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Os escritos de José Eustaquio

Este capitulo trata dos poucos extratos deixados por José Eustaquio
escritos por seu próprio punho. A qualidade do manuscrito que a mim
chegou era deplorável. Algumas paginas em pedaços e amareladas e que
nitidamente viveram muito tempo. É evidente que parte do seu tempo de
vida se deu sob a água. Foram meses de esforço e busco aqui reproduzir os
pedaços do texto que me chegou as mãos.

“... são fundamentais que se observem. Estes objetos seriam as


formas estelares fundamentais e que acredito os cientistas naturais devem
conhecer todos estes objetos para que possam compreender as marés
celestiais. (José sempre acreditou que o céu era como o mar e suas
analogias invariavelmente são relacionadas a temas marinhos)

Em primeiro lugar eu tenho que enumerar algumas das mais belas


Nebulosae. (Como já contei José utilizava a nomenclatura utilizada por
Hodierna, um obscuro astrônomo italiano que ele não poderia jamais ter
tido acesso. tanto a figura humana como aos escritos.)

Nebulosae Fundamentalis:

J 1 - Observada a 2ª hora do dia 25 novembro- Alt72º 32´-

Esta é a mais bela. Facilmente percebe-se sua majestade acima do


cinturão do caçador. Posso perceber estrelas que brotam em seu coração.
Em noites como essa conto quatro estrelas. A nebulosidade é muito
brilhante e se espalha por todo meu campo. A região próxima e recoberta
com Luminosae (Aglomerados abertos na terminologia misteriosamente
comum a Hodierna e José Eustaquio). Parecem nascer da grande nuvem.

J2- Observada a 1ª hora do dia 23 Junho - Rumo 180º Alt. 88º

Difícil descrever a beleza desta Nebulosae muito brilhante a percebo


por sobre o arqueiro centralizado na grande corrente. A nebulosidade é
claramente visível nas noites sem lua mesmo com a vista desarmada. Posso
resolver muitas estrelas. É evidentemente uma formação importante. Parece
uma lagoa de águas esbranquiçadas. Recorda-me a área em Orion que
descrevi primavera passada , batizada como J1 . Evidentemente trata-se de
formações da mesma espécie.

J3 - Observada a 3ª hora do dia 23 janeiro Rumo 180º alt. 28º


Nebulosae muito grande. Diferente das Demais que conheço. Abraça
a forte estrela de brilho extremamente variável no Navio. Cobre uma área
muito grande e percebo Luminosae na região. Objeto diferente.

J4- Observada a 1ª hora do dia 02 de fevereiro Alt.: 44º 50´

Bela Nebulosae. Com aspecto bipolar me parece possuir uma estrela


central. Não posso garantir. Parece-me um tipo semelhante a J3. Localizada
Junto às fracas estrelas da Raposa.

Estas são as Nebulosae que considero importantes para que os


cientistas naturais estudem. Representam as diferentes estruturas que se
escondem em tais nuvens e que se apresentam dentro da Grande Corrente.

Este enigmático texto me levou a longas pesquisas e demonstram a


erudição que Dom João duvidava existir em José Eustaquio do Nascimento
e Islas.

Em primeiro lugar é fundamental entender côo José localizava os


objetos. Por suas anotações ele determinava sempre a altitude do objeto no
momento que este cruza o meridiano local. Assim seu rumo é sempre ou
Norte ou Sul (180º). No caso de J1 e J4 ele sequer dá indicação azimutal.

Ele omite o ano em suas anotações o que torna minha vida um pouco
mais difícil. Tudo indica que isto foi escrito pelos fins dos anos 1700s. Eu
gostaria de acreditar que em 1778. Isto ajudaria muito na minha cronologia.

J1 não deixa duvidas. Trata-se de M42 e sabemos pelos escritos de


Dom João que era um objeto querido por José. José descreve claramente o
Trapézio que ilumina o seu interior. Seu telescópio assim se revela muito
bom. E ele pula vários séculos a supor que ali é uma espécie de berçário
estelar. A nebulosa de Orion não foi descrita por Ptolomeu ou Al Sufi.
Mesmo Galileu, que descreve o Trapézio, não fala a respeito da nebulosa
propriamente dita. Provavelmente devido a estreito campo de seus
telescópios. Hoje em dia credita-se seu primeiro registro a Nicolas-Claude
Fabri de Peiresc no mesmo ano (1610). Posteriormente ela foi redescoberta
de forma independente diversas vezes. Aí incluindo Huygens em 1656 e
novamente Messier em 1659 quando publica um belo desenho da nebulosa.
J2 também é facilmente identificável. José novamente tem uma
percepção a frente de seu tempo. M8, a Nebulosa da lagoa é como ele se
tornou conhecida. Em Sagitário. A Nebulosa da Lagoa foi primeiro
registrada pelo companheiro impossível de José :Giovanni Hodierna a
catalogou em 1654. Posteriormente foi catalogada por La Gentil em 1747.
Lacaille a redescobriu e acrescentou a seu catalogo entre 1751/1752. E por
fim Messier a inclui em seu catalogo na noite de 23 de maio do ano de
1764. José é de grande precisão em suas plotagens pelo céu. Na verdade
muito mais que Dom João. Suas posições apresentam erros de menos de 10
´ de arco a maioria das vezes. Por isto posso arriscar com segurança os anos
1750/60/70 para estes escritos. Este 30 anos foram anos dourados para
astronomia amadora sendo o período que surgem à maioria dos catálogos
clássicos de objetos de céu profundo.

Chegamos a J3. É a grande Nebulosa de Eta Carina. E José


novamente acerta em tudo que diz. Ela é completamente diferente das
demais. E a grande estrela variável é uma variável explosiva. Na verdade o
que José via era diferente do que conheço. Eta Carina era muito mais
brilhante na época do que é hoje. O primeiro registro conhecido da
nebulosa na região é de Lacaille durante sua viagem entre 1751/52.

Este é um objeto que pode ter sido uma descoberta original de José
Eustaquio.

Finalmente J4. Sem a menor duvida trata-se da Nebulosa do Halteres.


Registrada no catalogo Messier como M27. Foi a primeira nebulosa
planetária registrada no catalogo francês. Assim como no catalogo J.E.S.S.
A posição dada por José permite que determinemos com bastante precisão
o ano de seu registro. 1772. Messier a registrou em 1764. O que não
impede de José já a ter visto anteriormente.

Outro detalhe importante é como ele caracteriza a sua categoria de


Nebulosae apenas incluindo estruturas de aspecto nebuloso que se
encontram dentro do disco galáctico. Podemos notar que ele percebe
claramente a diferença geográfica destas estruturas para outras estruturas
nebulosas que não se encontram no disco. Ai ele não inclui nenhum
Globular ou galáxia. Estes normalmente avistados fora do eixo da galáxia,
ou em maior numero em direção ao centro (globulares especialmente). Não
posso garantir se ele percebia que se tratava de estruturas distintas de fato
ou se é apenas devido a sua distribuição espacial que ele as diferencia. De
qualquer forma estas estruturas só seriam de fato compreendidas muito
tempo depois e ele se mostra novamente a frente de seu tempo tento
insights, de uma forma orgânica, muito inspirados.

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