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Curso Constitucional & Humanos de A a Z – 14.04.

2015
Prof. João Mendes
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.

Sumário

Interpretação Constitucional .............................................................................................. 2


1. Interpretação e Hermenêutica ................................................................................ 3
2. Interpretação e Concretização Constitucional ........................................................ 5
3. Perguntas Centrais da Interpretação Constitucional ............................................... 5
4. Especificidades das Normas Constitucionais ........................................................... 7
5. Características da Interpretação Constitucional...................................................... 8
6. Metódica Constitucional .......................................................................................... 9
7. Metódica Constitucional é Tridimensional .............................................................. 9
8. Metódica Estruturante........................................................................................... 10
9. Metódica Constitucional e o Texto Normativo Constitucional ............................. 11
10. Dificuldades Metódicas ...................................................................................... 11

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Curso Constitucional & Humanos de A a Z


Professor João Mendes

Interpretação Constitucional

A Interpretação Constitucional é um tema essencialmente doutrinário, apesar de


haver inúmeros julgados a ela relacionados. São muitas as teorias que a constituem, de
tal maneira que foram selecionados apenas alguns assuntos, considerados mais úteis
para provas, em virtude de maior recorrência.

Além disso, a abordagem adotada terá por objeto uma fração do tema, com
efeito, a parte mais teórica ou conceitual da Interpretação Constitucional,
desconsiderando-se os desdobramentos em outras matérias. Explica-se: terá lugar
dentro de módulo próprio a Interpretação acerca de manifestações específicas.

Imprescindível, ainda, esclarecer que a Interpretação Constitucional possui


muitos elementos da Filosofia Constitucional. Nesse sentido, tem-se que a
Hermenêutica Clássica e a Hermenêutica Filosófica produzem, como desdobramento, a
Hermenêutica Constitucional. Pode-se, ademais, afirmar que muitos tópicos relativos a
essa temática serão abordados em outros ramos do Direito Constitucional, v.g., no tema
Controle de Constitucionalidade será estudada a Jurisdição Constitucional, cuja análise
filosófica relaciona-se à Hermenêutica Constitucional.

Por fim, neste módulo, serão quatro as temáticas abordadas: (i) Parte
Introdutória, (ii) Diferenças entre Princípios e Regras, (iii) Métodos de Interpretação da
Constituição e (iv) Princípios Instrumentais da Interpretação Constitucional.

 Bibliografia Sugerida:

(i). No tocante à bibliografia, há muita diferença entre a estrutura temática

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adotada pelos autores em geral. Contudo, indica-se, como referência primária, o livro
Curso de Direito Constitucional, Gilmar Mendes, todavia até a 5ª Edição. As edições
posteriores foram modificadas, após a saída do autor Inocêncio Mártires Coelho, cuja
abordagem da Interpretação Constitucional seguiu sem paralelo.

(ii). Direito Constitucional e Teoria da Constituição, J.J. Gomes Canotilho.

(iii). Bernardo Gonçalves, em sua obra Curso de Direito Constitucional, adota


uma abordagem acadêmica, entretanto, interessante na parte em que trata da
Hermenêutica Constitucional.

(iv). Para aqueles interessados no concurso do Ministério Público Federal, indica-


se o livro Direito Constitucional – Teoria, História e Métodos de Trabalho de Cláudio
Pereira de Souza Neto e Daniel Sarmento.

1. Interpretação e Hermenêutica

Interpretação é a atividade intelectual empreendida na atribuição do sentido e


alcance de algo.

Antigos livros de Hermenêutica definiam a Interpretação como a atividade que


visava extrair do texto seu sentido e alcance. Houve, entretanto, uma evolução deste
conceito, substituindo-se o termo “extrair” por “atribuir”. Isso ocorre pelo fato de o
sentido do texto (conjunto de símbolos que formam palavras) não existir per se, mas
advir da interpretação atribuída pelo intérprete. Ao ler a palavra “azul”, o intérprete
imediatamente remeterá seu pensamento à cor. Todavia, à mesma palavra, escrita em
idioma desconhecido, não se atribuirá sentido e a consequência é que aqueles símbolos
linguísticos não serão interpretados.

Por outro lado, uma palavra pode gerar mais de uma interpretação. Ao se

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reputar alguém competente, por exemplo, pode-se fazê-lo tanto no sentido de possuir
atribuição para algo, quanto relativamente à capacidade do indivíduo. A palavra não
possui um sentido próprio, mas seu significado é resultado necessário da interpretação
feita pelo intérprete.

Ressalta-se que a Interpretação é um elemento inerente à própria existência


humana, já que vivemos em um processo contínuo de comunicação, tanto a verbal,
como a escrita ou a visual. Em função disso, exige-se constantemente do indivíduo um
esforço de compreensão dessas interlocuções. Esta é a razão de o conceito de
Interpretação utilizar a palavra “algo” (tudo a que se possa atribuir sentido) na descrição
de seu objeto. No caso do estudo em andamento, o “algo” será a Norma Constitucional.

Nesse diapasão, ao se afirmar que não há texto que não seja objeto de
interpretação, atesta-se que a simples compreensão de um texto qualquer já demanda
um esforço interpretativo. Por essa razão, encontra-se ultrapassado o Princípio da in
claris cessat interpretatio (quando a norma é clara, não há interpretação).

Existe, ademais, um viés teórico segundo o qual a Interpretação Constitucional


ocorreria apenas em caso de dúvida quanto ao sentido da norma, quando eivada de
complexidade tal que requereria um esforço intelectual mais extenso. Em sentido
oposto, sendo a norma clara, haveria a interpretação lato sensu.

Hermenêutica é a ciência da interpretação, é o estudo e a sistematização das


técnicas, teorias, métodos utilizados para compreensão (interpretação) de algo (de tudo
a que se possa atribuir um sentido). Muito embora possuam conceitos próprios, na
prática, os termos Interpretação e Hermenêutica são utilizados de forma indistinta.

Sobre a Hermenêutica Constitucional, existem duas perspectivas adversas. A


primeira teoria entende que deve ser considerada como uma segmentação da
Hermenêutica Jurídica. Entretanto, outros autores defendem que poderia se pensar o

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contrário: como a Constituição é o epicentro da ordem jurídica, toda a ordem deve ser
interpretada pela perspectiva constitucional, através da filtragem constitucional, assim,
na verdade, a Hermenêutica Jurídica é que derivaria da Hermenêutica Constitucional.

2. Interpretação e Concretização Constitucional

São categorias distintas que, no entanto, não podem ser dissociadas.

Interpretação Constitucional “consiste em atribuir um significado a um ou vários


símbolos linguísticos na constituição” (Canotilho).

Concretização Constitucional é a “construção de uma norma jurídica mediante


um processo de densificação de princípios e regras constitucionais, a partir do texto
(enunciado) para uma norma jurídica concreta, processo que se complementa apenas
quando da “descoberta” da norma de decisão que dá solução aos casos (problemas)
jurídico constitucionais” (Ingo Sarlet).

Em outras palavras, a Concretização Constitucional consiste em trazer o


enunciado do plano teórico, abstrato, para o concreto, e, dessa maneira, definir a
norma que solucionará o problema. Por conseguinte, aplicar a Constituição é trazê-la
para a realidade concreta. Estabelece-se, assim, a distinção entre o texto normativo
(enunciado) e a norma (resultado da interpretação) aplicada ao caso concreto.

Atualmente, não mais se concebe uma estrita separação entre norma e


realidade, entre interpretação e aplicação da norma. Apesar de a interpretação ter o
condão de levar a mais de uma forma de aplicação, os processos não podem ser
dissociados. Não é possível aplicar a norma sem tê-la interpretado antes.

3. Perguntas Centrais da Interpretação Constitucional

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São três as perguntas responsáveis por sintetizar todos os problemas da


Interpretação Constitucional.

 Interpretar o que?

A resposta óbvia a esta pergunta é “a Constituição”. Não obstante a aparente


obviedade, o questionamento leva a análises muito mais profundas a respeito do que
seria, então, a Constituição, v.g., um documento jurídico, um estatuto político, um
sistema de valores. Na verdade, há diversas concepções e, consequentemente, muitas
possíveis teses a serem adotadas.

 Interpretar como?

Indaga-se aqui a respeito dos métodos de interpretação. Existem vários e, dentre


eles, não há aquele amplamente aceito, ou dominante. Essa situação, segundo
Canotilho, descreve uma falta de cânones metódicos, expressão que alude ao cânon
bíblico, o conjunto taxativo de livros que formam a Bíblia. Ou seja, não um método
“sagrado”, único, unânime.

 Quem interpreta?

Muitos são os possíveis intérpretes da Constituição. Pode-se dizer que os


Poderes possuem a incumbência de concretizar a Constituição. É igualmente plausível
afirmar que a sociedade como um todo participa dessa interpretação.

No caso brasileiro, indubitavelmente, são intérpretes os três Poderes, bem como


a sociedade, ao vivenciar a realidade constitucional. Contudo, há um intérprete
responsável pela última palavra: o Supremo Tribunal Federal. Pode-se, quanto a esta
atribuição do STF, realizar debates acerca de sua legitimidade para tal, ou sobreposição
aos demais Poderes, dentre outros possíveis temas, todos analisados em seus contextos
específicos.

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4. Especificidades das Normas Constitucionais

A Norma Constitucional, embora seja norma jurídica, possui características


próprias que repercutem diretamente em sua Interpretação.

 Posição Hierárquica Superior

A Norma Constitucional possui Hierarquia Superior em relação às demais normas


jurídicas, o que desencadeia um processo interpretativo muito mais complexo.
Enquanto as demais normas são analisadas tendo como parâmetro a Norma
Constitucional, ela própria não possui fundamento superior positivado.

 Textura aberta da Linguagem Constitucional

A Linguagem Constitucional é vaga, podendo-se falar em plasticidade da Norma


Constitucional. A doutrina utiliza expressões equivalentes, tais como Textura Aberta,
Conceito Vago, Plasticidade, Porosidade, ou, ainda, o termo Ductilidade (maleável).

A exemplo do conceito de dignidade da pessoa humana, quanto mais vaga for a


norma, maior será a dificuldade de a interpretar.

 Objeto/Conteúdo Específico: organização e estrutura do Poder; definição dos


Direitos Fundamentais; e imposição dos Fins, Programas e Tarefas.

O conteúdo específico de igual modo torna a Norma Constitucional diferente de


outras normas, já que possui um conjunto de temas muito próprios, com valores
inerentes adquiridos ao longo da evolução constitucional.

 Caráter Eminentemente Político

Existe margem para a valoração política na Norma Constitucional, de modo que,


dependendo da concepção política ou ideológica do intérprete, podem-se adotar
acepções diversas acerca de um mesmo enunciado.
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Tais especificidades afetam diretamente a interpretação constitucional,


diferenciando-a da interpretação jurídica em geral.

5. Características da Interpretação Constitucional


As características que seguem são da autoria de Inocêncio Mártires Coelho:
 Linguisticidade: a linguagem deve ser comum a todos os destinatários.

O Intérprete deve procurar estabelecer uma linguagem acessível a todas as


pessoas que vivem aquela realidade constitucional.

 Literalidade: a interpretação literal é ponto de partida, podendo o intérprete


buscar novos sentidos ao verificar a imprecisão ou incorreção da literalidade.

Não se trata de estabelecer uma interpretação exclusivamente literal, mas,


partindo da literalidade, ao se verificar alguma incoerência ou imprecisão, novos
sentidos podem ser buscados, o que pode se dar por interpretação sistemática,
valorativa, teleológica, dentre outras.

 Objetividade: interpretação por critérios objetivos e não por subjetividades


(como a intenção do legislador).

Não se tenta mais descobrir a intenção do legislador ao criar a norma, porém,


verificam-se objetivamente as análises possíveis.

 Necessidade: toda norma deve ser interpretada. Não há norma jurídica,


senão norma jurídica interpretada.

Trata-se da não aplicação do ultrapassado Princípio da in claris cessat


interpretatio.

 Contextualidade: o sentido do enunciado só é revelado no momento de sua


aplicação.

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Trata-se da ideia de concretização da Norma Constitucional.

 Mutabilidade: toda interpretação é um “experimento em marcha”, logo não


há interpretação definitiva.

A interpretação pode ser modificada ao longo do tempo, em função de uma


mudança social, por exemplo.

6. Metódica Constitucional

Esta é uma expressão utilizada especificamente por Canotilho, segundo o qual, a


Metódica Constitucional “é uma metodologia específica dentro da metodologia jurídica
em geral”1 . Nela, “investigam-se os procedimentos de realização, concretização e
cumprimento das normas constitucionais”.

7. Metódica Constitucional é Tridimensional2

Seguindo com os ensinamentos de Canotilho, tem-se que a Metódica


Constitucional é Tridimensional, haja vista estar pautada em três teorias.

 Teoria da Norma Constitucional: Estrutura da Norma (princípios e regras)

Esta teoria preocupa-se com a estrutura da norma constitucional. Dentre as


possíveis análises, a que mais importa ao estudo é a que a diferencia entre princípios e
regras.

1 O edital da prova para o MPF aponta em seu conteúdo programático o tema Constitucional e
Metodologia Jurídica. Nesse caso, a metodologia jurídica refere-se à sistematização dos métodos de
interpretação jurídica.
2
Serão estudadas neste módulo a Teoria da Norma Constitucional e a Teoria da Interpretação. Quanto às
Teorias do Poder Constituinte e da Decisão, a primeira será trabalhada no módulo próprio, a segunda não
ganhará tópico exclusivo, mas será abordada sempre que houver situações práticas em que lei ou decisão
envolver Norma Constitucional.
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 Teoria do Poder Constituinte e Teoria da Decisão (administrativa, judicial e


legislativa): Estabelecimento e concretização da norma constitucional

Interessa à Metódica Constitucional o estudo de como é feita e concretizada a


Norma. Nesse âmbito, cumpre esclarecer que o Poder Constituinte é o que a estabelece,
ao passo que a Decisão, administrativa, judicial ou legislativa, é responsável pela sua
concretização. Por exemplo, ao criar reserva de vagas para deficientes por meio de lei, o
legislador tem por finalidade efetivar o princípio da igualdade.

 Teoria da Interpretação: Princípios hermenêuticos

É o estudo dos métodos e dos Princípios Hermenêuticos.

8. Metódica Estruturante

A metodologia tradicional se ocupa da realização judicial do Direito. Já a


Metódica Constitucional é Metódica Estruturante, uma vez que considera:

 A Teoria da Norma: estrutura, conteúdo e forma da norma;


 A Teoria da Constituição: o que é constituição;
 A Dogmática Jurídica, que abrange três atividades:
o Descrição do direito vigente
o Análise sistemática e conceitual deste direito
o Elaboração de propostas de solução de casos jurídicos

Ao se falar em Dogmática Jurídica ou Constitucional, tende-se a pensar em


doutrina, entretanto, o estudo dogmático é o que se faz do Direito Positivado. Nesse
caso, é possível vislumbrar duas abordagens relativas à Metódica Estruturante: a
primeira, Teórica, mais filosófica do Direito Constitucional, a segunda uma análise
Dogmática do Direito Constitucional Brasileiro, de acordo com a Constituição Brasileira.

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Por exemplo, o Curso completo de A a Z estuda essencialmente a Dogmática


Constitucional, i.e, a CRFB positivada, enfatizando as decisões que a aplicam, conquanto
haja algumas abordagens teóricas, não inerentes ao estudo dogmático. Outro exemplo é
a abordagem filosófica do Processo Legislativo feita por de Marcelo Cattoni, em seu livro
Devido Processo Legislativo, que em muito diverge da, comumente adotada, abordagem
dogmática do tema.

9. Metódica Constitucional e o Texto Normativo Constitucional


 Leva a sério o texto da Norma Constitucional

Se a Metódica Constitucional é Estruturante, verificou-se que, para além da


abordagem teórica, há necessidade de verificar o Texto Normativo Constitucional,
dentro de um viés Dogmático.

 Atua a partir dele e vai além dele

Conquanto utilize o estudo Dogmático, a Metódica Constitucional não se resume


a ele, já que pensa filosoficamente os problemas.

10. Dificuldades Metódicas


 1º - Textura Aberta das Normas Constitucionais

Quanto maior a vagueza da norma, maior será a dificuldade de interpretá-la.

 2º - Dimensão Política

A Norma Constitucional, além de definir o Poder Político, possui caráter


eminentemente político, dando margem à valoração do intérprete, o que dificulta o
estabelecimento de um consenso quanto ao seu sentido.

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 3º - Teoreticismo

O Teoreticismo é o risco de a Metódica desconectar-se da realidade ou da


dogmática jurídica.

 4º - Epigonismo Positivista

O Epigonismo define-se por ser a “imitação artística, literária ou intelectual,


especialmente por uma geração posterior ao artista, literato ou pensador anterior”. Em
posse desta definição, é possível extrair do termo utilizado por Canotilho um sentido
pejorativo, uma vez que vislumbra a perpetuação dos vícios do positivismo.

Explica-se: é a resolução de problemas concretos utilizando critérios positivistas


de uma geração passada, ainda que haja um discurso atual pós-positivista, enfatizando
valores morais éticos, não postos em prática.

O julgado a seguir elucida esta dificuldade:

TJPR - Apelação Cível e Reexame Necessário nº 180126-5"1. DA


RELEVÂNCIA DO CONTEXTO FÁTICO: Inicialmente, mister se faz avivar
que todas as causas jurídicas devem ser analisadas levando-se em conta
o contexto fático e o bom-senso. Não mais impera regra no sentido de
que tão somente da lei se retira solução para todos os casos, ainda que
em contrariedade à verdade dos fatos ou ao que é justo. Como vivemos
num Estado Democrático de Direito os princípios, fundamentos e
objetivos elencados pela Carta Magna sempre devem nortear a atuação
dos integrantes da sociedade, em especial do operador jurídico, o que
enseja, no mais das vezes, razoável ponderação dos bens em conflito.
Desta forma o caso em tela, como qualquer outro, deve ser julgado
conforme os princípios estabelecidos pela nossa Constituição Federal e
com os olhos voltados à realidade. É o que ensina Canotilho quando

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afirma que a metódica constitucional debate-se ainda com aquilo que já


se chamou de epigonismo positivista. Por mais que se faça fé numa
metodologia pós-positivista quer vá para além dos textos, os operadores
jurídicos mostram-se relapsos em ultrapassar os postulados positivistas:
(1) as soluções dos casos encontram-se no texto das normas; (2) a
interpretação/aplicação de normas é a aplicação da regra geral e
condicional precisa e suficientemente definida nos códigos. Quem assim
proceder não sabe nada de direito constitucional.

O simples fato de dizer “que todas as causas jurídicas devem ser analisadas
levando-se em conta o contexto fático e o bom-senso” já traduz uma visão não
positivista da análise do direito. Visão esta que segue em pauta ao estabelecer o jurista
que a solução para os casos não se encontra exclusivamente na norma, principalmente,
quando contrária à verdade dos fatos ou à justiça. Nesse sentido, preconiza tanto a
necessidade da razoabilidade na ponderação dos bens em conflito, quanto a necessária
Concretização Constitucional. Por fim, insurge-se contrário ao que Canotilho chamou de
Epigonismo positivista, demonstrando os postulados que devem ser revistos pelos
operadores jurídicos.

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