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Julio Mafra*
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Membro da Escola Letra Freudiana.
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outro ria, o que não é nada agradável para aquele que caiu. O humor estaria, portanto, mais
na dimensão do Simbólico – o humor, por excelência, é o que lida com a morte, o ‘humor
patibular’ – e representa não só o triunfo do eu, ou seja, do narcisismo enquanto função,
como também representa o triunfo do princípio de prazer sobre o princípio de realidade
pelo evitamento de um gasto de afeto, isto é, de angústia.
Freud também identifica diferentes risos: o chiste e o cômico produzem uma gargalhada
(no cômico, proporcional ao efeito de furo no campo do Outro e, no Witz, privilégio do
terceiro), enquanto que o humor pode restringir-se a um sorriso discreto. O escritor Mark
Twain supõe que, se há diferença entre humor e chiste, esta diferença está na duração: o
chiste é como um relâmpago enquanto que o humor é luz elétrica.
Quanto ao processo de realização do Witz, Freud diferencia os inocentes dos
tendenciosos, aos quais nos limitaremos aqui. O propósito do chiste tendencioso é, a partir
da não-realização do ato agressivo, a obtenção de ganho de prazer (Lustgewinn) pela
realização desta tendência por outros meios. Freud se refere à tendência agressiva como
hostil (de agressividade, sátira ou defesa – há risos e risos) ou obscena (ou de
desnudamento – que não deixa de ser intenção de agressão sexual). O chiste não só realiza
tal tendência agressiva pelo significante, como produz ganho de prazer ou não será um
chiste e sim outra coisa, por exemplo, um ato falho. Tal ganho de prazer é reeditado pela
necessidade daquele que produziu o chiste de transmiti-lo, fazendo laço social: além
daquele que o produz, deve haver um outro que é tomado como objeto da agressividade e
um terceiro no qual se cumpre a intenção do Witz de produzir ganho de prazer
(Lustgewinn).
Eduardo Vidal, em seu seminário de 2004, nota que o Lustgewinn, antecedente do objeto
‘a’ causa de desejo em sua função de coinçage, é o que faz a falta no princípio de prazer, o
que não é aí contabilizado, é o mais-de-gozar – plus-de-jouir, em que o plus remete tanto a
uma renúncia, a uma perda, quanto a algo a mais, a um deslizamento sustentado no objeto
‘a’ causa de desejo na medida em que o Lustgewinn é o propósito (aquilo que impulsiona
ao trabalho do chiste) e também seu ganho, seu efeito, efeito a posteriori (Nachträglich). O
termo em alemão para perda é Verlust: Lust significa prazer e o prefixo Ver é aquele
encontrado na Verneinung e nos operadores estruturais.
Bibliografia:
_______ "O Humor" in Obras Completas, vol. XXI, Rio de Janeiro, Imago
Editora, 1996.
TWAIN, Mark
Disponível em: http://www.great-quotes.com/quote/42203.
Acesso em 27/10/2010.
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