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UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

BENEDICTO SILVA

UMA TEORIA GERAL


DE PLANEJAMENTO

11
EDIÇOES

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS


SERVIÇO DE PUBLICAÇÕES
RIO DE JANEIRO - GB
1964
a

maria pia duarte gomes


arnaldo salazar pessoa
jorge gustavo da costa

na fase heróica de nossa luta pela construção e consolidação


da escola brasileira de administração pública, as vicissitudes
e precariedades, que tivemos de enfrentar, eram formidáveis
e pareciam intransponíveis. a bem dizer, não havia profes-
sôres, nem curricula, nem literatura em português, nem se-
quer terminologia. tudo estava por criar em matéria de
administração profissional. os próprios estudantes tinham
que ser pegados a bôlsa de estudo. os companheiros de
trabalho a quem dedico êste livro, e cujos nomes alinho em
ordem alfabética (lady first) para os enredar na mesma
faixa de gratidão, foram os que mais deram em favor
da causa, nobremente: sem nada pedir, nem reivindicar.

o autor
Il\JDICE

CAPíTULOS - TíTULOS E SUBTíTULOS Páginas

NOTIFICAÇAO PREAMBULAR .................... XI

PARTE I

GENERALIDADES

CAPÍTULO I - INTRODUÇAO ................................. 3


CAPÍTULO II - A LEI DE WAGNER.......................... 11
CAPÍTULO III - A VEZ DO PLANEJAMENTO ................. 17
CAPÍTULO IV - POSIÇAO DA ATIVIDADE DE PLANEJAMEN-
TO NA ADMINISTRAÇAO .................... 25

O princípio nutriz da administração científica 25


Divisão espontânea e divisão refletida do
trabalho ..................................... 27
A divisão do trabalho governamental ....... 28
A teoria administrativa ..................... 30

CAPÍTULO V - A ATIVIDADE DO PLANEJAMENTO E A


CHEFIA EXECUTIVA ......................... 35
O órgão executivo e a função planejadora... 35
As funções executivas nas constituições po-
líticas ....................................... 38
A organização da chefia executiva .......... 49
VIII CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Que faz o chefe executivo? ................. 43


A função planejadora é própria do órgão
executivo .................................... 45

CAPÍTULO VI - MODALIDADES DE PLANEJAMENTO •....•.. 47


Area de incidência .......................... 47
Inclusividade ................................ 48
Racionalidade ............................... 48
Conteúdo ideológico ......................... 50
Periodicidade ................................ 51

CAPÍTULO VII - DO ORÇAMENTO AO PLANEJAMENTO ...... 53

PARTE II

UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO

CAPíTULO VIII - OS CANONES Jj:TICOS ........................ 63-


O cânone da máxima conveniência social ... 63
O cânone da honestidade ................... 71}
O cânone da publicidade .................... 71
O cânone da aceitabilidade ................. 73
O cânone do benefício ...................... 77
O cânone da sanção ........................ 8'}

CAPÍTULO IX - OS PRINCíPIOS LóGICOS ................... 83


O princípio da pesquisa 83
O princípio da previsão 85
O princípio da inerência ................... . 8ã
O princípio da universalidade .............. . 90
O princípio da exequibilidade .............. . 93
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO IX
O princípio da ecvnomia .................... 97
O princípio do equilíbrio .................... 99
O princípio da oportunidade ................ 100

CAPÍTULO x - AS REGRAS Tll:CNICAS ....................... 103'


A regra da exatidão ......................... 103
A regra da precisão ......................... 101
A regra da especificação .................... 107
A regra da limitação espacial ............... 108
A regra da limitação temporal ............. 114

CAPÍTULO XI - SíNTESE 121

PARTE III

ANEXOS

ANEXO N.o 1 PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL


(Ensaio de Henry N. Bunbury, traduzido do
inglês por Benedicto Silva) ................. 131

O PLANEJAMENTO NO GOV~RNO FEDERAL


DO BRASIL ................................... 141
Explicação ................................... 141

ANEXO N.o 2 Primeira Tentativa - Govêrno Getúlio Var-


gas - Projeto de Criação do Conselho de
PlanejamentQ e Coordenação ............... 143
ANEXO N.o 3 Segunda Tentativa Govêrno Juscelino
Kubitschek - Decreto de Criação do Con-
selho do DesenvQlvimento (Dec. n.o 38.744 de
1.°/2/1956) ................................ .. 149
ANEXO N.o 4 Terceira Tentativa - Govêrno Jânio Qua-
dros - Decreto n.o 51.152, de 5/8/1951 -
Criação da Comissão Nacional de Planeja-
mento ....................................... 153,
x CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

ANEXO N.o 5 Quarta Tentativa - Govêrno Parlamentar


Tancredo Neves - Dec. n.o 154, de 17/11/61
- Reformula a Coplan e amplia sua es-
trutura ...................................... 159
ANEXO N.o 6 Quinta tentativa - Govêrno João Goulart -
Projeto de Decreto submetido ao Presidente
da República, em abril de 1963, pelo Minis-
tro Extraordinário Celso Furtado ........... 165
ANEXO N.o 7 Sexta Tentativa - Govêrno João Goulart -
Decreto n.O 52.256, de 11/7/63 - Criação da
Coordenação do Planejamento Nacional ..... 175
ANEXO N.o 8 Sétima Tentativa - Govêrno João Goulart
- Projeto de criação do Sistema Federal de
Planejamento, parte da Reforma Adminis-
trativa Federal de 1963, formulada pelo Mi-
nisro Extraordinário Ernani do Amaral Pei-
xoto ......................................... 183

1. Apresentação 183

2. Exposição de Motivos ................ 187


3. Projeto de Decreto .................. 201
NOTIFICAÇÃO PREAMBULAR

Antecipo, neste volume, a jJUblicação de parte do anun·


ciado livro Teoria e Prática de Planejamento.
Obrigações, ocupações e solicitações que se acumularam sôbre
mim, imjJeriosas ou indeclináveis, nestes últimos anos, me têm
compelido a adiar a tarefa de concluir o livro.
Não é prudente, porém, negligenciar por mais tempo a
publicação dêste ensaio de teoria geral de planejamento, já di·
vulgado, aliás, em 1960, sob a forma de edição interna, pela
administração da Fundação Getúlio Vargas, para os alunos do
curso avulso de planejamento ministrado pelo autor.
Uma Teoria Geral de Planejamento é a parte que, prece-
àida de algumas generalidades, se antecipa neste caderno.
Parece oportuno contar apetite histoire de Uma Teoria
Geral de Planejamento. Em 1955, a Escola Brasileira de Admi·
nistração Pública, da Fundação Getúlio Vargas, então dirigida
por mim, recebeu a incumbência de organizar e ministrar, em
Belém do Pará, sob os ausPícios da SPVEA, um curso de pia.
nejamento regional.
Constou o curso de quatro séries consecutivas de aulas e semi-
nários sôbre as seguintes matérias:
I - Introdução ao Estudo do Planejamento,·
II - Antropologia Cultural;
III - Geografia Econômica;
IV - Planejamento Regional.
XII CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

Paralelamente às aulas e seminários} a EBAP programou ,Ima


série de conferências sôbTe temas contíguos ali complementares
do objeto central do curso. E convocou} para proferir as confe-
Tências} expoentes da administração} da política e do magistério,
entre outros: Aliomar Baleeiro} Apolônio Sales} Edmundo de Ma-
Cl'da Soares e Silva} Emilio Mira y Lopez.} Lucas Nogueira Garcez.
Para o tema Teoria Geral do Planejamento, constante do 1)1'0'
grama aprovado e em execução} entretanto} não conseguiu Te-
ulltar um conferencista. Vários foram convidados - niguém
aceitou.
Encontrando-me em Belém do Pará} na qualidade de respon-
sável pelo curso} vi-me a braços com o dilema: obter alguém para
versar o tema no dia e hora aprazados} ou} faute de mieux, ver-
slÍ-lo eu prôjJrio.
É óbvio que falhei na missão de recrutar o conferencista capaz
de discorTer} para um grupo de alunos esclarecidos} bem selecio-
nados} sôbre os aspectos teóricos do planejamento.
Fascinado pelo assunto desde vários anos} já havendo} in-
clusive} pronunciado no Rio} em 1943} e em San JlIan de
Punia Rico} em 1952} sob os auspícios} Tespectivamente} do
DASP e da Universidade de Puerto Rico} conferências sôbre Pla-
nejamento governamental; e pressionado} por outro lado} pela
necessidade de deliver the goods, tive q1/e fazer as vêzes do con-
ferencista faltante.
Em dois dias} sem biblioteca} sem documentação} obrigado
a valf'r-me exclusivamente da memória} ditei a uma taqui-
brafa da SPVEA minha tentativa de tratamento do tema - que
abrangeu 46 páginas. Assim} caçando com gato por não ter cão,
1/0 momento prefixado compareci perante os alunos e produzi
uma palestra sob o super ambicioso título constante do programa:
Teoria Geral do Planejamento.
Essa é a razão por qlle vários dos exemPlos apresentados
t/m côr local: referem-se a Belém do Pará} ao Estado do Pará
e à Amazônia.
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO xm
Ocioso é dizer que o texto primitivo sofreu revisão, ou melhor,
revisões. Utilizei-o intensamente, a partir de 1956, na EBAP,
jJara conduzir o Curso de Teoria e Prática de Planejamento. Ao
longo dêstes anos, e em conseqüência do processo de crítica das
idéias nervosamente cosidas sob a pressão formidável daquela con-
juntura administrativa, o texto primitivo foi ampliado, expurgado
e reajustado. Nada obstante, a tentativa de teorização que hoje
M' publica sob o titulo mais modesto de Uma Teoria Geral de
Planejamento representa, em essência, a mesma construção arti-
culada em Belém do Pará.
Relendo-a nas provas tiPográficas, na antevéspera da pu-
blicação, verifico a existência de trechos que me cumpriria rees-
crever e de conceitos que eu gostaria de reformular, a fim de
a~segurar a sobriedade da linguagem e acentuar a unidade do
mcabouço. Nem o polimento formal me é dado fazer agora.
Fejo-me forçado a trucidar mais um impulso positivo de criação
c ascendimenfo. À vida dos doers é uma cadeia de renúncias par-
ciais! E não lhes traz consôlo algum o fato de a vida dos con-
templativos, dos negativos, dos omissos e dos desertores ser a
renúncia total!
Declaro francamente: não me foi possível articular, nem
formular melhor êste ensaio de teorização sôbre um dos assets
ll!ais prestigiosos da moderna tecnologia administrativa.
Faltaram-me capacidade de abstração, discernimento ou vi-
são e - por que não dizer? - subsídios teóricos (ninguém teorizou
sôbre planejamento até hoje) e de experiências práticas, para re-
formular o ensaio então construído.
Ressabiado, insatisfeito, chego ao tablado da discussão com
esta pedrinha. E, proclamando minha insuficiência, deixo a ou-
tros a tarefa de erigir o edifício teórico do planejamento.

A última parte do presente volume (Parte III - Anexos),


compreende, além do lapidar ensaio clássico de Henry Bunbury
s(ibre planejamento governamental, traduzido do original inglês
jJelo autor, alguns documentos oficiais. Reproduzo-os por dois
XIV CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

motivos: primeiro, porque oferecem diferentes modelos de orga-


rllzação para o planejamento governamental, os quais ilustram
a evolução da idéia no Brasil; segundo, porque tive a honra de
participar, na função de Coordenador-Geral, dos trabalhos de
formulação da Reforma Administrativa de 1963, que acaba de
ser proposta ao Presidente da República jJelo Ministro Extraor-
dinário Ernani do Amaral Peixoto.
O pmjeto de criação do sistema federal de tJlanejamento cons-
tante dessa reforma traduz progresso indiscutível sôbre as ten-
tativas feitas pelo Poder Executivo, a partir de 1939, para im-
plantar e institucionalizar o planejamento em suas atividades
administrativas. A exposição de motivos do projeto historia, por
sua vez, a série de virissillldes, trials al1l1 errors, em q lle se desdo-
b'l'otl a luta do Govêrno da União pelo planejamento - ainda
não term inada.

Rio de Jalleiro, 19 de dezemúro de 1963

BENEDICTO SILVA
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO
PARTE I

GENERALIDADES
CAPITULO I

INTRODUÇÃO

Como começa o processo do ralmente foge às atribuições do


planejamento? planejador profissional.
Mas não basta definir o ob-
Ainda que não seja especia- jetivo grosso modo, em linhas
lista em administração, o inte- gerais: cumpre defini-lo preci-
ressado pode atinar com a res- samente. Se se trata, por exem-
posta_ Basta que se concentre plo, de construir uma usina
na pergunta por alguns instan- termelétrica, será necessário
tes, para que chegue à evidên- especificar certos limites: pelo
cia de que a etapa inicial do menos o local, a época e a ca-
processo de planejar alguma pacidade desejada.
coisa - não importa o que: - Quando define assim, ab ini-
uma campanha de alfabetiza- tio, o propósito de suas ações,
ção de adultos, uma festa ou além de proceder logicamente.
uma emboscada - consiste em o homem conjura o grave pe-
definir claramente o objetivo. rigo que um êrro de origem re-
A fixação do objetivo é a esta- presenta na vida de qualquer
ca zero do processo. Trata-se de empreendimento. Com efeito,
um ponto de partida tão lógi- se a coisa planejada vier a fun-
co, que parece derivar, neces- cionar mal em virtude de um
sàriamente, da natureza das coi- um êrro de origem, raramente
sas, como as leis de Montes- se atenta na verdadeira causa.
quieu. A essa fase inicial do As falhas são levadas à conta
planejamento chama-se decla- de fatôres acessórios. Não evi-
ração de política e, por isso, ge- tado no momento oportuno,
4 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

talvez porque escapasse à per- rios anos depois, alguém se ins-


cepção dos interessados, o êrro talou, possivelmente sem licen-
de origem é a última coisa em ça, na construção abandonada.
que se pensa, quando se pro- Outros imitaram o exemplo.
cura isolar os motivos por que Não tardou a ocupação total
determinado empreendimento do esqueleto de cimento arma-
corresponde mal, ou não cor- do e adjacências por milhares
responde de todo à sua finali- de intrusos. E o que havia sido
dade. planejado para ser hospital vi-
O caso da famosa caixa rou a mais original e imprevis-
d'água de Belém do Pad, que, ta favela da área metropolita-
segundo a tradição local, nUll- na do Rio de Janeiro - a F a·
ca chegou a funcionar e ainda vela do Esqueleto. Por que ra-
hoje assoma, dominadora, na zões inauditas um projeto de
paisagem urbana da cidade, re- hospital a meio executado, de
presenta uma ilustração tangí- repente degenera em sórdida
vel do que, em admini~tração, favela?
se denomina êrro de origem. Uma vez declarada a políti-
Outro exemplo cabal de êrro ca, definido o objetivo, decidi-
de origem é o do projeto de do o que fazer, sobrevém o
hospital que degenerou em fa- problema de estimar a massa
vela. Há cêrca de trinta anos, a total do trabalho a ser feito,
Prefeitura Municipal do Rio escalonar as suas diferentes fa-
de Janeiro projetou a constru- ses e determinar a parte atri-
ção de um hospital que deve- buída a cada unidade. É indis-
ria chamar-se "Hospital de pensável, então, decidir o que
Clínicas". A construção foi ini- fazer primeiro) o que fazer de-
ciada em terreno sito nos fun- pois) quando e onde executar
dos do que, mais tarde, veio a cada operação. A fim de que as
ser o Estádio Municipal do Ma- atividades se coordenem e os re-
racanã. As obras prosseguiram sultados se aglutinem utilmen-
normalmente até a conclusão te, cumpre subordiná-las a um
da estrutura de cimento arma- desígnio central, a uma idéia
do. Por motivos que não conse- guiadora, que desempenhe, em
guimos deslindar, certo dia in- relação ao objetivo desejado,
terrompeu-se a construção. Vá- papel idêntico ao que é de sem-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 5
penha do, no caso de uma pon- As ilustrações apresentadas,
te, pelo respectivo projeto de embora se refiram ao serviço
construção. Já se vê que o de- público, exemplificam tam-
sígnio central, a idéia guiadora bém, mutatis mutandis, o pro-
é o plano de trabalho. cesso do planejamento nas em-
Sem êste plano, produto de prêsas particulares.
planejamento prévio, ainda que Quando nos voltamos para o
as operações se sucedam em se- serviço público, logo percebe-
qüência lógica, isto é, ainda mos que seus objetivos são, ine-
que, como na hipótese da cons- vitàvelmente, variados e nume-
trução de uma ponte, o traba- rosos. Impossível, pois, realizá-
lho comece pelos pilares e ter- -los sem dividi-Ias e atribuí-los
mine pelo revestimento da pis- a um grupo suficiente de res-
ta, será inevitável grande des- ponsáveis. Além do problema
perdício de tempo, causado pe- de coordenar, dentro de cada
la ausência de coordenação dos unidade administrativa, os tra-
esforços. balhos subordinados, concor-
Ao intentar o presente traba- rentes para a realização dos ob-
lho, nosso propósito é esboçar jetivos parciais, o govêrno ain-
senão A Teoria Geral do Pla- da i1e yê a braços com o proble-
nejamento, pelo menos uma ma infinitamente mais comple-
teoria geral de planejamenro. xo de imprimir unidade de
Como teoria geral, aplica-se ação aos esforços de seus dife-
tanto às atividades públicas, a rentes órgãos. A coordenação
cargo de governos, movidos pe- interna do trabalho de cada
lo dever de prestar serviços, unidade administrativa, bem
quanto às atividades particula- como a tarefa superior de com·
res, a cargo de emprêsas indus- binar as atividades de vários
triais, comerciais e congêneres, ministérios e demais órgãos, de
movidas pelo afã de acumular modo que elas se somem,
lucros. Não obstante essa am- adquiram uma fisionomia geral
plitude de aplicação, a tentati- e formem uma economia inter-
va de teoria que nos propomos na coerente, bem articulada,
formular afina-se mais, no seu tal como as engrenagens de
aspecto ético, com as atividades um relógio, dependem essen-
públicas. cialmente de planos prévios.
6 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

É a elaboração dos plan05 gãos tem por fim ou continuar


tarefa totalmente empírica? atividades já existentes, relacio-
Longe disso: deve sujeitar-se a nadas com objetivos em reali-
uma teoria geral própria, e zação, ou iniciar atividades no-
obedecer a uma técnica espe- vas, pertinentes a objetivos
tial de planejamento. Admiti- apenas definidos. A qualquer
da a existência de uma teoria momento, a massa de trabalho
geral de planejamento, aplicá- que um govêrno pretenda ou
vel ao trabalho governamental, espere executar pode ser d~vi­
podemos então arriscar algu- di da dicotômicamente em tra-
mas indagações. A que princí- balho antigo, ]a montado,
pios deve obedecer o responsá- como sejam os serviços postai~
,-el pela tarefa planejadora? e telegráficos, e trabalho nôvo,
Haverá regras, dnones, nor- apenas programado, como se-
mas, critérios próprios, aplicá- ria a criação e instalação de
,-eis a êsse tipo de planejamen- uma escola de planejadores pú-
to? Em caso afirmativo, que blicos. É óbvio que a execução
I-egras e critérios serão êsscs? de (lualquer tipo de trabalho,
N os regimes democrá ticos, antigo ou nôvo, repetitivo ou
tais como existem hoje, imper- diferenciado, demanda plane-
feitos, incipientes, a declaração jamento prévio.
de política ou fixação de obje- O planejamento de trabalho
tivos em matéria de problemas já em curso, como sejam, por
püblicos deve caber, em princí- exemplo, os serviços de educa-
pio, ao poder legislativo. Dize- ção e saúde, deve caber espe-
mos em princípio, porque o po- cificamente aos órgãos respon-
der executivo desempenha pa- sáyeis pela sua execução. Den-
pel de relevância na escolha tro do Departamento de Saúde,
tIos objetivos e no estabeleci- deve competir ao Serviço de
mento das escalas de priorida- Fiscalização da Medicina pla-
de. É o que tentaremos de- nejar as campanhas anuais ne-
monstrar no curso dês te traba- cess;írias à efetivação de suas fi-
lho. nalidades; ao Serviço de Le-
Se observarmos qualquer go- pra, a construção de novos le-
vêrno na intimidade, veremos prosàrios e a ampliação dos
que tudo quanto fazem seus ór- atuais, bem como tôdas as me-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 7
didas destinadas, por um lado, tificados, não deve competir às
a prevenir a propagação da mo- autoridades diretamente res-
léstia, e, por outro lado, a assis- ponsáveis pela sua execução.
tir e proteger as vítimas atuais; Tal decisão cabe, em últi-
e assim por diante. Similarmen- ma análise, embora muitas vê-
te, no Departamento de Edu- zes só teoricamente, aos repre-
cação, cada órgão deverá ter sentantes do povo.
a liberdade, se não a obrigação, Sabemos que tôdas as fun-
de planejar, tempestivamente, o ções do Estado devem convergir
próprio trabalho para cada pe- para um fim superior perma-
ríodo vindouro. É evidente que, nente - proteção à comunidade
em circunstâncias ordinárias, politicamente organizada. N:t
ninguém conhece melhor do prática, porém, êste objetivo se
que o próprio chefe as necessi- fragmenta em centenas de pro-
dades de sua repartição. Presu- pósitos parciais, que compreen-
me-se que êle saiba o que é pre- dem desde a defesa nacional e
ciso fazer para manter em bom a segurança pública, até o se-
pé a eficiência dos serviços a guro social, o fomento agrícola
seu cargo. Não há dúvida de etc. Todo govêmo tem assim
que, na administração do Esta- que resolver, diàriamente, ()
do do Pará, por exemplo, nin- problema de coordenar as ati·
guém sabe melhor do que o res- vidades dos diferentes órgãos
pectivo diretor que ampliações, ou sistemas de órgãos incumbi-
retificações e reparos deverão dos da realização de seus pro·
ser feitos na usina elétrica e na pósitos. Para que os diferentes
rêde de distribuição de energia órgãos, articulados entre si, for-
para corrigir os defeitos atuais, mem de fato um todo harmô-
evitar a sua repetição e atender nico, uma emprêsa coerente por
ils necessidades crescentes de dentro, é indispensável arti-
Belém. Deve, pois, caber-lhe a cular também os seus planos de
responsabilidade do planeja- trabalho. Consolidar os progra-
mento do trabalho correspon- mas parciais de ação num pro-
dente. Agora, a decisão final grama geral de trabalho, fundir,
sôbre a adoção dos planos par- por exemplo, os planos dos vá-
ciais de trabalho, ainda que se· rios ministérios num só plano
jam perfeitos e plenamente jus-o central do Govêmo da União,
8 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

eis a parte que deve caber ne- sua vez, tende a considerar
cessàriamente ao chefe executi- mais urgente e mais importan-
vo. No desempenho de uma das te do que qualquer outra ini-
funções mais importantes de ciativa a construção de uma
seu cargo, o chefe ~xecutivo nova enfermaria, ou a aquisi-
examina criticamente - e em ção de material cirúrgico. O
conjunto - os projetos e pla- bibliotecário encarece a neces-
nos de cada ministério, ajusta- sidade de adquirir novos livros;
-os uns aos outros, faz adapta- o diretor da estrada de ferro
ções aqui, cortes ali, amplia- lú de se bater pela compra de
ções e até elimin'lções. material rodante. E assim por
N essa fase de avaliação e re· diante. Ao examinar, em con-
toque do planejamento, os junto, essas várias urgências, o
projetos parciais devem ser chefe do executivo poderá apli-
apreciados rel'uivamente, isto é, car uma escala diferente de
aceitos ou recusados, ampliados prioridades, e optar, com boas
ou comprim~dos, de acôrdo com razões, pela compra de livros
o critério da máxima vantagem para a biblioteca, embora o
social. É então que o chefe exe, diretor do Serviço de Águas
cutivo tem oportunidade de re- fique perplexo e desaponta-
velar os seus predicados de lí- do dian te dessa preferência.
der de nm povo, de estadista e De acôrdo com o critério da
de guardião do interêsse cole- máxima conveniência social, a
tivo. aquisição de tanques e carros
Freqüentemente a c o n t e c e de assalto poderá ser, em certas
que determinado plano parcial circunstâncias, i n c o m p a r à--
de trabalho não apresenta a velmente mais importante, mes-
mesma importância que o ór- mo em tempo de paz, do que a
gão interessado lhe atribui. É construção de um leprosário, ou
provável que, para o diretor do de uma creche.
Serviço de Águas, nada seja O bom senso manda que o
mais importante do que a cap- planejamento, tanto a curto
tação imediata de nôvo manan- quanto a longo prazo, de tra-
cial, acaso necessário para tor- balho já instalado, seja atribuí-
nar suficiente o abastecimento. do originàriamente aos respec-
O diretor de um hospital, por tivos órgãos executores. Isso
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 9
não impede, entretanto, que o Ora, ao ser criado um nôvo de-
chefe executivo altere ou ·re- partamento ou repartição, com
cuse, total ou parcialmente. seu quadro de pessoal, suas ne-
cada um dos planos de conti- cessidades de instalação, de má-
nuidade administrativa, oriun- quinas, móveis, veículos, tudo
dos dos órgãos subordinados. isso recebe expressão monetária
O planejamento de traba- e vem encaixar-se no orçamen-
lho inteiramente nôvo, para to, engrossando as despesas cor-
cuja execução ainda não exis- rentes. A criação de um serviço-
ta uma estrutura de autorida- nôvo geralmente altera os pla-
de, requer evidentemente outro nos financeiros do govêrno, ra·
modus faciendi. A que órgão zão por que é desejável a exis-
deve competir o planejamento tência de um órgão central,
de funções novas, como, por apto a prever, a analisar as pos-
exemplo, as que seriam atribuí- síveis repercussões imediatas -
das a um serviço de assistência financeiras, políticas, sociais e
ao consumidor? A Teoria de outras de cada criação ou reor-
Organização, penosamente for· ganização de serviço. É, em pri-
mulada e revista a partir de meiro lugar, a necessidade d.!
Taylor e Fayol, ensina que o planejar os empreendimentos.
delineamento de trabalhos no- novos, e, em segundo, a evidên-
vos, que impliquem modifica- cia de que seria prejudicial a
ções qualitativas do programa qualquer govêrno deixar a pro-
de ação do govêrno, incumbe gramação do seu trabalho ex-
especificamente ao chefe exe· posta a pretensões unilaterais,
cutivo. É de seu ofício definir que justificam a existência de
e redefinir os propósitos do go- órgãos centrais incumbidos ex-
vêrno a submetê-los aos repre- clusivamente de planejamento.
sentantes do povo. É da com- Êsses órgãos, que só muito
petência dêstes estudar, emen- recentemente começaram a sur·
dar, aprovar ou rejeitar as pro- gir, soem ser comissões, juntas
postas assim recebidas. No caso ou conselhos, mais ou menos.
de aprovação, segue-se, como dirigidos por grupos. Geral-
corolário lógico, a criação do mente, os primeiros órgãos de
órgão ou órgãos incumbidos de planejamento central surgidos
executar os novos objetivos. nos governos são comissõc'j wl
10 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

interim, que mais tarde pas5am planejamento. Em futuro não


a conselhos permanentes. Em muito distante, êstes perderão
raras unidades governamentais o caráter precário de comissões
foram criados departamentos e serão cristalizados em depar-
ou b ureaux de planejamento. tamentos permanentes de che-
Considera-se errônea mente que fia unipessoal.
a tarefa de planejar, olhada Aliás, as comissões e conse-
·como novidade nos círculos ofi- lhos de planejamento de vários
ciais, não requer órgãos per- países já dispõem de secreta-
manentes para dela se incum- riado profissional permanente,
bir. de modo que se estão conectan-
A idéia da institucionalin- do com a estrutura tradicional
ção do planejamento ainda não) da administração pública e as-
-conseguiu aceitação geral e tro· similando as suas característi-
peça em vários óbices: a rotina, cas.
o consen·antismo oficial, a falo Em outra parte do presente
ta de atualização técnica de trabalho, trataremos mais ex-
muitos servidores públicos, as tensivamente dos órgãos de pla-
preconcepções do liberalismo nejamento, tecendo considera-
econômico, a ausência de con· ções sôbre a sua hierarquia, es-
ceito de planejamento etc. trutura, composição humana e
Seja como fôr, a pouco e profissional, relações com as as·
pouco a velha estrutura buro- sembléias legislativas, relações
crática se vai tornando mais com as repartições executivas
inclinada a abrigar órgãos de etc.
CAPITULO II

A LEI DE WAGNER

AdoIf Wagner, talvez a maior estadual ou municipal - que


.autoridade em matéria de fi- não desempenhe, em 1964,
nanças públicas surgida na Ale- maior número de funções do
manha antes de Hjalma VOIl que há trinta anos passados.
Schacht, ficou famoso, entre ou· Trata-se, acima de qualquer
tros motivos, por haver formu- dúvida, de um fenômeno uni-
lado e enunciado a chamada versal, que se manifesta com
"lei do crescimento incessante igualdade ao longo do tempo
das atividades do Estado" _ Se- e ao largo do espaço, indepen-
gundo êle, as funções do Esta- dentemente do tipo de Estado,
do trazem uma tendência 'in- da forma de govêrno e da ideo-
('oercível para ° extensão e a logia dominante em cada ins-
intensificação indefinidas. En- tância.
<luanto o Estado, por um lado, Conquanto seja impossível
empreende continuamente no- sintetizar, num quadro comple-
vas funções, intensifica, por ou- to e universal, o fenômeno do
tro, as funções tradicionais_ A crescimento das funções gover-
história administrativa dos paí- namentais, o conhecido estudo
ses modernos comprova exube- realizado em 1941 por LENT
rantemente a validade da lei de UPSON, no govêrno municipal
'Wagner. Não há um só govêr- de Detroit, representa amostra
110 - seja nacional, regional, expressiva (1).

1) Lent D. Upson, The Growth of a City Government, Cincinnati Mu-


nicipal Reference Bureau, 1942.
12 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

Quando aquela cidade foi exercia 335 (2). E o caso de


fundada em 1824, o govêrno lo- Los Angeles, muito mais espe-
cal exercia apenas 24 atividades tacular? As funções desempe·
onerosas para os cofres públi- nhadas pelo govêrno do Con-
cos. Durante os 56 anos seguin- dado de Los Angeles pularam
tes, apesar de haver a popula- de 31, em 1859, para nada me-
ção aumentado de 1.500 par:1 nos de 784, em 1934 (3).
116.000 almas, as atividades do De qualquer modo, os exem-
govêrno local cresceram na mé- plos dados constituem outras
dia de uma por ano, isto é, pas- tantas indicações do vigor com
saram de 24 para 80. Nos 60 que se manifesta, especialmen-
anos subseqüentes, as ativida- te no nível municipal, a "lei
des desempenhadas pelos pode- do crescimento incessante das
res públicos da cidade aumen- atividades do Estado".
taram de 80, em 1880, para 396, Os fatôres que contribuíram
em 1941, ou seja, um aumento para aumentar a importância
médio superior a 5 por ano. A das atividades governamentais
população subiu de 116. 000 em todos os níveis de govêrno
para 1.600.000 habitantes. parecem militar mais fortemen-
Poder-se-ia alegar que o te em favor do crescimento dos
exemplo de Detroit, cidade su- serviços mUlllClpais, especial-
perindustrializada, s e d e de mente dos de primeira necessi-
grandes fábricas de automóveis, dade.
não pode ser considerado típi- É curial que o simples esfôr-
co nem mesmo do crescimento Ço de estar já representa para
das funções do Estado nas ci- o ente humano uma série de
dades americanas. Mas, e o caso necessidades inexoráveis. A bus-
de Milwaukee, a terra das fa- ca do bem-estar, que é o obje-
mosas cervejarias? Em 1846, o tivo imediato de todos os indi-
govêrno de Milwaukee exercia víduos normais, pressupõe a sa-
apenas 42 funções; em 1935, tisfação oportuna de necessida-

2) Milwaukee Citizens Bureau, Growth of Government Founctions.


3) Los Angeles Country Bureau of Efficiency, Growth of Country
Functions, 1852-1934.
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 13

des ainda muito mais numero- Como separar e agrupar, dis-


sas_ Pode dizer-se que o homem tintamente, as necessidades que
é um ser guiado pelo desejo o Estado é capaz de atender
incontrolável de bem-estar. Es- melhor que o indivíduo, e as
tar, apenas, subsistir simples- que o próprio indivíduo é ca-
mente, não lhe basta, nem o paz de satisfazer por si mesmo,
seduz. Dentre as necessidades 1>em ferir os interêsses legítimos
que assediam e tiranizam o ho- d(' outros indivíduos?
mem civilizado na sua ânsia de Em outras palavras - quais
estar bem, ou de bem-estar, o~ princípios a que se devem
muitas há que somente po- sujeitar a política e o planeja-
dem ser satisfeitas pelos órgãos mento das atividades do govêr-
do Estado; outras, conquanto no na sua qualidade essencial
os indivíduos econômicamente de órgão de expressão, formu-
mais aquinhoados sejam ca- lação e execução da vontade
pazes de satisfazê-las por conta coletiva?
própria, custam muito menos e Os homens têm sido férteis
beneficiam muito maior núme- em elaborar teorias para expli-
ro de pessoas, se o encargo cor· car a existência do Estado e a
respondente é transferido para legitimidade de sua ação social
o Estado. progressiva. Seja como fôr, com
O conhecimento dessas neces- teoria ou sem teoria, é eviden-
sidades não habilita ninguém a te que o Estado tem sido cha-
classificá-las clara e sistemàtica- mado a intervir e continua a
mente; tão sistemàticamente intervir, mais e mais, na dinâ-
mica da vida social. Pouco imo
que tornasse possível distinguir,
porta que essa tendência his-
em todos os casos, as que o Es-
tado poderia prover efetiva- tórica profunda, que confirma
mente melhor que os indiví- em cada país a validade da lei
de 'Wagner, seja de nosso agr.l-
duos particulares.
do, ou contrarie as nossas pre-
Que necessidades humanas ferências, ideológicas ou dou-
devem ser satisfeitas pelo Esta- trinárias. Trata-se de tendência
do, seja por motivo de econo- implacável, que se manifesta
mia, seja por motivo de conve- de forma universal, incidindo
niência social? sôbre todos os tipos de Estado,
14 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

em tôdas as formas e níveis de das de vários modos e lotada ..


govêrno, sob tôdas as nuanças de trabalhadores e profissionai"
ideológicas possíveis. igualmente diferenciados em
Impelido assim por circuns- conhecimentos, processos, artes,
tâncias inelutáveis, cuja enu- experiências, técnicas e ofícios.
meração e análise ficariam des- Integrados num organism(}
locadas no presente ensaio, o de em"ergadura assim gigantes-
Estado moderno - Leviatã po- ca, tão vasto e complexo que
litécnico e motorizado, mais os homens das épocas passadas,
poderoso e mais tentacular do inclusive os da Renascença e
que o de Hobbes, - se vê for- os próprios enciclopedistas tal-
çado a desempenhar atividades vez não pudessem abarcar se-
várias e crescentes, desde as quer com a imaginação, os ór-
imemoriais, como a distribui- gãos da emprêsa governamen-
rão de justiça e a manutenção tal empregam centenas de mi-
da ordem, destinadas principal- lhares de pessoas, espalhada!>
mente a proteger a vida, a pro- por todo o território nacional,
priedade e as normas de condu- c presentes, muitas vêzes, não
ta social já aceitas e preferidas só na e sob a superfície das
pela maioria, até às modernís- águas territoriais, como tam-
simas, como a prospecção geo- bém nos espaços ilimitados dos
física, o transporte aéreo, a fa- céus. Em constante funciona-
bricação de antibióticos, a de- mento, os órgãos governamen-
sintegração do átomo e o lan- tais absorvem, transformam,
çamento de satélites artificiais. utilizam e consomem prodigio-
Para executar as centenas de sas quantidades de trabalho e
funções diversas que lhe con- materiais, pelo que são outras
gestionam o programa de ação tantas agências que despendem
e lhe disputam os recursos, o montantes não menos prodigio-
Estado moderno está amplian- sos de dinheiro. Essa verifica-
do-se ràpidamente em emprêsa ção, por si só, já basta para
ciclópica - verdadeiro cacho tornar imperiosa a dupla ne-
descomunal de órgãos de vários cessidade: a) de se ordenarem
tipos, emprêsas públicas, autar- as operações em que se divide
quias, semi-autarquias, socieda- cada função governamental; e
des de economia mista, equipa- b) de se cOQrdenarem as di {e-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 15
rentes funções dos diferentes efeito de execução parcelada e,
órgãos integrantes do govêrno. sobretudo, conforme a uma se-
Assim como as atividades go- qüência lógica, (isto é - lançar
vernamentais, exceto no caso os alicerces antes de levantar as
das missões diplomáticas e con- paredes, levantar as paredes an-
sulares, têm por cenário natu- tes de assentar os portais, as-
ral e lógico o território do país, sentar os portais antes de colo-
isto é, estão limitados no espa- car as portas etc. etc.) , sabido,
ço físico pelas fronteiras nacio- ainda, que a combinação dêsses
nais, estaduais ou municipais, limites e pontos de contrôle e
conforme se trate da União, dos referência implica descrição siso
Estados ou dos Municípios, as- temática das funções de cada
sim também é necessário defi· órgão - eis-nos de posse dos
ni-las no tempo, isto é, referi- fatôres conducentes à ação pla-
Ias a períodos certos, em outras nejada, entendendo-se por ação
palavras: metê-las entre duas planejada a que se dosa e se
datas previamente escolhidas. controla segundo um programa
Observe-se, como flutuando previamente analisado e esta-
vagamente por entre as consi- belecido, e não ao sabor de im-
derações articuladas até aqui, provisações.
certos elementos essenciais à Teoricamente, é possível dar
idéia de plano de ação come- expressão quantitativa às ativi-
çam a emergir. dades de qualquer órgão públi-
Já havendo a ciência da ad- co e particular. Basta, para isso,
ministração revelado, graças ao a adoção de uma unidade que
considerável progresso feito faça às vêzes de denominador
nestes últimos vinte e cinco comum. Assim, as atividades de
anos, que não basta limitar no um estabelecimento de ensino
espaço a extensão e, no tempo, podem ser expressas, verbi gra-
a duração de cada uma das tia, em matrículas, aulas, fre-
múltiplas funções exercidas pe- qüências, promoções, reprova-
lo govêrno como órgão do Es- ções, conclusões de cursos etc.;
tado, mas que é imperioso defi- as atividades de um departa-
ni-las também quanto ao pro- mento de rodovias, em metros
pósito e distribuí-Ias ao longo cúbicos de atêrro, em quilôme-
de uma escala cronológica, para tros de e~tradas construídas, em
16 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

quilômetros de estradas conser- A emergente ciência da ad-


vadas, em metros de bueiros ministração ainda não atingiu
abertos, em quilômetros de es- o estágio ideal em que será pos-
tradas pavimentadas etc. etc.; sível e até rotineira a determi-
as atividades de uma bibliote- nação quantitativa da produção
<a, em livros adquiridos e clas- e da eficiência de qualquer ór-
sificados, em obras catalogadas, gão - de um ministério, de
em consultas recebidas, em em- uma autarquia, ou de uma
préstimos feitos etc. agência postal.
CAPíTULO In

A VEZ DO PLANEJAMENTO

N a luta universal contra o Vem dando provas dêsse esta-


atraso, em que três quartas do de espírito desde 1939, e
partes do mundo se acham em- cada vez com mais decisão. Sem
penhadas, o planejamento veio falar nos planos sectoriais, como
ocupar posição de destaque o Plano de Viação Nacional, o
como arma poderosa, quase in- Plano Postal Telegráfico e o
vencível. O Congo Belga, a Plano do Carvão Nacional, o
índia, o México, o Paquistão, Brasil já adotou e tentou im-
Israel, o Egito, a Guiana Ho- plementar quatro planos qüin-
landesa, a Venezuela, a Co- qüenais de govêrno: o Plano
lômbia, o Peru e muitos outros Especial de Obras Públicas e
países achamcse engajados na Aparelhamento da Defesa Na-
execução de planos contra as cional (1939-1943), o Plano de
sordidezes e precariedades do Obras e Equipamentos (1944-
subdesenvolvimento. -1948), o Plano SALTE (1950-
-1954) e o Programa de Metas
O Brasil também despertou (1956-1960). O Plano Trienal,
para as virtudes do planeja- que atualmente estaria em
mento. Em seu esfôrço para execução, é o quinto plano de
acelerar o progresso econômi- envergadura nacional lançado
co e social, o país torna-se pelo Govêrno da União.
mais e mais consciente da ne- Se os quatro primeiros planos
cessidade de substituir a impro- tivessem sido completamente
visão pelo planejamento e o em- implementados, as despesas de-
pirismo pelo estudo e análise. correntes teriam ascendido a
18 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

528 bilhões de cruzeiros, a Por outro lado, a Constitui-


saber: ção Federal de 1946 consagra
Plano Especial definitivamente a idéia do pla-
de Obras e Apa- nejamento governamental. É,
relhamento da por assim dizer, uma constitui-
Defesa Nacional 3 bilhões ção planejamentista. Implici-
Plano de Obras e tamente, preconiza o planeja-
Equipamentos. 5 bilhões mento em várias de suas dis-
posições, como, inter alia, nO)
Plano SAL TE. 20 bilhões
artigos 169 (educação) e 205
Programa de Me-
(Conselho Nacional de Econo-
tas (estimativa). 500 bilhões
mia). Explicitamente, prescre-
Total ......... 528 bilhões
ve o planejamento regional em
Esta soma, em face da des- doses maciças para a solução
valorização da moeda, corres- ou mitigamento de problema,;
ponderia, em 1964, a cêrca de de grande envergadura, como "
9 trilhões de cruzeiros . .J untan- "fixação do homem no campo"
do-se a isso o custo provável do (art. 156), a "defesa contra os
Plano Trienal, vê-se que, ao efeitos da denominada sêca
todo, o Govêrno da União já do Nordeste" (art. 198), "a
destinou ao financiamento de valorização econômica da Ama-
seus planos gerais, de 1939 a zol1la (art. 199), e o "apro-
1%5, cêrca de 12 trilhões de veitamento total elas possibili-
cruzeiros! A soma é estarrece- dades econômicas elo rio São
dora - a mais sólida evidência, Francisco e seus afluentes"
que se poderia exibir, da ilimi- (art. 29 das Disposições Tran-
tada confiança que o planeja- sitórias) .
mento - mesmo assim tão mal Por fôrça elêsses manelamn-
conceituado, tão incipientemen- tos constitucionais, em certos
te praticado - inspira aos nos- casos, ou para levar a efeito
sos homens de govêrno. Embo- iniciativas avulsas, em outros,
ra os gastos reais hajam sido o Govêrno Federal tem em
inferiores às previsões, exceto marcha vários projetos ele de-
no caso do Plano Especial, a senvolvimento regional, alguns
. disposição de gastar não podia c1êles com repercussões sôbre
ser mais expressiva. vastas áreas elo território pá-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 19

trio, como o Plano do Vale dv des e dos anseios. A instrumen-


Rio Doce, o Plano ela Valori- talidade material de que dis-
zação Econômica da Amazônia, pomos seria suficiente, no má·
e o Phmo de Aproveitamento ximo, para assegurar padrão
d<ls Possibilidades Econômicas de "ida decente a quinze mi-
do rio São Francisco e seus lhões de habitantes - e já so-
afluente•. Trata-se, em alguns mos oitenta milhões.
nws, de programas iniciados
há mais de 30 ,mos e mantido, As estradas, os portos, as unÍ-
yc"<;dacles, os laboratórios, os
ininterruptamente desele en-
tão, como o das Obras Contra ho,pitais, os centros de pesqui-
a Sêca. A criação da Superin- sas, as fábricas, as usinas e cen-
tendência elo Desenvolvimento trais elétricas, as rêdes de tele-
elo Nordeste (SUDENE) é o comunicação, as utilidades pú-
atestado mais recente da con- blicas, os museus, os teatros -
fiança. que o Govêrno do Bra- tudo o que temos não repre-
sil deposita no planejamento senta yinte por cento do que
como base de sua política de- necessitamos. Nem sequer para
senvolvimentista. a quarta parte da população
Convenha-se em que ne- brasileira o problema da mora-
nhum país oferece mais opor- dia confortável foi ainda resol-
tunidades para aplicação do "ido.
planejamento regional do que O fenômeno do desenvolvi-
o Brasil. Além da base física de mento, neste grande país sub-
vastidão continental, em que desenvolvido, apresenta-se as-
pràticamente tôdas as modali- sim com extraordinária varie-
dades de planejamento, inclu- dade de aspectos. Se aplicásse-
sive as mais audaciosas, podem mos a classificação de Wa-
ser experimentadas, o Brasil geman às v-árias reglOes do
lança ao homem o desafio ele Brasil, certamente se esgotaria
sua formidável problemática o seu esquema: temos desde
de país subdesenvolvido. zonas supercaPitalistas, como
Estamos apenas começando São Paulo e a Guanabara, até
a construção do Brasil. Tudo o zonas acapitalistas, como certas
que foi feito até agora é mes- partes de Mato Grosso e do
quinho em face das necessida- Amazonas. Essa diversidade de
20 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

graus de subdesenvolvimento, mento de regiões que lhes são


que chega a extremos de sub- comuns, como o vale do Paraí-
ocupação da própria terra, co- ba e o vale do Paraná-Uruguai.
munica ao planejamento regio-
nal importância suprema. As Dos planos estaduais, mere-
providências que cumpre ado- cem destaque especial o Plano
tar, a fim de acelerar a marcha de Ação do Govêrno Carvalho
de umas áreas e regular a de Pinto, executado no quadriênio
outras, também variam quase de 1959 a 1962, e o Plano de
de região para re~ião. Desenvolvimento Econômico do
Estado de Goiás, em execução
Sob a pressão dêsse conglo- a partir de 1961, devendo ex-
merado de problemas coleti- tinguir-se com o mandato do
vos, forja-se no Brasil a cons- Governador Mauro Borges Tei-
ciência da necessidade de pla- xeira, em 31 de janeiro de 1966.
nejar bem, em larga escala, re-
gional e nacionalmente, nas Do ponto de vista institucio-
emprêsas públicas como nas nal, a contribuição do Estado
particulares. de Goiás é das mais expressi-
vas. Sua originalidade consiste
Além da União, os Estados na criação de uma Secretaria
do Rio Grande do Sul, de Mi- do Planejamento, órgão de
nas Gerais, de Santa Catarina, chefia unipessoal, diretamente
de São Paulo, de Goiás, do subordinado ao Governador,
Maranhão, de Pernambuco e para substituir um órgão cole-
do Paraná, entre outros, estão gial que nunca chegara a fun-
executando programas de pla- cionar - o Conselho Superior
nejamento regional com o ob- de Planejamento e Coorde-
jetivo de aumentar os meios nação.
de transporte, a produção de
energia elétrica, a industrializa- A experiência pioneira de
ção, as oportunidades educacio- Goiás deverá despertar o inte-
nais, os serviços de saúde pú- rêsse de quantos estejam empe-
blica etc. Outros Estados já nhados em analisar o processo
lançaram ou estão em negocia- de aculturação do planejamen-
ções para lançar, conjuntamen- to nas atividades governamen-
te, programas de desenvolvi- tais do Brasil.
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 21
Cumpre, entretanto, regis- preços de hoje, pelo menos 300
trar que, enquanto permane- bilhões de cruzeiros, cêrca de
cer o país a braços com o pro- nove vêzes mais do que a pre-
blema da inflação, não é possí- yisão original.
vel aos Estados de pequenos re- É evidente que, através da
cursos executar planos plurie- tributação, nenhum Estado po-
nais. derá incrementar suas rendas
As condições do mercado va- em ritmo equivalente ao da
riam com tal rapidez, que aba- desvalorização da moeda. Para
lam os fundamentos de todos atender a aumentos de custos
os planos. É como caminhar de tal vulto, só lhes resta o re-
em areia movediça. curso precário do endividamen-
Planos de longa duração re- to em larga escala.
querem estabilidade da moeda. Sob os efeitos da atual vo-
Mais do que qualquer outro ragem inflacionária, São Paulo
fator, a inflação perturba-lhes e a Guanabara talvez sejam os
profundamente a execução. únicos Estados que ainda po-
Dada a velocidade da inflação, dem implementar planos de
tôdas as previsões de custo se longa duração.
desmoralizam em períodos re- Cabe, entretanto, reconhecer
lativamente curtos. que os resultados obtidos de
O exemplo do Estado de nossas tentativas de planeja-
Goiás ilustra cabalmente a mento nem sempre têm corres-
tese. O seu Plano de Desenvol- pondido aos recursos empre-
vimento Econômico compreen- gados.
de cinqüenta metas e previa, A falta de continuidade é o
quando adotado, em fins de mais robusto índice de plane-
1960, um dispêndio total rle jamento falho. A lentidão com
33 bilhões de cruzeiros, entre que se realizam certas obras re-
investimentos e despesas de flete, por outro lado, sintomas
custeio. Decorridos apenas três de patologia administrativa. O
anos, o equipamento, os mate- Viaduto Ana N ery, no Rio,
riais de construção e a mão-de- por exemplo, modesta obra de
obra necessários para comple- engenharia urbana, estêve em
tar o plano até a data de seu construção durante doze anos.
encerramento já exigiriam, aos O túnel Catumbi-Laran jeiras,
22 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

também no Rio, acha-se em tos, práticas e métodos de O-aba-


construção desde 1947. As lho das populações interessa-
obras do Açude Orós, no Es- das, os recursos tecnológicos e fi-
tado do Ceará, foram iniciadas nanceiros, o escalonamento das
h,í quarenta anos, no govêr- atividades no tempo e sua dis-
no Epitácio Pessoa, e arras- tribuição no espaço.
taram-se com tamanha len- No momento em que se re-
t idão que, sendo um remédio vezam e se encadeiam, no Bra-
contra os efeitos das sêcas pe- sil, esforços de desenvolvimento
riódicas, foram surpreendidas nacional e regional ele enverga-
e desmoronadas, em 1960, por dura, é imperativo aumentar o
uma das raras enchentes dilu- número de técnicos brasileiros
vianas que, de meio em meio capazes ele participar na elabo-
século, assolam o Nordeste ração dos planos já em curso,
Brasileiro. Seria fácil indicar ou em véspera ele lançamento.
muitos outros projetos gover- Cumpre, sobretudo, familiari-
namentais no Brasil que se zar os altos funcionários de ór-
executam a esmo, sem calen- gãos públicos com as técnicas
dário. São começados ao sabor de planejamento postas à pro-
de caprichos ou vontades espo- vas alhures, bem assim com as
rádicas, e terminados quando idéias emergentes no campo da
Deus quiser, muitos anos e al- administração. Não será de-
guns governos depois. mais repetir: planejamento é
uma tarefa eminentemente ad-
O exame dos êxitos parciai< ministrativa.
ou dos fracassos de certos pro- Por outro lado, à medida
jetos provàvelmente indicaria que se acentua a industrializa-
a falta de planejamento de ção, crescem os estabelecimen-
conjunto como causa princi- tos comerciais, multiplicam-se
pal. Entende-se por planeja- os bancos e aumenta a densida.
mento de conjunto aquêle em de econômica do país, as em-
cuja elaboração se levam em prêsas particulares igualmente
conta todos os fatôres essen- se estão tornando cônscias da
ciais a um programa de desen- necessidade de substituir a im-
volvimento: as mudanças téc- provisação pelo planejamento.
nicas, a modificação dos hábi- É curioso observar que a
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 23

preferência dos governos, fede- sil teria efetivamente progredi-


ral e estaduais, pelo planeja- do com aquela intensidade pre-
mento, parece definir-se, cada dita na famosa fórmula do Pre-
yez com maior firmeza, na ra- sidente Juscelino Kubitschek:
zão inversa da favorabilidade "50 anos em 5".
das condições. Quanto mais a
inflação torna precário o pla- Do ponto de vista adminis-
nejamento, tanto mais os go- trativo, porém, é certo que o
vernos a êste se aferram, como fundo de conhecimentos e expe-
instrumento de luta contra o riências até agora acumulado
atraso econômico e social. pelo Brasil, em matéria de pla-
Afigura-se indiscutível que, nejamento, se tem opulentado
se tivesse gozado de estabilida- de maneira encorajadora. Já
de econômica e financeira nes- estamos começando a planejar
tes últimos vinte anos, o Bra- melhor.
CAPíTULO IV

POSIÇÃO DA ATIVIDADE DE
PLANEJAMENTO NA ADMINISTRAÇÂO

O PRINCíPIO NUTRIZ DA ção, há sempre um meio me-


ADMINISTRAÇAO CIENTíFICA lhor do que o atualmente ado-
tado) constitui estímulo perma-
Frederick Taylor, engenheiro
nente para a pesquisa de novos
industrial americano, desenca-
métodos e o advento de novas
deador dêsse fascinante movi-
experiências; a busca do "me-
mento que o mundo moderno lhor" - do ideal - será inces-
denomina administração cien-
sante. Onde quer e quando
tífica) hauriu o seu impulso quer que o princípio básico da
criador no princípio lógico e administração científica im-
simples de que há sempre um
pregne a mentalidade dos ho-
meio melhor de realizar qual- mens, a estagnação se torna
quer operação administrativa.
impossível e a prosperidade
Com efeito, a administração técnica dos empreendimentos
científica, a que a civilização perdura indefinidamente, per-
contemporânea deve os mila- correndo, em ascenção, todos
gres da multiplicação do rendi- os níveis de economicidade.
mento nas atividades produto-
ras, baseia-se nesse postulado .A administração científica
fecundo. Se instilada oportuna- vem a ser, em última análise,
mente no espírito dos direto- um problema de descoberta e
res de uma emprêsa qualquer, adoção dos melhores meios de
a mera crença de que, para realizar cada uma das opera-
executar esta ou aquela opera- ções em que se divida determi-
26 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

nado trabalho. Em certa época, porque o desequilíbrio de mar-


a fabricação de um automóvel cha e de estágio entre as diver-
Ford, por exemplo, estava di- sas secções de uma emprêsa às
yidida em 7.885 operações dis- yêzes representa mal maior do
tintas·e) que o predomínio de métodos
Em princípio, quanto maior em píricos e arcaicos em tôdas
a percentagem dessas operações elas. O problema da adminis-
·e quanto melhor fôssem exe- tração científica deve ser consi-
cutadas, tanto mais racional se- derado na sua plenitude. Não
ria a execução do trabalho no é lógico nem desejável que
interior das oficinas Ford. Se, haja, na mesma cadeia de tra-
para cada uma delas, estivesse balho, elos cientificamente or-
identificado e implantado o ganizados ao lado de outros
melhor meio respectivo, então casualmente estabelecidos.
a administração científica teria Embora óbvias, estas consi-
atingido o optimum ideal. derações parecem oportunas em
Não se infira, todavia, que se nosso meio oficial, pois são co-
fôssem descobertos e adotados muns os pruridos de reforma
os melhores meios para exe- do serviço público, que se ma-
cutar, digamos, 788 dessas ope- nifestam como pequenas ilhas
rações, ou sejam 10%, a emprê- isoladas na secção A ou no se-
sa respectiva teria avançado ou- tor B de entidades administra-
tro tanto no caminho da admi- tivas complexas e vastíssimas,
nistração científica. Ao contrá- como os ministérios e as secre-
rio, a descoberta e adoção do tarias de Estado. Tais pruri-
melhor meio de executar um dos, ainda quando legítimos e
número reduzido de operações bem intencionados, dificilmen-
escolhidas ao acaso dentre as te perfuram as muralhas da in-
centenas ou milhares em que diferença ou da resistência pas-
determinado trabalho estiver siva que os setores circunvizi-
dividido, em lugar de consti- nhos levantam em nome da ve-
tuir vantagem líquida, pode lha rotina, tão grata à menta-
ler até verdadeiro retrocesso, lidade da maioria dos homens.

1) Mellerowicz, K, Teoria Econômica de las Explotaciones, Ed. Labor,


1936, p. 269.
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 27
A negligênria em obseryar o analogia, à própria divisão do
método de racionalizar todos trabalho, isto é, não afirmou
em vez de partrs explica a fa- que haja sempre um melhor
lência de muitas iniciativas bo- meio de dividir o trabalho. Pa-
nitas e de tantos entusiasmos rece-nos, todavia, que não pe-
sinceros que brilham intensa- caremos por temeridade se ad-
mente, por momentos, à ma- mitirmos que, assim como há
neira de fogo-fátuo, nos gover- um meio melhor e até um
nos brasileiros - federal, esta- meio ideal de realizar qualquer
duais e municipais, - e logo operação administrativa, assim
desaparecem, apagados pelo também haverá um meio m~­
carrancismo ambiente. lhor de seccionar o trabalho em
A racionalização pode ser determinado número de opera-
implantada por etapas, sem dú· ções. A admissão dessa hipóte-
Yida, mas deve compreender, se leva-nos a admitir, por via
desde logo, no seu processo, de conseqüência, uma divisão
unidades administrativas intei- científica do trabalho, que ao
ras e não setores isolados. Se- pesquisador, ou antes, ao ad-
ria um contra-senso, por exem- ministrador cumpre estudar e
plo, empregar máquinas mara- determinar em face da enver-
vilhosas, capazes de abreviar gadura, natureza e objetivos
de cada emprêsa.
consideràvelmente o trabalho
de crítica, tabulação e apresen- Bem sabemoi que a divisão
tação de dados numéricos em do trabalho, decorrência das li-
serúço de estatística que ainda mitações físicas e intelectuais
não dispusesse de uma rêde do homem, é fato irredutível.
aClequada de agências infor- Em outras palavras - como
mantes. fato natural, a divisão do tra-
balho é inevitável. Não há
DIVISA0 ESPONTANEA E negar, ou sequer pretender ate-
DIVISA0 REFLETIDA DO nuar a sua inexorabilidade.
TRABALHO
Ora, assim como o próprio
Taylor não disse nem mes- Taylor assinala a diferença que
mo deu a entender que o prin- existe entre a administração
cipio básico da administração empírica e a administração
científica fôsse aplic~el, por científica, ou seja, entre a ad-
28 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ministração orientada a ôlho e página seguinte e que descreve


pur acaso e a administração por convenção a figura da hie-
condicionada pelos princípios rarquia seja a representação
científicos que lhe são pró- gráfica da estrutura de deter-
prios,e) anàlogamente nos é minada emprêsa.
lícito chamar a atenção para a
Eis aí uma estrutura de au-
diferença nítida e certa que
existe entre uma divisão espon- toridade e um sistema de co-
tânea do trabalho, surgida das municações em forma de pirâ-
limitações naturais e irredutí- mide, ao longo de cujas linhas
veis dos homens, e uma divisão desce da chefia executiva, si-
refletida do trabalho, criada de tuada no vértice, para os de-
acôrdo com as regras próprias. partamentos e, através dêstes,
Aqui, ainda, a diferença mili· para as divisões e secções, atin-
gindo, por fim, às unidades es-
ta entre o empirismo cego, que
aceita sem discutir os coman- pecializadas de trabalho, situa-
dos da natureza, e a razão avi- das na base, a palavra de or-
sada, que procura modificá-los dem, ou antes, o desígnio ar-
em benefício do homem. ticulado do comando, a ma-
nifesta~'ão tangível da exis-
tência e atuação de um ór-
A DIVISA0 DO TRABALHO gão dirigente. Paralelamente,
GOVERNAMENTAL mas em sentido inverso, parti-
das da base da pirâmide, so-
Percebe-se na obra dos auto- bem para a chefia, através de
res especializados, antigos e órgãos sucessivamente mais in-
modernos, que se têm ocupado clusivos, isto é, cada vez maio-
com a Administração Pública, res, as impressões de retôrno e
de Fayol a MacCorkle, um in- as informéições de que a dire-
terêsse crescente pelo problema ção central necessita e se serve
da divisão do trabalho gover- para controlar a execução de
namental. Suponhamos que o suas ordens e o desenvolvimen-
organograma apresentado na to do programa de trabalho.

2) Taylor, F. W., Principles of Scientific Management, New York,


1934, p. 16.
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 29

Qual será a melhor maneira sitos que afetam milhares e mi-


de distribuir a massa de traba- lhares de outras pessoas, numa
lho aos diferentes órgãos da emprêsa ramificada por todo
emprêsa simbolizada por essa um vasto território, qual seja o
representação gráfica? govêrno de um grande país, que
Quais as funções, por exem- itribuições devem ficar a cargo
plo, que deverão competir ao da direção central ou, mais res-
gerente central, isto é, ao chefe :ritamente, da chefia executiva?
executivo? Cabem-lhe apenas a política,
Numa emprêsa numerosa e a orientação, a indicação do
complexa, em que se achem as- rumo em que deve marchar a
sociados os esforços de milha- emprêsa govenamental, ou de-
res e milhares de pessoas, para vem caber-lhe atribuições mais
efeito de realização de pro pó- específicas?
30 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

Dentre as atividades do go- da Econômica, {oi o primeiro


vêrno, divididas em essenciais, investigador penetrante que
opcionais e instrumen tais, ou analiso LI sislemilticamente os
em atividades-fins (essenciais problemas da gerência central,
ou opcionais) e atividades- ou chefia executiva. O resulta-
-meios (instrumentais), quais do de suas pesquisas e lu-
as que devem caber especifica- cubrações forma o núcleo de
mente ao chefe executivo? resistência de seu trabalho, ho-
É possível dividir cientifica- je clássico, publicado pela pri-
mente o trabalho de um govêr- meira YeZ em 1916, sob o títu-
no, de modo que as {unções lo Administration lndustriellc
atribuídas ao chefe supremo et Géllérale. Ao cabo de longos
não sej am manifestações roti- anos de observação atenta (Lt
neiras da tradição ou da con- fisiologia de diversas emprêsas,
wniência política de um gru- em que exerceu funções de che-
po, mas constituam o resulta- fia, inclusive as mais altas,
do de uma aplicação delibera- Fayol chegou à conclusão (le
da dos princípios da adminis- que tôdas as atividades que
tração científica? ocorrem nas emprêsas em geral
podem ser classificadas em seis
Não é necessário lembrar que grupos distintos, a saber:
uma compreensão clara do pro-
blema da organização da che-
fia executiva constitui conheci- 1.0 Operações Técnicas;
mento indispensável para o es- 2.° Operações Comerciais;
tudante de Administração PÚ-
blica, e subsídio valioso para o 3.° Operações Financeiras;
de teoria e prática de plane- 4.° Operações de Segurança;
jamento.
5.° Operações de Contabili-
A TEORIA ADMINISTRATIVA dade;

Henri Fayol, engenheiro e 6.° Operações Administrati-


industrial francês, que tem tan- vas.
to direito ao título de Pai da
Ciência Administrativa, como Êstes seis grupos de opera-
Adam Smith ao de Pai da Ciên- ções, chamadas funções essen-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 31

C/als por Fayol,(3) coexistem possam comprometer a marcha


em qualquer emprêsa, pequena e especialmente a vida da em-
Ou grande, simples ou comple- prêsa. Êste grupo de operações
xa, pública ou particular. 0& é, como diz Fayol, o ôlho do
cinco primeiros são fàcilmente dono, é o cão de guarda na pe-
identificáveis. Os estudantes e quena emprêsa; é a polícia e o
leitores desta matéria não terão exército no Estado; é, de ma-
dificuldade em reconhecê-los e neira geral, tôda medida que
mesmo em defini-los. Bastam, dá à emprêsa a segurança e ao
pois, algumas palavras para des- pessoal a tranqüilidade de
crever sucintamente cada um espírito de que necessitam.
dêles. As operações de contabilidade
São operações técnicas as de compreendem, além do registro
produção, executadas em regra do movimento, os inventários,
no interior das oficinas e das os balanços, as demonstrações
fábricas, e destinadas a trans- ele preços de custo, os inquprj·
formar matérias-primas em co- tos estatísticos e outros afim.
modidades, artigos manufatu- Como se vê, não cabe a ne-
rados. As operações comerciais nhuma das cinco operações
podem ser resumidas em uma precedentes o encargo de fer-
única palavra - troca, a qual mular o programa geral da em-
se decompõe em compra e ven- prêsa. Nenhuma delas se in-
da. As operações financeiras, cumbe de constituir o corpo so-
na terminologia de Fayol, são cial, nem de coordenar os seus
as que se executam para efeito esforços, nem de harmonizar os
de levantamento e administra- seus atos. Preparar o programa
ção de capitais. As operações de ação, recrutar e selecionar o
de segurança são as que têm pessoal, coordenar os esforços
por finalidade proteger os bens e harmonizar os atos são atri-
e as pessoas contra roubos, in- buições que não se confundem
cêndios, inundações; de evitar, nem se misturam com as ope-
bem assim, as greves, os atenta- rações técnicas, comerciais, ti-
dos, e, em geral, todos os dis- nanceiras, de segurança e de
túrbios da ordem social que contabilidade. Essas atribuições

3) Administration Industrielle et Générale, Dunod, Paris, 1931, pág. 51.


32 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

gerais e importantíssimas nu- nejar é preparar o programa


deiam o sexto e último grupo de ação; organizar é constituir
e vêm a ser as operações admi- o duplo organismo, material e
nistrativas, que se desdobram social da emprêsa; comandar é
em pesquisa, previsão, planeja- dirigir o pessoal; coordenar é
mento, (prevoyance), organiza- ligar, unir e harmonizar todos
ção, comando, coordenação e os atos e todos os esforços; con-
contrôle. Exercer as funções ad- trolar é vigiar para que tudo
ministrativas é, pois, pesquisar, se passe conforme às regras es-
pr~ver, planejar, organizar, co- tabelecidas e às ordens dadas.
mandar, coordenar e contro- Fayol sustenta que, assim
lar, simultâneamente (4) . compreendida, a função admi-
Apesar de que esta parte in- nistrativa não é um privilégio,
trodutória e fundamental da muito menos um encargo pes-
doutrina de Fayol já agora es- soal exclusivo do chefe da em-
teja muito vulgarizada no Bra- prêsa. É, antes, uma função
sil, a ponto de constituir ma- que se reparte, quase se dilui
téria de referência obrigatória pela escala hierárquica abaixo,
nas conferências, artigos, estu- dividindo-se "entre a cabeça e
dos e monografias que se têm os membros do corpo so-
pronunciado e escrito sôbre cial" (5) .
Administração Pública nestes Seja como fôr, as operações
últimos anos, os leitores hão administrativas distinguem-se
de permitir que, por uma ques- nitidamente dos cinco primei-
tão de método, eu repita, qua- ros grupos de operações classi-
se nos têrmos do mestre, o sig- ficadas e descritas por Fayol.
nificado de cada uma das sete São mais gerais, mais abran-
fases em que se decompõe a gentes e, assim, mais importan-
função administrativa. Pesqui- tes, pelo menos aparentemen-
sar é buscar deliberadamente te. Comandar ou dirigir, coor-
os fatos, com o objetivo de en- denar e controlar, por exem-
trar na posse da realidade; pre- plo, ocupam os primeiros lu-
ver é perscrutar o futuro; pia- gares na hierarquia das fun-

4) Fayol, op. cit., pág. 13.


5) Fayol. ov. cit.. Zoe. cito
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 33
ções de qualquer organização. relêvo na atuação dos altos di-
Fayol adverte, porém, que não rigentes de qualquer emprêsa,
se deve confundir administra- às vêzes chega a parecer que
ção com govêrno. Governar é essa atuação é exclusivamente
conduzir a emprêsa para o fim administrativa. Daí a confusão
proposto. É diligenciar para possível e comum de adminis-
auferir o máximo proveito pos- tração com govêrno.
sível de todos os recursos da A administração (função),
emprêsa. É, em suma, assegu· não passa de uma das seis fun-
rar a marcha harmoniosa das ções essenciais. O govêrno (ór-
seis funções essenciais. Mas, gão) tem por fim, entre outros,
porque a função administrati- o de assegurar o ritmo e a har-
va ocupa lugar de tamanho monia das seis.
CAPíTULO V

A ATIVIDADE DE PLANEJAMENTO E
A CHEFIA EXECUTIVA·

O óRGAO EXECUTIVO E A nas entretidas pelo trabalho_


FUNÇAO PLANEJADORA Daí partem os comandos que
põem em funcionamento tôda
Est,i bem visto que o centro a emprêsa. Para aí convergem
de gravidade da Ciência da as impressões de retôrno, que
Administração é constituído tornam possível o contrôle dos
pela sexta função essencial de órgãos e homens subordinados,
Fayol, isto é, pelas operaçãeç bem como a verificação do
administrativas. Algumas des- grau de sua fidelidade às or-
tas, se não tôdas, são funções
dens emanadas dos órgãos su-
específicas da chefia central,
bordinantes. É aí que se aden-
como a direção, a coordenação
sam e às vêzes se congestionam
e o contrôle. Conseqüente- as linhas cruzadas da estrutura
mente, a organização da chefia
da emprêsa. É aí que se apre-
executiva tende a monopolizar
o escopo da Teoria Adminis- senta em tôda a sua agudeza a
trativa, assim como abarca uma questão nevrálgica da coorde-
nação dos esforços associados.
parte considerável da faixa de
interêsse da Teoria da Organi- Se o órgão central executi-
zação. É na chefia executiva vo, por defeito de estrutura, ou
que o pesquisador defronta os por qualquer outro motivo,
mais intrincados problemas de não desempenha as funções
administração. É aí que come~ que lhe são próprias, ou me-
ça o drama das relações huma- lhor, as funções que lhe são
36 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

atribuídas pela doutrina, tôda lula", "anatomia", "fisiologia"


a emprêsa, da base à cúpula, e congêneres são ilustrações
sofre os males conseqüentes. vivas da invasão da terminolo-
Essas considerações indicam gia. ?iológica pelos cientistas
que a organização científica da SOCIaIS.
chefia executiva é um proble-
ma de divisão refletida do tra- Para efeito de descrição P.
balho. As funções da chefia identificação, a emprêsa hu-
executiva não devem. pois ser mana, entidade artificial, ge-
determinadas a ôlho, grosso ralmente chamada organização.
modo, à revelia dos ensinamen- é com freqüência comparada
tos da Teoria da Organização. ao organismo, entidade natu-
Independentemente ela en- ral. A diferença está em que,
vergadura, dos propósitos e dos como observa Mellerowicz, or-
processos da emprêsa, há um ganismo é um todo vivente, ao
grupo de funções que cabem passo que organização é um
tão indisputàvelmente ao ór- todo conveniente; ora, se no
gão executivo, como a conta- organismo, conjunto de órgãO'!
bilidade ao contador, a escri- vivos, as funções distribuem-se
turação ao guarda-livros, as segundo um esquema lógico.
operações técnicas aos operá- pré-determinado pela nature-
rios. Assim como será obvia- za, na organização, conjunto
mente irracional localizar a es- de órgãos convencionais, o
crituração dos livros nas ofici- equilíbrio interno somente se
nas e confiá-la aos operários, verifica se as funções são
igualmente indefensável e con- distribuídas segundo critérios
tra-indicado será deslocar da igualmente lógicos.
chefia executiva qualquer de No organismo, quando um
suas funções específicas. dos órgãos - por atrofia, hi-
Seduzidos pelas sugestões das pertrofia, degenerescência ou
similaridades, os cultores das outra causa -, se revela inca-
ciências sociais costumam usar paz de cumprir a sua parte,
palavras pedidas emprestadas isto é, desempenhar a sua fun-
ao vocabulário das ciências ção, a harmonia interna rom-
exatas, notadamente da biolo- pe-se Qualquer alteração do
gia. "Órgão", "função", "cé- esquema natural implica pre-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 37
juízo para a economia do m- a procurar a divisão de traba-
divíduo. lho mais adequada à sua Ín-
A natureza esforça-se por dole.
atenuar os efeitos da insufi- A ciência e a arte da admi-
ciência ou ausência de um ór- nistração já se desenvolveram
gão na vida do organismo: ten- o suficiente para proporcionar
ta transferir a função oblite- ao homem subsídios seguro>
rada para outro órgão. O cego sôbre o esquema lógico de fun-
vê com o ouvido, o surdo ouve ções que cumpre observar na
com os olhos, o aleijado das vida das organizações. Êsse es-
pernas loco move-se com as quema é tanto mais seguro,
mãos - mas, em todos êsses quanto mais diz respeito aos
casos, a função transferida de órgãos nobres, o mais hierar·,
órgão é precàriamente desem- quizado dos quais é a chefia
penhada. É um pobre sucedâ· executiva ou direção geral.
neo, um arremêdo, uma cari· Quanto às funções afins de
catura. outros órgãos integrantes de
qualquer organização, pode
Similarmente, na organiza-
subsistir alguma dúvida. A
ção, as funções devem ser dis-
função de comprar materiais,
tribuídas de acôrdo com um
por exemplo, deve caber a ór-
esquema racional. A raciona-
gão de material deliberada-
lidade dêsse esquema há de ser
mente criado e equipado para
baseada na observação e aná-
o seu desempenho. Mas, em
lise das organizações humanas.
muitas organizações, essa fun-
através da história.
ção está afeta ao departamento
Assim como no mundo bio- financeiro, que a desempenha
físico o esfôrço da adaptação mais ou menos a contento.
do indivíduo ao meio e, sobre- Êsse fato pode gerar dúvidas
tudo, a luta pela sobrevivên- sôbre as funções que, num es-
cia, acabam por estabelecer Quema racional de divisão de
uma relação de perfeita iden- trabalho, devem competir ao
tidade entre o órgão e a fun- órgão financeiro.
ção, assim também no mundo Quando se trata, porém, do
social o esfôrço de correspon- órgão executivo, não há lugar
der aos fins leva a organização para dúvida. Repita-se: tocam-
38 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

lhe funções quase tão próprias eruditos, que se sentiriam ul-


da chefia quanto a visão é pró- trajados se alguém lhes pres-
pria dos olhos. crevesse a assistência de espe-
Indaguemos, pois: quais se- cialistas em administração pú-
rão as funções próprias da che- blica.
fia executiva? Os juristas não estabelece-
ram princípios científicos para
AS FUNÇõES EXECUTIVAS NAS dividir o trabalho governamen-
CONSTITUIÇõES POLíTICAS tal e organizar a chefia exe-
As constituições políticas, na cutiva. Além disso, as funções
administração pública, os esta- da chefia executiva tendem a
tutos e os regulamentos, na variar, nos textos constitucio-
administração particular, dili- nais, ao sabor das propensões
genciam especificar os deveres ideológicas dos constituintes.
e as funções das chefias exe- Basta comparar, por exemplo,
cutivas. Como, porém, a Teo- o capítulo IH (Das atribuições
ria da Organização representa do Poder Executivo) da Cons-
um desenvolvimento recentíssi- tituição de 91, a seção II (Das
mo do conhecimento, pode Atribuições do Presidente da
afirmar-se que ainda não in- República) da Constituição de
fluiu, nem está influindo, na 34, a secção correspondente da
fixação das normas constitu- Constituição de 37, sob a epí-
cionais e estatutárias das em- grafe - Do Presidente da Re-
prêsas públicas e privadas, no- pública - e a secção II da
tadamente nos capítulos rela- Constituição de 1946 (Das
tivos ao órgão dirigente central. atribuições do Presidente da
Até aqui, as funções do che- República), para que o estu-
fe executivo, que figuram nas dioso isole boa amostra da
constituições políticas, têm sido variabilidade das {unções da
discriminadas mais ou menos chefia executiva, - ou seja, da
a ôlho, se não contra, pelo me- doutrina dos constitucionalis·
nos sem os ensinamentos da tas.
Teoria da Organização. Como Das quatro referidas cartas
se sabe, a elaboração das car- políticas, a de 37 e a de 46 enu-
tas constitucionais fica sistemà· meram em têrmos gerais as
ticamente a cargo de juristas [unções da chefia executiva.
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 39

As duas primeiras limitam-se a IV - nomear e demitir o


itemizar os deveres políticos e Prefeito do Distrito Federal
as prerrogativas do Presidente (art. 26, § 1.0 e 2.°) e os mem-
da República, sem definir nem bros do Conselho Nacional de
descrever as suas funções. Economia (art. 205, § 1.0);
Nos têrmos da Constituição
de 37, ao Presidente da Repú· V - prover, na forma da
blica, "autoridade suprema do lei e com as ressalvas estatuí-
Estado", cabia (art. 73): das por esta Constituição, os
cargos públicos federais;
a) coordenar as atividades
dos órgãos representati- VI - manter relações com
vos de grau superior; Estados estrangeiros;
b) dirigir a política inter-
na e externa; VII - celebrar tratados e
convenções internacionais ad
c) promover ou orientar a referendum do Congresso Na-
política legislativa de cional;
interêsse nacional;
VIII - declarar guerra, de-
d) superintender a admi- pois de autorizado pelo Con-
nistração do país. gresso N acionaI, ou sem essa
Nos têrmos da Constituição autorização no caso de agres-
de 1946 (art. 87) , compete pri- são estrangeira, quando verifi-
vativamente ao Presidente da cada no intervalo das sessões
República: legislativas;
I - sancionar, promulgar e IX - fazer a paz, com auto-
fazer publicar as leis e expedir rização e ad referendum do
decretos e regulamentos para Congresso Nacional;
a sua fiel execução;
X - pennitir, depois de au-
II - vetar, nos têrmos do torizado pelo Congresso Na-
art. 70, § 1.0, os projetos de cionaI ou sem essa autorização
lei; no intervalo das sessões legis-
III - nomear e demitir os lativas, que fôrças estrangeiras
Ministros de Estado; transitem pelo territÓrio do
40 CADERNOS DE ADMINISTRA!ÇAO PúBLICA

país ou, por motivo de guerra, XVIII - remeter mensagem


nêle permaneçam temporària- ao Congresso N acionaI por
mente; ocasião da abertura da sessão
legislativa, dando conta da si-
XI - exercer o comando su- tuação do país e solicitando as
premo das fôrças armadas, ad- providências que julgar neces-
ministrando-as por intermédio sárias;
dos órgãos competentes; XIX - conceder indulto e
XII - decretar a mobiliza- comutar penas, com audiência
ção total ou parcial das fôrças dos órgãos instituídos por lei.
armadas; Não é necessário muito ali-
lamento para que percebamos
XIII - decretar o estado de que a indagação - quais as
sítio nos têrmos desta Consti- funções específicas da chefia
tuição; executiva? nos conduz ao âma-
go da Teoria da Organização.
XIV - decretar e executar a A ORGANIÇAO DA CHEFIA
intervenção federal nos têrmos
EXECUTIVA
dos artigos 7.° a 14.°;
Eis, nos trechos precedentes,
XV - autorizar brasileiros a os motivos, entre outros, por
aceitarem pensão, emprêgo ou que o problema da organiza-
comissão de govêrno estran- ção da chefia executiva, pres-
geiro; sentido mas certamente não es-
tudado a fundo por Fayol,
XVI enviar à Câmara dos muito menos pelos constitu-
Deputados, dentro dos primei- cionalistas, tem atraído desde
ros dois meses da sessão legisla- então, como já acentuamos, o
tiva, a proposta de orçamento; interêsse de vários autores mo·
demos. Leonard D. White, no
XVII - prestar anualmente seu autorizado compêndio In-
ao Congresso Nacional, dentro troduction to the Study of
de sessenta dias após a abertu- Public Administration, dedica
ra da sessão legislativa, as con- todo um capítulo ao estudo
tas relativas ao exercício ante- dêsse problema. Segundo êle,
rior; cabe ao chefe executivo:
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 41

traçar as linhas gerais da po- A lista dêsse autor, como se


lítica administrativa; vê, é extremamente geral e, no
expedir as necessanas or- dizer de MacCorkle, com o
dens, instruções e diretrizes; qual estamos de pleno acôrdo,
coordenar a organização; constitui simplesmente umJ.
autorizar os detalhes da or< sugestão dos processos envolvi-
ganização; dos.
controlar a administração fi-
Para L. Urwick, co-autor de
nanceira;
Papers on the Scicnce 01 Ad-
nomear e demitir o pessoal,
ministration e, sem dúvida, uma
especialmente o mais gra-
elas mais eminentes autorida-
duado;
eles contemporâneas em maté-
superintender, estimular e
ria de administração, a tarefa
controlar as operações admi-
ele um chefe executivo desdo-
nistrativas;
bra-se em sete fases:
investigar;
entreter relações com o pú- investigação;
blico (l) . previsão;
E. "\IV. Smith, assistente do planej amen to;
presidente da General Motors organização;
Corporation, em estudo intitu- coordenação;
lado Executive Responsability: comando;
Staft and Line Relationships)(2) contrôle (") .
enumera como deveres admi- A lista ele Urwick nada mais
nistrativos do chefe executivo é do que uma adaptação da
apenas os três seguintes: doutrina de Fayol.
planejamento; Marshall E. Dimock, profes-
execução; sor de Administração Pública
contrôle.
da Universidade de Chicago,
1) White, Leonard D. op. cit., New York, 1939, págs. 53-60.
2) In the Society for the Advancement of Management Journal, Chi-
cago, janeiro, 1938, págs. 29-33.
3) Urwick, L. in Papers on the Science of Administration, New York.
1937, págs. 119-125.
42 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

considera que o trabalho do Henry Niles e Mary Nilps,


chefe executiyo, para se tornar marido e mulher, co-autores
pleno. cm"oh·c dez etapas típi- de vários trabalhos sôbre ad-
cas. Cumpre-lhe: ministração, sustentam que a
planejar e definir as polí- tarefa de direção é executar,
ticas e os procedimentos de com os recursos disponíveis, os
trabalho; objetivos comuns, o que con-
segue através de:
organizar as atividades de
outros; 1) liderança - inspirar a
organização no seu todo e im-
delegar autoridade e respon-
peli-la para a realização dos
sabilidade;
objetivos;
controlar a autoridade e a
responsabilidade delegadas 2) organização - desenvol-
em têrmos de resultados; yer a estrutura e a função da
organização apropriadas à con-
fiscalizar o andamento geral ~ecução dos objetivos em vista;
dos resultados;
dar ordens e instruções ge- 3) administração - deter-
rais; minar as diretrizes e os méto-
dos através dos quais os obje-
interpretar e transmitir dire- ti vos possam ser realizados e
trizes; mobilizar os recursos físicos e
treinar os subordinados prin- humanos;
cipais para o desempenho dos a) fixação da política -
encargos executivos; perscrutar o futuro e planejar
para o mesmo;
coordenar os vários esforços
b) ação executiva - levar
e elementos;
a cabo e interpretar as políti-
estimular e vitalizar todos
cas e atender à dinâmica da
os indivíduos que estejam
administração, sobretudo os
contribuindo com os seus es- problemas e dificuldades que
forços (4) .
surgem diàriamente;

4) Modem Politics and Administration, Chicago. 1937, pág. 274.


UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 43

c) contrôle - verificar se merosos, se distinguiam pelo


.a execução se processa de acôr- emprêgo de expressões como
<lo com os planos e diretrizes "coordenação pela predominân.
adotados; cia de uma idéia", "princípio
do alcance do contrôle", "prin-
4) coordenação - assegu- cípio da homogeneidade", "ins-
rar, através da liderança, orga- titucionalização da chefia exe-
nização e administração, per- cutiva", "departamentalização
manente harmonia de ação em por processo", "departamentos
busca da consecução dos obje- horizontais" etc.
tivos.
O POSDCORB era consi-
QUE FAZ O CHEFE derado a quintessência, a suma
EXECUTIVO? das sumas da ciência da admi·
nistração. Aí por volta de 1941,
Logo depois do aparecimen·
os membros brasileiros do Clu-
to, em 1937, de Pape1"s on the
be de Mandarins Administra-
Science of Administration, edi-
tivos, que sabiam o significado
tado pelo Instituto de Admi-
da palavra, não passavam de
nistração Pública, da Columbia
meia dúzia.
University, um neologismo es-
drúxulo - POSDCORB - pas- Com o advento da Segunda
.sou a figurar no vocabulário Guerra Mundial, os recursos
profissional de uns quantos ini· administrativos e gerênciais até
<:Íados. aí compendiados foram postos
Insatisfeito com o sentido di- a duríssimas provas. Tarefas
fuso dos têrmos "administra- administrativas de complexid,l-
-ção" e "gerência", Luther Gn- de inaudita, como a invasão da
lick, co-autor do livro, recorre- Normândia, o Projeto Manhat-
ra ao artifício de cunhar aque- tan (construção das primeiras
la estranha palavra para expri- bombas atômicas) e outros de
mir as funções do órgão execu- grande envergadura vieram a
tivo. Os iniciados no esoteris- exigir infinitamente mais da
mo do POSDCORB formavam capacidade executiva do ho-
então uma espécie de Clu- mem.
be de Mandarins Administrati- Por outro lado, foi na déca-
vos, cujos membros, pouco nu- da 1940-49 que se acentuou
44 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

mais ainda por influênd.l Que faz êle? e responde: o


da guerra, em grande parte - trabalho do chefe executiyo é
a necessidade da integração POSDCORB, isto é:
dos estudos sociais. Os executi-
vos esclarecidos começaram a P - lanning (planejamento);
aprender que precisavam, na 0 - rganizing (organização);
faina administrativa diária, do
concurso dos antropólogos cul- S - taffing (administração
turais, dos sociólogos, dos psi- de pessoal) ;
cólogos, dos economistas e de
D - irecting (direção, (O-
outros cientistas sociais. To-
rnando) ;
mou corpo e chegou à maiori-
dade um critério nôvo de con- CO - ordinating (coordena-
vívio no trabalho, o qual in- ção) ;
jetou formidável dose de com-
plexidade na tarefa executiva, R - eporting (publicidade.
e a que os americanos passa- documentação, informação,
ram a chamar de Relações Hu- propaganda);
manas. B - udgeting (elaboração,
execução e fiscalização or~'a­
Por ser considerado simplis- mentárias) .
ta e unilateral, o esquema de
Gulick caiu em obsoletismo. Segundo as definições do
Apesar de tudo, o POSDCORB autor:
ainda serve para demarcar.
grosso modo, a área funcional Planning vem a ser a tarefa
do administrador ou chefe exe- de traçar as linhas gerais elas
cutivo. Digam o que disserem. coisas que devem ser feitas e
ao órgão executivo correspon- dos métodos de fazê-las, a fim
dem certas funções, quase tão de atingir o propósito da em-
próprias dêle quanto a função prêsa;
de ver é própia dos olhos. Organizing, o estabelecimen·
to da estrutura formal de au-
Gulick indaga:- qual é o toridade, através da qual as
trabalho do chefe executivo? subdivisões de trabalho são in-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 45

tegradas, definidas e coordena- orçamento, ou sej<\IIl o plano


das para o objetivo em vista; fiscal, a contabilidade e o con-
Staffing, a função que diz
trôle e) .
Gulick afirma enfàt\camente
respeito a pessoal e que consis- que os que conhecem Adminis-
te em recrutar e treinar o tração Pública por dent.~o en-
"staff" e manter favoráveis
contram nessa análise do tra-
condições de trabalho;
balho de um chefe executi.vo,
Directing, a tarefa contínua adaptada da doutrina funóo-
de tomar decisões e incorporá- nal de Fayol, um paradigma
·las em ordens e instruções es- valioso e útil, em que pode ser
pecíficas e gerais e, ainda, a ajustada cada uma de suas
de funcionar como "leader" da principais atividades e deveres.
emprêsa;
A FUNÇAO PLANEJADORA
Coordinating, o dever impor- ~ PRóPRIA DO óRGAO
tante, por todos os títulos, de EXECUTIVO
estabelecer relações lógicas en-
tre as várias partes do trabalho; Note-se a freqüência com
que surge o planejamento en-
Reporting, o esfôrço de man-
tre as funções do chefe executi-
ter bem informados, a respeito
vo. Das seis listas citadas, sà-
do que se passa, aquêles peran-
mente a de White não inclui
te quem o executivo é respon-
expressamente o planejamento.
sável, esfôrço que pressupõe
Mesmo assim, a primeira fun-
naturalmente a existência de
ção que êsse tratadista distri-
registros, documentação, pes-
bui ao chefe executivo - tra-
quisas e inspeções (para infor-
çar as linhas gerais da política
mar é preciso que o chefe exe-
administrativa pressupõe
cutivo e seus subordinados se
certa atividade planejadora.
mantenham, por sua vez, a par
das ocorrências); Só essa quase unanimidade
Budgeting, a função inclusi- dos teóricos em localizar o Pla-
va de tudo que diz respeito ao nejamento no órgão executivo

5) Gulick, L., in Paper8 on the Scíence 01 Administratíon, pág. 13.


46 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

já seri~ suficiente para atrair específicas dos órgãos executi-


para aI, iPso facto} a função vos. Cumpre esclarecer, po-
planejadora e através dela a rém, que não se trata de qual-
orçamentária, uma vez que o quer modalidade de Planeja-
planejamento é a descrição sis- mento parcial} jungida a as-
tem<ítica do trabalho que I) pectos particulares, como, por
govêrno intenta realizar em
exemplo, o planejamento físi-
determinado período.
co, o planejamento econômico,
Mas a moderna Teoria da
o planejamento financeiro etc.
Organização é explícita e ca-
Trata-se do planejamento ad-
bal a êsse respeito. Como vi-
mos, de acôrdo com ela, a fun- ministrativo global} em que
çiio de planejar, representada são sopesados todos os fatôres
pelo planning do POSDCORB} envolvidos: os objetivos, a di-
cabe especificamente ao órgão reção, os recursos, os meios
executivo. profissionais, os métodos de
Como se vê, o planejamento trabalho, o equipamento, .il
encabeça a lista das atividades oportunidade etc.
CAPíTULO VI

MODALIDADES DE PLANEJAMENTO

o planejamento é inerente a quanto à área de incidência.


todos os desígnios humanos, em internacional, nacional, re-
coletivos ou individuais. Logo, gional, estadual e local; quan-
é um processo contínuo na to à inclusiviclade, em parcial,
vida de cada ser racional e de sectorial e global; quanto ao
cada instituição. Como tôda grau ele racionalidade, em
atividade administrativa, o pla- inorgânico ou casual, empírico
nejamento é susceptível de vá- e científico; quanto ao conteú-
rias classificações, baseadas em elo ideológico, em democrático.
diferentes critérios. Com efei- intervencionista e totalitário;
to, pode-se classificar o plane- quanto à periodicidade, em
jamento segundo os critérios planejamento a longo prazo.
seguintes, entre outros: intermediário, e a curto prazo.
a) quanto à área de inci- Arca de incidência: se os pIa-
dência; nos envolvem dois ou mais
b) quanto à inclusividade; países, o planejamento consi-
dera-se internacional; se os pIa-
c) quanto ao grau de racio-
nos cobrem o território de um
nalidade;
país, trata-se de planejamento
d) quanto ao conteúdo 1Jacional; se dizem respeito a
ideológico; uma região natural ou geográ-
e) quanto à periodicidade. fica, o planejamento recebe a
categoria de regional; é esta-
O planejamento divide-se, dual, se os planos coincidem


48 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

com a área ou extensão terri- quase instintivo, muitas vêzes


torial de um Estado; e local, inconsciente, que envolve todos
se se trata de Município. os aspectos da vida humana.
O planejamento emPírico
lnclusividade: quando os
ocorre quando indivíduos in-
planos abrangem apenas al-
suficientemente familiarizados
guns aspectos dos problemas
com as técnicas de planejamen-
tratados, o planejamento será
to, embora adeptos sinceros da
parcial; se os problemas são di-
idéia, tomam a iniciativa ou
vididos em setores, como no
assumem a responsabilidade d·;!
caso do Plano SALTE, o pla-
elaborar planos para conse-
nejamento classifica-se como
cussão dêste ou daquele propó-
setorial; se os planos incluem
sito. Os três planos qüinqüe-
todos os aspectos dos proble·
nais brasileiros, o Plano Espe-
mas, o planejamento é global
cial, o Plano de Obras e Equi-
ou total. O exemplo mais co-
pamentos 6 o Plano SALTE
nhecido de planejamento glo-
são ilustrações do planejamen-
bal é o da União das Repúbli-
to empírico. Nenhum dêles
cas Socialistas Soviéticas, que
surgiu de um processo comple-
dirige a economia do país por
to. Nem mesmo o Plano SAL-
meio de planos globais perió-
dicos sucessivos. TE pode ser considerado como
a etapa final de um trabalho
Racionalidade: o planeja- de análise e síntese, em que os
mento inorganzco caracteriza-se planejadores tivessem operado
pelo oportunismo, fortuidade com unidades físicas. O plano
e limitação. Não se trata de de valorização econômica da
procedimento nôvo. Diz Rar- Amazônia também pode ser
low Person: "Começou com o considerado empírico, pois não
primeiro ser humano e, desde resultou de um procedimento
então, permaneceu simples prá- racional, que começasse pela
tica natural de todos os indi- seleção de objetivos e a previ-
víduos e grupos" (1). Não é são realista dos meios necessá-
mais do que um procedimento rios para realizá-los.

1) Harlow S. Person, Execução Planejada, (Rio de Janeiro; Escola


Brasileira de Administração Pública, 1954), p. 5.
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 49
Em contraposição, o planeja- tecnológicos, isto é, os recur-
mento científico é altamente sos profissionais de realização,
organizado e integrado. Como precisamente definidos, inclu-
diz Catherin Seckler-Hudson. sive os padrões de capacidade
o planejamento científico é um humana; em quarto lugar, os
processo contínuo, em que padrões financeiros, ou sejam,
todos os aspectos do plano e os recursos suficientes e os
de sua execução sofrem reexa- custos unitários das coisas com-
mes constantes e sistemáticos, à pradas, dos serviços utilizados
luz da experiência e do desen- e dos produtos acabados.
rolar da própria tarefa(2). O O que torna o planejamen-
planejamento científico pressu- to científico altamente valioso
põe um conjunto de decisões, é a variabilidade dos processos
estudos e projetos técnicos sô- intelectuais e meios materiai:.
bre coisas que deverão ser fei- de ação, que o homem empr~­
tas, ao passo que o planejamen- ga para conseguir os seus in
to empírico não vai além de de- tentos. No jôgo entre o pla-
cisões genéricas, às vêzes vagas, nejamento e a variabilidade, ét
difusas, baseadas em propósi- necessário que o planejador
tos igualmente mal definidos. disponha de noções unitárias,
Além disso, o planejamento de unidades lógicas e precisas.
científico faz-se, até o limite Tais unidades devem ser pro-
máximo possível, em função de curadas e desenvolvidas por
padrões. Entre êsses padrões meio da pesquisa e da expe-
se incluem, em primeiro lugar. rimentação.
o padrão central, a idéia guia- "O comportamento das coi-
dora, isto é, o objetivo, preci- sas materais - diz Person - é
samente definido; em segundo regido por leis físicas; a con-
lugar, os padrões qualitativos duta dos sêres humanos, por
e quantitativos, também preci- leis a um tempo psicológicas
samente definidos; em terceiro e físicas. A descoberta dessas
lugar, os padrões processuais !'! leis constitui o setor da pes-

2) Catherin Seckler-Hudson, Principais Processos de Organização e


Direção (Rio de Janeiro: Escola Brasileira de Administração PÚ-
blica, 1954), p. 12.
50 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

quisa complementar ao plane- do mundo, o planejamento de-


jamento. Logo que tais leis mocrático puro consistiria em
são descobertas, pesadas, medi- estabelecer e manter organiza-
das e avaliadas, devem ser for- ções políticas permanentes e
muladas certas definições e fi- racionais, que oferecessem aos
xados certos padrões. Mas não participantes completa liberda-
se interrompe aí a busca de me- de de ação individual. Nesse
lhores padrões: de tempos em caso, o Estado planejaria ape-
tempos, nôvo padrão é desco- nas a sua não intervenção.
berto e vem substituir outro já U ma vez, porém, que o Es-
obsoleto; porém, até que for- tado moderno, quer queiramos,
malmente proscrito, um pa- quer não, se vê forçado pelos
drão tradicional não deve ser grupos de pressão antagônicos,
leviana ou preconcebidamente e pela crescente politização das
relegado" (3) . massas, a intervir mais e mais
Conteúdo ideológico: o pla- nos planos individuais, o pla-
nejamento pode ir do mais de- nejamento democrático torna-se
mocrático ao mais totalitário. menos e menos freqüente.
A famosa polêmica travada en-
tre o economista austríaco Por intervencionista enten-
F. H. Hayek, hoje naturali- de-se o planejamento que asse-
zado americano, e o cientista gura a ação estimulante ou re-
político inglês, igualmente na- guladora do Estado nas ativi-
turalizado americano, Herman dades econômicas, tanto nas de
Finer, controvérsia em que to- produção, quanto nas de dis-
mou parte Barbara vVootton. tribuição. O Brasil, por exem-
outra cientista social inglês a, plo, tende francamente para o
projeta suficiente luz sôbre os planejamento intervencionista.
vários graus de intervenção do Criando as sociedades de eco-
Estado na vida econômi6:a qUf! nomia mista, como a Cia. Si-
o planejamento governamental derúrgica N acionaI e a Petro-
pode acarretar. brás, intervindo ativa e deli-
Se bem que cada vez menos beradamente no processo de
provável nas atuais condições industrialização, estabelecendo

3) Harlow S. Person, op. cit., p. 12.


UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 51

órgãos regionais de desenvol- defende satisfatoriamente, in-


vimento, como a SPVEA e a dica a possibilidade e demons-
SUDENE, o Estado Brasileiro tra a conveniência do planeja-
há muito deixou de ser um Es- mento governamental nos paí-
tado liberal, mais interessado ses democráticos.
doutrinàriamente em propor- Periodicidade: é difícil clas·
cionar liberdade de ação ao~ sificar os planos de acôrdo com
empreendedores e investidore~ a respectiva duração. Se qui-
particulares, do que em evitar séssemos, entretanto, descrever
e reajustar as desarmonias cul- as diferentes classes de plane-
turais e econômicas, decorren- jamento em função da dura-
tes da livre concorrência. O ção dos planos, poderíamos
Estado Brasileiro é franca e propor o seguinte critério: o
progressivamente intervencio- planejamento é de longo pra-
nista. zo, se elabora planos de três ou
O planejamento totalitário mais anos; intermediário, se
demanda a direção central de estabelece planos de um a dois
tôdas as atividades econômicas anos; de curto prazo, se formu-
e a sua consolidação em um la planos de duração inferior
.plano único - o Plano do Es- a doze meses.
tado, como acontece na Rílssia
- em que todos os recursos da O planejamento a longo
sociedade são deliberadamente prazo aplica-se à política gera!
mobilizados e postos a serviço e ampla, ao objetivo principal.
de propósitos ideológicos parti- Por exemplo, hoje se fala mui-
culares, como, por exemplo. a to no desenvolvimento econô-
construção do socialismo. mico do Brasil. A política des-
O observador atento perce- tinada a acelerar a emancipa-
be, pois, que o planejamento ção econômica do país deve
não é sinônimo de totalitaris- prever longas etapas e, por con-
mo: pode existir e de fato exis- seguinte, ser planejada a longo
te no regime democrático. prazo, em têrmos de qüinqüê·
O próprio livro de Barba· nios e decênios.
ra Wootton, Freedom under O planejamento intermediá-
Planning (Liberdade sob Pla- rio aplica-se, preferentemente,
nejamento) tese que a autora a etapas de um a dois anos, in-
52 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

tegrantes do objetiyo princi· Mas, pode ser utilizado provi-


paL O orçamento público é soriamente, pelo menos até
bom exemplo de planejamen- que, com o refinamento da téc-
to intermediário. A sua anua- nica de planejamento, sejam
lidade representa, em par- desenvolvidos outros esquemas
te, uma conseqüência da tra- mais lógicos ou mais precisos.
dição, mas em parte é um ajus- Acrescente-se, f i n a I mente,
tamento compreensível da ges- que qualquer plano - global
tão administrativa ao ciclo ou parcial, ll"cÍonal ou regio-
agrícola. Como ~l p!'ocLçãl ~b í- nal, empírico ou científico, de-
cola geralmente obedece a um mocrático ou totalitário. de
ciclo anual, a cobrança dos im- curta ou de longa duração -
postos, no tempo em que era é suscetível de vários desdobra-
feita em espécie, adaptava-se à mentos, que são outras tantas
periodicidade das colheitas. Co- su bclassificações. Como ensi-
lhia-se apenas uma yez por ano. na F ayol, um plano pode de-
Era natural, pois, fazer coinci- compor-se em diversas partes,
dir a arrecadação dos impostos a cada uma das quais se dá
com a estação das colheitas. A qualificativo distinto. Diz êle,
tradição chegou aos tempos mo- textualmente: "Nas grandes
dernos. H,t, contudo, certa ló- emprêsas encontram-se, ao lado
gica em fazer coincidir os ci- do plano gemi, um plano téc-
clos das atividades políticas e nico, um plano comercial, um
administrativas com o ciclo plano financeiro etc., etc., ou
das atividades agrícolas e eco- então um plano global, junta-
nômicas. mente com um plano par~SClt­
O planejamento a curto .brt'- lar para cada serviço. Mas to-
%0 aplica-se, em geral, às ativi- dos êsses planos são articula-
dades institucionais, aos méto- dos, soldados, de maneira que
dos e processos de trabalho. se fundem num só. Tôda mo-
Este esquema de dassiLca- diiicação introduzida em qual-
ção, convencional e subjetivo. quer dêles se reflete no plano
talvez não pareça satisfatório. de conjunto (4) .

4) Fayol, Henri, Administration Industrielle et Générale, ,payot.


Paris, 1921) p. 50.
CAPíTULO VII

DO ORÇAMENTO AO PLANEJAMENTO

Na esfera das atividades in- tanto mais complexo quanto


dustriais, j;í é comum a fixaç;iO maior a emprêsa e mais nume-
prévia do número dt> unidacle~ rosas as variáveis envolvidas.
que cabe a cada órgão, depar- Para que êsse processo seja
tamento ou fábrica atingir, ou conduzido com realismo, cum-
produzir, em determinada di- pre ao planejador levar em
visão de tempo. Ao formular conta a capacidade das fábri-
os respectivos planos de traba- cas, as condições do equipa-
lho, o industrial esclarecido mento, o suprimento de ener-
prefixa em unidades físicas - gia e matérias-primas, a dispo-
por exemplo: 150 000 sacos d~ nibilidade de mão-de-obra qua-
cimento, 200 000 toneladas de lificada, as encomendas recebi-
ferro guza, 23 000 pares de sa- das, as facilidades de transpor-
patos, 7 500 automóveis de pas- te, as perspectivas do mercado
seio - a produção correspon- consumidor etc. etc. etc.
dente a cada mês.
Se já se houvessem conven-
Na indústria moderna, a de- cionado unidades físicas com
terminação quantitativa da que se pudessem medir, expres-
produção em têrmos de divi- sar e planejar, em têrmos nu-
sões de tempo não resulta de méricos, as atividades das re-
meros palpites, ou do simples partições públicas, seria igual-
desejo de lucros, como se pode- mente possível prefixar o vo-
ria supor. Trata-se, ao contd- lume de trabalho que cada ór-
rio, de um processo analítico, gão ou dependência devesse
54 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

atingir, ou produzir, em cada Se se chegasse, por um pro-


divisão de tempo. Bastaria que cesso refinado de contabilida-
se reduzissem as várias modali- de, a calcular o custo da uni-
dades de trabalho - como as dade aluno-aula-hora, os gastos
matrículas, as freqüências, as totais da Escola poderiam ser
promoções e as conclusões de orçamentados mediante simples
curso, numa escola - a um de- multiplicação do número de
nominador comum. unidades planejado pelo custo
Está visto que o denomina- unitário conhecido.
dor comum, ou melhor, as no- Dêsse estágio ao chamado or-
vas unidades físicas de expre~­ çamento funcional (performan-
são e mensuração de trabalho ce budget), a modalidade mais
que temos em mente, deveriam moderna - e também a mais
ser da mesma espécie do ho- lógica - de programação fi-
mem-hora, do cavalo-vapor, do nanceira das etapas de um pla-
m2 etc. etc. no de trabalho, é apenas um
Quando diretor da Escolil passo.
Brasileira de Administração Por outro lado, assim expres-
Pública, criei um denominador so em unidades comparáveis, o
comum para analisar, expres- plano de trabalho da Escola
sar, planejar e executar as ati- para cada ano letivo presta-se
vidades do estabelecimento. A dócil e admiràvelmente, tanto
~sse denominador comum dei às fases administrativas da co-
o nome de aluno-aula-hora. ordenação e do contrôle, du-
Uma vez estabelecido o cur- rante a execução, quanto às ta-
rínIlo de cada curso, conhe- refas corretivas posteriores, aca-
(:endo de antemão o número so necessárias: análise, inter-
de aulas a ser dado em cada pretação e crítica.
período escolar, assim como a Quem compulsa o relatório
capacidade das instalações, a da EBAP correspondente a
fôrça de trabalho, e as limita- 1958, por exemplo, encontra-
ções orçamentárias, era-me fácil rá o seguinte trecho, o qual
determinar quantitativamente, prescinde de maiores expli-
em unidades aluno-aula-horas, cações:
o volume de trabalho de cada "O cálculo do rendimento
professor em cada curso. escolar é feito com base numa
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 55
unidade de trabalho imagina- se a nenhuma aula, e se todos
da pela própria Escola: aluno- os alunos comparecessem a tô-
aula-hora, isto é, presença de das as aulas, o índice de rendi-
um aluno durante uma hora de mento seria o máximo ideal,
aula realizada. Trata-se de uma isto é, 100%. Na prática, po-
unidade lógica de trabalho, de rém, êsse ideal raramente ocor-
fácil aferição, e cuja generali- re, por isso que os professôres
zação talvez pudesse contribuir mais pontuais e os alunos mais
para a eficiência da adminis- aplicados estão, naturalmente,
tração escolar. sujeitos às contingências huma-
O seguinte exemplo ilustra- nas - doenças, viagens impre-
rá o funcionamento do siste- vistas e inevitáveis, compromis-
ma. Imaginemos uma turma de sos de família etc.
50 alunos, com três aulas sema- O desnível entre o progra-
nais de Teoria e Prática de mado e o realizado, desnível
Planejamento durante o ano
para o qual contribuem profes-
letivo. Multiplicando-se o nú-
liôres e alunos, é analisado se-
mero de alunos pelo número
de aulas semanais, tem-se o pro- mana por semana, e fica do-
grama de ensino em Teoria e cumentado nos quadros estatís-
Prática de Planejamento para ticos do rendimento escolar, in-
cada semana. A verificação do dicando o grau de responsabi.
rendimento é feita mediante o lidade de alunos e professôres
levantamento do número de pela queda de rendimento."
aulas efetivamente dadas e do À míngua de uma coleção de
número de presenças de alu- unidades físicas adequadas, com
nos em cada uma delas. Com- que se pudessem medir as
para-se então o resultado com funções exercidas pela maioria
o programado, isto é, o núme- das emprêsas públicas e parti-
ro de unidades aluno-aula-ho- culares, emergiu lentamente da
ra ideal com o número real, realidade e universalizou-se a
chegando-se à porcentagem do prática de expressá-las em têr-
rendimento escolar por sema- mos monetários. Em vez de se
na, mês, semestre, ano, e para dizer, por exemplo, que o De-
cada matéria, série e curso. partamento de Ensino da Fun-
Se nenhum professor faltas· dação Getúlio Vargas deverá
53 CADEnNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

produzir no próximo ano leti- certas generalizações provisó-


vo I 500 conclusões de curso rias, chamadas diversamente
técnico, 600 conclusões de cur- principios, requisitos, máximas,
so colegial, 3 000 promoções de postulados, axiomas, regras, câ-
ano, etc. etc., diz-se, em lingua- nones e critérios, os quais, por
gem administrativa - longe de enquanto, são o material mai~
ser satisfatória - que deverá sugestivo, de que se poderá
gastar Cr$ 98000000,00 para lançar mão, para se tentar o
promover educação. Nesta sín- esbôço de uma teoria geral de
tese numérica está presente, em planejamento. :tsses critérios
estado de repouso, todo o pro- surgiram como simples enume-
grama de ação do departamen- rações das qualidades ou atri-
to. Por meio de sínteses seme- butos do processo orçamentá-
lhantes, geralmente dispostas rio. Há certas regras de bom
sob a forma contábil, represen- senso, a que os homens recor-
ta-se o custo total provável de rem naturalmente, em face de
cada função ou grupo de fun- situações similares, muito antes
ções a cargo de um govêrno ou de qualquer esfôrço consciente
de uma emprêsa particular. no sentido de formulação de
Ao conjunto de sínteses nu- teorias. Surgindo primeiro com
méricas, expressando em têr- caráter descritivo, essas genera-
mos de dinheiro a quantidade lizações tendem a adquirir,
e, em certos casos, também a pouco a pouco, pela repetição,
qualidade das funções de de- caráter igualmente normativo,
terminado órgão ou emprêsa - isto é - passam a ser conside-
seja o Departamento de Cor- rados rumos gerais, guias am-
reios e Telégrafos, seja a Fá· plos, indicações de procedi-
brica Nacional de Motores - mento, numa palavra - normas
dá-se o nome de Orçamento, de ação.
têrmo que aqui significa esti- Dada a incipiência da pro-
mativa, avaliação quantitativa, fissão de planejador, que está
embora imprecisa, de fenôme- ensaiando os primeiros passos.
nos futuros. é óbvio que essas generaliza-
Das instituições e práticas ções, ora chamadas regras, ora
orçamentárias de vários países máximas, ora cânones, ora
começaram a emergir, assim, principios, terão que sofrer um
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 57

processo natural de elaboração, ção da idéia de tributação bas-


desenvolvimento, decantação, tará para ilustrar, por analo·
cristalização e seleção, antes de gia, o processo de elaboração
merecerem a categoria de prin- do conteúdo teórico do plane-
cípios_ Até que se consiga essa jamento. Assim como do con-
cristalização, não só o seu tra- ceito de donativo espontâneo
tamento teórico, como no pre- emergiu, através de lentas
sente caso, senão também a sua transformações, a teoria da con-
aplicação prática, necessita, em tribuição compulsória, assim
cada instância, de defesa e jus- também das práticas orçamen-
tificação_ tárias tradicionais estão des-
Registremos, por fim, a ad- prendendo-se certos princípios
vertência seguinte: ao perscru- que constituem, a nosso ver, as
tar o processo do planejamen- origens da teoria geral do pla-
to, cumpre ao observador ter nejamento.
em mente e levar em conta Seligman discerne seis etapas
grupos diversos de problemas, na evolução da idéia de tribu-
a tim de não incorrer em la- tação.
mentáveis confusões de maté-
ria científica, jurídica, consti- Primeira Etapa: Ao originar-
tucional, política, administrati- se, a idéia de tributo confun-
va, econômica, técnica e finan- de-se com a de uma contribui-
ceira. ção espontânea ou donativo
A esta altura de nossa análi- voluntário.
se, já podemos aventurar a se-
guinte afirmação: da prática Segunda Etapa: Mais tarde.
orçamentária está emergindo não podendo manter-se com O~
um conjunto de regras, algu- donativos voluntários, os go-
mas das quais constituem o ma- vernos passam a implorar hu-
terial com que se há de cons- mildemente o apoio financeiro
truir a teoria geral do planeja- do povo; nessa etapa, o donati-
mento. É principalmente com vo já é solicitado.
base nessas regras que vamos Terceira Etapa.' Com a con-
ensaiar a elaboração de uma tinuação do hábito governa-
teoria geral de planejamento. mental de solicitar ajuda finan-
Um ligeiro exame da evolu- ceira do povo, a idéia de tri-
58 CAIDERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

butação passa a ser considera- pio, um donativo espontâneo;


da uma espécie de favor pres- passou depois a ser um donati-
tado à coisa pública sob a for- vo solicitado; em seguida pas-
ma de assistência financeira. sou a ser um favor; em segui-
da, um sacrifício; mais tarde,
Quarta Etapa: A idéia de
um dever social e, finalmente,
tributação evolui para a idéia
uma imposição inescapável.
de sacrifício; já não é um favor
prestado ao govêrno, muito Através dos tempos, o ho-
menos um donativo, mas um mem foi descobrindo motivos
sacrifício, que o contribuinte novos, cada vez mais comple-
faz em benefício do govêrno. xos e nomes diferentes para o
mesmo ato - o de o cidadão
Quinta Etapa: Surge a idéia abrir mão de uma parte de sua
de obrigação; em vez de fazer renda em benefício do Estado.
um sacrifício, o contribuinte
passa a cumprir uma obriga- o ato de cada um contribuir
~ão. É interessante observar a com uma parcela da renda pró-
diferença de atitude psicológi- pria para manutenção do go-
ca que há entre quem faz vêrno não se modifica através
um sacrifício, e quem cumpre dos tempos. A maneira de con-
uma obrigação. Subjetivamen- siderar e classificar êsse ato é
te, cumprir uma obrigação é que sofre uma evolução de
menos penoso do que fazer um grande envergadura, que vai
sacrifício. da espontaneidade à compu lso-
riedade, ligando ou percorren-
Sexta Etapa: A idéia de tri- do todo o caminho que medeia
butação, já plenamente desen- entre êsses dois extremos. O
volvida, transforma-se na teo- que hoje é compulsório, inelu-
ria da compulsoriedade; já não tável, fatal, era espontâneo na
lie trata de donativo, nem de origem. Como se vê, a teoria da
favor, nem de sacrifício, nem contribuição compulsória sur-
de obrigação, mas de contribui- giu da contribuição espontânea.
~ão compulsória, quer dizer,
Similarmente, certas práticas
forçada, imposta, implacável. e procedimentos orçamentários,
Em resumo: o que hoje cha- que surgiram e se desenvolve-
mamos impôsto era, a princí- ram por outras causas, transfor-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 59

mam-se hoje em princípios de to são variações refinadas e so-


planejamento, assumindo até a fisticadas das velhas e toscas
estrutura complexa de uma teo- práticas orçamentárias.
ria geral. Em verdade, não é preciso
Há quem considere coisas possuir a agudeza intelectual
distintas e separadas o orça- de um Bernard Shaw para
mento e o planejamento. :í<'.rro perceber e avaliar as íntimas
de observação. O orçamento relações existentes entre o pro-
nada mais é, ou nada mais cesso orçamentário e o proces-
deve ser, do que uma etapa so planejador.
avançada, precontabilizada, do Com estas reservas e adver-
planejamento. Nenhum plano tências em mente, repetido
será exequível se o rol das coi- uma vez mais o aviso de que,
sas planejadas não passa pela por enquanto, estamos apenas
fase orçamentária. O planeja- analisando a massa de genera-
mento e o orçamento, como lizações com que eventualmen-
processos, são incoercivelmente te se modelará um dia a teo-
complementares. O planeja- ria do planejamento, podemos
mento é o processo de escolha prosseguir em nossa tentativa
de objetivos, previsão e provi- de formular uma teoria de pla-
mento de meios para levá-los a nejamento.
efeito. O orçamento é o pro- O exame do acervo disponí-
cesso de fixação de custos e vel parece sugerir que a ação
cálculo de recursos para pagar de planejar tende a ser racio-
as coisas planejadas. O plane- nal, se obedece a um certo nú-
jador decide sôbre o que fazer, mero de cânones éticos, princí-
quando fazer, onde fazer e pios lógicos e regras técnicas.
como fazer. O orçamentista
Em nosso esfôrço para reunir
traduz em dinheiro o que vai
e condensar essas idéias espar-
ser feito e vincula recursos para
sas, julgamos haver identifica-
o respectivo pagamento. Os
do seis cânones éticos, oito
dois processos são verso e re-
princípios lógicos e cinco re-
verso da mesma medalha.
gras técnicas, a que, tanto
Em última análise, as mo- quanto possível, o planejador
dernas práticas do planejamen- deve obedecer.
PARTE 11

UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO


CAPíTULO VIII

OS CÂNONES :f:TICOS

O CANONE DA MAXIMA CON- benefícios aproveitem à maio-


VENI1l:NCIA SOCIAL ria, é indispensável a interven-
ção do Estado.
Tôda decisão sôbre o que fa- De acôrdo com o ponto de
zer, onde fazer e quando fazer. vista popular, subjacente na es-
que se tomar em qualquer em- cala de valôres do cidadão mé-
prêsa pública, ou particular, dio, os princípios que devem
deve basear-se primeiramente presidir ao emprêgo dos recur-
no cânone da máxima conve- sos sociais, geralmente apro-
niência social. priados pelo govêrno sob a for-
À medida que a tecnologia ma de impostos, são: economia,
moderna multiplica as possibi- eficiência e honestidade.
lidades de satisfação das neces- tsses três postulados popula-
~idades humanas, e incute, por res, fortemente sustentados pe-
outro lado, novas aspirações ao lo sólido bom-senso do povo
homem, o govêrno como órgão em todos os países, são incon-
do Estado é compelido a em- testàvelmente sábios e pruden-
preender cada vez mais a fun- tes. Traduzem, entretanto, ape-
do serviços mais numerosos, nas os anseios gerais, os altos
quer dizer, tende a transfor- padrões de comportamento a
mar e redistribuir recursos so- que o povo aspira para os ser-
ciais mais e mais vultosos. viços públicos.
O progresso é uma espiral A nosso ver, o supremo re-
sem fim, e de desenvolvimento gulador do uso dos recursos co-
incoercível. A fim de que seus letivos deve ser, em última
M CAiDERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

an,ilise, a promoção da máxi- contida no cânone do maIOr


ma vantagem social. bem ao maior número, consi-
Trata-se de uma aplicação deramos difícil - talvez seja
particular às atividades pú- até utópica - a sua observân-
blicas do princípio utilitarista cia sistemática em todos os ca-
que, embora mencionado de sos de atividade governamen-
tal.
passagem por Hutcheson, Pri-
estley e Beccaria, só teve cir- Que é a máxima conveniên-
culação franca e universal de- cia social? A menos que cada
pois que o filósofo e jurista cargo público seja exercido por
inglês Jeremias Bentham o per- uma infalibilidade. não se nos
filhou, para lastrear a sua filo- afigura possível realizar-se, in-
sofia do utilitarismo. variàvelmente, a situação ideal
de subordinar o dispêndio de
Uma das proposições mais ci- cada centavo dos dinheiros pú-
tadas de Bentham diz: blicos ao critério da máxima
conveniência social.
"Priestley foi quem primei-
Poucos serão capazes de de-
ro (a menos que haja sido
finir e fixar a máxima conve-
Beccaria) ensinou meus
niência social - exceto em ca-
lábios a pronunciar esta
sos extremos e óbvios. Muitos
verdade: a maior felicida-
serão capazes de perceber, -
de do maior número é o
até intuitivamente - mas nin-
fundamento da moral e da
guém será capaz de medir ()
lei."
conteúdo de conveniência so-
Do ponto de vista ético, não cial de cada solução ou provi-
há dúvida de que o cânone da dência, de modo que se pudes-
máxima conveniência social de- se escolher, entre várias, a
ye constituir a origem, o guia. que produzisse certeiramente o
a medida e o contrôle de tôda maior bem ao maior número.
ação empreendida pelo Estado, O dnone da máxima conve-
mediante o emprêgo de recur- niência social não pode, pois.
sos sociais, levantados sob a ser aplicado isoladamente, co-
forma de impostos. mo preceito único. Para agir
Apesar da altruística beleza dentro da linha da máxima
UMA TIDORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 65

conveniência social, é necessá- 50% da população, pode afir-


rio observar uma série de pre- mar-se que, pelo menos do pon-
ceitos mais simples, certos prin- to de vista quantitativo, o pos-
cípios lógicos e regras técnicas. tulado da máxima vantagem
cuja combinação habilita a em- social está sendo observado. A
prêsa a aumentar o teor de be- sua realização está na razão di-
nefício social de suas ativida- reta do aumento dessa percen-
des. A observância do cânone tagem.
da máxima conveniência cole- Quando, porém, tentamos
tiva realiza-se, assim, por via determinar o que seja o bem, o
indireta. maior bem ou o menor bem,
Quando é que, ao utilizar os deparamos com uma série de
dinheiros públicos, o govêrno conceitol> subjetivos, e, como
age de acôrdo com o cânone da tais, susceptíveis de interpreta-
máxima vantagem social? Ha- ções distintas e até contraditó-
verá algum critério que permi- nas.
ta ao observador mensurar o
grau de vantagem social de O conceito de maior bem,
cada despesa pública? maior benefício, não pode
N a ausência de denominador ser determinado objetivamen-
comum, de padrão fixo, o jul- te. Além disso, a sorte das ge-
gador será guiado por uma es- rações vindouras deve ser le-
cala particular de valores. Ha- vada em conta. Como decidir
verá sempre um coeficiente de em face de uma providência
subjetividade irredutível na julgada capaz de beneficiar a
opinião de cada opinante. maior parte da geração presen-
Repitamos a pergunta: que te, mas, ao mesmo tempo, pre-
é a máxima vantagem social? judicial à maior parte das ge-
Na prática, a máxima vanta- rações futuras?
gem social traduz-se em maior A resposta de Luís XV ao
bem ao maior número. saber que Frederico, o Grande,
É relativamente fácil deter- havia batido os exércitos fran-
minar-se a grandeza do núme- ceses e austríacos na batalha de
ro. Sempre que os benefícios Rossbach - APres naus, le dé-
das atividades planejadas atin- luge, expresa a mais cínica das
jam, por exemplo, a mais de filosofias de govêrno.
·66 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

o estadista é um curador do explorar, degradar, aviltar t)


bem-estar dos contemporâneos, homem, atirá-lo à miséria, es-
sem dúvida, mas também o é cravizá-lo ao trabalho, ou ao
do bem-estar dos pósteros. vício, ou a outro homem, iPso
Cumpre-lhe evitar o crime de facto será o reverso da meda-
sacrificar os interêsses das gera- lha, o malefício, a coisa indese-
ções futuras aos interêsses oca- jável.
sionais das gerações presentes. Seja como fôr, a observânci.l
Até que ponto, porém, deve o do cânone da máxima conve-
estadista poupar os recursos niência social depende da esti-
sociais, adiar as soluções e com- mativa do grau de benefício
prometer a prestação de bene- coletivo das atividades plane-
fícios coletivos, em nome das jadas e executadas.
gerações futuras? No capítulo II de seu livro
N a democracia, os detentores Princípios de Finanças Públi-
do poder são eleitos para cui- cas) Hugh Dalton, ex-Chance-
dar dos interêsses dos coevos, ler do Erário Inglês, indica
ou dos interêsses dos que virão três condições de benefício so-
trinta, cinqüenta ou cem anos cial. A primeira diz respeito
depois? aos serviços indivisíveis de pro·
A única maneira de se esta- teção à coletividade contra de-
belecer um critério para deter- sordens internas e ataques ex-
minação do que seja bem ou ternos; a segunda confunde-se
mal, em relação a uma coleti- com a melhoria da produção;
vidade politicamente organiza- a terceira consiste no ajusta-
da, será considerar a personali- mento da distribuição.
dade humana um valor intrín- A realização da máxima van-
seco indiscutível, digno de res- tagem social pressupõe, assim,
peito e de preservação. Tudo de acôrdo com Dalton, a pres-
que contribuir para dignificar, tação de benefícios não econô-
proteger, amparar o homem, micos e de benefícios econômi-
tornar-lhe a vida mais amena, cos. Os não econômicos são,
mais agradável, mais longa, de- entre outros: a defesa nacional,
verá ser considerado como be- a manutenção da ordem inter-
nefício social líquido. Per con- na, a proteção da integridade
tra) tudo que concorr~r para física e da propriedade. Os eco-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 67

nômicos são, entre outros: ') ções intrínsecas da existência


aumento da capacidade produ- do Estado. Em outras palavras:
tiva, a organização racional da não se trata de serviçuj opcio-
produção, a melhoria da com- nais, que o Estado preste ou
posição e dos padrões da pro- deixe de prestar, a seu talante,
dução, a redução da desigual- segundo o capricho dos gover-
dade de rendas entre os indi- nantes, a ideologia do momen-
víduos e famílias intregantes to, a constitujção política ado-
do Estado, a diminuição das tada etc.
flutuações que se verificam na Há casos em que, por dema-
renda de determinados indiví- siado pequeno, ou demasiado
duos e famílias, especialmente fraco, o Estado não poderá
nos segmentos mais pobres. proteger o respectivo povo
Os benefícios não econômi- contra agressões externas, se-
cos confundem-se com as fun- não por meio de alianças e pac-
ções essenciais do Estado. Com tos militares. Mais recentemen-
efeito, se deixa de prover à de- te, as organizações estabeleci-
fesa da população contra ata- das como guardiãs da paz e se-
ques externos, o Estado, iPso gurança internacionais, como
facto, cai em colapso, pelo me- a antiga Liga das Nações e a
nos temporàriamente, passan- atual Organização das Nações
do à condição de território Unidas, diligenciam tornar des-
ocupado. necessários os exércitos e meios
Se, por outro lado, não pro- de defesa, de que carece a
vê aos serviços de proteção à maioria dos países.
vida e à propriedade e à ma- Os benefícios econômicos,
nutenção da ordem interna, que se refletem na melhoria
geralmente a cargo de tribu- quantitativa e qualitativa (~.1.
nais, côrtes de justiça ~ corpos produção e na melhoria da dis-
de polícia, o Estado deixa tribuição, êstes sim, podem, até
igualmente de subsistir como certo ponto, ser considerados
tal, sendo substituído pelo serviços opcionais. Quer dizer:
caos, pela guerra civil, ou pela o Estado: a) pode abster-se de
anarquia. prestá-Ias; b) pode intervir
De sorte que os serviços de discretamente na produção e
proteção representam condi- na distribuição; c) pode chc-
68 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

gar ao extremo de aiSumir II visível, a proteção coletiva be-


contrôle total de uma e de ou- neficia particularmente cada
tra. Ao fazê·lo, estará agindo ou indivíduo; que o aumento da
não de acôrdo com o princí- produção significa mais recur-
pio da máxima vantagem so- sos sociais disponíveis; que a
cial. O grau de intervenção do melhoria da distribuição re-
Estado na produção e na dis- presenta um esfôrço no sentido
tribuição não representa, por de diminuir as desigualdades
si só, garantia de aumento das individuais de fortuna, renda,
vantagens sociais. capacidade, saúde e ambições.
O govêrno que se empenha
É possível haver situações em
honestamente em prover os
que o rendimento econômico
serviços de proteção coletiva,
por homem-hora seja dos mais
em estimular a produção de
elevados, e em que a distribui-
bens materiais destinados a sa-
ção dos bens de consumo seja
tisfazer às necessidades huma-
feita de acôrdo com o postula-
nas e em intervir na distribui-
do marxista:
ção para torná·la mais justa,
- "De cada um segundo a mais abrangente, mais univer-
sua capacidade, a cada um se- sal, certamente estará con-
gundo as suas necessidades", e tribuindo para melhorar o
ainda assim não haver aumen- quinhão de bem-estar e de ci-
to 'p~oporcional das vantagens vilização de seus componentes
SOCIaIS. humanos.
O usufruto e gôzo dos bens
As três condições de benefí- materiais constitui um meio
cio social indicadas por Hugh eficaz de aumentar o quinhão
Dalton, a saber, a proteção co- de benefício do homem e de
letiva, o aumento da produção libertá·lo das precariedades e
e a melhoria da distribuição, privações decorrentes da po-
obviamente estão em harmonia breza.
com o critério teleológico aci- N a escala de valôres da civi-
ma referido, de considerar a lização contemporânea, a posse
personalidade humana um va- e o gôzo de bens materiais en-
lor intrínseco indiscutível. carnam uma ambição coletiva,
Supõe·se que apesar de indi- a que permanecem insensíveis
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 69

apenas os santos, os faquires e leza do cânone da máxima


os nihilistas, isto é, um redu- conveniência social como guia
zidíssimo grupo minoritário do moral do planejador.
gênero humano.
Uma combinação dêste com
A posse, a detenção e o gôzo os demais cânones éticos, os
de bens materiais representam princípios lógicos e as regras
para o homem não 'd'pe~as a técnicas de planejamento, que
redenção contra a mIséna, a nos propomos a examinar no
satisfação das necessidades bá- presente curso, pode contribuir
sicas, senão também um índice para minimizar os riscos do
de importância social. planejamento de atividades
Na Teoria da Classe Ociosa, públicas e particulares.
um dos poucos livros clássicos O planejamento define
americanos, Veblen analisa per- Muiíoz Amato - Ué a formu-
cucientemente o consumo os- lação sistemática de um con-
tentoso (conspicous consomp- junto de decisões, devidamen-
tíon), destinado muito mais a te integrado, que expressa os
satisfazer à necessidade psico- propósitos de uma emprêsa e
lógica de ser importante, de ser condiciona os meios de alcan-
gente bem, do que às ne- cá-los. Um plano consiste na
cessidades físicas de alimenta- definição ele objetivos, na or-
ção, abrigo e confôrto. O con- denacão ele recursos materiais
sumo ostentoso dá ao titular a e hu'manos, na determinação
sensação euforizante de perten- de métodos e formas de orga-
cer às minorias privilegiadas, nização, no estabelecimento de
espécie de renda psicológica medidas de tempo, quantidade
vizinha da psychic income, e e qualidade, na localização es-
cuja manifestação mais palpá- pacial de atividades e outras
vel é o prestígio social ordinà- especificações necessárias paI a
riamente associado à posse no- canalizar racionalmente a con-
tória de objetos de luxo, ou duta de uma pessoa ou de um
desnecessàriamente J'lxuosos. grupo" .
Apesar das dificuldades ine-
rentes à sua prática, não há ne- Em outras palavras, planejar
gar a sabedoria e ignorar a be- equivale a responder claramen-
70 CAJ)ERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

te a pelo menos três questões: cursos sociais arrecadados sob


a. que fazer? color de financiar empreendi-
b. onde fazer? mentos de interêsse geral, tem
c. q1lando fazer? o aspecto de dupla fraude:
frauda o contribuinte compul-
Sustentamos e vamos de- sório, pois desvia para fins
monstrar a seguinte tese: tôda inconfessáveis a contribuição
decisão de uma emprêsa, pú- dêle retirada sob a ação coer-
blica ou privada, sôbre que citiva do Estado; e frauda o
faLer, onde fazer e q llando fa- membro da comunidade, por-
zer, deve sujeitar-se, entre ou- que lhe nega ou lhe retarda a
tros, aos cânones da honestida- prestação de serviços que lhe
de e publicidade. tornariam a existência mais
segura, ou mais Lícil, ou mais
O CANONE DA HONESTIDADE agralLí.\'el.
Cumpre, pois, ao planejador
No planejamento de quais- de obras públicas aderir irre-
quer atividades, governamen- vogàvelmente ao cânone da ho-
tais ou privadas, destinadas a nestidade - tanto na forma,
promover o benefício do maior quanto no fundo da ação de
número, é intuitivo que se planejar. Não basta a pureza
deve obedecer rigorosamente da intenção, a autenticidade
ao dnone da honestidade. dos meios e recursos, a lisura
Em primeiro lugar, porque dos métodos. É preciso que a
se trata, no caso do govêrno, ação de planej ar e os planos
da utilização de recursos so- decorrentes sejam cristalina-
ciais obtidos através da tribu- mente honestos, ele modo que
tação. É de rigor ético, por- não pairem quaisquer dúvidas
tanto, que êsses recursos sejam sôbre a integridade do plane-
totalmente devolvidos à cole- jador, a sua idoneidade profis-
tividade, sob a forma ele ser- sional e o desempenho de seu
"iços ou benefícios tendentes a papel.
proteger, reforçar e aumentar O dnone da honestidade
o bem-estar geral. impõe, aos que detenham a fa-
Em segundo lugar, porque a culdade de formular política e
aplicação inescrupulosa de re- fixar objetivos, o dever de ser
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 71

francos, não ocultar parcela al- do homem público, honesty


guma de suas intenções, dizer is lhe besl policy.
as razões reais por que optam Não nos parece necessário
por esta ou aquela solução; e insistir no dever sagrado, que
impõe, ao planejador, o dever cumpre indistintamente, a todo
de ser genuíno no exercício de planejador, de cingir os seus
suas funções, rigoroso no le- planos aos mais severos e
vantamento dos fatos e sincero óbvios padrões de honestidade.
nos pareceres que emitir e pla- Em uma palavra: cumpre-lhe
nos que elaborar. ser honesto e parecer honesto.
No caso das emprêsas parti-
culares, a honestidade no pla- o CANONE DA PUBLiCIDADE
nejamento reflete-se na quali-
dade dos produtos e nas rela- :f'.ste cânone justifica-se pelo
ções com os clientes. A lisura próprio enunciado. O emprê-
de conduta não merecerá tal- go de dinheiros públicos para
vez as preferências de muitos a solução de problemas coleti-
industriais e comerciantes, mas vos, assim como o empreendi-
as emprêsas dirigidas por ho- mento de obras destinadas a
mens de visão tendem para a fazer o maior bem ao maior
prática da honestidade em número, pressupõe necessària-
tôdas as relações com as res- mente publicidade: honesta,
pectivas clientelas. regular, simples e efetiva.
A estrita observância do câ- Planejadores crípticos que
none da honestidade cria para envolvem os seus planos no
a tarefa planejadora o clima de manto do mistério, para nos
verdade e decência preferido servir de uma imagem literá-
pela maioria dos homens. ria, dificilmente estarão imbuí-
Não é só por essa razão mo- dos de propósitos honestos. Se
ral, porém, que cumpre obser- o objetivo dos empreendimen-
var o dnone da honestidade. tos planejados é disseminar be-
Há também razões de ordem nefícios através de meios lícitos
prática: a la longue, não há e racionais, como se justificaria
ação planejadora qu'e possa o mistério, a ausência de pu-
prevalecer, sem êsse clima de blicidade ou a publicidade in-
moralidade. Portanto, para to- completa?
72 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PúBLICA

É evidente que o planeja- tas e até nos próprios documen-


mento de obras públicas de tos em que se consignam os
qualquer natureza, exceto nos planos.
casos em que a própria segu- É de rigor que a observância
rança do país esteja em jôgo e do cânone da publicidade em
a publicidade possa beneficiar matéria de planejamento e pla-
o inimigo, deve ser precedido, nos de obras governamentais
acompanhado e seguido de am- se faça estritamente sob a égi-
pla publicidade. de do cânone da honestidade.
A publicidade do planeja- A publicidade deve ser ho-
mento e dos planos não deve, nestamente concebida, elauor:t-
entretanto, servir de pretexto da, dirigida e executada para
para exaltar os ocupantes oca- informar, esclarecer, da, co-
sionais do poder, os políticos nhecimento, não para conven-
em circulação, os presidentes cer, persuardir ou como"er o
de autarquias, os candidatos às público.
próximas eleições ou os pró- A publicidade deve, pois,
prios planejadores. ser feita para ajudar o público
Os políticos militantes e seus a formar livremente opinii5es
acólitos e validos freqüente- sôbre os planos que estejam em
mente são inclinados a ver, na elaboração, jamais para vender
publicidade financiada pelos ao público opiniões preforma-
cofres públicos, em tôrno dos das, favoráveis a esta persona-
planos de trabalho governa- lidade, ou contra aquêle par-
mental, excelente meio de pro- tido.
moção de seus interêsses eleito- Trata-se de divulgação regu-
rais. lar, sóbria, direta, acessível à
Se não fôr observado com compreensão do grande públi-
absoluta isenção, o cânone da co. O conteúdo dessa divulga-
publicidade pode, assim, dege- ção deverá constituir-se de in-
nerar em conveniente franquia formações objetivas, - gastos,
teórica para coonestar a propa- dados, algarismos, preços - ex-
ganda de pessoas, partidos e postas de maneira lógica e sim-
ideologias, sutil ou abertamen- ples, para que veiculem idéias
te instilada nas mensagens, rc- exatas e precisas sôbre os pla-
latórios, comunicados, entrevis- nos a que se refiram. Os con-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 73

ceitos subjetivo" as aprecia- usuário ou consumidor deixa


ções, os qualificativos, as opi- de sofrer prejuízos indiretos~
niões políticas não teriam cabi- causados pelos erros de plane-
mento aqui. jamento dos empreendedores
Conclui-se que, no processo privados. A própria comuni-
geral do planejamento, o cAno- dade poderá sentir, em certos
ne da publicidade pode ser vio- casos, as conseqüências do mau
lado de duas maneiras: - por funcionamento de uma emprê-
omissão e por adulteração. A sa particular. Contudo, os pre-
omissão de publicidadt, Oh juízos diretos e palpáveis sãÜ'
seja, o silêncio deliberado sôbre absorvidos pelos sócios, acio-
" planejamento de realizações nistas, fornecedores e emprega-
e obras públicas que irão one- dos. Conseqüentemente, no-
rar e afetar coletividades intei- caso do planejamento de ati-
ras, gera um ambiente omino- vidades particulares, o cânonc-
so de conspiração e mistério, da publicidade tem aplicação
de todo em todo incompatível limitada. Ao passo que é um
com o regime democrático. Por dever em se tratando de ativi-
outro lado, quando alguém se dades públicas, não passa de
vale da publicidade de um pla- um recurso, mais ou menos,
nejamento para incensar os conveniente, em se tratando de
poderosos do dia, ou para exal- atividades particulares.
tar candidatos a cargos públi-
cos, viola por adulteração o câ- O CANONE DA
ACEIT ABILIDADE
none ético da publicidade.
A propaganda pessoal, ainda O cânone daaceitabilidade
que de 'indivíduos competen- rege mais a ação do líder, que
tes e idôneos, é contra-indica- formula políticas e fixa obje-
da na publicidade dos planos: tivos. do que a ação de quem
esta deve primar pela isenção converte as políticas e os obje-
e desinterêsse. tivos em planos de trabalho.
N as em prêsas particulares, os É ao detentor do poder e da
meios destinados à execução oportunidade de decidir o que-
dos planos geralmente não fazer, onde fazer e quando fa-
procedem dos cofres públicos. zer que compete observar {)o
N em por isso, entretanto, o cânone da aceitabilidade.
74 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

Certos empreendimentos go- lizados com a intenção de me-


vernamentais provocam mu- lhorar as condições de vida do
danças técnicas acentuadas, às agregado humano, é de rigor
vêzes drásticas, nos hábitos e ético obter-lhe a anuência
predileções da população. Nos prévia.
países -subdesenvolvidos, espe- O cânone da aceitabilidade
ôalmente, o planejamento go- consiste, pois, na verificação
vernamental concentra-se no dos sentimentos predominantes
desenvolvimento econômico. no agregado humano relativa-
Isto implica mudanças técnicas mente às possíveis soluções en-
que se refletem nos costumes, trevistas para os problemas pú-
tradições e preferências das po- blicos. Cumpre que essa veri-
pulações interessadas. Quem ficação seja feita durante a
poderia calcular a ôlho, por fase de formulação da política,
exemplo, o impacto da eletri- antes da seieção dos objetivos.
ficação do Vale do São Fran- Compete aos servidores pú-
ôsco nos costumes e tradições blicos - tanto aos eleitos quan-
dos habitantes da região? Os to aos nomeados - procurar
gostos, as simpatias, as relações fazer o maior bem ao maior
de família, as superstições, os número. O cânone da máxima
hábitos alimentares, as crenças, convemencia social baseia-se
os valôres morais - tudo isso nos mais sólidos fundamentos
é afetado, variando a influên- éticos. Mas quem pode deter-
cia das mudanças técnicas com minar, infalivelmente, qual a
a idade, o grau de instrução e solução mais conveniente para
a experiência social dos indiví- o maior número?
duos atingidos. No momento de decidir o
Deve a introdução de mu- que fazer, isto é, de fixar ob-
danças técnicas de tal porte, jetivos, os detentores do poder
que aluem uma constelação muitas vêzes são levados por
cultural antes de elaborar ou- juízos abstratos, categorias sub-
tra para substituí-la, ser feita jetivas de valor, inclinações
à revelia das populações afe- intuitivas, meros sentimentalis-
tadas? mos. Conseqüentemente, estão
Ainda que tais empreendi- sujeitos a cometer formidáveis
mentos sejam concebidos e rea- erros de escolha e de priorida-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 75

de. A história política e admi- mesmo a provocar-lhe repulsa.


nistrativa dos povos está cheia Não só de pão vive o homem.
de erros dessas duas categorias, Ninguém tem o direito de im-
{:ometidos - não raro com a por mudanças de hábitos às
melhor das intenções - pelos massas. Se bem que o progres-
Teis, príncipes, pelos ditadores, so seja uma aspiração humana
pelos chefes de Estado, pelos universal, haverá grupos que,
g e n e r a i s . " ' ;. por misoneísmo, apêgo cego a
É claro que a comissão de certas tradições, ou por crenças
erros de escolha de objetivo religiosas, se opõem sistemàti-
por parte de um chefe de Esta- camente a tôdas as mudanças.
do pode ser evitada ou atenua- Vem à tona a indagação:
da pela ação de assessôres es- deve o servidor público, ainda
pecializados. Não obstante, o que sabidamente mais bem in-
perigo de uma decisão maléfi- formado do que o cidadão co-
ca para a coletividade interes- mum, planejar tais e tais obras
sada está sempre de prontidão. públicas, não reclamadas por
Daí a necessidade da consul- ninguém, à revelia dos indiví-
ta democr<Ítica, da sondagem duos afetados?
de opinião, da yerificação das O planejador que emprega
inclinações e tendências do os bens e a renda de grupos
povo - antes que um empreen- particulares organizados em
{limento de nIlto, contrário às emprêsas com finalidade de lu-
mesmas, seja planejado e pôsto cro, pode propor, sancionar ou
em execução. promover planos de trabalho
O cânone da aceitabilidade sem se preocupar muito com
não tem por fim apenas evitar, a reação dos acionistas, desde
pela sanção coletiva prévia, os que esteja convencido da jus-
erros de comando. Pode acon- teza e conveniência daqueles
tecer que uma obra governa- planos. Mas o político que de-
mental seja oportuníssima, ve- cide em matéria de empreen-
nha trazer benefícios gerais, fa- dimentos públicos e o técnico
zer o maior bem ao maior que planeja a sua execução
número, e ainda assim não não podem conceder-se tal am-
conseguir a aceitaç:ão da cole- plitude de arbítrio. É preciso
tividade beneficiada e chegar conhecer as preferências da
76 CAlDERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

clientela. Cumpre-lhes não na- CO e o Departamento de Assis-


vegar contra a maré das aspi- tência Técnica das Nações Uni-
rações e anseios gerais do povo. das, disp~nsam atenção cada
A aceitação coletiva, expressa vez maior às conseqüências
ou tácita, pelo menos da maio- psicológicas das mudanças cul-
ria, é indispensável para que os turais, acarretadas pela intro-
planos de trabalho governa- dução de novas técnicas nas
mental tenham bom êxito e áreas subdesenvolvidas.
possam ser implementados em
O volume intitulado Cultu-
clima de compreensão e con-
mi Patterns and Technical
córdia.
Clzanges, que a UNESCO fêz
Quando Solon declarava que preparar sob a orientação da
havia elaborado para Atenas antropóloga Margaret Mead, é
não as melhores leis, mas as hoje uma espécie de vade
leis melhores que os ateniense, mecum de milhares de experts,
poderiam suportar, dava um espalhados por tôdas as áreas
exemplo de obediência ao câ- subdesenvolvidas do mundo,
none da aceitabilidade. em missão de assistência téc-
N as sociedades organizadas I1lca.
existem, ao lado de institui-
ções políticas, sociais e religio- As organizações internacio-
sas, certos intangíveis, ou sejam, nais, que mobilizam êsse exér-
tradições persistentes, a que cito de especialistas, empenha-
Pareto chamou resíduos. Exis- das em acelerar o progresso
tem, igualmente, tendências econômico das áreas atrasadas,
emergentes, mudanças lentas se preocupam, mais e mais,
de rumo, a que podemos cha- com problemas como êstes, es-
mar sinais dos tempos. O es- treitamente relacionados com
tadista, que sente os resíduos o cânone da aceitabilidade:
e capta os sinais dos tempos, como pode um perito, membro
não tem dificuldade para deci- de um grupo internacional in-
dir e agir de acôrdo com o câ- cumbido de dar assistência téc-
none da aceitabilidade. nica, prestar a um povo estra-
As organizações internacio- nho a ajuda solicitada? Como
nais, principalmente a UNES- minimizar, para a saúde men-
"UlI-IA TEOIUA GERAL DE PLANEJAMENTO 77

tal d05 povos subdesenvolvidos, Daí a necessidade de obediên-


o~ riscos decorrentes dos câm- cia estreita e sincera ao cânone
bios culturais? da aceitabilidade. Essa obe-
Os estudos globais de cultu- diência não quer dizer que os
ra, procedidos por técnicos da podêres públicos devam pres-
UNESCO na Birmânia, Gré- cindir dos meios a seu alcance
cia, nas Ilhas PaIo, e em N ew para conquistar, pela educação
México, bem como os estudos e pela persuasão, o apoio dos
transculturais dos aspectos de agregados humanos; o que o
mudanças técnicas introduzidas cânone da aceitabilidade re-
na agricultura, nos hábitos de quer é que êsse apoio seja an-
alimentação, na assistência à gariado antes) não depois) de
tornadas as providências e exe-
maternidade e nos cuidados à
cutados os planos que oneram
infância, na saúde pública, na
e afetam as populações interes-
industrialização, na educação sadas.
fundamental, igualmente feitos
Não cabe ao planejador, po-
em várias partes do mundo por
rém, a tarefa de vender idéias
sociólogos, antropólogos, eco-
e de convencer coletividades.
nomistas e educadores, vieram
A sua ação deve começar no
demonstrar, além de qualquer
momento em que a coletivida-
dúvida, a importância da ade-
de, já convencida, passa a acei-
são dos agregados humanos a
tar de boa-fé, sem reservas, as
todo e qualquer plano que se
reflita no seu desenyolvimento soluções entrevistas para êste
econômico e progresso social, ou aquêle problema coletivo.
muito especialmente nas áreas
subdesenyolvidas. o CANONE DO BENEFíCIO

A proteção da saúde mental Ao escolher os objetivos de


das populações, que vão aufe- uma emprêsa, pública ou par-
rir os benefícios de empreendi- ticular, para fins de planeja-
mentos governamentais, deve mento, o planejador deve ter
ocupar lugar de destaque na por lema principal e perma-
lista dos cuidados de quem de- nente, como já vimos, a pro-
cide o que fazer e de quem moção da máxima vantagem
planeja o que deve ser feito. social.
78 CA[)ERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

Nas emprêsas públicas, so- cios mais consideráveis - em


bretudo, o critério da máxima prejuízo de empredimentos se-
vantagem social deve prevale- cundários. Pode ocorrer que,
cer em todos os casos - só por na distribuição dos recursos do
exceção poderá ser substituído povo, certos serviços essenciais,
pelo do mínimo sacrifício co- como os de segurança nacional,
letivo. atinjam determinadas propor-
O cânone do benefício consis- ções, sendo daí por diante mais
te em velar por que os empreen- conveniente, e até necessário,
dimentos públicos, custeados estabilizá-los ou mesmo redu-
com o produto dos impostos, zi-los, a fim de que recursos
promovam efetivamente im- mais abundantes sejam canali-
portantes e inequívocas vanta- zados para outros serviços,
gens sociais, como, por exem- como a educação, a saúde pú-
plo, o aumento da produção, a blica, o aumento da produção,
melhoria qualitativa da produ- a defesa do consumidor etc,
ção, a elevação dos padrões de etc.
vida, a redução progressiva das A observância do cânone do
desigualdades econômicas indi- benefício impõe ao planejador
viduais, a difusão da cultura, uma atitude de contínua vigi-
a proteção do todo social con- lância e aguda perspicácia na
tra agressões externas e desor- análise dos objetivos. Cumpre
dens internas. evitar que as propostas e ini-
Incluímos o cânone do be- ciativas oriundas de cada de-
nefício entre os cânones éticos, partamento sejam aceitas sem
porque o seu enunciado e a confronto com as propostas e
sua aplicação se conectam com iniciativas concorrentes.
o cânone da máxima conve- Não somente a extensão e a
niência social. intensidade, senão também a
Embora assim pareça, a apli- duração e a oportunidade dos
cação do cânone do benefício benefícios devem pesar no jul-
às atividades governamentais gamento do planejador e in-
não implica preferência siste- fluir na escolha dos objetivos.
mática pelos empreendimentos Figuremos, por exemplo, um
de maior vulto - de que 10- empreendimento considerado
gicamenlle se esperam benefí- susceptível de trazer grandes
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 79
benefícios em futuro remoto, ninguém poderia criticar a de-
quando as condições do agre- cisão. Dentro da problemática
gado humano poderão diferir do Ceará, um açude das dimen-
muito das que prevalecem no sões de arós, se construído e
momento da escolha. Não seria passasse a desempenhar as fun-
preferível substituí-lo por qual- ções respectivas) estava destina-
quer outro empreendimento do a fazer o maior bem ao
que, embora não se considere maior número dos habitantes
igualmente benéfico, produza da região. Entretanto, não se
benefícios imediatos, ou em fu- havendo convertido em reali-
turo próximo? dade, permanecendo em cons-
A questão da conclusão físi- trução tão longamente que aca-
ca dos empreendimentos deve bou por ser inutilizado pela
também influir nas decisões do causa menos provável no Nor-
planejador. Um empreendi- deste, uma enchente diluviana,
mento como o Açude arós, no o empreendimento trouxe ma-
Ceará, que estêve em obras lefícios imprevistos em vez dos
mais de 40 anos, acabando por benefícios esperados.
ser destruído pelas enchentes Discorrendo sôbre o cânone
de 1960, não trouxe os benefí- do benefício nas despesas pú-
cios previstos. Pode dizer-se blicas, Findlay Shirras, Profes-
que, em virtude de sua aciden- sor de economia da Universi-
tada e longa construção, nada dade de Bombaim, indica a re-
mais fêz do que consumir re- gra seguinte, dando-a como ge-
cursos e energias humanas, que ralmente aceita: nenhuma des-
poderiam ter realmente benefi- pesa pública é legítima se des-
ciado a região, se utilizados tinada a beneficiar indivíduos
seletivamente em empreendi- isolados ou grupos restritos da
mentos de menor vulto, porém população, salvo se:
de realização pronta e segura.
a caso do Açude arós repre- a) o montante fôr pequeno;
senta uma instância em que o b) houver base legal para
cânone do benefício foi viola- reclamá-Ia judicialmente;
do em nome do cânone da c) tiver por fim dar con-
máxima conveniência social. teúdo prático a uma política
Quando se decidiu construí-lo, tradicional.
80 CAlDERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

Nas emprêsas particulares, o perfeitamente possível fazer


dnone do benefício tem sen- uma emprêsa particular produ-
tido limitado. Não se trata, no zir lucros sem ofender os inte-
caso, de benefício da coletivi· rêsses gerais. Nesse caso, o cã-
dade indefinida, consideraOa none do benefício não sofre
no seu todo, mas da coletivi- violação.
dade diretamente ligada à em-
prêsa, isto é, os proprietários,
sócÍm ou acionistas, os empre- O CANONE DA SANÇAO
gados, os clientes e os fornece-
dores. Nenhum empreendimento
Embora desejávd e ético que público deve ser planejado sem
a conduta dos negócios nas autorização clara e consciente
emprêsas privadas se subordine de quem de direito, Presidente,
aos interêsses gerais, o móvel Ministro, Diretor, Superinten-
de suas atividades - o lucro dente ou qualquer outra auto-
material - freqüentemente as ridade legal.
orienta para a defesa intransi- Trata-se de um cânone mui-
gente de interêsses particulares, tas vêzes desrespeitado aberta-
às vêzes egoístas. É compreen- mente ou contornado "quimi-
sível que assim aconteça, por- camente", para empregarmos
que a emprêsa particular que um têrmo da gíria burocrática
deixa de produzir lucros e en- brasileira.
tra na fase de autofagia perde
a razão de ser, tende para a O cânone da sanção é impor-
liquidação ou falênci~. Produ- tante, entre outros motivos,
zir lucros ou perecer - eis ,) porque, em freqüentes casos,
dilema fatal da emprêsa parti- um empreendimento nôvo sig-
cular. A observância do câno- nifica apenas o estágio inicial
ne do benefício nas emorê5as de uma cadeia indefinida de
particulares consiste em plane- despesas conseqüentes.
jar e executar as mas atividades Ao passar da fase do plane-
de modo que a auferiçãv ue jamento para a da execução,
lucros e a distribuição de di- todos os empreendimentos pú-
videndos não antagonizem m blicos implicam emprêgo de
interêsses da coletividade _ t. recursos sociais. Cumpre evi-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 81

tar, pois, que se iniciem certos planejador tenha o cuidado de


empreendimentos que, sabida- averiguar se o nôvo empreendi
mente, venham mais tarde a mento foi efetivamente autori
acarretar novas despesas, estas zado por quem de direito.
de alçada superior e conse-
Nas emprêsas particulares,
<liientemente escapas à san~'ão
em que a hierarquia ordinà-
da autoridade inferior, A cons-
riamente é mais definida e as
trudo de um edifício destina-
relações de chefe--\5ubordinado
do 'a um hospital, por exem-
são mais rígidas, haverá me-
plo, pressupõe, sem dúvida,
nos oportunidades para inob-
lima cadeia indefinida de des-
servância intencional do dno-
pesas decorrentes da manuten-
ne da sanção.
ção do estabelecimento, Des-
respeitado o dnone ela sanção, De qualquer maneira, nas
pode acontecer que a autori- emprêsas públicas tanto quan-
dade superior, incumbida ele to nas particulares, é de rigor o
fazer funcionar o hospital, não mais estrito respeito ao cânone
disponha de recursos, ou não da sanção. Nenhuma obra
queira assumir os novos encar- eleve ser planejada, nada deve
gos na ocasião. ser empreendido sem a sanção
A observância do cânone da - prévia e inequívoca - da
sanção é simples. Basta que o autoridade competente.
CAPITULO IX

OS PRINCíPIOS LÚGICOS
o PRINCíPIO DA PESQUISA tos pertinentes. Daí a impor-
t<1ncia da investigação para o
Pesquisar significa buscar administrador. O administra-
deliberadamente os fatos com dor que decide antes de conhe-
o objetivo de entrar na posse cer todos os fatos da situação,
da realidade. No sentido de é um irresponsável. A ação ad-
função administrativa auxiliar, ministrativa inteligente deve
é o procedimento mediante o emanar do conhecimento com-
qual o administrador adquire, pleto dos fatos. O adminis-
mede e controla o conhecimen- dor capaz tem que ser, antes
to dos fatos. É por meio da de tudo, um realista impeni-
pesquisa metódica e delibera- tente. A pesquisa é o seu ins-
da que êle chega a descobrir trumento de contato com a rea-
as relações de causa e efeito lidade.
no campo que administra.
Administrar é, em última aná- Já sabemos que o planeja-
lise, tomar decisões, optar por mento é um processo intelec-
êste ou aquêle método de ação, tual de selecionar objetivos, e
escolher entre esta e aquela ou- prever e dispor os meios neces-
tra solução. Optar por um mé- s~írios para realizar - em local
todo de ação, escolher uma so- certo e tempo prefixado - fins
lução e tomar decisões são ou- exata e precisamente definidos.
tros tantos processos intelec- Em outras palavras, planejar
tuais, que se devem basear no equi\'ale a responder claramen-
conhecimento integral dos fa- te a pelo menos três questões:
84 CADEIlNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

a. que fazer? matica, org,lllÍlada, [annalmen-


b. onde fazer? te estabelecida, bem equipada
c. quando fazer? de material e de homens, fa-
zendo o melhor uso possível
A resposta a cada uma dessas das téCllicas disponíveis, que o
questões é dada sob a fornu de planejado!' consegue assenho-
uma ou y;\rias decisões rear-se das informações, dos
Por que via se deye chegar a dados e fatos de que necessita,
essas decisões? Pela yia do ca- para us:t-los como material de
pricho? Pela via do sentimen· planejamento.
to? Pela yia da preferência pes- Todo trabalho de planeja-
soal? Pela via do palpite? Pela mento pressupõe, assim, duas
via da superstição? fases anteriores: a da pesquisa,
Não, enfàticamente, não; destinada a reunir documenta-
não por qualquer dessas vias. ç5 0 para permitir a posse da
O planejamento, etapa inicial realidade, e a da previsão, des-
do processo ac1:ninistrativo, ba- tinada a estimar, com base no
seia as suas decisões no conhe- passado e no presente, o com-
cimento direto, integral, atua- portamento futuro dos fenô-
lizado e rigorosamente confe- menos envolvidos.
rido dos fatos e circunstàncias Cada situação particular ofc-
pertinentes. Daí a imprescin- rece a sua própria constelação
dibilidade da pesquisa. de circunstâncias: ainda que os
Planejar não é partir do fatôres influentes não variem,
nada. Planejar é preparar um sempre v-ariará o pêso de cada
programa de ação, com o obje- um. Não existem situações ad-
tivo de conseguir determinados ministrativas siamesas. Cada
resultados. O princípio da pes- situação com que o planejador
quisa impõe-se, assim, com fôr- se defronta é singular, embora
ça irresistível, porque, sem pes- possa apresentar traços de se-
quisa, não será possível o co- melhança com exemplos passa-
nhecimento objetivo dos fatos. dos. A história não se repete.
E sem êssse conhecimento, não Cumpre-lhe, pois, estar sempre
será possível influir no seu atento para a "ariabilidade ele
comportamento futuro. É por situações.
intermédIO da pesquisa siste- É através d:! pesquisa que
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 85
êle evita o êrro primário de vei to da ação administrativa.
confiar em "receitas" técnicas, I\' a tecnologia fayoliana, pre-
apreendidas nos livros, para ver tem significado mais am-
resolver problemas reais. O co- plo do que aquêle que usual-
nhecimento teórico ou genera- mente se atribui a êsse verbo.
lizado e o conhecimento direto Significa perscrutar permanen-
de outras situações têm valor temente o futuro, à luz dos
apena.5 como guias, rumos, melhores elementos informati-
aproximaç'ões, lia busca do co- vos disponíveis sôbre o presen-
nhecimento específico das si· te e o passado; e prcparar-se
tuações novas, sem o qual a ta- para a :lção, não de modo me-
refa de planejar carece de base cânico, mas de modo sistemá-
lógica. tico.
Pareceria inútil, pois, insist1.' É prevcndo que o adminis-
na necessidade de começar tôda trador provê e previne, isto é:
ação planejadora peIa pesquisa. faz como que as coisas aconte-
minuciosa dos fenômenos e çam ou deixem de acontecer,
fatos sôbre que essa ação haja segundo os interêsses da em-
de incidir. prêsa administrada. Prever é
Cumpre que, em cada caso, começar a planejar.
se descubra, peIa pesquisa, O planejamento é um esfôr-
aquilo a que Mary Parker ço consciente que o homem
Follet chamou "lei da situa- faz para se antecipar ao futu-
ção", c que a ação planejadora ro. Para influir no comporta-
se estribe em fatos reais, não em mento de pessoas c institui-
similaridades supostas, muito ções, ele modo que elas colabo·
menos em sentimentos, sonhos rem na execução dos planos,
e palpites. ou pelo menos aceitem os seus
objetivos, é necessú['io prever
o PRINCíPIO DA PREVISÃO as reações de umas e outras.
Por outro lado, os fenômenos
Prevcr é discernir o compor- c fatôrcs prcvistos nos planos
tamento futuro dos fenômenos também oferecem tendências e
com que se tcm de avir o ad- inclinações. Cumpre identifi-
ministrador. Prever é utilizar car estas e determinar aquelas,
os dados da pesquisa em pro- para que o planejador não co-
86 CA'DETINOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

meta o pecado de falta de vi- sa e a previsão representam.


são e realismo. O planeja- assim, os parâmetros controla-
mento é, antes de tudo, prepa- dores, as vigas mestras da ação
ração para ° futuro. de planejar.
Diz Favol: "O plano de acão É evidente que não basta
é, ao me~mo tempo, ° resulta- apenas pesquisar. A pesquisa
do visado, a linha de conduta a conduz ao conhecimento de
seguir, os meios a empregar. É fatos presentes e passados.
uma espécie de <luadro do fu- .\lltes do planejamento e de-
turo, em que os acontecimen- pois da pesquisa, deve·se ocupar
tos próximos figuram com cer- com a previsão. Esta permite
ta nitidez, segundo a idéia que ao planejador projetar-se no
dêles se forme, e em que os futuro, perscrutar, avali:1r, es-
acontecimentos remotos apare- timar, numa palavra, prever
cem gradualmente mais vagos. com um grau aceitável de pro-
É a marcha da emprêsa, previs- babilillades o que Y::Ii acon-
ta e preparada para um perío- tecer.
do determinado de tempo." .\ pre\' isão é a antecâmara
A idéia de previsão permeia, do planejamento, tanto mais
como se vê, o conceito de pla- importante quanto é sabido
nejamento, com êle se confun- que oferece ao planejador as
dindo. oportunidades adequadas para
A previsão é, pois, um guia que êle, pela :lnálise, pela ava-
necessário da ação planejado- liação minuciosa dos [atos,
ra. E deve ser levada em conta 11100-a a manivela do tempo
precisamente depois de termi- para a frente e, assim, depois
nada a pesquisa, no momento de haver entre"istado o futu-
da interpretação dos fatos. O ro, elabore o plano de ação,
que é constante no passado, é que é, - por definição, pre-
provável no futuro - ensina paração para o futuro.
um postulado estatístico. Pela
pesquisa, o planejador identi- O PRINCíPIO DA INER:Il:NCIA
fica as constâncias do passado;
pela previsão, extrapola as pro- Processo contínuo na vida de
babilidades futuras. A pesqui- cada pessoa e de cada instituÍ-
UMA TlOORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 87

ção, o planejamento é ineren- grani to, alguns de "árias to-


te a todos os desígnios hum'l- neladas, extraídos em Tura lI,l
nos. Segundo John D. Millet, margem leste do Nilo, c;ml
abrange todos os aspectos da vi- transportados rio aba i::o a lê
da humana, diz respeito a tôdas Gizéh e aí arrastados rampa
as fases da atividade de que o acima, até o plateau, 30 me-
homem participa, seja indivi- tros a cavaleiro elo níwl do rio.
dualmente, seja como parte de É óbvio que obras ele tal en-
grupo organizado (1). Outro yergadura física não poderiam
autor, Harlow Person, afirma ter sido executadas sem alguma
que o planejamento "começou forma de plano. Não se COIl-
com o primeiro ser humano e, cebe o emprêgo ele energias lm-
desde então, permaneceu sim- manas e materiais na realiza-
ples prática natural de todos os ção de propósitos espontâneos.
indivíduos e grupos" (2) . Para que esfôrço físico, junta-
Apesar de sua aparente re- mente com proficiência profis-
centicidade histórica, o planeja- sional, equipamentos e maté-
mento data de épocas imemo- rias-primas se unam e perf··
riais. Consideremos, por exem- çam um empreendimento, é
plo, a construção das pirâmi- indispensá"el que sejam guia-
des do Egito. dos por uma idéia central pre-
Segundo Heródoto, somente fixada, isto é, um plano qual-
para extrair as pedras empre- quer, ainda que rudimentar.
gadas na construção da Pid.- O planejamento está placentà-
mide de Gizéh, trabalharam riamente unido a todo esfôrço
100.000 escravos durante dez humano que se desenvolva na
anos a fio. Imensos blocos ele realização ele quaisquer propó-

1) Millet, John D. - "Planning and Administration" in Elements oi


Public Administration, obra dirigida e compilada por Fritz Morstein
Marx, (Prentice Hall Inc. New York, 1946), pp. 121/2.

2) Person, S. Harlow - Execução Planejada (Rio de Janeiro, Escola


Brasileira de Administração Pública, 1954), Caderno de Adminis-
tração Pública n.O 34, p. 5.
88 CAIDERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

si tos, públicos ou particulares. cio -, senão também cada uma


Eis aí a razão por que, entre os das etapas integrantes dessa ca-
princípios lógicos do planeja- deia, deve ser executada de
mento, damos destaque ao da acôrdo com um plano prévio.
inerência. Plano prévio pressupõe elabo-
Como parte inerente ao tra- ração racional, destinada a
balho administrativo, o plane- orientar a ação executiva, su-
jamento consiste no processo bordinando-a à realização de
de decidir que fazer, quando um objeto prefixado.
fazer, onde fazer, jJo1'que fazer, Se o planejamento {: inesc.1-
como fazer, para que fazer, e páve!, a observfll1cia do princí-
1)01' q lIanto fazer alguma cois:l. pio da inerência implica para
Essa característica de fase in- o planejador a obrigação de
dissolúvel da administração é adotar a modalidade mais di·
que o torna interente a todos caz de planejamento. Se é cer-
os desígnios humanos, quais- to que não se pode levar ;t
quer que sejam as entidades es- efeito nenhum desígnio huma-
tabelecidas para levá-lo a efei· no sem planejamento, não é
to, mediante a ação governa- menos certo que a consecução
mental ou particular. de qualquer propósito se tOrlll
Administrar não é apenas tanto mais segura, ortodoxa,
8bedecer a normas preestabe- exempbr e econômica, quanto
lecidas; administrar não signi- mais perfeito fôr o respectivo
fica executar, ou fazer exe- planejamento. Daí a necessi-
cutar, ao pé da letra, leis, re- dade lógica da preferência pelo
gulamentos, ordens superiores, planejamento científico, exata-
instruções de serviço. Ao con- mente o oposto do planejamen-
trário: há ampla margem de to inorg{lnico e oportunista.
arbítrio inevitável no processo A observância do princípio
administrativo, o que exige da inerência garante, por ou-
imaginação criadora e savoir tro lado, a continuidade do
(C' ire em grau correspondente. planejamento. Labora em êrro
"ião sómente a série de ações quem supuser que, uma vez
:!dministrativas necessárias para concluída a elaboracâo de tais
completar um todo lógico, - e tais planos, o p~ocesso do
como, por exemplo, um edifí- iJI;mejamento está encerrado.
UMA TEOIUA GERAL DE PLANEJAMENTO 89

Cumpre que o planejamento !lentes para se incumbir da ela·


envolva tôda a estrutura da boração dos planos.
emprêsa e não se interrompa Essas considerações levam-nos
nunca, embora mude de ênfase a concluir que nenhuma em-
e de objetivo ao término ele prêsa pública ou particular
cada etapa de cada projeto. pode prescindir de planeja-
Assim. no G1SO de uma ponte mento, se efetivamente deseja
rOllo\'i;':ria, ao lcrmi nar-se a bom l-xilo na aplicação dos
respccti \:1 CO!1st rução, o plane- Illcios ao seu ;dcance para con-
jamento em rclaÇ;'io a da muda sq~llir os fins a seu cargo; so-
Jo projeto prilprbmente dito I i!'etllllo, p::na prever as conse·
para o lhO e conservação da q iiências dos seus atos.
obra conc111Ílb. :\Iesmo no Imaginemos um governo sin-
caso de lima ohra isolada, que ceramente panid;írio da livre
se considere finda com a res- cconomia, isLO é, doutrinària-
pectiva inauguração, o proces- mente comprometido a manter
so do planejamento não se in- alto grau de liberdade indivi-
terrompe, apenas muda de ên- dual no campo dos investimen-
fase e de objeto. tos e das iniciativas econômi-
Pouco importa qlle o plane- cas, limitando ao máximo pos-
jador esteja convencido ele que sível sua intervenção nas ati-
determinados planos represen- \'Ílhclcs privadas. Ainda nesse
tam o m;íximo de sahedoria e C:::Sil, cumpre-lhe planejar cui-
de oportunidade. Quando se dadus;;ll1ente o proQYarna da
começam a canalizar IJ:lr:l a ll:lo-ill!ClTC\l(ão, a fim de evi-
prática as id~ias e decisües LOIl- Lar, por deliberação e vigilân-
substanciaelas nos planos, sur- cia comciente, que algun, de
gem freqüentes necessillacles de seus atos colidam com a filo-
revê-los e h:nmoniú-los às cir- sofia política perfilhada.
cunstâncias do momento, atua- Em seu livro Introdução ri
lizá-los, enfim, sintonizá-los com Administração Pública, obser-
as novas idéias emergentes no va Pedro Muíioz Amato que
:ampo particular ele ação. Daí todo govêrno tem necessidade
ser o planejamento um proces- inerente ele planejar as respec-
so contínuo e demandar a exis- tivas atividades, desde que pre-
têm'ia ele repartições perma- tenda redizar corretamente os
90 CAlDERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

seus propósitos. E acrescen- fico, fazendo uso correto das


ta: "São muitos os governos técnicas complementares, como
adeptos do laisscz-fair~J que a pesquisa e a previsão.
têm deixado por negligência
corroer-se a essencia vital do o PRINCíPIO DA
mercado livre, permitindo o UNIVERSALIDADE
desenvoh'imento de práticas
monopolísticas e outras contra- "O planejamento, diz Mufioz
dições elo mesmo gênero, ou Amato, deve abranger tôdas as
<lu e têm ajudado a concentrar etapas da administração e pre-
o poder econômico de maneira ver, até onde seja possível,
que paralisa a fôrça equilibra- tôdas as suas conseqüências".
dora do sistema de preços, por isto é, o planejamento deve ser
ação positiva e deliberada de universal. Universal no senti-
tendência supostamente indivi- do de incluir todos os atos e
dualista". tôdas as atividades e todos os
Algumas ybes, êsses efeitos componentes ela emprêsa.
imprevistos revelam-se total- O requisito da universalida-
mente prejudiciais. Ocorrem, de é indispensável: a fragmen-
principalmente, nos casos de tariedade vicia imediatamente
fomento da industrialização ba- qualquer intento de planeja-
seado exclusivamente em fatô- mento: "A revelia dos dados
res econômicos, sem se consi- ou das decisões ausentes, a par-
derar o reflexo do processo nas te inarticulada de um plano
atitudes, Ilas preferências cuI- corre o risco de incorrer em
lUrais e nos padrões sociais da equívocos fatais".
comunidade interessada. Hoje em dia muito se trata
- Para que, em qualquer hi- e se cuida de planejamento
pótese, o planejamento produ- econômico. A concentração no
za os efeitos previstos, é neces- planejamento econômico pode
s,írio que o princípio da ine- levar à negligência de outros
rência seja respeitado em tôda aspectos. A ação de uma em-
linha c exemplarmente, isto é, prêsa governamental fica ex-
(lue o planejamento se desen- posta, assim, a azares e perigos.
volva como processo racional, A Administração elo Vale do
conduzido com espírito cientÍ- Tennessee, sem dúvida um dos
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 91

mais espetaculares exemplos ue ção na migração, no crescimen-


planejamento regional até hoje t.o de grandes cenlros urbanos,
ousados pelo homem, serve no papel da mulher no lar,
para realçar a conveniência do nas preferências entre o ócio
planejamento universal. e o trabalho, nas atitudes de
A Administração elo Vale do cooperação ou competição, na
Tennessee empreendeu o de- rapacidade do trabalhador para
senvolvimento harmonioso e aprender as novas técnicas, nos
completo da região: nenhum problemas de organização do
aspecto foi esquccido, nenhum trabalho, além de muitas ou-
hipertrofiado. O contrôlc (LIS tras repercussões de cadter
inundações, o problenu Ja psicológico e cultural".
irrigação, a navcgação flmial, Em tôda a parte se reconhc-
a produção dc energia elétrin ('e, cada vez mais, a importân-
em grande cscala, a introdução cia dos aspectos psicológicos,
(le novos métodos de culti ,'0, sociais e antropológicos da ação
a formação de técnicos, a ill- governamcntal. O princípio
dustrialização, a <1celeração cul- da universalidade protcge ()
tural, a elevação dos padrões planejamento contra as la-
de vida, tu cIo isso estava con- cunas culturais e comunica à
templado no plano inicial eh ação governamental o mesmo
TVA. ritmo, harmonizando, assim, as
Tratando do princípio da atividades dos diferentes ór-
universalidade, M unoz Amato gãos participantes na execução.
afirma o seguinte: "Se se tem Fomentar apenas o apareci-
Ile deSel1\'olver um programa mento da indústria de trans-
Ile industrialização, não basta formação numa região como a
fazer cálculos em têrmos de G1- Nordeste, sem simultâneamen-
pital necessário, de número ele te cuidar da preparação do
empregos precisos, de estatísti- operariado qualificado neces-
cas sôbre o mercado de trabJ.- sário a tal indústria, seria, in-
lho, dos gastos e outros fatôres dubitàwlmente, um exemplo
econômicos. Cumpre conside- uc planejamento leviano. O
rar, igualmente, como aspectos' princípio da univcrsalidade é,
do problema, os possíveis cfei- pois, um princípio lógico, que
lOs das novas formas de produ- não se pode ignorar no proces-
92 CA'DETINOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

50 do planejamento. Além dis- ele conjunto, sem um programa


so, a ligação cada vez mais global, é difícil, senão impos-
intima dos vários fatôres cul- sível, ajustar e harmoaizar de-
turais e econômicos predomi- vidamente iniciativas e em-
11antes em qualquer região, de- preendimentos, no que diz
saconselha os tipos de planeja- respeito à sua oportunidade, à
mento em que se dá mais ên- seqüência lógica das ações, à
fase a uns do que a outros as- sua localização etc.
pectos, que acentuam OH criam Mesmo no caso do planeja-
desequilíbrios de civilização no ll1ento de iniciativas que pare-
seio da sociedade interessada. <;:1111 justificadas (/ priori, como
f: obsoleta a concepção de que seja, por exemplo, o fomento
a função planejadora deve li- da eclncação em um país de
mitar-se aos aspectos físicos e elevada taxa de analfabetismo,
econômicos. cumpre atentar para o tipo
O fato de reconhecer o pri- particular de educação, as
mado do fator econômico sô- idéias que se vão difundir e
bre outros tem levado muitos as habilitações que se vão de-
planejadores a circunscrever senvolver, o número de anos
sua ação a determinadas fases de estudo, a formação conco-
do trabalho governamental, mitante de professôres, a cria-
em detrimento de outros. ção de facilidades complemen-
O princípio da universalida- tares, como bibliotecas, museus
de preconiza que cada entidade, e laboratórios, o destino dos in-
governamental ou empresarial, divíduos que, atra\'és da aHa·
deve incluir tôdas as suas ati- betização, possam vir a ter
vidades em um plano geral, Oll nOYJS ;nnbições e planos de
melhor, que tôdas as suas aI i- \"ida. Tudo isso deye ser le-
"idades devem ser planejacl;is yado em conta no planejamen-
em conjunto, sopesando-se as to e depende do tipo de filo-
influências recíprocas das lll(,- sofia adotada como padrão ou
didas que forem tomadas e dos diretriz.
empreendimentos que forePl Uma elas acusações freqüen-
iniciados em conseqüência do temente articuladas contra o
planejamento . planejamento é a de que, por
Segue-se que, sem uma visão êle, os goycrnos deslizam para
UJ.1:A TEOHIA GEl~AL DE PLANEJAMENTO 93

as formas totalitárias c passam lar psicologicamente disposto


a intervir e por fim a contro- e profissionalmente habilitado
lar todos os aspectos da vida a buscar a realidade, aceitar a
social. realidade e colaborar com a
;\ fim de evitar possíveis in- realidade. No seu ambiente
terpretações errôneas, deseja- operacional, n50 h;i lugar para
mos deixar claro que o princí- sonhos, fantasias e castelos na
pio da universalidade, cuja areia. Com dei to, os únicos
observância por parte uos pla- ingredientes que entram no
nejadores nos parece indispen- processo administrativo são in-
sável, de modo algum deverá gredientes reais - corpóreos
ser considerado como apologia uns, como a mão-de-obra, a
indireta de Estados, regimes, ou matéria-prima, o equipamento;
métodos totalitários. Vemos intangíveis outros, como a ex
no princípio da universalidade periência, a competência pro-
simplesmente um princípio ló- fissional, a capacidade de de-
gico. cidir e a sabedoria de dirigir.
Nesta altura do desenvolvi- Administrar é conduzir idéias
mento das ciências sociais, pa- para a prática, é transformar
rece comezinho que o planeja- planos em realidades - numa
dor deve levar em conta, na palavra, é executar. Como não
elaboração dos programas de se pode executar o inexeqüível,
trabalho, sobretudo quando se segue-se que não se deve pla-
tratar de planejar atividades nejar o utópico.
governamentais, todos os as-
O princípio da exeqüibili-
pectos psicológicos, antropoló-
dade funciona à maneira de
gicos, filosóficos, econômicos e
v:i1vula de proteção contra os
técnicos.
planos irrealizáveis e as pro-
o PRINCÍPIO DA messas incumpríveis. Guiado
EXEQttIBILIDADE por êsse princípio, o planeja-
dor empenha-se em verificar,
Nunca será demais inslstlr pela pesquisa, o grau de exe-
neste ensinamento basilar: o (}üibiliclade dos planos a seu
administrador deve ser um rea· cargo. Nessa verificação, esfor-
lista impenitente. Cabe-lhe es- ça-se por identificar, enumerar,
94 CADERNOS DE ADMINISTIlAÇAO PúBLICA

medir, avaliar e localizar os podem induzir também a


meios necessários de ação para transgressões involuntárias do
garantir a execução de cada princípio da exeqüibilidade.
plano. Se algum dos meios se re- O Marechal Eurico Gaspar
\'ela inadequado, quantitativa Dutra, por exemplo, quando
ou qualitativamente, é preciso Presidente da República, e ba-
examinar as possibilidades de ,<::nl0 no, relatórios de seus ;lS-
corrigir as falhas, seja pela séssôres, considerava o Plano
criação de novos meios, seja SAL TE perfeitamente exeqüí-
pela utilização de sucedâneos. vel, desde que fôssem tomadas
A observância do princípio as providências necessárias. Da
da exeqüibilidade requer ima- mensagem presidencial 186, de
ginação criadora e depende de 10 de maio de 1948, enviada
informação atualizada. Trata- ao Congresso Nacional, repro-
-se de um dos princípios lógicos duzimos, data vênia} os seguin-
do planejamento mais fáceis tes trechos:
de aceitar e, ao mesmo tempo, "Enfrento essa oportunida-
mais difíceis de obedecer. Ne- de com convicção - forta-
nhum planejador se abalança- lecida pelas conclusões do-
ria a questionar a procedência cumentadas dos alentados
de um princípio que tem por estudos técnicos, que foram
fim defendê-lo contra o risco procedidos e que ora trans-
de elaborar planos utópicos, mi to ao exame do Congres-
inexeqüíveis. Pcr contra} como SO, anexos a esta Mensagem
determinar objetivamente a - de que os problemas fun-
exeqüibilidade de um plano? damentais que desafiam a
O conceito de exeqüibilida- capacidade dos brasileiros
de é elástico por definição, de conquistarem os benefí-
e está sujeito a muitas variá- cios da civilização atual, po-
veis. O planejador de tempe- dem ser resumidos em qua-
ramento pessimista tenderá a tro grandes grupos, a saber:
ser mais cético em relação à Saúde (S), Alimentos (AL) ,
exeqüibilidade dos planos do Transporte (T) e Energia
que o de temperamento oti- (E), cujas iniciais, SALTE, fo-
mista. Insuficiência de infor- ram utilizadas para forma-
mações e erros de interpretação rem a denominação abreyia-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 95

da dêste Plano de Govêrno, põe-se, portanto, a adoção de


que espero ver aprovado e um sistema administrativo,
executado, exatamente con- de caráter transitório, como
forme se acha cuidadosamen- o próprio Plano, mas de am-
te elaborado. plitude tipicamente intermi-
n isterial" .
As iniciativas previstas no A Comissão Interpartidúria
Plano SALTE serão executa- composta dos Srs. Odilon Bra-
das segundo a sua finalidade ga (relator), Mário Brant e
por diferentes órgãos admi- Souza Costa, designada para es-
nistrativos existentes nos Mi- tudar o Plano SAL TE, também
nistérios. O êxito dessas ini- o declarou c.'\eqüível. Atente-
ciativas dependerá, entretan- ·se para o tom apologético,
to, de uma direção unifor- quase entusiástico, do seguin.
me, exercida por uma auto- te trecho de seu parecer, do-
ridade capaz de coordená· cumento anexo ao texto oficial
las e orientá-las. Seria uma do Plano:
injustificável contradição ad- "Seguro penhor de sua exe-
mitir que o Plano SALTE, ao cução teríamos, se o Presi-
wmtituir, por sua própria dente da República, em pes-
natureza, uma conjugação soa, se incumbisse de dirigi-la
de esforços e recursos, no e para isso restabelecesse no
sentido de atingir um obje- país a excelente prática das
tivo comum do Govêrno, reuniões periódicas do Minis-
deixasse êsses esforços e re- tério, dêsse modo absorven,
cursos à mercê de interpreta- do e retificando por ação de
ções e previdências multila- presença, as divergências,
terais. Sua inexeqüibilidade oriundas de temperamentos
seria, neste caso, manifesta. e de culturas, que costumam
Só a unificação poderá con- comprometer a unidade, o
duzir, uniformemente, a exe- ritmo e o rendimento do Po·
cução das providências pro- der Executivo".
gramadas, num ritmo de tra- Homens experimentados, es-
balho capaz de evitar preju- colhidos dentre os mais repre-
diciais conflitos ou fricções sentativos dos diferentes parti-
de ordem jurisdicional. Im- dos, concordayam plen~l1lente
96 CADl~HNOS DE ADMINISTltAÇAO PúBLICA

com () l'rcsielclIle ela República OU ~Cj;tlll-18% elo tolal previs-


quanto à exeqüibilidade elo to. Administrativamente, po-
Plano SAL TE. rém, nem êsse montante foi
lVIas, era efetivamente exe- aplicado. Com efeito, segundo
qüível o Plano SALTE? consta do ndalório das /lti-ui-
O Presidente Getúlio Vargas. c/odes do l>ASP - 195~), (p;í-
igllalmellte bem assessorado, gina (I!J) reverteram ao Te-
em memagem dirigida, em l-i souro N acionaI, nos anos de
de maio de 1951, ao Congresso 195ü LI 1959, recursos residuais
N acionai, afirmava o seguint(': [lo Plano SAL TE no montante
de Cr$ 3G9.557.7G9,70, soma elos
"Não é por conseguinte de saldos que pereleram a vigência
admitir que o Plano SAL TE, qüinqüenal estabelecida na lei
embora classificado como respectiva, isto é, salelos que fi-
exeqüível pela Comissão In-
caram à disposição dos aplica-
terpartidária, se tenha mos-
dores durante cinco anos c
trado logo inexeqüível na
nem assim [oram utilizados.
prática. Constitui êle, na
Êsse episódio elo Plano SALTE
sua forma definitiva, uma
mostra como é elifícil a obser-
relação de gastos para aten- vância do princípio da exeqüi-
der a empreendimentos e bilidade.
iniciativas sem receita para
o respectivo financiamento." O lllesnw julgador pode
Repitamos a pergunta: era considerar um plano mexe-
exeqüível o Plano SALTE? (lüível em uma data e, pouco
tempo depois, mudar de idéia.
Os fatos posteriores vieram O Presidente Juscelino Kubits·
provar que não. Vejamos: o check, por exemplo, no livro
esquema original do plano intitulado Diretrizes gerais do
previa um dispêndio ele Cr$ Plano Nacional do Desenvol-
20.000.000.000,00, nos cinco vimento) que fêz publicar em
anos de sua dura cão. Os recur- Belo Horizonte, em novembro
sos efetivamente' conseguido.; de 1955, referindo-se ao deslo-
para financiar as ativillades camento da sede elo Govêmo
constantes elo plano atingiram p~tra o interior do país, cscre-
apems a Cr.) 9.600.000.000.00, n;t:
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 97

"Tenho estudado de perto Em suma, ao esforçar-se pOf-


êste problema e capacitei-me obedecer ao princípio da exe-
de que não será possível a qüibilidade, o planejador pru-
transferência da admiuistra- dente dificilmente incorrerá no
ção federal para o interior (UO imperdoável de planejar
senão em um prazo de 1.1 utopias.
anos. É problema de uma
geração". o PRINCíPIO DA ECONOMIA

A despeito de tal declaração A administração científica


espontânea, ao assumir a Pre- deriva sua fecundidade social
sidência da República, três me- do princípio do meio mínimo,
ses depois, resolveu atacar o também chamado prinCIpIO
problema no seu período go- energético, o qual exige a uti-
vernamental: estabeleceu um lização exaustiva, completa, das
plano pilôto, erigiu Brasília, energias e materiais disponí-
constituiu a base física de ação veis. Visto pelo reverso, o prin-
do Govêrno no Planalto Cen- cípio do meio mínimo chama-
tral e para lá transferiu a sede -se princípio do máximo ren-
da administração federal, tudo dimento ou da máxima eficiên-
isso em apenas quatro anos d(! CIa.
esfôrço. Percebe-se logo que a obser-
A vontade de um chefe exe- vância do princípio da econo-
cutivo pode, pois, influir na mia não se traduz em poupan-
exeqüibilidade dos planos. ça, não implica menor dispên-
O princípio da exeqüibilida- dio, mas emprêgo dos recursos
de guia o planejador, ou me- necessários na justa medida.
lhor, leva-o a proceder a ba- Em certos casos, o princípio da
lanços rigorosos dos recursos economia poderá levar até a
obteníveis, e a determinações gastos mais vultosos. não a
exatas e precisas dos recursos gastos menores.
necessários, a fim de que, con- A observância dêste princí-
frontados uns com os outros, pio pressupõe por parte do pla-
seja verificada a exeqüibilida- nejador um conhecimento pro-
de ou a inexeqüibilidade dos fundo, autêntico e atualizado
planos. dos preços das utilidades e dos
98 CADERNOS DE ADMINISTRAiÇAO PúBLICA

serviços, assim como dos últi- a amplitude das realizações, a


mos desenvolvimentos verifica- localização, a oportunidade, a
dos no campo da tecnologia. clientela a ser servida, os meios
Muitas vêzes uma solução de transporte e as vias de co-
considerada aceitável em de- municações, tudo isso deve ser
terminado momento, poderá considerado, para que o plane-
revelar-se anti-econômica meses jamento se faça de acôrdo com
depois, porque já era obsoleta o princípio da economia, o
ao tempo da escolha. É que, ig- qual, nesta hipótese, quer di-
norando OU desprezando a exis- zer utilização racional, jamais
tência de recentes alternativas poupança dos recursos disponí-
melhores, o planejador optara veis. A observância do princí-
por uma solução arcaica. Cum- pio do equilíbrio, de que tra-
pre-lhe estar em dia com a tec- taremos mais adiante, concor-
nologia, acompanhar de perto re para facilitar a do princípio
e atentamente o que vai pelo da economia.
mundo, a fim de poder apli- Acrescente-se que o princípio
car o princípio com real pro- da economia conduz o planeja-
veito. dor a acautelar-se também con-
O perigo do obsoletismo não tra as soluções excessivas, por-
ameaça apenas as soluções ventura tornadas sedutoras pe-
adotadas para os diferentes lo baixo custo unitário. Seria
problemas, mas se estende condenável, por exemplo, no
igualmente aos tipos de mate- caso de um serviço de abasteci-
rial empregado e aos métodos mento de água, fazer captações,
de trabalho. Tal como o con- reservatórios e rêdes de distri-
cebemos, o princípio da econo- buição muito superiores às ne-
mia tende a proteger a ação cessidades presentes e previsí-
planejadora contra os desper- veis, somente porque as gran-
dícios, os movimentos inúteis, des proporções do empreendi-
o arcaísmo de técnicas, equipa- mento baixassem a nível ínfi··
mentos e materiais, e tamb~m mo o custo unitário do serviço.
contra a insuficiência quanti- Num país como o Brasil, em
tativa ou qualitativa das solu- que há flagrante desproporção
çõe3 adotadas. entre os problemas públicos -
As questões relacionadas com numerosos e avassaladores - e
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 99

os recursos disponíveis - escas- tudes do equilíbrio orçamen-


sos e insuficientes - o princí- tário.
pio da economia assume a ca- Em orçamento, o equilíbrio
racterística de norma categóri- quer dizer equivalência entre
ca, que cumpre seja obedecida receita e despesa - os gas-
em tôda linha, em tôdas as oca- los contrabalançam-se com as
siões, em todos os lugares_ rendas. Em planejamento, o
princípio do equilíbrio diz res-
O PRINCíPIO DO EQUILíBRIO peito não somente ao ajusta-
mento dos gastos aos recursos
Já acentuamos que a teoria disponíveis, senão também ,\
geral de planejamento começa coerência interna das ativida-
a emanar das práticas orçamen- des e à serenidade institucio-
tárias, e que estas pre-existi- nal dos órgãos executores. Tra-
ram a tôda e qualquer tentati- ta-se, assim, não apenas do
va de teorização_ Nas suas ori- equilíbrio entre recursos e
gens, os chamados princípios aplicação, mas também do
orçamentários nada mais eram equilíbrio de diretrizes, inicia-
do que atributos relacionados tivas e métodos.
por aquêles que se ocupavam Uma ilustração nos ajudará
dom a descrição das institui- fixar o conceito do princípio
ções orçamentárias, é dizer, atri- do equilíbrio: sabe-se que a
butos meramente descritivos. formação de técnicos e profis-
Repetidos, porém, no tempo e sionais no Brasil não obedece
no espaço, passaram a adqui- a qualquer forma de planeja-
rir status de princípios norma- mento. Se obedecesse, porém,
tivos. não seria compreensível que
O princípio do equilíbrio. houvesse tantos ilogismos, an-
em particular, está intimamen- tinomias e até disparates na
te associado às práticas orça- distribuição das matérias ensi-
mentárias, embora haja mais nadas e das capacidades profis-
orçamentos deficitários do que sionais desenvolvidas, assim co-
equilibrados. A literatura per- mo no chamamento de clien-
tinente preconiza-o e exalta-o telas para as várias escolas.
em tôdas as línguas. Há um Basta dizer que, no triênio de
consenso universal sôbre as vir- 1952-54, as escolas de medid-
100 CAlJt:ltNO:::; )):t; ADlYIlNI:::;TnAçAO PúB,LICA

na do pais tliplomaram tê-las a um calendário U11lCO c


4.000 médicos, ao passo que as integrado, de maneira que a
de enfermagem diplomaram constituição do corpo de mé-
apenas 1.155 enfermeiras. Aqui dicos e enfermeiras não ocor-
encontramos um caso de fla- rerá nem muito antes, nem de-
grante desequilíbrio entre fa- pois de construído e equipado
tôres complementares. Se a for- o estabelecimento. Por outro
mação tle profissionais e técni- lado, o número de clínicos, ci-
cos para atender a nossas ne- rurgiões, anestesistas, enfermei-
cessidades obedecesse sequer a ras, farmacêuticos, padioleiros.
um simulacro de planejamen- choferes e funcionários admi-
to. é óbvio que não ocorreria a nistrativos será fixado de acôr-
desproporção apontada. Sabe- do com a natureza e a enverga-
-se que o exercício normal da dura do hospital, exatamente
medicina por parte de um fa- para que haja equilíbrio e coe-
cultativo exige no mínimo o rência interna, sem o que o seu
concurso de uma enfermeira. funcionamento fluente jamais
Ora, como o número de enfer- será conseguido.
meiras é conhecidamente mui-
to inferior ao de médicos no o PRINCíPIO DA
Brasil, não se compreende que OPORTUNIDADE
as escolas de enfermagem con-
tinuem a formar menos enfer- A previsão, diz Fayol, dispõe
meiras do que as de medicina de uma infinita variedade de
formam médicos, aguçando as- ocasiões e maneiras de se ma-
sim o desequilíbrio existente. nifestar. Mas o seu "signo sen-
O princípio do equilíbrio sível", o seu instrumento mai~
garante ou facilita a articula- eficaz, o seu metro é o progra-
ção dos objetivos parciais. Se, ma de ação. Conquanto seja
por exemplo, o objetivo é cons- possível prever no passado, por
truir um hospital e pô-lo em paradoxal que pareça, não se
funcionamento, o princípio do concebe plano de ação que não
equilfbrio ensina ao planejador se destine a ser executado no
medir as proporções das di- futuro. O programa de ação "é
ferentes necessidades e provi- uma espécie de quadro do fu-
dências, assim como a subme- turo", define Fayol. Simon e
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 101

seus co-autores, por sua vez, com o calendário correspon-


afirmam que "todo plano se re- dente.
fere sempre ao comportamento Se a construção de uma usi-
futuro de sêres humanos". na hidrelétrica demanda cinco
Não parece pois necessário anos e a da rêde de distribui-
insistir nesta característica tão ção apenas dois, seria ilógico
evidente do planejamento - a iniciar ambas na mesma data.
futuridade das ações que defi- Quem incorresse nesse ilogis-
ne, enumera, especifica e loca- mo, uma das duas: ou teria que
liza. Todavia, o futuro é uma retardar a construção da rêde
noção vaga e desnorteante. mediante interrupções periódi-
Não há dúvida de que as ati- cas e reduções propositadas no
vidades previstas em todo pla- trabalho, ou teria que concluÍ-
no deverão ser executadas no -la prematuramente, isto é,
futuro. Mas, quando no futu- três anos antes da data em que
ro? De hoje a três meses? D<"! seria possível a respectiva uti-
janeiro de 1965 a dezembro de lização.
1966? De junho de 1965 a no- O princípio da oportunida-
wmbro de 1968? A partir do de funciona também como re-
dia 3 de abril de 1964? gulador da exeqüibilidade dos
É necessário que a ação seja planos. Pode ocorrer que os re-
identificada com um período cursos obteníveis sejam insufi·
de tempo futuro precisamente cientes para que um plano se
definido. A escolha dêsse perío- complete em três anos. Entan-
do deve ser feita à luz de uma to, se a ação fôr diluída no
análise rigorosa da oportunida- tempo, e prolongar-se por cin-
de da ação e da disponibilid'l- co ou seis anos, o pbno pode
de dos recursos. toruar-se exeqüível. A solução
A oportunidade prende,se à consiste em optar pela utiliza-
necessidade da ação e à seqüên- ção menos intensa, embor.l
cia dos objetivos parciais, es- mais demorada. elos mesmos
tabelecidos para a realizaç50 recursos.
do plano. A resposta à perglln· Inspirado pelo princípio da
1.:1 quando, 110 f/lturo? relativa- oportunidade, o planejaelor
mente a cada etapa de um pla- adelgaça a ação e modifica a
110, !Jü de ser dada de acôrdo duração do plano, logrando,
102 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

assim, garantir a sua exeqüibi- o princípio da oportunidade


lidade. articula-se com a regra técnica
Concorrendo ao lado dos da limitação temporal: o prin-
princípios já analisados, o da cípio indica a oportunidade e
oportunidade contribui para a seqüência das ações futuras,
completar a caracterização do a regra fixa o futuro em que as
planejamento. Como já vimm, mesmas se deverão executar; o
o princípio não deve ser en-
tendido apenas à luz da cir- princípio diagnostica a neces-
cunstância de que tôda ação sidade de alongar ou encurtar
planejada só poderá ser exe- a ação, a regra limita o tempo
cutada no futuro. de ação entre duas datas.
CAPTI'ULO X

AS REGRAS TÉCNICAS

A REGRA DA EXATIDAO da. A regra da exatidão tem


características técnicas. Cumpre
A observância da regra da que as especificações do plano
exatidão impõe extremo rigor sejam exatas, quer dizer, os da-
na formulação dos planos. dos do planejamento devem
Compete ao planejador exce- ser isentos de contradições e ter
lir no cuidado de ser exato: um signo de idoneidade técni-
exato na pesquisa, exato na ca insuspeitável.
terminologia, exato nas anota-
ções quantitativas, exato nas A regra da exatidão diz res-
especificações tecnológicas. peito principalmente ao teor
Assim conceituada, a regra dos planos, os quais, afinal de
da exatidão talvez pareça sim- contas, ordinàriamente assu-
ples prolongamento do cânone mem a forma de relatórios.
da honestidade. É possível, en- propostas ou trabalhos escri-
tretanto, distinguir: nem todo tos. É indispensável que o pla-
planejamento honesto será exa- nejamento seja exato, mereça
to, assim como nem todo pla- confiança do ponto de vIsta
nejamento formalmente exato profissional, e que as informa-
será honesto. ções utilizadas, e os problem;ls
O cânone da honestidade cuja solução se intenta, assim
emana do dever moral, que re- como as especificações das ati·
cai sôbre o planejador, de agir vidades planejadas em busC'l
com absoluta lisura e lealdade da solução, também sejam exa-
para com a clientela interessa- tos.
104 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

o respeito à regra da exatI- mos quantitativos, é de extre-


dão na tarefa de planejamen. ma conveniência que nos tex-
to faz-se indispensável pelos tos dos planos não se incluam
motivos já expostos e ainda conceitos subjetivos, suscetíveis
pelo seguinte: raramente o de conduzir sentido diferente
planejador é o próprio ex e- aos diferentes interpretadores.
cu tor dos planos. Nas grandes
emprêsas. por fôrça da divisão A REGRA DA PRECISÃO
@o trabalho, os agentes que
executam geralmente não são Quem diz exatidão não diz
os agentes que planejam. De precisão. Cumpre não confun-
m1neira que a regra da exati- dir dados exatos com dados
dão se reveste de extrema rele- precisos. Se eu disser que a po-
';lncia: se não houver exatidão pulação atual da Amazônia le-
no planejamento, o executor
gal é de 27.542.111 habitantes,
será torturado pela dúvida, ou
estou sendo preciso, porque
pela confusão, ou poderá re-
desço até à unidade. Mas é evi-
definir a seu modo os pontos
dente que também estou sendo
obscuros e assim dar ênfase on-
inexato. Por outro lado, se eu
de não devia, ou injetar no
plano algum desígnio estranho disser que a população da
à concepção original. Amazônia legal compreende
A linguagem em que os pla- entre 3 e 4 milhões de habitan-
nejadores expressam os planos tes, não resta dúvida que estou
deve primar pela exatidão. Os sendo exato, quer dizer, estou
conceitos deverão ser tanto transmitindo uma informação
quanto possível exatos, a fim mais ou menos correta, embora
de evitar o perigo das perple- imprecisa. Se eu afirmar que
xidades. RIBOT disse certa vez êste livro é de pequeno por-
que "a determinação quantita- te, estou sendo exato. Nin-
tiva é o ideal a que tôda ciên- guém teria motivos fundados
cia aspira". Conquanto os pla- para contestar a afirmação.
nejadores não disponham de Trata-se, porém, de uma afir-
unidades físicas que lhes per- mação sôlta, obscura, impreci-
mitam, em todos os casos, a sa. Por outro lado, se eu disser
elaboração ele planos em têr- que êste livro compreende 225
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 105

pagmas, agora estou sendo exa- tura da Federado" transmitem


to e preciso. dados confusos: nebulosos. Tra-
1\'0 propósito de demonstrar, ta-se de uma proposição Yaga,
por meio de comparações esca- a proxima ti va, t3.ugencial.
lonadas, como se aplica ortodo- Suponhamos, porém, que o
xamente a regra da precisão, historiador tivesse redigido o
vamos apresentar e discutir trecho assim:
três versões imaginárias de um
fato histórico brasileiro. Como SEGUNDA VERSÃO
se verá, a primeira versão é
exata, embora nebulosa; a se- Cum a mudança da CaPital
gunda, algo precisa, porém ain- fJara o Planalto Central do
da insatisfatória; a terceira, fi- Brasil, ]lO ano de 1960, o an-
nalmente, atende às regras da tigo Distrito Federal foi
exatidão e da precisão. transformado em unidade
Suponhamos que, tratando a1ltônoma da Federação.
no século XXII da mudança da A proposição continua cer-
Capital do Brasil, um historia- ta, exata, e tornou-se conside-
dor escrevesse o seguinte: r:lvelmente mais precisa. A ex-
pressão genérica "interior do
PRIMEIRA VERSÃO Brasil" foi substituída por
Com a mudança da CaPital
"Planalto Central do Brasil,
para o interior do Brasil, em que é específica; "meados do
meados do século XX, o an- século XX" passou a ser "ano
tigo Distrito Federal IJassolt de 1960"; as "grandes transfor-
por grandes transformações mações que repercutiram na
que repercutiram na própria própria estrutura da Federa-
estrutura da Federaçtio. cão" ficaram reduzidas a "foi
transformado em unidade au-
Não haveria nada incorreto tônoma da Federação". O tre-
na informação. Tudo aí seria cho ganhou visivelmente em
exato. Entretanto, :lS cxpress{:ícs precisão e clareza, embora ain-
"interior do Brasil", "meados da contenha noções vagas.
do século XX" e a oração Figuremos, por fim, que nos-
"grandes transformações que so imaginário historiador o ti-
repercutiram na prôpria cstru- \TSSe redigido assim:
106 CAJDERNOS DE ADMINISTRAÇAO PúBLICA

TERCEIRA VERSÃO Eis aí o grau de precisão que


se requer no planejamento.
Com a mudança da CaPital O exemplo figurado serve
da República, no dia 21 de para realçar, por outro lado, a
abril de 1960, para a cidade importância da pesquisa na ta-
de Brasília, especialmente refa planejadora. A primeira
construída 110 Planalto Cen- versão poderia ter sido escrita
tral do Brasil, entre os para- independentemente da pesqui-
lelos 15° 30' e 16°3', o antigo sa, baseando-se o autor em in-
Distrito Federal foi transfor- formações acaso flutuantes em
mado no atual Estado da sua memória.
Gllanabara. A segunda versão já deman-
daria certo trabalho de pesqui-
Note-se a precisão de lingua- sa, pois a referência ao ano de
gem desta versão. Tudo aí está 1960 emana de um conheci-
dito com clareza meridiana. mento que normalmente não
Em vez de falar simplesmente seria memorizado.
rla Capital, especifica que é a Quanto à terceira versão, é
"Capital da República"; men- evidente: impossível redigi-la
ciona o dia, mês e ano da mu- sem pesquisa cabal e aferição
dança; em vez de falar em rigorosa dos dados utilizados.
"Planalto Central do Brasil", Isso quer dizer que a regra da
diz que a mudança foi feita precisão sàmente poderá ser
para a "cidade de Brasília, es- exemplarmente observada se o
pecialmente construída no Pla- planejador fôr devoto do prin-
nalto Central do Brasil, entre cípio da pesquisa.
os paralelos 15°30', e 16°3', Como se percebe, a regra da
quer dizer, aponta a localiza- precisão é complementar da
ção exata e precisa da cidade; regra da exatidão. Cabe ao pla-
e em vez de informar que o an- nejador cultivar simultânea-
tigo Distrito Federal "foi trans- mente uma e outra. Ê de seu
formado em unidade autôno- dever ser exato, isto é, correto
ma da Fcueração", informa ~ ao mesmo tempo preciso, isto
com mais clareza que "foi é. minucioso e cristalino. An:t-
tramformado no atual Estado lole France dizia que a língua
da Guanabara". francesa se caracteriza por trê~
UMA TEOHIA GEIlAL DE PLANEJAMENTO 107

qualidades primordiais: Drl-' -objetivos parciais: a) melhoria


meira, clareza; segunda, cl~re­ das condições do homem; b)
za; terceira, clareza. A palaYra melhoria da infra-estrutura; c)
escrita dos planejadores deve expansão agrícola e industrial.
encerrar no mais alto grau De fato, o objetivo dominante
imaginável essa qualidade. é a melhoria das condições do
Aliando a regra da exatidão homem, pois que os outros dois
à regra da precisão, o planeja- não passam de tributários
dor assegura a excelência de dês te.
seus padrões profissionais e, ao Está claro que êsse objetivo
mesmo tempo, facilita a tarefa central somente será atingível
do executor. Se os planos são através da realização integra-
exatos e precisos nos seus con- da de numerosos subobjetivos,
tornos e nas suas minúcias, é que demandam outros tantos
evidente que o executor não planos parciais de ação. Cada
terá dúvidas de interpretação, plano parcial terá que ser re-
nem será tentado a fazer des- duzido a uma descrição corre-
vios ou correções, salvo em cir- ta das várias operações em que
cunstâncias especiais. fôr dividido.
No momento de fazer a des-
A REGRA DA ESPECIFICAÇAO crição correta das várias ativi-
dades integrantes de um plano.
Em última análise, um pla- é que advém o ensejo de S(~
no de trabalho consiste em aplicar a regra da especifica-
uma descrição adequada das ção. Já se vê que uma descri-
várias operações que seja ne- ção correta, do mesmo passo
cessário levar a efeito para per- que repele expressões genéri-
fazer o objetivo central. A des- cas, exige indicações específicas.
crição dessas operações ou ob- Descrever uma tarefa de mo-
jetivos parciais faz-se mediante do que o executor entenda
o emprêgo de algarismos, sím- certamente o que lhe cumpre
bolos e palavras. fazer, eis o que ninguém con-
O objetivo central do Plano segue sem minuciosa especifi-
de Ação, 1959-1963, do Govêr- cação.
no de São Paulo, por exemplo, Exemplo: o item 1 do Setor
desdobra-se nos três seguintes Educação, Cultura e Pesquisa
108 CA;DERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

"em desaito no Plano Carva- dos diversos componentes de


lho Pinto da seguinte maneira: cada plano.
"Construir e equipar 3.000 Na órbita da coisa pública,
salas de aulas de ensino pri. as atividades dos órgãos inte-
mário, com capacidade para grantes de qualquer govêrno
240.000 alunos, possibilitan- geralmente não são descritas,
do o funcionamento das uni- mas apenas avaliadas em têr-
dades escolares existentes em mos monetários. Com efeito. o
adequadas condições de en- exame de um orçamento pú-
sino - em dois turnos de blico no Brasil não permite
quatro horas diárias". ao observador discernir. senão
muito imprecisamente, o que
N esse enunciado, as noções "ai resultar do emprêgo dos re-
quantitativas são precisas e pa- cursos adotados. Só fica saben-
recem resultar de cálculos arit- do quanto se pretende gastar.
méticos baseados em padrões Entanto, se o chamado olhôme-
aceitos como, por exemplo, a tra não predominasse, as ativi-
lotação de 40 alunos para cada dades de cada um dos órgãos da
sala de aula. As noções quali- administração não poderiam
tativas também ocorrem com ser expressas nem mesmo em
especificidade, através do ver- dinheiro, caso não fôssem prc-
bo "construir" e das expressões "iam ente especificadas, isto é,
"salas de aulas", "ensino pri- examinadas, pesadas, contadas
mário", "unidades escolares e medidas. A fim de poder-lhes
existentes" . atribuir um custo, é necessário
Em outras palavras, o trecho especificá-las, pensar nelas e
indica e especifica a ação que combiná-las em têrmos de uni-
terá de ser desenvolvida para dades de trabalho.
que o Govêrno de São Paulo O diretor de serviço que
realize um dos objetivos par- pIei teasse, digamos, a dotação
ciais do plano. de Cr$ 92.000.000,00 para
A regra da especificação, que custear publicações, deveria sa-
deve ser corroborada pelas re- her de antemão quantas e
gras da exatidão e da precisão, quais iria fazer, o número de
suas companheiras siamesas de páginas, o formato e a tiragem
trabalho, comanda a descrição de cada um:!, quantos e quais
UMA TEmaA CEHAr.. DE PLANEJAMENTO 109

clichês ~Cliam necessários elc, millistrativas, as dotações orça-


de modo que a importância pe- mentárias, solicitadas e obti-
dida fôsse aproximadamente das, continuarão a representar
igual à soma das despesas pre- apenas nebulosas intenções,
vistas. ~'déias mal definidas, atribui-
Sabe-se que, em virtude do ~'ões frouxas, bruxoleios de
atraso da ciência da adminis- vontade e, sobretudo, rotiil1a,
tração e da incompetência dos fôrça de hábito. Só depois que
administradores, raras são as se generalizar, no serviço pú-
emprêsas brasileiras, públicas e blico e na emprêsa particular,
particulares, que planejam o o hábito da ação planejada,
respectivo trabalho, de sorte que há de ser impôsto um dia
que, quando uma delas pede pela administração científica,
recursos para, imaginemos, é que cada parcela orçamentá-
custear publicações, a impor- lia passará a especificar o re-
tância pedida corresponde a sultado que se deseja obter, a
uma impressão vaga da autori- linha de conduta a seguir, as
dade solicitante, que de ante- etapas a transpor, os meios a
mão sabe apenas que deved empregar.
fazer publicações. Depois de N em por isso o orçamento
obtida a "verba" é que a ela público deixa de descrever
serão ajustados, ao Deus dará, grosso modo, e indiretamente,
no correr da execução orça- senão a quantidade, pelo me-
mentária, o número, a nature- nos a espécie de trabalho a ser
za, o formato e a tiragem das realizado. De fato, reunindo os
publicações. O exemplo pode textos legais, que dão origem a
e deve ser considerado repre- qualquer despesa, as atribui-
sentativo para a quase totalida- ções regulamentares, assim co-
de das atividades governamen- mo as indicações constantes das
tais e para grande parte das próprias tabelas explicativas
atividades particulares. sôbre o número de trabalhado-
Até que se implante em cada res, as funções que exercem e
repartição e em cada emprêsa o material que empregam, não
o pudor da ausência do plano, é difícil ao analista compor um
pudor que decorre do exerci- quadro do trabalho de qual-
cio consciente das funções ad- quer órgão, tal como se acha
110 CADERNOS DE ADMINI:5TRAÇAO PúBLICA

sintetizado no orçamento. Se gunta q1le fazer? surge qua,')c


se trata, por exemplo, do La- automàticamente quando o
boratório Central de Enologia, planejador observa as regras da
ou do Departamento de Águas, exatidão, da precisão e da es-
ou da Fazenda Modêlo de Cria- pecificação.
ção de Urutaí, ou da Divisão Se isso acontece, o objetivo
do Impôsto de Renda, o sim- a ser alcançado é descrito de
ples nome da repartição suge- maneira exata, precisa e espe-
re a natureza do trabalho. O cífica, é dizer, com nitidez tal
exame da respectiva lotação e que, somente em casos excep-
das verbas destinadas à aquisi- cionais, o executor do plano
ção de material fornecerá ou- poderá ler dúvidas quanto ao
iras indícios sôbre o trabalho que lhe compete fazer. O co-
respectivo. mum ser;[ a interpretação fácil
Tão profundamente a idéia e ortodoxa da descrição origi-
de descrição do trabalho está nal.
entranhada na idéia de plane- No citado Plano de Ação,
jamento que, ainda quando 1959-1963, do Govêrno Carva-
não haja planos de ação, é lho Pinto, setor Melhoria das
sempre possível, pelo exame condições do homem, - sub-
das dotações e dos outros ele- -setor Educação, Cultura e Pes-
mentos já indicados, compor- quisa, lê-se o seguinte item:
se um quadro geral ,ainda que
"8. Construir e equipar ins-
sem nitidez, do trabalho a rea-
titutos isolados da Rêde
lizar.
Estadual de Ensino Su-
Já sabemos que pla~ejar perior existente."
equivale a responder prensa e
exatamente a pelo menos três Eis aqui um exemplo de
perguntas, que são: inobservância flagrante das re-
a. que fazer? feridas regras da precisão e da
b. onde fazer? especificação. ~ste enunciado
c. quando fazer? é difuso, obscuro, impreciso,
inespecífico, não esclarece
É de rigor que as respostas quais e quantos institutos iso-
sejam cabais - nítidas e com- lados deverão ser construídos
pletas. A resposta nítida à per- e equipados, não indica onde
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 111

serão localizados, muito menos também demarcar o campo de


quando serão objeto de ação. incidência da ação planejada,
Uma vez estabelecido e redi- isto é, decidir onde faz.er. Para
gido, porém, de acôrdo com as que um objetivo se realize, tor-
regras da precisão e da especi- na-se imperioso que a série de
ficação, o enunciado daquele atiyitlades constituintes ocorr,l
objetivo parcial incluiria no- em determinado 011 determina-
ções quantitativas e seria vasa- dos lugares.
do em têrmos certos, nítidos e A escolha do local da ação
específicos. não deve ser feita ao acaso, ma:;
segundo a regra da limitação
Exemplo: espacial, cujo cumprimento ja-
mais se dá espontâneamente.
"Construir quatro e equipar Não é algo que o planejador
nove institutos isolados da consiga por anadidura, sem de-
Rêde Estadual de Ensino Su- liberação esclarecida e esfôrço
perior existente, sendo cinco apropriado.
na Capital, dois em Campi- Em se tratando de empreen-
nas, um em Ribeirão Prêto dimentos físicos, a execução de
e um em Bauru." um plano pode demandar ati-
vidade em um só local, previa-
A regra da especificação mente escolhido e delimitado,
complementa e reforça as re- como no caso da abertura de
gras da exatidão e da precisão. um túnel, ou em vários locais,
O emprêgo conjugado das três como no caso da construção de
comunica ao teor do plano a um grande edifício, em que a
nitidez, ordem e certeza de ex- armação de ferro é forj ada em
pressão, que deve ser a marca um lugar, os elevadores cons-
de fábrica de todo planejador truídos em outro, as esquadrias
digno dêste nome. em outro, as janelas e portas
em outro, e assim por diante.
A REGRA DA LIMITAÇAO
ESPACIAL As diferentes partes, feitas as-
sim em diversos lugares, con-
Não basta definir o objeti- vergem finalmente para o sítio
vo, isto é, não basta decidir o onde o edifício será erguido e
que fazer - é indispensável aí são fundidas no todo.
112 CAL>b:ltNOS Dl'; ADl\11Nli:ll'HA()AO l'liDLICA

Em se tratando de empreeu- torna-se mais segura e mais


dimento social ou cultural, acertada, se feita de acôrdo
como uma campanha de aHa- com os cânones éticos, os prin-
betizarão de adultos ou de dis- cípios lógicos, especialmente os
semin~ção de conhecimentos da exeqüibilidade e da econo-
dietéticos, a execução de um mia, e as demais regras técni·
plano s<Íi dispersar-se no espa- cas elo planejamento.
ço, embora se expanda dentro A. escolha judiciosa elo lugar
de fronteiras préfixaclas; isto ou lugares da ação planejada
é, o plano realiza-se por meio é parte essencial do planeja-
de acões simultâneas ou conse- mento, não só porque a exe-
cutiv>as, desenvolvidas em dife- cução dos planos poderia ser
rentes sitios. Nem por isso a retardada, modificada ou pre-
regra da limitação espacial dei- judicada, se essa decisão ficas-
xa de ser válida. se a cargo do executor, senão
A escolha e fixação dos di- também porque um êrro de lo-
ferentes sítios, em que se deve- cal pode anular certos câno-
rão desenvolver as ações pre- nes éticos, como o do benefí-
vistas no plano, é função do cio, assim como violar certos
planejador e representa uma princípios lógicos, como os da
etapa necessária do processo ele economia, do equilíbrio e da
planejamento. exeqüibilidade.
Quer se trate de empreendi- N a administração pública,
mento físico de localização úni- por fôrça de um conjunto de
ca ou múltipla, quer se trate circunstâncias incontornáveis,
de empreendimento cultural dentre as quais se salienta a
de localização dispersa, cabe coexistência de Estados inde-
ao planejador o dever irrecusá- pendentes, cada um dêles dis-
vel de escolher e pré-determi- pondo de direitos de ocupação
nar os lugares da ação. O pla- exclusiva sôbre determinadas
no carece de conteúdo se não partes do globo terrestre, as ati-
inclui disposições exatas e pre- vidades tradicionais ou de de-
cisas sôbre o local das ações senvolvimento, exercidas pelos
que envolve. governos, atividades que, em
Em qualquer das hipóteses última análise, representam o
~iguradas, a localização ela ação planejamento em marcha, são
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 113
necessàriamente limitadas no toriais das funções internas, as
espaço. atividades previstas em qual-
Tal limitação nem sempre é quer plano de trabalho gover-
conscientemente levada em namental estão limitadas no es-
cont:! na elaboração dos planos paço pela extensão geográfica
de trabalho governamental, :Ia ;irea administrativa do ór-
pois se trata de uma premissa gão respectivo, não podendo
maior não formulada, de uma ultrapassar as fronteiras nacio-
constante fatal, que escapa na- nais, regionais, estaduais e mu-
turalmente à consideração do nicipais, conforme se trate de
planejador, assim como, por um ou de outro dêsses quatro
exemplo, o fato de haver luz níveis de govêrno. No caso do
de dia escapa à apreciação planejamento da valorização
consciente do homem que de- econômica da Amazônia, por
libera executar na manhã se- exemplo, todos os empreendi-
guinte certa emprêsa impossí- mentos nêle incluídos deverão
vel de ser levada a efeito sem ter por incidência necessária a
boa iluminação natural. área da região. Trata-se, como
.Embora não seja explicita- se vê, de uma regra técnica,
mente percebida, essa regra que só os insensatos se atreve-
permeia e condiciona as cogi- riam a transgredir. Paira acima
tações do planejador, tanto de qualquer dúvida, pois, que
quanto a idéia de ar está im- a limitação no espaço físico.
plícita no ato de vontade do sem a qual se torna inconcebí-
médico que, ao examinar o vel a idéia de programa de
cliente, lhe ordena: "respire". ação, é inerente ao planeja-
A limitação no espaço, a que mento, embora comumente
estão sujeitas as atividades ja- passe despercebida.
centes, em estado de repouso, N a administração particular,
num plano de trabalho, repre- a observância da regra da limi-
sentam, por assim dizer, uma tação espacial, embora ofereça
barreira natural, pacificamente maior latitude de escolha, tem
aceita. Com efeito, afora as por fim facilitar a consecução
funções diplomáticas e consu- dos objetivos imediatos e do
lares, que não passam, aliás, objetivo final, que é o lucro.
de prolongamentos extraterri- A limitação espacial dev~
114 CADERNOS DE ADMINISTRltÇAO PÚBLICA

obedecer às conveniências da De fato, não é possível ra-


emprêsa, isto é, deve contribuir ciocinar em têrmos de tempo
para que a ação seja a mais absoluto. A mente humana care-
econômica em todos os senti- ce de amplitude e profundida-
dos - no transporte dos mate- de para compreender o tempo
riais, nos contatos com a clien- como um todo indefinido. É
tela, no recrutamento da mão- preciso representá-lo como uma
-de-obra etc. linha movente e fixar nela, ar-
O planejador avisado estará tificialmente, pontos ele parti-
sempre atento para a necessi- da, pontos de repouso e pontos
dade prática de fixar no espa- de chegada. Filha das limita-
ço a série de ações indispensá- ções naturais das faculdades
veis à implementação de seus humanas, esta necessidade já
planos. era intuitivamente percebida e
A ação planejada deve de- universalmente satisfeita desde
senvolver-se em âmbito com- épocas imemoriais, dando lu-
provadamente favorável, esco- gar ao aparecimento das divi-
lhido e experimentado à luz de sões artificiais e naturais ele
critérios intelectuais. tempo, como o milênio, o sé-
culo, o qüinqüênio, o ano, o
A REGRA DA LIMITAÇÃO
Tl!:Ml'URAL
semestre, o trimestre, o mês, a
quinzena, a semana, o dia, a
A noção de eternidade trans- hora, o minuto e o segundo.
cende e esmaga a capacidade Em outras palavras, a impene-
humana de alçar-se às regiões trabilidade da noção de tempo
vertiginosas da abstração pura. como um todo indefinido le-
Incapaz de penetrar essa no- \'ou o homem a seccioná-Io
ção, mas excitado pela necessi- transversalmente, no sentido fí-
dade fundamental de compre- SICO, em divisões convencio-
ender, o homem realizou, por nais. Destas, apenas o ano e o
um artifício de simplificação, dia correspondem a fenômenos
o prodígio de transformar a naturais, ou sejam os movi-
eternidade absoluta em tempo mentos de translação e rotação
relativo, isto é, em tempo men- da terra. Tôdas as outras são
surável, e, portanto, divisível. meros artifícios.
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 115

As inexoráveis contingências do especular qual a sua longi-


das faculdades naturais do ho- tude temporal. Nem por isso
mem o obrigam, por outro tais atividades devem exercer-
lado, a fazer as coisas por par- ·se ao acaso. É de tôda conve-
tes, não de uma vez. É sabido niência e muitas vêzes mesmo
que a grande maioria dos de- inevit;ível a sujeição delas a li-
sígnios humanos não pode ser mites temporais, mesmo por-
realizada com a rapidez de um que, em muitos casos, elas fun-
relâmpago, como ao toque de cionam à maneira de suporte
uma varinha de condão. Conse· para atividades construtivas,
qüentemente, enquanto o ho- cumprindo ajustar as primei-
mem age, enquanto persevera ras ao regime da5 segundas.
na realização de seus intentos, Seja como fôr, é imperioso
o tempo se escoa, ou melh9r, ajustar tôdas as atividades hu-
rassa, como se diz em lingua- manas - consuntivas e cons-
gem familiar. Ora, à medicL1 trutivas - a medidas temporais.
que passa o tempo, o homem E tanto é cômodo e freqüente
vai contando as horas, os di<Js, êsse ajustamento, que as pró-
os meses, os anos, isto é, vai prias divisões de tempo são
seccionando e definindo em muitas vêzes usadas para defi-
têrmos de divisões convencio- nir a extensão do trabalho,
nais o todo indefinido e infi- como no primeiro verso do cé-
nito que é o tempo. Repetin- lebre soneto 29 de Camões:
do-se, essa contagem de tempo
gera a experiência, por meio "Sete anos de pastor Jacob
da qual o homem fica habili- servia".
tadoa prever e determinar Correspondendo o ano solar
que divisão de tempo é neces- ao tempo gasto pela terra para
sária, em tais e quais condi- descrever uma revolução em
ções, para realizar tal ou qual tôrno elo sol; decorrendo daí a
propósito. sucessão e a diferenciação das
Muitas das atividades huma- estações; repetindo-se com es-
nas, porque consuntivas, pràti- tas os fenômenos visíveis e tan-
camente são perenes, renovam- gíwis da floração e da fruti-
·se cada dia, de modo que, em ficação; dependendo dês te. em
relação a elas, não teria senti- grande parte, a conservação da
116 CADERNOS DE ADMINISTTIAÇÁO PúBLICA

vida, pelo que os homens os Que muito é que a de igual-


observam atentamente é mente referisse os ciclos dos ne-
mais do que óbvio que tudo gócios públicos?
isso haveria de exercer tremen- No que tange à renovação
da influência nos hábitos e periódica do orçamento, parti·
concepções relativas ao tempo. Clllarmente, havia razões pat.l
Adotando o ano como uni- que a relacionasse com os ci-
uade de medida da própria clos vegetativos, porque, n05
existência, nada mais explicá- estágios primitivos da tributa-
vel, com efeito, que o homem ção, os impostos eram pagos in
se habituasse a aferir tudo mais natura, de modo que a própria
por essa mesma unidade. periodicidade anual das co-
Os fenômenos naturais, mil lheitas impunha igual periodi-
e mil vêzes observados, que se cidade à arrecadação dos tribu-
repetem com a inexorabilida- tos. A regra da anualidade or-
de de suas leis físicas, -ano çamentária, hoje uniyersal, des-
após ano, século após século, cende, sem dúvida, dessa práti-
milênio após milênio - teriam ca remota do recolhimento, in
sido certamente fonte de inven- /latura, "do (IUC era de César" .
cível sugestão para que o ho- Forçado pelas limitações de
mem adaptasse a êles as suas suas faculdades naturais, o ho-
atividades, especialmente as eco- mem cstabelece, de antemão,
nômicas. limites temporais para as suas
Imemorialmente habituado atividades. Limitado e finito
a pensar em têrmos de anos so- por definição, pecaria por in·
lares, sempre que trata de pl.l- congruência se pretendesse agir
nejar uma série de atividades indefinida e ilimitadamente.
duradouras, o homem pende Tendo que limitá-las, é curial
automàticamente, se não ins- que o faça por meio dos ins-
tintivamente, para esta divis~io trumentos mais usuais, motivo
ue tempo. por que recorre quase sempre
Tomando o ano solar por ao ano.
base de suas relações contra- Tudo isso explica a periodi-
tuais, criou, por analogia, o cidade do planejamento. Quem
ano civil, o ano comercial, o diz planejamento periódico,
ano legal, o ano calendário. diz planejamento limitado no
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 117

tempo. Assim como a limita- prescindíveis: um mapa e um


ção no espaço, a limitação no calendário. Ê preciso indicar
tempo constitui outra regra um lugar para agir e, simultâ-
técnica do planejamento. Uma neamente, marcar o momento
complementa a outra; e as vestibular da ação, os momt:n-
duas complementam, como já tos de início e conclusão das
foi dito, a regra da especifica- diferentes etapas intermediá-
ção. rias, e o momento de conclu-
A obserdncia simultânea são definitiva do empreendi-
das três é que comunica racio- mento.
nalidade aos planos de traba- No serviço público brasilei-
lho e torna possível a sua ro, s6 muito recentemente as
transformação em realidades autoridades governamentais co-
úteis e desejáveis. meçaram a atentar para a ne-
cessidade de sujeitar os planos
Com efeito, não basta deci- a calendário. As obras do Pla-
dir onde fazer alguma coisa - no Especial, do Plano de Obras
torna-se imperioso d e c i d i r e Equipamentos e do Plano
também quando fazer. SALTE que chegaram a ser
É evidente que a localização executadas, não se executaram
da ação planejada exige simul- segundo um calendário previa-
tâneamente pré-determinação mente estabelecido e anuncia-
no tempo. Se planejar é respon- do.
der às perguntas que fazer? A cidade do Rio de Janeiro,
onde fazer? e quando fazer?) o por sua vel, oferece ao obser-
processo somente se encerra no vador numerosos exemplos de
momento em que o planeja- obras, que marcharam ou mar-
dor, por uma série de decisões cham ao sabor de caprichos,
conscientes, bem analisadas. impulsos ocasionais, sem que
documentadas e verificadas, es- ninguém soubesse ou saiba
Pecifica as coisas que devem ser quando seriam ou serão termi-
feitas, delimita o local e pre- nadas.
fixa o tempo em que devem ser A construção do Viaduto
feitas. A ação planejada pres- Ana N ery, que se prolongou
supõe, pois, a existência de dois por cêrca de doze anos, a du-
instrumentos de trabalho im- plicação do Túnel de Copaca-
118 CADERNOS DE AD:MINISTRAÇAO PúBLICA

bana, que levou mais de cinco guia de trabalho e passa a me·


anos, a abertura do Túnel do recer essa categoria, quando a
Pasmado, que teve duração ação prevista é referida a um
igual, a abertura do Túnel Ca· local ou locais e situada entre
tumbi-Laranjeiras, iniciada em datas fixas.
1947 e até hoje não concluída, Essa fase do planejamento, a
o Atêrro do Flamengo, a cons- de da tar as ações, depende de
trução da Av. Perimetral ele· exame realístico de vários fa-
vada, e muitas outras obras tôres, entre os quais se desta-
cmpreenuidas pela antiga Pre- cam os recursos disponíveis, a
fei tura do Rio de J aneiro tC~l1l seqüência das operações, os
sido ou estão sendo adminis- Cllstos e a conjuntura política.
tradas nesse regime de comple·
ta incerteza quanto ao tempo. No que diz respeito à obser-
São começadas por fôrça de vància da regra da limitação
impulsos momentâneos, e ge- temporal, cumpre, todavia,
ralmente terminadas muitos adotar critérios progressiva-
anos e alguns governos depois. mente mais rigorosos, segundo
se trate de declaração de polí-
É de se observar, porém, tica, de planejamento ou de
como o exemplo de atividade jJrojetação. O período de vigên-
governamental acelerada, que cia de uma política pode ser
a construção de Brasília deu ao estabelecido por aproximação.
país, já começa a repercutir na Em muitos casos, nem seria
antiga capital da República, possível proceder-se de outra
onde, ultimamente, c e r tas maneira. Já no caso de um Pla-
obras têm sido executadas den- no, a questão do tempo da
tro de prazos fatais, como o ação requer decisões exatas e
Túnel Barata Ribeiro-Raul precisas. Repi ta-se: o calenclá-
Pompéia e as pistas do Atêrro
lÍo constitui peça essencial de
do Flamengo.
todo plano de trabalho. E
:Em planejamento, não se quando se trata de projetar as
pode aceitar a atitude de ne- obras ou empreendimentos
gligência em relação às datas parCIaIS integrantes de um pla-
dos empreendimentos. Um pl::!.- no geral, então a escala crono-
!la somente se completa como lúgica deve descer ;tS últimas
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 119

mlllUClas, prefixando ano, mês, ómento de calendários parciais


dia e hora para cada operação. relativos às tarefas específicas
atribuídas aos diferentes seto-
Isso significa que o calendá- res e att'- aos distintos indivÍ-
rio de um plano geral não dis- duos empenhados na realização
pensa, antes exige, o estabele- do plano.
CAPITULO XI

SíNTESE

o planejamento é um pro- bém, ohjetivamente, a esta per-


cesso intelectual de selecionar gunta pragmática: com que
objetivos, e de prever e dispor lazer?
os meios necessários para rea- O exame do acervo disponí-
lizar - em local certo e tempo vel de idéias a respeito tende
prefixado - fins exata e preci- a sugerir que, para se caracte-
s:unente definidos. rizar como processo racional, o
Em outras palavras, plane- planejamento deve obedecer a
jar equivale a responder clara- certos postulados gerais.
mente a pelo menos três ques- N a diligência de reunir e
tões: condensar essas idéias esparsas,
a. q uc fazer? com as quais acredito ser póssí-
,el esboçar uma teoria geral
b. onde fazer?
de planejamento, julgo haver
c. q llando fazer? identificado os dnones éticos,
Ao formular respostas a essas 05 princípios lógicos eas regras

perguntas pertinentes à natu- técnicas enumerados e expostos


reza, local e momento da ação, nos capítulos VIII, IX e X des-
emerge, por encadeamento ló- ta publicação.
gico, a indagação relativa aos Pendo a crer que, se orien-
meios de ação requeridos e sua tado por êsses postulados abs-
obtenção. Não é possivel, pois, tratos, o planejador não só mi-
completar o ciclo da tarefa pla- nimiza os riscos das opções se-
nejadora sem responder tam- não também responde mais fà-
122 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

cilmeutc, e com a clareza de 5. A regra da limitaç:ão tem-


rigor, às perguntas caracteriza- poral.
doras elo processo do planeja- Reconheço que a enumera-
mento. ção, embora comentada e ex-
Os clÍnollcs éticos: plicada, dessas abstrações - cã-
nones éticos, princípios lógicos
1. O cfmolle da máxima e regras técnicas - não habili-
conveniência social; ta ninguém a canalizá-las para
2. O dnone da honestidade; a prática.
fi. O dnoue da publicidade; Kão se deve, porém, confun-
/1. O dnone da <)ceitabili- dir teoria com manual. As teo-
dade; rias não se endereçam originà-
5. O cfmone do benefício; riamente a praticadores ou
praticantes, mas a pessoas do-
6. O dnone da sanção.
t:ld:ts de certa capacidade de
Os prillcípios lógicos: penetração no pensamento abs-
1. O princípio ela pesquisa; trato.
2. O princípio ela previsão; As construções teóricas en-
3. O princípio da cxeqüibi~ contram maior discernimento e,
lidade; portanto, mais receptividade
por parte dos homens de pen-
1. O princípio da illerência; samento, sejam êstes do tipo
5. O princípio da economia; diagnosticador OH do tipo con-
G. O princípio d:1 univrn:l- templativo.
lidade; Regra geral, os homens de
7. O princípio do equilíbrio; ação, os realizadores pletóricos
8. O princípio (b oportuni- e genuínos clesacloram o pensa-
dZlde. mento abstrato, que os perple-
xiona e confunde. O poder de
As r,'?gms técnicas:
análise abstrata e a capacidade
1. ,\ regra da e,atÍlhio; executiva são dons que rara-
2. A regra da precislo; mente coincidem no mesmo in-
:1. A regra da especificação; divíduo. José do Egito, Júlio
1. A rrgra da limi tação es- César, Napoleão, Lenine e
p:lCial; Kemal .Ataturk representam
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 123

exemplos históricos de exceção, "Isso é asneira". Para êle, na


quase teratológicos pela rari- mais favorável das hipóteses,
dade. teoria será mera suposição.
Os "teóricos puros" e os Cônscio dessas yerdades, não
"práticos puros" não comun- alimento fervente esperança de
gam na mesma paróquia. É co- yer êste esbôço de teoria com-
nhecido o desprêzo mútuo exis- preendido senão por um,l re-
tente entre os teorizadores e os duzida minoria de espíritos es-
homens pdticos. Os primeiros peculativos - indiscutivelmen-
impacient:tm-se com o que cha- te os menos indicados para sub-
mam "as faLicias do homem metê-la ao teste pragmático da
prático" . experiência _ E note-se que
Os que se julgam capazes de compreender não é sinônimo
identificar, extrair e até desen- de aceitar. Dos que o com-
volver relações teóricas, ten- preenderem, quantos o aceita-
dem a olhar com desdém cari- rão? Precisamente por o com-
tativo para os que carecem preenderem e assim lhe desco-
dêsse dom. Mesmo os superdo- brirem as falhas e erros, é que
tados legítimos, realmente ca- alguns se recusarão a aceitá-lo.
pazes de mover-se com desem- O cartesianismo militante,
baraço por entre os meandros striamente cultivado, vacina
sutis das abstrações, encasulam- contra tôda espécie de esnobis-
se em resplemlentes tôrres de mo intelectual. Para o teori-
marfim, do alto das quais sor- lal1lf", o perigo consiste em
riem, superiormente, das COIl- aplicar a dúvida cartesiana a
tradições, das confusões e do tuelo, menos às próprias con-
rudimentarismo dos homem cepções. É preciso duvidar de
comuns. l udo, si~Lern:tticamente, até das
Os homens práticos, por sua próprias certezas. Cumpre evi-
vez, classificam os teoristas en- tar o ridículo das "idéias defi-
tre os "vision~lrios", "sonhado- nitivas" e a esterilidade elas
res", "poetas" e até "desmio- "FO'iiçôcs intocáveis".
lados". Quando quer externar Desprezar alguém apenas por
reprovação contra alguma coi- se revelar pouco propenso a
sa, O "homem prático" diz: entender abstrações não é, por
''Isso é teoria", como (Iuem diz, certo, atitude cartesiana. O
124 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

bom senso indica, para o caso, taria aliciar grande número de


o método clássico da persua- ex perimentadores para engros-
são. É lícito ao formulador de sar as ralas fileiras dos que pa-
teorias, empenhado em vê-las recem acreditar na possibilida-
aceitas, experimentadas ou pelo de de teorização em matéria de
menos discutidas, tentar per- planejamento.
suadir dialêticamente os indi- A prova da experiência seria
ferentes e os incréus. o método adequado para con-
O recurso à catequese é ci- firmar, ou infirmar, a yalídade
,ilizado e civilizador. O valor dt-stc meu ensaio de teoria ge-
das gelleralizaçi)es teóricas e a nl de planejamento.
fecundidade das idéias abstra- Se me fôsse possível predis-
las provam-se através de argu- I )or os "homens práticos" em
LI\'01' dêste ensaio, comecaria
mentos e raciocínios. A mar-
por significar-lhes que o ·pro-
cha das idéias faz- se tradicio-
cesso elo planejamento não se
nalmente por essa \' ia. O pro-
realiza em bloco, de uma vez
seletislllo é o procedimento his-
só, mas por etapas ou fases. Pou-
tôricamente consagrado - o
co importa a idéia ou o inten-
método preferido dos líderes
to que o dirija, esteja subme-
religiosos. O próprio Cristo,
tido a esta tentativa de teoria,
que podia fazer milagres, re-
ou a qualquer outra, ou seja
corria simultâneamente às pa- desenvolvido à tôa, fln delà de
rábolas e aos sermões para con- uma idéia guiadora nítida, o
vencer e aliciar seguidores. O processo do planejamento, ao
que parece estratosférico hoje ser vertido para a prática, ne-
poder.l, pela persuasão, vir a cess;'lriamente se decompõe em
ser ponto pacífico amanhã. Al- Llses.
guém já disse que a filosofia Quais serão essas fases? Ten-
de um século é o senso comum tei identificá-las e descrevê-las
do século seguinte. nos capítulos anteriores. Sinto,
Se, por meio de algum arti- entretanto, que file cumpre ser
fício de raciocínio, me fôsse mais explícito, talvez até um
dado demonstrar o valor das pouco didático.
construções teóricas aos menos De acôrdo com os resultados
interessados, é claro que ten- da análise a que o submeti, o
UMA TEORIA GERAL bE PLANEJAMENTO 125
processo do planejamento de- mina, apeuas antecipa a fase
compõe-se nas seguintes etapas da pesquisa. Em seguida,
ou fases: cabe-lhe determinar os meios
necessários. Valendo-se de co-
I. definição do objetivo; nhecimentos prévios e de infor-
2. pesquisa dos meios obte- mações variadas, o planejado!'
nÍ\'elS; procur::t identificar, descrever e
~l. determinação dos meios quantificar os meios corpóreos
necess;trios; e incorpóreos necessários à rea-
,1. formulação dos pIanOs: lização do objetivo definido.
a. fixação da seqüência É nesse momento que come-
e/ou simultaneidade çam a surgir os planos, a fixa-
dos objetivos parciais; ção da seqüência e/ou simul-
b. demarcação do local taneidade das operações, a es-
(ou locais) da ação; colha elos locais ela ação, a ado-
c. cronogramas e calen- ção do calendário e dos crono-
dário; gramas, isto é, a série de datas
5. fiscalização (contrôle) da ele início e conclusão das eta-
execução. pas parciais e da etapa final.
O processo do planejamento
O ponto ele partida elo pro- propriamente dito termina aí.
cesso consiste na definição do
objetivo. Planeja-se para exe- Uma vez que só os visioná-
cutar algo. É preciso, pois, de- rios planejam para não exe-
finir êsse algo, a fim de que cutar, contentando-se com suas
os esforços feitos em sua per- rêveries, a fiscalização da exe-
seguição sejam eficazes e ade- cução é um prolongamento ló-
quados. Uma vez definido o gico do processo.
objetivo, cabe ao planejador Pelo contrôle, o planejador
proceder ao levantamento dos protege os planos contra as re-
meios obteniveis. Essa busca definicões, as aceleracões e os
de informações vem a ser a atraso~ indesejáveis. i preciso
fase da pesquisa. As vêzes, confrontar o executado com o
quando define o objetivo, já planejado, sem o que não é
o planejador tem ciência dos possível adquirir a certeza da
meios disponíveis. Isso não eli- eficácia da ação, ou tomar pro-
126 CADERNOS DE AD:\UNISTTIAÇAO PüBLICA

vidências corretivas no momell- llleios di,ponívci~, ou a êsles


to oportuno. superiores, por exemplo, logi-
A lista das etapas do plane- camente conduz ao abandono
jamento torna claro, c1esde do objetivo ou ao alongamento
logo, q lle elas não se sucedem do período de eluração elo pla-
em ordem cronológica, necessil- no. Similarmente, contra-indica-
riamente. Pode haver simulta- ções e obstáculos (ou condições
neidade de algumas, assim favoráveis), identificados du-
como dispensa c1e outras, no rante qualquer das fases do
caso cle já fazerem parte elo ca- processo, afeunH as decisões do
beelal de conhecimento e expe- planejador.
riências elo planejador. Planejar é optar. Dentre vá-
Ao tratar de uma etapa, o rios objetivos que o interessam,
planejador freqüentemente des- o planejador opta por um.
cobre fatos ou minúcias que o Dentre os vários locais possíveis
levam a rever as etapas ante- para sua realização, o planeja-
riores, inclusive e principal- dor opta por êste ou aquêle.
mente a da definição do obje- Similarmente: opta por um pe-
tivo. Compete-lhe agir com ríodo ele tempo - dois meses,
certo oportunismo guiado pelo três anos - para levar a efeito
bom senso. As realidades e o seu intento; opta pelo mo-
fatos desvendados pela pesqui- mento de iniciar a ação, con-
sa podem, em muitos casos, in- tinuá-la e concluí-la. 1<: assim
dicar a inexeqüibilidade do ele Oj7Ç!70 em opção, o planeja:
plano inicialmente visualizaclo, dor prossegue até dar por com-
ou a superioridade ele um pla- pletos os planos que elabora.
no alternativo. É claro que a l\linha tentativa de teoria
posse de toelos os dados influi tem por fim ajudá-lo a fazer
no ânimo do planejador e pode boas op~'ões - realistas, sensa-
compeli-lo a rever as decisões tas, econômicas, convenientes.
já tomadas sôbre o local da Sustento que, se observar os
ação, a duração do plano e a cftnolles éticos, o planejador
envergadura do objetivo. A elaborará planos socialmente
verificação de que os meios ne- lícitos e humanamente desejá-
cessários são diferentes dos yeis.
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 127

Se atender aos principios ló- cipio é lei. Se é regra é norma


gicos, terá probabilidade de de ação. E acaso os têrmos
atuar em harmonia com a ra- rânone, princíPio e regra não
zão. são sinônimos?
Se obedecer às regras técni- Ruminei essas e outras possí-
cas, é certo que produzirá pla- veis dúvidas e objeções. E
nos pragmáticos, inteligíveis e mantenho a classificação e a
de execução mais simples. adjetivação. .l\Jantenho-as por-
Minha tentativa de teoria que, no espaço social de minhas
tem base ética, conteúdo lógi- idéias, elas concorrem para dar
co e orientação prática. nitidez à distinção que faço en-
Posso não haver logrado for-
tre os fundamentos morais, as
mulá-la com "engenho e arte",
relações lúgicas e os procedi-
mas, quem se abalançaria a ne- mentos técnicos que devem in-
gar a sabedoria do trinômio -
fluir no processo do planeja-
moral, razão e prática?
mento. Sustento que é possível
Talvez fôsse de bom aviso
h,:ver planos firmemente ali-
pingar o ponto final aqui. Se
cerçados na ética, porém ilógi-
isto é uma síntese, sejamos bre-
cos. Similarmente, pode haver
ves. Não resisto, contudo, ao
planos lógicos, mas imoralíssi-
desejo de acrescentar alguns
mos. Assim como os há éticos
parágrafos sôbre as razões que
e lógicos, porém frouxamente
me induziram a diviclir as abs-
formulados. É preciso a com-
trações da teoria em três cate-
binação dos três elementos bá-
gorias e cham{t-las cânones éti-
sicos de minha teoria - moral,
cos, principias lógicos e regras
r<17:10 e prática.
téc11lcas.
Não teria eu, com a adjeti- Finalmente, acrescentarei que
vação abstrata de abstrações, admito uma faixa ele embrica-
apenas complicado a formula- ção conceitual entre o cânone
ção do arcabouço teórico? Ha- da máxima conveniência social
verá, no espaço social das e o cânone do benefício. É pos-
idéias, cânones imorais, princí- sÍ\'el que meus esclarecimentos
Pios ilógicos e regras antitécni- e comentários não bastem para
cas? Se é cânone é postulado mostrar separação nítida entre
moral de conduta. Se é jJrin- um e ontro. Parecem-me tam-
128 CADEllNüS DE ADMINISTHAÇAO PúBLICA

bém lilllleiros, capazes lle lles- Seria indispensável aprofun-


concertar os leitores, o princi- dar a análisc, apurar os con-
pio da oportunidade e a regra ceilos c elar mais realce às
da limitação temporal. Os prill- 1l1WllU':S de significado. Antes,
ciJlios da universalidade, do porém, de enfrentar essa lare-
eqllilíbrio e da illerência, po.r fa, esperemos pelas reações do
sua \'c/, não surgem na exposI- público c as objeções dos crí-
ção com a mesma clareza e au- ticos.
tonomia de expressão que se Afinal de contas, êste cader-
cncontram nos princíPios da no é uma antecipação de meu
pesquisa, da jJrcvisão e da exe- livro já anunciado: Teoria e
qüibilidade. Prátira de Planeja111l'llto.
PARTE 1II

ANEXOS
!\NEXO N.o 1

PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL
HENRY N. BUNBURY (1)
(Tradução de BENEDICTO SILVA)

Nota do tradutor: O autor do presente emaio, funcionário


püblico inglês, é reconhecido como voz autorizaela em matéria de
planejamento governamental. Dirigido a leitores de fala inglêsa
e publicado na revista britânica Pllblic Administration} êste en-
s<1io foi escrito nos últimos anos da década de 30, pouco antes do
comêço da II Guerra Mundial. Traz, em conseqüência, sinais evi-
dentes que o situam na conjuntura cultural daquele período. Não
obstante, permanece como foi redigido: uma introdução concisa
e equilibrada ao tema elo planejamento governamental, hoje
muito mais atraente do que então. Ao explicar as origens e a
liatureza elo planejamento governamental, o autor aeluz argumen-
tos que já então, há mais ele 20 anos, vaticinavam e justificavam
o advento, em doses caela vez maiores, ela intervenção governa-
mental na vida pública, principalmente no setor econômico. É
quase certo que a maioria dos estudiosos de administração pübli-
ca concorda hoje com o tratamento dado então ao assunto por
HENRY N. BUNBURY.

O tema do pbnejamento, entretanto, não só é extraordinà-


riamente complexo (alguns tipos de planejamento de especial in-
terêsse para os estudiosos de administração nem sequer são men-
cionados no presente ensaio), mas também extremamente con-
1) HENRY N.BuNBURY, in Public Administration (outubro, 1938), 381-
-398. O título completo é "Governmental Planning Machinery"
(Mecanismo do Planejamento Governamental); somente a parte
introdutória do ensaio é reproduzida aqui (resumida).
132 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

trovenido: o que parece boa filosofia política para alguns cons-


titui ideologia tendenciosa para outros.
Como observa HERBERT SIMON, emprega-se hoje a palavra
l,lanejar com mais freqüência como rótulo de lema político OH
de inconformismo político, do que como designação de determi-
I!ada classe de atividade administrativa. Para os seus entusiastas,
plane jar é sinônimo de coordenar, prever, antecipar-se ao futuro;
poder-se-ia dizer que, para êles, planejamento é sinônimo de ra-
cionalidade. Aos olhos de seus adversários, planejar envolve :l
idéia de arregimentação, e até coletivismo. A maioria das emo-
ções tempestuosas provocadas pelos têrmos plallejar e Planeja-
mento relaciona-se exclusivamente com determinada cl,asse de
planejamento: a dos sistemas econômicos dirigidos pelo Estado.
Segundo o citado SIMON, os inimigos mais acirrados do pla-
nejamento são aquêles que crêem que as atividades econômicas
devem ser governadas, com o máximo de liberdade, pelas decisões
individuais dos homens de negócio, sob a lei da oferta e da pro-
cura, em vez de reguladas por contrôles e decisões governa-
mentais. Eis porque planejar se converte em um símbolo (e para
muitos em uma fórmula estereotipada) da controvérsia entre in-
dividualismo versus coletivismo.
Ao divulgar, no Brasil, em tradução portuguêsa, o presente
ensaio, meu propósito é suscitar, na mente dos possíveis leitores,
indagações como estas: tornaram-se acaso inexatas algumas afirma-
ções do autor? De suas proposições de fato e de seus julgamentos
de valor, quais teriam sido invalidados pela marcha do tem-
po? B. S.

Em relação à vida social e do laisser faire. Muitas formas


econômica, o âmbito de ativi- de atividade, outrora deixadas
dade governametnal aumentou como campo livre de empreen-
consideràvelmente em numero- dimento individual ou de gru-
sos países nestes últimos anos. pos, porque eram consideradas
Tem-se verificado forte reação, quase privativas da iniciativa
embora diversa em suas mani- particular voluntária e inteira-
festações, contra os princípios mente sôlta, tornaram-se objeto
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 133

de interêsse palpitante para a promover eficiência? Já se po-


coletividade. O Estado tem in- dem tirar conclusões a êsse
tervindo nelas para orientar, respeito?
estimular, controlar, proibir, Essas fun~'ões novas ou am-
comprar e vender, e até espe- pliadas do Estado (ou socieda-
cular. As causas que contribuÍ- de) acham-se ligadas, em mui-
ram para êsse desenvolvimento tos setores, ao têrmo "planeja-
são múlt:~i>las e diversas, sendo mento". Embora genérico e
desnecessário discuti-las aqui; conveniente, o têrmo é bastan-
diremos apenas que, por várias te explorado, sugerindo várias
razões, as perspectivas de um conotações e associações emo-
retôrno à economia livre, es- cionais, que contribuem mais
pontânea, auto-regulável, e ao para gerar confusão do que
Estado negativo e não inter- clareza ...
vencionista de antanho, que Com suas técnicas associadas,
constituem, senão a conquista, o planejamento é, rigorosa-
pelo menos o objetivo da polí- mente, um processo, um méto-
tica liberal do século dezenove, do de atingir algum resultado
parecem algo remotas na hora escolhido. Quando aplicado ao
presente. setor de atividade social e eco-
Mas, se as funções do Estado nômica é, fundamentalmente,
ampliaram-se dessa maneira, fa- um processo de assegurar con-
zem-se necessários pessoal e sis- tinuidade no tempo e coerên-
temas administrativos adequa- cia intrínseca às diretrizes go-
dos, a fim de capacitar o go- vernamentais referentes àquele
\'êrno a executar as novas ta- setor. Implica um objetivo ge-
refas. E como era de esperar, ral. Poder-se-á dizer que con-
tais sistemas estão aparecendo tinuidade no tempo, coerência
em vários países nestes últimos intrínseca e objetivo geral cons-
anos, principalmente de modo tituem metas em cuja direção
mais ou menos experimental. todos os governos dignos dêste
Qual é a função e a estrutura nome orientam os seus esfor-
dêsses novos sistemas? Como ços. A isso, os planejadores
funcionam, na realidade? Bem responderão que, nas comple-
ou mal? Quais as características xas condições atuais, sem pla-
mais convenientes e capazes de nejamento consciencioso, não
134 CADERNOS DE AD?,UNISTRAÇAO PúBLICA

há govêrno capaz de atingir pectivas fontes, minas ou ja-


tais objetivos, e isto por duas zidas. Daí, a necessidade de
razões. desenvolvimento ordenado e
Primeira razão: no sistema exploração metódica dos recur-
de economia privada, a emprê- sos luturais por meio de planos
sa particular, compelida a bus- gerais de longo alcance. Isto
car, e a buscar exclusivamente, se aplica notôriamente ao solo,
a sua vantagem máxima, não em muitas de suas utilizações.
leva em conta os efeitos de Segunda razão: na ausência
suas atividades econômicas, ele diretrizes planejadas, o go-
quer sôbre outras emprêsas, vêrno democrático tende a:
quer sôbre o bem-estar social
a) ceder às pressões de
da comunidade. Uma emprêsa
"grupos ele influência", por-
de transporte rodoviário pode,
ta-vozes de interêsses particula-
por exemplo, conforme sejam
res; e
suas diretrizes, retirar da estra-
da de [erro tamanho volume b) seguir, de tempos a tem-
ele tráfego que esta última, ain- pos, a linha de menor resistên-
da assim obrigada a manter o cia a essas fôrças. Dêste ponto
seu sistema, se veja ameaçada de vista, o planejamento é,
de insolvência. É por êste mo- essencialmente, uma diligência
tivo que, em muitos países, se para criar, de forma concreta,
observam tentativas por parte uma alternativa para o pro-
dos governos no sentido de pla- cesso: apresentar um objetivo
nejar os serviços ele transporte conhecido e aceito, que encar-
como um todo orgfmico. ne o in tClúse geral mais per-
Para dar outro exemplo: manente da comunidade, e em
uma emprêsa que haja adqui- tôrno do qual as diretrizes pos-
rido o direito de explorar al- sam ser traçadas e coordenadas.
gum recurso natural será pro- Em suma, é quando se aban-
pensa a explorá-lo exaustiva- dona, de vez, a crença de que
111ente, sem levar em conta as as vantagens gerais serão maio-
obrigações sociais que suas ati- res se a iniciativa individual e
vidades criam, ou os prejuízos particular tiyer o caminho li-
sociais que poderão surgir ne para cuidar ele seus pró-
qnando se esgotarem as res- prios interêsses, que se torna
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 135

essencial a existência de uma nismo eventual que vai tatean-


forma ou outra de planejamen- do, cheio de vacilações, de ex-
to. Não obstante, o planeja- pediente em expediente, e de
mento (que, como dissemos, é crise em crise.
um processo), não somente Já dissemos que o planeja-
pode ser dirigido para diferen- mento pressupõe um objetivo
tes objetivos, mas também va- geral. No mundo moderno,
riar bastante em extensão e parece (como, de fato, se es-
natureza. pera que aconteça) que a ne-
É de notar-se a principal dis- cessidade mais premente e de
tinção entre o planejamento de caráter mais geral diz respeito
um sistema de economia priva- à estabilidade e garantia de
da e o de um sistema coleti- subsistência para tôda a popu-
vista. No primeiro caso, sur- lação, em nível razoàvelmente
gem questões como estas: quais elevado. Em recente inquérito
as atividades que devem ser entre os operários de três fá-
transferidas elo setor de econo- bricas inglêsas, verificou-se que,
mia privada para o do Estado, dos vários desideratos dos que
e quais devem ser a natureza foram entrevistados, a "garan-
e forma da orientação ou con- tia de emprêgo" ocupou o pri-
trôle a ser impôs to pelo Estado meiro lugar nas preferências
à emprêsa particular? No se- de quase 90 por cento dos opi-
gundo caso, tais questões não nantes, ao passo que o desejo
ocorrem. Por outro lado, um de "salários elevados" obteve
estudo específico da situação classificação bem inferior.
em vários países revelará gran- Aí está, segundo creio, a ex-
des diferenças não só nos mé- periência geral. Ora, essa ga-
todos de solução, como tam- rantia geral de subsistência -
bém no grau e no caráter do isto é, para o povo inteiro -
contrôle ou planejamento pôs- parece inatingível pela emprê-
to em prática. sa privada, por si só, por mais
Parece que tudo é ainda ex- eficientemente que esteja orga-
perimental. Estamos todos em nizada e quaisquer que sejam
busca de soluções. Estamos os podêres que se lhe confiram.
tentando descobrir algo me- Parece essencial, pois, que o
lhor do que um intervencio- govêrno desempenhe o seu pa-
136 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

pel, uma vez que representa a dos órgãos e sistemas compe-


coletividade em geral e contro- tentes. Quando aplicado a
la, como é, aliás, de sua alçada, uma economia baseada na ini-
os chamados fatôres estratégi- ciativa particular, e executado
cos da política monetária e tri- de acôrdo com as condicões da
butária, a política do comércio autonomia democrática, 'o pro-
exterior, o desenvolvimento das blema se torna mais complexo
comunicações, etc. Ademais, e delicado: de um lado, a em-
torna-se necessário desenvolver, prêsa particular deve conti-
conservar e utilizar os recursos nuar a funcionar eficientemen-
nacionais - materiais e huma- te dentro dos limites que lhe
nos - de cada país, a fim de são próprios, e, de outro, o ór-
proporcionar o máximo de ri- gão de planejamento tem de
queza. Além disso, cumpre uti- atingir os seus objetivos pelo
lizar e distribuir essa riqueza processo de persuasão _ São
de tal modo que seja possível essas considerações que comu-
assegurar nível de vida razoá- nicam ao problema dos siste-
vel e confôrto social condigno mas de planejamento interêsse
para todos. :tste objetivo envol- e importância especiais e, por
ve um planejamento de ação igual, lhe dificultam a solução
direta sôbre os recursos natu- nos países em que a iniciativa
rais, como também de ação in- particular é valorizada e en-
direta, através dos "fatôres es- corajada.
tratégicos". Implica o planeja- Até aqui temos considerado,
mento de cidades e zonas agrí- como único objetivo geral, a
colas, e contrôle da explora- conquista, para todo o povo,
ção de determinados recursos da máxima garantia de subsis-
pelos interêsses privados, a tência, com a máxima produ-
criação de determinadas facili- ção permanente de riqueza
dades e comodidades para o (inclusive das comodidades da
público, e outras coisas seme- vida social) e sua distribuição
lhantes. mais eqüitativa possível. A tal
O planejamento social e eco- respeito, os Estados Unidos
nômico é, pois, um processo constituem exemplo típico.
multilateral, que exige elevado Há também o caso das eco-
grau de eficiência por parte nomias que procuram preser-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 137

var a iniciativa particular, isto organização para o planejamen-


é, o uso da produção e o em- to é adaptada a êsse propósito
prêgo de mão-de-obra com modificado. Organizações de
objcli\O de lucro, mas diri- produtores, distribuidores e
gem-na para algum propósito trabalhadores desempenham pa-
diverso daquele para o qual se pel importante no funciona-
inclinariam se ficassem relati- to do sistema. A produção pa-
vamente livres de contrôle. rece basear-se principalmente
Podem ser chamadas econo- no contrôle quantitativo, tor-
mias privadas controladas pelo nado exeqüível pela adoção de
Estado. Dêsse tipo, a Alema- vários métodos de contrôle e
nha e a Itália oferecem os prioridades destinados a asse-
exemplos mais conhecidos. (2) gurar a consecução do objetivo
O propósito geral, ao qual se principal. Infelizmente, nos
subordina tôda atividade eco- países onde êste sistema se de-
nômica, é atingir o máximo senvolveu, a defesa nacional e
grau de auto-suficiência nacio- o armamento ocupam lugar
nal, em parte por motivos de tão grande nas preferências dos
"defesa nacional", em parte órgãos de planejamento que
para diminuir o risco de per- não é possível qualquer juízo
turbação da economia nacional crÍlico sôbre as possibilidades
criado pelas diretrizes e medi- que poderiam ter-se concretiza-
das adotadas por outros países do, se tal sistema fôsse dirigi-
nos setores comercial e mone- do inteiramente para o bem-
tário. -estar e prosperidade do povo
Por princípio, êste sistema e no sentido da elevação dos
também pressupõe completo respectivos padrões de vida.
contrôle pelo Estado de tôda a Não existe material informati-
atividade econômica, embora vo para um confronto objetivo
na prática permita uma liber- entre êste sistema misto e o sis-
dade considerável, contanto tema de economia liberal.
que não haja transgressão das Finalmente, cabe citar o sis-
diretrizes governamentais. A lema econômico, em que não

2) Refere-se aos regimes Nazista e Fascista dos últimos anos da


década de 30. - O tradutor.
138 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

há lugar para a iniciativa pri- te aperfeiçoam-se grandemente


vada tal como acima definida. e tornam-se mais b:ll'atos. A
Nesle caso, o planejamento produção da riqueza material,
assume forma diferente e tor- e, mais do <lue isso. as suas pos-
na-se, nas mãos dos órgãos go- sibilidades, aumentaram consi-
yernamentais, parte essencial deràvelmente. Juntamente com
da Yida econômica e cultural isto, veio o desenvolvimento de
da nação. Esta última deve novas técnicas financeiras, cor-
planejar, ou então arruinar-se, porativas, bolsísticas e contá-
e provàvelmente morrer de beis que, embora capazes de
fome. Talvez seja suficiente produzirem benefício social,
dizer que, no caso de uma pro- são também suscetíveis ele gra-
dução coletivista e uma cultu- ves abusos anti-sociais.
ra coletivista, a técnica de pla- Se a garantia de subsistência
nejamento é materialmente di- para todos e uma distribuição
ferente daquela que se exige eqüitativa da riqueza consti-
quando a iniciativa particular, tuem os objetivos centrais, há
mesmo condicionada a certos como que necessidade de nôvo
limites, é aceita e benquista. reajustamento - uma nova co-
Seria êrro grave supor que o ordenarão de atividades econô-
planejamento das atividades micas ~ sociais que, evidente-
econômicas e sociais de uma mente, não pode surgir sem que
comunidade é coisa nova. Pelo haja um esfôrço consciente e
contrário, o planejamento exis- deliberado neste sentido.
tiu desde (lue o homem come- Sejamos, pois, mais explíci-
çou a yiyer de modo ordeiro e to~ no tocante à natureza do
civilizado; as circunstflllcias é proLlel1u. Em muitas situações,
que são novas. O moyimento a emprêsa ou grupo particular,
em prol do planejamento é buscando o seu máximo provei-
uma conseqüência da necessi- to, não pode levar em conta to-
dade de nos adaptarmos a dos os fatôres que entram na
uma nova situação. O mundo situação, e que serão afetados
está-se tOrIundo cada vez me- por sua decisão. Levará em
nor. O impacto recíproco das conta apenas aquêles que são
COIll~lllidade5 tem aumentado. capazes de afetá-la. Por exem-
As comunicações e o transpor- plo, uma emprêsa madeireira,
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 139

entregue a si própria, derruba- duos em algum momento: mas


rá a madeira com rapidez igual em seu conjunto, o trabalho de
à demanda do mercado: o que prodm,ão e distribuição pros-
acontece depois à terra, à re- segue. O pior que acontece são
gião cirwnjacente e à popula- alguns desperdícios de recursos,
ção que tirava sua ~ubsistência as flutuações do ciclo de negó-
dessas atividades extrativas não cios, e uma distribuicão alta-
interessa à emprêsa. Uma cida- mente desigual e até c~rto pon-
de pode ficar arruinada com a to injusta da riqueza produzi-
remoção de uma fábrica, mas da. Tais coisas são bastante pre-
o efeito da remoção sôbre a ci- judiciais.
dade não é coisa que os pro-
prietários da fábrica sejam obri- N um sistema planejado, por
gados a levar em conta em seus outro lado, na medida que
cálculos financeiros. A essência o planejamento é pôsto em prà-
do planejamento està em que tica, a iniciativa depende da
todos os fatôres, e não apenas decisão governamental. Conse-
alguns dêles, devem ser levados qüentemente, a organização de
em consideração antes de ser que se necessita, a fim de asse·
tomada qualquer decisão. gurar que, dentro dos limites
Trata-se, evidentemente, de da capacidade humana, as de·
cisões corretas sejam tomadas
tarefa de grande dificuldade e
no momento preciso, está lon·
complexidade, em qualquer Es-
tado desenvolvido, qualquer ge de ser problema sem impor-
túnela. O perigo consiste em
que seja o objetivo geral. Numa
lima rellucão gradual do esfôr·
economia inteirmnente livre, a
<,0 produtivo' e distributivo,
produção e a distribuição de-
acompanhada ele esforços para
pendem da iniciativa e julga-
aumentá-lo, o que pode consti-
mento de grande número de in-
tuir ameaça à liberdade com
divíduos que trabalham inde-
que todo indivíduo sonha.
pendentemente uns dos outros.
Em tais circunstâncias, alguns O bóIo pode ser distribuído
indivíduos cometem erros a lO- mais eqü!tativamente, mas pode
do momento, e todos os indivÍ- ser um bôlo múitíssimo menor.
o PLANEJAMENTO NO GOVÊRNO FEDERAL

EXPLICAÇÃO

Os anexos seguintes, de n.o :! a n.O ~, representam as sete


tmtativas feitas, a partir de 1952, pelo Poder Executivo da União,
para criar e desenvolver um sistema de planejamento.
A primeira tentativa consta do Anteprojeto de Reorganiza-
ção Administrativa mandado elaborar, em 1952, pelo Presidente
Getúlio Vargas. Não passou da etapa inicial, sendo retirada do
projeto em virtude do parecer contr;irio da Comissão Interparti-
dária, emitido em abril de 1953 pelo Relator-Geral, Deputado
Gustavo Capanema (Anexo n.O 2).
A segunda tentativa foi adotada, por decreto, pelo Pre-
sidente Juscelino Kubitschek em fevereiro de 1956, imediatamen-
te após sua posse no cargo.
Dela resultou a criação do Conselho do Desenvolvimento,
na órbita da Presidência da República, mas que efetivamente
sempre funcionou como hóspede do Banco Nacional do Desen-
volvimento Econômico e ainda hoje existe (Anexo n.O 3).
A terceira tentativa foi feita pelo Presidente Jânio Quadros
nos primeiros dias de agôsto de 1961, três semanas antes ela re-
núncia. Consistiu na criação, também por decreto, da Comissão
Nacional de Planejamento, para a qual adotou a sigla COPLAN
(Anexo n.O 4) .
A quarta tentativa data do mesmo ano de 1961: foi feita pelo
então Presidente do Conselho de Ministros Tancredo Neves, que
reformulou a COPLAN, ampliando-lhe consideràvelmente a es-
trutura (Anexo n.o 5).
A quinta tent:lt1V;t lOll,i~lill no lJlOjcto Lle decreto submeti-
do ao Presidente LIa República, em abril de 1963, pelo então Mi-
nistro Extraordinário para o Planejamento Celso Furtado.
Talvez porque a tarefa da Reforma Administrativa tivesse
sido confiada pouco antes ao l\Iinistro Extraorclin;irio Ernani elo
Amaral Peixoto, o projeto Celso Furta(lo não chegou a tramitar
(Anexo n.o G) .
A sexta tentativa, feita em cadlter proYisório, data igualmen-
te de julho ele 1963 e consiste no estabelecimento da chamada
Coordenação do Planejamento Nacional, que l~ o que cst:í atual-
mente em vigor (Anexo n.o 7).
A sétima tentativa consi~te na proposta submetida ao Pre-
sidente da República pelo Ministro Extraordinário para a Refor-
ma Administrativa Ernani do Amaral Peixoto, de criação, por
lei, e regulamentação provisória, por decreto, do Sistema Federal
ele Planejamento integrado, na Presidência da República, pelo
Conselho do Planejamento e pela Secretaria-Geral do Planeja-
mento e, em cada ministério, pela Comissão de Planejamento e
a respectiva Secretaria-Executiva (Anexo n.O 8).
O analista isento e esclarecido não terá dificuldade em per-
ceber que a proposta do Ministro Extraordinário para a Reforma
Administrativa, constante do Anexo n.o 8, representa solução ju-
diciosa para êsse complexo problema administrativo.
Esperemos que o Poder Executivo e o Legislativo irmanem
seus esforços e transformem em realidade operante a proposta
de criação do Sistema Federal de Planejamento, tal como conce-
bido e amplamente justificado pelos autores da Reforma Admi-
nistrativa de 1963, sob a liderança do Ministro Extraordinário
Irnani do Amaral Peixoto.
ANEXO N.o 2

Primeira Tentativa - Govêrno Getúlio Vargas -


Projeto de Criação do Conselho de Planejamento e
Coordenação

L ]ustificaç'iiu canismo automático de coorde-


nação elos programas de traba-
"A fim de corrigir as insufi- lho e de sua execução, através
ciências naturais de qualquer de um sistema permanente de
organização de estrutura, o relatórios periódicos das unida-
projeto estabelece dois sistemas des administrativas de todos os
de coordenação: direto, atra- níveis, do qual êle sed o órgão
vés das comissões interministe- central.
riais a serem criadas, e indire- O objcti\O dêsse sistema é
to, através da coordenação ge- obter que os Ministérios apre-
ral dos programas de trabalho sentem à Presidência da Repú-
dos diferentes Ministérios rea- blica, com freqüência, um re-
lizada pelo nôvo Conselho de sumo das atividades realizadas
Planejamento e Coordenação. pelos diferentes departamentos
Espera-se, dêsse modo, evitar de que se compõem. Com êsse
os conflitos ou paralelismos de fim, os Ministérios receberão,
atividades que são a fonte de mensalmente, relatórios sucin·
tanto atrito e ineficiência no tos de cada órgão sob sua ju-
funcionamento da adminis- risdição, os quais, por sua vez,
tração. .~ receberão, cada quinze dias, in·
Deixando para depois a des- formações objetivas das divisões
crição de suas funções de pla- e serviços que os integram.
nejamento, convém indicar des- N essas informações, resumos e
de logo a maneira como o Con- relatórios serão enumeradas as
selho porá em prática êsse me- etapas cumpridas em cada pe·
144 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

dodo para execução do progra- na~'ão, rcdamada por todos


ma de trabalho aprovado pelo quantos estudam profundamen-
Govêrno no princípio do ano te a realidade brasileira, torna-
e traduzido no orçamento. rá possível essa atuação harmo-
Acom panhando pa r i-pass li, IlÍosa e sistematizada de tÔfla a
através dêsses relatórios perió- administração federal.
dicos, a execução dos progra- Já foram indicadas as fun-
mas de trabalho em todos os (:ões do Conselho de Planeja-
setores da administração fe- mento e Coordenação no que
deral, o chefe do Pod~r Exe- toca ;'1 execução dos programas
(utivo terá, a intervalos (urtos, de trabalho. Caberá também a
uma visão geral, concreta, da {:~te órgão a formulação dos ob-
realização dos planos do govêr- jetos gerais e específicos da ati-
no - o que atualmente só é vidade governamental, como
obtido e de um modo ainda órgão supremo de planejamen-
bastante imperfeito, quando se to e programação das ativida-
prepara a mensagem anllal ao des governamentais. Seu traba-
Congresso. lho inicial será estabelecer, sob
Além disso, êsse sistema de forma de planos trienais, qüin-
coordenação dos programas de qüenais, ou decenais, as diretri-
trabalho, através das informa- zes que orientarão a atividade
ções regulares, permitirá estan- do Estado Brasileiro nos próxi-
car, em sua origem, os conflitos mos anos. Traçará o Conselho
de competência, as duplicida- dentro dessas diretrizes os ob-
des e paralelismos que, muitas jetivos específicos, as metas bem
vêzes, somente chegam ao co- definidas, que deverá alcançar
nhecimento do Presidente da e atingir cada setor particular
República sob a forma de uma da administração federal, metas
disputa jurisdicional entre dois e objetivos que serão expressos
ministérios, ou de um pedido em têrmos numéricos absolu-
de fusão ou extinção de ser- tos, ou em têrmos de percenta-
viços concorrentes ou respec- gens sôbre números conhecidos
tivos." do passado.
:esses objetivos, uma vez de-
"A criação de um órgão cen- finidos com clareza para todos
tral de planejametno e coorde- os setores da administração, se-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 145

rão em seguida traduzidos pelos nem um plano de trabalho ob-


respectivos órgãos executores jetivo e minucioso nem - caso
em programas anuais que serão fôsse apresentado e aprovado -
apresentados regularmente por um cumprimento rigoroso dês-
ocasião da elaboração orçamen- se programa.
tária. Infelizmente, ainda não se es-
A reforma pressupõe a utili- tabeleceu o costume de definir
zação, em larga escala, do pro- previamente e em têrmos quan-
cesso de elaboração orçamentá- titativos as prioridades e os ob-
ria, como um instrumento para jetivos governamentais, para a
a preparação, discussão e análi- êles ajustar a distribuição anual
se dos planos individuais de dos recursos financeiros pre-
cada repartição pública, e, no vistos.
seu conjunto, elos planos de Faltam à proposta orçamen-
ação ministeriais. tária brasileira a harmonia e o
É certo que já vem o DASP, sentido que só podem existir
desde muitos anos, tentando, quando há realmente um pla-
com dificuldades conhecidas, nejamento adequado das ativi-
realizar na prática da adminis- dades governamentais.
tração brasileira a verdade clás- É indispensável que o orça-
sica de que "o orçamento é um mento também se faça um pou-
plano de trabalho traduzido em co de cima para baixo, e não
dinheiro". Indispensável se tor- exclusivamente de baixo para
na, agora, um movimento geral cima, como é a regra atual em
para aperfeiçoar a técnica do nossos Ministérios. Devem as
planejamento governamental, nossas repartições, antes de ela-
uma ofensiva mais séria contra borar as propostas parciais do
o hábito arraigado de se repe- orçamento, receber dos Minis-
tirem, anualmente, as mesmas térios orientação sôbre as prio-
verbas do ano anterior. É fato ridades do Govêrno. Somente
conhecido que as repartições, e assim poder-se-ia evitar a práti-
os Ministérios, procuram anual- ca atual em que a proposta or-
mente uma perpetuação das res- çamentária é apenas a soma de
pectivas dotações, na certeza de propostas e sugestões parciais
que o mecanismo atual da ad- de Ministros e Diretores, cujas
ministração não lhes exigirá proposições, em muitos casos,
146 CADERNOS DE AD1ílNIS'l'RAÇAO PfJBLICA

não foram inspiradas pela IV Conselho Nacional de


orientação geral do Govêrno. Economia;
Evidentemente, o melhor sis- V Estado-Maior elas Fôr-
tema de planejamento é aquê- ças Armadas;
le que possibilita uma íntima VI Departamento Admi-
colaboração entre os órgãos de nistrativo do Serviço
execução e os de elabora- Público;
ção dos planos governamentais.
Essa colaboração, porém, sà-
mente pode dar resultados se
baseada na existência de crité- II - Conselho de Planejamento
rios firmes e concretos, fixados e Coordenação
por um órgão central, e na con-
tribuição conscienciosa das re- Art. 4. 0 O Conselho de Pla-
partições que têm a responsa- nejamento e Coordenação tem
bilidade de apresentar propos- a seu cargo o planejamento das
tas parciais de programas de atividades do Govêrno Federal
trabalho." no campo econômico e social,
em consonância com os objeti-
2. ANTEPROJETO DE LEI (PAR- vos do desenvolvimento geral
TE REFERENTE AO CONSE- do país e, notadamente:
LHO DE PLANEJAMENTO E
COORDENAÇAO a) coordenação das ativida-
des dos diversos setores da ad-
Art. 1.0 A estrutura admi- ministração federal;
nistrativa do Poder Executivo b) aprovação de planos e
é constituída dos seguintes ór- programas de desenvolvimento
gãos diretamente subordinados econômico e ele melhoria das
ao Presidente da República: condições de vida da população
I - Secretaria da Presi- do país.
dência da República; Art. 5. 0 O Conselho de Pla-
nejamento e Coordenação com-
H Conselho ele Planeja- preende:
mento e Coordenação;
a) Conselho Pleno (presidi-
IH - Conselho ele Seguran- do pelo Presidente da Repúbli-
ça Nacional; ca e constituído de todos os Mi-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 147
nistros de Estado e dirigentes selho de Planejamento e Coor-
dos órgãos diretamente subor- denação, que deverá incluir-se
dinados ao Presidente da Re- entre os órgãos da Presidência
pública) ; da República. Não deve ser
b) Secretaria-Geral (a orga- criado êsse órgão. O planeja-
nizar) . mento e a coordenação, como
funções de um órgão específico,
Parágrafo único - O Conse-
não podem ser gerais, abran-
lho de Planejamento e Coorde-
gemlo todos os domínios aclmi-
nação será organizado por de- nistrativos, mas devem restrin-
creto elo Poder Executivo.
gir-se às matérias de natureza
3. CONSELHO DE PLANEJA- econômica. Ora, o planejamen-
MENTO E COORDENAÇAO to e a coordenação, no domínio
(TóPICO DO PARECER CON- econômico, poderão ser, com
TRARIO DA COMISSAO IN- maior vantagem, realizados pelo
TERP ARTIDARIA)
órgão especializado já existen-
"O anteprojeto, nos arts. 1.0 te, que é o Conselho Nacional
e 4.°, propõe a criação do Con- de Economia."
ANEXO N.o 3

Segunda Tentativa - Govêrno Juscelino Kubitschek


- Decreto de Criação do Conselho do Desenvolvi-
mento (Dec. n.O 38744, de 1.°/2/1956)

Cria o Conselho do Desen- § 2.° O Conselho do Desen-


volvimento e dá outras provi- volvimento se valerá da colabo-
dências. ração do Conselho N acionaI de
Economia.
O Presidente da República,
usando da atribuição que lhe Art. 2.° Compete ao Conse-
confere o artigo 87, número I, lho estudar as medidas necessá-
rias à coordenação da política
da Constituição, Decreta:
econômica do País, particular-
Art. 1.0 Fica criado, direta- mente no tocante ao seu desen-
mente subordinado ao Presi- volvimento econômico, elabo-
dente da República, o Conse- rar planos e programas visando
lho do Desenvolvimento (CD), a aumentar a eficiência das ati-
constituído pelos Ministros de vidades governamentais e a fo-
Estado, Chefes do Gabinete mentar a iniciativa privada;
analisar relatórios e estatísticas
Militar e Gabinete Civil da
sôbre a evolução dos vários se-
Presidência da República, Pre-
tores da economia; estudar e
sidente do Banco do Brasil e preparar projetos de leis, de-
do Banco Nacional do Desen- cretos e atos administrativos,
volvimento Econômico. bem como manter-se informado
§ 1.0 O Presidente da Re- da implementação das medidas
pública designará um suplente aprovadas.
para cada membro do Conse- Art. 3.0 O Conselho será
lho, que o substituirá em suas convocado por parte do Presi-
ausências. dente da República, sendo pre-
150 CADERNOS DE ADl\lINISTRA'ÇÃO PÚBLIOA

sidido em sua ausência, rota ti- 1952, e de acôrdo com os crité-


vamente, por um dos Ministros rios aprovados pelo Presidente
de Estado que o compõem. da República.
Art. 4. 0 O Conselho terá Art. 5. 0 Mediante aprova·
uma Secretaria-Geral, consti- ção do Presidente da Repúbli-
tuída por servidores civis e mi- ca, a Secretaria-Geral poderá
litares, requisitados de autar- organizar grupos de trabalho
quias, emprêsas de economia para estudos especiais, consti·
mista e outras entidades, e por tuídos por servidores públicos
pessoal contratado, com as atri- ou pessoas de reconhecida com·
buições constantes das instru- petência estranhos ao serviço
ções que forem aprovadas pelo público.
Presidente da República.
Art. 6. 0 O Secretário-Geral
§ 1. 0 O Conselho será assis- do Conselho poderá solicitar
tido por Consultores Especiais, aos Ministérios e demais órgãos
escolhidos pelo Presidente da do Poder Executivo a elabora-
República dentre pessoas de ção de estudos, projetos e rela-
notório saber e competência tórios especiais sôbre proble-
técnica. Os Consultores Espe- mas de interêsse para o Con-
ciais poderão ser convocados selho.
para as reuniões do Conselho
ou de seus grupos de trabalho. Art. 7. 0 As despesas com o
Conselho correrão, no corrente
§ 2. 0 O Secretário-Geral exercício, à conta do Anexo
será designado pelo Presidente '1.14, verba 1.6.22, item 5, do
da República, dentre os mem- Orçamento Geral da União
bros do Conselho. (Lei n. O 2665, de 6.12.1955).
§ 3. 0 O estudo e a elabora-
ção de projetos e relatórios téc- § 1.0 A dotação orçamentá-
nicos poderão ser cometidos aos ria será utilizada mediante
Consultores Especiais, ou a ser- adiantamentos requisitados pe-
vidores públicos sem prejuízo lo Secretário-Geral, na medida
das suas funções normais, me- das necessidades, à autoridade
diante gratificação na forma do competente.
art. 145, inciso VII, da Lei n. O § 2. 0 Os adiantamentos se-
1 711, de 28 de outubro de rão comprovados perante o
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 151

Tribunal de Contas, na forma Nereu Ramos


da legislação em vigor. Antônio Alves Câmara
Henrique Lott
Art. 8.° :f'.ste Decreto entra-
José Carlos de Macedo
rá em vigor na data de sua pu-
Soares
blicação, revogadas as disposi-
José Maria Alkmin
ções em contrário.
Lúcio Martins Meira
Rio de Janeiro, 1.0 de feve- Ernesto Dornelles
reiro de 1956; 135.° da Inde- Clóvis Salgado da Gama
pendência e 68. 0 da República. José ParsifaI Barroso
Vasco Alves Sêco
JUSCELINO KUBITSCHEK DE Maurício Campos de Me·
OLIVEIRA deiros.
ANEXO N.o 4

Terceira Tentativa - Govêrno Jânio Quadros - De-


creto n.o 51152, de 5/8/1961 - Criação da Comissão
Nacional de Planejamento

Cria a Comissão Nacional de suas condições estruturais e o


Planejamento. comportamento vegetativo da
O Presidente da República, economia nacional não assegu-
usando dos podêres que lhe ram o crescimento mínimo
confere o artigo 87, inciso l, da compatível com as necessidades
Constituição, e do País;
Considerando: d) que as técnicas e progra-
mação foram criadas e aprimo-
a) que é objetivo fundamen· radas como instrumento para
tal do País melhorar as condi·
atingir o ritmo de desenvolvi-
ções de bem-estar do povo bra-
mento mais rápido compatível
sileiro, o que depende de um
com os recursos disponíveis;
esfôrço de desenvolvimento da
economia nacional; e) que o desenvolvimento
acarreta inevitáveis mudanças
b) que êsse desenvolvimento
da estrutura econômica e social
deve ser orientado no sentido
de uma efetiva ocupação do do país, bem como requer a
vasto território brasileiro e do atualização constante de aspec-
crescimento equilibrado das tos de seu aparelho institu-
distintas regiões que o consti- cional;
tuem; t) que cabe ao Govêrno alta
c) que o incremento rápido responsabilidade como elemen-
da renda per caPita brasileira to propulsor e disciplinador do
não pode ficar entregue ao au- processo de desenvolvimento,
tomatismo do mercado, pois as em coordenação com a ação dos
154 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PúBLICA

setores privados, que deve es- a) Conselho Deliberativo


timular e amparar; b) Conselho Consultivo
() Secretaria Técnica
g) que o desenvolvimento é
objetivo nacional permanente Art. 3.° O Conselho Deli-
que só poderá. ser alcançado berativo será presidido pelo
pela continuidade administra- Presidente da República e in-
tiva e pela racionalização cres- tegrado pelos Ministros de Es-
cente do esfôrço coletivo, que tado, Chefes das Casas Civil e
permitem a redução constante Militar, Coordenador-Geral da
dos custos sociais desta política; Assessoria Técnica da Presi-
li) que o planejamento com dência da República, Presiden-
a ampla colaboração de tôdas tes do Banco Nacional do De-
as classes sociais é o único senvolvimento Econômico e do
meio que possibilitará o país Banco do Brasil, Diretor-Ge-
estabelecer a completa deter- ral do Departamento Adminis-
trativo do Serviço Público, Di-
minação do seu destino, sem sa-
retor-Executivo da Superinten-
crificar as liberdades democrá-
dência da Moeda e do Crédito
ticas e individuais, decreta:
e Diretor Técnico da Comissão
Art. 1.0 Fica criada a Co-
N acionaI de Planejamento.
missão Nacional de Planeja-
mento que terá por incumbên- Parágrafo único. - As reu-
cia elaborar um plano plurie- niões do Conselho Deliberati-
nal de desenvolvimento econô- vo serão secretariadas pelo Di-
mico e social do País, côntrolar retor Técnico da Comissão Na-
sua execução e sugerir as mo- cional de Planejamento.
difrações ditadas pelo compor- Art. 4.° - O Conselho Con-
tamento das conjunturas nacio- sultivo será integrado pelo Di-
nal e internacional. retor Técnico, Diretor Adjun-
P<lrágrafo único. A Comis- to e personalidades designadas
são Nacional de Planejamento pelo Presidente da República.
é diretamente subordinada ao Art. 5.° - A Secretaria Téc-
Presidente da República. nica terá um Diretor Técnico,
Art. 2.° A Comissão Nacio- um Diretor Adjunto, Técnicos
nal de Planejamento tem a se- Comissionados e mais os técni-
guinte estrutura: cos e pessoal administrativo
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 155

exigidos para a boa execução percussões econômicas, sociais


dos trabalhos. e políticas, das medidas a se-
Art. 6.° - O Diretor Técni- rem adotadas.
co, o Diretor Adjunto e os Parágrafo único. O Conse-
Técnicos Comissionados serão lho Consultivo, sempre que
designados pelo Presidente da necessário, ouvirá representan-
República. tes das Classes Produtoras, dos
Parágrafo 1.° - O Diretor Trabalhadores e de outras en-
Técnico e os Técnicos Comis- tidades cuja audiência seja útil
sionados serão escolhidos den- aos trabalhos do planejamento.
tre especialistas de alto nível Art. 9.° - Compete à Secre-
nos assuntos de interêsse da taria Técnica:
Comissão. a) preparar, nos seis meses
Parágrafo 2.° - As funções que se seguirem à sua instala-
de Diretor Adjunto serão exer- ção, o Primeiro Plano Qüin-
cidas por Economista da Asses- qüenal de Desenvolvimento
soria Técnica da Presidência Econômico e Social;
da República. b) acompanhar e controlar
Art. 7.° - Compete ao Con- a execução do Plano, e pro-
selho Deliberativo: por aperfeiçoamento e medi-
a) aprovar a política nacio- das complementares, que se fi-
nal de desenvolvimento econô- zerem necessárias;
mico e social; c) apresentar relatório anual
b) aprovar o plano plurie- dos resultados obtidos, e suge-
nal e suas revisões anuais; rir as modificações reclamadas
c) deliberar sôbre outras me- pelas conjuntu~as nacional e
(licl as sugeridas pela Secretaria in ternacional;
Técnica; d) colaborar com o Depar-
Art. 8.° - Compete ao Con- tamento Administrativo do Ser-
selho Consultivo: "iço Público na preparaç!o
a) acompanhar os trabalhos da Proposta Orçamentária da
de planejamento; União, com o fim de confor-
b) discutir a metodologia e má-la estritamente à política de
recomendar as modificações ca- desenvolvimento econômico e
bíveis; social consubstanciada no Pla-
c) opinar sôbre possíveis re- 110 Qüinqüenal;
156 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PúBLIOA

e) prover os serviços de se- d) superintender os traba-


cretaria para os trabalhos e lhos da Secretaria Técnica;
reuniões dos Conselhos Delibe- e) sugerir a metodologia a
rativo e Consultivo; ser adotada para a preparação
f) colaborar com a Assesso- do Plano Qüinqüenal;
ria Técnica da Presidência da f) constituir grupos de tra-
República. balho para o exame e estudos
Parágrafo único. Caberá aos de problemas específicos;
órgãos da Administração Fede- g) sugerir ao Presidente da
ral, autarquias e sociedades de República atribuição de estu-
economia mista preparar os dos e levantamentos, de inte-
programas correspondentes aos rêsse do Plano, a outros órgãos
setores ou áreas de suas respec- da Administração Pública, po-
tivas competências, dentro das dendo contratar tais serviços,
normas e diretrizes estabeleci- se necessano, com entidades
das pela Secretaria Técnica. privadas de reconhecida ido-
neidade técnica;
Art. 10 - Compete ao Dire-
tor Técnico: h) contratar e demitir pes-
soal técnico e administrativo
a) Encaminhar ao Conselho para trabalhos específicos do
Deliberativo o projeto do pla- Plano;
no de desenvolvimento econô- i) promover as providências
mico e social; cabíveis para a requisição de
b) propor ao Presidente da servidores públicos e de enti-
República medidas necessárias dades autárquicas;
ao rápido e equilibrado desen- j) fixar a retribuição por
volvimento do País; servi ços técnicos e administra-
c) levar aos Ministros inte- tivos prestados aos órgãos da
ressados, ou diretamente ao Comissão;
Presidente da República, suas k) autorizar as despesas pre-
observações sôbre as medidas vistas no orçamento da Co-
adotadas ou propostas por Co- missão;
missões ou Órgãos Federais e 1) participar ou fazer-se re-
que possam comprometer o su- presentar em Comissões ou
cesso do Plano Qüinqüenal; Grupos de Trabalho criados na
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 157

esfera do Govêrno Federal, que preparado pela Secretaria Téc-


tenham por objeto o estudo de nica;
medidas que afetam, direta ou c) substituir o Diretor Téc-
indiretamente, o desenvolvi- nico nos seus impedimentos.
mento econômico e social do Art. 12 - A Secretaria Téc-
País; nica promoverá entendimentos
m) aceitar e promover a co- com os órgãos de planejamento
laboração de instituições priva- regional, visando ao perfeito
das de pesquisas técnico-cientí- entrosamento dos programas de
ficas de interêsse para os tra- desenvolvimento regional e na-
balhos a cargo da Comissão; cional.
n) secretariar as reuniões do Parágrafo único. Em caso
Conselho Deliberativo; de discordância básica, o Dire-
o) encaminhar ao Presiden- tor Técnico e o dirigente do
te da República no prazo de organismo regional interessado
trinta dias a contar da data de submeterão o problema à apre-
publicação do presente decre- ciação do Conselho Delibera-
to o projeto do Regimento Jn- tivo.
terno da Comissão Nacional Art. 13 - O Plano Qüinqüe-
do Planejamento. nal discriminará os investimen-
Parágrafo único. A distri- tos e especificará as medidas
buição de tarefas de estudos, de ordem institucional, neces-
levantamentos e programação sários ao mais rápido desen-
entre os vários órgãos da Admi· volvimento econômico e social
nistração Federal será aprova- do País.
da por Decreto do Presidente Pará~rafo único. N a for-
da República. mulação do plano serão reexa-
Art. 11 - Compete ao Di- minados e ajustados os progra-
retor Adjunto: mas específicos de Órgãos Fe-
a) acompanhar os trabalhos derais, e entidades autárquicas,
da Secretaria Técnica, opinan· de modo a torná-los compatí-
do sôbre êles; veis com as diretrizes e os obje-
b) encaminhar ao Presiden- tivos do planejamento traça-
te, juntamente com o Diretor dos pelo Conselho Delibera-
Técnico, o Plano Qüinqüenal tivo.
158 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Ar. 14 - Os órgãos da admitidas por decisão do Pre-


Administração Federal, autar- sidente da República.
quias, sociedades estatais ou
ele economia mista comunica- Art. 16 - O Secretário-Ge-
rão imediatamente à Secretaria ral do Conselho do Desenvol-
Técnica da Comissão Nacional vimento porá à disposição dos
de Planejamento seus progra- órgãos da Comissão Nacional
mas de investimento ou de re- de Planejamento as instalações
formas institucionais em exe- e o pessoal administrativo e
cução, em elaboração ou já técnico de que dispuser.
prontos, bem como relação de Art. 17 - Os serviços da Co-
Comissões e Grupos de Traba-
missão Nacional de Planeja-
lho em suas respectivas juris-
mento serão instalados nas lo-
dições, que tenham a seu cargo
o exame de assuntos ligados calidades mais indicadas para
direta ou indiretamente ao de- o êxito dos enGlrgos que lhe
senvoh·imento econômico e so- são cometidos.
cial do país. Art. 18 - 1?ste Decreto en-
Art. 15 - Os estudos e le- trad em vigor na data da sua
vantamentos solicitados, e bem publicação revogadas as dispo-
assim as requisições de pessoal, sições em contrário.
aos órgãos da Administração
Brasília (DF), 5 de agôsto
Federal, autarquias, sociedades
de 1961. - 140.° da Indepen-
estatais ou de economia mista
para a Comissão Nacional de dência e 73.° da República.
Planejamento deverão ser aten-
clidos com absoluta prioridade. JÂNIO QUADROS

Padgrafo único. As exceções C lóvis Pestana


a êsse respeito só poderão ser Oscar Pedroso Horta
ANEXO N.o 5

Quarta Tentativa - Govêrno Parlamentar Tancredo


Neves (Dec. n.() 154, de 17/11/1961) - Reformula
a COPLAN e amplia sua estrutura

Altera o Decreto n.() 51 152, dos por órgãos públicos ou en-


de 5 de agósto de 1961. tidades privadas.
O Presidente do Conselho de Art. 3.° - A Comissão Na-
Ministros, usando da atribui- cional de Planejamento será
ções que lhe confere o art. 18, suhordinada ao Presidente do
item IH, do Ato Adicional de- Conselho de Ministros, e terá
creta: a seguinte estrutura:
Art. 1.0 - A Comissão Nacio- a) Conselho Deliberati\'o;
nal de Planejamento (COPLAN) b) Comissão de Coordena-
reger-se-á pelo Decreto n.O ção-Geral;
51 152, de 5 de agôsto de 1961, c) Secretaria Técnica;
com as alterações elo presente
Decreto. d) Comissões de Coordena-
ção, Regional e Setoriais;
Art. 2.° - A Comissão Na-
cional de Planejamento tem e) Grupos de Trabalho.
por finalidade: Art. 4.0 - O Conselho Deli-
a) reunir, coordenar ou rea- berativo será presidido pelo
lizar os estudos e levantamen- Presidente do Conselho de Mi-
tos necessários ao planejamen- nistros e integrado pelos Mi-
to plurianual do desenvolvi- nistros de Estado.
mento econômico e social do § 1.0 - Compete ao Conse-
país; lho Deliberativo:
b) coordenar e harmonizar a) aprovar a orientação ge-
em planos gerais e setoriais, os ral, as políticas setoriais e os
programas e projetos elabora- critérios de prioridade a serem
160 CADERNOS DE ADMINrSTRAlçAO PÚBLICA

observados na elaboração de § 2.° - A Comissão de Coor-


planos, programas e projetos; denação-Geral terá por finali-
b) aprovar os planos pluria- dade:
nuais e suas revisões; a) opinar sôbre as propos-
c) decidir sôbre normas e tas de planos plurianuais a se-
providências que lhe sejam rem submetidas ao Conselho
submetidas pela Secretaria Téc- Deliberativo;
nica. b) harmonizar a ação e as
§ 2.0 - O Conselho Delibe- políticas dos órgãos que a in-
rativo reunir-se-á sempre que tegram, a fim de segurar a exe-
convocado pelo seu Presiden- cução dos planos aprovados
te e será secretariado pelo Se- pelo Conselho Deliberativo.
cretário-GeraI da COPLAN. Art. 6.° - A Comissão de
Art. 5.° - A Comissão de Coordenação Regional será
Coordenação Geral será cons- constituída pelos superinten-
tituída pelos Presidentes do dentes dos órgãos de desenvol-
Banco do Brasil e do Banco vimento regional e por um
N acionaI do Desenvolvimento coordenador da Secretaria Téc-
Econômico, pelo Diretor-Geral nica da COPLAN, e a ela compe-
do Departamento Administra- tirá a harmonização dos pro-
tivo do Serviço Público, pelo gramas setoriais com o plane-
Diretor Executivo da Superin- jamento regional.
tendência da Moeda e do Cré- Art. 7.0 - A Secretaria Téc-
dito, pelo Diretor-Geral da nica será dirigida por um Se-
Fazenda Nacional, pelo Di- cretário-Geral designado pelo
retor-Geral do Departamento Presidente do Conselho de Mi-
N acionaI do Trabalho e pelo nistros, e será integrada pelo
Secretário-Geral da COPLAN. pessoal técnico e administrati-
§ 1.0 - A Comissão de Coor- vo necessário ao desempenho
denação-Geral s e r á presidi- de suas atribuições.
da pelo Diretor-Executivo da Parágrafo único - A organi-
SUMOC, que a convocará a pe- zação da Secretaria Técnica
dido de qualquer dos seus será estabelecida em Regimen-
membros. to interno, que será aprovado
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 161

por despacho do Presidente do mentárias da União e dos ór-


Conselho de Ministros. gãos ou entidades descentrali-
Art. 8.° - Compete à Secre- zadas, a fim de assegurar a con-
taria Técnica: formidade dessas propostas com
a) estudar e propor ao Con- planos plurianuais aprovados
selho Deliberativo as normas pelo Conselho Deliberativo;
que deverão ser observadas g) acompanhar a execução
pelos órgãos de planejamento dos planos aprovados e propor
na elaboração de planos, pro- as modificações ou providên-
gramas e projetos; cias relativas a sua execução;
b) reunir, coordenar ou rea-
h) fazer relatório periódico
lizar os estudos que forem ne-
cessários à definição de políti- dos trabalhos ela COPLAN e da
cas e critérios de prioridade, e execução dos planos aprovados;
à elaboração de planos gerais; i) organizar e coordenar os
c) promover as reuniões das grupos de trabalho que consti-
Comissões de Coordenação e tuir por determinação do Pre-
dos grupos de trabalho, e pro- sidente do Conselho Delibera-
ver os serviços de secretaria tivo, ou por iniciativa própria.
para o seu funcionamento; Art. 9.° - Compete ao Secre-
d) de acôrdo com os órgãos tário-Geral:
ou entidades interessadas, pro- a) sob a orientação do Pre-
ver assistência técnica para im- sidente do Conselho Delibera-
plantação de órgãos de plane- tivo, dirigir os serviços da Se-
jamento ou elaboração de pla- cretaria Técnica;
nos, programas ou projetos a b) promover as providên-
cargo dêsses órgãos ou entida- cias para a requisição de pes-
des; soal técnico e administrativo
e) reunir, coordenar e har- da administração federal, de
monizar os palnos setoriais no órgãos descentralizados e socie-
plano plurianual de desenvol- dades de economia mista;
vimento; c) contratar pessoal para ta-
f) colaborar com o DASP e refas específicas e praticar os
com os órgãos ou entidades atos de administração de pes-
descentralizadas da União, na soal, podendo delegar atribui-
elaboração das propostas orça- ções;
162 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

d) contratar estudos, levan- de organização de planejamen-


tamentos e projetos necessários to providenciarão a sua insti-
à elaboração dos planos; tuição, a pedido da COPLAN.
e) autorizar despesas, de § 3. 0 - De acôrdo com o ór-
acôrdo com o orçamento em gão ou entidade interessado, a
vigor; COPLAN prestará a assistência
f) apresentar as propostas técnica necessária à implanta-
submetidas à Comissão de Coor- ção elêsses órgãos de planeja-
denação-Geral e ao Conselho mento ou à elaboração de pla-
Deliberativo; nos, programas e projetos.
g) formular propostas e su- Art. 11 - A harmonização
gestões relativas à elaboração dos projetos, programas e pla-
de planos, programas e proje- nos setoriais será realizada atra-
tos, e à sua execução; vés de Comissões permanentes
h) promover a colaboração de coordenação setorial, espe-
de entidades públicas e priva- cializadas segundo os princi-
das na realização das finalida- pais setores econômicos e so-
des da COPLAN. ciais e tendo em vista a estru-
Art. 10 - Os planos regio- tura do plano geral.
nais e setoriais, e os projetos § 1. 0 - As Comissões de coor-
que o integrarem, serão elabo- denação setorial serão consti-
rados pelos órgãos da adminis- tuídas pelos órgãos ou entida-
tração pública, autarquias e des com competência ou ativi-
outras entidades descentraliza- dade no respectivo setor além
das, e sociedades de economia de um coordenador da Secre-
mista, de acôrdo com as nor- taria Técnica da COPLAN.
mas e orientações, e dentro elos § 2. 0 - Os membros das 0.,-
limites aprovados pelo Conse- missões de Coordenação serão
lho Deliberativo, e de acôrdo representados pelos chefes dos
com as decisões adotadas nas respectivos órgãos de planeja-
Comissões de Coordenação. mento.
§ 1. 0 - Essa elaboração ca- § 3. 0 - A pedido de algum
berá aos órgãos de planejamen- dos membros, ou o Secretário-
to de cada órgão ou entidade. -Geral da COPLAN} poderá ser
§ 2. 0 - Os órgãos ou entida- convocada reunião com a pre-
des que ainda não dispuserem sença dos dirigentes gerais dos
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 163

membros da Comissão para Decreto n.O 51 152, de 5 de


discussão de determinados pro- agôsto de 1961, e demais dis-
blemas. posições em contrário.
Art. 12 - Os serviços da Brasília, 17 de novembro de
COPI.AN correrão à conta das
1961; 140. 0 da Independência
dotações orçamentárias que lhe e 73. 0 da República.
forem consignadas ou dos re-
cursos que lhe forem destina- T ANCREDO NEVES
dos por membros das suas co- A lfredo Nasser
missões para a realização de ta- Ângelo Nolasco
refas de interêsse comum. João Segadas Vianna
Parágrafo único - As despe- San Tiago Dantas
sas da COPLAN serão objeto de Walter Moreira Salles
orçamento que será aprovado e Virgílio Tdvol'a
alterado por despacho do Pre- Armando Monteiro
sidente do Conselho de Minis- Antônio de Oliveira Brito
tros. André Franco Montara
Art. 13 - O presente Decre- Clóvis M. Travassos
to entrar,í em vigor na data de Souto Maior
sua publicação, revogados os Ulysses Guimarães
artigos 1.0 e 11, inclusive do Gabriel Passos
ANEXO N.o 6

Quinta Tentativa - Govêrno João Goulart - Pro-


jeto de Decreto submetido ao Presidente da Repú-
blica em Abril de 1963, Pelo Ministro Extraordinário
Celso Furtado

Considerando que ao Govêr- pido desenvolvimento e pre-


no Federal cabe alta responsa- servação das liberdades demo-
bilidade como elemento pro- cráticas exige ação previsora
pulsor e disciplinador do pro- efetiva do Poder Público visan-
cesso de desenvolvimento eco- do a remover os obstáculos ins-
nômico e social do país; titucionais ao desenvolvimento
considerando que êsse desen- econômico e social;
volvimento deve ser orientado considerando que o Govêrno
no sentido de efetiva ocupação Federal é responsável por par-
do vasto território nacional e te substancial dos investimen-
do crescimento equilibrado das tos que se realizam no territó-
distintas regiões que constituem rio nacional, sendo essa parti-
o País; cipação decisiva nos setores in-
considerando que o quadro boa-estruturais e básicos;
institucional democrático, em considerando que a orienta-
que se conciliam a liberdade de ção dos investimentos públicos
emprêsa e a ação orientadora exige uma percepção global do
e supletiva do Poder Público, processo de desenvolvimento e
permite alcançar uma alta taxa uma análise prospectiva da5
de crescimento econômico pre- tendências dêsse desenvolvi-
servando o sentido individua- mento;
lista de nossa cultura; considerando que para al-
considerando que a conse- cançar e manter um ritmo ele-
i:ução do duplo objetivo de rá- vado de desenvolvimento em
166 CAD}!;RNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

condições de adequada estabi- tos de estrangula-


lidade se requer efetiva coor- mento;
denação dos múltiplos objeti- VIII - identificação prospec-
vos da política econômica, par- tiva das modifica-
ticularmente no que respeita a: ções na composição
I - ordenação dos estí- da procura, decorren-
mulos ~l iniciativa tes da elevação da
privada; renda, visando a ata-
II - estímulos às pou- lhar desequilíbrios
panças individuais e estruturais resultan-
institucionais; tes de insuficiente
III orientação das apli- diferenciação da ofer-
cações dos institutos ta de origem 1Il-
de previdência e GII- terna;
xas econômicas; IX orientação da políti-
IV - estímulos efetivos às ca creditícia, visan-
exportações; do à plena utiliza-
V - utilização da capaci- ção da capacidade
dade para importar, produtiva e ao equi-
em rigorosa conso- líbrio interno e ex-
nância com as ne- terno;
cessidades do desen- X - orientação da políti-
volvimento; ca fiscal, visando ao
VI - equilíbrio das con- adequado financia-
tas externas em fun- mento do setor pú-
ção da capacidade blico e a uma dis-
efetiva de endivida- tribuição da renda
mento do País; que permita alcan-
VII - identificação dos se- çar os objetivos so-
tores que I i d e r a m CIaIS do desenvolvi-
as transformações es- mento;
truturais requeridas XI - orientação da políti-
pelo desenvolvimen- ca salarial para asse-
to, com vistas a evi- gurar uma justa par-
tar formação de pon- ticipação dos assüla-
UMA TEORIA GEHAL DE PLANEJAMENTO 167

riados nos frutos do considerando, f i n a I m e n·


aumento de produti- te, que a coordenação dos
vidade do conjunto múltiplos objetivos da política
da economia; econômica e social permite au-
XII vigilância do funcio- mentar o ritmo do desenvolvi-
namento do sistema mento, com redução do seu
de preços, para loca- custo social, e que essa coorde-
lizar a ação anti-so- nação somente pode ser alcan-
cial de grupos e ata- çada pelo planejamento plurie-
lhar os abusos do nal ela ação elo Poeler Público
poder econômico; nas esferas pertinentes,
XIII - definição dos inves-
DECRETA:
timentos a serem rea-
lizados para aperfei- Art. 1.0 É criaelo o Sistema
çoamento do fator N acionaI ele Planejamento, que
humano em função terá a incumbência ele elaborar
dos planos de desen· e reformar anualmente o Plano
volvimento econômi- N acionaI ele Desenvolvimento
co e social; Econômico e Social, assim como
XIV - definição das neces- assegurar a sua adequada exe-
sidades de investi- cução.
mentos em pesquisa Art. 2.° São órgãos do Siste-
recursos naturais, in- ma Nacional de Planejamento:
clusive f o n te s de a) Conselho do Desenvolvi-
energia, com perspec- mento Nacional (CDN);
tivas a longo prazo; b) Gabinete do Ministro
XV - definição das neces- Para Assuntos ele Planeja-
sidades de investi- mento;
mentos em pesquisas c) Secretaria Executiva.
tecnológicas, visando
a uma adequação dos I - DO CONSELHO DO DE-
SENVOLVIMENTO NACIO-
processos à constela- NAL
ção de recursos dis-
poníveis no País e Art. 3.° O CDN será pre-
ao estágio do seu de- sidido pelo Presidente da Re-
senvolvimento; pública e constituído dos Mi·
168 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

nistros de Estado e Chefes da ria Executiva, e para tomar co-


Casa Civil e Militar. nhecimento dos relatórios rela-
Parágrafo único - O CDN tivos à execução do Plano pelos
se reunirá uma vez por ano Ministérios e outros órgãos exe
para aprovar a reformulação cutivos.
do Plano de Desenvolvimento § 2.° - As Comissões se des-
Econômico e Social elo Govêrno, dobrarão em subcomissões téc-
e sempre que o convoque o nicas, na forma estabelecida em
Presidente da República. Regimento, cabendo a estas úl-
Art. 4.° Cada membro titu- timas articular de forma per-
lar do CDN designará um su- manente os trabalhos dos dis-
plente, de preferência o chefe tintos órgãos responsáveis pelo
do órgão de planejamento do planejamento dentro dos Mi-
Ministério respectivo, o qual nistérios e entidades indepen-
integrará uma ou mais das Co- dentes com as atividades da Se-
missões referidas no artigo se- cretaria Executiva.
guinte: § 3.° O Ministro Extraordi-
Art. 5.° - Integram o CDN nário a cargo dos Assuntos do
as seguintes Comissões: Planejamento presidirá as reu-
Comissão de Política Eco- niões das Comissões e poderá
nômica (CPE) convocá-las sempre que o jul-
Comissão de Planejamen- gar conveniente.
to Setorial (CPS) § 4.° Nas reuniões das Co-
Comissão de Planejamento missões o Ministro Extraordi-
Regional (CPR) nário a cargo do Planejamento
Comissão de Planejamento poderá fazer-se representar pelo
Social (CPSo) diretor da Secretaria Executiva
Comissão de Coordenação ou dos Departamentos desta.
da Cooperação Internacio- Art. 6.° Integram a Comis-
nal (CCCI) são ele Política Econômica:
§ 1.0 As Comissões celebra-
rão uma sessão ordinária plena, Suplente do Ministro da
cada dois meses, para apreciar Fazenda
os projetos integrantes do Pla- Suplente do Ministro da
no, apresentados pela Secreta- Indústria e Comércio
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 169

Suplente do Ministro da Suplente do Ministro da


Viação e Obras Públicas Viação e Obras Públicas
Suplente do :Ministro da Suplente do Ministro da
Agricultura Agricultura
Suplente do Ministro do Suplente do Ministro da
Trabalho e Previdência Guerra
Social Suplente do Ministro da
Suplente do Ministro das Marinha
Minas e Energia Suplente elo Ministro da
Suplente do Ministro das Aeronáutica
Relações Exteriores Representante do BNDE
Representante da SUMOC Representante da CACEX
Representante do Banco do Representante do Conselho
Brasil S/A. N acionaI de Estatística
Representante do BNDE Representante do Conselho
Nacional de Pesquisas
Parágrafo único. Para inte-
tegrar as subcomissões serão Parágrafo único. Para inte-
convocados representantes dos tegrar as subcomissões serão
seguintes órgãos: SUPRA, SUNAB, convocados representantes dos
Comissão de Financiamento da seguintes órgãos: Instituto Na-
Produção, Conselho Nacional cional de Tecnologia, Associa-
de Águas e Energia Elétrica, ção Brasileira de Normas Téc-
Conselho Nacional ,do Petró- nIcas, SUPRA, SUNAB, SUDEPE,
leo, Conselho Nacional de Te- Cia. Brasileira ele Armazena-
lecomunicações, Conselho Na- mento, ACEF, PETROBRÁS, CEPCAN,
cional de Transportes, Comis- Eletrobrás, Depto. Nacional de
são de Marinha Mercante, Con- Portos, Rios e Canais, Depto.
selho de Polícia Aduaneira. Nacional de Estradas de Ferro,
Diretoria da Aeronáutica Civil,
Art. 7.° Integram a Comis- Comissão Nacional de Ener-
são de Planejamento Setorial: gia Nuclear.
Suplente do Ministro da Art. 8.° Integram a Comis-
Indústria e Comércio são de Planejamento Regional:
Suplente do Ministro das Representante da SPVEA
Minas e Energia Representante da SUDENE
170 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PúBLICA

Representante da CVSF Suplente do Ministro das


Repres~ntante do DNOCS Relações Exteriores
Representante da Comis- Suplente do Ministro da
são de Valorização da Fazenda
Fronteira Sudoeste Representante da SUMOC
Representante do Conselho Representante do BNDE
N acionaI de Geografia Representante da SUDENE
Parágrafo único_ Para inte- Representante da SPVEA
grar as subcomissões serão COIl- Representante da CACEX
vidados representantes dos ór- Representante da Carteira
gãos estaduais de planejamento. de Câmbio.
Art. 9.° Integram a Comissão
de Planejamento Social: Parágrafo único. Para inte-
Suplente do Ministro da grar as subcomissões serão con-
Educação vocados representantes dos ór-
Suplente do Ministro da gãos beneficiários da ajuda téc-
Saúde nica e financeira internacim1al.
Suplente do Ministro do Art. 11 Os representantes de
Trabalho e Previdência órgãos autônomos nas Comis-
Social sões serão indicados pelos ti-
Parágrafo único. Para inte- tulares dêsses órgãos.
grar as subcomissões serão Art. 12 As subcomissões se-
convocados representantes do rão constituídas por técnicos da
Depto. Nacional de Obras e competência específica de cada
Saneamento, do Depto. N acio- uma, indicados pelo Ministro
naI de Saúde, Fundação Servi- Extraordinário a cargo do
ço Especial de Saúde Pública, Planejamento e pelos membros
Conselho Nacional de Pesqui- das Comissões, de preferência
sas, Comissão N acionaI de dentre aquêles que integram
Energia Nuclear, Institutos de os órgãos de planejamento dos
Previdência Social, Caixas Eco- Ministérios e da Secretaria Exe-
nômicas Federais, Fundação da cutiva.
Casa Popular. Art. 13 As funções de mem-
Art. 10 Integram a Comissão bro de Comissão e Subcomissão
de Coordenação da Coopera· serão exercidas sem prejuízo das
ção Internacional: atividades nos órgãos a que
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 171

pertencem os membros das e) indicação das medidas de


mesmas. caráter social destinadas a asse-
gurar que os frutos do desen-
II - DO PLANO DE DESEN- volvimento beneficiem o con-
voLvIMENTo ECONÔ-
MICO E SOCIAL junto ela população do País.
§ 2.° - O Plano de Desen-
Art. 14. Seni estabelecido yolvimento será anualmente re·
anualmente um Plano de De- formulado para abranger um
senvolvimento Econômico e So- período futuro mínimo de três
cial, com base em projeções anos.
globais e setoriais das ativida- Art. 15 - A fim de permitir
des econômicas, o qual indica- a elaboração e reformlllação
rá as diretrizes da ação do Go- anual do Plano de Desenvolvi-
\'êrno no campo econômico e mento, as entidades e órgãos
social e especificará os investi- federais responsáveis por inves-
mentos públicos a serem reali- timentos e pré-investimento')
zados por setores de atividade. deverão encaminhar à Secreta-
§ 1.0 O Plano de Desenvol- ria Executiva, até 31 de dezem-
vimento compreenderá: bro de cada ano, esquema de-
a) análise e projeções das talhado, com a devida justifica-
tendências do desenyolvimento ção, das obras e trabalhos a
do país; realizar em seu setor, no perío-
do futuro mínimo de três anos.
b) estimativa dos investi- Art. 16 - A Secretaria Exe-
mentos públicos e privados ne- cutiva submeterá às Comissões,
cessários para manter a taxa de de acôrdo com a competência
crescimento considerada ade- respectiva, os planos dos distin-
quada; tos órgãos, devidamente apre-
c) diretrizes da política a ciados, para aprovação e inte-
seguir para alcançar os objeti- gração no Plano global.
\'os do desenvolvimento; Art. 17 - As diretrizes gerais
d) identificação das modifi- do Plano, bem como as condi-
cações do tipo estrutural re- ções prévias à consecução do
queridas para dar maior inten- desenvolvimento e da estabili-
sidade ao desenvolvimento e dade, serão apreciadas pela Co-
reduzir seu custo social; missão de Política Econômica
172 CADERNOS DE AD1IfINISTRAÇAO PÚBLICA

e Planejamento Global com a) Superintendência do Pla-


base em proposta da Secretaria no de Valorização Econômica
Executiva. da Amazônia;
Art. 18 - Os órgãos ou en- b) Superintendência do De-
tidades responsáveis pela exe- senvolvimento do Nordeste;
cução de obras ou atividades c) Comissão do Vale do São
integrantes do Plano, deverão Francisco;
apresentar à Secretaria Exe- d) Superintendência do Pla-
cutiva: no de Valorização Econômica
a) até Il de dezembro, pla- ela Fronteira Sudoeste do País.
no analítico correspondente ao IH - conhecer e coorelenar
exerCIClO imediato, a fim todos os planos ele ajuda exter-
de que seja elaborado, conjun- na, econômica, financeira e ele
tamente com o Ministério da assistência técnica, prestada a
Fazenda, esquema de desem- órgãos ela administração fe-
bôlso ele recursos; deral;
b) trimestralmente, relatório IV - acompanhar a execução
da execução das obras e ativi- do Plano ele Desenvolvimento
dades de sua responsabilidade, Econômico e Social, indicando
incluídas no Plano. ao Presidente ela República,
I!! - DA COMPET~NCIA DO sempre que julgar conveniente,
MINISTRO DO PLANE- medidas a serem tomadas para
JAMENTO assegurar o êxito dessa exe-
Art. 19 - Cabe ao Ministro cução;
de Estado Extraordinário a V - supervisionar as ativi-
cargo do Planejamento: dades da Secretaria Executiva.
I - dirigir e coorelenar a Art. 20 - O Gabinete do Mi-
elaboração do Plano de Desen- nistro Extraordinário a cargo
volvimento Econômico e So- do Planejamento compreende-
cial a ser submetido ao Conse- r~l uma Assessoria Técnica e
lho Nacional de Desenvolvi- uma Assessoria J uríclica.
mento; Art. 21 - O Ministro Ex-
II - coordenar os planos e traordinário a cargo elo Plane-
atividades dos seguintes órgãos jamento será membro do Con-
de desenvolvimento econômi- selho ela SUMOC) com elireito a
co regional: voto.
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 173
IV - DA SECRETARIA EXE- fas que lhes sejam cometida~
CUTIVA pelo Ministro Extraordinário a
cargo do Planejamento.
Art. 22 - A Secretaria Exe-
cutiva compreende: V - DISPOSIÇOES GERAIS

a) Diretor Executivo; Art. 24 - Passam a integrar


b) Departamento de Progra- a Secretaria Executiva, com
mação Global (DPG); seu acervo e recursos financei-
ros, os seguintes órgãos:
c) Departamento de Indús-
trias; a) Comissão Nacional do
d) Departamento de Trans- Planejamento, criada pelo De-
portes e Comunicações; creto n. O 51 152, de 5-8-61, e
e) Departamento de Energia; alterado pelo Decreto n. O 154,
f) Departamento de Agri- de 17-11-61;
cultura e Abastecimento; b) Conselho do Desenvolvi-
g) Departamento ele Re- mento, criado pelo Decreto n. O
cursos Naturais; 38744, de 1-2-56, alterado pelo
h) Departamento de Estu- Decreto n. O 43393, de 12-3-58;
dos Sociais; c) Comissão de Coordena-
i) Departamento de Coope- ção da "Aliança para o Progres-
ração Internacional; so", criada pelo Decreto n. O
j) Departamento de Do- 1 (JilO, de 22-5-62.
cumentação; Art. 25 - Sempre que não
existam órgãos de planejamen-
k) Departamento de Admi- to criados anteriormente, os
nistração. Ministros de Estado deverão
Art. 23 - Cabe à Secretaria propor a criação em seus Ga-
Executiva, através de seus ór- binetes, de núcleos de planeja-
gãos competentes, realizar as mento, aos quais incumbirá
tarefas preparatórias da elabo- acompanhar a execução do Pla-
ração do Plano de Desenvolvi- no no seu setor, articular os
mento Econômico e Social, trabalhos para reformulação
prestar assessoria técnica às Co- periódica do Plano e prestar
missões constitutivas do Siste- tôda cooperação aos órgãos do
ma Nacional de Planejamento Sistema Nacional do Planeja-
e desempenhar quaisquer tare- mento.
174 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

Art. 26 - As repartições fe- clusive nos casos que envolvam


derais dependentes, as autar- cessão de pessoal, material de
quias, as emprêsas públicas, as consumo, equipamento e lo-
sociedades de economia mista cais de trabalho.
e as fundações subvencionadas
pela União ficam obrigadas a Art. 27 - O presente decreto
prestar a assistência solici tada entrar,í em vigor na data de
pelo Ministro Extraordinário sua publicação, revogadas as
a cargo do Planejamento, in- disposições em contrário.
ANEXO N.o 7

Sexta Tentativa - Govêrno João Goulart - Decreto


n.o 52256, de 11/7/1963 - Criação da Coordenação
do Planejamento Nacional

o Presidente da República, pressão inflacion<iria, possibili-


usando da atribuição que lhe tando·lhe, assim, planejar a in-
confere o art. 87, item I, da tensificação do desenvolvimen-
Constituição Federal: to sem ~omprometer a estabili-
Considerando que ao Govêr- dade do sistema econômico;
no Federal cabe alta responsa- Considerando que a ação go-
bilidade como elemento pro- vernamental deve, com êsse
pulsor e disciplinador do pro- propósito, compreender um
cesso de desenvolvimento eco- conjunto de medidas capaz de
nômico e social do País; assegurar, principalmente, que
se realize o montante de inves-
Considerando que o Plano timentos requerido, orientan-
de Desenvolvimento Econômi- do-se adequadamente para que
co e Social adotado pelo Go- a estrutura da produção se
vêrno tem em vista, como um ajuste à evolução da demanda;
de seus objetivos básicos, asse- Considerando que só através
gurar, no triênio 1963-1965, dessa ordenação será viável a
uma taxa de crescimento da gradativa substituição de im-
renda nacional compatível com portações, ditada pelas nossas
as expectativas de melhoria das atuais limitações na capacidade
condições de vida do povo bra- para importar, bem como o es-
sileiro; tabelecimento de condições que
Considerando que as medi- propiciem integrar a produção
das de contenção postas em nacional nas correntes mais di-
prática até o momento permi- nâmicas do comércio interna-
tem ao Govêrno o contrôle da cional;
176 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

Considerando que a conse- DO DESDOBRAMENTO EXECUTiVO


cução dêsses objetivos depende, DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO
fundamentalmente, de uma ECONÔMICO E SOCIAL
coordenação eficaz que assegu-
re, sobretudo, a oportunidade Art. 2.° - Fica a Coordena-
das decisões a serem tomadas, ção do Planejamento Nacional
com vista a garantir o ritmo incumbida de coordenar, no
de desenvolvimento desejável; prazo de 120 (cento e vinte)
Considerando, f i n a I m e n - dias, em colaboração com os
t e, que a coordenação dos Ministérios civis e militares,
múltiplos objetivos da política órgãos de administração direta,
econômica e social permite au- indireta, de desenvolvimento
mentar o ritmo do desenvolvi- regional, autarquias e emprê-
mento, com redução elo seu sas mistas, a Relação de Proje-
custo social, e que essa coorde- tos Prioritários que, apreciados
nação sómente pode ser alcan- pelos Ministros de Estado, res-
çada pelo planejamento plurie- ponsáveis pelo setor respectivo,
nal da ação do Poder Público e aprovados pelo Presidente da
nas esferas pertinentes, decreta: República, serão implementa-
DA COORDENAÇÃO DO dos pelo Poder Executivo no
período de julho ele 1963 a 31
PLANEJAMENTO NACIONAL de janeiro de 1966.
Art. 3.° - Entende-se por
Art. l.0 - Fica instituída a projeto, para os fins do dispos-
Coordenação do Planejamento to neste Decreto, uma unidade
N acionaI, integrada pelos Che- específica de tarefas, expressa
fes do Gabinete Militar, do Ga- em têrmos de atividades ou
binete Civil e pelo Coordena- obras necessárias ao cumpri-
dor-GeraI da Assessoria Técni- mento de finalidade determi-
ca, que se reunirá, semanal- nada e cujas fases terão carac-
mente, sob a presidência do terização objetiva, obedecendo
Presidente da República. a cronogramas rigorosos de
Parágrafo único. O Coorde- execução física e de dispêndios
nador-Geral da Assessoria Téc- monetários.
nica exercerá as funções de Se- Art. 4.° - O prazo de 120
cretário Executivo do órgão. (cento e vinte) dias, referido
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 177
no art. 2.°, será subdividido vante os serviços pelos mesmo&
em dois períodos iguais, de 60 prestados.
(sessenta) dias cada um, sendo § 2.0 - A Coordenação do
o primeiro destinado à coleta Planejamento Nacional poderá
de dados e informações e o se- designar observadores p a r a
gundo à realização dos traba- acompanhar os trabalhos dos
lhos de revisão, integração, con- Grupos de Planejamento a que
solidação sistematizada e ajus- se refere êste artigo.
tamento da Relação de Proje- § 3.° - Os Ministros de Esta-
tos Prioritários ao esquema ge- do comunicarão, com urgência,
ral de políticas de desenvolvi- à Coordenação do Planejamen-
mento econômico e social e de to Nacional, a composição dos
financiamento do programa. Grupos de Planejamento e seus
locais de funcionamento.
Art. 5.° - Cada Ministro de § 4.° - Os Grupos de Pla-
Estado e dirigentes dos órgãos nejamento constituídos na for-
indicados no art. 2.° promove- ma dêste artigo poderão requi-
rão, dentro do prazo de 8 (oito) sitar informações e servidores
dias contados da vigência dêste de quaisquer órgãos do Minis-
Decreto, a organização e insta- tério a que pertençam, inclu-
lação, em seu Ministério ou sive autarquias e sociedades de
órgãos respectivos, ele um Gru- economia mista pelo mesmo
po de Planejamento incumbi- jurisdicionadas.
do de realizar, na sua área ju- Art. 6.0 - Os projetos sele-
risdicional, a seleção prelimi- cionados preliminarmente se-
nar a ser encaminhada à Pre- rão encaminhados à Coordena-
sidência da República. ção do Planejamento Nacional
§ 1.0 - Os integrantes dos em formulários próprios, con-
Grupos de Planejamento de forme modelos constantes dos
que trata êste artigo ficarão anexos I a 3, dêste Decreto,
sujeitos a regime de tempo in- con tendo, em relação a cada
tegral, desvinculados, assim, de projeto:
quaisquer outras atividades a) justificativa e descrição
pelo período necessário à con- sumária;
clusão das respectivas tarefas, b) caracterização das etapas
considerando de caráter rele- em que se subdivide o empreen-
178 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

dimento, especificando, em re- blica, subordinada à Chefia do


lação a cada uma, a data de Gabinete Civil, na forma esta-
início e de término, o trabalho belecida na alínea c do
a ser realizado, as percentagens art. 3.° do Regimento aprovado
de progresso nos períodos se- pelo Decreto n. ° 51 872, de 1.0
mestrais e mensais indicados, ele abril de 1963, tem por fi-
dispêndios monetários nos mes- nalidade assistir a Coordenação
mos períodos e origem dos re- do Planejamento Nacional na
cursos financeiros necessários, apreciação de políticas e pro-
sempre que houver fonte espe- gramas do Govêrno Federal, de
cificamente consignada. modo a assegurar a adequada
Padgrafo único. Os Grupos execução do Plano de Desen-
de Planejamento de cada Mi- volvimento Econômico e Social.
nistério terão o prazo de 30 Art. 9.° - Compete à Asses-
(trinta) dias para encaminhar soria Técnica:
os dados relativos aos projetos I - orientar a elaboração
em execução e o prazo de 60 e revisões do Plano de Desen-
(sessenta) dias para apresentar volvimento Econômico e So-
as informações relativas aos cial;
projetos a iniciar. II - coordenar a elabora-
Art. 7.° - A Coordenação do ção dos programas de traba-
Planejamento Nacional, junta- lho dos órgãos da administra-
mente com os Ministros da Fa- ção pública direta e indireta;
zenda e das Relações Exterio- III - coordenar os planos
res, estabelecerá o programa de e atividades elos órgãos fede-
recursos financeiros, internos e rais de desenvolvimento eco-
externos, de que o Govêrno nômico regional;
disporá para assegurar a rea- IV - conhecer e coorden~r
lização do Plano de Desenvol- todos os planos de ajuda ex-
vimento Econômico e Social. terna, econômica, financeira
e de assistência técnica;
DA ASSESSORIA TÉCNICA DA
V - acompanhar a exe-
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
cução do Plano de Desenvol-
Art. 8.° - A Assessoria Téc- vimento Econômico e Social,
nica da Presidência da Repú- indicando à Coordenação do
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 179

Planejamento Nacional, sem- dem econômico-social ou que


pre que julgar conveniente, tenham repercussão no Pla-
medidas a serem tomadas no de Desenvolvimento Eco-
para assegurar o êxito dessa nômico e Social;
execução;
X - colaborar com a Se-
VI - manter a Coordena- cretaria de Relações Parla-
ção do Planejamento Nacio- mentares quanto ao esclare-
nal permanentemente infor- cimento das matérias referi-
mada sôbre o andamento dos das no item anterior, em
programas de trabalho do curso no Congresso Nacional;
Govêrno e sôbre a execução
XI - receber, estudar e
das providências determina-
das pelo Presidente da Repú- encaminhar os processos e
blica relativamente a assun- demais papéis submetidos à
deliberação do Presidente da
tos de ordem econômico-so-
República, sempre que se
cial;
referirem a questões de or-
VII - colaborar na elabo- dem econômico-social.
ração das propostas orçamen-
tárias dos órgãos de adminis- Art. 10 - A Assessoria Téc-
tração direta e indireta, har- nica compõe-se de uma Chefia
monizando-as com o Plano e de Diretorias especializadas.
de Desenvolvimento Econô- § 1.0 - O número e as atri.
mico e Social; buições das Diretorias serão
VIII - opinar sôbre maté- determinados em Regimento,
ria de ordem técnica, por de- aprovado por decreto do Pre-
terminação do Presidente da sidente da República.
República, ou por consulta § 2.° - Subordinam-se à As-
dos Chefes dos Gabinetes sessoria Técnica os Grupos de
Militar e Civil; Trabalho criados por decreto
IX - coordenar o preparo do Presidente da República.
de mensagens relativas a Art. 11 - A Chefia da Asses-
anteprojetos de lei, para en- soria Técnica tem por finali·
caminhamento ao Congresso dade superintender, coordenar
Nacional, sempre que se re- e executar tôdas as atividades
referirem a questões de or- atinentes à Assessoria Técnica,
:180 CADERNOS DE ADMINISTRAiÇÁO PúBLICA

de modo a assegurar, na esfera a) superintender os servi-


de sua competência, eficiente ços atribuídos à Assessoria
assistência ao Presidente da Técnica e o respectivo pes-
República. soal;
Art. 12 - A Chefia da Asses- b) baixar portarias, ordens
soria Técnica é constituída por: e instruções de serviço;
a) I (um) Coordenador- c) assinar tôda a corres-
-Geral; pondência oficial da Coorde-
b) 3 (três) Coordenado- nação do Planejamento Na-
res-Gerais Adjuntos, com as cional e da Assessoria Téc-
[unções de assistentes do nica;
Coordenador·Geral. d) transmitir aos Minis-
Parágrafo único. Funciona- tros de Estado as ordens do
rão adidos à Assessoria Téc- Presidente da República nas
llIca: matérias da competência da
Coordenação do Planeja-
a) I (uma) Secretaria Ad- mento Nacional;
ministrativa com as funções
de prestar os serviços admi- e) desincumbir·se da re-
nistrativos de ordem geral, presentação elo Presidente da
necessários à execução dos República q u a n d o de-
trabalhos da Assessoria Téc- signado;
nica; f) elogiar os membros da
b) I (um) Serviço de Do· Assessoria Técnica e o pes-
cumentação, com a atribui- soal dos órgãos subordina-
ção de coligir, ordenar, clas- dos, bem como aplicar-lhes
sificar, guardar e conservar penas disciplinares, de acôr-
textos, documentários, ele- do com o Estatuto dos Fun-
mentos estatísticos, publica- cionários Públicos Civis da
ções, obras e estudos de in- União;
terêsse da Assessoria Técnica. g) aprovar e alterar a es-
Art. 13 - Ao Coordenador- cala de férias do pessoal
-Geral da Assessoria Técnica que lhe é diretamente subor·
compete: dinado;
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 181

h) promover a execução mos elo art. 5.° dêste decreto,


dos demais trabalhos que apresentarão à Assessoria Téc-
lhe f o r e m determinados nica relatórios mensais do pro-
pelo Presidente da Repú- gresso das obras ou atividades
blica; integrantes do Plano e perten-
centes a suas respectivas áreas
i) delegar atribuições que jurisdicionais.
lhe caibam.
Art. 14 - Aos Coordenado- Art. 16 - Passam a subordi-
nar-se à Assessoria Técnica ela
res-Gerais Adjuntos compete:
Presidência da República os
a) colaborar com o Coor- seguintes órgãos:
denador-Geral na superin-
tendência dos serviços atri'- I - da Comissão Nacional
buídos à Assessoria Técnica ele Planejamento criada pelo
e do respectivo pessoal; Decreto n. ° 51 152, de 5 de
agôsto de 1961, e alterada
b) supervisionar os servi- pelo Decreto n. ° 154, de 17
ços auxiliares da própria de novembro de 1961:
Chefia;
c) a t e 11 d e r autoridades, a) Secretaria Técnica;
pessoas e partes em geral, em b) Comissões de Coorde-
nome do Coordenador-Geral; nação, Regional e setoriais;
d) encarregar-se da corres-
pondência da Chefia quan- c) Grupos de Trabalho.
do se tratar de matéria espe- H - da Comissão de Coor-
cial não distribuída à Secre- denação ela "Aliança para o
taria; Progresso". criada pelo De-
e) realizar tarefas que creto n.o I 040, de 22 de
lhes forem delegadas pelo maio de 1962:
Coordenador-Geral;
f) representar o Presiden- - Secretaria.
te da República, quando de- IH - do Conselho de De-
signados. senvolvimento, criado pelo
Art. 15 - Os Grupos de Pla- Decreto n.O 38744, de 1.0 de
nejamento, instituídos nos têr- fevereiro de 1956, alterado
182 CADERNOS DE ADMINISTRNÇAO PÚBLICA

pelo Decreto n. ° 43 393, de Brasília (DF), em 11 de ju-


12 de março de 1959: lho de 1963; 142.° da Indepen-
- Secretaria-Geral. dência e 75.° da República.

Parágrafo único. Cabe ao JOÃO GOULART


Coordenador-Geral da Assesso-
ria Técnica da Presidência ela Abelardo Jurema
República exercer as funções Sylvio Borges de Sousa
de Secretário-Geral dos órgãos Motta
referidos neste artigo. Jair Ribeiro
Evandro Lins e Silva
Art. 17 - Ficam revogados Carvalho Pinto
os arts. 12, 13, 14 e 29 do Re- Expedito Machado
gimento baixado pelo Decreto Oswaldo Lima Filho
n.O 51872, de 1.0 de abril de
Paulo de Tarso
1963, passando as alíneas "a"
Amaury Silva
e "b" do § 4.° do art. 14 a
Anysio Botelho
integrar as atribuições discri-
Wilson Fadul
minadas no art. 30 do mesmo
Regimento. Antônio de Oliveira
Brito
Art. 18 - Êste decreto en- Egydio M ichaelsen
trarft em vigor na data de sua Celso Furtado
publicação, revogadas as dispo- Ernani do Amaral
sições em contrário. Peixoto
ANEXO N.o 8

Sétima Tentativa - Govêrno João Goulart - Pro-


jeto de Criação do Sistema Federal de Planejamen-
to, parte da Reforma Administrativa Federal de
1963, formulada pelo Ministro Extraordinário Er-
nani do Amaral Peixoto
1. APRESENTAÇAO

Quem se familiarizar com a Mesmo as manifestações mais


crônica administrativa brasilei- recentes não se apresentam es-
ra dos últimos vinte e cinco tremes de incertezas, obscurida-
anos, não poderá deixar de des e contradições. Em verda-
perceber a batalha pela assimi- de, a história da implantação
lação do planejamento nas li- do planejamento global nas
des governamentais. práticas administrativas do Go-
vêrno da União é o melhor
Com efeito, desde 1939 vem caso didático que se poderia
o Poder Executivo dando de- encontrar para tipificar o mé-
monstrações explícitas e reite- todo do triaZ and errar.
radas de interêsse pelo plane-
Não é de causar estranheza,
jamento governamental.
entretanto, a longa série de
As primeiras manifestações, medidas oficiais postas em prá-
de 1939 a 1950, embora onero- tica, pelo Executivo e também
sas e traduzidas em documen- pelo Legislativo, embora menos
tos e decisões oficiais, não pas- freqüentemente, a fim de abrir
saram de tentativas explorató- as portas da administração pú-
rias - movimentos bem inten- blica às modernas técnicas do
cionados, porém indecisos - planejamento. Em outros paí-
no sentido de vincular as ati- ses o mesmo tem ocorrido.
vidades governamentais a pla- A experiência comum em
nos periódicos de trabalho. matéria de planejamento go-
184 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

vernamental é ainda exígua e Conquanto não seja exausti-


tateante. Os países subdesen- va, essa documentação demons-
volvidos, em particular, apesar tra que, de 1939 até os dias
de serem os que acreditam mais atuais, com uma freqüência re-
açodadamente nas virtudes do veladora de decisão firmada,
planejamento, são também os ou pelo menos de preferên-
que se revelam menos ágeis na cia inequívoca, o Govêrno da
assimilação das técnicas perti- União vem diligenciando, por
nentes. Aderem sem reservas à diferentes métodos, introduzir
idéia elo planejamento gover- e implantar o hábito do plane-
n;lmental, mas não sabem como jamento org;1nico em suas ati-
canalizá-la dos domínios da Yid;tdes.
teoria para os domínios da A constância dessa aspiraç'ão
prática. do Govêrno Federal manifes-
Daí as repetidas providên- tou-se, uma vez mais, como não
cias, atos, decretos, leis e esque- poderia deixar de manifestar-
mas - com que tentam, ao sa- -se, n:l agenda de trabalho do
bor do empirismo, passar da Ministro Extraordinário Para
fase elas improvisações e reme- a Reforma Administrativ:l. Ao
diações para a fase da raciona- fixá-la, no Decreto n.O 51 705,
lidade administrativa caracteri- de I ,1 de fevereiro de 1963, o
zada pela presença do planeja- Presidente da Repüblica deter-
mento organizado. minou: "o esfôrço de reforma
O exame das experiências de de,'erá incluir:
v{trios países latino-americanos
comprova a incidência das mes-
mas hesitações e o cometimen- b) a implantação e instÍtu-
to de erros similares, em quase cionalização do planejamento
tôdas as suas tentativas de ins- administrativo em todos os se-
titucionalização do planejamen- tores integrantes do Poder Exe-
to governamental. cutivo".
No caso do Brasil, a luta O advento do Ministro Ex-
pelo planejamento governa- traordinário Para a Reforma
mental reflete-se com fidelida- Administrativa, ensejando pes-
de nos Anexos do presente pro- quisa completa e uma análise
jeto de decreto. panorâmica do que tem sido
UMA TEORIA GERAL DE PI.ANEJAMENTO 185
ensaiado até hoje, veio identifi- 1963, vários técnicos: inicial-
car senão uma solução defini- mente, constituímos um Grupo
tiva, pelo menos uma solução de Estudo composto dos se·
viável, suscetível de auto-aper- guintes, sob a direção elo pri.
feiçoamento, à medida que se meIro:
desenvolver o processo da pró- Bcncdicto Silva, então Dire·
pria experiência. tor cio Ccntro dc Pesquisas Ad-
As razões por que acredita- ministrativas e Sociais da Fun·
mos na viabilidade da solução daçao Getúlio Vargas e Mem-
ora proposta para a implanta- bro da Comissão de Estu-
ção do planejamento no Go- dos e Projetos Administrati-
vêrno Federal constam abun- vos da Presidência da Repú-
dantemente de dois documen- blica; Paulo de Almeida Ro-
tos: drigues, Assessor do Chefe do
a) da exposição com que Gabinete Civil da Presidência
encaminhamos a Sua Excelên- da República; Joaquim Augus-
cia, o Presidente da República, to Montenegro, Adjunto do
o projeto de decreto que "dis- Conselho de Segurança N acio-
põe sôbre o Conselho do Pla- naI; Eugênio Marques Rodri-
nejamento e a Secretaria-Geral gues Frazão, Adjunto do Esta-
do Planejamento" (primeira do-Maior das Fôrças Armadas;
parte desta publicação); Guilherme Augusto Pegurier,
b) da exposição de motivos Secretário Interino da CO-
que acompanhou o projeto de PLAN; Antônio Fonseca Pi-
Lei Orgânica do sistema admi- mentel, então D i r e t o r do
nistrativo federal, também j,i DASP; José Pelúcio Ferreira,
submetido ao Presidente da Chefe de Divisão elo Departa-
República e por êste encami- mento Econômico elo BNDE;
nhado ao Congresso Nacional José Lopes de Oliveira, Asses-
(V. §§ 70 a 112 do referido do- sor do Presidente do Banco do
cumento) . Brasil.
Mobilizamos, para preparaI Ainda não havia o Grupo
as normas de implantação e terminado as reuniões prelimi-
institucionalização do planeja- nares, quando nos chegou às
mento previstas no decreto n.O mãos cópia do projeto de .de-
51 705, de 14 de fevereiro de ereto de criação do Sistema
186 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúELICA

Nacional do Planejamento de radores Arnaldo Sal azar Pes-


autoria do então Ministro Ex- soa, Antônio Fonseca Pimentel
traordinário Para o Planeja- e José Maria de Albuquerque
mento Celso Furtado. Arantes contribuíram com va-
liosas críticas e sugestões para
Durante uma reunião de o aperfeiçoamento do texto
coordenação que convocamos final.
em seguida, e a que compare-
ceram o Ministro Celso Furta-
do, quase todos os membros do AGRADECIMENTOS
citarIo Grupo e vários dos
Assessôres·Gerais da Reforma Autorizado pelo Presidente
Administrativa, tomamos a de- da República, registro aqui os
liberação de constituir um louvores do Govêrno, de par
subgrupo menor, composto dos com os meus calorosos agrade-
Senhores Alim Pedro, Diretor- cimentos, aos técnicos acima
-Executivo da Fundação Getú- nomeados, pelo sólido e bri-
lio Vargas, Guilherme Augusto lhante contingente de conheci-
Pegurier e Eugênio Marques mentos com que concorreram
Rodrigues Frazão, e que apre- para a cristalização e articula-
sentúll excelentes subsídios. ção das idéias que se conver-
teram nas propostas por mim
o projeto finalmente adota- submetidas ao Chefe do Poder
do e submetido ao Presidente Executivo, visando à implan-
da República, consubstancian- tação e instÍtucionalização do
do os subsídios recebidos e as planejamento na administra-
idéias mais aceitas e mais afian- ção federal.
çadas pela análise da experiên-
cia Lrasileira, foi elaborado sob Graças a essas contribuições,
a millha orientação, pelo Coor- pudemos executar uma das ta-
denador-Geral da Reforma Ad- refas mais difíceis da Reforma
ministrativa, Benedicto Silva. Administrativa de 1963.

Vários dos Assessôres-Gerais,


ERNANI DO AMARAL PEIXOTO
notadamente os Srs. Adroaldo
J unqueira A yres e Carlos Me- Ministro Extraordinário Para a
deiros Silva, e ainda os colabo- Reforma Administrativa
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 187

2. EXPOSIÇAO DE MOTIVOS 3. Data veniaJ passo a expor


as razões e fatos que me levam
Excelentíssimo Senhor Presi-
a optar pela solução ora pro-
dente da República posta, bem como a encarecer
No Decreto n. O 51705, de 14
enfàticamente a sua adoção
de fevereiro de 1963, que "dis- imediata.
põe sôbre o escopo da reforma
4. Pelo processo a que se po-
dos serviços federais e as atri-
deria chamar evolucionário, os
buições do Ministro Extraordi-
órgãos cujas funções se baseiam
nário Para a Reforma Admi-
na aplicação de conhecimentos
nistrativa", Vossa Excelência
especializados somente surgem
determinou:
depois do aparecimento das
"Art. 3.° ................ .
categorias profissionais corres-
§ 2.° Sem prejuízo de ou- pondentes. Exemplo: uma di-
tros aspectos carecentes de mo- visão de contabilidade pressu-
dificações que forem identifica- põe a existência de contadores
dos à luz dos estudos e pesqui. para lhe formar o quadro res-
sas feitos, o esfôrço de reforma pectivo. Similarmente, o pro-
deverá incluir, ainda: duto funcional de uma Divisão
de Contabilidade - lançamen-
b) a implantação e institucio· tos, balancetes, balanços e ou-
nalização do planejamento ad- tras demonstrações contábeis
ministrativo em todos os seto- - aparece como conseqüência
res integrantes do Poder Exe- do trabalho associado de con-
cutivo." tadores a serviço do órgão. Em
2. O projeto de criação do sis- resumo, a seqüência lógica das
tema federal de planejamento, atividades profissionais exerci-
que tenho a honra de submeter das por unidades de serviço é
à esclarecida decisão de Vossa a seguinte: primeiro, [orma-
Excelência, configura a solução ção de profissionais; segundo,
que, à luz dos estudos feitos, advento das unidades que irão
me parece correta e oportuna utilizá-los; terceiro, surgimen-
para o problema da implanta- to do produto funcional dessa
ção e institucionalização do utilização.
planejamento na administra- 5. Não obstante, o exame de
ção federal. nossa história administrativa
188 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

dêstes últimos anos revela que, mitava-se a facultar ao Govêr-


no Brasil, a prática do plane- no Federal despender até três
jamento governamental tem milhões de contos de réis (a
sido tentada au rebours, sur- unidade monetária do País ain-
gindo, em primeiro lugar, os da era o mil-réis) à razão de
planos; mais tarde, timidamen- 600 mil contos por ano, llni-
te, os órgãos de planejamento; formente, durante o qüinqüê-
e, somente agora, está-se cogi- nio de 1939-1943, na "criação
tando da formação dos plane- de indústrias básicas, execução
jadores. de obras produtivas e apare-
6. A evolução lógica devera lhamento da defesa e seguran-
seguir o curso inverso: primei- ça nacionais".
ro seriam formados os planeja- 9. Estimulados pela existência
dores; em seguida, constituí- daquela autorização para gas-
dos os órgãos de planejamen- tar, os Ministérios poderiam
to; e, finalmente, elaborados propor a realização de obras
os planos. ou a aquisição de equipamen-
7. Em 1939, o Govêrno Fede- tos que, num e noutro caso, só
ral adotou o que se pode consi- vieram a ser objeto de cogita-
derar o primeiro plano qüin- ção depois e em conseqüência
qüenal brasileiro, o Plano Es- da decretação do Plano.
pecial de Obras Públicas e 10. Em 1943, o Govêrno Fe-
Aparelhamento da Defesa Na- deral adotou outro plano
cional, conhecido por Plano qüinqüenal - o chamado "PIa-
Especial. Não passava, entre- no de Obras e Equipamentos"
tanto, de um orçamento parale- (POE) , edição revista e au-
lo de longa duração, cujos cré- mentada do primeiro. Também
ditos podiam ser aplicados sem êste não incluía a lista das
as peias do Código de Conta- obras que seriam executadas e
bilidade e as delongas do con- dos equipamentos que seriam
trôle do Tribunal de Contas. adquiridos; não indicava os lo-
8. O Plano Especial era plano cais em que seriam feitas as
apenas em nome: nem sequer obras, nem continha qualquer
sugeria uma lista das obras que calend,irio ou cronograma. Du-
seriam feitas e dos equipamen- rante os cinco anos da vigência
tos que seriam adquiridos. Li- do POE, o Govêrno poderia
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 189

gastar, em obras públicas e idéia do planejamento gover-


equipamentos, a importância namental no Brasil. Como já
de cinco bilhões de cruzeiros, à se tem dito, é uma Constitui-
razão de um bilhão por ano. ção planejamentista. A palavra
11. A utilização dos recursos Plano aparece em v;'lrios de
do POE também se processaria seus dispositivos.
com grande flexibilidade admi- Exemplos:
nistrativa: uma vez aprovado
pelo Presidente da República "Art. 5.° Compete à União
o projeto de uma obra incluí-
do a posterior i no plano, o seu x - estabelecer o plallo na-
orçamento total era considera- cional de viação."
do despesa realizada e contabi- "Art. 156. A lei facilitará a
lizado como tal. O Ministério fixação do homem no campo,
da Fazenda depositava a im- estabelecendo planos de coloni-
portância correspondente ao zação e de aproveitamento das
custo do projeto no Banco do terras públicas."
Brasil, à disposição da autori-
"Art. 198. Na execução do
dade responsável, a qual dispu-
plano de defesa contra os efei-
nha de cinco anos consecutivos
tos da denominada sêca do
para completar o respectivo de-
Nordeste, a União despenderá
sembôlso. O Plano Especial e
anualmente, com as obras e os
o POE tinham em comum os
serviços de assistência econômi-
seguintes traços:
ca e social, quantia nunca in-
a) qüinqüenalidade; ferior a três por cento da sua
b) ausência de indicações sô- renda tributária."
bre as obras planejadas; "Art. 199. N a execução do
c) extrema flexibilidade na Plano de valorização econômi-
utilização dos recursos pre- ca da Amazônia, a União apli-
vistos; cará durante pelo menos vin-
d) inexistência de órgão con- te anos consecutivos quantia
trolador. não inferior a três por cento da
12. A Constituição de 1946 sua renda tributária."
foi elaborada durante o perío- "Art. 29. (Ato das Disposi-
do de aculturação intensiva da ções Constitucionais Transitó-
190 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

rias): O Govêrno Federal fica no sistema administrativo fe-


obrigado, dentro do prazo de deral. Os planos brotavam da
vinte anos, a contar da data da iniciativa de planejadores im-
promulgação desta Constitui- provisados, que se notabiliza-
ção, a traçar e executar um vam mais pelos propósitos pro-
plano de aproveitamento total gressistas do que pelo conheci-
das possibilidades econômicas mento profissional das técnicas
do rio São Francisco e seus de planejamento.
afluentes, no qual aplicará, 16. Em 1952, o Presidente Ge-
anualmente, quantia não infe- túlio Vargas incluiu em seu an-
rior a um por cento de suas teprojeto de reforma adminis-
rendas tributárias." trativa a criação de um Conse-
lho elo Planejamento e Coor-
13. Em 1MS, o Presidente da denação, órgãos de cúpula, pre-
República enviou ao Congresso
sidido pelo Presidente da Re-
N acionaI, depois de havê-lo pública e integrado pelos Mi-
submetido oficialmente aos par- nistros de Estado e dirigentes
tidos políticos majoritários, in- dos órgãos diretamente subor-
clusive os da oposição, o cha- dinados ao Presidente da Re-
mado Plano SALTE, cuja sigla pública. O Conselho de Plane-
se formou com as iniciais dos jamento e Coordenação teria "a
problemas ele que tratava: Saú- seu cargo o planejamento das
de, Alimentação, Transporte e atividades do Govêrno Federal
Energia. no campo econômico e social,
14. Diferente do plano Espe- em consonância com os objeti-
cial e do POE, o Plano SAL TE vos do desenvolvimento geral
trazia a lista das atividades pla- do País e, notadamente:
nejadas, embora em certos se- a) coordenação das ativida-
tores, como no agrícola, as in- des dos diversos setores ela ad-
dicações fôssem vagas ou incon- ministração federal;
gruentes.
b) aprovação ele planos e
15. Até então, já com três programas de desenvolvimento
planos qüinqüenais adotados, econômico e ele melhoria das
todos de alta envergadura, não condições de vida da popula-
havia órgão de planejamento ção do País".
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 191

17. Os partidos políticos, a e consultas que não esteja su-


que o anteprojeto foi submeti- bordinado a outro órgão. Mas
do oficiosamente, não concor- o Conselho N acionaI de Econo-
daram com a criação do mia, órgão constitucional in-
Conselho de Planejamento e cumbido de "estudar a vida
Coordenação, alegando, entre econômica do País e sugerir ao
outras razões, que planejamen- poder competente as medidas
to e coordenação, no domínio que considerar necessárias",
econômico, poderiam ser rea- tem autonomia de ação e não
lizados com maior vantagem poderia passar a funcionar
pelo órgão especializado exis- como departamento do Poder
tente - o Conselho Nacional Executivo, diretamente subor-
de Economia. dinado ao Presidente da Repú-
18. Releva observar que o ór- blica e encarregado de prepa-
gão proposto não cuidaria ex- rar os planos gerais do Go-
clusivamente do planejamento vêrno.
e coordenação no domínio eco- 20. Enquanto o Projeto da
nômico. Ao contrário, seria Reforma Administrativa pro-
órgão de planejamento admi- posto pelo Presidente Getúlio
nistrativo global: planejaria Vargas, em 1952-53, perlustrava
tôdas as atividades do Govêrno sua via crucis no Congresso N a-
Federal e coordenaria as dos cionaI, o Presidente Juscelino
diversos setores da administra- Kubitschek, ao tomar posse,
ção federal, tratando, assim, ao em 31 de janeiro de 1956,
mesmo tempo, do desenvolvi- criou, por decreto, o Conselho
mento econômico e da melho- do Desenvolvimento, órgão no-
ria das condições de vida da minalmente subordinado ao
população. Presidente da República, mas
19. Como instituído na Cons- adido, de certo modo, ao Ban-
tituição, entretanto, o Conse- co Nacional do Desenvolvimen-
lho N acionaI de Economia é to Econômico.
uma espécie de quarto poder 21. Apesar do nome, o Conse-
embrionário: o Poder Consul- lho do Desenvolvimento é um
tivo. Trata-se de uma contra- órgão superior de planejamen-
dição institucional. Não se to geral, competindo-lhe "estu-
concebe um órgão de estudos dar as medidas necessárias à
192 CADERNOS DE ADMINI:STRA'ÇAO PúBLICA

coordenação da política econô- N a c i o n a I do Planejamento


mica do país, particularmente criada pelo Presidente Jânio
no tocante ao seu desenvolvi- Quadros.
mento econômico, elaborar pla- 23. Em novembro de 1961, no
nos e programas visando a au- regime parlamentarista, o Pre-
mentar a eficiência das ativi- sidente do Conselho ele Minis-
dades governamentais e a fo- tros Tancredo Neves reorgani-
mentar a iniciativa privada ... ". zou a Comissão Nacional de
No desempenho de suas atri- Planejamento, dando-lhe estru-
buições, o Conselho do Desen- tura mais complexa:
volvimento estruturou, para o Conselho Deliberativo
Presidente Juscelino Kubits-
Comissão de Coordenação
chek, o chamado Programa
Geral
de Metas, primeiro plano go-
vernamental da União elabo- Secretaria Técnica
rado por ôrgão específico de Comissão de Coordenação
planejamento. Regional
22. No dia 5 ele agôsto de Comissões de Coordenação
1961, o Presidente Jânio Qua- Setorial, em número indeter-
dros criou, também por decre- minado, e Grupo de Traba-
to, a Comissão Nacional ele lho, em número indetermi-
Planejamento (C O P L A N), nado.
composta de três órgãos: Con- As atribuições ela COPLAN
selho Deliberativo, Conselho foram igualmente alteradas
Consultivo e Secretaria Exe- pelo Primeiro-Ministro Tan-
cutiva. Nos têrmos elo decreto credo Neves, passando a ser as
de criação, a Comissão Nacio- seguintes:
nal ele Planejamento teria por a) reunião, coordenação ou
"incumbência elaborar um pla- realização elos estudos ne-
no plurienal de desenvolvimen- cessários ao planejamento
to econômico e social do País, plurienal do desenvolvi-
controlar sua execução e suge- mento econômico e social
rir as moelificações ditadas pelo do País;
comportamento ela conjuntura b) coordenação e organiza-
nacional e internacional". Não ção, em planos gerais e
chegou a funcionar a Comissão setoriais, dos programas e
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 193

projetos elaborados por tarefa que, uma vez concluída,


órgãos públicos ou enti- veio a chamar-se Plano Trienal.
dades privadas. Retornando o País ao sistema
24. Nem o Presidente Jánio presidencialista, por fôrça do
Quadros ao criar a Comis- plebiscito de 6 de janeiro de
são Nacional de Planejamento, I %3, o mesmo economista Cel-
tampouco o Presidente do Con- so Furtado [oi nomeado Mi-
selho de Ministros Tancredo nistro Extraordinário Para o
Neves, ao reorganizá-la meses Planejamento. Nessa qualida-
depois, extinguiu o Conselho de, propôs a instituição de um
do Desenvolvimento. sistema nacional de planeja-
25. Conseqüentemente, a par- mento que teria a "incumbên-
tir de agôsto de 1961, o Govêr- cia de elaborar e reformular,
no Federal passou a contar com anualmente, o Plano Nacional
dois órgãos superiores de pla- de Desenvolvimento Econômico
nejamento, ambos diretamente e Social, assim como assegurar
subordinados à Chefia Executi- a sua adequada execução".
va da República: o Conselho 27. O sistema nacional de pla-
do Desenvolvimento, criado, nej amen to proposto pelo Mi-
em 1956, pelo Presiden te J us- nistro Celso Furtado compre-
celino Kubitschek, e a Comis- emlia o Conselho do Desenvol-
são Nacional de Planejamento, vimento Nacional e a Secreta-
instituída, em agôsto de 1961, ria Executiva. O Conselho do
pelo Presidente Jánio Quadros, Desenvolvimento Nacional des-
e reorganizada, no mesmo ano, dobrar-se-ia em cinco comissões:
pelo Presidente do Conselho Comissão de Planejamento
de Ministros Tancredo Neves. Global
26. Não obstante essa circuns- Comissão de Planejamento
tância, quando o atual Presi- Setorial
dente da República decidiu
mandar elaborar a sua ;,genda Comissão de Planejamento
Social
de trabalho, não se serviu dos
órgãos de planejamento exis- Comissão de Planejamento
tentes: nomeou o economista Regional
Celso Furtado Ministro Extra- Comissão de Coordenação da
ordinário para se incumbir da Aliança Para o Progresso.
194 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

A Secretaria-Executiva, por -se um Grupo de Trabalho es-


sua vez, compreenderia, além pecialmente incumbido de ela-
do Diretor-Executivo, cinco de- borar normas para a implanta-
partamentos e duas divisões: ção e institucionalização do pla-
Departamento de Planeja- nejamento administrativo em
mento Global todos os setores do Poder Exe-
cutivo.
Departamento de Planeja-
mento Setorial 30. No dia 11 de julho de 1963
(Decreto n.O 52253, publicado
Departamento de Planeja-
no Diário Oficial da União de
mento Social
12 do mesmo mês), Vossa Ex-
Departamento de Planeja- celência instituiu a Coordena-
mento Regional ção do Planejamento Nacional,
Departamento de Coordena- integrada pelos Chefes do Ga-
ção da Cooperação Inter- binete Militar e Gabinete Civil
nacional e pelo Coordenador-Geral da
Divisão de Documentação Assessoria Técnica, que se reu-
Divisão de Administração. nirá, semanalmente, sob a pre-
sidência do Presidente da Re-
28. Em 23 de janeiro de 1963, pública.
foi nomeado um Ministro Ex-
traordinário Para a Reforma 31. O Decreto n.O 52253 de-
Administrativa, entre cujas ta- clara que a Assessoria Técnic:1
refas figura a de propor normas da Presidência da República,
para a "institucionalização e subordinada ao Gabinete Civil,
implantação do planejamento "tem por finalidade assistir à
em todos os serviços do Poder Coordenação do Planejamento
Executivo". na apreciação de políticas e
29. Nos têrmos do art. 4.°, alí- programas do Govêrno Federal,
nea n, do Decreto n.O 51 705, de de modo a assegurar a adequa-
14 de fevereiro de 1963, que dis- da execução elo Plano elo De-
põe sôbre o escopo da reforma senvolvimento Econômico e So-
dos serviços públicos federais cial".
e as atribuições do Ministro 32. A partir de então, à Asses-
Extraordinário Para a Refor- soria Técnica da Presidência
ma Administrativa, constituiu- da República ficaram subordi-
UNIA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 195
nados: a Secretaria Técnica, as 1961 - (agôsto) - Criação
Comissões de Coordenação Re- da Comissão Nacional de Pla-
gional e Setorial e os Grupos de nejamento;
Trabalho da Comissão N acio- 1961 - (novembro) - Reor-
naI de Planejamento, a Secreta- ganização da Comissão N acio-
ria-Geral do Conselho do De- naI de Planejamento.
senvolvimento e a Secretaria da 1962 - Nomeação de um Mi-
Comissão de Coordenação da nistro Extraordinário Para Ela-
Aliança Para o Progresso. boração do Plano Trienal;
Para se ter uma visão pano- 1962 - Adoção do Plano
râmica das datas, iniciativas, Trienal;
propostas e tentativas, e tam- 1963 - (janeiro) - Nomea-
bém das hesitações, recapitu- ção do Ministro Extraordiná-
lemos: rio Para o Planejamento;
1939 - Plano Especial de 1963 - (janeiro) - Nomea-
Obras Públicas e Aparelhamen- ção do Ministro Extraordiná-
to da Defesa Nacional; rio para a Reforma Adminis-
1943 - Plano de Obras e trativa;
Equipamentos; 1963 - (abril) - Proposta
1946 Promulgação da de criação do Sistema Nacional
Constituição dos Estados Uni- de Planejamento;
dos do Brasil; 1963 - (julho) - Criação
1948/1950 - Elaboração e da Coordenação do Planeja-
Aprovação do Plano SALTE; mento Nacional, subordinada
ao Gabinete Civil da Presidên-
1952/1953 - Proposta de cia da República.
criação do Conselho de Plane-
jamento e Coordenação; 34. Como se vê, se o Govêrno
Federal ainda não dispõe de
1953 - Sugestão de se con- um sistema adequado de plane-
fiar o planejamento ao Conse- jamento, não será decerto por
lho Nacional de Economia; falta de tentativas, propostas e
1956 - Criação do Conselho decretos. A diversidade de cri-
do Desenvolvimento e elabora- térios de cada proposta ou ini-
ção do Programa de Metas; ciativa reflete a multiplicidade
196 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

de dúvidas pairantes sôbre o por uma Secretaria perma-


que venha a ser planejamento nente
governamental. 37. Ter-se-á, assim, na cúpula,
35. As sucessivas e infrutíferas um órgão deliberativo (Plená-
tentatü'as de criação ele um sis- rio do Conselho) e um órgão
tema de planejamento no âm- de estudos e pesquisas (Secre-
bito da Presidência da Repú- taria-Geral) , comandando um
blica constituem exemplo típi- sistema que envolve, em sua
co do irial and erro}" pmcess. 1'ttle, túda a administração fe-
1\'ão hú desdouro algum em re- deral: o Presidente da Repú-
conhecer que foram dominadas blica é o planejador-mor do
pelo empirismo bem intencio- Go\'(~rno e cad:1 I\Iinistro de Es-
nado. Ao cabo de jornada tão tado é o planejador-mor do res-
IOB?;a pela via do empirismo, pectivo Ministério.
j:t é tempo de o Goyêrno Fe- 38. A coordenação dos planos
deral, valendo-se das lições ne- ministeriais será feita, em cada
gativas de tantas experiências Minislério, sob a presidência do
e pl'Opostas, identificar e ado- Ministro, pela respectiva Co-
tar o sistema de planejamento missão ele Planejamento. A co-
que ceH1vém ao País. ordenação e consolidação dos
36. Depois de demorada aná- planos ministeriais do plano
lise das propostas e idéias per- geral do Govêrno far-se-á pelo
tinentes, chega-se ;\ conclusão Conselho do Planejamento, as-
ele que a solução do problema sistido permanentemente pela
da implantação e instituciona- Secretaria-Geral do Planeja-
liz<:ção do planejamento admi- mento.
Il is tra I ivo em todos os setores 37. Êste alvitre vem ao mesmo
integrantes do Poder Executivo tempo dar instrumentos ade-
deverá ser dada pelo Congresso quados e estabilidade ao siste-
1\' acionaI, median te criação, na ma de planejamento governa-
Presidência da República, de mental e contribuir para reabi-
um Conselho do Planejamento litar a autoridade dos Minis-
composto do Plenário e de uma tros de Estado.
Secretaria-Geral, e ligado às 40. A expenencia universal,
Comissões de Planejamento dos catalogada e conhecida, e as
l\Iinistérios, também assistidas tendências doutrinárias sôbre
Ul\1:A TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 197

o planejamento governamental por esta solução. Dever-se-ia


afiançam a solução agora pro- criar o sistema de planejamen-
posta. to por Lei, apesar de ser parte
1 I. O Conselho do Planej a- essencial do Estado-Maior da
menta, presidido pelo Presi- Presidência ela República? Ou
dente da República e integraelo c!cycria ser estabelecido por de-
pelos Ministros de Estado, pelo creto, segundo <15 convenii':ncias
Secret<'trio do Conselho de Se- imtitucionais da Presidência
gurança r-~ acionaI, pelo Chefe da República? Tendo o Poder
do Estado-Maior elas Fôrças Ar- Legislativo ampla liberdade
madas, pelo Secret<irio-Geral do para constituir as próprias sé-
Planejamento e pelos Presiden- cretarias, reformá-Ias e desdo-
tes do Banco do Brasil, do brá-las, segundo as necessida-
Banco Nacional do Desenvolvi- des, e cabendo ao Poder .J udi-
mento Econômico e do Banco ciário igual competência no que
Central elo Brasil, cuja criação tange aos respectivos órgãos de
está proposta no Anteprojeto trabalho secretarial, com a úni-
de Lei Orgânica do Sistema Ad- ca restrição da criação de car-
ministrativo Federal, em vias gos; e sendo, por outro lado, os
de ser encaminhado a Vossa Podêres da União, no regime
Excelência, terá por objetivos representativo, "independentes
principais: a) institucionalizar, e harmônicos entre si" (Cons-
manter, dirigir e aperfeiçoar o tituição, art. 36), parece óbvio
sistema ele planejamento do que ao l'oder Executivo estão
Govêrno da União; b) selecio- asseguradas a mesma latitude e
nar os objetivos de longo al- a mesma flexibilidade de ação.
cance do Govêrno e consolidar, Optou-se, entretanto, pela cria-
em planos gerais, de longa du- ção do sistema nacional do pla-
ração, os planos parciais e se- nejamento por lei. Com efeito,
toriais elaborados, na esfera de o Anteprojeto de Lei Orgânica
cada Ministério, pelas Comis- do sistema administrativo fe-
sões de Planejamento; c) acom- deral prevê a criação, na Presi-
panhar e controlar a execução dência da República, do Con-
dos planos adotados. selho do Planejamento e da Se-
42. Muitas dúvidas tiveram de cretaria-Geral do Planejamento
ser dirimidas antes de se optar e, em cada Ministério, de uma
198 CAD~RNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Comissão de Planejamento, as- e modificações que o sistema


sistida por uma Secretaria. Tra- requer. Per contra, somente
tando-se de verdadeira mudan- com um sistema de planeja-
ça de política administrativa mento instituído por lei e pro-
geral, é indispensável que a tegido contra o diletantismo
sua decretação seja feita pelo que até agora tem prevalecido
Congresso Nacional. A Chefia na matéria estará o Poder Exe-
Executiva da República passa- cutivo habilitado a adotar o
rá a exercer, além das atribui- planejamento como técnica ad-
ç õ e s político-administrativas ministrativa de promoção in-
tradicionais, as funções de pre- tensiva do progresso social e
sidir ao planejamento central cultural, científico e tecnológi-
das atividades governamentais co e do desenvolvimento eco-
e ao contrôle organizado da nômico do País.
execução dos planos, devendo,
44. Não se trata aqui de pla-
assim, equipar-se para assumir
nejamento econômico, nem de
e desempenhar a contento êsse
acréscimo de responsabilidade. planejamento físico, mas de pla-
Uma vez sancionada a lei, o nejamento governamental glo-
Poder Executivo regulará o bal, que se caracteriza pela fu-
Conselho do Planejamento e são de vários planos setoriais e
estruturará, em regulamento, a parciais em planos gerais orgâ-
Secretaria-Geral do Planeja- nicos que compreendem os
mento, submetendo-os a um numerosos aspectos da ação go-
processo contínuo de aperfei- vernamental e respectivos efei-
çoamento alimentado pelas li- tos.
ções da experiência. 45. Em suma, o sistema de pla-
43. Esta orientação afigura-se nejamento ora proposto terá
a mais indicada, entre outras por efeito levar o Poder Exe-
razões, porque, em se tratando cutivo a adotar o planejamen-
de transformação importante e to como alavanca de acelera-
de aumento de responsabilida- ção deliberada do progresso do
de para a Presidência da Repú- País. Uma vez implantado o
blica, convém assegurar-lhe a sistema, a ação do Poder Exe-
devida flexibilidade, para fa- cutivo desenvolver-se-á de acôr-
zer, sem delongas, as adaptações do com planos gerais e parciais
U1VIA TEORIA GEHAL DE PLANEJAMENTO 199

de trabalho, sucessivos e enca- gar-se-á ele pesquisar a fundo os


deados. fatos e planejar, com base no
46. Representando o orçamen- conhecimento objetivo, comple-
to uma etapa avançada do pla- to e verificado, as atividades a
nejamento, a sua elaboração fi- curto e longo prazo de cada
cará igualmente a cargo do sis- órgão ministerial e de combi-
tema federal do planejamento. nar os planos parciais em pla-
Somente assim as etapas anuais nos gerais, orgânicos, de longa
dos planos de trabalho de lon- duração, divididos em etapas
ga duração e o orçamento pas- anuais coincidentes com o exer-
sarão a coincidir. Havendo pla- cício financeiro.
nejamento digno do nome, o 49. O sistema proposto será
orçamento de cada ano deverá instituído por lei, a fim de ter
ser uma expressão pré-contabi- estabilidade e continuidade,
lizada, em têrmos monetários e mas complementado por decre-
quantitativos, do custo e volu- to do Poder Executivo, a fim
me elas etapas anuais dos pla- de se ajustar, flexivelmente, às
nos de longa duração. necessidades operacionais do
47. O Conselho do Planeja- funcionamento.
mento e a Secretaria-Geral elo 50. A proposta de criação dos
Planejamento, na Presidência órgãos de planejamento consta
da República, as Comissões de do Anteprojeto de Lei Orgâni-
Planejamento e as respectivas ca do sistema administrativo,
Secretarias, nos Ministérios, ar- já em fase de revisão final, de-
ticulados em verdadeiro siste- vendo ser submetido a Vossa
ma, que se irá aperfeiçoando à Excelência, juntamente com
luz da experiência, assegurarão esta.
afinal ao Govêrno o instru- 51. De acôrdo com as disposi-
mento de coordenação e con- ções daquele Anteprojeto, a
trôle que êle busca infrutifera- Presidência da República pas-
mente há longo tempo e que, sará a ter a seguinte estrutura:
no consenso geral, representa a) 6rgãos de administração
condição incontornável de efi- geral:
ciência administrativa.
48. Assim constituído, o siste- A ssessoriais-executivos:
ma de planejamento encarre- l. Gabinete Civil;
200 CADl';llNOS D"B~ ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

2. Gabinete Militar; técnica administrativa de ace-


3. Departamento Admi- leração deliberada do progres-
nistrativo do Serviço so social, cultural, científico e
Público; tec!l0lógico e do desenvolvi-
4. Secretaria-Geral do mento econômico do País. A
sua ação administrativa será
Planejamento.
desenvolvida, em todos os ní-
Assessorial: veis de hierarquia, de acôrdo
5. Conselho do Plane- com planos gerais e parciais de
jamento; trabalho, sucessivos e encadea-
b) 6rgãos de administração dos, de curta e lon::\"a duração,
específica: elaborados através do sistema
feeleral de planejamento. Os
Assessoriais-exew t ivos: planos parciais serão elabora-
6. Conselho de Segu- dos, em cada Mi!1istério, sob a
rança N acion"l; direção do Ministro de Estado
7. Estado-M a i o r das respectivo, e combinados e ajus-
Fôrças Armadas. tados, em planos gerais, sob a
d i r e ç ã o e responsabilidade
52. O Gabinete Civil compre- imediatas do Presidente da Re-
ende;;í os serviços de assessora- pública.
mento, informações e relações 55. O sistema feder<d ele pla-
públicas, destin,:dos a auxiliar nejamento compreenderá:
o Presidente da República no
desempenho de suas atribui- I - Na Presidência da Re-
ções. pública:
1. O Conselho do Pla-
53. Caberá à Presidência da
nejamento
República dirigir e coordenar
2. A Secretaria-Geral
o sistema administrativo fe-
do Planejamento.
deral, traçar os planos gerai:;
do Govêrno e controlar sua I1 - Em cada Ministério:
execução. I. A Comissão ele Pla-
54. De acôrdo, ainda, com o nejamento;
Anteprojeto de Lei Orgânica 2. A Secretaria da Co-
elaborado, o Poder Executivo missão de Planeja-
adotará o planejamento como meQto.
UMA TEOIUA GERAL DE PLANEJAMENTO 201

56. As etapas anuais dos pla· o Presidente da República,


nos de trabalho de longa dura- usando da atribuição que lhe
ção do Govêrno e o orçamento confere o art. 87, item I, da
da República serão coinciden- Constituição, decreta:
tes, devendo êste expressar, em
têrmos monetários e quantitati-
CAPÍTl:LO I
vos, o custo e o volume da-
quelas. Do Conselho do Planejamento
57. Mesmo antes de ser decre- Secção I
tada a criação do sistema fe-
deral de planejamento pelo Da finalidade
Congresso Nacional, o Presi- Art. 1.0 O Conselho do Pla-
dente da República, se julgar nejamento, integrante da Pre-
conveniente, poderá, todavia, sidência da República e órgão
instituir e regulamentar, provi- principal do sistema federal de
soriamente, o Conselho do Pla- planejamento, tem por finali-
nejamento. dade selecionar os objetivos de
58. A inclusa proposta ele re- longo alcance, aprovar e rever
gulamento é apresentada com os planos gerais e parciais elo
êsse objetivo para exame e de- Govêrno e acompanhar e con-
liberação superiores. trolar a respectiva execução.

Aproveito a oportunidade Secção II


para reitemr a Vossa Excelén-
cia os protestos da minha ele- Da estrutura
vada estima e distinta conside- Art. 2.° O Conselho do
ração. Planejamento compreende:
a) o Plenário;
3. PROJETO DE DECRETO
b) a Secretaria-Geral do Pla-
nejamento.
Decreto n. ° ,de de
de 1963 Art. 3.° O Conselho do Pla-
nejamento é presidido pelo
Dispõe sôbre o Conselho do Presidente da República e in-
Planejamento e a Secretaria- tegrado pelas autoridades se-
-Geral do Planejamento. guintes;
202 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

a) Ministros de Estado; tes, das autarquias, das


b) Secretário-Geral do Pla- entidades paraestatais e
nejamento; das emprêsas privadas;
c) Secretário do Conselho de d) aprovar modificações de
Segurança Nacional; tipo estrutural capazes de
d) Chefe do Estado-Maior aumentar a intensidade
das Fôrças Armadas; do desenvolvimento e re-
duzir o custo social res-
e) Presidente do Banco do pectivo;
Brasil; e) propor as medidas neces-
f) Presidente do Banco Na- sárias de estímulo, orien-
cional do Desenvolvimen- tação, contrôle ou con-
to Econômico; tenção, para promover o
g) Presidente do Banco Cen- ajustamento das iniciati-
tral do Brasil, quando vas e empreendimentos
fôr criada a entidade. privados aos objetivos dos
planos do Govêrno;
Secção III f) prescrever medidas para
garantir a participação
Das atribuições eqüitativa de tôdas as ca-
Art. 4.° Incumbe ao Plená- madas da população nos
rio do Conselho de Planeja- frutos do desenvolvimen-
mento: to econômico e social;
a) institucionalizar, manter g) aprovar, em benefício dos
e aperfeiçoar o sistema investimentos particula-
federal de planejamento; res, e de acôrdo com os
interêsses gerais do País,
b) fixar as linhas gerais dos as prioridades de investi-
planos governamentais e mento e linhas de inicia-
a escala de prioridade dos tiva;
projetos constituintes; h) rever, cntIcar e aprovar
c) consolidar, em planos a proposta orçamentária
UIllCOS, orgaIllcos e perió- anual do Govêrno;
dicso, os planos parciais e i) identificar e analisar as
setoriais originários dos tendências do desenvolvi-
serviços estatais dependen- mento do País;
UMA TEOR.IA GERAL. DE PLANEJAMENTO 203

i) determinar e rever a ta- q) rever, atualizar, ampliar


xa de crescimento eco- ou comprimir, segundo a
nômico compatível com conjuntura administrati-
o pleno desenvolvimento va e financeira, os planos
e a conjuntura geral do de longa duração;
País; r) articular-se com os órgãos
I) fixar as políticas condu- competentes dos governos
centes ao pleno desenvol- estaduais para fins de co-
vimento econômico e so- ordenação e harmoniza-
cial; ção dos objetivos, emprc-
m) calcular os investimentos endimentos e interêsses
mínimos, públicos e pri- comuns à União e aos Es-
vados, considerados nc- tados;
cessários para assegurar s) manifestar-se sôbre quais-
a taxa de crescimento de- quer aspectos do planeja-
terminada; mento e dos planos go-
n) desdobrar os planos plu- vernamentais.
rienais em etapas anuais Padgrafo único. Para o de-
ou de menor duração, se- sempenho de suas atribuições,
gundo os interêsses, con- notadamente no que diz respei-
veniências e recursos da to às constantes das letras h a
administração; s, o Conselho do Planejamento
o) estabelecer esquemas e será assistido, em caráter per-
processos de verificação manente, pela Secretaria-Geral
e informação que permi- do Planejamento.
tam o acompanhamento
e contrôle efetivos da CAPÍTULO II
execução dos planos em Da Secretaria-Geral
todos os setores da admi-
nistração; do Planejamento
jJ) fixar a orientação geral e Secção I
os critérios para a elabo-
ração da proposta orça- Da finalidade
mentária anual do Go- Art. 5.° A Secretaria-Geral
vêrno; do Planejamento tem por fina-
204 CADEHNOS DI~ ADMINlSTEAÇAO PÚBLICA

lida de executar as políticas e ú) propor ao Conselho do


diretrizes fixadas pelo Conselho Planejamento, fundamentada-
e realizar as tarefas técnicas e mente, as linhas gerais e esca-
administrativas decorrentes. las de prioridade dos planos
governamentais de curto e 1011-
Secção U go prazo;
Da estrutura c) propor ao Conselho a
Art. 6.0 A Secretaria-Geral consolidação, em planos únicos,
do Planejamento compreende: orgânicos e periódicos, dos pla-
1.0) Gabinete do SecretiÍrio- nos parciais e setoriais originá-
rios elas Comissões de Planeja-
-Geral;
mento ministeriais;
2.0) Divisão de Estudos e
Pesquisas; d) propor ao Conselho o
3.°) Divisão de Projetos e desdobramento dos planos plu-
Planos; rienais, em etapas anuais ou de
menor duração, segundo o in-
4.°) Divisão do Orçamento;
terêsse, conveniências e recur-
5.°) Divisão de Coordenação sos da administração;
e Contrôle;
(i.O) Serviço de Documenta-
e) colaborar com as Comis-
sões ele Planejamento dos Mi-
~·ão.
nistérios e os órgãos de plane-
SCl(Jío LU jamento das autarquias e das
Das atriúlIiçí5es entidades paraestatais na pre-
paração dos planos setoriais e
Art. 7.0 Compete à Secreta- regionais do Govêrno;
ria-Geral do Planejamento:
a) pesquisar a fundo os fa- j) proceder à interpretação
tos econômicos e administrati- ou levantamento das estatísti-
vos e as variáveis conjunturais, cas e demais informações perti-
a fim de identificar, à luz da nentes à documentação e ao es-
máxima conveniência social, as clarecimento das atividades
escalas de prioridade do inte- planejadoras do Govêrno;
rêsse nacional e as linhas gerais g) assessorar o Presidente da
dos planos de curto e longo República e, quando solicita-
prazo do Govêrno; da, os Ministros de Estado, em
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 205

matéria de doutrina e prática mações que lhe forem solici-


de planejamento; tadas;
h) estimar a receita pública p) assistir, quanelo solicita-
federal; da, os Estados c Territórios em
i) elaborar a proposta or- estudos e projetos relativos à
çamentária da União; organização, funcionamento e
j) assistir as Comissões de aperfeiçoamento de seus servi-
Planejamento dos Ministérios ços de planejamento.
c demais órgãos do sistema fe- Art. 8.° A Secretaria-Geral
deral de planejamento na ela- do Planejamento tem a incum-
boração e revisão das propostas hência especial de controlar,
orçamentárias parciais; em nome e por delegação do
I) consolidar, em articula- Pre,idente da República e do
ção com as Comissões de Pla- Conselho elo Planejamento, a
nejamento dos Ministérios c execução dos planos do Govêr-
com os demais órgãos interessa- no aprovados e adotados.
dos, a proposta orçamentária
da União, de modo que ela ex- § 1.0 A Secretaria-Geral do
presse a etapa anual correspon- Planejamento manterá o Presi-
dente dos planos de longa du- dente da RepÚblica pennanen-
ração; temente em dia com o desen-
m) fiscalizar, por delegação volvimento dos planos, propor-
e na conformidade das instru- cionando-lhe elementos infor-
ções do Presidente da Repúbli- mativos e de contrôle, que per-
ca, a execução orçamentária; mitam a ado~ão de medidas
n) opinar, quando solicita- oportunas para evitar ou corri-
da, sôbre projetos ele lei apro- gir redefinições, acelerações e
vados pelo Congresso Nacional atrasos na implementação dos
c indicar a conveniência de san- planos.
ção ou veto, notadamente nos § 2.° A Secretaria-Geral do
casos em que afetem a estrutu- Planejamento adotará os siste-
ra ou execução dos planos elo mas mais expressivos de repre-
Govêrno; sentação gráfica para facilitar
o) prestar ao Conselho ele o confronto visual e imediato
Segurança N acionaI as infor- elo planejado com o executado.
206 CADERNOS DE ADMINISTRA!ÇÃO PÚBLICA

SECÇÃO IV f) preparar atos, avisos, cir-


culares, ordens e instruções su-
Do Gabinete do Secretário-
jeitos à assinatura do Secre-
-Geral e suas atribuições
tário;
Art. 9.° O Gabinete tem o g) colecionar e manter em
encargo de preparar a corres- boa ordem, par consulta fácil,
pondência do Secretário-Geral Leis, Decretos, Regulamentos,
do Planejamento e informar o Instruções e Ordens de Serviço
expediente que lhe deva ser de interêsse para a Secretaria;
submetido, atender às pessoas h) coordenar a elaboração
que desejarem comunicar-se elos relatórios periódicos do Se-
com o Secretário ou com outras cretário-Geral do Planejamen-
autoridades, e, especificamente: to ao Presidente da República;
a) regular as audiências do i) criar e manter condições
Secretário-Geral do Planeja- que assegurem a instrução
mento; c o m p I e t a, o esclarecimento
b) superintender, de acôrdo pronto e a documentação ade-
com as instruções do Secretário, quada dos assuntos pertinentes
todos os serviços de ligação e ü Secretaria;
entendimentos dês te com os de- j) desempenhar quaisquer
mais órgãos da Secretaria da outras tarefas ou atribuições,
Presidência da República e dos periódicas, ocasionais ou per-
Ministérios; manentes, que direta ou indire-
c) responsabilizar-se pela re- tamente contribuírem para a
gularidade da trami tação de boa marcha, regularidade e efi-
papéis e expedientes sujeitos à ciência dos serviços a seu cargo.
assinatura, visto, aprovação, au-
CAPÍTULO IH
torização ou conhecimento do
SecretLírio; Das atribuições dos demais
d) manter o protocolo e o órgãos
arquivo do expediente do Se- Secção I
cretário, registrando o anda-
mento de papéis e processos; Da Divisão de Estudos
e) preparar o expediente e Pesquisas
destinado à publicação no Diá- Art. 10. À Divisão de Estu-
rio Oficial; dos e Pesquisas compete:
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 207

a) estudar a conjuntura só- Secção II


cio-econômica do País; Da Divisão de Projetos
b) analisar os principais fa- e Planos
tôres que exerçam influência Art. 11. À Divisão de Pro-
positiva ou negativa na dinâ- jetos e Planos compete:
mica da economia bra5ileira;
c) pesquisar e determinar as
a) consolidar os planos seto-
riais de desenvolvimento da
tendências do desenvolvimento
União em planos gerais, lógi-
econômico e do progresso soei:!l
cos e equilibrados;
da Nação;
b) elaborar planos comple-
d) analisar propostas e pro- mentares, supletivos ou subsi-
jetos específicos de investimen- diários para realçar ou ampliar
tos no País e assessorar o Co- os resultados e efeitos dos pla-
vêrno stJbre a oportunidade, nos de desenvolvimento;
poder ele germinação e alcance c) relacionar e elaborar, com
de cada um; as minúcias e especificações tec-
e) calcular as p r o j e ç õ e s nológicas convenientes, as eta-
qüinqüenais e decenais das ati- pas anuais dos planos de desen-
vidades econômicas, crescimen- volvimento;
to demográfico e evolução ge- d) ajustar a execução dos
ral do Brasil. planos de desenvolvimento ao
período de sua duração legal,
1) prever a escala de cresci-
de modo que as etapas anuais
mento dos serviços em função
se tornem exeqüíveis e acom-
do aumento geral da população
panhem a escala de investimen-
e das reivindicações qualitati- tos e a ordem de seqüência das
vas dos diferentes grupos so- obras e empreendimentos pre-
ciais; vistos;
g) desempenhar quaisquer e) desempenhar quaisquer
outras tarefas ou atribuições, outras tarefas ou atribuições,
periódicas, ocasionais ou per- periódicas, ocasionais ou per-
manentes, que direta ou indi- manentes, que direta ou indi-
retamente contribuírem para a retamente contribuírem para a
boa marcha, regularidade e efi- boa marcha, regularidade e efi-
ciência dos serviços a seu cargo. ciência dos serviços a seu cargo.
208 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

Secção IH g) velar pela fiel execução


do Orçamento, nos têrmos das
Da Divisão de Orçamenlo determinações do Presidente da
República;
Art. 12. À DivisJo de Orça- h) opinar sôbre os pedidos
mento compete: de créditos adicionais, aprecian-
a) elaborar, anualmente, ele do-os do ponto de vista do mé-
acônlo com as instruções do rito e da oportunidade;
Presidente da República, a pro- i) opinar sôbre as questões
que, direta ou indiretamente,
posta orçamentária cLt União,
observados os princípios esta- se prendam ;t elaboração, exe-
cução e contrôle do orçamento
belecidos pela Constituição e
federal, ressalvada a competên-
pela legislação ordinária;
cia específica dos demais ór-
b) redigir a Mensagem com gãos integrantes do sistema or-
que o Presidente da República çamentário;
encaminhará a proposta orça- j) promover o aperfeiçoa-
menuíria ao Congresso Nacio- mento dos processos, dos pa-
nal; drões e dos sistemas orçamen-
e) elaborar a estimativa da t;írios;
receita pública da União; I) propor modificações nos
d) assistir os Ministérios e esquemas de classificação da re-
demais órgãos do sistema admi- ceita e da despesa;
nistrativo federal na prepara- 111) estudar a repercussão das
ção das respectivas propostas despesas federais na economia
orçamentárias anuais; nacional e cooperar na formu-
lação de medidas administra-
e) aplicar critérios unifor-
tivas, financeiras e econômicas,
mes à revisão das propostas or-
necessárias à correção dos de-
çamentárias, sujeitando-as às
sajustamentos que se verifica-
diretrizes oficiais emanadas do rem;
Presidente da República;
11) realizar estudos e pesqui-
f) traduzir, na proposta or- sas sôbre a receita pública e
çamentária anual, em têrmos cooperar no estudo das medi-
de dinheiro, as etapas anuais das relativas ao aperfeiçoamen-
dos planos de longa duração; to elo sistema tributário federal;
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 209

o) estudar os efeitos da po- b) verificar se a execução


lítica tributária federal, esta- das obras e empreendimentos
dual e municipal; planejados obedece aos calen-
p) padronizar e coordenar dários e cronogramas estabele-
os orçamentos, balanços e de- cidos;
monstrações de contas das en- c) verificar se o emprêgo
tidades autárquicas federais e dos recursos fornecidos pelo
promover a publicação dos re- Govêrno para a implementação
sumos dos primeiros, juntamen- dos planos governamentais se
te com o Orçamento Geral da faz de acôrdo com os contratos
União; e ajustes e os interêsses do País;
q) assistir, quando solicitada,
d) elaborar relatórios men-
os Estados, Municípios e Ter-
sais sintéticos sôbre o anda-
ritórios em estudos relativos à
mento das obras e realizações,
sua administração orçamentá-
indicando os progressos conse-
ria e à organização e funciona-
guidos, os obstáculos surgidos
mento de seus serviços;
r) desempenhar quaisquer ou-
e outras informações que con-
tras tarefas ou atribuições pe- tribuam para habilitar o Pre-
riódicas, ocasionais ou perma- sidente da República e o Con-
nentes, que direta ou indireta- selho do Planejamento a man-
mente contribuírem para a boa terem-se realisticamente em dia
marcha, regularidade e eficiên- com todos os aspectos dos pla-
cia dos serviços a seu cargo. nos governamentais em exe-
cução;
Secção IV e) dar conhecimento pronto
ao Secretário-Geral do Planeja-
Da Divisão de Cooperação mento de quaisquer fatos ou
e Contrôle ocorrências que indiciem desvio
Art. 13. À Divisão de Coor- ou atraso na execução dos pla-
denação e Contrôle compete: nos governamentais aprovados;
a) confrontar freqüentemen- t) desempenhar quaisquer ou-
te os planos aprovados e as tras tarefas ou atribuições pe-
obras e empreendimentos reali- riódicas, ocasionais ou perma-
zados em cada setor dos planos nentes, que direta ou indireta-
governamentais; mente contribuírem para a boa
210 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

marcha, regularidade e eficiên- com as Divisões, periódicos des-


cia dos serviços a seu cargo. tinados à divulgação de ensina-
mentos sôbre teoria e prática
Secção V de planejamento e informa-
Do Serviço de Documentação ções sôbre a elaboração e exe-
cução dos planos governa-
Art. 14. Ao Serviço de Do- mentais;
cumentação compete: g) preparar, em colaboração
a) coligir, coordenar, classi- com a Divisão de Coordenação
ficar, guardar, conservar, repro- e Contrôle, informações perió-
duzir os textos, documentários, dicas e freqüentes sôbre a exe-
elementos estatísticos e outras cução e contrôle dos planos.
informações referentes às ativi- aprovados;
dades do Conselho do Planeja- h) desempenhar quaisquer
mento; outras tarefas ou atribuições.
b) coligir e coordenar os da- periódicas, ocasionais ou per-
dos necessários à elaboração manentes, que direta ou indire-
dos planos gerais do Govêrno; tamente contribuírem para a
c) coligir e coordenar os da- boa marcha, regularidade e efi-
dos necessários à elaboração dos ciência dos serviços a seu cargo.
relatórios da Secretaria-Geral
do Planejamento; CAPÍTULO IV
d) organizar e manter atua-
lizados fichários de legislação Das atribuições do pessoal
geral e despachos do Presiden-
te da República, pertinentes às Art. 15. A Secretaria-Geral
atividades do Conselho do Pla- do Planejamento será dirigida
nejamento; por um Secretário-Geral, no·
e) adquirir, registrar, classi- meado em comissão pelo Presi-
ficar, catalogar, guardar, con- dente da República.
servar e permutar obras nacio- Art. 16. No desempenho de
nais e estrangeiras de interêsse suas atribuições técnicas e ad-
para o funcionamento da Pre- ministrativas, o Secretário-Ge-
sidência da República e respec- ral do Planejamento será dire-
tivos órgãos integrantes; tamente auxiliado por um Se-
f) editar, em colaboração cretário-Adjunto do Planeja-
UMA TEOR:IA GERAL DE PLANEJAMENTO 211

mento, nomeado em comissão d) convocar e dirigir reu-


pelo Presidente da República. niões de coordenação interna
Art. 17. O Secretário-Geral da Secretaria, pelo menos quin-
do Planejamento e o Secretá- zenalmente;
rio-Adjunto do Planejamento e) emitir pareceres ou pres-
serão escolhidos dentre pessoas tar informações sôbre assuntos
de notável saber e larga expe- pertinentes ao órgão que di-
riência em matéria de negócios rige;
públicos. f) impor penas disciplinares
Art. 18. Cada uma das Di- até à de suspensão por 30 (trin-
visões das Secretarias terá um ta) dias a servidores que lhe
Diretor nomeado em Comissão forem subordinados, observa-
pelo Presidente da República. das as prescrições do Estatuto
Art. 19. São atribuições do dos Funcionários Públicos Ci-
Secretário· Geral do Planeja- vis da União e propor ao Pre-
mento: sidente da República as penas
q.ue escapem à sua competên-
a) responder pela boa or- CIa;
dem, regularidade, correção e
eficiência dos serviços depen- g) preencher boletins de me-
dentes da Secretaria; recimento dos servidores que
lhe sejam diretamente subordi-
b) assessorar o Presidente da nados;
República e o Conselho do h) providenciar a requisição
Planejamento e colaborar com de pessoal técnico e administra-
os órgãos governamentais em tivo da administração federal,
matéria da competência da Se- de autarquias e entidades pa-
cretaria; raestatais;
c) orientar, distribuir, diri- i) contratar pessoal para ta-
gir e fiscalizar os trabalhos a refas específicas e praticar os
cargo da Secretaria, estabele- atos de administração do pes-
cendo as normas, especificações soal correspondente;
e instruções a serem observadas j) contra tar estudos, levan-
e conducentes à maior eficiên- tamentos e projetos necessários
cia e rapidez de execução dos à elaboração e revisão dos pIa..:
trabalhos; nos;
212 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

I) autorizar despesas previs- t) estudar e propor ao Pre.


tas de acôrdo com o orçamento sidente da República medidas
em execução; para melhoria dos serviços;
m) formular propostas e su- 11) reunir e articular, até 31
gestões relativas à elaboração e de março de cada ano, os ele-
execução dos planos; mentos necessários à elaboração
n) suscitar a colaboração de da proposta orçamentária do
entidades públicas e privadas Conselho do Planejamento para
na realização da finalidade do o exercício seguinte;
Conselho; v) responsabilizar-se p eIo
o) convocar, para reuniões bom funcionamento, progresso
de coordenação, pelo menos bi- e eficiência dos serviços que di-
mestralmente, os chefes das Se- nge;
cretarias das Comissões de Pla- x) desempenhar outros en-
nejamento dos Ministérios; cargos que lhe forem delegados
p) aprovar, até 10 de dezem- jJelo Presidente da República
bro de cada ano, a escala de fé- ou pelo Conselho de Planeja-
mento;
rias para o exercício seguinte
do pessoal que lhe fór subordi- z) d e I e g a r especificamen-
nado, encaminhá-lo ao Serviço te ao Secretário-Adjunto do
de Administração e comunicar Planejamento e aos Diretores
as alterações necessárias, justi- de Divisão, por tempo determi-
ficando-as devidamente; nado e de acôrdo com as con-
q) elogiar seus subordinados; vemeneias do serviço, qual-
quer de suas atribuições;
r) manter entendimentos di-
retos e e~treita colaboração com aa) autorizar a execução de
os demais órgãos da Presidên- serviço externo, fazendo a de-
cia da República; vida comunicação ao órgão de
s) apresentar ao Presidente pessoal.
da República, até 31 ele julho, Art. 20. São atribuições do
relatórios semestrais, e, até 31 Secretário-Adjunto do Planeja-
de janeiro de cada ano, relató- mento:
rios anuais, em ambos os casos a) preparar, sob a orienta-
pormenorizados, das atividades ção do Secretário-Geral do Pla-
do órgão a seu cargo; nejamento, as agendas das reu-
UMA TEORIA GERAL DE PLANEJAMENTO 213

niões do Conselho de Planeja- g) manter-se informado sô-


mento; bre os assuntos de interêsse do
b) secretariar as reuniões do Conselho, mediante leitura do
Conselho do Planejamento; Diário Oficial, de jornais e re-
c) substituir o Secretário-Ge- vistas em geral, e outros veí-
ral do Planejamento em seus culos de divulgação.
impedimentos ocasionais; Art. 22. Aos demais servido-
d) promover e coordenar a res da Secretaria-Geral do Pla-
elaboração dos relatóri ';lS perió- nejamento competem as atri-
dicos da Secretaria-Geral do buições que lhes forem fixadas
Planejamento; em Regimento Interno ou de-
e) desempenhar, por delega- tenninadas pelos respectivos
ção, quaisquer das atribuiçõe~ su periores imediatos.
do Secretário-Geral do Planeja-
mento. CAPÍTULO V
Art. 21. O Secretário-Geral
do Planejamento será auxilia- Disposições finais
do por um Assistente, ao qual Art. 23. A Coordenação do
compete: Planejamento Nacional, criada
a) preparar a correspondên- pelo Decreto n. ° 52 256, de 11
cia do Secretário-Geral; de julho de 1963, transformar-
b) preparar os despachos, -se-á em núcleo inicial da Se-
atos, avisos, circulares, ordens e cretaria-Geral do Planejamento.
instruções; Art. 24. Enquanto não fôr
c) receber, distribuir e enca- criado o Banco Central do Bra-
minhar o expediente; sil, será membro do Conselho
d) organizar o protocolo e o do Planejamento o Diretor-
arquivo do Gabinete do Secre- -Executivo da Superintendên-
tário, e registrar o andamento cia da Moeda e do Crédito.
de papéis e processos; Art. 25. Fica extinto o Con-
e) prestar informações às selho do Desenvolvimento, cria-
partes e marcar audiências com do pelo Decreto n.O 38744, de
o Secretário; 1. a de fevereiro de 1956, alte-
1) tr2nsmitir ordens pelos rado pelo Decreto n. a 43393,
canais competentes; de 12 de março de 1958.
211 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PúBLICA

Art. 26. Fica extinta a Co- mento o Escritório do Govêr-


missão Nacional ele Planeja- no Brasileiro Para Coordena-
mento, criada pelo Decreto n.o ção elo Programa ele Assistência
51 152, de 5 ele agôsto de 1961, Técnica (Ponto IV), criado
alterado pelo Decreto n.O 154, pelo Decreto n.O 45660, ele 30
de 17 de nowmbro de 1961. ele março de 1959, alterado
Art. 27. Fica extinta a Co- pelo Decreto n.o 50420, ele 7
ordenação elo Planejamento de abril de 1961.
N acionaI, criada pelo Decreto Art. 30. Fica extinta a Co-
n.O 52256, ele 11 ele julho de missão de Assistência Técnica,
1963. criada pelo Decreto n.O 28799,
Art. 2R. As funções de Se- de 22 de novembro de 1950.
cretário da Comissão ele Coor-
denação ela "Aliança Para o Art. 31. :Êste Decreto entra-
Progresso", criada pelo Decre- rá em vigor na data da sua pu-
blica~'ão, revogadas as disposi-
to n.O 1 040, de 22 de maio de
1962, serão exercidas pelo Se- ções em contrário.
cretário·Geral do Planejamen- Brasília (DF), em ...... de
to. .............. de 1963; 142.°
Art. 29. Fica subordinado da Independência e 75.° da
ao Secretário·Geral do Planeja- República.

000031061
'111"1"1"1"'/11111""1111111111'
ANOTAÇõES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇõES
ANOTAÇõES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
FUNDAÇÃO GETúLIO VARGAS
Entidade de caráter técnico-educativo, instituída em 20 de dezembro de 1944,
como pessoa jurídica de direito privado, visando os problemas da organizaçã0
racional do trabalho, especialmente nos seus aspectos administrativo e social,
e a conformidade de seus métodos às condições do meio brasileiro_

Presidente da Fundação: LUIZ SIMOES LOPES


Diretor Executivo: ALIM PEDRO
CONSELHO DIRETOR

Presidente - LUIZ SIMOES LOPES


Vice-Presidente -- EUGENIO GUDIN

VOGAIS: João Carlos Vital, José Joaquim de Sá Freire Alvim e


Jorge Oscar de Mello Flôres.

SUPLENTES: Alberto Sá Souza de Brito Pereira e


Rubens D'Almada Horta Porto
CONSELHO CURADOR

Presidente - MAURICIO NABUCO

Vice-Presidente - ALBERTO PIRES AMARANTE

MEMBROS: Antônio Garcia de Miranda Neto, Antônio Ribeiro França Filho,


Apolônio Jorge de Faria Salles, Arthur Hehl Neiva, Ary Frederico Tôrres,
Brasílio Machado Neto, Carlos Alberto de Carvalho Pinto, Cezar Reis de
Cantanhede e Almeida, Celso Timponi, Francisco Montojos, Heitor Campelo
Duarte, Alzira Vargas do Amaral Peixoto, Henrique Domingos Ribeiro
Barbosa, Joaquim Bertino de Moraes Carvalho, José Nazareth Teixeira Dias,
Jurandir Lodi, Mário Paulo de Brito, Astério Dardeau Vieira e
Paulo de Tarso Lea!.


Sede: Praia de Botafogo, 186
Caixa Postal 4081-ZC-05 - Te!. 46-4010
RIO DE JANEIRO, \;B - BRASIL

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