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UDESC - UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS - CCT

FÍSICA EXPERIMENTAL III

TRANSFERÊNCIA DE POTÊNCIA

JOINVILLE
2018
RESUMO

Neste experimento, teve-se como objetivo investigar a máxima potência


transferida de uma bateria para um resistor de resistência variável. Foi possível
aferir o valor da resistência interna, assim como o valor da força eletromotriz da
mesma, através de análises gráficas. Também verificou-se que a bateria obtém
o seu melhor desempenho quando a resistência do circuito alcança um valor
numericamente equivalente à resistência interna da bateria.

1. INTRODUÇÃO

Quando fala-se de circuitos elétricos, podemos relacionar três teoremas


fundamentais para facilitar a análise de circuitos.

São eles: Teorema de Thévenin (circuitos equivalentes), que nos garante


a possibilidade de substituir o circuito dado por uma fonte real equivalente, desta
forma reduz-se a uma única fonte real. Teorema da Superposição, permite
determinar uma variável de saída em um circuito para diferentes entradas
(excitações). Teorema da Máxima Transferência de Potência, garante que a
máxima potência só ocorre quando ligado aos terminais, um elemento passivo
de mesmo valor de resistência da fonte.

Em particular, o Teorema da Máxima Transferência de Potência será


essencial para o aprofundamento do trabalho de estudo proposto. Basicamente
este teorema trata fundamentalmente da transferência de energia entre a fonte
e a carga do circuito, e será detalhado ao decorrer deste relatório apresentado.

1.1 Teorema da Máxima Transferência de Potência

Para um entendimento mais aprofundado, considera-se que as fontes


geralmente utilizadas não são ideais, ou seja, existe uma limitação na
corrente I que elas podem fornecer. Tais fontes reais podem ser
representadas pela associação em série de uma fonte ideal (geradores de
força eletromotriz) com uma resistência (responsável pela dissipação de
energia no interior do gerador), como mostrado na Figura 1.
Figura 1 Fonte de tensão real

Consideramos agora esta fonte conectada a uma carga com resistência


equivalente R. O circuito fonte-carga pode ser representado de acordo com a
Figura 2.

Figura 2 Circuito simplificado

A corrente do circuito é dada por:

𝐼
𝐼=
𝐼 + 𝐼𝐼
A potência Pc dissipada na carga é dada por:

𝐼𝐼 = 𝐼𝐼𝐼 = 𝐼𝐼2
𝐼
𝐼𝐼 = 𝐼²
(𝐼 + 𝐼𝐼)2

Sendo a potência Pi dissipada na resistência interna do gerador, dada por:

𝐼𝐼 = 𝐼𝐼 = 𝐼𝐼𝐼²
𝐼𝐼
𝐼𝐼 = 𝐼²
(𝐼 + 𝐼𝐼)2

Ao determinar 𝜀 como constante, o valor de R que maximiza a potência


dissipada, é então:

𝐼𝐼𝐼 1 2𝐼
= 𝐼2 − 𝐼² = 0
𝐼𝐼 (𝐼 + 𝐼𝐼)² (𝐼 + 𝐼𝐼)3
𝐼𝐼 − 𝐼
𝜀2 [ ]=0
(𝐼 + 𝐼𝐼)2

𝐼 = 𝐼𝐼

Assim, conclui-se que quando a resistência da carga for igual a resistência


do gerador, a potência dissipada na carga será máxima. E agora enunciamos o
teorema de máxima transferência de potência como:

Teorema 1 (Teorema da Máxima Transferência de Potência). “A máxima


transferência de potência para a carga ocorre quando a resistência interna da
fonte, é identicamente equivalente à resistência da carga (R-Ri).”

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Nesta seção será apresentado a montagem e os principais componentes


do circuito, bem como o procedimento para as medidas da corrente elétrica do
circuito e da diferença de potencial no reostato.

2.1. Materiais utilizados

▪ Bateria 6,0 V.
▪ Dois multímetros digitais.
▪ Reostato.
▪ Fios elétricos.

2.2 Descrição de um reostato

Reostatos são resistências variáveis, ou seja, é uma barreira variável que


dificulta a passagem da corrente elétrica em seu condutor. Com essa variação é
possível aumentar ou diminuir a intensidade da corrente elétrica nesse circuito,
responsável por conduzir eletricidade.
Existem dois tipos de reostatos, os que possuem resistência variável
continuamente e os de resistência variável descontinuamente. O reostato é feito
de um fio de cobre enrolado e sobre ele existe a movimentação de um cursor
também feito de cobre.
Neste trabalho usamos um reostato de variação contínua como a carga
do circuito. Quando conectado à um voltímetro e um amperímetro, é capaz de
indicar a queda de potencial e consequentemente a variação da intensidade de
corrente nos terminais do mesma.

Figura 3 Reostato de resistência contínua

2.3 Medida da Corrente Elétrica do Circuito e da Diferença de


Potencial no Reostato

Após a montagem do circuito referente a ilustração da Figura 4, em que


B é uma bateria de 6,00 V, R é um reostato (equipamento de resistência elétrica
variável), A é um multímetro atuando como amperímetro e V é um multímetro
atuando como voltímetro, procedeu-se para a aquisição dos dados desejados.

Figura 4 Esquema do circuito elétrico para medidas da corrente elétrica que flui

Com o auxílio de uma câmera de vídeo para a coleta de valores, obteve-


se as medidas movendo o cursor do reostato a fim de variar a resistência elétrica
do mesmo, e por fim, variando-se a corrente elétrica que flui através do circuito.
A Tabela 1 apresenta os valores obtidos de corrente elétrica e de diferença de
potencial, conforme observado durante o procedimento.
3. TRATAMENTO DE DADOS
3.1 Gráfico da Diferença de Potencial na Carga em Função da
Corrente Elétrica no Circuito

Tabela 1- Diferença de potencial DDP(V) em função da corrente I(A) no reostato

Corrente (±10mA) (A) Tensão (V)


0.48 5.12 ±10mV
0.71 4.89 ±10mV
0.89 4.58 ±10mV
1.11 4.28 ±10mV
1.32 4.01 ±10mV
1.52 3.72 ±10mV
1.70 3.47 ±10mV
1.87 3.25 ±10mV
2.14 2.95 ±10mV
2.36 2.56 ±10mV
2.58 2.33 ±10mV
2.79 1.92 ±1mV
3.03 1.60 ±1mV
3.48 1.29 ±1mV
Com base nos dados da Tabela 1, plotou-se uma curva característica para
representar a distribuição dos pontos experimentais, apresentado pela Figura 5.
A curva adquirida é uma reta decrescente.
Gráfico 1: Diferença de potencial em função da corrente

Utilizando as leis de Kirchoff para malhas, é possível obter a expressão para a


tensão do reostato. Sabendo que a corrente que percorre o voltímetro e a queda
de tensão do amperímetro são desprezíveis, considera-se que só há corrente
percorrendo a malha da esquerda. Temos portanto que,

−𝐼 + 𝐼 ∗ 𝐼 + 𝐼(𝐼) = 0

Equação 1: tensão no reostato

𝐼(𝐼) = 𝐼 − 𝐼 ∗ 𝐼

onde V(i) é a tensão no reostato, Ɛ é a tensão da bateria, r é a resistência interna


da bateria e i é a corrente que percorre a malha. Essa equação representa um
gráfico linear, onde -r é o seu coeficiente angular e Ɛ o seu coeficiente linear. A
partir dos pontos P1 (0,60 ± 10m ; 5,01 ± 10m), P2 (2,91 ± 10m;
1,76 ± 10m) e P3 (1,79 ± 10m; 3,36 ± 10m) é possível obter os valores
experimentais desses coeficientes conforme mostrado abaixo.

𝐼𝐼
𝐼=
𝐼𝐼
5,01 − 1,76
𝐼=−
0,60 − 2,91

𝐼 = 1,4 Ω

Ɛ=𝐼+𝐼∗𝐼

Ɛ = 5.96 𝐼

Da equação 1 podemos obter que os erros associados às medidas de r e Ɛ da


maneira mostrada abaixo:

∆𝐼 ∆𝐼
∆𝐼 = 𝐼 ∗ ( + )
𝐼 𝐼

∆𝐼 = 11,99 𝐼Ω

∆Ɛ = ∆𝐼 + 𝐼 ∗ ∆𝐼

∆Ɛ = 11,4𝐼𝐼

onde os valores de V e I foram retirados do gráfico (valores do P3) e ∆V e ∆I são


os seus respectivos erros. Portanto, a resistência interna e a tensão da bateria
são, respectivamente:

𝐼 = (1,40 ± 11,99𝐼)Ω

Ɛ = (5,96 ± 11,4𝐼)𝐼

3.2 Potência Elétrica Transferida da Bateria para a Carga

A partir do dados da Tabela 1, foi possível construir a Tabela 2, contendo


os valores da potência transferida da bateria para o reostato. Como mostrado a
seguir:

Tabela 2 – Potencia dissipada 𝑃(𝑃) em função da resistência 𝑃(Ω) no reostato.

Potência (W) Erro Resistência (Ω) Erro (Ω)


2.46 0.22 10.67 0.85
3.47 0.22 6.89 0.55
4.08 0.22 5.15 0.41
4.75 0.24 3.86 0.31
5.29 0.23 3.04 0.24
5.65 0.24 2.45 0.20
5.90 0.24 2.04 0.16
6.08 0.24 1.74 0.14
6.31 0.25 1.38 0.11
6.04 0.25 1.08 0.09
6.01 0.26 0.90 0.07
5.36 0.26 0.69 0.06
4.85 0.26 0.53 0.04
4.49 0.27 0.37 0.03

Gráfico 2: Potência transferida em função da resistência


Para termos a potência máxima alcançada é preciso que a resistência da
bateria seja igual a resistência do reostato

𝑃=𝑃

3.2 CÁLCULO DA POTÊNCIA ELÉTRICA TRANSFERIDA DA BATERIA


PARA O REOSTATO

A potência dissipada em um resistor pode ser calculada da maneira


mostrada abaixo.

𝐼=𝐼∗𝐼

Sabendo que para um resistor vale a relação abaixo,

𝐼
𝐼=
𝐼
a potência transferida para o reostato pode ser escrita como:

𝐼 = 𝐼2 ∗ 𝐼

A equação 1 pode ser reescrita como:

𝐼∗𝐼= 𝐼−𝐼∗𝐼
𝐼
𝐼=
𝐼+𝐼
Assim, obtemos a seguinte relação para a potência transferida para o
reostato.

Equação 2: potência transferida para o reostato

𝐼𝐼² 𝐼²
𝐼(𝐼) = ⟾
4𝐼² 4𝐼
Utilizando os valores calculados anteriormente, encontramos P(r) = 6,34W

𝐼² 𝐼
𝐼𝐼(𝐼) = 𝐼𝐼 + ( )𝐼𝐼
4𝐼 2𝐼
Ou ainda:

𝐼(𝐼) 𝐼 1/2
𝐼𝐼(𝐼) = [𝐼𝐼 + ( ) 𝐼𝐼 ]
𝐼 𝐼(𝐼)
Com o Excel obtém-se imediatamente, 𝐼𝑃(𝑃) = 0, 08𝑃. A potência máxima
dissipada com seu respectivo erro

𝑃(𝑃) = (6,34 ± 0,08) 𝑃.

Com o valor da máxima potência transferida e a resistência, podemos utilizar as


equações acima para estimar um segundo valor para a força eletromotriz para a
bateria de forma que teremos:

𝐼2 = 2√𝐼𝐼(𝐼)

Logo 𝐼2 = 5,96𝐼. E o erro associado 𝐼𝐼2 é dada por:

𝐼 1/2 𝐼(𝐼)
𝛥𝐼2 = ( ) [𝐼𝐼(𝐼) + ( ) 𝐼𝐼 ]
𝐼(𝐼) 𝐼

Numericamente 𝛥𝐼2 = 0,26𝐼. O valor da fonte como seu respectivo erro fica:

𝐼2 = (5,96 ± 0,6)𝐼

3. DISCUSSÃO

4.1 MEDIDA DA RESISTÊNCIA INTERNA DA BATERIA

Uma bateria real possui sempre uma resistência interna, o que limita a
sua voltagem. O valor da resistência da bateria que foi utilizada nesse
experimento foi obtido anteriormente através de dois métodos citados
anteriormente e encontrou-se as medidas de r1= 1,40Ω e r2.=1,40Ω.Calculou-se
∆𝐼
então o valor do erro relativo em cada caso, obtendo-se os resultados de =
𝐼1
∆𝐼
= 0,85% de erro percentual. Pode-se então afirmar que os valores
𝐼2

encontrados estão muito próximos dos valores reais.

4.2 MEDIDA DA FORÇA ELETROMOTRIZ DA BATERIA

Além disso, calculou-se também a tensão experimental que a bateria


utilizada foi capaz de fornecer através dos mesmos dois métodos já citados.
Com isso, encontrou-se os valores de Ɛ1 = 5,96V±11,4𝐼𝐼 e Ɛ2 = 5,96V±0,06𝐼.
Calculou-se também o valor do erro relativo para cada valor de tensão
encontrado e obteve-se de erro percentual de 0,81%. Assim como na medida
da resistência, o erro percentual encontrado foi baixo.

Com o auxílio de um multímetro, mediu-se diretamente a tensão da


bateria utilizada. O valor lido foi de Ɛ = 5,92V. Há também um erro em relação
ao valor calculado com a dados experimentais. Esse erro, porém, é mínimo e
se deve a pequenos erros durante a execução do experimento. Os valores dos
erros relacionados à resistência interna e à tensão da bateria se devem aos
erros humanos, deterioração de alguns equipamentos e eventuais erros
aleatórios.
4. CONCLUSÃO

Em face dos dados apresentados, conclui-se que a tensão em um resistor


varia linearmente com a corrente e também que a potência não varia
linearmente, mas depende da resistência em que essa energia está sendo
dissipada.

Além disso, também foi possível observar que a máxima transferência de


potência entre a bateria e a carga, ocorre quando a resistência da carga coincide
numericamente com a resistência interna da bateria.
REFERÊNCIAS

HALLIDAY, D. e RESNICK, R. – Fundamentos da Física – Volume 3 – 4 a


Edição; Capítulo 27 (Corrente e Resistência); Livros Técnicos e Científicos
Editora S.A – 1998.
NUSSENZVEIG, H.M. – Curso de Física Básica – Volume 3 – 1 a Edição;
Capítulo 6 (Corrente Elétrica); Editora Edgard Blücher – 2000.
SEARS, F. S.; ZEMANSKI, M. W.; YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. – Física
III (Eletromagnetismo) – 1 a Edição – Capítulo 26 (Corrente, Resistência e
Força eletromotriz) – Addison Wesley – 2004.
VÁRIOS – Apostila de Física Experimental – Setor de Cópias do CCT-UDESC.

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