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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

FACULDADE DE DIREITO DE ALAGOAS


GRADUAÇÃO EM DIREITO

MAYARA DE ARAÚJO SILVA BOTELHO

NULIDADES NO PROCESSO PENAL


Atividade avaliativa - Processo Penal IV

Maceió
2018
MAYARA DE ARAÚJO SILVA BOTELHO

NULIDADES NO PROCESSO PENAL


Atividade avaliativa - Processo Penal IV

Trabalho desenvolvido durante a disciplina de


Direito Processual Penal IV como composição
da nota da primeira avaliação referente ao 7º
período de 2018.1.
Professor: Maurício Pitta

Maceió
2018
AS NULIDADES NO PROCESSO PENAL

As nulidades dizem respeito aos vícios que corrompem determinados atos processuais
e que podem levá-los à inutilidade e posterior renovação. Esse fenômeno acontece porque os
atos processuais foram praticados sem o cumprimento da forma prevista em lei. As nulidades
referidas podem ser subdivididas em absolutas e relativas. As absolutas correspondem àquelas
que devem ser declaradas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes, uma vez que estas
nulidades consistem em descumprimento ao interesse público no tocante a produção do
devido processo legal. Ressalta-se que uma vez declarada a nulidade pelo magistrado, o ato
processual não continuará mais produzindo efeitos legais. Já as relativas são aquelas que serão
declaradas apenas quando arguidas por alguma das partes no processo, apresentando o
prejuízo causado pelo descumprimento da formalidade legal prevista para realização de certo
ato processual.
Portanto, em outras palavras, há as nulidades que afrontam a Carta Magna, que
produzem efeito erga omnes, atingindo as garantias constitucionais, como a ampla defesa, o
contraditório. Estas nulidades enquadram-se como nulidades absolutas, por afrontarem a
direitos garantidos pela Constituição e poderem anular todo o processo. Ressalta-se que estas
podem ser arguidas pelo magistrado de ofício, com possibilidade dos atos que emanarem do
ato nulo serem refeitos.
Por outro lado, se as nulidades apresentarem interesse apenas para uma das partes, são
consideradas como nulidades relativas, e devem ser declaradas em momento oportuno, no
prazo previsto em lei, antes que ocorra o fenômeno da preclusão que será posteriormente
explicado. Segundo o doutrinador Eugenio Pacielli de Oliveira (2011), “as nulidades relativas,
por dependerem de valoração das partes quanto à existência e à consequência do eventual
prejuízo, estão sujeitas a prazo preclusivo, quando não alegadas a tempo e modo”.
Embora alguns atos processuais sejam realizados em discordância com as
formalidades legais, eles podem ser considerados inexistentes ou irregulares, não passíveis de
nulidade, a depender do grau de discrepância com as formas previstas em lei. Os atos
inexistentes correspondem àqueles atos processuais cuja a violação legal é tão elevada que
nem mesmo se considera a possibilidade de arguir nulidade, visto que tais atos estão distantes
dos requisitos mínimos aceitáveis para o cumprimento das formalidades legais. Estes atos não
podem ser convalidados e não necessitam de decisão do magistrado para serem invalidados.
Já os atos irregulares dizem respeito àquelas infrações mais leves, que não contaminam a
forma legal do ato processual a ponto de requerer uma renovação, contudo, apesar de serem
convalidados com o simples prosseguimento do processo, devem ser evitados.
Segundo o doutrinador Guilherme de Souza Nucci (2016), há alguns princípios que
regem as nulidades. Dentre eles, pode-se citar o princípio de que não há nulidade sem
prejuízo, segundo o qual apenas declara-se nulidade se realmente foi constatado um dano, isto
é, um prejuízo concreto à alguma das partes, embora o ato seja produzida em desacordo com a
forma prevista em lei, visto que a consequência da nulidade é refazer o ato processual, com
perda de tempo e gatos materiais para as partes, situação que contraria o princípio da
economia processual.
Ademais o aludido conteúdo encontra-se elencado no art. 563 do Código de Processo
Penal. Contudo, é importante ressaltar que o referido princípio deve ser aplicado com maior
abrangência às nulidades relativas, visto que o prejuízo decorrente das nulidades absolutas é
presumido pela lei e não admite prova em contrário.
O princípio de que não há nulidade do ato que interesse apenas à parte contrária, ainda
que aquele tenha sido realizado com omissão de formalidade, está relacionado ao primeiro
princípio. Segundo este último, não cabe a uma parte alegar nulidade que apenas favorece a
outra parte no processo, sobretudo quando esta não se interessa em sua arguição.
O fundamento deste princípio é, segundo Borges da Rosa, devido ao fato de que as
nulidades só devem ser alegadas quando se enquadrarem como sanções destinadas a reparar
um dano provocado pela inobservância da lei, e essa nulidade só pode alegada por quem
sofreu esse dano. Portanto, arguir uma nulidade quando não há interesse em reparar um dano
sofrido corresponde à utilização de um mecanismo legal para abalar o prosseguimento do
processo e ferir o princípio constitucional da economia processual, vertente do princípio da
celeridade processual.
Outro princípio é o de que não há nulidade provocada pela parte, preceituado no art.
565 do Código de Processo Penal. Consoante este princípio, a parte não poderá arguir aquela
nulidade a qual tenha dado causa ou concorrido, ou seja, da mesma forma que é exigido que a
parte tenha interesse na prática de diversos atos processuais, é imprescindível que a parte que
sofreu prejuízo, decorrente da nulidade, tenha interesse no reconhecimento do referido
prejuízo, não podendo ser a mesma a geradora do dano.
Há também o princípio de que não há nulidade de ato considerado irrelevante para o
desfecho da causa, uma vez que, segundo o que está prescrito no art. 566 do Código de
Processo Penal, não se argui nulidade relacionada a um ato processual que não influenciou no
momento de busca da verdade real ou na decisão da causa, ainda que aquele tenha sido
realizado em desconformidade com as formalidades legais exigidas.
Uma observação importante que deve ser feita antes de adentrar o tópico de divisão
legal entre as nulidades absolutas e relativas é a questão das nulidades em inquérito policial.
Se houver apenas um procedimento administrativo destinado a formação de opinião do
Ministério Público, com a finalidade de tomar conhecimento acerca da existência ou não de
acusação contra alguém, não há necessidade para arguição de nulidade do ato processual
realizado durante o seu desenvolvimento. No entanto, se algum elemento de prova for
produzido em desconformidade com o previsto em lei, cabe ao juiz durante a instrução, ou até
mesmo antes, determinar que o referido elemento seja refeito.
As espécies de nulidades absolutas podem ser encontradas no Código de Processo
Penal, elencadas no art. 564 combinado com o art. 572. A primeira elencada é incompetência,
suspeição ou suborno do juiz. A incompetência ocorre alguém é processado ou julgado por
juiz que não foi indicado previamente por lei ou pela Constituição. Este fenômeno fere o
princípio do juiz natural, assegurado pela Carta Magna, portanto, é importante observar as
regras de competência sob pena de nulidade absoluta dos atos processuais.
A suspeição consiste na parcialidade do julgador no caso concreto, devendo ser
reconhecida pelo juiz ou qualquer das partes, diante das hipóteses previstas no art. 254 do
Código de Processo Penal, sendo os atos produzidos considerados como atos nulos, eivados
de vício insanável, sem prazo para arguição. Em contrapartida, o suborno é o ato de dar algum
valor pecuniário ou vantagens a um magistrado em troca de favores indevidos, inserindo-se
assim no contexto da corrupção, sendo passível de anulação todos os atos praticados pelo juiz
subordinado.
Outrossim, também são nulidades absolutas a ilegitimidade da parte; a ausência de
denúncia ou queixa e representação; a ausência do exame de corpo de delito; a ausência de
defesa ao réu e de nomeação de curador; a falta de citação, ampla defesa e contraditório; a
falta da sentença de pronúncia, do libelo e da entrega da sua cópia; a ausência do réu e
realização da sessão; o quórum para a instalação da sessão do júri; a inexistência dos quesitos
e suas respostas; a ausência de acusação e defesa no julgamento pelo Tribunal do Júri; a
ausência da sentença; a ausência de processamento ao recurso de ofício; a ausência de
intimação para recurso; a falta do quórum legal para a decisão; quesitos ou respostas
deficientes e contradição entre elas, dentre outras diversas hipóteses.
A ilegitimidade da parte não se trata de ilegitimidade voltada para a causa ou para o
processo, mas sim ilegitimidade voltada para à ação penal, o que não permite convalidação, já
que as partes que produziram determinados atos processuais não são aquelas as quais a lei
assegura o direito de praticar tais atos. A ausência da denúncia ou queixa consiste em hipótese
porque sem estas não há possibilidade de iniciar a ação penal, enquanto que a ausência de
representação provoca impossibilidade jurídica do órgão acusatório agir, mas tal vício pode
ser convalidado dentro do prazo decadencial. A ausência do corpo de delito é uma hipótese
em casos de crimes que deixem vestígios e que seja indispensável a realização do exame de
corpo de delito, seja ele direto, quando há analise do vestígios no local em que foram
encontrados, ou indireto, através de testemunhas.
A ausência de defesa do réu não se confunde com deficiência de defesa, pois a
primeira, que constitui necessariamente hipótese de nulidade absoluta, até porque o prejuízo é
presumido, consiste na não nomeação de defensor ao réu, caso este não apresente advogado
constituído. No tocante a ausência de acusação e defesa no julgamento pelo Tribunal do Júri
como hipótese de nulidade, é imprescindível destacar que tanto a acusação quanto a defesa
devem estar presentes e participando ativamente da sessão de julgamento, uma vez que os
jurados são juízes leigos e carecem de todos os esclarecimentos possíveis acerca do caso
concreto e da sessão para poderem julgar a causa.
Os jurados devem ser soberanos nas suas decisões e apenas se possibilita soberania
quando há informação. Portanto, se não estiverem presentes a acusação/defesa ou estas se
apresentarem deficientes o suficiente para acometer a compreensão das provas pelos jurados,
é motivo de dissolução do Conselho de jurados.
No que concerne a ausência da sentença, é necessário exaltar que não se concebe um
processo como finalizado se não houver sentença, já que consiste em um feito nulo. Se a
sentença não apresentar os termos legais exigidos, como o relatório, fundamentação e
dispositivo, também pode ser considerada nula. Como exemplos de nulidade absoluta
voltadas para essa hipótese está a insuficiência da fundamentação, principalmente quando
constitui decisão condenatória; a incorreta individualização da pena; a não apreciação das
teses apresentadas pela defesa, entre outros exemplos.
Quanto às espécies de nulidades relativas, destaca-se a infringência à regra da
prevenção. A prevenção diz respeito ao conhecimento e contato prévio de um magistrado com
determinada questão jurisdicional, podendo o mesmo apreciar o feito caso houvesse uma
regular distribuição. Ademais, a prevenção está relacionada a competência territorial que
quando violada provoca vício sanável e o referido conteúdo é descrito na súmula 706 do STF,
“é relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção”.
Há ainda a nulidade concernente a falta de intimação do réu para a sessão de
julgamento do Júri, quando a lei não permitir que se faça com sua ausência. Ainda que não
haja a intimação do réu, mas o mesmo vem a comparecer em juízo, sana-se a falha. Outro
exemplo é reportado pelo Ministro Felix Fischer em determinado processo de Habeas Corpus,
“a falta do ato de interrogatório em juízo constitui nulidade meramente relativa suscetível de
convalidação, desde que não alegada na oportunidade indicada pela lei processual penal”.
Um terceira nulidade relativa diz respeito à ausência da forma legal dos atos
processuais, ou seja, quando algum ato processual é produzido em discrepância a forma
prevista em lei. No entanto, deve se tratar de uma formalidade essencial à existência e
validade do ato para que seja reconhecida a nulidade, e deve promover determinado prejuízo
para alguma das partes. A falta de concessão de prazos à acusação e à defesa também se
enquadra como hipótese de nulidade relativa, pois deixar de conceder, ao longo da instrução,
diversos prazos para manifestação e produção de provas pode implicar em cerceamento da
acusação ou da defesa, ademais dá ensejo para se reconhecer o vício e refazer o ato
processual, caso haja algum dano comprovado.
Do mesmo modo, constitui hipótese de nulidade relativa a ausência de intervenção do
Ministério Público, que ocorre quando o representante do MP não envolve-se nos feitos por
ele postulados, nos casos de ação pública, ou quando o representante do MP não interfere
naqueles feitos propostos pela vítima, que atua em substituição ao Estado-acusação, nas ações
privadas subsidiárias da pública.
No que diz respeito ao momento de arguição da nulidades no processo penal é
importante destacar que as nulidades absolutas podem ser alegadas a qualquer tempo e em
qualquer instância, inclusive mesmo depois de ocorrido o trânsito em julgado, visto que não a
previsão legal quanto ao prazo para arguição desta espécie de nulidade.
Contudo, as nulidades relativas apresentam prazo para arguição, uma vez que podem
ser sanadas, inclusive pela preclusão. O art. 571 do Código de Processo Penal fixa diversas
regras como, por exemplo, as nulidades da instrução criminal dos processos da competência
do júri, as da instrução criminal dos procedimentos comuns e as da instrução criminal de
processo de competência originária dos tribunais devem ser arguidas até as alegações finais.
Enquanto que as nulidades ocorridas após a pronúncia devem ser alegadas logo depois de
anunciado o julgamento em plenário e apregoadas as partes; e as do julgamento em plenário
do Júri, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem.
É imprescindível ressaltar a possibilidade de convalidação das nulidades. O fenômeno
da convalidação dá ensejo ao restabelecimento da validade de um ato processual produzido
em desconformidade com a lei, ou seja, quando há algum vício que possa ser sanado ou
superado pela ausência de arguição de nulidade pela parte interessada, dá-se por convalidada
a nulidade. Como explicitado anteriormente, quando as nulidades relativas não são alegadas
durante o prazo legal estabelecido, os vícios dos atos processuais serão considerados sanados.
Isto ocorre porque a preclusão, que corresponde à ausência de arguição no tempo
estabelecido, é hipótese de validação de defeito contido em determinado ato processual. O
trânsito em julgado da sentença pode levar à impossibilidade de reconhecimento das
nulidades.
São três as regras básicas para convalidação dos defeitos provenientes das nulidades
relativas: se as nulidades não forem destacadas em momento oportuno conforme os prazos
elencados no art. 571 do Código de Processo Penal; se o ato processual for praticado em
desconformidade com a legislação, mas ainda assim atingir a sua finalidade; e, por fim, se a
parte, mesmo que tacitamente, aceitar seus efeitos.
Em síntese, por fim, ao breve exposto anteriormente, é possível afirmar que as
nulidades supracitadas anteriormente dizem respeito à forma dos atos processuais e não ao
conteúdo destes, já que se apresentam baseadas na instrumentalidade das formas. Ademais, é
evidente a relevância deste sistema de nulidades no Processo Penal brasileiro, visto a
finalidade do mesmo de assegurar não tão somente a justiça e o pleno andamento do processo,
mas também de promover e efetivar as garantias processuais penais previstas na Constituição
Federal, como, por exemplo, ampla defesa, contraditório, presunção de inocência, devido
processo legal, entre outras. Outrossim, a possibilidade de arguição de nulidades proporciona
a todas as partes processuais a proteção à seus direitos fundamentais previstos na
Constituição, uma vez que busca diminuir as arbitrariedades que não são permitidas no
ordenamento jurídico brasileiro.
Ao se falar em nulidades absolutas, ressalta-se que estas devem ser decretadas de
ofício pelo magistrado, pois elas causam ofensa às normas ou princípios constitucionais.
Ademais os atos provenientes destas nulidades são nulos, isto é, não devem causar efeitos (ex
tunc), no entanto, caso venham a produzir efeitos, em decorrência de falha do judiciário, estes
atos devem retornar desde o início, para que seja realizado da forma correta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALENCAR, Rosmar Rodrigues; TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 7.


Ed. Salvador: Juspodivm, 2012.

CAMPOS, Wellington José. Nulidades no Processo Penal. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF:


07 dez. 2012. Disponível em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.41012&seo=1>. Acesso em: 26 de
agosto de 2018.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 16. Ed. rev.,
atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 14. Ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2011.

Processo HC 89646 / RR HABEAS CORPUS 2007/0205517-0 Relator(a) Ministro FELIX


FISCHER (1109) Órgão Julgador T5 – QUINTA TURMA Data do Julgamento 04/12/2008
Data da Publicação/Fonte DJe 02/02/2009 Ementa PROCESSUAL PENAL. HABEAS
CORPUS. ART. 12, CAPUT, DA LEI Nº 6.368/76 (ANTIGA LEI DE TÓXICOS).
INTERROGATÓRIO JUDICIAL NÃO-REALIZAÇÃO. NULIDADE RELATIVA.
AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. PRECLUSÃO.

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