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ESCOLA EB23/SECUNDÁRIO CUNHA RIVARA ARRAIOLOS

Júlio Pomar
História A
António Boieiro nº2
12º B
2019
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Índice

Notas Biográficas ............................................................................................... 4


Início da carreia .............................................................................................. 4
Ida para Paris e seu falecimento .................................................................... 5
Influências recebidas .......................................................................................... 6
Viagem até Espanha....................................................................................... 6
Influências Francesas ..................................................................................... 7
Visita à Amazónia ........................................................................................... 8
Corrente modernista ........................................................................................... 9
Neorrealismo .................................................................................................. 9
Caraterísticas da Obra ..................................................................................... 11
Análise de Obras: ......................................................................................... 11
Fernando Pessoa e Almada Negreiros ..................................................... 11
D. Quixote ................................................................................................. 13
Cena na Praia ........................................................................................... 15
Outros dados de interesse ............................................................................... 17
Bibliografia........................................................................................................ 18
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Índice de Ilustrações

Figura 1 Júlio Pomar .......................................................................................... 4


Figura 2 Lusitânia no Bairro Latino (retratos de Mário de Sá Carneiro, Santa-Rita
Pintor e Amadeo de Souza-Cardoso), 1985, acrílico sobre tela, 158,5 cm x 154
cm Foto: Wikipédia ............................................................................................. 5
Figura 3 Pormenor de "Maria da Fonte" (1957) de Júlio Pomar. Foto: WikiArt/DR
........................................................................................................................... 6
Figura 4 "Entrada de Touros" de Júlio Pomar (1963). Exemplo das tauromaquias
representadas nos quadros. Foto:Museu Calouste Gulbenkian ......................... 7
Figura 5 O banho das crianças no Tuatuari II (1997) de Júlio Pomar,Acrílico,
carvão e pastel sobre tela,195 x 390 cm. Foto:TÁWAPAYÊRA ......................... 8
Figura 6 O almoço do trolha, 1946-50, óleo sobre tela, 120 cm x 150 cm Foto:
Wikipédia .......................................................................................................... 10
Figura 7 "Fernando Pessoa e Almada Negreiros",1983, Papel vegetal, 203 cm x
150 cm Foto: Museu Calouste Gulbenkian....................................................... 11
Figura 8 "D. Quixote", 1957-1959, Papel, 52,3 cm x 39,7 cm Foto: Museu
Calouste Gulbenkian ........................................................................................ 13
Figura 9 "Cena na Praia", 1959, Tela, Óleo, 130,5 cm x 162,5 cm Foto: Museu
Calouste Gulbenkian ........................................................................................ 15
Figura 10 Júlio Pomar ...................................................................................... 17
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Notas Biográficas
Início da carreia

 Júlio Artur da Silva Pomar (Lisboa, 10 de janeiro de 1926 — Lisboa, 22 de


maio de 2018) foi um artista
plástico/pintor português. Frequentou a
Escola António Arroio, onde foi colega de
artistas e escritores como Marcelino
Vespeira, Mário Cesariny de
Vasconcelos, Fernando de Azevedo,
Pedro Oom, José Gomes Pereira e Artur
Cruzeiro Seixas. Em 1942 entra na
Escola Superior de Belas Artes de Lisboa
e, na sequência de uma exposição que
faz com colegas no atelier que
partilhavam na Rua das Flores, Almada
Negreiros compra-lhe um quadro, que
faz expor no VII Salão de Arte Moderna
do Secretariado de Propaganda
Nacional.

 Em 1944, devido à discriminação de que


eram alvo em Lisboa os alunos vindos da Figura 1 Júlio Pomar
António Arroio, transfere-se para a
Escola de Belas Artes do Porto, onde se liga ao grupo que organiza as
Exposições Independentes (Fernando Lanhas, Júlio Resende, Amândio
Silva). Em 1945 será responsável pela página semanal «A Arte» do diário
portuense A Tarde. Da sua participação na IX Missão Estética de Férias em
Évora resultará o quadro Gadanheiro, ex libris do neo-realismo português,
exposto em Lisboa na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA). Mário
Dionísio, principal teorizador do neo-realismo, notará a emergência de «um
grande pintor» e daqui em diante não mais deixará de acompanhar a sua
obra, publicando ao longo da vida críticas, livros e colaborando com o pintor
através da escrita de ensaios para obras conjuntas.

 Nos seguintes anos a sua oposição ao regime de Salazar acarreta-lhe uma


estada de quatro meses na prisão, a apreensão de um dos seus quadros pela
polícia política e a ocultação dos frescos com mais de 100 m2, realizados
para o Cinema Batalha no Porto.
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Ida para Paris e seu falecimento

 Começa a distanciar-se do ativismo político e do idioma figurativo inicial na


segunda metade da década de 1950 e, em 1963, radica-se em Paris. Sem
nunca abandonar o pendor figurativo, liberta-se do compromisso neorrealista,
enveredando pela "exploração de práticas pictóricas diversas que o centrarão
na pintura enquanto tal, interrogando as suas formas, composições e
processos, pintando das mais variadas maneiras na exploração ou na recusa
das possibilidades que o seu tempo lhe abriu"

 A sua longa carreira conta com inúmeras exposições em Portugal e no


estrangeiro e numerosas distinções, entre elas o prémio da Associação
Internacional dos Críticos de Arte - Secretaria de Estado da Cultura (1994), o
prémio Celpa/Vieira da Silva (2000) e o prémio Amadeo de Souza-Cardoso
(2003). Recusou uma comenda do Presidente Ramalho Eanes, recebeu uma
condecoração do Presidente Mário Soares (mas não a foi levantar
pessoalmente) e a Ordem da Liberdade do Presidente Jorge Sampaio, bem
como a comenda «Des Arts e des Lettres» do governo francês. Várias
exposições antológicas têm sido organizadas. Entre as mais recentes
contam-se a de 2004, no Museu Berardo em Sintra, intitulada Autobiografia,
e a de 2008, no Museu de Serralves que colocava em relação obras das
diferentes fases da sua carreira e a que o artista escolheu chamar Cadeia da
Relação.

 Ao contrário de muitos dos seus pares, não era licenciado e não seguiu uma
carreira como professor universitário, nem integrou qualquer organismo de
poder. Viveu entre Lisboa e Paris.Deste homem independente, diz-se que era
generoso, avesso à mediocridade e dotado de sentido de humor.

 Júlio Pomar morreu a 22 de maio de 2018, em Lisboa, aos 92 anos de idade.

Figura 2 Lusitânia no Bairro Latino


(retratos de Mário de Sá Carneiro,
Santa-Rita Pintor e Amadeo de
Souza-Cardoso), 1985, acrílico sobre
tela, 158,5 cm x 154 cm Foto:
Wikipédia
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Influências recebidas

 Num período inicial, neorrealista, foram marcantes algumas das suas obras,
como "O Almoço do Trolha", "Menina com um Gato Morto", "Varina Comendo
Melancia" ou "O Cabouqueiro", que revelam a influência, na mesma corrente,
de escritores como Alves Redol e Soeiro Pereira Gomes, e artistas plásticos
como o brasileiro Cândido Torquato Portinari.

Viagem até Espanha


 Em 1950 fará a primeira viagem a Madrid e em 1953, na sequência das
jornadas do «Ciclo do Arroz» promovidas por Alves Redol para mergulhar na
dura realidade do trabalho nos arrozais do Ribatejo, a sua pintura ganha
maior rigidez, correspondendo mais literalmente a um formulário realista anti-
expressivo. Esta fase dura pouco, pois a partir de 1957, a pintura de Pomar
altera-se – já após uma viagem a Paris, deixando para trás o neo-realismo,
ao mesmo tempo que recuperava a influência de Goya e passava à tela a
aprendizagem feita em ilustração feita na década de 50, onde explorou em
desenho a pincel um traço rápido, livre, económico. Será a obra Maria da
Fonte de 1957 a primeira a mostrar a técnica gestual de forte poder
expressivo que perdurará na sua pintura nos anos seguintes. Em 1956 é um
dos fundadores da cooperativa de artes gráficas Gravura.

Figura 3 Pormenor de "Maria da Fonte" (1957) de Júlio Pomar. Foto:


WikiArt/DR
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Influências Francesas
 Instala-se definitivamente na capital francesa a partir de 1963 e será bolseiro
da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1964 e 1966. Os temas que pinta
vão desde a relação com a literatura, a tradição popular (da apanha do
sargaço às tauromaquias) e os acontecimentos da época, como o Maio de
68, bem como um diálogo com mestres do passado (Uccello, Ingres, Courbet,
van Eyck, Matisse), cruzado com o erotismo que dominará a sua obra nos
anos 70. Já com experiências prévias em escultura, realiza várias
assemblages em 1967, técnica a que voltará nos anos 70. As características
da tinta acrílica, que começa a usar no final da década de sessenta, alterarão
novamente a sua pintura, onde predominarão cores primárias e a tinta
aplicada em bloco, sem gradações ou transparências. Fará também várias
incursões pela colagem, comentando Matisse com pedaços de tela cortada
e pintada mas também outros materiais, como pêlo e papel. Em 1974 é um
dos 48 artistas que participam na pintura do mural do 10 de Junho,
manifestação de arte colectiva para comemorar a recente revolução de Abril.

Figura 4 "Entrada de Touros" de Júlio Pomar (1963). Exemplo das


tauromaquias representadas nos quadros. Foto:Museu Calouste
Gulbenkian
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Visita à Amazónia
 Também em Paris e em Madrid apresentou, na década de 1990, a série sobre
os índios do Alto Xingú, na Amazónia, onde passou algum tempo, e a
antológica "Pomar/Brasil", organizada pelo Centro de Arte Moderna da
Gulbenkian, e apresentada em Lisboa, Brasília, São Paulo, e Rio de Janeiro.

Figura 5 O banho das crianças no Tuatuari II (1997) de Júlio Pomar,Acrílico, carvão e pastel sobre tela,195
x 390 cm. Foto:TÁWAPAYÊRA
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Corrente modernista

 Ao longo de mais de seis décadas de carreira, Pomar, que confessa ter pouca
imaginação, percorre várias estéticas da pintura: do neorrealismo (deixa
obras significativas como “Almoço do Trolha” e “O Gadanheiro”), até ao
expressionismo e abstracionismo.

 Trabalhando essencialmente por ciclos artísticos, explorações temáticas que


desenvolve durante um certo período, pode-se afirmar que o ‘movimento’
assume na obra de Pomar um papel primordial e constante, sendo uma
marca da sua pintura; surge intermitente, agitado, contraditório, refletindo,
insistentemente, uma insatisfação interior e artística que se manifesta nos
variados temas que tem escolhido ao longo da sua vida artística.

Neorrealismo

 O Neorrealismo começou a ganhar forma no período entre as duas grandes


guerras mundiais. Na Europa e nas Américas, os artistas focam-se no homem
comum, querem saber como vivem operários e camponeses, escrutinar as
injustiças, analisar o modelo social vigente, sem lirismos ou idealismos. Na
pintura o traço é rude, nalguns casos a tender para o modernismo; a literatura
depurada, seca e descritiva, enquanto o registo cinematográfico se faz numa
aproximação à objetividade da reportagem.

 Um dos quadros mais simbólicos produzido nesse período pertence a Júlio


Pomar, o “Almoço do Trolha”, pintura-manifesto que ilustra este artigo e que
mostra uma família operária, duas figuras sombrias e cansadas, apenas no
rosto do filho incide a luz da esperança, o futuro que os pobres,
principalmente eles, queriam que fosse melhor.
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Figura 6 O almoço do trolha, 1946-50, óleo sobre tela, 120 cm x 150 cm Foto: Wikipédia
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Caraterísticas da Obra
Análise de Obras:
Fernando Pessoa e Almada Negreiros

Figura 7 "Fernando Pessoa e Almada Negreiros",1983, Papel vegetal, 203 cm x 150 cm Foto: Museu
Calouste Gulbenkian
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 O tema escolhido foram quatro poetas que associa à mitologia de Lisboa,


bem como alguns elementos do universo literário de cada um: Pessoa,
Almada, Bocage e Camões. Almada Negreiros e Fernando Pessoa já
havia feito entrada na sua obra na década de 70, quando esta se
centralizou em torno do retrato. Almada abrira o ciclo com o retrato
Almada I, em 1970 (pertencente à coleção do CAM), e Fernando Pessoa
seguir-se-lhe-ia pouco depois, em 1973, com os retratos Fernando
Pessoa e Fernando Pessoa II (Lisboa com suas Graças).

 A obra que observamos pertence à segunda fase do processo de trabalho


de Pomar para a estação do Alto dos Moinhos, sendo esta precedida por
desenhos a carvão e concluída na sua etapa final pela passagem do
desenho fixado a marcador sobre papel vegetal para a cerâmica do
azulejo. Feita de sucessivas aproximações às personagens, este vasto
conjunto de desenhos — objeto de uma exposição no CAM em 1984 —
considera cada um dos poetas individualmente, mas aqui reúne dois dos
eleitos: Almada, assumindo uma personagem de arlequim ou de diabo, e
Pessoa. Se a posição de Almada na composição e a estruturação desta
em torno de uma mesa de café é remanescente de Autorretrato num
grupo que Almada realiza para o café A Brasileira, no Chiado, em 1925 (e
pertencente à coleção do CAM), a opção de retratar Fernando Pessoa à
mesa de um café não pode deixar de evocar a iconografia pessoana
primeiramente fixada, e também, por Almada, no Retrato de Fernando
Pessoa que realiza em 1954.

 O retrato de Pessoa à mesa de um café (supostamente, o Martinho da


Arcádia) á alvo de diversas variações nestes desenhos de Pomar: Pessoa
com Almada, assumindo o últimos diferentes posições e fisionomias, ou
Pessoa desmultiplicado, numa alusão aos seus heterónimos. A presente
obra é das que maior economia de traço apresenta, num caminho para a
simplificação e clarificação do desenho confessadamente pretendido pelo
autor. De linhas eminentemente verticais e retilíneas, com um traço pouco
quebrado quando comparado com outros desenhos da série, observamos
Fernando Pessoa à mesa, central mas recuado na composição, e à
esquerda, num plano mais avançado, a figura esguia de um Almada, que
parece converter-se numa das suas personagens acrobáticas. Fundidos
num mesmo plano, por um pintor de uma geração posterior, estão assim
duas personagens principais do Modernismo em Portugal, companheiros
da revista Orpheu. Representados como personagens, numa
aproximação que não pretende desvelar as suas múltiplas máscaras
(assumidas na heteronímia pessoana ou nas poliédricas atividades de
Almada) mas, ao invés, assumi-los, precisamente, como personagens de
uma mitologia cultural.
(Cardoso, 2015)
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D. Quixote

Figura 8 "D. Quixote", 1957-1959, Papel, 52,3 cm x 39,7 cm Foto: Museu Calouste Gulbenkian
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 A ilustração de obras literárias é uma constante da produção de Júlio


Pomar. O tema de D. Quixote introduz-se no seu imaginário em finais dos
anos 50, altura em que ilustra, entre 1957 e 1959, uma versão em
Português de Aquilino Ribeiro. Este é aliás um período prolífico na
ilustração de obras, já que na segunda metade da década ilustra uma
biografia de Camilo Castelo Branco, As Mil e Uma Noites, O Barão, de
Branquinho da Fonseca e realiza vários estudos para Guerra e Paz de
Tolstoi. O tema de D. Quixote será alvo de pintura e de esculturas em
ferros soldados.

 Alexandre Pomar considera, inclusivamente, que “a prática intensa do


desenho destinado à ilustração de obras literárias (...) não é alheia à
evolução da sua pintura por novos caminhos expressivos”, uma vez que
a utilização do “pincel japonês trazido de Paris, em sequência da
admiração por Hokusai” o levaria a explorar uma “escrita veloz e
sincopada onde os gestos e as formas se definem na clareza e no ritmo
dos gestos.” Com efeito, nesta gravura datada de 1959 podemos observar
como Pomar abandona a sua anterior linguagem realista e explora novos
caminhos ligados ao gestualismo e ao informalismo, embora nunca
abandone a figuração.

 Ainda que de uma gravura se trate, Pomar consegue manter toda a


expressividade gestualista que então começava a explorar na pintura.
Sobre um fundo negro e ocre, o autor representa de perfil a figura esguia
de D. Quixote sobre o seu cavalo. Estas figuras “giacomettianas” não têm
qualquer pretensão de descrição detalhada ou de contornos delineados:
a sua forma advém de um gesto rápido que deixa a marca do seu
movimento. A tensão entre a imagem e os seus limites — constante da
pesquisa de Pomar — é também aqui evidente, já que a dupla ocupa
praticamente todo o espaço disponível. A composição mantém a sua
tensão através do jogo entre os eixos diagonais, verticais e horizontais
das suas formas, ou seja, entre a figura ligeiramente descentrada de D.
Quixote para a esquerda que estabelece uma diagonal com as patas
dianteiras do cavalo, a verticalidade da figura do primeiro e das patas do
animal, e a horizontalidade do dorso do último sublinhada pela lança.

 É a partir desta estrutura compositiva, aliada ao movimento que a forma


retém do seu gesto, que a imagem da gravura se anima. Ou como diria a
eloquência de Pomar: “Digamos que o gesto vai a par da palpitação da
forma, é a procura de uma labareda que se levante e conduza — ou
incendeie — no imaginário da pintura, a única verdadeira realidade da
pintura que é a matéria pictoral.”

(Barbosa, 2015)
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Cena na Praia

Figura 9 "Cena na Praia", 1959, Tela, Óleo, 130,5 cm x 162,5 cm Foto: Museu Calouste Gulbenkian
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 Ambientar o olhar à obra Cena de Praia, de 1959-60, poderá começar,


antes de mais, por situá-la no decurso da produção de Júlio Pomar, plena
de metamorfoses porque ávida de experimentação. Após o período
neorrealista inicial, observa-se uma transformação para uma linguagem
de cariz mais gestualista, transformação na qual Maria da Fonte (1957) é
um marco incontornável num percurso a seguir pontuado por obras como
Cegos de Madrid (1957, pertencente à coleção do CAM) e Lota (1958). A
forma mais realista, descritiva ou expressionista que caracterizara a fase
neorrealista é substituída por uma experimentação em torno da pincelada
e do movimento da mesma, os quais passam a partir de então a estruturar
a forma. O avanço desta pesquisa leva, de certo modo, a uma
desfiguração do objeto, ainda que Pomar jamais abandone a figuração.

 Contudo, numa obra como Cena na Praia a figuração é em boa medida


assegurada pelo título, que a ancora a um universo referencial específico.
Todavia, quando comparada, por exemplo, com Cegos de Madrid é
inevitável reconhecer como progressivamente as formas se tornam
menos reconhecíveis.

 Num fundo abstrato em dois tons reconhecemos um cenário de praia


guiados pelo título: um areal ocre, ocupando uma grande área da
composição, e uma mancha negra na parte superior, a qual tanto pode
ser uma figuração do mar como de um céu noturno. O movimento que
anima a composição resulta, em primeira instância, da simbiose entre as
opções sobre a figuração da paisagem e a disposição das figuras sobre a
mesma. O plano do areal não está nivelado pela esquadria ortogonal do
quadro, desestabilizando, com esta peculiar inclinação, o nível
convencional do olhar. A sua forma tendencialmente circular, com alusões
a uma arena, é sublinhada pela disposição das figuras em elipse. Assim,
a disposição das figuras em conjunto com a forma do areal criam uma
sensação de movimento centrípeto, como se as linhas de força em jogo
criassem um vórtice na composição. Este vórtice conduz o olhar para o
seu centro, ocupada pela figura de maiores dimensões em tons escuros
mas iluminada por uma mancha branca.

 Porém, em segunda instância, temos obviamente de considerar como


fatores determinantes para a sensação de movimento que a obra
transmite a pincelada rápida, bem como um gama cromática
predominantemente escura mas animada por brancos brilhantes e,
pontualmente, por breves pinceladas de amarelo e vermelho.

 A grande força desta composição resultará provavelmente de uma


permanente tensão entre a sua (e do nosso olhar) estabilidade e
instabilidade. Como se os planos desestabilizados relativamente aos
limites ortogonais do quadro fizessem oscilar continuamente o nível da
imagem e, com esta, o do nosso olhar.

(Barbosa, Museu Calouste Gulbenkian, 2015)


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Outros dados de interesse

 Além da obra de pintura, desenho, escultura, cerâmica, gravura, etc., Júlio


Pomar escreveu Catch: thèmes et variations, Discours sur la cécité du
peintre, ...Et la peinture? (Éditions de la Différence, Paris, 1984, 1985 e 2000),
os dois últimos traduzidos por Pedro Tamen com os títulos Da Cegueira dos
Pintores (Imprensa Nacional, 1986) e Então e a Pintura? (Dom Quixote,
2003); e duas colectâneas de poesias Alguns Eventos e
TRATAdoDITOeFEITO (Dom Quixote, 1992 e 2003).

 Júlio Pomar instituiu em 2004 uma Fundação com o seu nome. Foi
anunciada para Abril de 2013 a inauguração do Atelier-Museu Júlio Pomar,
criado pela Câmara Municipal de Lisboa, em edifício que adquiriu na Rua do
Vale n.º 7, Mercês, Lisboa, o qual contou com um projeto arquitetónico de
reabilitação da autoria de Álvaro Siza.

Figura 10 Júlio Pomar


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Bibliografia
A aventura artística de Júlio Pomar. (2012). Obtido de RTP Ensina:
http://ensina.rtp.pt/artigo/julio-pomar/

Barbosa, L. (Fevereiro de 2015). Museu Calouste Gulbenkian. Obtido de


https://gulbenkian.pt/museu/works_cam/d-quixote-141676/

Barbosa, L. (Fevereiro de 2015). Museu Calouste Gulbenkian. Obtido de


https://gulbenkian.pt/museu/works_cam/cena-na-praia-138932/

Cardoso, L. (Fevereiro de 2015). Museu Calouste Gulbenkian. Obtido de


https://gulbenkian.pt/museu/works_cam/fernando-pessoa-e-almada-
negreiros-146226/

Ferreira, L. (2013). Atelier-Museu Júlio Pomar. Obtido de Atelier Museu Júlio


Pomar:
https://www.ateliermuseujuliopomar.pt/juliopomar/biografia/biografia.html

Júlio Pomar - SIGARRA U.Porto - Universidade do Porto. (2010). Obtido de


Universidade do Porto:
https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=antigos%20
estudantes%20ilustres%20-%20j%c3%balio%20pomar

Júlio Pomar – Wikipédia, a enciclopédia livre. (9 de Setembro de 2018). Obtido


de Juúlio Pomar: https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Pomar

Júlio Pomar | Museu Calouste Gulbenkian. (Maio de 2010). Obtido de Museu


Calouste Gulbenkian: https://gulbenkian.pt/museu/artist/julio-pomar/

Museu do Neorealismo. (s.d.). Obtido de Museu do Neorealismo:


http://www.museudoneorealismo.pt/pages/1142

Neorrealismo na arte portuguesa. (1983). Obtido de RTP Ensina:


http://ensina.rtp.pt/artigo/neorrealismo-na-arte-portuguesa/

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