Você está na página 1de 2

Exercício 10: POÉTICA VISUAL 1

Diante de um tema dado (no caso aqui: uma paisagem) outro tema, este de natureza
cromática, é superposto. Este último pode ser considerado como um "tema
acontecimento", e surge a partir de uma tônica de natureza imaginária, como no
exemplo dado aqui: "diurno" e "noturno". Ambos correspondem a duas vivências
sobre o dia e a noite. Se a paisagem possui uma identidade que pode ser nomeada, o
tema cromático a ela superposto possui também a sua identidade e, como tal, pode
ser também nomeada: "noturno", "diurno", etc.
Não há nenhum rigor na relação entre o tema escolhido e as cores que lhe
corresponderão. O que importa é a dinâmica vital motivadora que fundamenta sua
produção. Além disso, o fato de existir uma coerência nas associações entre as cores e
a dinâmica vital, a escolha é individual, pertence ao mundo íntimo de cada um.
Cada conjunto cromático resultante induz e sugere vivências particulares. Isso significa
que, quando pensamos em cores diurnas e noturnas e colocamos as cores
correspondentes no quadro, o observador, ao entrar em contato com elas, não vai
necessariamente pensar em "diurno" ou "noturno", mas vai reverberar intimamente
cada momento cromático que, por seu poder de sugestão, vai induzir vivências
internas particulares e individuais que correspondem à interação entre o campo
cromático específico e a resposta íntima imaginária.
O sentido aqui não é, pois, um fato puramente ótico, de natureza sensorial-visual,
mas imaginativo e poético. O conjunto não é apenas “visto”, mas imaginado. A cor
aqui não está sendo considerada segundo a lógica da abstração, da visualidade, ela
não se apresenta como uma subfração do branco, como no círculo de Newton, mas
com o estatuto de acontecimento (pois todo sentido imaginário corresponde a um
acontecimento), quando então ela ostenta atributos que vão além da própria cor. No
âmbito da poética a cor existe como uma emergência do negro, ou do cinza, i. e., da
não-cor. Nesse caso, ela dispensa a comparação com as outras cores, não se afirma
pela relação com elas, mas se afirma individualmente como um conjunto unitário em
torno de si mesma. No primeiro caso, as cores surgem isoladas mas remetem umas
para as outras, como no caso das complementares, quando o verde remete para o
vermelho e vice-versa. No segundo surgem como conjunto cromático, tal como
escreveu Van Gogh com relação ao dourado: ele não é uma só cor, mas “um conjunto
de amarelos”. Aqui temos um exemplo de um desdobramento de um atributo da cor
amarela, pois ela possui, em si mesma e entre outros, o atributo do dourado, este está
virtualmente presente em todo amarelo.
Nos exemplos, o 1º corresponde às cores associadas ao “dia”; o 2º às “noturnas”; o 3º
é uma justaposição de ambos sobre mesma paisagem. Nesta superposição,
vivenciamos simultaneamente duas referências distantes no tempo.
Só para dar uma referência desse procedimento, anexei um quadro de Magritte em
que o céu é diurno e a casa com as árvores são noturnas.

Você também pode gostar