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ABSTRACT
O presente artigo tem como finalidade analisar a actual orgânica da Bateria de Bocas de
Fogo e propor uma possível reorganização desta subunidade de Artilharia de Campanha
(AC).
A actual Doutrina enquadrante do emprego táctico da Btrbf, já data de 1988. Pelo que a
sua revisão é urgente, no entanto à priori de qualquer revisão, deve haver um debate sobre
o que missões se pretende que a principal subunidade da AC, venha a desempenhar no
futuro.
A organização que será proposta neste artigo, terá em conta a nova tipologia dos conflitos
militares, bem como a devida cautela de garantir a capacidade da Btrbf manter a
capacidade de executar aquela que será sempre a sua principal missão, fornecer fogos
letais em apoio da manobra da força.
1. INTRODUÇÃO
A actual estrutura da Bateria de Bocas de Fogo (Btrbf), organizada a seis Secções de
Bocas de Fogo (Secbf) tem permanecido praticamente inalterada nos exércitos ocidentais
desde o século XIX e apenas mais recentemente, se começou a ver algumas alterações e
adaptações desta orgânica.
Numa primeira fase, este artigo analisará as vantagens de manter esta configuração, ou
se por contrário, haverá a necessidade de a alterar, ou ainda se se deverá alterar a
organização da Bateria de Tiro. Esta análise, será feita à luz das capacidades
proporcionadas Pelotão novos materiais, munições e Sistemas Automáticos de Comando e
Controlo (SACC).
Numa segunda fase, serão analisadas as restantes Secções da Btrbf, será dada uma
particular atenção às Secções de Observadores Avançados (Sec OAv) e à necessidade
destas continuarem a integrar a Btrbf.
Tendo sido recentemente informado que se pretende rever o Manual MC 20 – 15
Bateria de Bocas de Fogo de Artilharia de Campanha, consideramos sera altura ideal para
ser abordada a temática da reestruturação da orgânica da Btrbf. Todo o trabalho
desenvolvido em prol da revisão deste manual, centrar-se-á, forçosamente, na orgânica da
Btrbf. Tendo esta premissa em atenção, torna-se Pelotão urgente debater se a actual
orgânica da Btrbf é capaz de cumprir as missões que se prevêem que esta subunidade de
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Artilharia venha a desempenhar no futuro.
Não nos devemos esquecer, que o novo Ambiente Operacional, tal como é definido no
PDE 2-00 Informações, prevê que a Força Opositora empregue não só tácticas simétricas,
mas também tácticas assimétricas. Na maioria das vezes, estes dois tipos de tácticas
serão usadas em conjunto para tentar obter vantagem sobre as nossas forças.
O novo Ambiente Operacional, tem como principal característica, ser disperso e ter
população civil que pode interferir na normal conduta das operações. Neste tipo de
ambiente, as unidades de Artilharia Pelotão ser chamadas a cumprir missões para as quais
a sua actual orgânica não está adequada.
2. A ORGÂNICA DA Btrbf
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A Btrbf, uma organização para os desafios do futuro
Outra alteração importante, tem a ver com a redução da Secção de Munições. Esta
Secção passa a dispor de uma viatura em lugar das duas que dispunha anteriormente. Se
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nas Btrbf das Unidades autopropulsadas esta alteração não implica uma grande limitação
de transporte de munições, pois as Secbf possuem uma viatura de munições, já nas Btrbf
rebocadas, o mesmo não é verdade. Com as Secções limitadas pelo limite de tonelagem
das suas viaturas, que têm de rebocar um obus, muitas vezes com um peso já no limite da
sua capacidade de carga, a capacidade de transporte de munições fica bastante reduzida.
Com uma munição de artilharia a pesar em torno de 55Kg (não esquecer as cargas e as
espoletas, mais a embalagem) uma viatura de 5ton fica limitada a transportar 91 munições.
Isto para toda a Btr, mas como é sabido, uma Taxa de Consumo Autorizado (TCA)2 normal,
anda em torno das 80 munições. Assim, é de fácil concluir que é impossível à Bateria
transportar toda a sua dotação de munições. Uma possível solução para este problema é
existir uma viatura de munições na orgânica das Secbf, o que numa Bateria rebocada,
eleva o numero de viaturas em um terço, sendo esta é a solução adoptada pelo Exército
Norte-Americano para as Baterias equipadas com o Obús M119. Neste caso, cada Secbf
dispõe de duas viaturas do tipo HMMWV.
As restantes alterações, verificam-se ao nível das funções de alguns elementos da
Bateria, nomeadamente: as funções de Sargento de Reabastecimentos e Sargento Auxiliar
do Comandante de Bateria de Tiro desaparecem . É criada a função de Sargento Auxiliar
do Adjunto do Comando com o Pelotão de 1Sarg.
Se o desaparecimento do Sargento de Reabastecimentos não causa grande transtorno,
pois a Btr perde a Secção de Reabastecimentos e todo o apoio de serviços, o mesmo não
é verdade para o Sargento Auxiliar do Comandante de Bateria de Tiro. Este elemento era
critico na Bateria de Tiro, pois era o Sargento com mais experiência na Btrtiro e era o
responsável pelo treino dos Comandantes de Secção.
O Sargento Auxiliar do Comandante de Bateria de Tiro, auxiliava o Comandante da
Bateria de Tiro na supervisão dos trabalhos das Secbf. Quando a frente da Btr se estende
com as distâncias regulamentares (50m entre bf, o que dá uma frente de 250m), torna-se
praticamente impossível ao Comandante BateriaTiro controlar todas as Secbf e
desengane-se quem pensa que o Sargento de Tiro auxilia nesta função ou pode mesmo
substituir o Sargento Auxiliar do Comandante de Bateria de Tiro, isto porque passará a
maior parte do seu tempo a acompanhar o Comandante de Bateria na execução dos
REOP3, só estando na posição o tempo suficiente para apontar as bf. Esta é uma
dificuldade que as unidades têm sentido em operações.
3. A PROPOSTA DE REORGANIZAÇÃO
O principal foco e finalidade deste artigo é exactamente a reorganização da Btrbf, pelo
que as razões que nos levam a propor uma reorganização são as seguintes:
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A Btrbf, uma organização para os desafios do futuro
• A actual orgânica da Btrbf é Pelotão flexível para a execução de tarefas que
não sejam execução tiro;
• O Comandante da Bateria de Tiro tem que controlar mais subunidades do que,
normalmente, é viável (recorda-se ao leitor que temos uma organização
ternária);
• Não é fácil encontrar posições onde se disponha de uma linha de vista para uma
frente de 250m;
• Apontar 6 bf demora tempo, pelo menos usando o método tradicional;
• Uma coluna com 6 bf é grande, consequentemente, difícil de controlar e de
ocultar (actualmente a coluna da Bateria de Tiro tem 12 viaturas);
• O Comandante de Bateria é responsável pelo planeamento administrativo
logístico da sua subunidade, desviando a atenção da sua missão principal, que
consiste em escolher posições para a Btr;
• A organização quando a Btrbf está em quartéis é diferente da aplicada em
operações, o que tem mais desvantagens do que à primeira vista possa parecer;
A actual orgânica da Btrbf, não lhe confere a flexibilidade para ser articulada de modo a
cumprir outras tarefas, que não sejam a execução de fogos de Artilharia. É claro que não
nos devemos esquecer que esta será sempre a sua principal missão. No entanto, a Força
Opositora Contemporânea, adopta muitas modalidades de acção, sendo que na sua
maioria elas são assimétricas, pelo que as nossas forças devem estar preparadas para
combater neste tipo de cenário. A Btrbf com a actual organização, é Pelotão flexível para
conseguir cumprir, por exemplo, tarefas de segurança e apoio de fogos em simultâneo e
este é o tipo de situações em que as Unidades de Artilharia se têm confrontado nos teatros
do Iraque e Afeganistão, onde normalmente apenas um Pelotão está em posição para
responder a pedidos de tiro e os restantes Pelotão nas normais tarefas de segurança ou de
escolta a colunas de viaturas.
A organização que propomos é a que se apresenta na Figura 4.
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A Btrbf, uma organização para os desafios do futuro
conforme a Figura 5, sendo estas posições previamente reconhecidas pelo Comandante
de Bateria. O Posto de Comando de Btr (PC Btr)/Centro de Operações de Bateria (COB),
fica colocado onde melhor conseguir controlar os Pelotão e onde for ideal para a
manutenção das comunicações com o Posto de Comando (PC) do GAC.
3.a. O Comando
O Comando da Btr é constituído pelo seu Comandante, pelo Adjunto do Comando (um
Sargento Ajudante) e pelo Sargento Auxiliar do Adjunto do Comando (um Primeiro
Sargento). Deve ter os meios necessários para o Comandante Btr exercer o C2 sobre os
Pelotões e manter a ligação com o PC/GAC. No que respeita a viaturas, o Comando da
Bateria deve ser reforçado com mais uma viatura (ver Tabela 1) e com os meios de
comunicações necessários a manter a ligação com o seu escalão superior e com as suas
subunidades.
Viatura Tipo
CmdtBtr ViatTacLig 4x4 c/guincho
Destacamento Reconhecimento ViatTacMed 4x4 c/guincho
COB ViatTacPC 4x4 ou VBTP PC
Tabela 1 - Viaturas da SecCmd da Btra
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Btr/COB. A sua principal responsabilidade é manter a escrituração da Btr em dia e
processar o fluxo de mensagens e relatórios efectuados pela Btr.
4 TACON – Controlo Táctico. Relação de Comando que pode ser atribuída a unidades militares.
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A Btrbf, uma organização para os desafios do futuro
simplificada. Por ouotro lado, as directivas sobre o ataque a objectivos que, eram uma
responsabilidade do ChPCT, passam a ser estabelecidas pelo ChPCT/GAC e difundidas às
Unidades de tiro através dos SACC5.
Na verdade, o PCT não desaparece, passa a ser comandado pelo Sargento Calculador,
sob a supervisão do Comandante de Pelotão e irá actuar como PC de Pelotão. Este PCT
deve estar treinado para executar o calculo manual do tiro. É de referir ainda, que o
condutor da viatura de PCT, deverá estar qualificado como Operador de SACC, de modo a
garantir a continuidade das operações com o Sargento Calculador e como Operador de
Prancheta.
O Sargento de Pelotão tem como principais responsabilidades o treino dos CmdtSecbf,
a supervisão do treino por estes ministrado às suas Secções e a supervisão da
manutenção dos materiais. Durante a execução do tiro verifica, se necessário, os
procedimentos adoptados pelos Comandantes de Secção. É igualmenteresponsável por
executar o diagrama de defesa imediata do Pelotão e de o enviar ao Adjunto do Comando
da Btr para integração.
No que respeita à organização das Secbf, estas variam consoante o material que as
equipa, sendo que as responsabilidades dos CmdtSec são as mesmas.
Uma outra situação que merece ser referida é a necessidade de que os condutores das
Secbf estejam habilitados com formação de Operador de Boca de Fogo. A situação mais
favorável, seria ter pelo menos dois serventes habilitados com a carta de condução de
categoria C+E. No caso das Secções AP, como será lógico, deve-se ter pelo menos dois
serventes com a qualificação de Condutor AP e Condutor de VBTP. O facto de ser terem
dois serventes com a capacidade de conduzir viaturas, é naturalmente compreensível pela
necessidade de substituir uma baixa em combate.
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O advento dos sistemas de comando e controlo (C2) automáticos, são mais um reforço
à ideia de que as SecOAv não devem de estar orgânicamente nas Baterias. Usando o
exemplo do sistema Advanced Field Artillery Tactical Data System (AFATDS), o Pedido de
Tiro (PT) sai da consola Forward Observer System (FOS) do OAv e entra na consola
AFATDS do OAF de Batalhão onde, de acordo com as orientações do Comandante, é
atribuído um meio de apoio de fogos para cumprir a missão. Este meio de apoio de fogos
não será, necessariamente, a Artilharia, sendo ainda menos provável que venha a ser a
Bateria à qual o OAv pertence organicamente.
Com o advento dos SACC, já não existe a necessidade de se ir avançando no calculo
dos elementos tiro pelo PCT da Btr. O grau de centralização de C2 é estabelecido através
das orientações introduzidas no sistema.
Quando processa um PT, o sistema irá filtrar e processar a informação relativa ao
objectivo, comparando-o com as orientações estabelecidas para o ataque a objectivos
determinadas durante o Processo de Decisão Militar (PDM) da Unidade de manobra. Estas
orientações são, também, fruto da aplicação do processo de Targeting durante o referido
PDM.
Sendo assim, levanta-se a questão de onde deverão as SecOAv ser colocadas.
Pensamos que quem melhor pode enquadrar as SecOAv, são as Secções de Apoio de
Fogos do EM/GAC. Neste momento, cada GAC dispõe de quatro Secções de ApFogos 7.
Uma Secção para o EAF da Brigada e três para destacar para as UEB. Estas Secções
apenas contemplam os elementos que são destacados para os EM das Unidades de
manobra e que integrarão os seus Elementos de Apoio de Fogos.
Há assim, todas as vantagens em que as Secções OAv estejam integradas nas
Secções de Apoio de Fogos com que vão trabalhar. O OAF pode conhecer e treinar as
suas Secções OAv, o que fomenta a criação de um espírito de corpo entre uma equipa que
trabalhará junta.
Assim, é proposto que as três Secções a destacar para as Unidades de Escalão
Batalhão (UEB), passem a ter a orgânica apresentada na Figura 6.
7 QO 24.0.04/24.0.14/24.0.24 de 29Jun09
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A Btrbf, uma organização para os desafios do futuro
5. CONCLUSÕES
Como conclusão deste artigo, podemos apontar que é necessário rever a orgânica da
Btrbf de modo a que esta possa cumprir com os desafios que se lhe apresentarão no
futuro.
A organização da Btr em Pelotões, confere a esta, a vantagem de ter a mesma
organização quer em quartéis, quer em operações, contribuindo este facto para que os
Comandantes Pelbf tenham um maior conhecimento dos seus homens e das suas
capacidades e limitações. Actualmente, a Btrbf, quando em quartéis, já se organiza
normalmente em Pelotões para melhor controlo do seu efectivos, recaindo o comando
desses Pelotões nos oficiais mais antigos da Bateria. Em algumas situações, são mesmo
os OAv. Em teoria, poder-se-ía dar o caso, em que o Comandante da BtrTiro, nem fosse
Comandante de Pelotão, o que faria com que, durante o dia a dia da Unidade este Oficial
não tivesse qualquer contacto com os homens que vai comandar em operações. Cremos
que esta situação deve ser evitada.
Acreditamos que a organização proposta, resolve este problema aparentemente
administrativo, mas que no entanto, pode ser bem prejudicial para a conduta das
operações.
Com a organização proposta, a Btrbf mantém a capacidade de executar fogos e se
necessário for, executar outro tipo de tarefas, com o devido C2 que permitirá o
cumprimento da missão. O treino sai igualmente beneficiado, porque o grau de supervisão
do treino dos Comandantes de Secbf é superior, uma vez que é mais fácil ao Comandante
de Pelotão e Sargento de Pelotão controlarem 3 Secções em vez de 6.
Acresce, ainda, que a organização da Btr estará sempre muito dependente do material
que a equipa, pelo que, qualquer alteração à actual organização da Btrbf, deverá ter em
consideração, em primeiro lugar, quais as capacidades do material com que vai ser
equipada.
Acreditamos, no entanto, que a organização proposta, é uma solução adaptável e muito
mais ajustada à realidade das operações nos actuais Teatros de Operações e que permite
igualmente, que a Btrbf seja empregue na realização de missões mais diversificadas
Bibliografia
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Exército Português (2009). PDE 2-20-00 INIMIGO.
Exército Português (2009). PDE 2-00 INFORMAÇÕES, CONTRA-INFORMAÇÃO E
SEGURANÇA.
FM 3.09-50 TTP for the FA Howitzer Battery (2004). FM 3.09-50 TTP for the Field
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References
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