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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

TALITA VIAL DA SILVA

RELATORIO DE AULA DE CAMPO: ASSENTEMENTO EGIDIO


BRUNETTO

RONDONOPÓLIS/MT
2019
TALITA VIAL DA SILVA

RELATORIO DE AULA DE CAMPO: ASSENTEMENTO EGIDIO BRUNETTO

Trabalho avaliativo sobre aula de campo:


assentamento Egídio Brunetto, referente à
disciplina Filosofia, curso Licenciatura
Plena em História da Universidade
Federal de Mato Grosso.
Prof. Dr. Plínio José Félix

RONDONOPÓLIS/MT
2019
1 RESUMO
O presente relatório refere-se a viagem para aula de campo no dia 20 de julho
de 2019 no assentamento Egídio Brunetto localizado no município de Jacira-MT que
fica a 72km de Rondonópolis. Os Objetivos da viagem assim como deste relatório
são promover a discussão acerca da reforma agrária popular dentro do contexto da
região do Mato Grosso dominada pelo agronegócio e ainda fomentar a
confraternização entre o campo e a cidade. O agrotóxico não chega no nosso prato
sozinho, estamos sendo envenenados há muito muito tempo, então para fazer
sentido esse debate temos que olhar através da perspectiva do materialismo
histórico que é a luta de classes, nesse caso a luta do MST é contra a classe
latifundiária que além de assassina, desmata e ainda está nos moldes do
colonialismo que age fortemente dentro do agronegócio. O agronegócio hoje
representa uma parte importante da economia do nosso País, mas isso não é uma
questão de meritocracia essa capacidade hegemônica do agronegócio tem a ver
com o modo de distribuição da terra, com a estrutura fundiária do Brasil e ainda com
a lei de terras de 1850 promulgada por Dom Pedro II, o agronegócio significa ainda
monocultura, desmatamento, genocídio da população indígena e tudo isso regado a
agrotóxico e toda a sua produção é voltada para o mercado exterior o que fica pra
população é o lixo é o que não dá pra exportar, e é verdadeiramente a agricultura
familiar que majoritariamente abastece a mesa das famílias brasileiras. Para
alcançar o objetivo deste trabalho cantamos com a contribuição de líderes do
assentamento Egídio Brunetto e com relatos de assentados que vivem no território.
Palavras-chave: Reforma Agraria, Terra, MST.
UMA BANDEIRA VERMELHA CRAVADA NO
LATIFÚNDIO
Jane Andréia Cabral e Silva
“Lá aonde já não se via mais esperança
o verde significava morte
e a carne do boi era a fome dos pobres.
Lá onde a terra e o silêncio nos fazia lembrar de
pessoas sem terra e escravidão em tempos de
“Paz”.
Lá, foi cravada a bandeira vermelha.
A morte agora é do latifúndio
A paz agora é a Paz de crianças, homens e
mulheres felizes construindo a sua dignidade.”
1 RESUMO.................................................................................................................. 3
2 RESGATE HISTÓRICO ........................................................................................... 6
3 MST EM RONDONÓPOLIS E A CRISE SOCIAL DO GOVERNO ATUAL ............. 7
4 VISITA A DONA ANA .............................................................................................. 7
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 8
6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 8
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2 RESGATE HISTÓRICO
Durante o período de dominação colonial a propriedade da terra no Brasil
era da coroa Portuguesa, o modo de distribuição da terra nunca foi visando a
inclusão, as Capitanias Hereditárias que existiram até 1821 são o retrato do modo
de distribuição de terra no nosso País a medida que os donatários fracassavam, as
terras voltavam às mãos da Coroa Portuguesa e eram redistribuídas a novos
proprietários, a classe trabalhadora historicamente sempre foi excluída do acesso à
terra. Os modos de extermínio das populações autóctone que viviam no território
que conhecemos como Brasil visavam a conquista do território para comercio
exportação e exploração da terra.
Dos processos escravistas de indígenas e negros destacam-se os modos de
organização e resistência desse povo, através dos quilombos que se organizavam
em um território viviam do que plantavam e de pequenas ‘trocas’ ou escambo,
também a não submissão dos indígenas a escravidão, por conhecerem bem o
território conseguiam se adentrar na mata para fugir, tinham uma relação com a terra
completamente diferente dos portugueses que só visavam lucro e exploração.
Em 1850 Dom Pedro II através da lei 601 mercantiliza e privatiza a terra,
sendo proibida a aquisição por outro título que não o de compra. Nega-se ainda
mais o acesso à terra no Brasil, então há duas opções ou se compra ou se cria um
movimento social de luta pela terra para descaracterizar o caráter mercantil e obrigar
o estado a fazer a desapropriação e o mais conhecido e que tem maior expressão é
o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra).
Dos processos de luta pela terra destaca-se as Ligas Camponesas, o
movimento surgiu nos últimos anos do governo de Getúlio Vargas por volta de 1945
com apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o partido nessa época ainda
existia legalmente e se articulava para criar Ligas Camponesas unindo trabalhadores
rurais em várias cidades do País, mas apesar da legalidade as ligas já sofriam com
a repressão das autoridades e dos latifundiários. Na década de 1960 as tensões
aumentaram no país e culminaram no Golpe Militar de 1964 o novo regime agora
militar e autoritário não permitia organização popular e promoveu intensa caça aos
partidos e aos movimentos tidos como de esquerda. O MST tira dessa experiência a
lição de que a organização popular não deve estar vinculada e/ou submetida a
partidos políticos, a fim de preservar a autonomia política e financeira.
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3 MST EM RONDONÓPOLIS E A CRISE SOCIAL DO GOVERNO ATUAL


O MST surge em Rondonópolis no ano de 1994 como resultados de um
processo de luta junto com alguns apoiadores de sindicatos e líderes dos direitos
humanos. O uso e a propriedade da terra no Brasil e marcado pelo processo de luta
de classes como foi apontado nas reflexões do tópico 2. O Movimento Sem Terra se
caracteriza pela consciência de classe, por uma postura ideológica de vida, e por
uma postura de luta, pois o povo jamais terá acesso à terra se não lutar por ela.
O MST no Mato Grosso começa suas atividades efetivamente em 14 de
agosto de 1995, pegando justamente a fase do governo de Fernando Henrique
Cardoso (FHC), com a implantação do neoliberalismo no País, então entre a
população vivendo na miséria não tendo onde morar a preferência é ir para um
acampamento lutar pela propriedade da terra, nesse primeiro processo o papel dos
estudantes de Rondonópolis nos acampamentos como apontado pelo líder Vanderlei
era maior e contavam com o apoio também de alguns Departamentos acadêmicos
que ajudavam os acampados no processo de resistência e de luta, de certa forma
existia uma capacidade de aglutinar os movimentos sindicais, estudantis e
camponês.
A crise social que está se generalizando caracteriza ainda mais a disputa de
projetos, de um lado o agronegócio que não gera emprego, não produz alimento
saudável e gera um acumulo de lixo na terra, de outro temos a agricultura familiar
que gera emprego, alimentos livres de agrotóxicos, fomenta a economia do País
além do papel social e formador que cumpre movimentos como o MST, mas a
sociedade hoje está contra a reforma agraria perdemos a hegemonia da classe
trabalhadora e é crescente a violência estrutural pela concentração da propriedade
de terra nas mãos de poucos e é crescente também o processo de implantação do
neoliberalismo, do estado mínimo, mas estado mínimo para o povo porque para
repressão ele é máximo, o neoliberalismo não admite uma gestão popular.
É Trabalhador matando Trabalhador!
Nesse contexto a luta de classe fica cada vez mais evidente e a necessidade
de uma esquerda em unidade para organizar o povo no desafio da classe
trabalhadora na perspectiva de ser resistência nesses processos neoliberais.
4 VISITA A DONA ANA
Em conversas com uma das mulheres assentada em Egídio Brunetto, a
Dona Ana mulher guerreira que cria dois netos e se orgulha muito do pedaço de
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terra que conquistou ela conta que vivia na cidade e trabalhava como porteira de
um prédio, a vida era difícil e mal sobrava tempo para ela, também porque cuidava
da Mãe que era muito idosa e doente assim como muitas mulheres desse país fazia
dupla jornada de trabalho (uma em casa e outra fora), viveu assim até o falecimento
da Mãe.
Conta que conheceu o MST através de vizinhos que sempre a convidavam
para ir aos encontros e nos acampamentos, um dia ela aceitou participou de
algumas ocupações e alguns encontros até conseguir sua terra onde hoje planta e
cria alguns animais como porcos e galinhas. Dona Ana conta que quando chegou
na propriedade não tinha nada e agora conta orgulhosa o que já conquistou em 3
anos assentada, e ressalta que ela e seu neto mais velho sempre participam de
cursos de formação sobre como manipular a terra da forma mais sustentável e
proveitosa, o último foi de ordenha e manipulação do leite ela ainda não tem gado
mas conta que logo pretende conseguir, faz planos e diz que agora se sente feliz
porque sempre gostou de morar em sitio e das tarefas com a terra.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os relatos e as contribuições dos assentados do Egídio Brunetto fica mais
claro para entender como é o processo e a luta pela reforma agraria no nosso País,
cabe reconhecer o papel dos movimentos da via campesina na luta pela terra. O
MST existe a mais de 30 anos e sempre buscando a massificação do movimento
pelo Brasil. Podemos entender que a reforma agraria é um processo que compõe e
necessita de assistência técnica, dos créditos e fomentos, da regularização, hoje
infelizmente com o governo vigente está cada vez mais difícil, as políticas públicas
da reforma agrária não existem, não basta conseguir o acesso à terra tem que haver
meios para que a produção aconteça e as famílias possam permanecer.
Daí o caráter da luta do MST, lutar para garantir o acesso e a permanência
na propriedade, pelo direito de plantar e de colher.

6 REFERÊNCIAS
CAMARGOS, Daniel; JUNQUEIRA, Diego. Governo Bolsonaro suspende
reforma agrária por tempo indeterminado: Documentos distribuídos às
superintendências do Incra determinam interrupção da compra e demarcação de
terras. 2019. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2019/01/08/governo-
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bolsonaro-suspende-reforma-agraria-por-tempo-indeterminado/>. Acesso em: 23 jul.


2019.
FÉLIX, Plínio José. Os interesses socias e a concepção politica e
ideologica dos trabalhadores rurais assentados do MST: estudo de caso na
região de Rondonopolis-MT. 2001. 283 f. Tese (Doutorado) - Curso de História,
Ciência Politicas, Unicamp, Campinas-sp, 2001. Cap. 2.

SARTORATO, Diego et al. O que foram as Ligas Camponesas


homenageadas pela marcha do MST: Coluna, que reúne camponeses do
Nordeste, relembra resistência contra a ditadura no campo. 2018. Disponível em:
<https://www.brasildefato.com.br/2018/08/13/o-que-foram-as-ligas-camponesas-
homenageadas-pela-marcha-do-mst/>. Acesso em: 23 jul. 2019.

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