansão dos
gastos autônomos em consumo e a taxa garantida iria se ajustar à taxa efetiva por conta das variações da
propensão média a poupar da economia, tendo como causa as variações induzidas da taxa de investimento.

Concluímos que o resgate do modelo de Harrod, pela macroeconomia da demanda efetiva, visa
solucionar as imperfeições deste modelo ao enfatizar o papel dos gastos autônomos – que não
criam capacidade – como fator importante para o equilíbrio entre demanda e capacidade produtiva,
adotando‑se tanto um elemento acelerador como multiplicador, dados pelo investimento induzido e
pelo consumo induzido, respectivamente. Assim, a partir deste cenário, temos como derivar os impactos
econômicos pelo comportamento destes mesmos gastos autônomos.

No que diz respeito ao investimento produtivo privado, podemos caracterizá‑lo como investimento
autônomo ou investimento induzido quando pensamos na relação técnica necessária entre investimento
e expansão da capacidade produtiva. Se o investimento é caracterizado como autônomo, então, dada
a relação técnica, a evolução da capacidade produtiva será uma consequência das decisões de investir.

Mas no caso de constatarmos o investimento como induzido, em resposta a uma evolução esperada
da demanda, na presença de um mecanismo do tipo acelerador flexível ou ajuste de estoque de capital,
a própria evolução da demanda efetiva ditará o ritmo de expansão da capacidade produtiva e o nível de
investimento compatível com esse processo.

Portanto, temos a distinção de dois modelos de crescimento, sendo uma primeira teoria baseada na
ideia do investimento fundamentalmente autônomo, logo representando uma variável independente, e
um segundo modelo no qual o investimento é visto como induzido e a dinâmica do investimento, mesmo
sendo independente da propensão a poupar, será vista como uma variável dependente, ambas vistas no
interior de um processo de acumulação. Iremos agora para uma apresentação destas duas famílias de
modelos, ressaltando que os modelos do segundo tipo são os mais eficazes para propiciar um maior nível
de renda e emprego, conforme os pressupostos da teoria da macroeconomia da demanda efetiva.

8.3 Crescimento liderado pelo investimento

Os modelos de crescimento liderados pelos investimentos produtivos autônomos são conhecidos


como modelos kaleckianos de crescimento. Desses modelos, a demanda agregada e o produto seguem
a tendência do investimento produtivo autônomo, que gera aumentos proporcionais no consumo
induzido através do mecanismo do multiplicador.
157
Unidade II

Simultaneamente, o estoque de capital e a capacidade produtiva da economia tendem, a longo


prazo, a crescer à mesma taxa que cresce o nível de investimento autônomo. Como a capacidade e a
demanda agregada tendem a crescer à mesma taxa, neste tipo de teoria, o grau efetivo de utilização
de capacidade tende a ficar estável a longo prazo. No entanto, é importante notar que não há nenhum
motivo para esse grau de utilização estável ser idêntico ou sequer próximo ao grau normal ou planejado
de utilização da capacidade produtiva.

Para uma dada relação capital‑produto, o aumento absoluto do estoque de capital e da capacidade
produtiva da economia depende do nível de investimento. Já as taxas de crescimento do estoque de
capital e da capacidade produtiva dependem do montante de investimento em relação ao estoque de
capital ou ao produto potencial existente.

Como não se postula uma tendência ao grau de utilização normal, neste tipo de modelo, uma alta
taxa de investimento (em relação ao produto efetivo) não significa necessariamente uma alta taxa de
investimento em relação ao produto potencial nem uma alta taxa de crescimento do estoque de capital.
Ocorre que o produto efetivo pode estar muito abaixo ou, dentro de certos limites de capacidade ociosa
planejada, consideravelmente acima do produto potencial normal.

Por consequência, nas teorias de crescimento liderado pela demanda em que o investimento
produtivo é autônomo, embora as taxas de crescimento da economia e do estoque de capital dependam
da tendência da taxa de crescimento do nível de investimento, não há motivo algum para que se
obtenha qualquer relação entre a taxa de investimento (como proporção do produto) e a taxa de
crescimento do produto, nem do produto por trabalhador, nem do produto per capita. Uma alta parcela
do investimento no produto efetivo meramente reflete uma baixa propensão marginal a consumir e
poderá perfeitamente coexistir com baixas taxas de crescimento do produto e da capacidade produtiva
se o grau de utilização da capacidade for baixo.

Simetricamente, com um alto grau efetivo de utilização da capacidade, uma alta taxa de crescimento
e de acumulação de capital pode ser compatível com uma baixa taxa de investimento (como parcela do
produto). O investimento pode ser, ao mesmo tempo, relativamente baixo no que concerne ao produto
e relativamente alto no que se refere ao estoque de capital (e ao produto potencial).

As teorias do crescimento liderado pela demanda efetiva em que a tendência do investimento


produtivo é autônoma têm, portanto, algumas limitações empíricas e teóricas. A maior dificuldade
teórica é a suposição implausível de que é possível postular a persistência, por prazos longos,
do grau de utilização da capacidade produtiva sistematicamente muito diferente dos graus
planejados ou normais, sem que isso tenha efeitos significativos sobre a taxa de crescimento do
investimento produtivo.

Em termos empíricos, este tipo de modelo, no qual o grau médio de utilização da capacidade é a
variável de ajuste no processo de crescimento, não consegue explicar a relação observada entre taxas
de investimento (como parcela do produto) e taxa de crescimento, seja do produto efetivo, seja do
produto per capita.

158
MACROECONOMIA APLICADA

Além disso, a evidência econométrica dos chamados testes de causalidade, em geral, aponta
uma forte relação de que é o produto (ou a taxa de crescimento) que precede ou causa os níveis de
investimento produtivo (ou a taxa de investimento), ao invés do oposto, o que contraria a noção de
investimento autônomo e reforça a noção de investimento induzido a longo prazo.

Estas, no entanto, não devem ser vistas como dificuldades da noção de crescimento liderado pela
demanda em geral, e sim como resultado da hipótese de que o investimento produtivo é autônomo a
longo prazo.

8.4 Crescimento liderado pelos gastos autônomos

Uma alternativa é o outro tipo de modelo de crescimento liderado pela demanda, no qual o
investimento produtivo privado é totalmente induzido a longo prazo pelo processo de ajustamento
da capacidade à demanda através do mecanismo do acelerador flexível. O crescimento da demanda
depende da expansão dos gastos autônomos improdutivos (como o consumo autônomo, o investimento
residencial, as exportações e os gastos públicos), que injetam novo poder de compra monetário na
economia e não criam capacidade para o setor privado. Estes modelos são conhecidos como modelos
de supermultiplicador.

Nesses modelos de crescimento, a demanda agregada aumenta à taxa de crescimento dos gastos
autônomos improdutivos, que geram adicionalmente consumo induzido e investimento induzido, dadas
as propensões marginais a consumir e a investir da economia. Com uma dada taxa de investimento
produtivo, o estoque de capital e a capacidade produtiva tenderão a crescer à mesma taxa que o produto,
liderados pela expansão dos gastos autônomos improdutivos.

Nessas condições, o grau efetivo de utilização da capacidade tenderá a se estabilizar. No


entanto, se o grau de utilização estiver num nível acima do normal (ou desejado), a taxa de
investimento induzido (ou a propensão marginal a investir, qual seja, a parcela do investimento
produtivo na renda) tenderá a ser gradualmente elevada. Por conseguinte, o estoque de capital e
a capacidade produtiva crescerão mais rápido do que a demanda agregada. Já no caso em que o
grau de utilização da capacidade encontra‑se num nível abaixo do normal, a propensão marginal
a investir se reduz gradualmente.

Este mecanismo de acelerador flexível ou ajuste do estoque do capital faz com que, a longo
prazo, o grau médio de utilização da capacidade da economia não tenda a se afastar muito de
seu nível normal ou planejado. Tanto o nível quanto a taxa de crescimento do produto potencial
tendem a seguir a expansão da demanda agregada, liderada pela taxa de crescimento dos gastos
autônomos improdutivos.

Através do mecanismo do supermultiplicador, uma taxa de crescimento permanentemente


mais alta dos gastos autônomos improdutivos levará a um aumento permanente da taxa de
investimento produtivo, na extensão requerida para que o grau de utilização da capacidade
tenda ao normal.

159
Unidade II

Essa maior taxa de investimento implica necessariamente que o investimento aumentou mais do
que o produto e a renda, e faz que não só o nível como também a própria taxa de poupança (ou
propensão média a poupar) aumentem, sem nenhuma necessidade de mudança na propensão marginal
a consumir ou na distribuição de renda.

Com essas propriedades, o modelo do supermultiplicador não tem as deficiências teóricas dos
modelos kaleckianos de crescimento puxados pelos investimentos produtivos autônomos, pois leva em
conta que, numa economia capitalista, a concorrência impõe aos produtores a necessidade constante
de tentar ajustar a capacidade produtiva à demanda.

O modelo do supermultiplicador também não tem as dificuldades empíricas do modelo puxado pelo
investimento autônomo. O próprio fato de o investimento produtivo ser totalmente induzido explicaria
os resultados dos testes de causalidade mencionados, nos quais é a evolução do produto que a longo
prazo determina o investimento, e não o oposto, como nos modelos kaleckianos.

Da mesma maneira, o modelo de supermultiplicador explica com facilidade a relação empírica


positiva observada entre taxa de investimento e taxa de crescimento do produto. O mesmo ocorre para
a relação entre a taxa de investimento e o crescimento do produto per capita, ou por trabalhador. Neste
modelo, essa relação resultaria da combinação da noção de taxa de investimento produtivo induzida
pelas ideias de endogeneidade parcial do progresso técnico e do processo de mudança estrutural, via
modificações do tamanho do setor informal e do desemprego disfarçado, enfatizados por vários autores
da abordagem heterodoxa. Por esses motivos, o supermultipicador parece o modelo mais adequado para
explicar o processo de crescimento a longo prazo liderado pela demanda.

Saiba mais

A macroeconomia da demanda efetiva tem como base a construção


de modelos fundamentadas no supermultiplicador, derivados dos estudos
econômicos de Cambridge com base na teoria de Piero Sraffa (1960). Para
aprofundar seus conhecimentos a respeito disso, ver:

SERRANO, F. Acumulação e gasto improdutivo na economia do


desenvolvimento. In: FIORI, J. L.; MEDEIROS, C. A. (Org.) Polarização mundial
e crescimento. Petrópolis: Vozes, 2001.

SERRANO, F. Long period effective demand and the sraffian supermultiplier.


Contributions to Political Economy, Oxford, v. 14, p. 67‑90, 1995.

SRAFFA, P. Produção de mercadorias por meio de mercadorias: prelúdio


a uma crítica da teoria econômica. São Paulo: Abril Cultural, 1985. (Coleção
Os Economistas).

160
MACROECONOMIA APLICADA

8.5 Restrição externa e crescimento econômico

Quando passamos para a discussão da economia aberta, vemos que as diferenças entre as teorias
neoclássicas e heterodoxas levam a uma visão totalmente diferente do funcionamento do comércio
internacional e dos efeitos dos fluxos de capitais.

Quanto ao comércio, a diferença fundamental é que para as teorias heterodoxas, ao contrário da


visão neoclássica, os padrões de comércio internacional, quando deixados para as forças de mercado,
tenderão a seguir vantagens absolutas, e não comparativas.

Isso ocorre porque o mecanismo tradicional de ajuste automático, que presumivelmente equilibraria o
comércio e garantiria a especialização via vantagens comparativas, requer ampla flexibilidade de salários reais.
Para o mecanismo tradicional funcionar, um país com tendência ao déficit externo, por exemplo, deveria ser
capaz de reduzir seus termos de troca e sua taxa de câmbio real através de deflação ou desvalorizações cambiais.

Porém, de acordo com as teorias assimétricas da distribuição, discutidas anteriormente, como os


salários reais dos diferentes países são dados exogenamente (ou melhor, podem variar dentro de um
intervalo relativamente limitado), a taxa real de câmbio também não pode variar muito e, portanto,
não pode cumprir seu papel tradicional de variável de ajuste equilibradora. Nesse caso, os padrões de
comércio vão refletir vantagens de custo absolutas.

Países e regiões que não forem competitivos internacionalmente na produção de bens de alta
elasticidade-renda terão, necessariamente, de ajustar sua balança comercial, limitando o volume de
importações, reduzindo seu nível de atividade ou fazendo alguma substituição de importações. Haverá
uma restrição externa ao crescimento de uma dada economia.

Nas teorias heterodoxas, os preços relativos dependem fundamentalmente dos custos unitários
(diretos e indiretos) do trabalho. Esses custos, porém, refletem tanto os coeficientes de trabalho direto e
indireto quanto os salários reais pagos em cada região (embora não sejam exatamente proporcionais a
eles). Nessas teorias, temos diferentes explicações sobre as discrepâncias entre os níveis e a evolução da
produtividade e dos salários reais entre regiões de diferentes níveis de desenvolvimento.

Vários autores desenvolvimentistas explicavam, por exemplo, a tendência à deterioração dos termos
de troca para países especializados em bens primários, baseados na ideia de que, nos países centrais,
os custos unitários de trabalho dos produtos exportados tendiam a se estabilizar, pois os salários reais
historicamente tendiam a seguir o crescimento da produtividade.

No caso dos países periféricos, a baixa produtividade dos setores domésticos produtores de
alimentos e o excesso estrutural de mão de obra enfraqueciam o poder de barganha dos trabalhadores
e mantinham os salários reais estagnados. Os ganhos de produtividade dos setores exportadores da
periferia levavam a preços internacionais menores a curto prazo, através de aumentos desordenados
da oferta, que se dariam num prazo mais longo porque os custos unitários de trabalho tenderiam a
diminuir. Essa tendência agravaria ainda mais a tendência à polarização advinda do fato de que os
padrões de comércio são guiados por vantagens absolutas, em vez de comparativas.
161
Unidade II

Nas teorias heterodoxas, a introdução de fluxos internacionais de capitais nos modelos não elimina
a tendência à polarização da economia internacional, pois as condições de sustentabilidade de um
processo de crescimento com endividamento externo requerem uma alta taxa de crescimento das
exportações em relação às taxas internacionais de juros. Mas isso só será possível se os problemas
estruturais de competitividade externa forem resolvidos, dado que as taxas de juros internacionais são
exógenas em relação aos países em desenvolvimento.

Já a liberalização dos fluxos de capitais de curto prazo gera problemas adicionais de tendência
a ciclos especulativos de endividamento externo excessivo e valorização cambial, invariavelmente
seguidos por crises cambiais e fuga de capitais. Graves problemas de liquidez externa são gerados
quando o ciclo se reverte. O montante dos passivos externos cresce em relação às reservas externas do
país, e as dificuldades, com a restrição externa, acabam afetando decisivamente o ritmo de acumulação
de capital, pois forçam os governos a executar políticas macroeconômicas contracionistas. Tais políticas
impedem o crescimento estável e acelerado da demanda efetiva necessário para induzir altas taxas de
investimento produtivo através do mecanismo do supermultiplicador.

Resumo

A escola monetarista, cujo principal expoente foi Milton Friedman,


surge num período histórico de crise do consenso keynesiano, quando
parecia haver um esgotamento dos anos dourados de elevado crescimento
econômico nos países centrais. Os monetaristas criticaram os keynesianos
no que tange à eficácia da política fiscal como mecanismo de estimular
o crescimento econômico. De acordo com os monetaristas, as políticas
monetárias seriam mais apropriadas para estimular a demanda agregada,
uma vez que são eficientes a longo prazo ao ampliar a renda nominal.

Friedman introduziu o conceito de taxa natural de desemprego que


significa que, neste ponto de equilíbrio, o desemprego existente é apenas
o friccional, uma vez que os preços e os salários flexíveis equilibram o
mercado. Adota‑se o pressuposto de expectativas adaptativas, isto é, o
melhor conjunto de informações disponíveis está no passado, então os
agentes observam as variáveis no passado para tomarem suas decisões
no presente. Assim, os agentes ajustam suas expectativas de inflação a
partir das taxas de inflação passadas. Caso haja divergência da taxa de
inflação esperada em relação à efetiva, os agentes aprendem com os erros
do passado. A curva de Phillips dos monetaristas introduziu a expectativa
adaptativa para relacionar o trade‑off desemprego versus inflação.

Já os novo‑clássicos partem da noção de que prevalecem as expectativas


racionais, ou seja, os agentes racionais têm todo o conjunto de informação
disponível e o usam da maneira mais eficiente possível para tomarem suas
decisões futuras – forward‑looking. Na média, esses agentes não erram, o
162
MACROECONOMIA APLICADA

que implicaria dizer que não ocorrem erros sistemáticos ao longo do tempo.
Com informação completa e correta, quaisquer que sejam as políticas
econômicas adotadas, a economia se move para o ponto de equilíbrio ao
nível potencial. Portanto, as políticas econômicas não exercem um efeito
real a longo prazo. A política monetária é sempre ineficaz, inclusive a curto
prazo, pois a moeda é neutra.

Com informação incompleta ou imperfeita, os agentes podem confundir


aumentos nominais de preços com aumentos dos preços relativos, o que faz
com que choques monetários não antecipados pelos agentes econômicos
possam alterar o nível de emprego e renda da economia. Esse mecanismo
de ajuste ficou conhecido como “ilha de Lucas”, dado que há uma relativa
assimetria de informações.

Para os novo‑clássicos, uma política monetária expansionista antecipada


apenas levará a um nível de preços maior, sem que haja efeito sobre a
economia real. Apenas choques monetários não antecipados podem gerar
efeitos sobre o produto e o emprego, uma vez que geram surpresas para os
agentes econômicos.

Nos modelos de ciclos econômicos reais, apenas choques do lado


da oferta explicam as flutuações cíclicas da economia, pois a moeda é
neutra e não há instituições financeiras. A principal razão dos choques de
produtividade são os choques tecnológicos. Este modelo inovou em relação
aos anteriores ao considerar que os novos pontos gerados pelas flutuações
econômicas constituem novas posições de equilíbrio. A instabilidade é
fruto da resposta ótima dos agentes racionais às mudanças no ambiente
econômico. Isso significa que não há desvios dos pontos de equilíbrio, mas
uma flutuação dos próprios pontos de equilíbrio, com taxa de desemprego
ao nível natural (pleno emprego). Dessa maneira, qualquer intervenção
governamental na economia apenas reduz o bem‑estar social.

Para os novo‑keynesianos, as flutuações cíclicas e o desemprego


involuntário ocorrem devido à existência de rigidez de preços e salários.
Essa rigidez de preços e salários pode ser explicada a curto prazo, por sua
vez, pela existência de contratos nominais, pelas falhas de coordenação,
pela existência de custos de menu, pela existência de insiders/outsiders,
pela defasagem temporal dos reajustes salariais e pela existência do
salário‑eficiência.

Todas essas escolas apresentam origens diversas, seja na tradição


clássica liberal, seja na keynesiana. A despeito disso, todas apresentam um
resultado de longo prazo semelhante: necessariamente, a economia atinge
o ponto de equilíbrio de pleno emprego a longo prazo.
163
Unidade II

A teoria pós‑keynesiana busca mostrar que as teorias macroeconômicas


críticas à revolução keynesiana sofrem de inconsistências teóricas e lógicas
em suas formulações. Dentre eles, os monetaristas e os novo‑clássicos
fundamentam suas análises em pressupostos irreais como o equilíbrio de
mercado e informações perfeitas.

No caso dos modelos da síntese neoclássica e dos novo‑keynesianos,


ocorre a distorção das ideias de Keynes, seja por abandonar o papel das
expectativas, seja pela defesa da rigidez de preços e salários como as causas
para a ocorrência de desemprego involuntário.

Na teoria pós‑keynesiana, o resgate da Teoria Geral de Keynes


seria importante para rebater as críticas de outros modelos teóricos
e para argumentar sobre a principal característica das economias
monetárias, que corresponde à existência recorrente de insuficiências
de demanda efetiva.

A macroeconomia da demanda efetiva representa uma teoria que


busca refutar o princípio da substituição, da teoria neoclássica, no
entendimento da dinâmica econômica, valendo‑se das contribuições
que utilizam a abordagem clássica do excedente e o princípio da
demanda efetiva.

Apesar das divergências entre as teorias heterodoxas, existiriam dois


aspectos gerais em comum a essas teorias, em contraposição às teorias
neoclássicas, ao advogarem a determinação assimétrica da distribuição a
partir do princípio clássico do excedente, e a ausência do princípio de pleno
emprego da força de trabalho.

O investimento compreende a variável‑chave para a determinação


da renda e do produto de uma economia, caracterizado por modelos
pós‑keynesianos, mas que em momentos de ajuste da economia prescinde
de uma teoria baseada num supermultiplicador para solucionar a
instabilidade da taxa garantida de crescimento.

Essa teoria ressalta a distinção de dois modelos de crescimento, um


com base na ideia de investimento autônomo, e o outro, o investimento
induzido. A macroeconomia da demanda efetiva defende a vigência do
segundo modelo, já que corresponde a gastos autônomos que na presença
de processos aceleradores e multiplicadores solucionam a instabilidade
fundamental de Harrod.

164
MACROECONOMIA APLICADA

Exercícios

Questão 1. Tomando como referência o modelo dos novo‑clássicos e dos novo‑keynesianos, é


correto afirmar que:

A) A hipótese de expectativas racionais é o principal motivo de disputa entre os novo‑keynesianos e


os novo‑clássicos.

B) A redução preanunciada na taxa de crescimento do estoque monetário é instrumento eficaz de


combate à inflação, segundo os novo‑clássicos, mas reduz a atividade econômica.

C) O modelo dos novo‑clássicos propõe que um choque monetário positivo e não antecipado gere
expansão da renda real, inflação e queda do salário real.

D) Os ciclos econômicos são provocados por choques tecnológicos, segundo a concepção dos
novo‑keynesianos.

E) Os novo‑keynesianos acreditam que a rigidez de preços e salários seja uma das principais causas
da neutralidade da moeda a curto prazo.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das alternativas

A – Alternativa incorreta.

Justificativa: de forma contrária ao que se afirma na alternativa, esse é um ponto de convergência


das duas escolas.

B – Alternativa incorreta.

Justificativa: a antecipação de políticas econômicas, segundo os novo‑clássicos, impede o efetivo


impacto no lado real da economia, restando apenas o efeito monetário e não ocorrendo o efeito de
queda da atividade econômica.

C – Alternativa correta.

Justificativa: o choque monetário expansionista não antecipado surtiria efeitos reais na economia,
expandindo o produto real (renda real) e provocando queda no salário real, pois o aumento do produto
seria acompanhado pela expansão monetária e, portanto, pela inflação. O ponto central é o papel das
expectativas racionais, pois a antecipação do choque não traria qualquer efeito real caso os agentes
conseguissem se adequar ao anúncio prévio.

165
Unidade II

D – Alternativa incorreta.

Justificativa: a contribuição que trouxe destaque e distinção à escola de pensamento dos


novo‑keynesianos não está relacionada aos ciclos econômicos, mas às imperfeições de mercado que
afastam a demanda agregada do equilíbrio no pleno emprego.

E – Alternativa incorreta.

Justificativa: os keynesianos, sejam novos ou não, acreditam que a moeda não seja neutra a curto
prazo, por ser o mais líquido dos ativos. Diante da incapacidade de estabelecer a relação entre risco e
retorno sobre os investimentos, o agente retém moeda, já que, quando a incerteza cessar, deter moeda
será a garantia de agir de imediato nas suas decisões.

Questão 2. (Anpec, 2004). Considerando as várias abordagens das flutuações econômicas, julgue as
afirmativas a seguir.

I – De acordo com a hipótese do salário-eficiência, a produtividade do trabalho não é influenciada


por variações no salário real.

II – Segundo os novo‑keynesianos, as mudanças tecnológicas são o principal determinante das


flutuações nas variáveis reais.

III – Segundo os modelos originais na tradição dos ciclos econômicos reais, variáveis nominais, como
a oferta de moeda, não exercem impacto sobre as variáveis reais, como o produto e o emprego.

IV – A existência de custos de menu faz que os salários nominais, mas não os preços, sejam rígidos.

V – De acordo com os modelos originais na tradição dos ciclos econômicos reais, as flutuações
econômicas são devidas a algum tipo de rigidez real do sistema de preços.

É correto o que se afirma apenas em:

A) I e II.

B) II e III.

C) III e IV.

D) V.

E) III.

Resolução desta questão na plataforma.

166
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1

FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 241.

Figura 2

FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 242.

Figura 3

FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 252.

Figura 4

FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 252.

Figura 7

DATHEIN, R. O crescimento do desemprego nos países desenvolvidos e sua interpretação pela teoria
econômica: as abordagens neoclássica, keynesiana e schumpeteriana. 2000. Tese (Doutorado em
Economia) – Instituto de Economia, Unicamp, Campinas, 2000. p. 3.

Figura 8

DATHEIN, R. O crescimento do desemprego nos países desenvolvidos e sua interpretação pela teoria
econômica: as abordagens neoclássica, keynesiana e schumpeteriana. 2000. Tese (Doutorado em
Economia) – Instituto de Economia, Unicamp, Campinas, 2000. p. 4.

Figura 9

DATHEIN, R. O crescimento do desemprego nos países desenvolvidos e sua interpretação pela teoria
econômica: as abordagens neoclássica, keynesiana e schumpeteriana. 2000. Tese (Doutorado em
Economia) – Instituto de Economia, Unicamp, Campinas, 2000. p. 7.

Figura 10

FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 257.

Figura 11

FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 244.

167
Figura 12

SNOWDON, B.; VANE, H. R. Modern macroeconomics: its origins, development and current state.
Cheltenham; Northampton: Edward Elgar, 2005. Adaptado.

Figura 13

A) FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. Adaptado.

B) FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. Adaptado.

Figura 14

FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. Adaptado.

Figura 15

VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. Tradução de Maria José Cyhlar Monteiro e Ricardo
Doninelli. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Adaptado.

Figura 16

FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. Adaptado.

Figura 17

FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. Adaptado.

Figura 18

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível


intermediário. São Paulo: Atlas, 2011. Adaptado.

Figura 21

CARVALHO, F. J. C.; et al. Economia monetária e financeira: teoria e política. Rio de Janeiro: Elsevier/
Campus, 2012. Adaptado.

Figura 22

SNOWDON, B.; VANE, H. R. Modern macroeconomics: its origins, development and current state.
Cheltenham: Edward Elgar, 2005. Adaptado.

168
Figura 24

FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 322.

Figura 26

ALÉM, A. C. Macroeconomia: teoria e prática no Brasil. São Paulo: Elsevier, 2010. p. 285.

Figura 27

ALÉM, A. C. Macroeconomia: teoria e prática no Brasil. São Paulo: Elsevier, 2010. p. 293.

Figura 28

FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 297.

Figura 29

FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 297.

Figura 30

FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 297.

Figura 34

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível


intermediário. São Paulo: Atlas: 2011. p. 263.

Figura 35

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível


intermediário. São Paulo: Atlas, 2011. p. 264.

Figura 36

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível


intermediário. São Paulo: Atlas, 2011. p. 264.

Figura 37

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível


intermediário. São Paulo: Atlas, 2011. p. 264.

169
Figura 38

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível


intermediário. São Paulo: Atlas, 2011. p. 266.

Figura 39

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível


intermediário. São Paulo: Atlas, 2011. p. 266.

Figura 40

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível


intermediário. São Paulo: Atlas, 2011. p. 267.

Figura 41

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível


intermediário. São Paulo: Atlas, 2011. p. 267.

Figura 42

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível


intermediário. São Paulo: Atlas, 2011. p. 267.

Figura 43

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Org.). Manual de macroeconomia: nível básico e nível


intermediário. São Paulo: Atlas, 2011. p. 282.

REFERÊNCIAS

Textuais

ALÉM, A. C. Macroeconomia: teoria e prática no Brasil. São Paulo: Elsevier, 2010.

BLANCHARD, O. Macroeconomia. 5. ed. Rio de Janeiro: Longman do Brasil, 2010.

___. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.

CAMPOS, M. M. S.; CHIARINI, T. Incerteza e não ergodicidade: crítica aos neoclássicos. Revista de
Economia Política, São Paulo, v. 34, n. 2, p. 294‑316, jun. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101‑31572014000200008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 18
nov. 2016.
170
CARVALHO, F. J. C. de. Fundamentos da escola pós‑keynesiana: a teoria de uma economia monetária.
Rio de Janeiro: UFRJ/IE (Texto para Discussão n. 176), 1988a.

CARVALHO, F. J. C. de. Keynes on probability, uncertainty, and decision making. Journal of Post
Keynesian Economics, v. 11, n. 1, 1988b.

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Exercícios

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Unidade II – Questão 2: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE CENTROS DE PÓS‑GRADUAÇÃO EM ECONOMIA


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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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