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Bioética

Por Marco Aurélio Caetano Oliveira


Mestre em Filosofia (UFRJ, 2012)
Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação (UFF,
2015)
Graduado em Filosofia (UFRJ, 2010)

Os estudos em Bioética tratam tanto de questões relacionadas ao Meio


Ambiente quanto aos animais humanos e não-humanos. Mais
especificamente, abordam certas complicações morais relacionadas à
intervenção humana, tecnológica ou não, que possa afetar a vida em seu
sentido amplo e estrito, resultando em aprimoramento, em sua interrupção ou
alterando positivamente ou não sua qualidade. É um campo de atuação e
investigação que recebe contribuições de pesquisadores, cientistas e médicos,
incluindo perspectivas religiosas, sobre temas como pesquisas com seres
humanos, longevidade humana, eutanásia e outros.

Como campo de estudos, a Bioética é bem recente. Foi em 1971 que Van
Rensselaer Potter publica o primeiro livro sobre o tema, intitulado Bioethics:
Bridge to the Future. O prefixo ‘bio’ estava relacionado à Biologia, e a intenção
era construir uma ponte entre as ciências humanas e as naturais:

“A sabedoria é definida como o conhecimento de como usar o


conhecimento para o bem social. A busca de sabedoria tem uma nova
orientação porque a sobrevivência do homem está em jogo. Os valores éticos
devem ser testados em termos de futuro e não podem ser divorciados dos fatos
biológicos.” (POTTER, 1971 apud PESSINI, 2013, p. 10)

Enquanto o pensamento de Van Potter voltava-se para uma


versão ecológica, trazendo preocupações sobre o futuro e a sobrevivência do
homem, André Hellegers foi o responsável por reunir um grupo de
pesquisadores interessados em aplicar reflexões morais à biomedicina e às
questões clínicas.

Embora a preocupação com a atuação médica seja muito antiga, sendo


o Juramento Hipócrates um dos mais antigos, casos de abusos em tratamentos
médicos ganharam atenção no séc. XX, devido, em especial, às denúncias das
atrocidades praticadas por médicos nazistas no Tribunal de Nuremberg(1946-
1947) e ao fortalecimento do movimento dos direitos civis e humanos nos EUA
após 1964.

Esse cenário culmina na criação do famoso relatório de Belmont, do qual


participaram os filósofos Albert Jonsen, Stephen Toulmin e Tom Beauchamp.
Esse documento estabeleceu três princípios de atuação no tratamento de seres
humanos ou em pesquisas realizadas com seres humanos: a) respeito às
pessoas: em termos da autonomia dos pacientes ou da tutela dos direitos
daqueles com diminuição dessa; b) beneficência: no qual não provocar prejuízo
está associado a fazer o bem; c) justiça: quanto a alocação equitativa dos
benefícios e atendimento aos diretos. Percebe-se a importância desse relatório
ao considerarmos que o Juramento de Hipócrates enfatiza a beneficência, mas
é apenas com o Código de Nuremberg que o consentimento do paciente passa
a ser uma norma.

O Principialismo tornou-se conhecido pela proposta de Tom Beauchamp


e James Childress, exposta no livro Principles of Biomedical Ethics, cuja primeira
edição foi publicada em 1979. O livro representa um desenvolvimento teórico
baseado no relatório de Belmont, com a principal contribuição sendo a
distinção entre a beneficência, que consiste no dever de promover o bem-
estar, e a não-maleficência, que relacionam-se a obrigação de não causar dano,
no sentido moral. Assim, seria proibido realizar qualquer ação que prejudique
os interesses ou direitos de alguém.

Essas reflexões influenciaram o pensamento bioético brasileiro, que é


considerado recente, mas já avançou muito nos últimos 15 anos. A resolução
196 (1996) do Conselho Nacional de Medicina é baseado no principialismo e
regulamenta as pesquisas com humanos no Brasil. Essa resolução também
criou a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Destaca-se também a primeira
publicação brasileira sobre o tema, o livro Problemas Atuais de Bioética, do
conhecido pesquisador e padre Léo Pessini e Christian de Paul de
Barchifontaine.

Há outras teorias além do principialismo, como a perspectiva do filósofo


Fermin Schramm, que contextualiza a reflexão bioética às políticas públicas de
saúde, evidenciando o problema da vulnerabilidade:

“A bioética da proteção [...] pode ser pode ser aplicada, stricto sensu, a
pacientes morais que identificamos como vulnerados, isto é, que não são
capazes de se protegerem sozinhos ou que não possuem algum amparo que
venha da família, do grupo ao qual pertencem, do Estado ou da própria
Sociedade” (SCHRAMM, 2017, p. 1534, grifo do autor)

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