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(PERCURSOS E RESERVATÓRIOS)
O CICLO HIDROLÓGICO
“todos os rios correm para o mar, e o mar
nunca está cheio. Do lugar de onde os
rios vieram, para lá eles voltam a correr”
(Eclesiastes, 1:7)
Figura 2 – Os reservatórios de água no planeta Terra. 97% das águas estão nos oceanos.
(Fonte: Hamblin 1996).
O SISTEMA FLUVIAL
“Riacho do Navio, corre pro Pajeú. O rio Pajeú vai
despejar no São Francisco, e o Rio São Francisco vai
bater no meio do mar...” (Luiz Gonzaga & Zé Dantas)
Figura 3 – Uma pequena bacia de drenagem é capaz de mostrar o poder erosivo dos rios.
Vários canais tributários fluem para um canal maior, que, eventualmente seguem para um
canal maior até atingir o mar ou uma bacia seca (foto do autor).
Inundações
A distribuição irregular de chuva ao longo do ano provoca inundações nas
estações chuvosas. Uma inundação ocorre quando a vazão de um rio se torna
tão grande que excede a capacidade do canal e a água ultrapassa os bancos dos
canais. A população afetada por inundação é freqüentemente surpreendida.
Contudo, estudos geológicos de depósitos de inundação mostram claramente que
inundações são eventos normais e esperados. Como a descarga aumenta durante
uma inundação, a velocidade também aumenta. Isto permite a corrente de
transportar uma carga maior, bem como, partículas maiores. Em inundações
extremas, blocos rochosos com algumas toneladas de massa podem ser
transportados. Isso mostra a capacidade de transformação da paisagem que esse
agente geológico, o rio, pode efetuar. Inundações extremas ocorrem com pouca
freqüência, talvez uma em vários séculos. Mesmo as inundações maiores, que
deixam evidências no registro geológico, podem ser vista como eventos
catastróficos que ocorrem raramente mesmo na escala de tempo geológico.
Figura 7 – A foto mostra uma área onde a agricultura modificou o sistema fluvial local,
bem como, a interação deste com as águas subterrâneas. Observe áreas completamente
desmatadas para o desenvolvimento da agricultura (foto do autor).
O Lençol Freático
Ao se furar um poço numa região qualquer, percebe-se que, antes de se
atingir a água subterrânea, passa-se por uma zona com espaços abertos no
regolito ou na rocha, preenchidos principalmente por ar e, em quantidade bem
menor, a água. Esta é a zona de aeração ou zona subsaturada (Figura 9). Em
seguida, vem a zona saturada, ou seja, aquela em que todos os espaços estão
preenchidos com água. Nós chamamos a superfície superior da zona saturada de
lençol freático. Toda a água contida abaixo do lençol freático é chamada de água
subterrânea. Em cavernas inundadas, por exemplo, a superfície da água que está
dentro da caverna, é o lençol freático, e toda a água abaixo dessa superfície é o
que nós chamamos de água subterrânea (Figura 10). A água contida na zona de
aeração é denominada de água de solo. A variação da profundidade do lençol
freático de uma determinada região ocorre em função da taxa de precipitação e da
topografia. A forma do lençol acompanha grosseiramente os desníveis
topográficos. Em áreas planas, o lençol freático também é plano e em áreas de
colinas, ele irá subir ou descer de acordo com a superfície do terreno.
Figura 9 – A figura mostra duas zonas: uma, onde parte dos poros está preenchida por ar
e parte por água (zona não saturada) e outra, onde todos os poros estão preenchidos por
água (zona saturada). As águas subterrâneas são as que ocupam a zona saturada.
Porosidade e Permeabilidade
A quantidade de água que pode estar contida dentro de um dado volume de
rocha ou sedimento depende da porosidade, que é a porcentagem de vazios ou
poros em relação ao volume total da rocha. Em algumas areias bem selecionadas
e cascalhos, a porcentagem pode exceder aos 20%, enquanto que algumas
argilas possuem porosidade superior a 50%. Em sedimentos e rochas
sedimentares clásticas (arenito, conglomerado, dentre outras) a porosidade é
afetada pelo tamanho, forma e arranjo das partículas de rochas, bem como pela
quantidade de agentes cimentantes presentes nos poros. Nos calcários (rochas
sedimentares de natureza química), a porosidade é dada por cavidades de
solução, podendo nesse caso, atingir até 30% da rocha. A porosidade de rochas
ígneas e metamórficas depende principalmente da presença de fraturas. Uma
exceção são os basaltos (rochas ígneas vulcânicas) que possuem vazios
conhecidos por vesícula, que podem fornecer a esse tipo de rocha, uma
porosidade até 40% (Figura 11).
A permeabilidade é a capacidade da rocha em transmitir fluidos, ou seja, é
a medida da facilidade com que um sólido permite que um fluido passe através
dele. Uma rocha ou sedimento de porosidade muito baixa é provável de também
possuir uma permeabilidade baixa. Um cascalho bem selecionado, com poros
grandes é mais permeável do que uma areia e pode armazenar grandes
quantidades de água. Contudo, uma alta porosidade não necessariamente garante
uma alta permeabilidade, porque o tamanho e a interconectividade dos poros
influenciam a permeabilidade. Por exemplo, o cimento depositado entre os grãos
podem restringir o fluxo da água entre os poros, por isso, reduzindo a
permeabilidade.
Nascentes
Uma nascente é um fluxo de água subterrânea emergindo naturalmente na
superfície do terreno. O tipo mais simples de nascente é aquele que ocorre onde a
superfície do terreno intercepta o lençol freático. Pequenas nascentes são
encontradas em todos os tipos de rochas, mas quase todas as grandes nascentes
fluem de basaltos, calcários e rochas arenosas e cascalhosas. Uma mudança
vertical ou horizontal em permeabilidade é uma razão comum para a localização
de nascentes. Freqüentemente esta mudança envolve a presença de uma rocha
impermeável ou, menos permeável adjacente a uma rocha permeável (Figura 12).
Se uma areia porosa ou basalto sobrepõe uma argila, a água percolando para
baixo irá fluir lateralmente quando ela alcança a argila subjacente e, emergirá
como uma nascente onde o limite entre as duas rochas interceptar a superfície do
terreno.
Aqüíferos
Se nós desejamos encontrar um suprimento confiável de água subterrânea,
devemos procurar por um aqüífero, um corpo rochoso ou regolito suficientemente
permeável para transmitir quantidades economicamente significantes de água
subterrânea para nascentes ou poços. Sedimentos arenosos ou cascalhosos são,
em geral, bons aqüíferos, pois eles tendem a ser altamente permeáveis e muito
extensos. Muitos arenitos também são bons aqüíferos. Contudo, em alguns
arenitos o agente cimentaste dos grãos presentes na rocha, diminui os espaços
porosos, reduzindo a permeabilidade e diminuindo o seu potencial como aqüífero.
Um aqüífero contendo um lençol freático é denominado de aqüífero não
confinado. Quando a água é bombeada de um aqüífero não confinado, a taxa de
retirada inicial excede a taxa local de fluxo da água subterrânea. Isso faz com que,
próximo ao poço, haja um rebaixamento do lençol freático, criando um cone de
depressão. Em situações onde a água de uma localidade é abastecida
basicamente por poços, seja em fazendas ou áreas industriais, pode haver um
rebaixamento geral de todo o lençol freático, fazendo com que os poços menos
profundos acabem por secar.
Sistemas Artesianos
Diferente de um aqüífero não confinado, um aqüífero confinado é limitado
acima e abaixo por corpos de rochas ou sedimentos impermeáveis, ou por rochas
ou sedimentos bem menos permeáveis do que o aqüífero. A água que entra em
um aqüífero confinado em uma área de recarga, como uma montanha, por
exemplo, flui para baixo puxado pela gravidade. Quando ela alcança grandes
profundidades, a água fica sob uma forte pressão hidrostática (pressão devido ao
peso da água). Se um poço é perfurado no aqüífero, a diferença em pressão entre
o lençol freático e o nível onde o poço foi locado, irá ocasionar a elevação da água
no poço, fazendo com que a mesma possa atingir a superfície originando assim o
poço artesiano. Sob condições pouco comuns, mas possíveis de ocorrerem, a
pressão da água pode ser grande o suficiente para criar fontes que sobem até
60m acima da superfície.
Dissolução de Carbonatos
Tão logo a água da chuva infiltre no terreno, ela começa a reagir com os
minerais presentes no regolito e nas rochas intemperizando-os quimicamente. Um
tipo de intemperismo químico que envolve os grãos minerais da rocha passando
diretamente para um estado em solução, é conhecido como dissolução. Calcário,
dolomito e mármore – as rochas carbonáticas mais comuns- são prontamente
atacadas pela dissolução. Embora os minerais carbonáticos sejam quase
insolúveis em água pura, eles são prontamente dissolvidos por água da chuva
carregadas com CO2 que se torna uma solução diluída de ácido carbônico. O
resultado é impressionante. Quando as rochas carbonáticas intemperizam, quase
todo o volume pode ser dissolvido pela água subterrânea movendo-se lentamente.
Cavernas e Dolinas
Cavernas em rochas carbonáticas podem possuir muitos tamanhos e
formas, e elas, freqüentemente, possuem feições em seus tetos, paredes e pisos
conhecidos pelo nome de espeleotemas. Na Chapada Diamantina, a Caverna da
Lapa Doce possui um salão principal com aproximadamente 800m de extensão e
vários espeleotemas, incluindo estalactites, estalagmites, colunas, terraços de
travertino e cortinas (Figura 12). Além desse salão, várias outras galerias
interconectadas chegam a somar mais de 20km de extensão. Morcegos e alguns
insetos são os habitantes naturais dessa caverna. Outras grutas possuem
pequenos reservatórios de água subterrânea onde são encontrados peixes
conhecidos popularmente por bagres cegos. No Poço Encantado, a espessura do
corpo aquoso chega a atingir 60m (veja Figura 10).
As cavernas em calcário formam quando a água subterrânea circula e
lentamente dissolve a rocha. A seqüência usual de desenvolvimento envolve: (1)
dissolução inicial ao longo de um sistema de fraturas abertas interconectadas e
planos de acamamento pelos quais a água percola., (2) Alargamento desses
espaços pela passagem da água que passa a ocupar toda a abertura, (3)
deposição de carbonato nas paredes e teto das cavernas, enquanto uma corrente
ocupa o seu assoalho, (4) quando a corrente deixa de fluir, a deposição começa a
ocorrer também no assoalho da caverna.
Em comparação com as cavernas, uma dolina é uma grande cavidade de
dissolução a céu aberto. Algumas dolinas são resultante do desabamento do teto
de cavernas, enquanto outras são formadas por rebaixamento gradual da
superfície. As dolinas produzidas por cavernas podem se formar abruptamente e,
como resultado, ocasionar danos às pessoas que vivem nessas regiões.
(a) (b)
Figura 12 – (a) Complexo de estalactites e, (b) estalagmites, estalactites e coluna (fotos
do autor).
LAGOS
Um lago é qualquer corpo de água continental de tamanho apreciável que
ocupa uma depressão na superfície da Terra. A maioria dos lagos do mundo é
encontrada em regiões de alta latitude e em montanhas. O Canadá contém quase
metade dos lagos de todo o planeta, por causa as geleiras continentais cavaram
depressões nas rochas expostas e deixaram grande quantidade de sedimentos
transportados glacialmente, criando inumeráveis depressões e diques naturais.
Além da glaciação, lagos também são formados por vulcanismo (por exemplo,
cratera e lagos de caldeira), tectonismo (em terrenos com grandes falhamentos
geológicos), em sistemas fluviais (meandros abandonados), processos costeiros
(lagunas de água doce), dentre outros. Embora a maioria dos lagos contenham
água doce, muitos lagos em regiões áridas e semi-áridas possuem uma grande
quantidade de sal dissolvido (lagos salinos). O Mar Cáspio na Ásia Central é um
lago salgado e possui a maior área (144.000 km2), enquanto que o Lado Baikal
(constituído de água doce), é o mais profundo com 1742m.
Os lagos são predominantemente alimentados pelas águas correntes
superficiais e pela precipitação direta da água da chuva, e seu nível reflete
comumente um balanço entre a entrada de água doce das correntes e direta
precipitação, saída para alimentar outras corrente e a água subterrânea e a
evaporação. Em bacias pequenas, o nível de um lago pode ser controlado pelo
lençol freático, com as flutuações do lençol controlando as flutuações do nível do
lago.
Os lagos são feições transitórias na paisagem. Poucos deles possuem mais
que um milhão de anos e, a maioria não é mais antiga do que o final da última
glaciação (cerca de 12000 a 14000 anos atrás). Um lago pode deixar de existir se
suas margens forem erodidas o suficiente para não mais comportar o
armazenamento de água. O desaparecimento de um lago pode ocorrer também, a
partir de um balanço negativo da entrada e saída de água, com a mudança do
clima. Lagos pequenos podem desaparecer com o rebaixamento do lençol
freático. Um lago também pode gradualmente tornar-se mais raso e desaparecer
com o preenchimento de sua bacia com sedimentos orgânicos ou inorgânicos
formando um pântano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HAMBLIN, W.K. The Earth’s Dynamic Systems. Mac Millan Pub. Comp. & Collier
Mac. Pub., New York, 6 ed. 1996. 570 p.
SKINNER, B. J. & PORTER, S. C.. Physical Geology. Ed. John Willey & Sons Inc.
New York 1987. 750p.
SKINNER, B. J., PORTER, S. C. & BOTKIN, J.. The Blue Planet. Ed. John Willey
& Sons Inc. New York 1999. 525p.
TEIXEIRA, W., TOLEDO, M. C. M., FAIRCHILD, T. R. & TAIOLI, F (Org).
Decifrando a Terra. Oficina de Textos. São Paulo, 2000. 557p.