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FONTE A

Discurso de posse do presidente estadunidense Franklin Delano Roosevelt a 4


de março de 1933.

Estou certo de que meus concidadãos americanos esperam que, por ocasião do
meu início na presidência, eu me dirija a eles com sinceridade e uma decisão que a atual
conjuntura do nosso país impõe.

Este é, entre todos, o momento de falar a verdade, toda a verdade, franca e


ousadamente. Nem precisamos esquivar-nos a enfrentar com honestidade as condições
que hoje imperam em nossa terra. Esta grande nação suportará, como já suportou, reviverá
e prosperará.

Por isso, primeiro que tudo, deixai-me afirmar minha sólida crença em que a única
coisa que devemos temer é o próprio medo - o terror sem nome, que não raciocina, não
se justifica, paralisa os esforços necessários para converter a retirada em avanço. Em todas
as horas escuras da nossa vida nacional uma liderança de fraqueza e vigor encontrou no
próprio povo a compreensão e o apoio essenciais à vitória. Estou convencido de que
voltareis a dar esse apoio à liderança nestes dias críticos.

Com tal espírito de minha parte e da vossa arrostaremos nossas dificuldades


comuns. Elas só dizem respeito, graças a Deus, a coisas materiais. Valores caíram para
níveis fantásticos; as taxas subiram; nossa capacidade de pagar degringolou; os governos
de todas as espécies fazem frente a uma séria redução da renda; os meios de troca estão
congelados nas correntes do comércio; as folhas murchas do empreendimento industrial
despencaram; os lavradores não encontram mercados para seus produtos; as poupanças
de muitos anos, em milhares de famílias, já se foram.

E o que é mais importante, grande quantidade de cidadãos desempregados vê


surgir à sua frente o problema sinistro da existência, e um número igualmente grande
labuta com escassa remuneração. Só mesmo um tolo otimista negaria as escuras
realidades do momento presente.

Nossa aflição, todavia, não vem de nenhuma falha essencial. Não nos assola
nenhuma praga de gafanhotos. Em face dos perigos que nossos antepassados tiveram de
vencer, porque acreditavam e não tinham medo, ainda temos muita coisa que agradecer.
A natureza ainda oferece seus frutos, que os esforços humanos multiplicaram. A
abundância está à nossa porta, mas o uso generoso dela se extenua à própria vista da
provisão. Isso acontece, em primeiro lugar, porque os que governam a troca dos bens da
humanidade falharam, mercê da própria teimosia e da própria incompetência, admitiram
o seu fracasso e abdicaram. As práticas dos inescrupulosos cambistas estão indiciadas no
tribunal da opinião pública, rejeitadas pelos corações e pelas mentes dos homens.

É verdade que tentaram, mas seus esforços foram moldados segundo o modelo de
uma tradição sediça. Diante da falência do crédito, só souberam propor novos
empréstimos.

Despidos do fascínio do lucro com que pretendiam induzir nosso povo a seguir-
lhes a falsa liderança, recorreram a exortações, implorando lacrimosamente a confiança
restaurada. Só conhecem as regras de uma geração de egoístas. Não têm visão, e quando
não há visão o povo perece.

Os cambistas fugiram de suas altas cadeiras no templo da nossa civilização.


Podemos agora devolver o templo às antigas verdades. À medida da restauração encontra-
se na extensão em que aplicamos os valores sociais mais nobres do que o simples lucro
monetário.

A felicidade não reside na mera posse do dinheiro; reside na alegria da realização,


na emoção do esforço criador. A alegria e a estimulação moral do trabalho já não devem
ser esquecidas na louca perseguição dos lucros evanescentes. Esses dias escuros valerão
tudo o que custaram se nos ensinarem que o nosso verdadeiro destino não consiste em
sermos socorridos senão em nos socorrermos e em socorrermos nossos semelhantes.

O reconhecimento da falsidade da riqueza material como padrão de êxito caminha


de mãos dadas com o abandono da crença falsa de que o cargo público e a alta posição
política devem ser avaliados apenas pelos padrões do orgulho do lugar e do lucro pessoal;
e é mister pôr fim a um proceder nas atividades bancárias e comerciais que têm dado a
uma fé sagrada o aspecto de um erro empedernido e egoísta...

A restauração, contudo, não requer apenas mudanças na ética. Esta Nação exige
ação, e ação imediata.

Nossa primeira e maior missão é fazer as pessoas trabalharem. O problema não


será insolúvel se o enfrentarmos com prudência e coragem.

Pode ser realizado, em parte, mediante o recrutamento direto feito pelo próprio
governo, tratando a empreitada como trataríamos a emergência de uma guerra mas, ao
mesmo tempo, através do emprego, levando a efeito projetos muitíssimos necessários
para estimular e reorganizar a utilização de nossos recursos naturais...

A tarefa pode ser ajudada por esforços definidos no sentido de elevar os valores
de produtos agrícolas e, com isto, o poder de compra da produção de nossas cidades. Pode
ser ajudada impedindo-se realisticamente a tragédia da perda crescente, através da
execução de hipotecas, de nossas pequenas propriedades e de nossas fazendas. Pode ser
ajudada pela insistência em que os governos federal, estaduais e locais ajam
imediatamente de acordo com a exigência de que o seu custo seja drasticamente reduzido.
Pode ser ajudada pela unificação das atividades de assistência, hoje espalhadas,
antieconômicas e desiguais. Pode ser ajudada pelo planejamento nacional e pela
supervisão de todas as formas de transporte e comunicações e de outras utilidades de
caráter definitivamente público. Há muitas maneiras com as quais ela pode ser ajudada,
mas nunca o será se nos limitarmos a falar. Precisamos agir, e agir depressa.

Finalmente, em nosso progresso para a retomada do trabalho, precisamos de duas


salvaguardas contra um retorno dos males da velha ordem; é preciso que haja uma
rigorosa supervisão de todas as atividades bancárias, de crédito e investimentos; é preciso
que acabe a especulação com o dinheiro dos outros, e é preciso que haja provisão de uma
moeda adequada, mas sólida.

Estas são as linhas de ataque. Em breve solicitarei de um novo Congresso, em


sessão especial, providências pormenorizadas para pô-las a funcionar, e buscarei a
assistência imediata dos diversos Estados.

Através deste programa de ação nós nos consagraremos à missão de colocar em


ordem nossa casa nacional e restabelecer o equilíbrio de nossas entradas e saídas...

Sou a favor, como método prático de ação, de colocar em primeiro lugar as


primeiras coisas. Não pouparei esforços para restaurar o comércio mundial pelo
reajustamento econômico internacional, mas a emergência nacional não pode esperar tal
realização.

O pensamento básico que orienta esses meios específicos de recuperação nacional


não é estreitamente nacionalístico. É a insistência, como primeira consideração, na
interdependência dos vários elementos e partes dos Estados Unidos - um reconhecimento
da manifestação antiga e permanentemente importante do espírito americano do pioneiro.
É o caminho da recuperação. É o caminho imediato. É a mais robusta garantia de que a
recuperação persistirá.

No campo da política mundial eu dedicaria esta Nação à política da boa vizinhança


- do vizinho que resolutamente se respeita e, porque assim procede, respeita os direitos
dos outros - do vizinho que respeita suas obrigações e respeita a santidade dos seus
acordos num mundo de vizinhos.

Se interpreto corretamente o temperamento do nosso povo, agora


compreendemos, como nunca o fizemos antes, nossa interdependência uns dos outros;
que não podemos apenas tomar mas também precisamos dar; que se quisermos ir para a
frente precisamos marchar como um exército treinado e leal disposto ao sacrifício para o
bem de uma disciplina comum, porque sem essa disciplina não se faz progresso algum,
nenhuma liderança se torna eficaz. Sei que estamos prontos para submeter nossas vidas e
propriedades a tal disciplina, e desejosos de fazê-lo, porque ela torna possível uma
liderança que visa a um bem maior. É o que me proponho oferecer, garantindo que os
propósitos mais amplos nos unirão a todos, como obrigação sagrada, com uma unidade
de dever até agora só evocada em épocas de luta armada.

Assumindo esse compromisso, assumo sem hesitar a liderança do grande exército


do nosso povo, dedicado a um ataque disciplinado aos nossos problemas comuns.

A ação nesta imagem e com este fim é factível na forma de governo que herdamos
de nossos maiores. Nossa Constituição é tão simples e prática que sempre se pode
satisfazer a necessidades extraordinárias com mudanças de ênfase e de arranjo sem perda
da forma essencial. Foi por isso que o nosso sistema constitucional se revelou o
mecanismo político mais soberbamente durável que o mundo moderno já produziu.
Enfrentou todas as tensões de uma vasta expansão do território, de guerras estrangeiras,
de renhida luta interna, de relações internacionais.

Espera-se que o equilíbrio normal da autoridade executiva e legislativa seja


totalmente adequado a enfrentar a tarefa sem precedentes que se nos antolha. Mas pode
ser que uma exigência sem precendentes e necessidade de ação imediata exija um desvio
temporário desse equilíbrio normal de procedimento público.

Estou preparado, no cumprimento do meu dever constitucional, para recomendar


as medidas que pode requerer uma nação ferida no meio de um mundo ferido. E com
minha autoridade constitucional, procurarei adotar sem demora essas medidas, ou outras
que o Congresso, estribado em sua experiência e sabedoria, venha sugerir.

Mas se, porventura, o Congresso deixar de seguir um desses dois caminhos, e se


a emergência nacional ainda for crítica, não fugirei ao claro curso do dever que terei diante
de mim. Pedirei ao Congresso o único instrumento que me restará para enfrentar a crise -
amplo poder executivo, tão amplo quanto o que me seria de fato concedido se fôssemos,
de fato, invadidos por um inimigo estrangeiro.

À confiança que me for concedida responderei com a coragem e a devoção que a


ocasião exigir. Não poderei fazer por menos.

Enfrentaremos os árduos dias que nos esperam na quente coragem da unidade


nacional; com a clara consciência de estar procurando antigos e preciosos valores morais;
com a limpa satisfação que vem do severo cumprimento do dever tanto por parte dos
velhos quanto dos jovens. Colimamos a segurança de uma vida nacional perfeita e
permanente.

Não duvidamos do futuro da democracia essencial. O povo dos Estados Unidos


não falhou. Em sua necessidade, mostrou que quer ação direta, vigorosa. Pediu disciplina
e direção debaixo de uma liderança. Fez-se o atual instrumento dos seus desejos. Com o
espírito da dádiva, aceito-a. Nessa dedicação de uma Nação pedimos humildemente as
bênçãos de Deus. Possa Ele proteger cada um de nós e todos nós. Possa Ele guiar-me nos
dias que virão.

http://xoomer.virgilio.it/leonildoc/e-gov55.htm

FONTE B

Discurso de Buenaventura Durruti Dumange, transmitido em Barcelona no dia


4 de novembro de 1936.

Trabalhadores da Catalunha:

Dirijo-me ao povo catalão, a esse povo generoso que há quatro meses soube
derrotar a barreira dos militarezinhos que queriam submetê-los sob suas botas. Trago a
vocês saudações dos irmãos e colegas que lutam na frente de Aragão a alguns quilômetros
de Zaragoza, e que estão vendo as torres da Pilarica.
Apesar da ameaça que se fecha sobre Madri, deve-se lembrar que há um povo em
pé e, por nada do mundo, retrocederá. Resistiremos na frente de Aragão, contra as hordas
fascistas aragonesas, e dirigimo-nos aos irmãos de Madri para lhes dizer que resistam,
pois os milicianos da Catalunha saberão cumprir com seu dever, como quando se
lançaram às ruas de Barcelona para esmagar o fascismo. As organizações operárias não
podem esquecer qual deve ser o dever imperioso dos momentos atuais. Na frente, como
nas trincheiras, há um pensamento, só um objetivo. Olha-se fixamente, olha-se para
frente, apenas com o propósito de esmagar o fascismo.

Pedimos ao povo da Catalunha que ponham fim às intrigas, às lutas internas; que
se ponham à altura das circunstâncias; deixem as desavenças e a política de lado e pensem
na guerra. O povo da Catalunha tem o dever de corresponder aos esforços dos que lutam
na frente. Não haverá mais remédio além da mobilização de todos; e que não achem que
se têm que mobilizar sempre os mesmos. Se os trabalhadores da Catalunha têm de assumir
a responsabilidade de estar na frente, chegou o momento de exigir do povo catalão o
sacrifício também dos que vivem nas cidades. É necessária uma mobilização efetiva de
todos os trabalhadores da retaguarda, porque os que já estamos na frente queremos saber
com que homens contamos por trás de nós.

Dirijo-me às organizações e peço-lhes que deixem de rixas e de artimanhas. Os da


frente pedimos sinceridade, sobretudo à Confederação Nacional do Trabalho e FAI.
Pedimos aos dirigentes que sejam sinceros. Não é suficiente que nos enviem cartas ao
fronte nos alentando e que nos enviem roupa, comida, cartuchos e fuzis. É necessário
também levar as circunstâncias em consideração, prever o amanhã. Esta guerra tem todos
os agravantes da guerra moderna e está custando muito à Catalunha. Os dirigentes têm
que perceber que se esta guerra se prolongar muito, será necessário começar a organizar
a economia da Catalunha, deve-se estabelecer um Código na ordem econômica. Não estou
disposto a escrever mais cartas para que os colegas ou o filho de um miliciano comam
um pedaço de pão ou tomem mais um copo de leite, enquanto existem conselheiros que
não têm freios para comer e gastar. Dirigimos-nos à CNT-FAI para dizer-lhes que se
controlam a economia da Catalunha como organização, devem organizá-la como é
devido. E que não pense ninguém agora em aumentos de salários e em reduções de horas
de trabalho. O dever de todos os trabalhadores, especialmente os da CNT, é o de se
sacrificarem, trabalhar o que falta.
Se é verdade que se luta por algo superior, isso o demonstrarão os milicianos que
ruborizam quando veem na imprensa as assinaturas a seu favor, quando veem os pasquins
numa campanha de socorro em seu nome. Os aviões fascistas atiram-nos em suas visitas
jornais nos quais podem se ler listas de assinaturas para os que lutam, nem mais nem
menos que fazem vocês. Por isto temos que lhes dizer que não somos mendigos e,
portanto, não aceitamos a caridade sob nenhum aspecto. O fascismo representa e é,
efetivamente, a desigualdade social, se não querem que os que lutamos confundamos
vocês, os da retaguarda, com nossos inimigos, cumpram com vosso dever. A guerra que
fazemos atualmente serve para derrotar o inimigo na frente, mas este é o único? Não. O
inimigo é também aquele que se opõe às conquistas revolucionárias e que se encontra
entre nós e a quem derrotaremos da mesma forma.

Se querem atalhar o perigo, deve ser formado um bloco de granito. A política é a


arte da artimanha, a arte de viver [como zangões], e esta deve ser substituída pela arte do
trabalho. Chegou o momento de convidar às organizações sindicais e aos partidos
políticos para que isto termine de uma vez. Na retaguarda, é preciso saber administrar. Os
que estamos na frente queremos uma responsabilidade e uma garantia atrás e exigimos
que sejam as organizações as que velem por nossas mulheres e nossos filhos.

Se essa militarização decretada pelo generalato é para nos meter medo e para nos
impor uma disciplina de ferro, enganaram-se. Os conselheiros estão equivocados com o
decreto de militarização das milícias. Já que falam de disciplina de ferro, digo a vocês
que venham comigo à frente. Ali estamos os que não aceitamos nenhuma disciplina,
porque somos conscientes no cumprimento de nosso dever. E verão nossa ordem e nossa
organização. Depois viremos a Barcelona e perguntaremos a vocês sobre sua disciplina,
sua ordem e seu controle, inexistentes.

Estejam tranquilos. Na frente não há nenhum caos, nenhuma indisciplina. Todos


somos responsáveis e conhecemos o tesouro que nos confiaram. Durmam tranquilos. Mas
nós saímos da Catalunha confiando a Economia a vocês. Responsabilizem-se,
disciplinem-se. Não provoquemos, com nossa incompetência, depois desta guerra, outra
guerra civil entre nós.

Se cada qual pensa que seu partido é mais forte para impor sua política, está
equivocado, porque frente à tirania fascista só devemos opor uma força, só deve existir
uma organização, com uma disciplina única.
Por nada do mundo aqueles tiranos fascistas passarão por onde estamos. Esta é a
consigna da frente. A eles lhes dizemos: "Não passarão!". E a vocês corresponde gritar:
"Não passarão!"

https://es.wikisource.org/wiki/Discurso_del_4_de_noviembre_de_1936_(Buena
ventura_Durruti)

FONTE C

Discurso de Benito Mussolini a 3 de janeiro de 1925.

Senhores!

O discurso que estou prestes a fazer diante de vocês talvez possa não ser, estritamente
falando, classificado como um discurso parlamentar. Pode ser que, no final, alguns de
vocês considerem que esse discurso esteja ligado, ainda que por meio do tempo decorrido,
ao que eu dissera nesta assembleia a 16 de novembro. Um discurso deste gênero pode
levar ou não a um voto político. Sabemos, porém, que eu não tento tornar isso um comício
político. Eu não quero: já tive muitos. O artigo 47 do Estatuto diz: "A Câmara dos
Deputados tem o direito de acusar ministros do rei e levá-los perante o Supremo Tribunal
de Justiça". Pergunto formalmente se nesta Câmara, ou fora dela, existe alguém que
queira aplicar o artigo 47. Meu discurso vai ser tão claro e objetivará um esclarecimento
absoluto.

Vocês sugerem que mesmo depois de termos caminhado por tão longo tempo com
companheiros de viagem, a quem sempre devemos a nossa gratidão, seria necessário parar
para saber se a mesma trilha poderá ser percorrida no futuro? Sou eu, senhores, que devo
levantar nesta assembleia a acusação contra mim. Foi dito que eu fundei uma Cheka.
Onde? Quando? De que maneira? Ninguém poderia dizer! Na verdade, houve uma Cheka
na Rússia, que executou, sem julgamento, 150 a 160 mil pessoas, de acordo com
estatísticas quase oficiais. Houve uma Cheka na Rússia, que exerceu terror
sistematicamente contra toda a classe burguesa e membros individuais da burguesia. A
Cheka, que dizia ser a espada vermelha da revolução. Mas a Cheka italiana nunca existiu.
Ninguém me negou até agora estas três qualidades: uma boa inteligência, coragem e um
desprezo soberano ao vil dinheiro.
Se eu tivesse fundado uma Cheka, eu teria fundado seguindo os critérios que eu sempre
pus em prática para controlar a violência que não pôde ser contida da história. Eu sempre
disse, e aqui recordamos aqueles que me seguem, nos últimos cinco anos de árdua luta,
que a violência, para ser efetiva, deve ser cirúrgica, inteligente, cavalheiresca. Agora, as
ações dessa chamada Cheka são sempre burras, sem compostura, estúpidas.

Agora, alguém poderia cogitar que no dia seguinte ao Natal, momento em que todas as
almas estão conduzidas a pensamentos piedosos e bons, eu poderia ter ordenado um
ataque às l0 da manhã na Via Francesco Crispi, em Roma, depois do meu discurso em
Monterotondo, o mais conciliador em dois anos de governo? Não me considerem assim
tão estúpido! E teria ainda tramado com a mesma inteligência as agressões menores de
Misuri e Forni? Seguramente todos se recordam do discurso de 1 de junho. Talvez seja
mais fácil voltar a esse momento de paixões políticas acaloradas, quando, nesta Câmara,
a minoria e a maioria se enfrentavam diariamente, momento em que todos estávamos
desesperados para poder estabelecer os termos necessários para uma coexistência política
e civil entre as duas partes opostas da Câmara.

Eram discursos irritantes dos dois lados. Finalmente, a 6 de junho, o honorável [Carlo]
Delcroix rompeu, com seu discurso lírico, cheio de vida e forte paixão, a atmosfera
carregada e tormentosa.

No dia seguinte, fiz um discurso que iluminou totalmente o ambiente. Disse à oposição:
reconheço seu direito ideal e também seu direito contingente; vocês podem superar o
fascismo como experiência histórica e submeter todas as disposições do governo fascista
a críticas imediatas.

Recordo-me e ainda guardo em meus olhos a visão desta parte da Câmara, onde todos
sentiram nesse momento que eu tinha pronunciado profundas palavras de vida e tinha
estabelecido os termos da coabitação necessária sem a qual nenhum tipo de assembleia
política é possível.

E como eu poderia, depois de um sucesso, e me permito dizê-lo sem falsa modéstia ou


maiores pudores, depois de um sucesso tão retumbante que foi admitido por toda a
Câmara (incluindo a oposição!), a qual abriu na quarta-feira seguinte em um ambiente
idílico, quase de sala de estar, como eu poderia pensar, sem estar profundamente louco,
não só em ter cometido um crime, mas mesmo o delito mais singelo, o mais simples
arranhão contra aquele adversário que eu estimava apenas porque ele tinha um certo
descuido que às vezes lembrava a minha própria coragem e minha obstinação em
sustentar as teses?

O que devo fazer? Alguns cérebros de críquete exigiram de mim naquela ocasião gestos
de cinismo, que eu não queria empregar porque repugnavam as profundezas de minha
consciência. Ou gestos de força? Que força? Contra quem? Para qual finalidade?
Quando penso nesses senhores, lembro-me daqueles estrategistas que, durante a guerra,
enquanto nós comíamos nas trincheiras, faziam a estratégia com os alfinetes no mapa.
Mas quando se trata de casos concretos, no lugar de comando e responsabilidade, vemos
as coisas sob outro raio e em um aspecto diferente.

No entanto, perdi oportunidades de mostrar minha energia. Eu ainda não fui inferior aos
eventos. Liquidei uma insurreição da Guarda Real em doze horas, contive uma revolta
insidiosa em poucos dias e conduzi uma divisão de infantaria e meia frota a Corfu em
quarenta e oito horas.

Esses gestos de energia, e os últimos, que até surpreenderam um dos maiores generais de
uma nação amiga, demonstram que não é a energia que falta no meu espírito.
Pena de morte? Mas que piada, senhores! Antes de tudo, terá que ser introduzida no
Código Penal a pena de morte; e então, no entanto, a pena de morte não pode ser a
represália de um governo. Deve ser aplicada depois de um julgamento regular, na verdade
muito regular, quando se trata da vida de um cidadão!

Foi no final daquele mês, daquele mês profundamente marcante na minha vida, que eu
disse: "Quero que haja paz para o povo italiano"; e eu queria estabelecer a normalidade
da vida política.

Mas que resposta obtive com este meu princípio? Primeiro, a secessão do Aventino, uma
secessão anticonstitucional claramente revolucionária. Depois, uma campanha
jornalística que durou os meses de junho, julho e agosto, uma campanha imunda e
miserável que nos desonrava por três meses. As mais fantásticas, as mais macabras, as
mais escabrosas mentiras foram amplamente afirmadas em todos os jornais! Havia de fato
um acesso de necrofilia! Houve também inquisição do que acontece abaixo do solo:
inventava-se, sabia-se que se tratavam de mentiras, mas mentia-se.

E fiquei quieto, calmo, no meio dessa tempestade, que será lembrada por aqueles que vêm
atrás de nós com uma íntima sensação de vergonha.
E enquanto isso, há um resultado dessa campanha! No dia 11 de setembro, alguém quer
vingar os mortos e dá um tiro em um de nossos melhores, que morreu pobre. Ele tinha
sessenta liras no bolso.

No entanto, continuo no meu esforço de normalização e normalidade. Eu rejeito a


ilegalidade. Não é mentira. Não é mentira que ainda existem centenas de fascistas nas
prisões hoje!

Não é mentira que o Parlamento tenha sido reaberto regularmente na data fixada e que
todos os orçamentos são discutidos com igual regularidade, o juramento da milícia não é
mentira, e a nomeação de generais para todos os comandos da Zona não é mentira.
Finalmente, nos deparamos com uma questão que nos surpreendeu: o pedido de
autorização para ser encaminhada a consequente renúncia da Honorável Junta.

A Câmara pressiona; eu entendo o significado dessa revolta; no entanto, depois de


quarenta e oito horas, volto-me mais uma vez, valendo-me de meu prestígio, de minha
ascendência, volto-me a esta assembleia intempestiva e relutante e digo: a renúncia será
aceita. Nós aceitamos. Ainda não é o suficiente; eu faço um último gesto pacificador: o
projeto de reforma eleitoral.

Diante de tudo isso, como vocês me respondem? Sim. Respondem com uma
intensificação da campanha. Dizem que o fascismo é uma horda de bárbaros que
acamparam na nação; é um movimento de bandidos e saqueadores! A questão moral
ocorre e conhecemos a triste história das questões morais na Itália.

Mas então, senhores, que borboletas vamos procurar sob o arco de Tito? Bem, eu declaro
aqui, na presença desta Assembleia e na presença de todo o povo italiano, que eu assumo,
sozinho, a responsabilidade política, moral e histórica por tudo o que aconteceu.

Se as frases não tão bem articuladas já são suficientes para sentenciar um homem à forca,
abaixo ao mastro e abaixo à corda! Se o fascismo não passa de óleo de rícino e cassetete,
e não uma paixão soberba do melhor da juventude italiana, eu sou o culpado!

Se o fascismo é uma associação criminosa, eu sou o chefe dessa associação criminosa!


Se toda a violência foi resultado de um clima histórico, político e moral específico, eu
sou responsável por isso, porque criei esse clima histórico, político e moral com uma
propaganda que veio da intervenção até hoje.
Nestes últimos dias não só os fascistas, mas muitos cidadãos se perguntaram: existe um
governo? Existem homens ou fantoches? Os homens que estão aí têm dignidade de
homens? E eles ainda têm um governo?

Eu deliberadamente desejava que as coisas atingissem aquele ponto extremo. Estes


últimos seis meses, em particular, enriqueceram minha experiência de vida: eu testei o
Partido. E, assim como é preciso bater com um martelo para sentir o temperamento de
certos metais, eu senti o temperamento de alguns homens, eu vi o que eles valem e por
que razões em um determinado momento, quando o vento é traiçoeiro, eles fugiram pela
tangente.

Eu me testei e vejo que não teria recorrido a essas medidas se os interesses da nação não
tivessem entrado em ação. Mas um povo não respeita um governo que se deixa difamar!
O povo quer espelhar sua dignidade na dignidade do governo, e as pessoas, antes mesmo
de eu dizer, disseram: Chega! Estamos fartos disto!

E por que ficaram fartos? Porque a expedição do Aventino tem um fundo republicano!
Esta sedição do Aventino teve consequências porque hoje na Itália, quem é um fascista
ainda arrisca sua vida! E só nos dois meses de novembro e dezembro, onze fascistas foram
mortos, um deles teve a cabeça esmagada a ponto de ser reduzido a um hospedeiro
ensanguentado, e outro, um idoso de setenta e três anos, foi morto e jogado contra uma
parede.

Então, três incêndios ocorreram em um mês, incêndios misteriosos, incêndios nas


ferrovias e nos mesmos armazéns em Roma, Parma e Florença.

Depois, um despertar subversivo, em linhas gerais, que eu registro aqui, porque é


necessário registrar, relatado pelos jornais, os jornais de ontem e de hoje: um chefe de
milícia seriamente ferido pelos subversivos em Genzano; uma tentativa de assalto à sede
da Fascio em Tarquinia; um fascista ferido por subversivos em Verona; um soldado da
milícia ferido na província de Cremona; fascistas feridos por subversivos em Forlì;
emboscada comunista em San Giorgio di Pesaro; subversivos cantando Red Flag e
atacando os fascistas em Monzambano.

Somente nos três dias de janeiro de l925, e em apenas uma área, houve incidentes em
Mestre, Pionca, Vallombra: cinquenta subversivos armados com rifles percorreram a
aldeia, cantando a Bandeira Vermelha e explodindo fogos de artifício; em Veneza, o
miliciano Pascai Mario foi atacado e ferido; em Cavaso de Treviso, outro fascista é ferido;
em Crespano, o quartel dos carabineiros é invadido por um bando de mulheres
desordeiras; um capomanipolo [tenente miliciano] atacado e atirado na água em Favara
de Veneza; fascistas atacados por subversivos no Mestre; em Pádua, outros fascistas
atacados por subversivos. Chamo sua atenção para isso, porque isso é um sintoma: a pedra
é sempre lançada por estes subversivos a partir de suas janelas quebradas; em Moduno di
Livenza, um capomanipolo foi atacado e espancado.

Vocês veem a partir desta situação que a sedição do Aventino teve profundas repercussões
em todo o país. Então vem o momento em que se diz “Basta”! Quando dois elementos
estão lutando e são irredutíveis, a solução é a força. Nunca houve outra solução na história
e nunca vai haver.

Agora me atrevo a dizer que o problema será resolvido. O fascismo, o governo e o partido
estão em pleno funcionamento.

Senhores!

Vocês tiveram ilusões! Vocês acreditavam que o fascismo acabara porque eu o contive,
que ele morreu porque eu o castiguei e então eu também tive a crueldade de dizê-lo. Mas
se eu colocar a centésima parte da energia que eu coloco em contê-lo para libertá-lo, então
vocês iriam ver só...

Não haverá necessidade disso, porque o governo é forte o suficiente para esmagar
completamente a sedição do Aventino. A Itália, senhores, quer paz, quer tranquilidade,
quer calma laboriosa.

Nós entregaremos esta tranquilidade, esta calma industriosa à nação com amor, se
possível, e pela força, se necessário.

Tenham certeza de que nas quarenta e oito horas seguintes ao meu discurso, a situação
será resolvida em toda a área. Todos sabemos que o que tenho em mente não é uma atitude
caprichosa, não é a luxúria do governo, não é uma paixão ignóbil, mas é apenas um amor
ilimitado e poderoso pelo país.

https://it.wikisource.org/wiki/Italia_-_3_gennaio_1925,_Discorso_sul_delitto_Matteotti
FONTE D

Tratado de Versalhes

Artigo 42 — A Alemanha está proibida de manter ou construir quaisquer


fortificações, seja na margem esquerda do Reno, seja na rnargem direita, à oeste de uma
linha traçada 50 quilômetros a leste do Reno...

Artigo 45 — Como compensação da destruição das minas de carvão ao norte da


França e como pagamento parcial da reparação total devida pela Alemanha, pelos danos
resultantes da guerra, a Alemanha cede à França a posse total e absoluta, com direitos
exclusivos de exploração, desimpedidos e livres de todas as dúvidas e despesas de
qualquer tipo, as minas de carvão situadas na Bacia do Sarre…

Artigo 49 — Na função de depositária, a Alemanha renuncia, a favor da Liga


das Nações, ao governo do território definido acima.

Ao fim de quinze anos de ter sido posto em vigor o atual tratado, os habitantes
do dito território serão chamados a indicar sob que soberania desejam ser colocados...

[Artigo 51, prefácio] — As Altas Partes Contratantes, reconhecendo a obrigação


moral de corrigir o mal praticado pela Alemanha em 1871, tanto aos direitos da França
quanto aos desejos da população da Alsácia e da Lorena, separadas de seu país, apesar
do protesto solene de seus representantes na Assembleia de Bordeaux, concordam
quanto aos seguintes artigos:

Artigo 51 — Os territórios que foram cedidos à Alemanha, de acordo com as


Preliminares da Paz, assinados em Versalhes em 26 de fevereiro de 1871 e o Tratado de
Frankfurt de 10 de maio de 1871, voltaram ao domínio francês, a partir da data do
Armistício de 11 de novembro de 1918.

Serão restauradas as condições dos Tratados que estabelecem a delimitação das


fronteiras antes de 1871…

Artigo 80 — A Alemanha reconhece e respeitará rigorosamente a independência


da Áustria, dentro das fronteiras que podem ser fixadas num Tratado entre aquele
Estado e o Aliado Principal e as Potências Associadas; concorda em que esta
independência será inalienável, a não ser com o consentimento do Conselho da Liga das
Nações.
Artigo 81 — A Alemanha, de conformidade com a ação já realizada pelas
Potências Aliadas e Associadas, reconhece a independência do Estado Tchecoslovaco,
que incluirá o território autônomo dos Rutenianos, ao sul dos Carpatos. Com isso, a
Alemanha reconhece as fronteiras deste Estado, como determinadas pelo Aliado
Principal e as Potências Associadas e os outros Estados interessados…

Artigo 87 — A Alemanha, de acordo com a ação já adotada pelas Potências


Aliadas e Associadas, reconhece a completa independência da Polônia…

Artigo 89 — A Polônia incumbe-se de conceder liberdade de trânsito a pessoas,


bens, navios, transportes, comboios e correios em trânsito entre a Prússia Oriental e o
restante da Alemanha, através do território polonês, inclusive das águas territoriais, e
tratá-los pelo menos tão favoravelmente quanto as pessoas, bens, navios, transportes,
comboios e correios respectivamente de nacionalidade polonesa ou outras mais
favorecidas.

Artigo 102 — O Aliado Principal e as Potências Associadas propõem-se a


estabelecer a cidade de Danzig, junto com o restante do território descrito no Artigo
100, como uma Cidade Livre. Ela será colocada sob a proteção da Liga das Nações…

Artigo 116 — A Alemanha reconhece e concorda em respeitar a independência


permanente e inalienável de todos os territórios que fazem parte do antigo Império
Russo, em 1 de agosto de 1914.

...A Alemanha aceita definitivamente a revogação dos Tratados de Brest Litovsk


e de todos os outros tratados, convenções e acordos de que participou com o Governo
Maximalista [Bolchevista] na Rússia.

As Potências Aliadas e Associadas reservam-se formalmente os direitos da


Rússia obter da Alemanha a restituição e preparação baseada nos princípios do presente
Tratado...

Artigo 119 — A Alemanha renuncia em favor do Principal Aliado e das


Potências Associadas todos os seus direitos e títulos sobre as possessões de ultramar…

Artigo 159 — As forças militares alemãs serão desmobilizadas e reduzidas como


se prescreve adiante.
Artigo 160 — Numa data que não deve ser posterior a 31 de março de 1920, o
Exército Alemão não deve compreender mais que sete divisões de infantaria e três
divisões de cavalaria.

Depois daquela data, o número total de efetivos no Exército dos Estados que
constituem a Alemanha, não deve exceder de cem mil homens, inclusive oficiais e
estabelecimentos de depósitos. O exército dedicar-se-á exclusivamente à manutenção da
ordem dentro do território e ao controle das fronteiras.

A força efetiva total de oficiais, inclusive o pessoal administrativo, qualquer que


seja sua composição, não deve exceder de quatro mil…

Artigo 198 — As forças armadas da Alemanha não devem incluir quaisquer


forças militares ou navais...

Artigo 231 — Os Governos Aliados e Associados afirmam e a Alemanha aceita


a sua responsabilidade e de seus Aliados por ter causado todas as perdas e prejuízos a
que os Aliados e Governos Associados e seus membros foram sujeitos como uma
consequência da guerra, imposta a eles pela agressão da Alemanha e de seus aliados.

Artigo 232 — Os Governos Aliados e Associados reconhecem que os recursos


da Alemanha não são adequados, depois de levar em conta as diminuições permanentes
desses recursos, que resultarão de outros itens deste Tratado, para realizar a indenização
completa por todas essas perdas e danos.

Os Governos Aliados e Associados, contudo, exigem e a Alemanha promete que


fará compensações por todos os danos causados à população civil das Potências Aliadas
e Associadas e a sua propriedade durante o período de beligerância de cada uma, como
uma Potência Aliada ou Associada contra a Alemanha...

Artigo 233 — A quantidade do dano acima pela qual deve ser feita compensação
pela Alemanha será determinada por uma Comissão Interaliada…

Esta Comissão considerará as condições e dará ao Governo Alemão uma


oportunidade justa de ser ouvido.

Os resultados da Comissão, quanto à quantidade de danos definidos como acima,


serão concluídos e notificados ao Governo Alemão em 1 de maio de 1921 ou antes,
como representando a extensão das obrigações daquele governo...
Artigo 234 — Depois de 1° de maio de 1921, de tempos em tempos, a Comissão
de Reparação considerará os recursos e a capacidade da Alemanha e, depois de dar uma
oportunidade justa a seus representantes, de serem ouvidos terá o arbítrio de adiar a
data, e modificar a forma de pagamentos, como devem ser fornecidos de acordo com o
artigo 233; mas não para cancelar uma parte, a não ser com a autoridade específica dos
diversos governos representados na Comissão...

Artigo 428 — Como fiança pela execução do presente Tratado Pela Alemanha, o
território alemão situado à oeste do Reno, junto às cabeças de ponte, será ocupado pelas
tropas Aliadas e Associadas por um período de quinze anos, a partir da entrada em vigor
do presente Tratado…

Artigo 431 — Se antes da expiração do período de quinze anos a Alemanha


cumprir com todas as promessas resultantes do atual Tratado, as forças de ocupação
serão retiradas imediatamente.

Fenton, Edwin. 32 Problemas na História Universal. São Paulo, Edart, 1975, pp. 134-
135.

FONTE E

O último panfleto1

Colegas universitários!

Nosso povo está estarrecido diante da queda dos homens de Stalingrado. A genial
estratégia daquele que foi cabo na primeira guerra mundial 2 lançou, inútil e
irresponsavelmente, trezentos e trinta mil homens alemães à morte e à perdição. Führer,
nosso muito obrigado!3

Há sinais claros de efervescência no povo alemão: queremos continuar confiando


o destino de nossos exércitos a um diletante? Queremos sacrificar o resto de nossa

1
Panfleto integralmente redigido pelo Prof. Huber e direcionado aos estudantes universitários de
Munique.
2
“Weltkriegsgefreite”: segundo Siefken (1994: 53) e Huber (2009:109), a referência é ao fato de
Hitler ter sido cabo na primeira guerra mundial. No início da Segunda Guerra ele vestiu seu uniforme de
cabo e exigiu que o povo alemão se sacrificasse agora da mesma forma que ele se sacrificara.
3
“Führer, wir danken dir!” era uma forma de agradecimento constante nas grandes festividades
nazistas (cf. Siefken 1994: 53)
juventude alemã aos mais baixos instintos de uma corja partidária? Nunca mais! Chegou
o dia de acertar as contas: do acerto de contas da juventude alemã com a Tirania mais
execrável que nosso povo já suportou. Em nome de todo o povo alemão, exigimos que o
Estado de Adolf Hitler nos devolva a liberdade pessoal, o bem mais precioso dos alemães,
que ele nos roubou da maneira mais deplorável possível.

Crescemos em um Estado em que toda a livre expressão da opinião foi


amordaçada sem escrúpulos. A Juventude Hitlerista, a SA e a SS tentaram nos
uniformizar, nos remodelar e nos anestesiar nos anos de formação mais fecundos de
nossas vidas. O desprezível método de sufocar, em um nevoeiro de frases vazias, a
incipiente capacidade individual de pensar e julgar chamava-se “Formação da
Weltanschauung”. Através de uma seleção idealizada pelo Führer, a qual não poderia ser
pensada de forma mais demoníaca e ao mesmo tempo obstinada, são treinados os futuros
figurões do partido em quartéis 4 para serem exploradores e jovens assassinos – ímpios,
descarados e inescrupulosos –, para serem cegos e estúpidos seguidores do Führer. Nós,
operários do intelecto 5, seríamos as pessoas certas para entravar o caminho dessa nova
camada de homens superiores. Os combatentes do front são tratados por líderes estudantis
e aspirantes a chefe de distrito 6 como meninos de escola; chefes de distrito ferem a honra
das estudantes com brincadeiras lascivas. Num evento da Universidade de Munique, as
estudantes alemãs responderam à altura aos que tentaram macular sua honra; os
estudantes alemães defenderam suas colegas e não cederam... Esse é o início da luta por
nossa livre autodeterminação, sem a qual valores morais não podem ser criados. Nosso
agradecimento à coragem das nossas colegas e à firmeza dos estudantes, todos os que
deram um brilhante exemplo!

Para nós só existe um só lema: luta contra o partido! Sair das estruturas do partido
que querem nos manter amordaçados politicamente! Sair dos auditórios dos sargentos e

4
Ordensburgen: quartéis nazistas para treinamento de líderes do partido. Eram treinados homens
entre 25 e 30 anos (cf. Siefken 1994: 53).
5
Segundo Siefken (1994: 54) é feita aqui uma referência à separação feita por Hitler entre os
“operário do punho” (Arbeiter der Faust) e os “operários do intelecto” (Arbeiter der Stirn ou Arbeiter des
Geistes): “Sie müssen sich gegenseitig wieder achten lernen, der Arbeiter der Stirne den Arbeiter der Faust
und umgekehrt. Keiner bestünde ohne den andern. Die beiden gehören zusammen, und aus diesen beiden
muβ sich ein neuer Mensch herauskristallisieren – der Mensch des kommenden deutschen Reiches.
Discurso de Hitler em 24.4.1923“ (Schmitz-Berning 1998: 41).
6
Segundo a análise que Harder fez dos panfletos, a referência feita aqui é ao Gauleiter Giesler, que
tem o status de Gauleiter, mas não é oficialmente o ocupante desse posto. Esse conhecimento provaria que
o autor dos panfletos era bastante familiarizado com os acontecimentos e as relações políticas de Munique.
coronéis da SS e dos capachos do partido! Queremos a ciência verdadeira e a autêntica
liberdade de espírito! Nenhuma ameaça conseguirá nos intimidar: nem mesmo o
fechamento de nossas universidades! Trata-se da luta de cada um de nós pelo nosso
futuro, nossa liberdade e honra em um Estado consciente de sua responsabilidade moral.
Liberdade e honra! Por dez longos anos, Hitler e seus comparsas distorceram,
banalizaram e perverteram até a náusea essas duas sublimes palavras, como só diletantes
são capazes de fazer, lançando aos porcos 7 os valores supremos de uma nação. Eles já
mostraram o suficiente o que significa liberdade e honra para eles, nesses dez anos de
aniquilamento de toda a liberdade de pensamento e de ação, de toda a substância moral
do povo alemão. Até o alemão mais burro teve seus olhos abertos pela terrível carnificina
que eles, em nome da liberdade e honra da nação alemã, causaram e continuam causando
diariamente em toda a Europa. A reputação alemã ficará para sempre maculada se a
juventude alemã não se elevar, não se vingar, não se redimir, não esmagar seus algozes e
construir uma nova Europa espiritual, de uma vez por todas. Universitárias!
Universitários! O povo alemão olha para nós! Hoje, ele espera de nós o fim do terror
nacional-socialista pelo poder do espírito, assim como esperou em 1813 o fim do terror
napoleônico.
Beresina e Stalingrado estão em chamas no Leste, os mortos de Stalingrado nos
invocam.
“Levanta, meu povo, já ardem as chamas”!!! 8
Nosso povo está em levante contra a escravização da Europa imposta pelo
nacional-socialismo, na confiança renovada de que liberdade e honra triunfarão.

SCHOLL, Inge. A rosa branca. São Paulo: Editora 34, 2014.

7
Expressão bíblica (Mateus 7, 6): “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as
vossas pérolas” (Almeida). “Ihr sollt das Heiligtum nicht den Hunden geben und eure Perlen sollt ihr nicht
vor die Säue werfen“ (Luther).
8
Citação do poema patriótico “Canção dos soldados” (“Soldatenlied”), escrito por Theodor Körner
durante as guerras de independência da Prússia (cf. Huber 2009:113; Siefken 1994: 55).
FONTE F

Última declaração de Bartolomeo Vanzetti (9 de abril de 1927)

Sim. O que digo é que sou inocente, não só do crime de Braintree, mas também
do crime de Bridgewater. Que não somente sou inocente desses dois crimes, como tam-
bém em toda a minha vida, nunca roubei, nunca matei e nunca derramei sangue. Isso é o
que quero dizer. E não é tudo. Não apenas sou inocente desses dois crimes, não apenas
em toda a minha vida nunca roubei, nunca matei, nunca derramei sangue, mas lutei toda
a minha vida, desde que me conheço por gente, para eliminar o crime da face da terra.

Todo o mundo que conhece estes dois braços sabe muito bem que não preciso sair
à rua e matar um homem para tirar-lhe o dinheiro. Posso viver com os meus dois braços
e viver bem. Mas, além disso, posso até viver sem trabalhar com meu braço para outras
pessoas. ...

Pois bem, quero chegar um pontozinho mais adiante, e este é que não somente não
estive tentando roubar em Bridgewater, não somente não estive em Bridgewater para
roubar e matar e nunca roubei e matei, nem derramei sangue em toda a minha vida, não
só lutei com muito empenho contra os crimes, mas também recusei a mim mesmo a
comodidade ou a glória da vida, o orgulho de uma boa posição na vida porque, na minha
opinião, não é direito explorar o homem...

Ora, agora, direi que não só estou inocente de todas essas coisas, não só jamais
cometi um crime de verdade em toda a minha vida – embora alguns pecados, mas nenhum
crime – não só tenho lutado toda a minha vida para eliminar crimes que a lei oficial e a
moral oficial condenam, mas também o crime que a moral oficial e a lei oficial sancionam
e santificam – a exploração e a opressão do homem pelo homem, se se há uma razão pelo
qual estou aqui como culpado, se há uma razão pela qual podereis, dentro de mais alguns
minutos, condenar-me, essa é a razão e mais nenhuma.

Lá está o melhor homem em quem já pus os olhos desde que os abri para a vida,
um homem que durará e estará cada vez mais perto e será cada vez mais querido do povo,
até o mais profundo do coração do povo, enquanto durar a admiração pela bondade e pelo
sacrifício. Refiro-me a Eugene Debs. ... Ele sabe, e não somente ele mas todo homem de
entendimento no mundo, não só deste país como também nos outros países, homens aos
quais fornecemos certa dose do registro dos tempos, todos ficarão conosco, a nata da
humanidade da Europa, os melhores escritores, os maiores pensadores, da Europa,
intercederam por nós. Os cientistas, os maiores cientistas, os maiores estadistas da
Europa, intercederam em nosso favor. O povo de nações estrangeiras intercedeu em nosso
favor.

Será possível que apenas uns poucos do júri, um punhado de homens do júri, que
seriam capazes de condenar a própria mãe por honrarias mundanas e uma fortuna terre-
na; será possível que eles estejam certos contra o que o mundo, o mundo inteiro disse que
está errado e que eu sei que está errado? Se há alguém que deveria saber disso, se é certo
ou se é errado, esse alguém sou eu e é este homem. Vede que faz sete anos que estamos
na cadeia. O que sofremos durante esses anos nenhuma língua humana pode di-zer e, no
entanto, vós me vedes diante de vós, sem tremer, vós me vedes encarando con-vosco,
olho no olho, sem corar, sem mudar de cor, sem falsa vergonha e sem medo. ...

Provamos que não poderia ter havido outro juiz na faze da terra mais
preconceituoso e cruel do que vós tendes sido contra nós. Nós o provamos. Ainda assim
nos recusam o novo julgamento. Sabemos, e vós o sabeis em vossos corações, que
estivestes contra nós desde o princípio, antes mesmo de ver-nos. Antes de ver-nos, já
sabíeis que éramos radicais, que éramos pobres-diabos, que éramos o inimigo da
instituição em cuja bondade podeis acreditar de boa fé – não quero condená-lo – e que
era fácil, por ocasião do primeiro julgamento, obter uma sentença condenatória.

Sabemos que vós mesmos falastes e dissestes de vossa hostilidade contra nós, e
do vosso desprezo por nós a amigos no trem, no University Club de Boston, no Golf
Clube de Worcester. Tenho a certeza de que se todas as pessoas que sabem tudo o que
dizeis contra nós tivessem a coragem civil de depor, talvez Vossa Excelência - lamento
dizer uma coisa dessas porque sois um homem velho e eu tenho velho pai - talvez Vossa
Excelência estivesse aqui ao nosso lado em boa justiça a essa hora...

Isto é o que digo: eu não desejaria a um cão nem a uma cobra, à mais vil e infeliz
das criaturas sobre a terra – eu não desejaria a nenhum deles o que tive de sofrer por
coisas de que não sou culpado. Sofri porque sou radical e, na verdade, sou radical; sofri
porque eu era italiano e, na verdade, sou italiano; sofri mais por minha família e pelos
meus entes queridos do que por mim mesmo; mas estou tão convencido de estar certo
que, se pudésseis executar-me duas vezes, e se eu pudesse renascer mais duas, tornaria a
viver para fazer o que já fiz. tenho dito. Muito obrigado.
FONTE G

Será possível a combinação, a união, a compatibilidade do Estado soviético da


ditadura do proletariado, com o capitalismo de Estado?

Claro que é possível. Era isto precisamente que eu procurava demonstrar e Maio
de 1918. É isto que eu espero ter demonstrado em Maio de 1918. Mais ainda: demonstrei
também então que o capitalismo de Estado é um passo em frente em comparação com o
elemento pequeno-proprietário (pequeno-patriarcal e pequeno-burguês). Comete-se uma
infinidade de erros ao contrapor ou comparar o capitalismo de Estado apenas com o
socialismo, enquanto situação político-econômica presente é obrigatório comparar
também o capitalismo de Estado com a produção pequeno-burguesa.

Toda a questão — tanto teórica como praticamente — consiste em encontrar os


métodos corretos de como se deve orientar precisamente o inevitável (até certo ponto e
por um determinado prazo) desenvolvimento do capitalismo para a via do capitalismo de
Estado, em que condições fazê-lo e como assegurar num futuro próximo a transformação
do capitalismo de Estado em socialismo.

Para abordar a solução deste problema é necessário, antes de mais nada, conceber
do modo mais preciso possível o que será na prática e o que pode ser o capitalismo de
Estado dentro do nosso sistema soviético, no quadro do nosso Estado soviético.

O caso ou o exemplo mais simples de como o Poder Soviético dirige


desenvolvimento do capitalismo para a via do capitalismo de Estado, como «implanta» o
capitalismo de Estado, são as concessões. Agora todos estão de acordo em que as
concessões são necessárias, mas nem todos refletem sobre a importância das concessões.
O que são as concessões no sistema soviético, do ponto de vista das estruturas econômico-
sociais e correlação entre elas? São um acordo, um bloco, uma aliança do poder de Estado
soviético, isto é, proletário, com o capitalismo de Estado, contra o elemento pequeno-
proprietário (patriarcal e pequeno-burguês). O concessionário é um capitalista. Dirige as
coisas à maneira capitalista, com o objectivo de obter lucros, estabelece um acordo com
o poder proletário a fim de obter lucros extra, superiores aos habituais, ou de obter um
tipo de matérias-primas que doutro modo não poderia conseguir ou que dificilmente
poderia conseguir. O Poder Soviético obtém vantagens sob a forma do desenvolvimento
das forças produtivas, do aumento imediato, ou a mais breve prazo, da quantidade de
produtos. Temos, por exemplo, uma centena de explorações, minas ou florestas. Nós não
podemos explorar tudo: não temos máquinas, víveres, meios de transporte suficientes.
Pelo mesmo motivo exploramos mal os restantes sectores. Em consequência da má e
insuficiente exploração das grandes empresas reforça-se o elemento pequeno-proprietário
em todas as suas manifestações: enfraquecimento da economia camponesa vizinha (e
depois também de toda a economia camponesa), declínio das suas forças produtivas,
diminuição da sua confiança no Poder Soviético, pilhagem e pequena especulação em
massa (a mais perigosa), etc. «Implantando» o capitalismo de Estado sob a forma de
concessões, o Poder Soviético, reforça a grande produção contra a pequena, a avançada
contra a atrasada, a mecanizada contra a manual, aumenta a quantidade de produtos da
grande indústria nas suas mãos (a sua quota-parte da produção), reforça as relações
econômicas reguladas pelo Estado como contrapeso às relações pequeno-burguesas
anárquicas. A política das concessões, aplicada com medida e prudência, ajudar-nos-á,
sem dúvida, a melhorar rapidamente (até certo grau, não muito elevado) o estado da
produção, a situação dos operários e dos camponeses — à custa naturalmente de certos
sacrifícios, da entrega aos capitalistas de dezenas e dezenas de milhões de puds9 de
produtos valiosíssimos. A determinação da medida e das condições em que as concessões
são vantajosas e não representam perigo para nós depende da correlação de forças e
resolve-se pela luta, porque também as concessões representam um aspecto da luta, a
continuação da luta de classes sob outra forma, e de modo nenhum a substituição da luta
de classes pela paz de classes. Os métodos de luta a aplicar serão definidos pela prática.

O capitalismo de Estado sob a forma de concessões constitui talvez a forma mais


simples, nítida, clara, precisamente determinada, em comparação com outras formas do
capitalismo de Estado dentro do sistema soviético. Temos aqui um contrato direto,
formal, escrito, com o capitalismo mais culto e avançado, o da Europa Ocidental.
Conhecemos exatamente as nossas vantagens e as nossas perdas, os nossos direitos e os
nossos deveres, conhecemos precisamente o prazo pelo qual fazemos a concessão,
conhecemos as condições do resgate antes do prazo, se o contrato prevê o direito de
resgate antes do prazo. Pagamos um certo «tributo» ao capitalismo mundial, «resgatamo-
nos» dele sob determinados aspectos, obtendo imediatamente em certa medida a
consolidação da situação do Poder Soviético e a melhoria das condições de gestão da
nossa economia. Toda a dificuldade no que se refere às concessões resume-se a que é

9
Medida de massa equivalente a aproximadamente 16,38 kg.
preciso pensar e pesar tudo ao concluir o contrato da concessão, e depois saber vigiar o
seu cumprimento. Existem aqui indubitavelmente dificuldades, e os erros serão aqui
certamente inevitáveis nos primeiros tempos, mas essas dificuldades são mínimas em
comparação com os outros problemas da revolução social, particularmente em
comparação com as outras formas de desenvolvimento, de admissão e de implantação do
capitalismo de Estado.

A tarefa mais importante de todos os funcionários do partido e dos Sovietes em


relação à introdução do imposto em espécie consiste em saber aplicar os princípios, as
bases da política «concessionista» (isto é, semelhante ao capitalismo «concessionista» de
Estado) às outras formas do capitalismo, ao comércio livre, à circulação local de
mercadorias, etc. (...)

Mas o capitalismo «cooperativo», diferentemente do capitalismo privado,


constitui sob o Poder Soviético uma variedade do capitalismo de Estado, e nessa
qualidade é-nos agora vantajoso e útil, naturalmente em certa medida. Na medida em que
o imposto em espécie significa liberdade de venda dos excedentes (daquilo que não foi
recolhido como imposto), devemos esforçar-nos por orientar este desenvolvimento do
capitalismo — pois a liberdade de venda, a liberdade de comércio é um desenvolvimento
do capitalismo — para a via do capitalismo cooperativo. O capitalismo cooperativo
assemelha-se ao capitalismo de Estado no sentido de que facilita o registo, o controlo, a
vigilância, as relações contratuais entre o Estado (neste caso o Estado soviético) e o
capitalista. A cooperação, como forma de comércio, é mais vantajosa e útil do que o
comércio privado, não só pelas razões indicadas, mas também porque facilita a
unificação, a organização de milhões de pessoas e depois de toda a população,
circunstância que é por sua vez uma vantagem gigantesca do ponto de vista da transição
futura do capitalismo de Estado para o socialismo. (...)

Façamos o resumo.

O imposto em espécie é a transição do comunismo de guerra para uma troca


socialista regular de produtos.

A ruína extrema, agravada pela má colheita de 1920, tornou esta transição


urgentemente necessária devido à impossibilidade de restabelecer rapidamente a grande
indústria.
Daí resulta: melhorar, em primeiro lugar, a situação dos camponeses. Meio: o
imposto em espécie, o desenvolvimento da circulação de mercadorias entre a agricultura
e a indústria, o desenvolvimento da pequena indústria.

A circulação de mercadorias é a liberdade de comércio, é o capitalismo. Ele é-nos


útil na medida em que nos ajudar a lutar contra a dispersão do pequeno produtor e, até
certo ponto, contra o burocratismo. A experiência, a prática, estabelecerão a medida. Não
há nisso nada de terrível para o poder proletário enquanto o proletariado mantiver
firmemente o poder nas suas mãos, mantiver firmemente nas suas mãos os transportes e
a grande indústria.

A luta contra a especulação deve ser transformada em luta contra os roubos e


contra as tentativas de eludir a vigilância, o registo e o controlo do Estado. Com esse
controlo dirigiremos o capitalismo, inevitável em certa medida e necessário para nós, para
a via do capitalismo de Estado.

Desenvolver em todos os sentidos, por todos os meios e a todo o custo, a iniciativa


e a autonomia locais no estímulo da circulação de mercadorias entre a agricultura e a
indústria. Estudar a experiência prática neste aspecto. Torná-la tão variada quanto
possível.

Apoiar a pequena indústria que serve a agricultura camponesa e a ajuda a reerguer-


se; ajudá-la, até certo ponto, também pela distribuição de matérias-primas do Estado. O
mais criminoso é deixar matérias-primas por transformar.

Os comunistas não devem recear «aprender» com os especialistas burgueses,


incluindo os comerciantes, os pequenos capitalistas sócios de cooperativas, os
capitalistas. Aprender com eles duma forma diferente, mas no fundo do mesmo modo que
aprendemos e nos instruímos com os especialistas militares. Os resultados do «ensino»
deverão ser verificados apenas pela experiência prática: fazei-o melhor do que o faziam
ao vosso lado os especialistas burgueses, sabei alcançar duma ou doutra forma o ascenso
da agricultura, o ascenso da indústria, o desenvolvimento da circulação de mercadorias
entre a agricultura e a indústria. Não regateeis o preço da «lição»: não devemos olhar ao
preço, desde que a lição seja proveitosa.

Ajudar por todos os meios a massa dos trabalhadores, aproximar-se dela, destacar
dela centenas e milhares de funcionários sem partido para o trabalho econômico. E os
«sem partido» que de facto não sejam mais do que mencheviques e socialistas-
revolucionários disfarçados com os trajes da moda dos sem partido de Cronstadt,
devemos mantê-los cuidadosamente na prisão ou enviá-los para Berlim, para Mártov,
para que gozem livremente todos os encantos da democracia pura, para que troquem
livremente as suas ideias com Tchernov, com Miliukov e com os mencheviques
georgianos.

Trecho de Sobre o Imposto em Espécie (O Significado da Nova Política e as Suas


Condições), Vladmir I. Lenin

FONTE H

O rei Peter e os chefes Quachi e Wuaka, considerando que é de seu interesse


estabelecer relações comerciais com um povo rico e bom, e organizar-se sob a soberania
de seu poderoso monarca, instituem, diante de testemunhas subscritas, os artigos do
tratado que se segue, assinado por Charles-Phillippe de Kerhallet, Primeiro-Tenente da
Marinha, Comandante do brigue-canhoneira L'Alouette, e Alphonse Fleuriot de Langle,
Primeiro-Tenente da Marinha, Comandante do brigue-canhoneira La Malouine, operando
em nome de Edouard Bouet, Capitão de Corveta, Comandante da estação das costas
ocidentais da África, e por conseguinte em nome de S. M. Luis Filipe I, Rei dos franceses,
seu soberano.

Artigo I. — A plena soberania do país e do Rio de Grand Bassam é concedida ao


Rei dos franceses; os franceses sozinhos terão portanto o direito de aí arvorar seu pavilhão
e de aí fazer todas as construções e fortificações que julgarem úteis ou necessárias,
comprando as terras dos proprietários atuais.

Nenhuma outra nação poderá estabelecer-se aí em razão da soberania, concedida


ao Rei dos franceses.

Artigo 2. — O Rei Peter e os chefes Quachi e Wuaka cedem igualmente duas


milhas quadradas de terras, quer seja nas margens do rio, quer na praia, uma milha em
cada um destes locais.

Artigo 3. — Em troca dessas concessões, será outorgada ao Rei e a seu povo a


proteção dos navios de guerra franceses. Ademais, será pago ao Rei, quando da ratificação
do tratado, o seguinte:
10 peças de tecidos sortidos,

5 barris de pólvora de 25 libras,

10 fuzis de um tiro,

1 saco de tabaco,

1 barril de aguardente,

5 chapéus brancos,

1 guarda-sol,

2 espelhos,

1 realejo.

Os chefes Quachi e Wuaka receberão a metade dos presentes concedidos ao Rei


Peter.

Quando da tomada de posse das duas milhas quadradas concedidas, será pago um
valor igual, o qual o Rei dividirá com os proprietários atuais da referida terra, conforme
convenção estabelecida entre eles.

Artigo 4. — Fica bem entendido que a pacífica navegação e frequências do rio e


de todos os afluentes são asseguradas aos franceses de agora em diante, assim como o
tráfego livre de todos os produtos, tanto os do país como os que são trazidos do interior.

O Rei e toda a população sob suas ordens se comprometem, portanto, a se conduzir


de boa-fé com relação aos franceses, respeitando suas pessoas, propriedades ou
mercadorias. Assim, um presente anual facultativo será outorgado ao Rei pelo governo
ou pelas partes contratantes como recompensa.

Artigo 5. — Se algumas desavenças surgirem entre as partes contratantes e os


nativos, devem ser solucionadas pelo comandante do primeiro navio de guerra que chegar
ao país, o qual deve fazer justiça aos culpados não importa a que lado pertençam.

Artigo 6. — Os navios de comércio serão respeitados e protegidos. Eles não serão


de nenhuma maneira perturbados em suas relações comerciais ou outras; se um deles
naufragasse, conceder-se-ia um terço dos objetos recuperados aos nativos que tivessem
cooperado no salvamento.

Artigo 7. — O presente tratado vigorará a partir de hoje quanto à soberania


estipulada; do contrário os signatários exporiam seu país aos rigores da guerra que nesse
caso lhes fariam os navios de guerra franceses.

Quanto ao pagamento das mercadorias de trocas, realizar-se-á, como diz o artigo


3, após a ratificação do tratado pelo Rei dos franceses.

O dito tratado, lido e relido ao Rei, em francês e em inglês, foi feito em duas vias
e de boa-fé por nós, no ancoradouro, do Grande Bassam em 19 de fevereiro de 1842 a
bordo de L'Alouette.

Primeiro-Tenente de Marinha Primeiro-Tenente de Marinha Capitão de longo curso


Comandante de L'Alouette Comandante de La Malouine Comandante do brigue de
Kerhallet Fleuriot Marselha, L'Aigle
Peter Assinado Provençal
Quachi (como testemunha)
Wuaka

Visto e aprovado,

o Capitão de Corveta

Comandante da estação

das costas ocidentais da África. Bouët

Tratado entre a França e o Rei Peter, de Grand Bassam. In: Brunschwig, Henri. A
Partilha da África Negra. São Paulo, Perspectiva, 1974, pp. 76-8.

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