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Dilma, inflação
e crescimento
BASTOU UMA DECLARAÇÃO da Presidenta Dilma, profe-
rida em sua recente viagem à reunião dos Brics na África do
Sul, para que os representantes do financismo já começas-
sem a levantar suas armas contra o uso de políticas alter-
nativas para a manutenção do equilíbrio macroeconômico.
A maior parte das colunas de economia dos grandes meios
de comunicação não perdeu a oportunidade de tentar des-
classificar o discurso da primeira mandatária, argumentan-
do sua suposta incompetência para gerenciar a política eco-
nômica de seu governo.
O foco da polêmica é a próxima reunião do Comitê de Po-
lítica Monetária (Copom), a ser realizada em meados de
abril, quando os interesses da banca privada já pressionam
por uma retomada da alta da taxa de juros oficial, a Selic.
Como Dilma já havia manifestado sua discordância com re-
lação às soluções conservadoras para a crise financeira in-
ternacional, os economistas da ortodoxia passaram a afiar
suas armas, exigindo que aqui também fosse adotado o ca-
minho que tem inspirado a chamada “troika”, nos casos re-
petitivos de países afetados pela crise na zona do euro. As-
sim, o Banco Central Europeu, o FMI e a Comissão Euro-
péia não têm hesitado em recomendar o aprofundamento
La
tuf
de medidas recessivas para Espanha, Portugal, Itália, Gré-
f
cia, Irlanda e Chipre, entre outros casos.
Ora, criticar a solução conservadora em termos de políti-
ca econômica não significa, necessariamente, que se tenha
uma postura irresponsável no que se refere ao acompanha-
mento do crescimento dos preços. Há um amplo consenso
entre os especialistas a respeito do esgotamento das medi-
das inspiradas nas recomendações do arcabouço neoliberal.
Mesmo os economistas que chegaram a confiar nas solu-
ções “mágicas” do mercado até pouco tempo atrás, hoje em
Beto Almeida dia reconhecem a necessidade de se adotar caminhos que
incorporem a retomada da demanda efetiva como saída pa-
ra a crise. Nesse sentido, apenas o uso do cardápio de aper-
NO DIA 26 DE MARÇO foi divulgada a Declaração da Apesar de alguns intelectuais confusos que chegaram
X Reunião da Rede de Intelectuais, Artistas e Lutadores
Sociais em Defesa da Humanidade, ocorrida em Caracas,
a desorientação de apoiar a suposta “Guerra Humanitá-
ria” da Otan contra a Líbia, transformando-a em base de
Os maiores prejudicados com
e que tomou por base o documento Plano Pátria, elabo-
rado de próprio punho pelo Comandante Hugo Chávez
apoio do terrorismo patrocinado pelo império contra a Sí-
ria agora, ou de outros que sugerem que apenas a Alba é
os processos inflacionários
antes de se submeter às cirurgias que não evitaram sua
morte prematura. O documento tem uma visão estratégi-
confiável e por isso é preciso afastar-se do Brasil, da Ar-
gentina, da Rússia e da China, pois seriam “neoliberais
tendem a ser mesmo os
ca clara. A Venezuela e sua Revolução Bolivariana devem com retórica desenvolvimentista”, o presidente Nicolas trabalhadores e os setores de
construir alianças estratégicas com os países dos Brics Maduro, presente no Encontro, deixou clara sua lealda-
(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), deve pro- de a Chávez. Assumiu publicamente o compromisso com renda mais baixa da sociedade
curar uma coordenação ampla com o Irã (país que presi- aquela estratégia, priorizando a integração latino-ameri-
de o Movimento dos Não Alinhados), deve reforçar uma cana e a continuação da obra deixada, em especial a po-
cooperação destes blocos com o Mercosul, a Unasul, a Al- lítica social bolivariana, de atendimento às necessidades
ba e a Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos das massas mais pobres, da presença do Estado na plani- Alguns representantes do saudosismo da época da hege-
e Caribenhos). ficação e condução do país rumo ao socialismo. monia financista não medem palavras para afirmar aquilo
A lucidez com que governou o presidente Chávez refle- Não por acaso a Venezuela de hoje não tem mais anal- que realmente pensam. Além de pressionar para elevar a ta-
te-se madura neste documento. Afinal, para que a Vene- fabetos, paga o maior salário mínimo da America Latina e xa de juros, propõem que o caminho do “ajuste” passa ne-
zuela possa deixar de ser uma colônia petroleira, para que é o pais menos desigual da região. A Venezuela tem uma cessariamente pelas medidas recessivas. “Não tem jeito, vai
possa se industrializar, passar a ter economia agrícola, estratégia que deve ser referendada pelo voto popular no ter que demitir!” passou a ser um bordão que se mantém
desenvolver-se tecnologicamente, ser um país com satéli- dia 14 de abril. Este será o 17º pleito eleitoral em 14 anos na boca de parte dos consultores de bancos e demais insti-
tes, capacidade de defesa sem qualquer dependência dos de chavismo. Uma overdose de democracia e participação tuições do capital financeiro. O detalhe é que nenhum de-
EUA, é indispensável sim consolidar e aprofundar estas popular, o que nunca é demais. Mas tem também capaci- les coloca o seu cargo à disposição, como seria de se espe-
estratégias desenhadas no documento Plano Pátria. dade de defesa, afinal, o mundo não é para meigos. rar de quem deve oferecer o bom exemplo do caminho a ser
seguido. O sacrifício é sempre apresentado como uma me-
dida necessária e uma boa solução, desde que adotado pe-
Silvio Mieli lo seu vizinho.
A orientação da política monetária tem como referência
evitar o descontrole da inflação. Até aí, nada demais. Afi-
fatos em foco
da Redação
Declaração final do FSM denuncia povos do mundo padecem dos efeitos do das perdas sofridas pelos palestinos em
guerras e ocupações militares agravamento de uma profunda crise do decorrência das demolições em Jerusalém
Na declaração final do Fórum Social capitalismo, em que os bancos, transnacio- chegou a três milhões de dólares.
Mundial (FSM), celebrado na Tunísia, os nais, conglomerados midiáticos e governos
participantes do encontro anual do mo- buscam benefícios à custa de uma política As autoridades demoliram cerca de
vimento anticapitalista denunciaram as intervencionista. 25 mil casas na Palestina
guerras, ocupações militares e tratados De acordo com dados de organizações
neoliberais de livre comércio que afetam As violações israelenses contra o israelitas de direitos humanos, as autorida-
os povos do mundo. Pelo menos 4600 or- povo palestino nos últimos anos des da ocupação demoliram cerca de 25 mil
ganizações sociais, políticas e alternativas Um relatório de monitoramento divulga- casas na Palestina desde 1967, alertando
de 127 países participaram do FSM Tunísia do pelo Escritório Central de Estatísticas, para um aumento da frequência de “auto-
2013, que encerrou com a denúncia da no dia 28 de março, às vésperas do Dia demolições” de casas desde 2000, período
privatização dos bens sociais, redução dos da Terra, revela a lista de violações israe- em que 303 cidadãos foram obrigados a
direitos e agressões ao meio ambiente. No lenses contra o povo palestino e sua terra demolir as suas casas por conta própria,
documento, publicado dia 1º de abril, os nos últimos anos. O relatório apontou que assumindo, inclusive, os gastos para a
participantes do encontro destacaram que a ocupação israelense, de acordo com a execução. No ano de 2010, houve o maior
“os povos de todos os continentes trava- Fundação Almaqdisi, demoliu, de 2000 a percentual de “auto-demolição”, alcançan-
ram lutas em que fizeram oposição com 2012, cerca de 1.124 edifícios em Jerusa- do o número de 70 casos. No ano de 2009,
grande energia à dominação do capital, lém Oriental, o que resultou no desloca- houve 49 casos de demolição, e no ano de
que se esconde atrás da promessa de pro- mento de cerca de 4.966 civis da cidade, 2011, foram registrados 20 casos de auto-
gresso econômico e da suposta estabilidade incluindo 2586 crianças e 1.311 mulheres. demolição, enquanto no mesmo período,
política.” De acordo com a conclusão, os A pesquisa apontou também que o total em 2012, houve mais 14 casos.