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Sistemas Elétricos de Potência II

Professora: Andréa Araújo Sousa


 Experiência: harmônicas em transformadores. Escola Politécnica da USP.
Notas de aula. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=773659 . Acesso em: 22
jun 2018.
 Luiz Ferraz Netto. Sinais elétricos e suas formas de onda. Disponível em:
http://www.feiradeciencias.com.br/sala15/15_07.asp . Acesso em: 24 jun 2018.
 Marcos Isoni. A moderna eficientização energética e seus possíveis efeitos
sobre o desempenho operacional de equipamentos e instalações
elétricas. Disponível em: www.engeparc.com.br/cariboost_files/4-
Harmonicas.pdf . Acesso em: 24 jun 2018.
 Guilherme Alfredo Dentzien Dias. Harmônicas em sistemas industriais.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

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 A palavra harmônico foi originalmente definida em Física
Acústica, significando a vibração de um fio ou uma coluna de ar,
com frequência múltipla e diferente da fundamental, provocando
uma distorção na qualidade do som resultante.
 Fenômenos semelhantes a esse ocorrem na Engenharia Elétrica,
onde deformações das tensões e correntes elétricas também têm
sido registradas.

VER: OUVINDO ALGUMAS ONDAS.pdf

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 Dentro dos objetivos a serem alcançados por uma concessionária
de energia, destacam-se
 atendimento da demanda;
 qualidade da energia.

 Isso significa fornecer tensões o mais próximas da forma senoidal


possível.
 Na prática, têm-se constatado desvios significativos do
considerado ideal.
 Essas distorções do padrão de tensão têm sido atribuídas as
diversos componentes elétricos (cargas e equipamentos) com
características não-lineares comumente conectados à rede elétrica.

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 A distorção de tensão e corrente é analisada matematicamente
através do estudo das ondas não-senoidais periódicas.
 Nessas condições, sabe-se que qualquer onda periódica não-
senoidal pode ser decomposta em uma série infinita de
senóides contendo:
 uma componente de mesma frequência de oscilação que a da
onda original, chamada de “Fundamental ”; e
 outras ondas senoidais de frequências múltiplas da fundamental,
chamadas de “Harmônicas”.

 A ferramenta matemática utilizada para cálculo desses índices


de amplitude e ângulo das harmônicas é a Transformada de
Fourier.

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 Um sinal não-senoidal periódico decomposto em sua Série de
Fourier tem a seguinte forma padrão:

f t = 1 2 A0
+a1 cos t +  + a2 cos 2 t +  + a3 cos 3 t + 
+⋯
+b1 sen t +  + b2 sen 2 t +  + b3 sen 3 t + 
+⋯

em que: o termo 1 2 A0 é a componente contínua do sinal, se


houver; e os coeficientes an e bn referem-se às componentes de
frequência n vezes a frequência fundamental.

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 Harmônicos constituem-se em uma das formas de distorção
para tensões e correntes elétricas, caracterizadas por sinais
senoidais com frequências múltiplas e inteiras da frequência
fundamental.
 O termo harmônicos vem da Física, mais especificamente do
estudo dos movimentos ondulatórios: quando uma partícula
ou onda se propaga oscilando periodicamente em torno de
uma posição de equilíbrio, esse movimento é denominado
movimento harmônico.

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 Tecnicamente, uma harmônica é a componente de uma onda
periódica cuja frequência é um múltiplo inteiro da frequência
fundamental1.

1 Existemharmônicas cujas frequências não são múltiplos inteiros da fundamental,


denominadas inter-harmônicas. Esse tipo de harmônica é produzido em fornos a arco devido
à imprevisibilidade dos arcos gerados nos eletrodos.
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 Na figura anterior, verificam-se três formas de onda, em que a
primeira oscila em 60 Hz, a segunda oscila em 180 Hz (3ª harmônica)
e a terceira forma de onda oscila em 300 Hz (5ª harmônica).
 A forma de onda em 60 Hz resultante da soma ponto a ponto das três
formas pode ser vista na figura abaixo.

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 A figura abaixo foi feita no WinPlot, software de plotagem de funções
muito simples e intuitivo.

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 As ondas resultantes da distorção harmônica são não-senoidais
e desenvolvem-se na mesma frequência e período da onda
fundamental do sistema.
 Tais distorções são um fenômeno contínuo e estacionário (de
regime permanente) e estão presentes sempre que sua fonte
causadora encontrar-se em operação e não sejam
implementados meios para sua mitigação (filtros, por exemplo).
 A caracterização da presença de harmônicos pode ser feita
através do tratamento individual ou total das mesmas. Nestas
circunstâncias surgem algumas definições, vistas a seguir.

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Distorção Harmônica Total (DHT):

 Esta definição tem por meta gerar uma variável representativa


da ação conjunta de todas as frequências harmônicas presentes
nos sinais de tensão ou corrente.

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Distorção Harmônica Individual (DHI):

 Dada pela relação entre a amplitude da tensão harmônica de


ordem h (Vh) e a correspondente tensão fundamental (V1).
 V1 pode assumir um dos três valores: o valor real de operação
medido; a tensão nominal do barramento; ou um valor de
referência constante e definido pelo usuário.
 De forma análoga, os conceitos podem ser estendidos para as
correntes, entretanto, o valor definido como corrente
fundamental deverá ser igual ao nominal para o ponto de
medição ou, alternativamente, adotado como a corrente de
carga para a demanda máxima.

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Distorção Harmônica Total (DHT)

hmax V2
h=2 h
1. Distorção Harmônica Total de tensão: × 100
V1

hmax I2
h=2 h
2. Distorção Harmônica Total de corrente: × 100
I1

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Distorção Harmônica Individual (DHI)

Vh
1. Distorção Harmônica Individual de tensão: × 100
V1

Ih
2. Distorção Harmônica Individual de corrente: × 100
I1

em que :
Vh – tensão harmônica individual de ordem h, expressa em V ou pu;
Ih – corrente harmônica individual de ordem h, expressa em A ou pu;
h – ordem harmônica considerada;
hmax – máxima ordem harmônica considerada;
V1 – tensão fundamental, expressa em V ou pu;
I1 – corrente fundamental, expressa em A ou pu.
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 Dada uma forma de onda periódica qualquer, podemos decompô-la
numa somatória de senóides de freqüência 1, 2, 3, etc. vezes a da
fundamental.
 Analisando o caso dos circuitos magnéticos, por exemplo, temos
que as formas de onda de tensão e corrente terão integral nula num
período e, portanto, não teremos as harmônicas de ordem par.
 Logo tensões trifásicas podem ser decompostas em:

VA = VA1 cos wt + VA3 cos 3wt + VA5 cos 5wt + …


VB = VB1 cos (wt –120º) + VB3 cos 3 (wt –120º) + VB5 cos 5 (wt –120º) + …
VC = VC1 cos (wt +120º) + VC3 cos 3 (wt +120º) + VC5 cos 5 (wt +120º) + …

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 De acordo com a frequência do sinal, temos as seguintes
componentes:

1. Fundamental:

VA = VA1 cos wt
VB = VB1 cos (wt –120º)
VC = VC1 cos (wt +120º)

A frequência fundamental é de sequência positiva.

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2. Terceira harmônica:

VA = VA3 cos 3wt


VB = VB3 cos 3 (wt –120º) = VB3 cos (3wt –360º) = VB3 cos 3wt
VC = VC3 cos 3 (wt +120º) = VC3 cos (3 wt +360º) = VC3 cos 3 wt

A terceira harmônica se comporta como


uma tensão de sequência zero.

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3. Quinta harmônica:

VA = VA5 cos 5wt


VB = VB5 cos 5 (wt –120º) = VB5 cos (5wt –600º) = VB5 cos (5wt –240º)
VC = VC5 cos 5 (wt +120º) = VC5 cos (5wt +600º) = VC5 cos (5wt +240º)

A quinta harmônica se comporta como


uma tensão de sequência negativa.

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4. Harmônica qualquer:

Para as demais harmônicas, com raciocínio análogo, temos:

1 4 7 10 13 16  sequência positiva
2 5 8 11 14 17  sequência negativa
3 6 9 12 15 18  sequência zero

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Harmônicas pares:

 As harmônicas de ordem par são raras nas redes elétricas. Isso


ocorre porque os dispositivos eletrônicos que exercem função de
retificador/inversor (maiores geradores de harmônicas no
sistema), sejam eles trifásicos ou monofásicos, normalmente
operam com retificação de onda completa, que geram sinais
distorcidos porém simétricos e periódicos.
 Pela teoria de Fourier, pode-se demonstrar que são nulas as
componentes de sinais que possuem simetria de meia onda.
 Assim, pode-se esperar que a presença de harmônicas de ordem
para no SEP é sinal de que os dispositivos retificadores estão
desajustados.

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Harmônicas de ordem mais elevada:

 As harmônicas de ordem mais elevadas, ou seja, de frequências


superiores, apresentam amplitudes reduzidas porque são
suavizadas pelas indutâncias presentes nas redes, já que a reatância
indutiva (XL) é diretamente proporcional à frequência (f)
(XL = 2fL).
 Fontes de alimentação monofásicas (fontes chaveadas) provocam
um significativo conteúdo de 3ª harmônica. As fontes chaveadas
estão presentes nos reatores eletrônicos de lâmpadas fluorescentes,
tornando-se importantes devido ao fato de a iluminação
corresponder de 40% a 60% da carga elétrica comercial.
 Retificadores trifásicos de 6 pulsos geram harmônicas de 5ª, 7ª, 11ª,
13ª, 17ª, 19ª etc.

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 De maneira geral, as harmônicas podem ser classificadas como
características e não-características.
 Uma harmônica característica é uma harmônica teoricamente
“previsível”, ou seja, com frequência e amplitude esperadas,
podendo ser determinadas com boa aproximação na fase de
projeto com base nas características dos equipamentos
responsáveis pelo seu surgimento. Ex.: conversores.
 As harmônicas não-características são imprevisíveis por surgirem
de fontes aleatórias ou de modelos difíceis. Ex.: lâmpadas de
descarga e equipamentos industriais com arco elétrico.
 A seguir serão citadas algumas fontes de distorção harmônica nas
instalações elétricas.

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SATURAÇÃO MAGNÉTICA

 Essa é, possivelmente, a primeira fonte de distorções harmônicas


na rede elétrica, uma vez que se origina nos transformadores.
 Considere-se que seja aplicada uma tensão cossenoidal ao
primário de um transformador, o que origina um fluxo senoidal de
idêntica frequência, e que a curva de magnetização do núcleo (a
qual determina o comportamento da corrente de magnetização)
seja aproximada pela característica não linear indicada a seguir:

(𝑡) =2sen(t)
i𝑀(𝑡) = k (𝑡) × 1,3(𝑡)
2

𝑑
𝑣 𝑡 = (𝑡)
𝑑𝑡
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SATURAÇÃO MAGNÉTICA

 Para f = 50 Hz e k = 0,1, resulta a característica (t) por i(t) da figura


abaixo, que se aproxima de uma curva de magnetização típica.
 Essa é uma função ímpar, pois f(x) = - f(-x) ou, no caso específico,
(i) = -(-i).

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SATURAÇÃO MAGNÉTICA

 Impondo-se uma tensão de excitação senoidal (400 Hz), resulta um


fluxo senoidal. A corrente de magnetização tem a forma de onda
mostrada na figura a seguir.
 Para esse tipo de não linearidade aparecem harmônicas ímpares
(ordem 3, 5, 7...) com amplitudes decrescentes.

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SATURAÇÃO MAGNÉTICA

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RETIFICADORES

 Na conversão de potência CA para CC, um conversor quebra ou


corta a onda de corrente CA e somente permite que a corrente flua
em uma porção do ciclo.
 A corrente resultante é uma onda quadrada (em degraus) que
representa uma onda senoidal distorcida rica em conteúdo
harmônico que pode ser expressa usando uma série de
Fourier.
 Uma ponte conversora de N pulsos gera harmônicas de tensão CC
de ordem NK e de corrente de ordem NK+1, sendo N o número de
pulsos e K um número inteiro (K=1,2,3,...).
 Assim, as harmônicas típicas de corrente em um retificador
hexafásico de seis pulsos são as de 5ª, 7ª, 11ª, 13ª etc.

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RETIFICADORES

Forma de onda da corrente e espectro de frequências de um retificador


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FONTES MONOFÁSICAS (CHAVEADAS)
 Equipamentos eletrônicos monofásicos, como
microcomputadores, impressoras, televisores, copiadoras, reatores
de lâmpadas fluorescentes etc. utilizam, quase que
universalmente, fontes de alimentação chaveadas.
 Nas fontes chaveadas, a corrente de entrada flui em pulsos de
curta duração, caracterizando uma onda periódica não-senoidal e,
portanto, possuidora de conteúdo harmônico.
 Uma característica da fonte chaveada é provocar um conteúdo
significativo de harmônicas de 3ª ordem (componentes de
sequência zero); considerando-se que as correntes de 3ª harmônica
de cada fase são somadas no neutro, há a preocupação,
principalmente, com instalações antigas onde o neutro não foi
dimensionado adequadamente para a nova condição de circulação
de corrente.
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FONTES MONOFÁSICAS (CHAVEADAS)

Forma de onda da corrente e espectro de frequências de uma fonte chaveada

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CONVERSORES TRIFÁSICOS

 Esses conversores diferem-se dos monofásicos porque não


produzem correntes de 3ª harmônica, entretanto possuem
considerável conteúdo harmônico em outras frequências.
 Dentre os conversores presentes nos sistemas, podem-se citar:
 Pontes Retificadoras Trifásicas;
 Conversores Estáticos de N pulso(s) a Tiristores, IGBT, Mosfet, etc.;
 Inversores de Potência;
 Reguladores de Tensão com links DC ( tipo SIPCON DVR/ DSTATCOM);
 Fontes Chaveadas presentes nos eletrodomésticos, microcomputadores,
nobreaks, etc.

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CONVERSORES TRIFÁSICOS

 Quando em condições ideais, a forma de onda da corrente gerada


pelo retificador é dada conforme figura abaixo:

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CONVERSORES TRIFÁSICOS

 O espectro de frequências da corrente da figura anterior é:

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CONVERSORES TRIFÁSICOS

 Sob condições não ideais, pode-se chegar a obter nesses conversores


harmônicos não-característicos, que além de causar os problemas
adversos da presença dos harmônicos nos sistemas elétricos, ainda
representam um fonte de preocupação maior, por não estarem
previstos na concepção original do projeto e por, geralmente, serem
de sequência zero.

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CONVERSORES TRIFÁSICOS

Forma de onda da corrente e espectro de frequências do conversor sob condições não-ideais

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DISPOSITIVOS A ARCO

 Esta categoria inclui fornos e soldas a arco e lâmpadas de descarga


(fluorescentes, vapor de mercúrio, vapor de sódio) com reatores
magnéticos ou eletrônicos.

Forma de onda da corrente e espectro de frequências de uma lâmpada de descarga


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DISPOSITIVOS A ARCO
 Os fornos a arco são cargas altamente utilizadas na indústria
siderúrgica atualmente devido às suas inerentes vantagens frente
aos fornos não-elétricos ou a combustão.
 Pelo fato de terem um maior rendimento e de não poluir tanto o
ambiente com a queima do combustível fóssil, esses fornos tem se
tornado ao longo dos anos um grande atrativo para a indústria.
 Estes fornos são utilizados na fusão de minério de ferro ou sucatas
para produção de lingotes de aço, que serão laminados,
transformando-se em produtos de utilização em construção civil,
naval, mecânica, etc.
 São também utilizados na fabricação de ligas de ferro e outros
metais e na fusão de metais não-ferrosos e de pequenas
quantidades de gusa ou aço.

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DISPOSITIVOS A ARCO

 O arco elétrico é também um importante gerador de distorções


harmônicas devido à relação não linear entre a tensão de arco e a
corrente.
 Essa não linearidade varia com o comprimento do arco e com as
características do próprio meio condutor do plasma como
temperatura, pressão, secção transversal, tipo de gás, etc.
 O comprimento do arco é uma variável de controle, que é exercido
através da elevação dos eletrodos sobre a sucata ou sobre o
material fundente. Na fase mais crítica, a ignição para início da
fusão, os eletrodos são abaixados até se curto-circuitarem através
da sucata.

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DISPOSITIVOS A ARCO

Fases da operação: da fusão ao refino

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DISPOSITIVOS A ARCO

 O arco elétrico é também um importante gerador de distorções


harmônicas devido à relação não linear entre a tensão de arco e a
corrente.
 Essa não linearidade varia com o comprimento do arco e com as
características do próprio meio condutor do plasma como
temperatura, pressão, secção transversal, tipo de gás, etc.
 O comprimento do arco é uma variável de controle, que é exercido
através da elevação dos eletrodos sobre a sucata ou sobre o
material fundente. Na fase mais crítica, a ignição para início da
fusão, os eletrodos são abaixados até se curto-circuitarem através
da sucata.

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DISPOSITIVOS A ARCO

VER: forno a arco.mp4

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Sistemas Elétricos de Potência II
Professora: Andréa Araújo Sousa

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