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Sob a Autoridade Espiritual de Kyabje Kalu Rinpotche

 
 
Introdução 
 
Uma  vez  que  o  programa  do  primeiro  retiro  de  três  anos  em  Brasília  chegou  ao 
período consagrado às meditações de Shine e Lhagtong surgiu claramente a necessidade 
de um pequeno manual, claro, metódico e progressivo, para a prática da meditação.  
O  manual  mais  completo  a  que  habitualmente  se  faz  referência  é  O  Oceano  da 
Certeza,  Nge  Dön  Gyamtso,  do  9°  Karmapa,  Wangtchug  Dorje.  Esse  texto  é  certamente 
muito completo e detalhado e compreende várias centenas de páginas e sua tradução em 
língua inglesa não é pública.   
O  venerável  Bokar  Rinpotche  escreveu  um  resumo  desse  texto  de  forma  curta 
denominada  A  Abertura  da  Porta  do  Sentido  Definitivo,  Nge  Dön  Godje,  que  foi  utilizado 
para  os  seminários  que  ele  concedeu  na  Índia.  Esse  texto  guarda,  na  ordem,  todos  os 
pontos  principais  do  Oceano  da  Certeza,  mas  é  extremamente  concentrado  e  difícil  de 
compreender, sem explicações detalhadas.  
Ele  pode  ser  completado,  de  forma  muito  útil,  com  o  texto  curto  escrito  pelo 
grande lama Sakya, Deshung Rinpotche, para o centro Kagyu de Vancouver: A Tocha da 
Via  para  a  Liberação,  Tar  Lam  Drönme.  Tradicional,  metódico  e  detalhado,  mas  de  fácil 
acesso,  é  ilustrado  pela  famosa  pintura  do  Caminho  de  Shine  em  nove  etapas  onde  os 
obstáculos,  os  remédios  e  a  progressão,  são  representados  pelas  relações  entre  o 
meditador, um elefante e um macaco. Em nossa publicação, mantivemos o texto tibetano 
escrito sobre o original em escrita cursiva Ume, o mesmo texto em letras de fôrma Utchen, 
mais  conhecidas,  com  a  tradução  embaixo.  Quando  nos  pareceu  que  poderia  ser  útil, 
acrescentamos alguns comentários, escritos em itálico.  
Para  completar  estes  textos,  nós  adicionamos  O  Excelente  Caminho  Seguido  pelos 
Afortunados,  Kelden  Tröpei  Lam  Zang,  escrito  por  seu  predecessor,  e  que  Kyabje  Kalu 
Rinpotche usou na Índia para transmitir seus ensinamentos de meditação. O texto é uma 
coleção  de  instruções  essenciais  para  nos  guiar  de  maneira  segura  no  caminho  da 
iluminação. 
Com  a  tradução  em  Português  desses  preciosos  documentos,  escritos 
pessoalmente por esses grandes mestres, nós deixamos o texto Tibetano original. Assim, é 
sempre possível consultá‐los e, eventualmente, melhorar o trabalho presente. ʺ 
A fim que eles possam ser úteis àqueles que, sobre a Via do Despertar, engajam‐se 
na prática da meditação, decidimos tornar disponíveis esses textos para todos.  
 
KPG, 01 de Outubro de 2011 
Lama Trinle  
 
 
 

Centro Budista Tibetano Kagyü Pende Gyamtso ‐ DF 425 ‐ Condomínio Jardim América ‐ Lotes F1/F3 
Sobradinho II ‐ DF ‐ CEP: 73070 ‐ 023 ‐ Fone: (61) 34 85 06 97 – Site: kalu.org. br ‐ Email: sanghakpg@kalu.org.br
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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O Caminho de Shine ‐ O estado de calma mental 
 
 
 

*  *  * 
 
Na  palavra  em  tibetano,  a  primeira  sílaba  « Shi »  significa  calma  /  paz  /  pacificada  /  repouso  / 
tranqüilidade e a segunda « Ne »   ficar / permanecer / encontrar‐se. 
 
*  *  * 
 
Descrições e significações gerais: 
 

 
 
O  caminho  simboliza  uma  progressão.  A  imagem  do  monge  aparece  nove  vezes;  isso  corresponde  às 
nove etapas para a calma mental. As seis curvas do caminho indicam a aplicação das seis forças.  
 

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Há seis forças que intervêm umas após outras:  
 

*  *  * 
 

Cada força prepara e serve de suporte para a seguinte.  
 
O estudo permite compreender que é necessário se lembrar. 
Com a prática a qualidade da atenção aumenta; 
Isso evita o esgotamento nas distrações e produz a energia.  
Com o treinamento vem o hábito e a facilidade. 
 

*  *  * 
 

1) « A força da escuta »   ,R?-0:A-!R2?-
É uma capacidade adquirida graças ao estudo, a aprendizagem dos ensinamentos e instruções. 
Antes de poder aplicá‐las de maneira eficaz, é preciso saber por que elas são necessárias e em que elas 
consistem.  
 
2)  « A  força  da  reflexão »    2?3- 0:A-!R2?-.  Aprender  de  cor  não  é  suficiente,  é  preciso 
compreender, integrar, apropriar‐se do sentido do ensinamento pelo exame e reflexão.  
 
3) « A força da lembrança »  Ou da «  atenção‐lembrança ».   S/-0:A-!R2?-
Uma vez que se esteja engajado na prática, é preciso não se esquecer das instruções que foram 
aprendidas.  
A atenção permite perceber o que ocorre; graças ao discernimento pode‐se fazer uma avaliação 
pertinente  e  depois  se  referindo  às  instruções  guardadas  na  memória,  pode‐se  aplicar  o  remédio 
apropriado, fazendo assim progredir com a meditação.   

4) « A força da vigilância »   >J?-28A/-IA-!R2?-
Com a purificação do torpor e da agitação grosseira a qualidade da atenção aumenta e torna‐se 
vigilância.  Trata‐se  de  uma  atenção  de  grande  acuidade  que  ativa  instantaneamente  o  processo  que 
antes era mais longo e laborioso.  
 

5) « A força da energia. »   2lR/-:P?-GA-!R2?-
Gampopa  define  energia  como  « Regozijar‐se  da  prática  da  virtude ».  Portanto,  trata‐se, 
sobretudo de uma vitalidade enérgica e entusiasmo e não de um esforço laborioso e penoso.  
 

6) « A força do perfeito hábito »  ;R%?-?-:SA?-0:A-!R2?-  
 Uma vez que muito se exercitou, menos atenção, reflexão ou esforços são necessários.  
O que no início era difícil, com o treinamento, torna‐se fácil e natural. Um bom hábito que se 
torna, ele mesmo, uma força.  
 

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Principais etapas 
 

No caminho da meditação podem‐se distinguir quatro grandes mudanças:  
 
1) Situação « fora de controle » ! 

 
 

 Durante  as  1ª  e  2ª  etapas,  que  ocupam  1/3  do  caminho,  o  meditador  tem  o  maior  trabalho  a 
fazer e deve gerar mais esforços. É nesse período que se podem observar as chamas maiores.  
Ainda  que  ele  tenha  alguma  compreensão  do  ensinamento  do  Buda  e  da  importância  da 
meditação  quando  ele  começa  a  praticar  e  realiza  que  sua  mente  está  longe  de  seu  controle.  Ele  deve 
vigorosamente aplicar sua atenção, sua vontade e sua motivação.  
O  mais  difícil  é  talvez  o  início;  na  segunda  etapa  já  há  uma  pequena  melhora  ilustrada  pelo 
branco  que  começa  a  surgir  na  cabeça  dos  animais.  Antes  ele  nem  se  dava  conta  da  gravidade  da 
situação e agora  sabe em que direção a melhora  acontece;  
 

2) A confrontação  
 

 
Etapas 3 e 4 :  
Agora se sabe reconhecer se a meditação é boa ou não. Identifica‐se claramente, e cada vez mais 
rápido, as distrações e o torpor, grosseiros e sutis. É preciso ainda, de forma laboriosa (chamas) aplicar‐
se em « tomar a rédea » retornando ao objeto da meditação graças à atenção e à lembrança.  
 

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3) Mudança de relação 
 

 
 
Etapas 5 e 6.  
Uma inversão de relação é produzida; o meditador passou para frente; é a meditação que toma as 
rédeas. O branco tornou‐se mais importante que o preto.  
Na 5ª etapa a atenção e o esforço de controle são ainda necessários (chamas menores), mas, com 
a vigilância e a lembrança, a mente é dominada.  
Na  6ª  etapa  isso  se  torna  mais  fácil,  distrações  e  torpor  diminuíram  muito,  a  mente  segue 
facilmente a meditação, mantida simplesmente com a corda da atenção. 

 
4) Pacificação 
 

 
 
Etapas 7 ‐ 8 ‐ 9: 
Nas duas primeiras etapas havia somente uma etapa por nível. 
Na  3ª  e  4ª  etapas  havia  duas  etapas  por  nível.  As  cenas  são  muito  animadas  no  início,  mas 
seguem um processo de clareamento e de pacificação caminhando junto com a diminuição da agitação e 
do torpor.   
Agora,  há  três  etapas  no  mesmo  nível;  a  agitação  desaparece  da  mesma  maneira  que  o torpor. 
Progride‐se facilmente em direção à calma e à clareza.  
Nenhuma intervenção ou esforço são necessários; a meditação desenvolve‐se por si mesma.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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1  Etapa « Posicionamento da mente » 
ª ?J3?-:)R$-0,
 

 :)R$-0, Posicionar, estabelecer: é estabelecer a mente em um estado particular.  

 
 

=3-IA-#$-0-S$-!R2?-S$-.%-.<-2-=?-.%-0R-,R?-0:A-!R2?-?R,
:.A-=-2!J/-/?-?J3?-$/?-0-.%-0R-:P2-0-;A/,
As curvas do caminho indicam a aplicação das seis forças. A primeira é a força da 
Escuta; ela permite realizar a primeira etapa da calma mental. 
 
    A Lembrança  S/-0- ou a Atenção ‐ Lembrança  S/->J?-
 

  A Vigilância  >J?-28A/,

 
:.A-/?-?J3?-$/?-2./-0-2<-3J-tJ-;R.-3J.-.%-, (J-(%-$A-H.-0<-2!R.-0-/A,
S/->J?-GA-lR=-!R2?->$?-2*J.-(J-(%-$A-H.-0<-<R,
A  partir  deste  ponto  e  até  a  7ª  etapa,  a  presença  das  chamas,  sua  ausência  e  sua 
diferença de tamanho correspondem à intensidade de esforço necessário para aplicar 
a atenção e a lembrança.   
 

 
 
]-%-0R-?J3?-.%-#-.R$-/$-0R-LA%-2-35S/,
O elefante (representa) a mente e o preto simbolizam o torpor.  
 
 
 

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3J=-:UR-2-.%-, #-.R$-/$-0R-cR.-0-35S/, 
O macaco (representa) as produções da mente e o negro simboliza a agitação.  
*  *  * 
 
Toma‐se o caminho graças à força da escuta e do estudo.  
Para empreender a meditação é preciso inicialmente saber o porquê e depois como fazê‐la. Isso 
pressupõe uma compreensão geral do ensinamento do Buda, e depois, a compreensão do lugar e a função 
da meditação.  
É preciso, portanto começar por aprender no que consiste o Dharma escutando os ensinamentos 
e estudando os textos. Isso corresponde à,  R?-
tö « escuta ». 
 
As  instruções  da  meditação  sobre  a  impermanência  permitem  gerar  certo  desapego  pelo 
Samsara.  
A  preciosa  existência  humana,  a  felicidade  e  sofrimentos  dos  ciclos  das existências produzidos 
pelos atos virtuosos e nocivos fazem parte das meditações preliminares.  
A meditação sobre a bondade e compaixão permite‐nos ser menos focalizados sobre nós mesmos 
e de orientar a atenção para o bem dos outros.  
As  considerações  das  qualidades  das  Três  Jóias  e  as  Três  Raízes  permitem  gerar  a  confiança 
nelas e a aspiração entusiasta pelo Despertar, a fim de poder beneficiar os seres.  
Para isso engajam‐se na prática das seis perfeições, as duas acumulações, a prática da virtude e 
a purificação dos véus.  
Os quatro véus: Da ignorância, Ma‐rigpa, vem a apreensão dualista que é a origem das paixões 
que produzem o karma, que faz errar no Samsara.  
 A meditação, a 5ª paramita, corresponde ao estabelecimento da Calma Mental que é a base para 
o desenvolvimento da Visão Penetrante, Hlag‐tong, que dá acesso ao Conhecimento Transcendente que 
irá suprimir a ignorância (causa primeira do sofrimento).  
A meditação de Shine propriamente dita pode ser feita com um suporte exterior ou interior, sem 
suporte, ou intermediária quando se utiliza a respiração.  
As meditações que tomam por suporte a mente são elas mesmas, do domínio de Lhag‐tong ou do 
Mahamudra.  Ainda  que  as  instruções  possam  ser  simples,  nem  sempre  e  fácil  compreendê‐las 
corretamente.  
Arrisca‐se  então  a  confundir  essas  práticas  onde  prevalecem  a  distração  e  o  torpor  mais  ou 
menos  sutis.  Como  certas  instruções  de  Lhag‐tong  ou  do  Mahamudra  são  de  não  intervir,  não  irá  se 
aplicar  os  remédios  necessários  das  etapas  de  Shine;  o  resultado  será  que  a  prática  corre  o  risco  de 
estagnar ou desviar‐se.  
É por isso que no início, é preferível aplicar‐se em adquirir uma boa prática de Shine; pois ela é a 
base do desenvolvimento fácil das outras meditações.  
 
 

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A 1ª Etapa 
 

 
 

A  primeira  cena  descreve  o  início  da  meditação.  O  monge  é  o  meditador,  o  tema  ou  objeto  da 
meditação estão diante dele.  
O  funcionamento  e  as  características  da  mente  são  ilustrados  pelas  formas  e  cores  de  um 
elefante e um macaco.   
Durante as duas primeiras etapas, é o macaco das elaborações mentais que dirige a mente que 
oscila entre a agitação e o torpor.  
É o negro da agitação e do torpor que dominam. O meditador tem a intenção de controlar sua 
mente, mas está longe disso. Para conseguir chegar lá ele dispõe de sua motivação, de sua energia e das 
ferramentas, que são a corda da lembrança e a machadinha da atenção.  
« A lembrança »: É lembrar‐se do que se supõe deva ser feito durante a meditação e os remédios 
a  serem  aplicados  aos  diferentes  obstáculos.  Ela  é  simbolizada  por  uma  corda  com  dois  ganchos  nas 
extremidades que o monge segura em sua mão esquerda.  
« A vigilância »: É a vivacidade da mente; a atenção vigilante que desperta o discernimento da 
mente. Ela é simbolizada por um machadinho com um gancho em sua extremidade, o monge o segura 
com sua mão direita.   
Na primeira cena, o meditador e sua mente estão distantes um do outro. A mente‐elefante corre 
à frente, levada pelo macaco da agitação. Eles estão fora de controle do meditador que, armado do gancho 
e da corda, os persegue.  
Quando se começa a meditação toma‐se consciência de uma grande atividade mental bem como 
de  elaborações  conceituais,  criações  imaginárias,  mas  também  de  forças  conflituosas  que  criam  um 
conjunto e interações caóticas sobre as quais não se tem praticamente nenhum controle.  
Isso  pode,  eventualmente,  suscitar  uma  inquietação  e  fazer  pensar  que  ʺas  coisas  estão  piores 
desde  que  tento  meditar!   ».  De  fato  é  a  primeira  etapa  da  meditação;  esses  processos  já  estavam 
presentes antes, mas não nos dávamos conta; agora, graças à meditação, começa‐se a percebê‐los.  
O funcionamento de nossa mente nesse estado é comparado a uma cascata.  
 

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2ª Etapa « Posicionamento contínuo »  o/-.-:)R$-0,

2?3-0:A-!R2?-?R, :.A?-?J3?-$/?-$*A?-0-:P2, 
Realiza‐se a 2ª etapa da calma mental graças à força da compreensão.  
 
 

 
 

:.A-/?-29%-3$R-/?-.!<-(-<A3-IA?-:1J=-2-.J-$?=-(-.%-$/?-(-)J-:1J=-
:UR-2,
A partir de agora, desde a cabeça, o branco vai aumentando: é o crescimento da 
lucidez e da estabilidade. 
 
A  2ª  Força   2?3- 0- Sampa,  pensar,  é  a  compreensão  oriunda  da  reflexão  sobre  o  que  se 
aprendeu   ,R?- tö.  
É o processo intermediário entre a escuta‐estudo‐aprendizado,  R?- 0- töpa e o colocar em prática  
|R3- 0- gompa.  O resultado final:  V?- 2- drebu, depende, inicialmente, de sua natureza que é definida 
pelo objetivo ou a visão v- 2- taua.  Sua realização: P2-  drub é a conclusão de um  processo progressivo  
=3- lam, via, caminho, que  consiste no colocar em prática  |R3- gom, os elementos necessários.  
 

É  a  lógica  fundamental  do  ensinamento  do  Buda:  « Todos  os  fenômenos  são  oriundos  de 
causas...  »  Tem, portanto, o primeiro raciocínio implícito:  
_Caso se deseje um resultado, é preciso produzir suas causas e condições. 
_Caso  não  se  deseje  que  um  resultado  se  produza,  não  é  preciso  produzir  suas  causas  e 
condições.  
Esta  lei  ‐  Dharma  é  o  fundamento  do  karma,  mas  também  da  progressão  na  meditação:  Se  se 
quer  progredir  na  meditação,  é  preciso  treinar‐se  nela  corretamente;  para  isso  é  preciso  identificar  os 
erros e remediá‐los.  

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Na  segunda  etapa  da  meditação  o  praticante  ativa  sempre  o  gancho  da  atenção  e  a  corda  da 
lembrança com energia (fogo). O elefante e o macaco continuam longe de um controle, mas sua marcha 
desacelerou e a distância que os separa diminuiu.  
A partir do alto de sua cabeça, o negro de sua cor começa a se tornar branco; isso ilustra uma 
ligeira diminuição dos obscurecimentos e da agitação mental, ao mesmo tempo que aumenta a lucidez e 
o repouso da mente. A lucidez para o elefante e a calma para o macaco.   
Quando  uma  diminui,  a  outra  aumenta.  Quando  o  torpor  e  o  obscurecimento  mental 
diminuem, a lucidez e a clareza aumentam. Quando a agitação mental, vinda das distrações diminui, o 
repouso, a calma e a estabilidade mental aumentam.  
O  fogo  continua  símbolo  dos  esforços  necessários,  mas  o  tamanho  das  chamas  diminuiu.  É 
preciso continuar a gerar muita energia, mas a prática torna‐se mais fácil. 
A  mente  organiza‐se  com  mais  a  coerência;  adquire‐se  uma  melhor  compreensão  dos  diversos 
elementos de seu conteúdo e de seu funcionamento. Ela se torna menos caótica, menos anárquica.  
Nesse estado, o funcionamento de nossa mente é comparado a um rio.  
 

 
 

:.R.-;R/-s-/A-cR.-0:A-;=-35S/,
Símbolos dos 5 tipos de experiências sensoriais que são  
os objetos de agitação para a mente. 
 

 
No espaço, em torno do caminho, encontram‐se as imagens de frutas, uma echarpe, um espelho, 
uma concha e címbalos.  Eles simbolizam os objetos de desejo dos cinco sentidos que são as principais 
fontes de distração para a mente. Ele persegue o que lhe parece agradável de ver, de tocar, de provar etc.  

14
 
3ª Etapa « Posicionamento com retorno ou Reposicionamento»  \/-.J-:)R$-0,
(retorno ao objeto graças à lembrança)  
 

S/-0:A-!R2?-?R, :.A?-?J3?-$/?-$?3-0-.%-28A-0-:P2,
A força da lembrança: ela faz realizar as 3ª e 4ª etapas da calma mental.  
 
 

LA%-2-U-3R, :.A-/?-LA%-2-U-<$?-?R-?R<-%R?-9A/-0,
O torpor sutil. A partir de agora se identificam distintamente  
as formas grosseiras e sutis do torpor. 
 

 
 

KA-3A$-2v-2-/A-?J3?-$;J%-2-%R->J?-/?-a<-.3A$?-0-=-$+R.-0:R,
O olhar dirigido para trás expressa que uma vez que a mente tenha reconhecido suas 
distrações, ela retorna à sua meditação.  
 

As 3ª e 4ª etapas da calma mental, ilustradas pela presença da imagem do monge, encontram‐se 
no mesmo nível: elas são adquiridas graças à força da lembrança. 

15
 
3  etapa 
ª

 
A distância entre o sujeito e o objeto de meditação reduziu‐se.  
O elefante não é mais conduzido pelo macaco da agitação.  
 A corda da lembrança mantém o vínculo entre o meditador e seu objeto.  
Um pequeno coelho surgiu, indica o torpor sutil. É como uma ligeira diminuição da vivacidade 
inicial,  mas  sem  ser  um  torpor  profundo.  Ela  é  agora,  claramente,  distinta  do  obscurecimento  mental 
grosseiro.  
Os  animais  olham  para  trás.  Isso  ilustra  que,  desde  que  as  distrações,  o  torpor  ou  a  agitação 
grosseiros ou sutis são reconhecidos, retorna‐se ao objeto de meditação. 
Nesse estado começa‐se a reconhecer o que é a meditação e o que ela não é.   

Na 3ª e 4ª etapas é a Atenção‐ Lembrança   S/->J?-  que é o mais importante.  


No início da meditação, nossa atenção deve ser pousada sobre um objeto; quando se deixa esse 
objeto, trata‐se de uma distração, abandonou‐se a meditação.   
É  preciso,  portanto,  verificar  regularmente,  através  de  uma  auto‐avaliação  se  nossa  atenção 
continua sobre o objeto da meditação.  
No início podia‐se entrar em estados de torpor mais ou menos profundos, chegando até mesmo 
ao sono, ou ainda nossa atenção era absorvida por idéias, situações imaginadas associadas a sentimentos 
ou  emoções  mais  ou  menos  fortes.  Essas  distrações  podiam  durar  certo  tempo,  sem que se desse conta 
delas.  
Agora,  depois  de  um  momento,  graças  à  atenção  e  à  lembrança,  nos  damos  conta  que  nossa 
atenção afastou‐se de nosso objeto de meditação.  
Lembrando‐se de nosso objeto, abandona‐se a distração e se retorna a atenção para a meditação.  
 
 
 
 
 

16
 

4ª Etapa « Posicionamento completo ».    *J<-:)R$-0,

cR.-0-}R/-=-*J-2:A-/?-*3?,
O poder da agitação diminuiu. 
 

4ª etapa 
 
No nível da 4ª etapa o processo de retorno ao objeto continua.  
Notar que no desenho é somente indicado o nível da 3ª e 4ª etapas, quando o monge se encontra 
ainda atrás dos animais é que eles olham para ele.  
Antes estavam completamente fora de controle; agora, graças à atenção e à lembrança, eles ficam 
ligados ao meditador e a distância entre eles diminui.   
As distrações são reconhecidas cada vez mais rápido e se retorna ao objeto.  
O negro diminui e o branco aumenta; a agitação mental e o torpor diminuem; ele começa a ter 
mais clareza na meditação e a mente está um pouco mais tranqüila.  
Percebe‐se que há uma progressão. 
A duração e a qualidade da meditação aumentam.  
A imagem que ilustra esse estado é a de um curso dʹágua, que conflui para um lago. 
 
 
 
 

17
8A- $/?- 12- {2?- ?J3?- .$J- 2:A- KR$?- =- :UR- 2:%- 2<- $&R.- ;A/- 0?- :$R$-
.$R?-G%-{2?-$8/-.-3A-:$R$-0<-.R/-$*A?-:V?-.-=J/-0,
  Quando se pratica Shine e a mente parte para uma direção positiva, esse é um 
obstáculo, e é preciso parar. Entretanto, em outras circunstâncias, não parar se causar 
entrave  (às  disposições  positivas),  mas  colher  os  frutos  benéficos  para  nós  e  para  os 
outros.   
 

 
 
 
A nota sobre atitude para com as ações positivas lembra‐nos que durante essa meditação tudo o 
que não seja o objeto da meditação são distrações e que é preciso abandoná‐las.   
 Portanto,  não  se  podem  recitar  mantras  nem  em  voz  alta,  nem  mentalmente,  nem  utilizar  o 
moinho de preces etc. 
Entretanto,  não  é  preciso  transpor  essa  instrução  para  fora  do  período  das  sessões  dessa 
meditação!  Não  é  preciso  parar  intempestivamente  as  ações  físicas,  verbais  e  mentais,  sejam  elas 
virtuosas ou simplesmente utilitárias.  
Os atos não‐ virtuosos é preciso, é claro, sempre evitá‐los!   
 

18
 
5   Etapa : « Disciplinado. »   
ª .=-2<-LJ.-0,

>J?-28A/-IA-!R2?-?R, :.A?-?J3?-$/?-s-0-S$-0-:P2,
A força da vigilância. Ele faz realizar as 5ª e 6ª etapas da calma mental.  
 
 

>J?-28A/-IA?-?J3?-:UR<-3A-!R<-8A%-, $9A%?-$+R.-/?-+A%-:6B/-=-:SJ/-0,
  Graças à vigilância a mente não persiste mais em suas elaborações. Ela estimula 
e conduz a um estado de absorção  $+R.-0- gerar, orientar, ativar 
 

 
5ª etapa 
 
Produziu‐se  uma  mudança  na  relação.  Não  é  mais  o  macaco  da  agitação  dos  pensamentos 
discursivos, que conduz a marcha, mas a mente está controlada graças à vigilância.  
Na 5ª etapa não são mais as distrações que dominam a meditação. No início, tentava‐se meditar 
um pouco entre as distrações, agora há somente algumas distrações que sobrevém durante a meditação. 
O monge vira em direção ao elefante; a mente necessita ainda de certa supervisão, mas desde que uma 
distração surja, aplica‐se o remédio.  
Uma  pequena  chama  está  presente;  a  atenção,  a  lembrança  e  certa  energia  continuam  sendo 
necessárias para manter o controle, mas o branco começa a predominar, as distrações estão sob controle, 
disciplinadas.  
 

19
 
6ª  Etapa : « Pacificada »  8A-2<-LJ.-0,

 
6ª etapa 
 
O processo de pacificação e de clareamento segue o branco, e agora é bem dominante.  
Como as distrações e o torpor diminuíram muito, a qualidade da atenção aumentou e tornou‐se 
uma  vigilância  cada  vez  mais  clara.  Em  presença  dela,  a  mente  fica  cada  vez  menos  distraída  e  é 
conduzida para a absorção meditativa.  
O monge caminha tendo à frente, o machadinho da vigilância a postos; ele não se vira mais em 
direção aos animais. Mantém, todavia o elefante‐mente com o laço da atenção‐lembrança.  
Não  há  mais  necessidade  de  exercer  um  controle  constante,  pois  a  mente  se  purifica  cada  vez 
mais, o torpor, as distrações são mínimas e a meditação segue. 
O macaco do pensamento discursivo passou para trás; não é mais ele que conduz a atividade da 
mente.  
Quem dirige a marcha agora é o meditador, armado da vigilância.  
 
 

20
 
 
7ª  Etapa : « Completamente Pacificada » i3-0<-8A-2<-LJ.-0,
 
2lR/-:P?-GA-!R2?-?R, :.A?-?J3?-$/?-2./-0-.%-o?-0-:P2,
A força da Energia: Ela faz realizar as 7ª e 8ª etapas.  
 
{2?-:.A<-LA%-cR.-U-3R:%-*J-.!:-=-&%-9.-*J?-G%-.J-3-,$-lR=-(%-%?-%R%-
2<-LJ.-0:R,
  Neste estado, mesmo que um pouco de torpor ou agitação sutis possam ainda 
surgir  em  situações  difíceis;  um  pequeno  esforço  faz  com  que  sejam  abandonados 
imediatamente.  
 
 

 
7ª etapa 
 
A  clareza  e  a  estabilidade  aumentam,  as  distrações  são  raras  e  eliminadas  com  muito  pouco 
esforço. Sobre o desenho o negro é ínfimo, o macaco está sentado, inativo. As distrações não têm mais o 
poder de perturbar a meditação.   
Uma mudança importante ocorreu desde a 6ª etapa; personagens não se deslocam mais e não há 
mais chamas.   
O monge não tem mais necessidade de controlar os animais.  
A meditação não é mais laboriosa e não necessita mais de esforços.  
A presença da vigilância e da energia a tornam fácil e agradável, e ela progride facilmente.  
Tudo está tranqüilo!  
 

21
 

 
8ª Etapa « Concentrado em um ponto »     lJ-$&A$-LJ.-0,

:.A<- \%- 0R:C- /$- (- 9.- &A%- 3J:- .%- V=- 2- /A- ,R$- 3<- S/->J?- &%- 9.- 2!J/- /-
LA%-cR.-.%-:UR-2?-2<-$&R.-3A-/?-0<-+A%-:6B/-(-3J.-.-:)$-0:R,
  Neste  estado  o  negro  do  elefante  desapareceu  completamente  e  o  macaco 
partiu.  Não  há  mais  distrações,  nem  mesmo  sutis.  No  início  da  meditação  utiliza‐se 
somente  um  pouco  de  vigilância,  depois  ela  não  pode  mais  ser  interrompida  pelo 
torpor, agitação ou elaborações mentais. Involuntariamente, parte‐se para a absorção 
meditativa.  
*  *  * 
 
Nesse  estado,  com  o  resultado  de  seu  treinamento,  a  mente  permanece  facilmente  concentrada 
sobre o objeto, sem o mínimo torpor ou distração.  
A meditação continua a progredir naturalmente, sem esforços.  
Seu estado é comparado a um vasto oceano sem ondas.  

22
 
 
9ª  Etapa « Absorção Equânime »   3*3-0<-:)R$-0,

 
 
;R%-?-:SA?-0:A-!R2?-?R, :.A?-?J3?-$/?-.$-0-:P2,
A força do perfeito hábito. Ela faz realizar a 9ª etapa da calma mental.  
 

 
9ª etapa 
 
*  *  * 
 
Não há mais nenhum movimento.  
O meditador e a mente estão ambos em repouso; estão um com o outro, não há mais dualidade.  
Com  o  treinamento  e  o  hábito,  a  mente  torna‐se  naturalmente  calma  e  clara,  sem  o  mínimo 
torpor ou distração.  
Nesse ponto, não é mais necessário nenhuma intervenção.  
Querer intervir que seria uma distração!  
Basta deixá‐la simplesmente tal como ela é... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

23
 

 
 
 

  Extrema pureza do corpo =?->A/-.%-,
  Extrema pureza da mente?J3?->A/-.%-,

   A calma mental é adquirida. 8A-$/?-,R2-0,

As qualidades da clareza e da estabilidade vão, entretanto, continuar a melhorar conduzindo a 
um sentimento de extrema pureza do corpo e da mente.   
É a conclusão de Shine, a meditação da calma mental.  

24
Lhagtong, a Visão superior 
 

 
 

 
 
S/->J?->$?-&/-IA?-v-2-:5S=-2,
Com uma vigilância discriminativa e enérgica busca‐se a compreensão justa.  
 

 
 
!R%-*A.-=-.3A$?-0:A-8A-z$-9%-:VJ=-IA?-YA.-l-$&R.-0,
Com a prática de Shine e Lhagtong conjuntamente, orientadas para a vacuidade, 
cortam‐se as raízes do ciclo das existências.   
 

A última imagem se refere à Lhag‐Tong, a Visão superior. A mente purificada e calma torna‐se 
novamente ativa, não segue mais na direção da calma mental.   
Com a força da vigilância discriminativa, simbolizada pela espada, busca‐se a Visão Justa.  
Cortam‐se  as  duas  faixas  negras  que  representam  os  dois  véus:  o  véu  das  paixões  e  o  véu  do 
cognoscível. 
 

25
 

26
 
!, ,,<-=3-1R/-3J?,
A TOCHA DO
CAMINHO DA LIBERAÇÃO

Shine: Calma mental


e
Hlagtong: Visão Superior

Texto do
Venerável Dechung Rinpotche

3
Índice

Introdução

4
Índice

Introdução

I Samatha (Shine)

A - Circunstancias favoráveis, defeitos e remédios à prática de samatha


O isolamento do corpo e da mente

Os cinco obstáculos e os oito remédios

B - Os cinco obstáculos de Samatha

1) A preguiça

2) O esquecimento

3) O torpor e a agitação

4) A falta de intervenção

5) O excesso de intervenção

C - Os oito remédios aos cinco obstáculos

1) Os remédios para a preguiça (intenção,esforço ,confiança, extrema pureza)

2) Os remédios para o esquecimento (recordação-chamada)

3) Os remédios para o torpor e a agitação (vigilância atenta)

a- As duas qualidades de samatha (lucidez e repouso)

b- Opacidade, torpor e agitação

5
6
1 - A opacidade e o torpor
a) definições
b) remédios

2- A agitação
a) definições
b) remédios

4) Os remédios para a ausência de intervenção (reconhecimento)

5) Os remédios para um excesso de intervenção (equanimidade)

D- As forças, as etapas, os atos mentais e as experiências

1) As seis forças

2) As nove etapas

3) Os quatro atos mentais

4) As seis forças em relação às nove etapas

5) As nove etapas em relação aos quatro atos mentais

6) As cinco experiências

E- As instruções práticas da progressão

1) Primeira etapa de Samatha

a- Um suporte de meditação imóvel

b- A imobilidade do corpo

c- Os olhos sem pestanejo

d-“Uma experiência clara do aspecto do suporte da meditação”

2) Segunda etapa

3) Terceira etapa

4) Quarta etapa

5) Quinta etapa

7
8
6) Sexta etapa

7) Sétima etapa

8) Oitava etapa

9) Nona etapa

F- A progressão das cinco experiências

G- Resumo

H- As meditações que purificam os comportamentos passionais


1) O remédio para o desejo

2) O remédio para a agressividade

3) O remédio para a opacidade mental

4) O remédio para o orgulho

5) O remédio para o hábito aos pensamentos

II - VIPASYANA ( Lhagtong)
A – Definições

1) Pessoa

2) Fenômeno

B – O método da prática

1) Meditação do não ser da pessoa

2) Meditação do não ser dos fenômenos

3) Meditação da vacuidade e da compaixão conjuntas

4) Meditação de samatha-vipasyanâ conjuntas

ORIGEM DO MANUAL

Conclusão do autor

9
10
INTRODUÇÃO

Homenagem ao Lama e a Manjusri.


A realização do estado de perfeito Buda, o objetivo em direção ao qual
tendem todas as pessoas que possuem o bom karma de entrar no insuperável
caminho espiritual, demanda aprender, pelo estudo direto e indireto, os atos de
Bodhisattva que são as seis perfeições (pâramitâ): a doação (dâna), a disciplina
(sila), a paciência (ksânti), a coragem (virya), a meditação (dhyâna) e a
compreensão (prajnâ).
Entre essas virtudes, o momento agora é de estudar, e depois meditar o
estado de tranqüilidade (tibetano: shine; escrito: 8A- $/?-; sânscrito: samatha)1 que
constitui o essencial da perfeição da meditação ; e também estudar e meditar a
visão superior (tibetano : lhaktong, escrito: z$- 3,R%- ; sânscrito : vipasyanâ)2 que é a
essência da perfeição da compreensão (prajnâ).
Vou, portanto, explicar sucintamente como conduzir essas práticas.
Existem três abordagens para desenvolver as meditações de samatha e
vipasyanâ:
-Meditar samatha e depois vipasyanâ,
-Meditar vipasyanâ e depois samatha,
-Meditar as duas conjuntamente desde o início.
Aqueles que têm um bom karma, que tem confiança num mestre espiritual
e que são dotados de coragem3 e de inteligência4 poderão realizar essas práticas
facilmente qualquer que seja a abordagem seguida. Para eles, o método não tem
importância. Ao contrário, aqueles que têm capacidades menores deverão
inicialmente, e durante muito tempo, praticar o repouso tranqüilo (samatha), sem
falha e com estabilidade, pois não terão de início, a capacidade necessária para
meditar com sucesso sobre a perfeição da compreensão (prajnâ pâramitâ, ou seja,
vipasyanâ). 

1
O termo tibetano shine (escrito: 8A-$/?-; sânscrito : samatha) é composto de duas sílabas, cada
uma com um sentido: shi significa paz, tranqüilidade ( das agitações, das emoções conflituosas, do
torpor); e ne significa ficar, permanecer, manter-se,repousar, ser (neste estado de tranqüilidade) .
Shine é, portanto, literalmente, “permanecer tranqüilo”, é o estado de repouso de uma mente em
paz. O termo se traduz por ficar tranqüilo, permanecer em paz, repouso pacífico.
2
O termo tibetano lhaktong (escrito: ; sânscrito : vipasyanâ) se decompõe assim : lhag
z$- 3,R%-
significa superior ou claro (lhag ger), mthong : ver ou visão. Lhaktong é a visão superior ou a visão
clara, que vê a natureza da mente além dos véus da confusão. Esse termo será traduzido por visão
superior, vista penetrante, visão intuitiva ou clara visão
3 virya
4 prajnâ

11
 

 
 
 
 
 
 
 

12
Outra abordagem consiste em desenvolver a experiência da visão filosófica
(quer dizer uma forma analítica de vipasyanâ) e depois desenvolver o estado de
repouso tranqüilo (samatha) nesta experiência; samatha e vipasyanâ se praticam
então conjuntamente. Esse método é ensinado como tendo vantagens por dirigir
facilmente os discípulos e fazê-los facilmente descobrir a experiência meditativa.
O Guia Compassivo (o Buddha) nos sutras, explicando seu pensamento
definitivo , assim como o grande Acarya Asanga (Thomé) no Bodhisattvabhûmi
(Djangsa) e o Sravâkabhûmi (Nyensa), Jnânagarbha (Yeshe Nyingpo) no
Madhyamakâhridayakârikâ (Uma Nyingpo), Shantideva (Shiwelha) no
Bodhicaryâvatara (Tchodjuk), Kamalasila nos seus três tratados de meditação e
Atisha (Djwo Dje) no Bodhipathapradipa (Djangtchub Lamdron), aconselharam a
buscar, de início, o estado de tranqüilidade da mente (samatha) e depois meditar
sobre a visão superior (vipasyanâ).
(Em todo caso) o estado de tranqüilidade da mente (samatha) é o
fundamento necessário aos yogues budistas e não budistas para abandonar as
emoções conflituosas. É ainda uma meditação que deve ser realizada por qualquer
um que seja o yogue do Hinayana ou do Mahayana. E mesmo no Mahayana, todos
os yogues do Vajrayana como do pâramitâyâna5 devem praticar samatha. Esta
prática é, portanto a base mais importante para todos os yogues que percorrem a
via espiritual.
Em nossa época das cinco degradações6, praticar inicialmente a
tranqüilidade da mente (samatha) é um ponto muito importante para aqueles que,
como eu, aspiram a orientar sua mente para a meditação. [Essa necessidade pode
ser compreendida por analogias:] como o reflexo da lua sobre a água, que não é
claro sobre uma água agitada; ou ainda como para dissipar a obscuridade e
distinguir as pinturas, são necessárias conjuntamente a claridade de uma vela e a
imobilidade do ar (a tranqüilidade da água e do ar correspondem a samatha, e a
claridade da lua ou da vela a vipasyanâ); semelhantemente uma mente que não
está nem um único instante sem o pensamento discursivo( ou seja,que não tem a
tranqüilidade de samatha) não poderá descobrir a inteligência primordial da visão
superior (vipasyanâ). E mesmo que a consiga agarrar grosseiramente, ela não
poderá ser estável.

5
O mahayâna se subdivide em dois ramos: o pâramitâyâna ou caminho dos sutras, fundado sobre
a prática das pâramitas, e o vajrayâna fundado sobre os tantras. As duas abordagens são
complementares, a primeira sendo a base da segunda.
6
As cinco degradações são: da vida (que diminui), das paixões (que aumentam), das pessoas (que
se envilecem), da época (que degenera) e da compreensão dos ensinamentos (que se degrada). 

13
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

14
I – SAMATHA (Shine)

A – CIRCUNSTANCIAS FAVORÁVEIS,
FALTAS E REMÉDIOS PARA A PRÁTICA DE SAMATHA

- O isolamento do corpo e da mente


Samatha não se apresenta de uma só vez entre os iniciantes, porque eles
estão distraídos. Nós precisamos, para desenvolvê-la, do isolamento do corpo e da
mente. É o que eles farão utilizando os seis fatores favoráveis ao repouso tranqüilo
(samatha). Trata-se de:
1) permanecer em um lugar propício ( quer dizer, principalmente calmo),
2) ter poucos desejos,
3) saber contentar-se com o que se tem,
4) abandonar as distrações das atividades numerosas,
5) ter uma disciplina justa ( no corpo, palavra e mente),
6) abandonar as cogitações que estimulam o desejo e outras paixões.

Os cinco obstáculos e os oito remédios


Uma vez nesse estado de isolamento, para praticar o estado de absorção
meditativa, o Samadhi (de samatha), é necessário:
1) Identificar os cinco vícios a abandonar, e

2) Aplicar os oito fatores remédios que permitem de abandoná-los.

Nós buscamos, então, o estado de repouso tranqüilo (samatha) por meio de


seis forças da prática, e atravessamos nove etapas de repouso passageiro da
mente que correspondem a quatro tipos de posicionamento mental na meditação.
No nosso treinamento nessa prática, nascem, progressivamente, cinco graus de
experiência meditativa, e nós realizamos finalmente o estado de tranqüilidade da
mente extremamente puro.

15
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

16
B - OS CINCO OBSTÁCULOS DE SAMATHA

Os cinco vícios que impedem de realizar samatha são:


1 - A preguiça
É a atitude na qual a mente não entra em contato com as virtudes da
prática.
2 - O esquecimento
Mesmo se a mente entra em contato com a prática, ela esquece as
instruções da meditação.
3 - O torpor e a agitação
Mesmo se a mente não esquecer as instruções ela não fica quieta: é a
agitação; ou então ela é opaca e entorpecida: é o torpor.
4 - A falta de intervenção
Quando a mente caiu no torpor ou na agitação, é não aplicar o remédio que
permite eliminá-los.
5 - O excesso de intervenção
É aplicar remédios muito numerosos. Essa intervenção excessiva impede a
mente de ficar quieta.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

17
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

18
C - OS OITO REMÉDIOS PARA OS CINCO OBSTÁCULOS

Os oito remédios que permitem abandonar os cinco vícios são os seguintes:

1) Os remédios para a preguiça (intenção, esforço, confiança,


arrebatamento)

Existem quatro remédios para a preguiça que é o primeiro vicio a abandonar, que
são:
_A intenção,7 que faz tender para a meditação,
_O esforço, 8que faz ser enérgico nela,
_A confiança,9 que faz entrever suas qualidades,
_E os estados meditativos extremamente puros, ou arrebatamentos (shin
sbyangs)10, que são o resultado dos esforços.
A intenção faz tender para o estado de meditação e o esforço consiste em
permanecer nele. A confiança é a origem da inspiração; quanto aos estados
meditativos de extrema pureza, eles são o fruto dos esforços.
Entre estes remédios para a preguiça o principal é o esforço11: de fato,
trata-se de ser corajoso. A preguiça é o primeiro obstáculo à meditação. Trata-se
de abandoná-la e de desenvolver energia mantendo presentes à mente:
- a característica insatisfatória da existência condicionada,
- a dificuldade de se obter a existência humana livre e qualificada (ou seja,
dotada das liberdades e das qualificações que a tornam apropriada para a prática
do Dharma),
- a impermanência e a morte.

2) Os remédios para o esquecimento ( o chamado da lembrança)


Uma vez que sejamos diligentes na meditação, esquecer as instruções é
uma falta, cujo remédio é o “chamado da lembrança” (tibetano: drenpa, escrito:
S/- 0- ). Este não consiste apenas em não esquecer a meditação, mas também que a
mente fique completamente absorvida na experiência precisa e sustentada de uma
inteligência bem presente.
7
:./-0-
8
2lR/-:P?-
9
..-0-
10
Este estado meditativo extremamente puro (tibetano: shine-djang, escrito: >A/- .%- ) é uma
experiência de arrebatamento físico e espiritual intenso. O corpo e a mente, aqui, estão livres das
impurezas que os sujavam anteriormente. Esta experiência é fonte de uma profunda inspiração
para a prática. O termo shine-djang é suscetível de ser traduzido diferentemente de acordo com os
casos, ele significa literalmente “extremo treinamento” ou “extrema purificação”, e pode também
ser tido por arrebatamento. Na experiência de pureza há também uma extrema flexibilidade e
maleabilidade da mente. O contexto prático e experimental nos fez escolher aqui extrema pureza
que exprime melhor - ao que nos parece- a natureza da experiência evocada.
11
2lR/-:P?-

19
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

20
3) Os remédios para o torpor e a agitação (vigilância atenta)
Durante a absorção meditativa, o torpor e a agitação são as faltas. Seu
remédio é a vigilância atenta (tibetano: Che chin: escrito: >J?-28A/-). Essa vigilância
atenta examina bem se a mente se entorpece, se ela se agita, ou se não é o caso.
Aqueles que têm para a meditação excelentes faculdades reconhecerão o torpor e
a agitação assim que eles começam a aparecer e podem eliminá-los logo. Aqueles
que têm faculdades médias poderão reconhecê-los e abandonar rapidamente após
sua aparição. Quanto àqueles que têm faculdades menores, eles os reconhecerão
pouco tempo após sua aparição, e deverão, então, eliminá-los.

a - As duas qualidades de Samatha (lucidez e repouso)


( De uma maneira geral), a prática de Samatha tem duas qualidades:
_Lucidez (ou clareza): uma presença lúcida12,
_Repouso: um estado de repouso no qual a mente permanece
completamente absorvida na meditação13
Essa primeira qualidade é interrompida pelo torpor. A segunda pela
agitação.
Os principais obstáculos para a realização de uma meditação perfeita têm
suas origens no aparecimento do torpor e da agitação. (Trata-se, portanto, de)
reconhecer suas formas grosseiras e sutis e de eliminá-los. Com efeito, é ensinado,
que não é possível desenvolver samatha, sem dar-lhes um fim, e a fortiori,nem é
preciso dizer, vipasyanâ!
(Nessa perspectiva) a prática necessita de dois elementos:
_ Um meio para que a mente não se distraia de sua meditação (dmigs pa)
_ E uma inteligência que reconhece “como” está a mente: distraída ou não.
O meio é a presença do “chamado da lembrança” (dren pa)14. A
inteligência15 é a atenção-vigilância (shes bzhin) 16

12
$?=-2:A-%<-.%-w/0,
13
.3A$?-0-=-lJ-$&A$-0:A-$/?-(,
14
Drenpa (escrito: S/- 0- ) significa literalmente “manter-se presente à mente” e “recordar-se”,
“lembrar-se de”. Drenpa permite de guardar a meditação presente à mente. É a presença da mente
na meditação e o lembrar-se dela. Nós traduzimos Drenpa por uma ou outra dessas expressões
guardando sempre que possível o termo tibetano entre parênteses. Drenpa como presença do
“chamado da lembrança” assegura a continuidade da meditação.
15
suporte, objeto da meditação. 
.3A$?-0-
16
Shezhin ( escrito: >J?-$8A/-) significa literalmente “ ser conhecedor”. She: conhecer, e zhin é uma
particular característica do presente. Shezhin é o conhecimento do presente, uma qualidade de
atenção vigilante ao instante presente, atenção vigilante ao objeto da meditação e ao estado
presente da mente nela. Ela permite reconhecer se a mente está, no instante presente, distraída ou
não, enquanto que o “chamado da lembrança” (drenpa) permite manter ou restabelecer o contato
com a meditação.

21
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

22
Se a presença do chamado da lembrança (dran pa) se deteriora, nós
esquecemos a meditação17e tão logo nós estamos assim distraídos, ela é
destruída. Daí a presença do “chamado da lembrança” (dran pa) permite não se
deixar a meditação,e é a raiz (dessa prática). É ensinado que se deve estabelecer
a mente na meditação(dmigs pa) e aí permanecer presente, lembrando-se (dran
pa) continuamente, sem a menor distração: quando estamos distraídos, essa
simples distração destrói a presença (dran pa) [na meditação].

b – Opacidade, torpor e agitação


Vejamos agora quais são as diferenças entre opacidade-torpor e agitação.

1) A opacidade e o torpor

a) Definições
A opacidade ou entorpecimento18 é o estado no qual o suporte de
meditação19não está claro e no qual o corpo e a mente estão num estado de
lentidão e de sonolência.
O torpor grosseiro20 é como a obscuridade abatendo-se sobre a mente.
[Nesse estado], mesmo se a mente não se afasta para fora de seu suporte de
meditação, ele não é nem claro nem lúcido e a força da presença (dran pa) está
enfraquecida.
O torpor sutil 21é o estado no qual mesmo se a mente está clara e lúcida, a
precisão de sua experiência sustentada e alerta, fixada 22sobre o suporte de
meditação está um tanto relaxada.

b) Remédios
Considerar as qualidades das Três Jóias (essa consideração é um estimulante para
a confiança, a alegria, o entusiasmo... e a mente de uma forma geral);

17
.3A$?-0- suporte, objeto da meditação.
18
3$?-0- 
19
.3A$?-0- suporte, objeto da meditação. 
20
LA%-2-<$?-0-
21
LA%-2-U-3R-
22
%J?-0:A-%J?->J?-.3-3A%-%J-2-  

23
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

24
_Produzir na mente características luminosas23 (por exemplo: imaginar que
nossa mente banha-se numa imensa claridade, extremamente viva);e
_As instruções concernentes à mistura do sopro-mente e do espaço24( por
exemplo imaginar que a mente faz corpo com o sopro, que se funde ele mesmo
num espaço aberto ao infinito).

2) A agitação

a) Definições
A agitação sutil [ é o estado no qual] a mente não fica imóvel sobre o
suporte de meditação e se dispersa um pouco. O remédio é meditar utilizando a
presença do chamado da lembrança (dran pa) e a atenção vigilante (shes bzhin).
A agitação grosseira (é o estado no qual), mesmo utilizando o chamado
(dran pa) e a atenção vigilante (shes bzhin), a mente não fica quieta e dispersa-se
para os objetos de apego.

b) Remédios
Meditar sobre a impermanência, sobre as três existências inferiores e sobre
os males do samsara (o que favorece o desapego aos objetos fontes de agitação);
Aplicar as instruções que põem fim à agitação com meios poderosos (por
exemplo), meditar sobre um glóbulo sombrio, pálido e muito pesado que, a partir
do nosso coração, desce lentamente para além dos nossos limites corporais. A
mente faz, então, corpo com o glóbulo e o segue descendo doce e
progressivamente.

4) Os remédios para a ausência de intervenção (reconhecimento)


Uma vez que o torpor ou a agitação apareçam, não reagir é uma falta.
O remédio é reconhecê-los25desde sua aparição e utilizar os fatores que os
eliminam (os remédios mencionados anteriormente). Se a mente estiver então
numa presença muito tensa sobre o suporte, ela será lúcida, mas muito agitada e
será difícil ficar tranqüila; e [vice-versa], se a tensão não for suficientemente
sustentada e ela relaxa mais, e ainda que encontre repouso, o torpor será grande
e será difícil obter lucidez.

23
$%-2:A-35/-3-;A.-=-LJ.-0-
24
_%-?J3?-/3-3#:-.%-2YJ-2-
25
<A$-0- 

25
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

26
Por essas razões, avaliando nossa experiência: se constatamos que a
agitação se desenvolve quando nós aumentamos, em certa medida, a intensidade
da inteligência (rig pa), nós nos distendemos um pouco. Ao contrário, se
constatamos que deixando a mente por si mesma ela escorrega para um torpor,
nós aumentamos então um pouco (a intensidade da inteligência). Depois, tendo
encontrado a justa medida entre essas duas tendências, nós buscamos o estado
de repouso da mente, deixando-a em equilíbrio, afastada de toda perturbação.
Quando esse estado de repouso aparece, se tememos por alguns momentos que
ele soçobre no torpor, nós estimulamos novamente a lucidez de uma inteligência
bem presente. Cultivamos (2*% ?- ) também a prática, alternando essas duas fases
até que o Samadhi (experiência profunda) sem defeito se desenvolva. Este não
consiste somente numa transparência, pois se falta a ele a lucidez de uma
consciência precisa, esse estado, por si só, não conduzirá à estabilidade mental.

5) Os remédios para um excesso de intervenção (equanimidade)


Quando [como acaba de ser explicado] mesmo as formas sutis de torpor e
de agitação cessaram, intervir nesse caso em que a mente entrou numa certa
continuidade de meditação é uma falha. O remédio é então não agir com os
antídotos ao torpor e à agitação, e deixar a mente relaxada num estado de
equanimidade.

D - AS FORÇAS, AS ETAPAS,
OS ATOS MENTAIS E AS EXPERIÊNCIAS

1 - As seis forças
Quando nós praticamos samatha seguindo esse método, seis forças são
necessárias:
1_ A força da escuta (estudo do ensinamento),
2_ A força da consideração (é o começo da assimilação do ensinamento),
3_ A força da presença26
4_ A força da vigilância atenta27
5_ A força do esforço assíduo (a energia entusiástica)
6_ A força do habito perfeito.

26
S/-0-
27
>J?-28A/-  

27
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

28
[Na passagem que se segue, a ordem de certos parágrafos do texto tibetano foi ligeiramente
modificada para melhorar a inteligibilidade]

2 - As nove etapas
A prática dessas seis forças faz progredir samatha segundo nove etapas que
conduzem a mente ao repouso, e elas se denominam:
1_ Posicionamento28
2_ Posicionamento com duração
3_ Posicionamento com retorno,
4_ Posicionamento perfeito
5_ Disciplinado
6_Pacificado
7_ Completamente pacificado
8_ Unificado
9_Completamente absorvido, equânime.

3 - Os quatro atos mentais


[Os atos mentais (;A.- LJ.-) introduzem a mente nos estados meditativos das

diferentes etapas de Samatha. Eles evoluem à medida da progressão e são em


número de quatro].
São eles:
1_O ato mental que faz entrar em meditação pela concentração (21A3?- +J-
:)$-0-),
2_O ato mental que faz entrar em meditação “fazendo cessar” ((.-&A%-:)$-0-)
(as distrações)
3_ o ato mental que faz entrar em meditação sem mesmo ter de “fazer
cessar” ((.-0<-3J.-0<-:)$-0-),
4_O ato mental que permite de entrar em meditação sem nenhuma
dificuldade (lR=-2-3J.-0<-:)$-0-).

4 - As seis forças em relação às nove etapas


1) Pela (força da) escuta (desenvolve-se a primeira etapa), dita
“posicionamento da mente” (na meditação).
2) Pela (força da) consideração (desenvolve-se a segunda etapa), dita
“posicionamento da mente com duração”.

28
Pode-se dizer também posição ou colocação

29
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

30
3) Pela presença do “chamado da lembrança” (dran pa) (desenvolve-se a
terceira etapa dita) “posicionamento da mente com retorno” e (a quarta etapa):
“posição perfeita da mente”.
4) Pela (força da) atenção vigilante (shes bzhin) (desenvolve-se a quinta
etapa dita da) “mente disciplinada” e (a sexta etapa da) “mente pacificada”
5) Pela (força do) esforço assíduo (desenvolve-se a sétima etapa de) “a
pacificação completa da mente” e (a oitava) “da unicidade da mente”.
6) Pela (força do) hábito perfeito da prática (desenvolve-se a nona etapa):
“o estado de completa absorção equânime”.

5 - As nove etapas em relação aos quatro atos mentais


As duas primeiras etapas são o período do primeiro ato mental; depois até a
sétima, é o segundo. À oitava corresponde o terceiro e à nona o quarto.

6 - As cinco experiências
As nove etapas são atravessadas com cinco tipos de experiências:
1) A experiência da “agitação”.
A mente é comparável à queda d’água de uma cascata.
2) A experiência da “aquisição”
A mente é comparável a uma torrente passando por uma garganta
estreita.
3) A experiência do “hábito”.
A mente é comparável a um rio de planície.
4) A experiência da “estabilidade”.
A mente é comparável a um oceano sem vagas.
5) A experiência “final”,
A mente é comparável a uma montanha29

29
Ver mais além a descrição mais detalhada das cinco experiências. A quarta é então nomeada
“oceano com vagas” e a quinta, “oceano sem vagas”.

31
 
 
 
 
 
 
 
 

32
E - AS INSTRUÇÕES PRÁTICAS DA PROGRESSÃO

1) Primeira etapa de Samatha


A primeira etapa, “posicionamento da mente”, tem quatro aspectos:
1_ Um suporte de meditação imóvel,
2_ A imobilidade do corpo
3_ Os olhos sem pestanejar (nem tensão)
4_ Uma experiência clara do suporte de meditação.

1_ “Um suporte de meditação imóvel”


Num lugar isolado e agradável, colocamos diante de nós uma representação
do Buda, desenhada ou outra, que seja bela e agradável, ou então podemos
utilizar um objeto que não choque os olhos: uma flor, um pedaço de tecido azul...
Colocamos, assim, diante de nós, aquilo que nos convém, imóvel a uma distância
média. Ainda que numerosos suportes de meditação tenham sido ensinados,
pousar a mente sobre uma representação do Buda é uma recordação dele, o que
tem benefícios incomensuráveis; é um suporte de meditação notável para purificar
os véus da mente e se recordar do Buda no momento da morte.
Se meditarmos seguindo o Vajrayana, existe no yoga da divindade
meditações notáveis que possuem numerosas vantagens. Nelas nós não
meditamos apenas sobre o corpo da divindade, (considerando-o) como uma
imagem ou uma estátua. Mas aprendendo a fazê-la aparecer como sendo o
aspecto verdadeiro do Buda. A mente apreende-o não como um objeto das
faculdades sensoriais, mas como um objeto mental.
Assim, a mente pode pousar sobre formas variadas. Pode-se também contar
as inspirações e expirações, o que é um método particularmente benéfico e
notável, ensinado como supremo para purificar os véus da mente e alongar a
vida.30

2_ “ A imobilidade do corpo”
No Samatha, a postura corporal e a maneira de pousar o olhar são
importantes; (os sete pontos da postura são:)
1_ As pernas na postura Vajra (vajrâsana)
2_ As mãos pousadas no mudra de meditação, quatro larguras de dedo
abaixo do umbigo,
3_ A coluna vertebral reta como uma seta,

30
O domínio dos sopros, ou seja, da respiração e das práticas dos sopros sutis tem por
conseqüência o aumento da longevidade.

33
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

34
4_ O busto desimpedido
5_ O queixo abaixado repousando sobre o pomo de Adão,
6_ Os lábios não são nem abertos nem cerrados: a língua toca o palato.
Eles ficam como são ,relaxados.
7_Os olhos repousam semi-abertos, relaxados no espaço, oito dedos
adiante do nariz.
A respiração continua no seu ir e vir, mas ela não é nem sonora nem rouca
ou agitada. Nós inspiramos docemente, lentamente, de forma natural e expiramos
da mesma maneira.
O praticante permanece como acaba de ser dito, sobre uma almofada de
meditação confortável, reto e imóvel, respeitando todos os pontos da postura de
meditação.

3_ “Os olhos sem pestanejo”


A pálpebra superior recobrindo mais ou menos a metade da íris, os olhos
são pousados distendidos, docemente, sobre o suporte de meditação. Se lágrimas
vêm, nós não as enxugamos com a mão, mas as deixamos correr livremente. Se o
olhar se torna penoso, nós não fixamos a mente (nessa dificuldade) e o deixamos
firmemente dirigido para o suporte de meditação.

4_ “Uma experiência clara do suporte de meditação”


Sem conceber nem julgar o objeto de meditação como sendo bom, mau, ou
o quer que seja nós deixamos aparecer seu aspecto na claridade límpida de uma
mente sem conceitos.

2) Segunda etapa
“Posição com duração”: a meditação precedente, inicialmente, não dura
muito tempo. Quando na segunda etapa, a mente começa a ficar quieta de tal
maneira que os breves instantes de meditação adquirem certa duração.

3_ Terceira etapa
“Posição com retorno”: quando uma distração aparece, ela é reconhecida
como tal e a mente permanece em contato com o suporte da meditação.

4) Quarta etapa
“Posição perfeita”: a mente não se dispersa mais, a presença do chamado
da lembrança a reúne ao suporte de meditação

35
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

36
5) Quinta etapa
“Mente disciplinada”: é a mente regozijando-se dos benefícios do Samadhi.
Se o torpor ou a agitação aparecem, ela os trata com os remédios apropriados.

6) Sexta etapa
“Quietude”: assim que a mente é perturbada por um fator de distração ou o
que quer que seja, ao se tornar suporte de meditação, o fator perturbador se
pacifica.

7) Sétima etapa
“Completamente pacificado”: Logo que fatores desfavoráveis à meditação
apareçam cobiça, ou o que quer que seja, eles se pacificam, a mente
permanecendo pousada sobre o suporte de meditação.

8) Oitava etapa
“Unicidade”: os meios de eliminar o torpor e a agitação (mesmo sutis) tendo
sido empregados, a mente não se dispersa mais e fica estabelecida nesse estado.

9) Nona etapa
“Absorção equânime completa”: pelo poder do hábito, o estado de absorção
se produz por si mesmo, sem esforço nem dificuldade. Mas, pelo tempo enquanto
a felicidade do estado de extrema pureza (do arrebatamento) não tiver aparecido,
desse estado de absorção resta a tranqüilidade (Samatha) de uma mente do
mundo dos desejos atenta a uma só coisa31. Uma vez que essa felicidade tenha
aparecido, desenvolvem-se os estados característicos da tranqüilidade da mente
(Samatha) que são incluídos nos diferentes graus de meditação (do mundo da
forma pura para o mundo sem forma).

31
A cosmogonia budista ensina uma hierarquia de diferentes estados de existência que se
resumem em três mundos ou estados:
O primeiro é o mundo dos desejos: ele é governado pelas paixões. É o nosso estado de
existência habitual. Por todo o tempo enquanto a experiência espiritual de extrema pureza não
aparecer, a meditação de samatha permanece sobre esse plano de existência.
Uma vez que a experiência de extrema pureza (shin djang) apareça, a prática de samatha
se abre sobre os planos do mundo da forma pura, e depois, do mundo sem forma. Eles
correspondem a diferentes graus de realização na prática da meditação. No primeiro deles, a mente
não está mais associada a uma forma grosseira, mas a uma forma sutil e luminosa. No segundo, já
não há nem mesmo forma, mas resta ainda a experiência de noções como “o espaço ilimitado” ou
“a consciência ilimitada”... São as mais sutis experiências da consciência, mas são ainda
experiências condicionadas do Samsara. 

37
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

38
Assim, devem-se desenvolver corretamente os nove estágios que foram
descritos, abandonando em cada um os defeitos que forem encontrados, usando
as ações-remédios que são apropriadas. Mas, entre todos esses, os mais
importantes a serem abandonados são o torpor e a agitação. Primeiro, deve-se
identificá-los, e então:
_Para o torpor, pode-se diminuir a ingestão de alimentos antes da
meditação, sentar em um lugar elevado (um local com ampla visão), usar roupas
leves e uma pequena almofada de meditação; recitar o Refúgio e as preces em voz
alta, meditar numa postura física enérgica.
_A agitação é dissipada por meios opostos aos precedentes.
Quando o torpor e a agitação tiverem se acalmado, medita-se de forma
confortável e relaxada.

F - A PROGRESSÃO DAS CINCO EXPERIÊNCIAS

A Experiência da agitação
1) Uma vez que meditemos assim ( seguindo as nove etapas de Samatha),
os pensamentos se sucedem, a princípio uns após os outros sem interrupção. A
mente grosseira não pode se dar conta desse fluxo de pensamentos, ele preexistia,
mas não era evidente porque a mente não permanecia em meditação. Pelo
contrário, uma vez que nós tomamos consciência, parece-nos que os pensamentos
são ainda mais numerosos que antes. Vem uma questão: “Não é um sinal de que a
meditação não está se desenvolvendo?” De fato trata-se da primeira experiência
(de Samatha)! Chamamos de “a queda d’água de uma cascata”: é a experiência de
reconhecimento dos pensamentos.

A experiência da aquisição
2) Ainda que seja assim, sem adiar a prática para mais tarde, nós fazemos
cessar, tanto quanto possível, a produção dos pensamentos. Se (continuamos a)
meditar, pensamentos se sucedem uns após os outros, mas, num certo momento,
parece que seu curso se acalma e que a mente vem ao repouso, logo depois eles
retomam seu curso... alternativamente. É a segunda experiência denominada “a
água numa garganta estreita”: a experiência de repouso dos pensamentos.

39
 
 
 
 
 
 
 
 
 

40
A experiência do “Hábito”
3) Depois, se continuamos a meditar com perseverança, num momento o
curso dos pensamentos decresce como a respiração que se suspende. Eles se
esgotam e passa-se a um estado sem pensamentos. Nós então meditamos com a
mente alerta; por momentos, a experiência32 é transparente, e furtivamente, os
pensamentos reaparecem. É a terceira experiência dita “uma bacia de confluência
de torrentes”: a experiência do esgotamento dos pensamentos.

A experiência da estabilidade
4) Essa experiência continua a se produzir e, durante a meditação, com a
maioria dos movimentos dos pensamentos pacificados, a mente permanece em
repouso num estado de completa absorção. Nesse estado, um ou dois
pensamentos continuam aparecendo de vez em quando, mas eles se pacificam
logo. É a quarta experiência dita “semelhante a um oceano com vagas”: a
experiência de um oceano com as ondas dos pensamentos.

A experiência final
5) Em seguida, uma vez que ficamos absorvidos com continuidade na
experiência precedente, todas as idas e vindas de pensamentos se pacificam, e a
mente fica completamente absorvida, com lucidez. É a quinta experiência
chamada: “o oceano sem vagas”, a experiência de tranqüilidade dos pensamentos.
Nesse momento, a intrusão dos pensamentos acalmou e a mente fica
regularmente num estado de absorção completa, mas se não houver transparência
nem uma vívida lucidez, trata-se de um Samatha que não passa de uma aparente
pacificação dos pensamentos33. Permanecendo nesse estado de absorção
completa, nós meditamos até que a transparência luminosa da mente se eleve, até
que apareça o estado semelhante a uma lamparina de manteiga que não é agitada
pelo vento.
Quando uma claridade notável do objeto de meditação tenha se
desenvolvido, sem olhar mais o suporte de meditação a mente olha para si mesma
e repousa na luminosidade mesma de sua experiência (shes pa). Se o torpor ou a
agitação aparece, então eles são dissipados com os meios apropriados e nós
ficamos na vastidão transparente, luminosa e viva, dessa experiência (shes pa),
relaxando os esforços e permanecendo à vontade.

32
>J?-0-
33
A expressão #-:HA3-0- é obscura, provavelmente trata-se de uma alteração ortográfica no texto
original. 

41
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

42
Quando nós praticamos assim, se, ao começo de uma sessão o estado de
absorção é mau e vai melhorando em seguida, convém ter uma meditação mais
sustentada (no início) e então meditar com “uma vigilância atenta a uma única
coisa”. Por outro lado, se após estar concentrado, o espírito produz numerosos
pensamentos e não fica quieto, e se inquietações variadas do corpo e da mente
aparecem, é sinal de excesso de tensão: convém então meditar relaxado e
distendido.
(De uma forma geral, trata-se de) comer o alimento que nos convém para
estar com boa saúde, em quantidade moderada; não (se deve) contrariar o ciclo
vigília-sono, dia e noite; se existem desordens (e uma tendência a dormir durante
o dia): repousar e, uma vez repousado, meditar com energia.
Ao término das nove etapas de Samatha, nós teremos desenvolvido “a
tranqüilidade de uma mente que, apesar de ainda estar atormentada pelo apego,
permanece absorvida num estado de atenção pontual”. Quando ela tiver sido
realizada, não há mais esforço a fazer para a mente unir-se ao objeto de
meditação: ela continua assim naturalmente em todas as nossas diferentes
atividades. Se ficarmos assim, deixando a mente tal como ela é, sem conceber o
que quer que seja, eleva-se uma experiência como se as aparências cessassem e a
mente se misturasse com o espaço. Ao deixar essa experiência, nosso corpo
parece uma coisa que aconteceu acidentalmente, a força do desejo, da aversão e
das outras paixões diminui e elas ficam intermitentes.
Quando a experiência de luminosidade é importante, parece que
poderíamos enumerar os átomos de um pilar ou qualquer outro objeto. Existem
também experiências de luminosidade, de felicidade ou ausência de concepção que
se desenvolvem... (num momento), parece que mesmo o sono se funde na
meditação e que a maior parte dos sonhos são puros. Tal estado de absorção é um
aspecto de realidade ou aspecto de tranqüilidade grosseira da mente. É a base
comum a todas as abordagens exteriores e interiores do ensinamento. Ela deve
então ser praticada, mas se não for completada pela experiência do arrebatamento
ou de extrema pureza, não será ainda o estado caracterizado de Samatha e
Vipasyanâ está longe!
A felicidade, a luminosidade e a ausência de concepção podem ser
experiências de uma meditação absorvida em totalidade ou não ser.

43
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

44
Não devemos, portanto, tomar as pequenas experiências imperfeitas de
repouso da mente como sinais de um grau avançado na via e orgulhar-se, mas
conhecer os pontos essenciais do caminho.
Habituando-se a este estado “de uma mente que, ainda sob o domínio do
apego, está atenta a uma única coisa”, o corpo e a mente chegam ao estado
adequado, chamado “experiência de extrema pureza”. A mente está agora livre
para permanecer em qualquer direção virtuosa que aspire da mesma forma de um
cavaleiro com um cavalo perfeitamente adestrado. Ela está feliz, completamente
desembaraçada dos elementos negativos, desgostos e constrangimentos. Os
sopros podem agora se movimentar corretamente no corpo, e este está
desembaraçado dos fatores negativos que nós não pudemos até agora dominar,
tais como a lentidão corporal, etc. A coluna vertebral é como uma pilha de moedas
de ouro e o corpo leve como um floco de algodão.
Certas experiências de felicidade aparecem como se o corpo fosse
instantaneamente penetrado por uma onda de leite quente. Daí vêm a capacidade
de submeter todos os desejos à pratica da virtude: é a experiência de extrema
pureza, ou de arrebatamento, do corpo. Essa experiência de extrema pureza é
inicialmente grosseira, depois, progressivamente, desenvolve-se seu aspecto sutil e
finalmente a experiência perfeita aparece claramente. Durante a experiência
grosseira, a mente oscila, depois, pouco a pouco a intensidade das oscilações
diminui como véus que se afinam mais e mais e finalmente chegamos à
experiência de extrema pureza sutil que é um estado de “absorção imóvel”. É
então o que é denominado Samatha dos diferentes graus de meditação (os
Dhyana ou graus de meditação do mundo da forma sutil e do mundo sem forma).
Essa progressão (correspondente às nove etapas de Samatha, com as
experiências que reportamos) aplica-se também à prática de Utpattikrama ou de
Sampannakrama.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

45
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

46
G - RESUMO

Acabamos de ver a forma de praticar detalhada. Resumindo, trata-se de:


1) Permanecer na meditação apreciando o Samadhi
2) Desenvolver esse esforço de forma ininterrupta,
3) Estar continuamente na presença do chamado da lembrança34[ da
meditação]
4) Eliminar o torpor e a agitação com a vigilância atenta35
5) Quando a meditação é sem falhas: permanecer equânime.
Meditando mais e mais com esses cinco elementos (vivacidade, esforço,
presença, vigilância, equanimidade) as distrações são eliminadas naturalmente e
quando a mente permanece perfeitamente imóvel, o estado de samatha é
realizado.

(Podemos também resumir) a prática em quatro pontos:


1) Permanecer na meditação com alegria.
2) Esforçar-se
3) Proteger a meditação com vigilância
4) Permanecer num estado equânime.

Ou também em dois pontos:


1) Desenvolver uma alegria enérgica
2) Permanecer sobre o objeto de meditação36
Pode ainda ser resumido apenas a permanecer tanto quanto se puder sobre
o objeto de meditação. É o que expõem as progressões dos diferentes
ensinamentos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34
S/-0-
35
>J?-28A/-
36
.3A$?-0-

47
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

48
H - AS MEDITAÇÕES
QUE PURIFICAM OS COMPORTAMENTOS PASSIONAIS

Existem meditações que purificam os hábitos passionais, desejo-apego etc.,


e que fazem com que eles não voltem mais. Elas são cinco portas:

1_O remédio para o desejo


É a meditação sobre o que é repugnante no corpo: cabelos, pelos e
interiormente: fezes, urina, etc.; e o que repugna exteriormente: doença de pele,
cadáveres, etc.

2_O remédio para a agressividade


É a meditação sobre o amor: a aspiração a ser igualmente benfazejo para
todos; amigos, inimigos ou outros. Trata-se de desenvolver um espírito que deseja
a felicidade

3_O remédio para a opacidade mental


É a meditação sobre a interdependência tal que os doze fatores
interdependentes ( a ignorância, etc.) e a reflexão sobre as interconexões, as da
causalidade kármica e outras.

4_O remédio para o orgulho


É a meditação sobre as classificações detalhadas dos elementos: analisar
separadamente os seis aspectos que são a terra, a água, o fogo, o vento, o espaço
e a consciência

5_O remédio para acostumar-se aos pensamentos


É a meditação sobre a respiração, inspiração e expiração: por meio da
contagem ou da observação das idas e vindas do sopro, praticando de sorte que a
mente não seja distraída por outras coisas, Samatha é muito facilmente realizada.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

49
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

50
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

51
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

52
II - VIPASYANA (Hlagtong)

(De uma maneira geral) Vipasyana é a essência da compreensão (Prajna).


Distingue-se :
Vipasyana especial que é a prática desenvolvendo a realização da
inteligência imediata do mahamudra – o sentido último - Ela não será desenvolvida
aqui.
E Vipasyana segundo os pontos essenciais da via comum ao sutra e
ao tantra, é o sentido dessa prática que nós vamos expor brevemente.
Ela compreende:
1) A meditação sobre o não-eu da pessoa37
(ou da ausência de individualidade dentro da pessoa)
2) A meditação do não-eu dos fenômenos38
(ou da ausência de entidade dentro dos fenômenos)
3) A meditação da vacuidade tendo no coração a compaixão39
4) E a meditação de samatha e vipasyanâ conjuntas40

A – DEFINIÇÕES

Trata-se a princípio de distinguir o “não-eu da pessoa” e o “não-eu dos


fenômenos”, depois de compreender sua inexistência41.

1 “Pessoa”
A “pessoa” 42 é inteligência que apreende a continuidade dos
constituintes43 [que nos compõem].

37
“ Não-eu da pessoa” ( $%- 9$- $A- 2.$- 3J.- ) ou “não-eu pessoal” ou “ausência de individualidade
dentro da pessoa”. Nós entendemos “indivíduo” segundo sua etimologia, como “unidade
indivisível”, paralelamente a individualidade é o que caracteriza o indivíduo.
38
“Não-eu dos fenômenos” ( (R?- GA- 2.$- 3J.- ) ou “ não-eu fenomenal” ou “ausência de entidade
dentro dos fenômenos(ou coisas)
39
!R%-*A.-~A%-0R-&/-
40
9%-:VJ=-
41
3J.-0<->J?-
42
$%-9$-
43
1%-0R:C-o/-  

53
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

54
Uma vez que (essa inteligência) agarra em si mesma qualquer coisa de
independente44, de permanente45 e de monolítica46 e assim se fixa a um “eu
mesmo” 47 ou “eu” 48 isso é o “eu da pessoa” [ou ainda “a individualidade da
pessoa”]. Compreender que esse eu da pessoa (ou individualidade da pessoa) não
é qualquer coisa em si49 é a compreensão do “não–eu da pessoa50” [ ou da
ausência de ser ou de individualidade dentro da pessoa].

2 “Fenômeno”
Os “fenômenos51” são diferentes coisas: constituintes52, elementos53 etc.,
concebidos pelo eu da pessoa (ou individualidade da pessoa)54.
Agarrar esses fenômenos e se apegar55 a eles como a coisas reais56
possuindo suas características nelas mesmas57 é o “eu dos fenômenos58” ( ser).

B – O MÉTODO DA PRÁTICA

Num lugar isolado nós entramos no refúgio do lama e das três jóias com
uma oração fervorosa. Depois, motivados pela Grande Compaixão, nós meditamos
longamente no despertar da mente-coração (bodhicitta).Praticamos em seguida
um exercício de samatha e assim que o repouso da mente se desenvolveu um
pouco, nós consideramos :
 

44
<%-g$-
45
g$-0-
46
$&A$-0-
47
%-
48
2.$- “eu”, o si , eu, eu mesmo ou ego (2.$- ) é a entidade sujeito (2.$- ), a impressão de um
sujeito observador como entidade ( quer dizer como “coisa” independente, permanente e
monolítica), em vossa alma e consciência!
49
O eu da pessoa “ não é qualquer coisa em si” ( ), “não tem natureza em si” (
<%- 28A/- 3J.- 0- <%-
28A/- 3J.- 0- )/ é “sem natureza própria”/ não tem existência em si/ é sem “em si mesmo”/ é “sem
realidade em si mesmo”/ “ não tem realidade que lhe seja própria”. Essas diferentes formulações
são compreendidas aqui como sinônimas.
50
$%-9$-$A-2.$-3J.-
51
“Fenômenos” ((R?-) ou “objeto de conhecimento” ou “coisas”.
52
1%-0R-
53
#3?-
54
“Conceptualiza” (2+$?-0-) ou “apreende mentalmente” ou “concebe” ou “ se representa”.
55
8J/-&A%-:6B/-0-
56
“coisas reais” (.%R?-0R-) ou realidades
57
“característica própria” (<%-35/-0-) ou “propriedade em si” ou “características intrínsecas”.
58
“si dos fenômenos” ((R?- GA- 2.$- ) ou “entidade das coisas”. É a impressão de que as coisas
existem em si mesmas, tem uma realidade em si (independente, permanente e monolítica), a
impressão de que as coisas subsistem por si mesmas, nelas mesmas.

55
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

56
“Alala! Nossa mente está em seu estado natural59, ela é naturalmente desde
sempre60 Clara Luz61, livre de todas as determinações62·. Ela é Claridade-vazia63
subsistindo64 sem direção, nem orientação65. Mas não a realizando, agarra-se um
“eu mesmo”66 que faz errar sem fim no Samsara.
Esse Samsara que aparece do hábito às propensões ilusórias,67 da
apreensão dualista68, é aparências de coisas que não são69, como um disfarce, um
envelope ilusório70. Tomando-as como realidades71, como um louco se entrega a
ilusões72 e nelas experimenta continuamente a experiência penosa de numerosos
sofrimentos.
Agora, a partir das instruções do lama sagrado73, eu vou penetrar74 no
supremo segredo75 da mente, o profundo coração de todos os ensinamentos
expresso pelas 84000 coleções do Dharma dos Tathagatas dos três tempos e não
serei mais possuído pelo demônio76 da apreensão das coisas77”.

59
 $*$-3-  
60
 $.R.-3-/?- 
61
 <%-28A/-IA?-:R.-$?=-2-  
62
 3R?-0:A-3,:-.%-V=-2-  
63
 $?=-!R%-  
64
 $/?-0-  
65
 KR$?-3J.-<A?-3J.-  
66
 2.$- 
67
 :O=-0:A-2$-($?-  
68
 $9%-/6B/-  
69
 3J.-$%-  
70
 $?R$-$?R2-;-3-2_-  
71
 2.J/-0<-29%-2-  
72
 :O=-0-#R-/-=-=R%?-,R.-0-  
73
 ]-3-.3-0-  
74
 #R%-.-(.-0-  
75
 $?%-2-]-/-3J.-0-  
76
 $.R/- 
77
  .%R?- 0R<- :6B/- 0- “a apreensão das coisas” é a apreensão reificante, “coisificante”, que reifica,
coisifica, que apreende as coisas como reais, como tendo uma realidade em si. 

57
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

58
1 – Meditação do não-eu da pessoa
Nós endireitamos o corpo e a mente78 na concentração79 da experiência
agradável de existir, como um ser autônomo, e observamos80 os constituintes81.
Consideramos em seguida que “a apreensão de um eu ou um meu82 é uma
ilusão”, pois se isso que nós chamamos de eu ou si existisse ele, deveria estar seja
no nome, seja no corpo, ou seja, ainda dentro da mente:
 

_O nome não sendo mais que uma designação adventícia83, não é o eu


(2.$-3-;A/-).

_O corpo não sendo mais que uma simples concepção que recobre a
agregação de numerosos constituintes como a carne, o sangue etc., ele não é
tampouco o eu. Do alto da cabeça à planta dos pés, ao interior, ao exterior, onde
quer que seja não há um eu.
_E quanto à mente? : a mente do passado84 [já] cessou85; a mente do
devir [ainda] não nasceu, e a mente do presente cessa imediatamente86, também
não pode ser tampouco o eu.
O que chamamos de “eu” se reduz então a não passar de uma ilusão,87 sem
fundamento88. O mental considera89 [esses pontos] mais e mais.

78
=?-?J3?-
79
OA3?-GA?-21A3?-
80
.3A$?-
81
*A-2<-=J/-0:A-1%-0R- , os constituintes da apropriação
82
%-;A-
83
Uma concepção adventícia ( \R-2<-.-2+$?-0-43-) ou uma simples denominação (2+$?-0-&3-)
ou ainda uma designação convencional conceptual, um conceito, uma concepção, uma simples
concepção, não mais que uma apelação, um simples nome...
84
:.?-0:A-?J3?-
85
:$$?-
86
.J- 3- ,$- +- :$$?- 0<- :I<- 2- ela passa instantaneamente, cessa sem cessar, interrompe-se
imediatamente, cessa de instante em instante, cessa no instante, cessa constantemente...
87
:O=-0-
88
$8A-3J.-
89
;A-=-L-

59
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

60
2 – Meditação do não-eu dos fenômenos
Todas as aparências do mundo exterior na sua variedade90·: montanhas,
casas etc., não são o produto do acaso, do Todo-Poderoso, dos quatro elementos,
de átomos ou de um criador outro91 [mas são produzidos pela] nossa própria
mente globalmente alterada,92 pelas propensões do Samsara. (Todas essas
aparências) são como inexistentes, e93 elas se reduzem unicamente a aparências94
emergindo pelo poder da ilusão95. Elas são, para tomar um exemplo, análogas96 a
uma cidade onírica ou aos cavalos, vacas ou outras formas de sonho. 
Nós consideramos isso longamente para desenvolver uma firme convicção97.
Assim, se as aparências tomadas como objetos são análogas às aparências
oníricas, o conhecedor98 que as apreende é, também, semelhante ao espírito
(sujeito) da experiência onírica99, não tem existência real100, qualquer que ela seja.
Isso porque todos os fenômenos incluídos na apreensão dualista sujeito-
objeto, nada mais são que ilusões, mentiras e sujeitos enganosos.
Nós os consideramos e a mente se volta para si mesma na inteligência do
presente instantâneo101, livre do véu da apreensão dualista sujeito-objeto102 e
longamente contempla nuamente seu próprio esplendor103.

90
$-5S$?-?-$%-2-
91
“criador que seja outro” ( LJ.- 0- 0R- $8/- IA?- L?- 0- ) ou ainda : “ criador constituído como outro”,
“criador na alteridade” ou “ não são o produto de um criador ou de uma alteridade”
92
!/-+-2a.-0-
93
3J.-28A/-.-
94
$%-2-
95
:O=-0-
96
!/-+-35%?-0-  
97
%J?->J?-S$-
98
O conhecedor (>J?-0-) ou ainda: a inteligência, o conhecimento.
99
$/?-{2?-GA-?J3?-
100
Ou ainda: “fundamentalmente ele não consiste em coisa alguma” ou “ele não tem nenhuma
existência real” ( ) ou “ele é sem consistência fundamental”.
.R/-=-P2-0-&A-;%-3J.-0-
101
.-v<-IA->J?-0-
102
$9%-:6B/-IA-1A2-$;R$?-.%-V=-2-
103
Próprio esplendor (<%- $.%?- ) ou ainda: radiancia própria, irradiação sua energia em si, sua
própria lucidez...

61
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

62
Na experiência da claridade lucidez da abertura total, escancarada104:
_ contemplamos de onde nasce essa lucidez inteligente105: não
encontramos de início a causa (ou o lugar de origem) de onde ela vem: ela é não
nascida, é uma vacuidade aberta e desimpedida106.
_ em seguida contemplamos onde reside sua essência107, ela não se
encontra em nenhuma parte: nem no interior do corpo, nem no exterior ou entre
os dois. Ela não consiste em nenhuma cor, forma ou o que quer que seja.
Qualquer que seja a forma como nós a procuramos, ela não pode ser encontrada.
É uma viva transparência sem localização108. 
_Finalmente, se contemplarmos onde ela termina: ela não se termina e não
se acaba em nenhuma conseqüência e, nessa não-finitude109 está uma felicidade
estável110.
Assim, a vacuidade natural111, desprovida de causa, de conseqüência e de
essência (ou de ser) resplendece numa nudez clara e brilhante112. Sem bloquear
de modo algum a energia própria113 à claridade daquilo que de fato se
experimenta114, a inteligência dessa experiência115 é uma lucidez viva e aberta116·:
na sua claridade117 ela não consiste em nada (ela é vacuidade) e na sua vacuidade
ela é inteligência, lúcida e livre de todo bloqueio118. É a Claridade-vazia, a ausência
de apreensão119 além das determinações120 e das orientações121.

104
$?=-=J-ZA$-$A-2:A-5=-
105
$?=-<A$-
106
*J-3J.-.-!R%-?%-%J-2-
107
<%-$A-%R-2R--Essência, ou “ aquilo que ela é nela mesma”,- ou “ aquilo que ela é em si” ou “ser”.
108
$/?-3J.-.-?%?-?%-%J-2- 
109
:$$-3J.-
110
2.J-(3-3J-2-
111
$>A?-!R%-0-*A.-
112
eJ/-z%-%J-2-
113
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114
MR%-3#/-
115
MR%-<R$-
116
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117
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118
$?=-<A$-3-:$$?-0-
119
$?=-!R%-:6B/-3J.-
120
3,:-V- 
121
<A?-3J.-

63
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

64
“Permanecer nessa abertura, escancarada122 nua e desobstruída123, indizível
e impensável; e finalmente, sem nem mesmo apreender o indizível!”
Quando aparece um pensamento, não siga seu curso, permaneça
desapegado124·: “tão logo ele aparece, ele desaparece completamente”.
No começo seja concentrado com firmeza125 na intensidade; no meio seja
relaxado na distensão126; e no fim seja sem esperança nem temor.
Em resumo: sem jamais estar distraído da totalidade da simples presença127
que é a claridade-lucidez vazia128 sem fixação129, esteja,130 sem embaraço131 no
estado onde não há nada que seja meditado132 – medite assim, intensamente133,
por curtos momentos134 repetidos mais e mais; depois, sem que a meditação se
torne fatigante encerre-a sob uma boa impressão”.

122
ZA$-$A-
123
eJ/-/J-;J-<J-
124
:6B/-3J.-.-28$-
125
OA3?-GA?-21A3?-
126
zR.-GA?-,R.-
127
<$-0-
128
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129
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130
28$-
131
lR=-3J.-
132
2|R3-o.-/A-&A-;%-3J.-0-
133
.R?-S$-
134
;/-,%-2-

65
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

66
3_ Meditação da vacuidade e da compaixão conjuntas
Ao fim da sessão, antes de deixar a prática135: [Considere a natureza de
todo fenômeno: além das determinações136, sem ponto de referência137,
indizível138, transcendendo ao intelecto139, sem fundamento nem origem140,
semelhante ao espaço. Não o reconhecendo, todos os viventes- nossas mães do
passado141- atados por intenso apego ao eu e a fixação sujeito-objeto, vivem142
nas aparências ilusórias. Com uma compaixão enfática143 desejamos que eles
realizem a natureza da mente144. A inteligência suprema145 do perfeito estado de
Buddha que torna manifesta146 esse grande além das determinações147.
Entre os tün (sessões de meditação)148:
“Os ilusionistas produzem formas:
Cavalos vacas, carros e outras.
Mas, seja o que for que apareça, isso não é nada em si,
Conheça todo fenômeno como semelhante”...
As profundas palavras dos sutras do sentido definitivo são uma grande
inspiração que planta o hábito da visão filosófica149, assim os recitamos, no estado
que compreende toda aparência como aparência vazia, semelhante a uma ilusão; e
depois, agiremos diligentemente para o bem dos viventes.

135
2?3-2+/-IA-,R.-=3- 
136
3,:-V-
137
<A?-3J.-
138
2eR.-V=-
139
]R-:.?-
140
$8A-3J.-l-V=-
141
3-c/-
142
=R%?-,R.-0-
143
~A%-<J-)J-
144
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145
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146
3%R/-.-L?-0-
147
3,:-V=-(J/-0R-
148
,/-353?-
149
v-2-

67
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

68
4 - A meditação de Samatha-Vipasyana conjuntas
O período de Samatha é a pacificação150 de todas as irrupções do
pensamento discursivo151; é o mental que não faz nada152.
O período de Vipasyana é a eliminação153 de toda superimposição154; é o
mental no qual não há nada a fazer155.
No Yoga da ausência de toda meditação, os dois [samatha e vipasyana]
fundem-se em um único sabor e são praticados conjuntamente.
O Ornamento do Sutra diz:
“Esse véu da conjunção156
É o da unificação157”
A forma de praticar é sumariamente semelhante à que se precede: sem
abandonar a inteligência superior158 que compreende o yoga meditado, o meio de
meditação e a pessoa que medita como desprovidos de natureza própria;

150
8A-
151
i3-gR$-$A-:)$-0-
152
;A.-=-3A-L-2-
153
(R.-
154
Superstição- superfetação ( 1R-:.R$?-)
155
;A.-=-L-o-3-fJ.-0-
156
9%-.-:)$-0-
157
#R3-0-
158
>J?-<2-

69
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

70
sem bloquear159 a lucidez da simples presença160, a estabilidade da absorção
unificada161 na experiência aparente162, é Samatha, enquanto que a compreensão
imediata163 do caráter não nascido dessa simples aparência164 é Vipasyana.
Os dois estando em essência165 indissociáveis, fique [em seu estado] claro-
lúcido e completamente aberto166. Uma vez que o repouso167 é grande, estimule168
a inteligência que compreende em si mesma169 e uma vez que a inteligência é
intensa e que a mente não repousa, fique relaxado170.
Alternando assim, e reunindo os dois171, todos os desvios172 são eliminados.
Se esses pontos essenciais não são cumpridos, haverá um desvio, pois qualquer
que seja a estabilidade de samatha, [ samatha sozinho se desvia] em um ou outro
dos quatro níveis de meditação173 [do mundo da forma sutil]; e por mais excelente
que seja o discernimento de vipasyana, [ vipasyana sozinho se desvia] num dos
quatro domínios do sem forma [ do mundo da ausência de forma].
Por isso é importante praticar eliminando todos os desvios-
(Entre os Tun) sem se investir, ao capricho das projeções174, nos objetos
das faculdades cognitivas, a inteligência175 não deixa o domínio da totalidade das
aparências, reconhecendo-as como suas simples emergências176. E nesse estado,
nós realizamos o bem dos seres tanto quanto possamos.

159
3-:$$?-0-
160
<A$-0-
161
lJ-$&A$-+-$/?-0-
162
$%-2:A-(-
163
gR$?-0-
164
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71
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Finalmente, aplicando-nos à virtude, ou em qualquer atividade que seja nós
cultivamos177 mais e mais a inteligência178 de que toda aparência é como um
sonho ou uma ilusão. Isso é importante, pois é ensinado que essa prática faz
nascer em si o hábito da visão justa179.

CONCLUSÃO DO AUTOR

A profunda visão (exposta aqui é a ) do madhyamaka que é a alma vital180


do caminho dos sutras como dos tantras. Particularmente no insuperável
vajrayana, sem essa visão (mâdhyamaka), o autêntico caminho dos mantras não
poderá se desenvolver. Para encontrar essa visão do meio (mâdhya181) é muito
importante purificar os atos negativos pelas quatro forças; dirigir uma intensa
prece ao Lama indissociavelmente unido a Manjushri; ser diligente nos
desenvolvimentos por meio do serviço de sete ramos; praticar a oferenda de
mandala e guardar uma disciplina pura e os votos nos quais estamos engajados.

A “Tocha do caminho da liberação”- o método de meditação na experiência


profunda (samadhî) de samatha-vipasyanâ- foi compilada por Dechung Rinpotche, Kunga
Tenpe Nyima, um “simples” yogue , isso para ajudar nas suas práticas seus amigos do
Dharma de Kagyu Kunkhyab Chöling (Vancouver, Canadá).
Por essa virtude possam todos os viventes rapidamente realizar a inteligência primordial
todo conhecedora!
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

177
2!J/-
178
S/-mA-
179
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180
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181
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73
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

74
 

Bokar Rinpotche 

 
 
 
 
 
 
Apresentação

Bokar  Rinpotche  nasceu  no  Tibete  Ocidental  em  1940,  sendo  considerado 
como  um  dos  grandes  mestres  de  meditação.  Ele  compôs  para  seus  discípulos  o 
breve texto que apresentamos aqui, com o título de A Porta do Sentido Definitivo. 
Breve  e  densa,  a  obra  apresenta‐se  como  um  condensado  de  uma  obra  do 
nono Karmapa, O Oceano do Sentido Definitivo. 
Os  Karmapas,  tão  conhecidos  no  Tibete  tanto  quanto  os  Dalai  Lamas, 
formam  uma  linhagem  de  mestres  reencarnados,  no  alto  da  ordem  Kagyupa  do 
budismo tibetano, desde o século XII. Eles são herdeiros diretos de Tilopa, Naropa, 
Marpa e Milarepa 
O  nono  Karmapa,  Wangchuk  Dorje  (1556‐1603)  compôs  vários  tratados  de 
meditação,  e  o  mais  completo  e  mais  célebre  é  o  O  Oceano  do  Sentido  Definitivo 
(Ngedön Gyamtso). Esse volumoso texto, do qual não existe, no momento atual, uma 
tradução  publicada  em  língua  ocidental,  é  na  ordem  Kagyu,  um  grande  clássico 
dos quais se servem geralmente os lamas ao ensinar a meditação. 
O termo ʺsentido definitivoʺ (ou ʺverdade definitivaʺ), contido no texto das 
obras  que  mencionamos,  designa  a  compreensão  direta  pela  experiência,  da 
natureza  absoluta  da  mente,  além  do  psiquismo  e  de  suas  flutuações,  além  dos 
conceitos  e  das  emoções,  além  do  nascimento  e  da  morte,  do  espaço  e  do  tempo. 
Ele  é  utilizado  em  paralelo  com  o  termo  ʺsentido  pedagógicoʺ  (ou  ʺverdade 
pedagógicaʺ)  que  se  refere  aos  métodos  utilizados  na  ordem  do  psiquismo  e  do 
conceitual, para favorecer a abordagem do sentido definitivo. O sentido definitivo 
é  assim  vinculado  à  ʺVerdade  Absolutaʺ  e  ao  ʺConhecimentoʺ,  e  o  sentido 
pedagógico é ligado à ʺverdade relativaʺ e aos ʺmeiosʺ. 
 O sentido definitivo é ainda equivalente de ʺMahamudraʺ, palavra sânscrita 
que  significa  ʺgrande  seloʺ  ou  ʺgrande  símboloʺ.  Bokar  Rinpotche  o  introduz  nos 
seguintes termos: 
ʺO  tema  de  nosso  estudo  é  o  Mahamudra.  O  Mahamudra  é  também  a 
mente.ʺ 
Denominamos mente aquilo que conhece ,que sente e que produz: a dor, a 
felicidade,  os  pensamentos,  as  sensações,  os  sentimentos  etc.  É  essa  mente  que 
iremos estudar e sobre a qual iremos trabalhar, 
Não é preciso ver o Mahamudra como outra realidade, como qualquer coisa 
superior e de que nós estamos embaixo. O Mahamudra não está no céu enquanto 
que  nós  estaríamos  sobre  a  terra.  O  Mahamudra  não  está  em  outro  lugar;  não 
estamos jamais separados dele, mas, no entanto, não o reconhecemos. 
As  instruções  sobre  o  Mahamudra  não  têm  por  função  nos  trazer  algo  de 
novo, mas introduzir‐nos ao que já temos. Quanto à meditação do Mahamudra, ela 
permite habituarmo‐nos interiormente ao que as instruções nos fizeram descobrir 
em nós, de maneira a poder permanecer nela continuamente. 

3
A palavra tibetana tchaguia tchempo, significa Mahamudra, e é definida como 
o  que  designa  ʺa  natureza  da mente,  clara luz  e vacuidade,  que engloba  todos  os 
fenômenos do Samsara e do Nirvana.ʺ 
O  texto  de  Bokar  Rinpotche  é  tão  conciso  que  sua  leitura  por  um  leitor 
novato  corre  o  risco  de  fortemente  a  deixar  uma  impressão  de  grande 
obscurecimento.  A  função  da  A  Porta  do  Sentido  Definitivo  não  é,  de  fato,  propor 
desenvolvimentos  ou  esclarecimentos  sobre  a  meditação  e  sobre  a  abordagem  do 
Mahamudra,  mas  sobretudo  de  servir  de  ajuda  à  memória  aos  que  já  estão 
engajados  no  caminho.  Redigido  em  versos,  a  obra  se  presta,  também  para  a 
recitação  ritual  ou  a  memorização.  Ele  se  dirige  diretamente  aos  discípulos  (foi 
para  responder  a  pedido destes  que Bokar Rinpotche o compôs), permitindo‐lhes 
facilmente  relembrar  os  diferentes  aspectos  da  Via,  mostrando‐lhes  a  lugar  exato 
de cada elemento, convidando‐os a progredir e aprofundar sua compreensão. 
A  tradução  do  texto  foi  feita  a  pedido  e  com  a  ajuda  de  Bokar  Rinpotche. 
Principalmente  destinada  aos  discípulos  que  seguem  os  seminários  de 
aprendizagem  de  meditação  que  Bokar  Rinpotche  organizava  na  Índia,  ela 
interessará  igualmente  a  todos  que  estão  engajados  nos  caminhos  profundos  do 
budismo bem como aos estudantes da língua tibetana. 
A  tradução  que  propomos  esforça‐se  em  se  manter  o  máximo  possível 
próxima do texto tibetano. O tanto que se pôde fazer, optamos pelos equivalentes 
literais, evitando as interpretações.  
Apesar  de  todo  cuidado  que  tivemos,  não  é  impossível  que  erros  tenham 
ocorrido  em  nossa  tradução.  Agradecemos  antecipadamente  a  todas  as  pessoas 
que, tendo detectado um ou outro erro, comuniquem‐nos suas observações. 
 
Tcheuky Sengue 
(François Jacquemard) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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A Abertura da Porta
do Sentido Definitivo 
 
Apresentado em forma fácil de ser utilizado. Uma versão concisa 
que resume o sentido do O Oceano do Mahamudra‐Sentido Definitivo. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

5
 
 
 
 
 
 
 
Palavras
 
agradáveis,
 
 
sentido profundo,
 
alta filosofia:
 
Não esgote nem teu corpo
 
nem tua mente
 
tentando obter um 
tal Dharma.
Os ensinamentos  que recebestes
de acordo com tuas
  capacidades,
Tenha confiança
  neles e
pratique-os:
  aí está
o benefício para
  tua mente. 
  
Bokar Rinpotche
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Sumário 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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8
A Abertura da Porta do Sentido Definitivo
Apresentado em forma fácil de ser utilizada‐ uma versão concisa que resume o sentido do 
O Oceano do Mahamudra‐Sentido Definitivo. 
 
Índice 
 
 
Preliminares 
 
 
I_preliminares Comuns 

  1_Preciosa Existência Humana 

  2_Morte e Impermanência 

  3_Lei de causas e efeitos 

  4_Natureza defeituosa do samsara 

II_ Preliminares Específicas 

  1_Refúgio e Bodhicitta 

  2_Vajrasatva 

  3_Oferenda de Mandala 

  4_Guru Yoga 

III_Preliminares Particulares 

  1_Fator causal 

  2_Fator principal 

    a_O mestre pessoa humana 

    b_O mestre Palavra Desperta 

    c_O mestre aparências simbólicas 

    d_O mestre natureza absoluta 

9
 

10
3_Fator objeto 

4_Fator imediato 

 
 
Corpo da Prática 
 

I_ Pacificação (Shine) 
 1_Princípios Gerais 

  1_Postura física fundamental 

  2_Atitude fundamental da mente 

 2_Métodos particulares 

  1_Fixar a mente não‐fixada 

A)_Com objeto 

1_ exterior 

  a_impuro 

  b_puro 

2_interior 

    B)_Sem objeto 

    C)_Sobre a respiração 

  2_Estabilizar a mente fixada 

    A)_Vincular a mente 

      1_em cima 

      2_embaixo 
 

11
 
12
3_a prática de alternância 

    B)_Os nove meios de estabilizar a mente 
 

  3_ Enriquecer a estabilidade 

II_Visão Superior 
 

  1_Ver o modo de ser da mente 

  2_Cortar a indecisão 

  3_Chegar à conclusão da vacuidade da consciência 

    A)_Introdução a partir do movimento 

    B)_Introdução a partir das aparências 

      a_As aparências‐mente 

      b_A mente‐vacuidade 

      c_A vacuidade auto‐existente 

      d_A auto‐liberação auto‐existente 
 

Pós Prática 
 

I_Enriquecimento 

  1_Eliminação das Cinco idéias falsas 

    a)_Afastar as idéias falsas sobre os objetos 

    b)_Afastar as idéias falsas sobre o tempo 

    c)_Afastar as idéias falsas sobre a essência 

    d)_Afastar as idéias falsas sobre a natureza 

    e)_Afastar as idéias falsas sobre o conhecimento 
 
 

13
 

14
2_Exercitar‐se nas três habilidades 

    a)_Ser hábil para começar a meditação 

    b)_Ser hábil para parar a meditação 

    c)_Ser hábil para preservar a meditação 

 
  3_Eliminar os erros e desvios 

    A)_Os erros 

      a)_O erro sobre a vacuidade 

      b)_O erro sobre o selo 

      c)_O erro sobre o antídoto 

      d)_O erro sobre o caminho 

    B)_Os desvios 

  4_A liberação dos Três caminhos perigosos 

    a)_A vacuidade surgindo como inimiga 

    b)_A compaixão surgindo como inimiga 

    c)_A causa surgindo como inimiga do resultado 

II_Eliminação dos Impedimentos 

  1_As doenças 

  2_Os espíritos malignos 

  3_Na meditação 

 
 

III_A Progressão 

  1_Atenção unifocada 
 

15
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

16
2_Não produção 

  3_Único sabor 

  4_Não‐meditação 

_Correspondência entre as Quatro yogas e os caminhos 

IV_Atualização do resultado 
 

 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

17
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natureza
 
imanente
  do
samsara e  do nirvana:
 
A clara
 
luz.
O santo Lama
  mostra
o modo de ser:
  a clara-luz.
Possam os afortunados
  que
 
praticam
 
o Mahamudra-clara
  luz
tornarem-se  Budas no
coração do  Despertar:
 
a clara-luz.
 
   
Bokar Rinpotche
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

18
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Texto 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

19
 

20
  OM  Soti.  O  Lama,  as  Divindades  e  minha  própria  mente  indissociados,  estão  em 
estado natural, Por todo tempo prosternando‐me, coloco‐me totalmente sob vossa proteção.  
 
‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ 
 
  No  espírito  de  ajudar  aqueles  que  desejam  seguir  o  guia  ʺMahamudra 
concomitante  aplicadoʺ  que  é  o  Oceano  do  Sentido  definitivo,  extraímos  a  estrutura 
do  texto  e,  para  facilitar  a  abordagem  e  a  progressão  meditativa  que  a  ele  se 
reporta,  compusemos  aqui  uma  versão  concisa  que  resume  o  sentido,  que  é 
também uma combinação de recitação e meditação, digamos, um resumo claro. Ele 
se divide em três partes: as preliminares, o corpo da prática e a pós‐ prática.  

 
A_Preliminares 
 
I)_Preliminares comuns 
 
  1_As Liberdades, as qualificações e a dificuldade de obtenção de existência humana 
  Namo  Guru  Be.  Aquele  que  deseja  praticar  corretamente  o  Santo  Dharma 
deve abandonar as distrações e meditar logo assim: Este suporte excelente, provido 
das oito liberdades e das dez aquisições, difícil de ser obtido e extremamente útil, 
possui o mesmo valor que a jóia que realiza os desejos. Mais rara ainda é o corpo‐
vajra  com  os  seis  elementos  que,  graças  ao  Vajrayana,  torna  possível  a  realização 
do Despertar em uma só vida. A dificuldade de obtenção da existência humana é 
explicada  por  causas,  comparações  e  número.  Quando  obtida,  ela  é  facilmente 
destruída;  é  por  isso  que,  desde  hoje,  é  preciso  consagrar  nossos  esforços 
unicamente à prática do Dharma. 
   
  2_Morte e Impermanência 
  Todos os fenômenos compostos, exteriores e interiores, receptáculo e seiva, 
como mostram os quatro limites, não tem permanência nem mesmo um instante. A 
vida dos seres mais particularmente, é semelhante a uma chama exposta ao vento 
ou  ainda  uma  bolha  dʹágua.  É  certo  que  morrerei,  e,  ainda  que  o  momento  seja 
incerto, morrerei em breve. As causas de morte são numerosas e, ainda que eu não 
queira,  morrerei.  No  momento  da  morte  são  experimentados  intoleráveis 
sofrimentos; não há então outro refúgio, exceto o Santo Dharma. Em conseqüência, 
sem adiar, é preciso gerar o desapego. Pensemos que o tempo é curto e devemos 
nos consagrar ardentemente à virtude. 
 
3_A Lei de causas e efeitos 
    Uma vez que se tenha morrido, se é semelhante a uma lamparina cujo óleo 
esgotou‐se. Onde se retome nascimento, não se faz de maneira livre, mas é certo que 
 

21
 

22
sem poder exercer o controle, se é levado pelo karma. É dito, de maneira geral, que 
as  diversas  manifestações,  felizes  ou  dolorosas,  são  o  fruto  de  atos  positivos  e 
nagativos.  Da  realização  dos  dez  atos  positivos  vem  o  nascimento  nos  mundos 
afortunados  e  dos  dez  atos  negativos,  realizados  sob  a  ação  dos  fatores 
pertubadores, vem o nascimento nos mundos desafortunados. Façamos a reflexão 
de  maneira  detalhada  desse  processo.  Resumindo,  uma  vez  que  é  certo  que 
experimentaremos um dia, sem que se apague, o resultado de maturidade kármica 
do  que  realizamos,  examinemos  minunciosamente  o  continuum  de  nossa 
consciência a fim de aplicar corretamente uma perfeita discriminação entre os atos 
positivos e negativos. 
 
           4_A Natureza Defeituosa do Samsara 
  Onde quer que se tome nascimento nos seis mundos cíclicos das três esferas, 
se  é  continuamente  atormentado  pelos  três  tipos  de  sofrimentos.  Sofrimentos 
atrozes  e  muito  longos  dos  infermos  ardentes  e  frios;  dos  espíritos  famintos  que 
sofrem com a fome e a sede; os animais que se devoram entre si. Os homens sofrem 
as  dores  do  nascimento,  da  velhice,  da  doença  e  da  morte  e  ainda  outros;  os 
semideuses,  das  disputas;  e  os  deuses,  da  transmigração  e  da  queda.  Façamos  a 
reflexão  sobre  a  maneira  pelo  qual  esses  sofrimentos  são  experimentados,  de 
maneira a rejeitar como um alimento embebido de veneno, as felicidades e os bens 
insignificantes  do  vir‐a‐ser.  O  samsara  é  semelhante  a  um  braseiro:  sejamos 
determinados desde hoje em aplicar um método que, de maneira certa, nos liberta. 
 
1.  II)_Preliminares Específicas 
 
          Nas quatro preliminares específicas temos: 
_A explicação da tomada de refúgio e a geração da mente do Despertar que 
fazem  de  nossa  consciência  um  receptáculo  adequado  ou  ainda  colocam  todos 
nossos atos sobre a Via da liberação; 
_A  meditação  e  a  recitação  do  mantra  de  Vajrasattva  que  nos  purifica  dos 
atos negativos e dos véus; 
_A mandala que finaliza as duas acumulações; 
_A explicação do guru‐yoga que faz entrar rapidamente na Graça. 
 
      1_Tomada de refúgio e a geração da mente do Despertar 
 Não  busquemos  outro  refúgio  além  das  Três  Joias  para  nos  proteger  dos 
sofrimentos  do  samsara.  Quando,  em  companhia  de  todos  os  seres  do  universo, 
tomamos  refúgio,  fazemos  a  seguinte  visualização:  diante  de  nós,  no  meio  do 
espaço  está  a  nobre  árvore  que  realiza  os  desejos,  com  cinco  galhos.  No  tronco 
central está sentado, sobre um trono de leões, um lótus e uma lua, o lama‐raiz, o 
soberano Vajradhara, possuindo perfeitamente as marcas e sinais físicos, radiante, 
em esplendor. 

23
 

24
Acima  dele,  os  lamas  da  linhagem  estão  dispostos  uns  sobre  os  outros;  e 
depois  à  frente,  à  direita,  atrás  e  à  esquerda,  encontram‐se  respectivamente  os 
Yidams,  os  Budas,  o  Dharma  e  a  Sangha  como  um  acúmulo  de  nuvens.  Nós 
mesmos e todos os seres, até atingir o perfeito Despertar, tomamos refúgio neles e 
geramos  a  sublime  mente  do  Despertar.  Para  finalizar,  os  locais  de  refúgio  se 
dissolvem  em  luz  e  se  fundem  em  nossas  três  portas;  permanecemos  então  na 
essência do estado natural. 
 
2_Meditação e Recitação do mantra de Vajrasattva 
  Todos  os  atos  negativos  e  as  rupturas  de  votos,  quaisquer  que  sejam 
acumulados  desde  os  tempos  sem  começo,  são  neutralizados  pelas  quatro  forças. 
Sublime como força agindo como completo antídoto é a meditação de Vajrasattva 
acompanhada da recitação de seu mantra. Para realizá‐la, permanecemos em nossa 
forma comum, imaginamos que acima de nossa cabeça está o lama Vajrasattva, de 
cor branca, segurando em sua mão direita na altura do coração, um vajra de cinco 
pontas; em sua mão esquerda pousada sobre o colo, um sino; ele está sentado na 
postura  de  Bodhisatva.  Visualizamos  seu  corpo  como  desprovido  de  natureza 
própria ainda que esteja aparente. Em seu coração, sobre um disco de lua, as cem 
sílabas estão dispostas em círculo em torno de um HUM. De lá desce o néctar que 
penetra em nós pelo orifício de Brahma. Ele nos purifica completamente das faltas 
e véus, dos danos e rupturas de votos. Depois, dirigimos novamente uma prece à 
Vajrasatva  e  este  se  regozijando  nos  diz:  ʺEstais  purificados  de  toda  falta  e  todo 
véu.ʺ  Assim  ele  nos  revigora.  Ele  se  dissolve,  em  seguida,  em  luz.  Tornamo‐nos 
indiferenciados, com seus três vajras. 
 
3_Oferenda de Mandala 
  Graças  ao  método  sublime  da  oferenda  de  mandala  do  universo,  são 
finalizadas as duas acumulações de mérito e sabedoria. Para isso, é necessária uma 
mandala de realização feita de material precioso que não tenha nenhum defeito, e a 
visualizamos  como  sendo  um  palácio  inestimável  dotado  de  todas  as 
características.  Em  seu  centro  estão  os  lamas‐raiz  e  os  lamas  da  linhagem;  nas 
quatro direções os Yidams, os Budas, o Dharma e a Sangha assim com os Dakas, as 
Dakinis  e  Protetores  de  sabedoria.  Visualizando‐os  perfeitamente,  estamos  nós 
diante  deles,  segurando  uma  mandala  de  oferenda,  nós  a  oferecemos,  fazendo 
surgir  em  nossa  mente,  miríades  de  Montes  Meru,  continentes  e  subcontinentes, 
nosso  corpo,  nossos  bens,  nossa  acumulação  positiva,  tudo  que,  sem  exceção, 
pertence a nós e a todos os seres do universo. Pelo poder dessa oferenda, as duas 
acumulações  são  finalizadas.  As  divindades  regozijam‐se  e  se  dissolvem  em  luz 
que se funde em nós, e nos tornamos indiferenciados. 
 
  
 
 
 
 

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4_Guru‐Yoga  
  Como fundamento de todas as qualidades e particularmente como método 
sublime para realizar a verdade última, o Mahamudra, não há nada além do que a 
bênção do lama glorioso. É por isso que, a fim de realizar sua yoga, visualizamos‐
nos  na  forma  de  um  Yidam.  Acima  de  nossa  cabeça  está  o  lama‐raiz,  o  soberano 
Vajradhara. Acima dele estão os lamas da linhagem sobrepostos em níveis. Ele está 
cercado  pelos  Yidams,  Budas  e  Bodhisatvas,  Dakas,  Dakinis  e  Protetores  de 
sabedoria.  Nós  lhe  fazemos  oferendas  e  rogamos  com  fervor.  Pela  força  disto,  o 
séquito  se  funde  na  figura  principal  e  esta  se  torna  a  união  de  todos  os  locais  de 
refúgio.  Rogamos  em  seguida  para  que  nos  conceda  as  iniciações  e  nós 
obtenhamos  as quatro iniciações. Somos purificados  dos quatro véus e a  semente 
dos  quatro  Corpos  é  colocada  em  nós.  Depois  o  lama,  regozijando‐se,  dissolve‐se 
em luz e se funde em nós. Permanecemos estabelecidos no estado do Mahamudra. 
 
 
III)_Preliminares Específicas 
 
  1_O Fator causal 
  Dominando  completamente  nosso  continuum  de  consciência,  inclinando 
nosso  pensamento  para  o  desinteresse  deste  mundo  e  para  o  desejo  da  liberação, 
tendo  cortado  todo  apego  e  todo  vínculo,  permanecemos  solitários  em  local 
extremamente  retirado  e  renunciamos  a  toda  atividade,  sem  distrações  exteriores 
ou interiores. 
 
  2_O Fator principal 
  Sendo dado que o caminho que permite realizar o Mahamudra depende do 
Lama,  é  preciso  ser  dirigido  por  um  amigo  espititual  autêntico.  Esse  mestre  é 
revestido de quatro aspectos: 
  a_O mestre pessoa humana pertencente a uma linhagem 
  É o lama que pertence a uma linhagem perfeitamente pura pela qual, desde 
Vajradhara  até  o  nosso  lama‐raiz,  é  transmitida,  sem  interrupção,  a  continuidade 
da bênção, das instruções diretas, etc. 
 
  b_O mestre na Palavra Desperta 
  Quando  se  forma  em  nossa  mente  uma  certeza  em  conformidade  ao  que 
ensina o Lama e que nasce a experiência que esse ensinamento não é contraditório 
à Palavra do Buda, todos os discursos do Buda surgem como as instruções diretas. 
 
  c_O mestre nas aparências simbólicas 
  Sendo  dado  que  todos  os  fenômenos  materiais  do  Samsara  e  do  Nirvana, 
exteriores  e  interiores,  sejam  eles  elementos  ou  transformações  oriundas  desses 
elementos,  nos  mostram,  por  sinais  e  metáforas,  os  aspectos  do  caminho,  não  há 
nada que não seja o lama. 
 

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d_O mestre natureza absoluta 
  Pela visão direta, a realização e compreensão correta, sem erro, do modo de 
ser  de  nossa  própria  mente,  tal  como  fomos  introduzidos  pelo  Lama  glorioso, 
chegamos à realização da natureza de todos os fenômenos.  
 
 3_O Fator objeto 
  Sem  entrar  em  consideração  dos  sistemas  filosóficos  budistas,  sem  ser 
maculado por conceitos, é preciso praticar somente o que é a essência da mente do 
modo de ser primordial, o jogo dos Três Corpos. 
 
 4_O Fator imediato 
  Quando realizamos o corpo da prática, sem conceber nem o meditado nem o 
meditador,  sem  aceitação  ou  rejeição,  sem  esperança  nem  medo,  sem  fabricação 
mental, mantemos unicamente a essência da consciência ordinária. 
 
 
B_Corpo da Prática 
 
A_Pacificação (Shine) 
 
I_Princípios Gerais 
   
 1_A Postura Física Fundamental 
    _A  postura  física  fundamental  compreende  os  sete  pontos  de 
Vairochana: 
1.  as pernas cruzadas em vajra, 
2.  as mãos no mudra da meditação, 
3.  os ombros afastados como as asas de um abutre, 
4.  o pescoço flexionado como um gancho, 
5.  a coluna vertebral ereta como uma flecha, 
6.  os  olhos  fixados  no  espaço  a  quatro  dedos  da  ponta  do 
nariz, 
7.  os  lábios  e  os  dentes  repousando  naturalmente,  a  língua 
colada ao palato. 
Instalamo‐nos em um assento confortável. 
 
 2_A Atitude Fundamental da Mente 
    A  atitude  fundamental  da  mente  é  expressa  nos  seguintes  termos: 
ʺNão  reflita,  não  conceba,  não  pense,  não  medite,  não  analise,  permaneça  em  si 
mesmo.ʺ  Livre  de  bloqueio  e  de  criação,  de  recusa  ou  aceitação,  de  esperança  ou 
medo,  de  apego  e  de  apreensão  de  uma  realidade,  é  a  consciência  ordinária 
instantânea. Na essência, relaxados no estado sem tensão, sem distração, com uma 
atenção  unifocada,  em  uma  claridade  e  uma  vacuidade  sem  apreensão,  no  não‐
fazer, permanecemos descontraídos. 

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II ‐ Métodos Particulares 
 
1)  Fixar a mente  
 
A_Fixar a mente utilizando um objeto  
1 ‐ Exterior 
a ‐ fixar a mente em um objeto impuro  
Adota‐se  perfeitamente  a  maneira  de  olhar  e  a  postura  física  fundamental. 
Como  base  diante  de  si,  dirige‐se  a  atenção  para  uma  pilastra,  uma  parede  ou 
qualquer outra forma de grande tamanho; sem se deixar distrair por outra coisa, aí 
se  permanece  com  uma  atenção  unifocada.  Da  mesma  maneira,  fixa‐se  a  mente, 
sem  distração,  em  um  pequeno  objeto,  como  um  pedaço  de  madeira  ou  uma 
pequena pedra colocada diante de si. Ou ainda, uma lamparina de manteiga, o céu 
ou  ainda,  entre  as  sombrancelhas,  um  tigle  branco  do  tamanho  de  uma  ervilha 
como suporte de atenção e aí se fixa a mente.  
 
b ‐ Fixar a mente sobre um objeto puro 
Imagina‐se bem claramente diante de si, com fé é respeito, o perfeito Buda 
Bhagavan, com sua cor, suas vestes, as marcas e os sinais físicos. Com uma atenção 
unifocada, de forma que a mente permaneça fixa.  
 
2‐ Fixar a mente no interior 
Em nosso coração, sobre um lótus de oito pétalas, geramos a imagem de um 
Yidam,  qualquer  que  seja,  ou  ainda  meditamos  sobre  o  Lama,  ou  então 
visualizamos  uma  esfera  de  luz  que  é  a  sua  essência,  e  a  mente  permanece  aí 
fixada.  
Assim,  permanecemos  sem  distração  sobre  os  suportes  de  atenção, 
mantendo  a posição  do olhar,  livre dos  defeitos da tensão e do relaxamento, sem 
ação, como a de alguém à espreita que vigia de longe, naturalmente relaxado, sem 
rejeição  nem  aceitação,  sem  esperança  nem  medo,  relaxado  no  relaxamento, 
suavemente, delicadamente.  
 
B_Fixar a mente sem objeto 
Fixa‐se  a  mente  imediatamente  sobre  a  grande  vacuidade  de  todos  os 
fenômenos  materiais  exteriores  ou  interiores,  ou  ainda,  os  mesmos  estando 
absorvidos uns nos outros, permanece‐se pousado na grande vacuidade clara luz.  
 
 
 
 
 
 
 
 

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C ‐ Fixar a mente na respiração  
Para  fixar  a  mente  na  respiração,  concentra‐se  sobre  a  respiração‐vaso,  ou 
ainda, contado ʺumʺ para um ciclo inspiração‐retenção‐expiração, fixa‐se sobre os 
números até 21 ou mais. Sem distração, com clareza, vivacidade e vigor, exercitam‐
se assim numerosas sessões curtas.    
Assim,  pela  força  oriunda  da  meditação  de  acordo  com  as  instruções, 
produzir‐se‐ão gradualmente os três estágios da estabilização: 
_o  primeiro,  comparável  a  uma  cachoeira  descendo  de  uma  montanha 
escarpada,  _o  segundo  a  um  rio  tranquilo,  _o  último,  ao  mar  sem 
movimento.  
 
 
2) Estabilizar a mente fixa  
 
A ‐ Vincular a mente 
1_Vincular a mente para cima  
Em nosso coração, no centro de um lótus de quatro pétalas, encontra‐se um 
tigle branco do tamanho de uma ervilha. Fixa‐se a mente retendo a respiração. Ao 
mesmo  tempo  em  que  se  envia  o  ar  para  o  exterior,  o  tigle  sai  pelo  orifício  de 
Brahma  e  se  dissolve  no  espaço.  Pensando  que  aí  permanecemos.  No  que  diz 
respeito  à  posição  física  e  ao  olhar,  os  restabelecemos  corretamente;  no  que  diz 
respeito  à  mente,  gera‐se  o  entusiamo  e,  reforçando  a  consciência,  medita‐se  por 
longo tempo.   
2_ Vincular a mente para baixo  
Para  a  segunda  maneira  de  vincular,  em  nosso  coração,  encontra‐se  um 
lótus negro de quatro pétalas, virado para baixo, no seu meio há um tigle negro, do 
tamanho de uma ervilha. Ele se desenrola como um fio de aranha e sai pelo local 
secreto,  lentamente,  tendo  um  aspecto  pesado,  indo  para  diversos  locais. 
Estabilizando‐se  assim,  a  mente  permanece  fixa  em  uma  atenção  unifocada. 
Abaixando o olhar e a postura física, medita‐se.  
3_A prática de alternância 
Se,  em  relação  à  medida  justa,  a  mente  se  eleva  demais,  a  dirigimos  para 
baixo; se ela desce demais, a dirigimos para cima. Continuamente, como o fluxo de 
um rio, exerce‐se assim na yoga de alternância dessas duas visializações.  
 
B ‐ Os nove meios de estabilizar a mente  
1‐ estabilizar, 
2‐ estabilizar completamente, 
3‐ estabilizar corretamente, 
4‐ estabilizar completamente, 
5‐ disciplinar, 
6‐ pacificar, 
7‐ pacificar completamente, 
8‐ estabelecer a continuidade, 
9‐ permanecer estabelecido. 

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Eis aqui a explicação de cada um desses meios: 
1‐  Estabilizar: ter uma atenção unifocada sobre um objeto qualquer que seja.  
2‐  Estabilizar  completamente:  preservar  por  muito  tempo  a  estabilidade 
precedente. 
3‐ Estabilizar corretamente: se pensamentos se produzem, eles são imediatamente 
identificados pela vigilância e se permanece estável.  
4‐  Estabilizar  completamente:  essa  mesma  mente  que  permanece  estabelecida 
torná‐la clara, além de haver estabilizado anteriormente e permanecer estável. 
5‐  Disciplinar:  recordando  perfeitamente  as  qualidades  dessa  mente  estabilizada, 
gera‐se a alegria e se permanece nesse estado.  
6‐ Pacificar: a causa da produção (de pensamentos), qualquer que seja: ʺEis aqui!ʺ 
Certo de havê‐la descoberto, desvia‐se de sua atração.  
7‐ Pacificar completamente: as causas das distrações e a essência dos estados não‐
felizes, etc, são identificados; sua auto‐liberação se produz e se permanece estável.  
8‐  Estabelecer  a  continuidade:  orientando‐se  para  o  objeto,  pelo  poder  de  uma 
meditação assim realizada, sem consideração de esforço, ter o poder de permanecer 
estável.  
9‐  Permanecer  estável:  enfim,  estar  livre  de  todas  as  distrações,  estando 
estabelecido (em meditação) ou não.  
 
3)  Enriquecer a estabilidade 
Dirige‐se  a  consciência  para  as  formas  que  surgem,  como  objetos  visuais, 
depois para os sons etc., utilizando‐os sucessivamente como suportes de atenção e 
se pousa a mente com uma atenção unifocada. Da mesma maneira, quaisquer que 
sejam  os  pensamentos  que  surjam  não  os  veremos  como  defeitos,  mas, 
instantaneamente, se pousa a mente sobre eles. Para afastar tanto a tensão quanto o 
relaxamento e, mais particularmente, para eliminar os impedimentos e enriquecer 
a  prática,  o  melhor  meio  é  orar  para  o  Lama  e,  pela  devoção,  tornamos 
indissociadas nossa mente e a dele.  
 
B) A visão Superior (Lhagtong) 
 
 1)Ver o modo de ser, a essência da mente   
Eis aqui como ver o modo de ser da mente, a essência da mente. Pousemos 
nossa  mente  em  um  relaxamento  natural,  no  não‐fazer,  repousando  no 
relaxamento. Olhamos ainda e ainda, examinando atentamente e analisando: qual 
é a essência, a cor, a forma, o volume etc? Se se pergunta o que é a essência desta 
mente  estável,  ela  deve  ser  claridade,  presença  e  nudez.  Quando,  buscando  a 
estabilidade,  não  a  encontramos,  é  preciso  então  deixar  vir  a  produção  (de 
pensamentos) e examinar.  
 
2)  Cortar a indecisão 
Eis  aqui  a  maneira  de  cortar  a  indecisão.  Se,  quando  se  busca  não  se 
encontra,  quem  é  então  aquele  que  busca?  Qual  é  a  origem,  a  localização  e  o 
desaparecimento  dessa  mente?  Examinando  perfeitamente,  é  preciso  buscar 
continuamente.  

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Eis aqui as onze coleções: 
1‐ a busca completa e a análise, 
2‐ o exame separado, 
3‐ a análise detalhada, 
4‐ a pacificação mental, 
5‐ a visão superior, 
6‐ a união dos dois, 
7‐ a clareza, 
8‐ o não‐pensamento, 
9‐ a equanimidade, 
10‐ a não‐interrupção, 
11‐ a não‐distração. 
 
Eis aqui a explicação de cada um desses pontos:  
1‐ A mente é existente ou não existente? Qual é sua essência? Pesquisemos 
no fluxo da mente quem é a continuidade.  
2‐ Em particular, eliminemos as dúvidas sobre sua cor, sua forma etc., sobre 
sua origem, sua localização, seu desaparecimento. 
3‐ O pesquisador busca até o final aquele que busca.  
4‐ Pela busca, tendo realizado que a mente é sem natureza própria, a fim de 
chegar  igualmente  a  uma  conclusão  sobre  o  modo  de  ser  de  todos  os 
fenômenos, a mente permanece estável perfeitamente no sentido profundo. 
5‐  Pesquisando  com  precedentemente  a  essência  (dessa  mente)  que 
permanece estável, realiza‐se completamente a sua face.  
6‐ Os dois anteriores não são diferentes, não são dissociados.  
7‐  Supondo  que,  pelo  torpor  o  obscurecimento  produza‐se;  ou  ao 
produzirem‐se as causas de agitação, revigora‐se a mente.  
8‐ Se vier a produção e a agitação, aplicamos os métodos que pacificam.  
9‐ Quando se permanece livre do torpor e da agitação, é preciso permanecer 
na essência daquele que busca, examina e analisa.  
10‐Não ser jamais separado desse yoga.  
11‐A mente estando perfeitamente mantida nesse yoga, não se cria a ocasião 
de ficar distraída. 
Assim,  por  meio  dessas  onze  coleções,  aplicamo‐nos  continuamente  nos  métodos 
que cortam a indecisão.  
 
3) Introdução à conclusão que a consciência é vacuidade  
Eis aqui como se é introduzido à conclusão que a consciência é vacuidade. 
Inicialmente,  estabelecemos a mente relaxada em  sua  própria  natureza.  Olhamos, 
em sua nudez, a essência dessa mente relaxada. Mantemos a continuidade de uma 
vigilância  simplesmente  não‐distraída.  Quaisquer  que  sejam  os  pensamentos  que 
surjam  não  os  rejeitamos  mais  que  os  aceitamos  intencionalmente,  não  fazemos 
nenhuma criação mental, mas permanecemos na consciência ordinária, no instante, 
na clareza vazia desprovida de identificação, de maneira vívida e aberta.  

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Outras maneiras de proceder a essa introdução: 
 

1‐ Introdução a partir do movimento 
Eis aqui, além do mais, como se é introduzido (à natureza da mente) a partir do 
movimento. Pousa‐se inicialmente a consciência de maneira relaxada em sua própria 
natureza; nesse estado, olha‐se sua própria essência. Depois, induz‐se um movimento: 
qual é então a diferença entre a mente que se movimenta e a mente estável? Qual é a 
diferença entre essa mente em movimento e a mente que observa? Observando assim, 
o movimento se libera dele mesmo. Nesse estado, permanecemos sem distração, com 
uma atenção unifocada.  
 

2‐ Introdução a partir das aparências 
a ‐ Introdução às aparências‐mente 
Quando se examina se as formas e os outros suportes de percepção objetiva são 
um só com a mente, ou se eles são diferentes dela; se se realiza que todos os objetos 
que  surgem  exteriormente  não  têm  outra  existência  além  da  dinâmica  da  própria 
mente, permanecemos nesse estado, sem apreensão, de maneira constante.  
b ‐ Introdução à mente‐vacuidade 
A  mente  em  si,  não  existindo  de  forma  alguma,  é  vacuidade.  Não  pode  ser 
ilustrada  por  nada.  Ela  escapa  às  palavras,  ao  pensamento  e  à  descrição,  como  o 
espaço. Permanecemos nesse estado, sem fabricação, descontraídos.  
c ‐ Introdução à vacuidade auto‐existente 
Tudo se movendo não fora do domínio da vacuidade, a dinâmica, a radiância, a 
não‐obstrução surgem na diversidade. É preciso compreender que não há nada fora da 
vacuidade, que todos os fenômenos, que todas as aparências, todos os fenômenos do 
Samsara e do Nirvana são a indissociabilidade auto‐existente da aparência e do vazio.  
d ‐ Introdução à auto‐liberação auto‐ existente 
Assim aparência, consciência e vacuidade, são, de maneira primordial, a união 
da claridade e da vacuidade, auto‐existentes; sem que sejam necessários os antídotos 
que  rejeitam,  apreendem,  afastam  ou  estabelecem,  é  a  auto‐liberação  da  realidade,  o 
mahamudra.  
 

C) Pós‐prática 
  
   Uma  vez  que  tivermos  a  experiência  de  nossa  própria  essência  na  qual  o 
lama  nos  introduziu,  eis  aqui  a  maneira  de  tornar  (essa  experiência)  mais  leve  e 
mais  rica,  depois  afastar  os  impedimentos,  percorrer  os  caminhos  e  atualizar  o 
resultado.  
 
I) Enriquecimento 
1‐ Enriquecimento pela eliminação das cinco idéias falsas  
 
 

a ‐ Como afastar as idéias falsas sobre os objetos 
Sem apreender qualquer coisa de real dentro da noção de um Samsara que 
deve  ser  abandonado  nem  de  um  Nirvana  que  deve  ser  atualizado,  mas 
estabelecendo‐se  no  sabor  único  da  infinitude  da  consciência  primordial  (que 
conhece)  a  não‐dualidade  de  todos  os  fenômenos  reunidos  em  pares  tais  como  a 
virtude e erro, eliminamos as idéias falsas sobre os objetos.  

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b ‐ Como afastar as idéias falsas sobre o tempo  
Ainda  que  a  realidade  dos  três  tempos  não  seja,  em  verdade,  estabelecida; 
pensamos  dentro  de  um  modo  obscurecido  pela  divisão  em  três  tempos.  Em 
consequência, realizando uma igualdade que não estabelece três tempos distintos, 
afastamos as idéias falsas sobre o tempo.   
 
c – Como afastar as idéias falsas sobre a essência  
Temos o desejo equivocado de abandonar a mente presente para obter uma 
consciência  primordial  exterior.  Reconhecendo  que  nossa  própria  mente  é 
originalmente da natureza das cinco sabedorias, afastamos as idéias falsas sobre a 
essência.  
 
d – Como afastar as idéias falsas sobre a natureza 
Todos  os  agregados,  elementos  e  sistemas  de  percepção  dos  seres  são 
primordialmente da natureza dos Tathagatas masculinos e femininos, assim como 
os deuses e deusas. Reconhecendo‐os eliminamos as idéias falsas sobre a natureza.  
 
e – Como afastar as idéias falsas sobre o conhecimento 
A verdade absoluta não é da competência de uma inteligência superior nem 
do  discurso  analítico;  ela  é  realizada  pela  graça  do  mestre  e  por  um  potencial 
kármico favorável. Assim são eliminadas as idéias falsas sobre o conhecimento. 
 
 

2‐ Exercitar‐se nas três habilidades 
 
a ‐ Ser hábil para começar a meditação  
Tendo  tomado  perfeitamente  a  postura  fundamental,  se  (pensamentos) 
produzem‐se,  vê‐se  a  essência  dessa  produção;  se  a  mente  está  estável,  vê‐se  a 
essência  na  estabilidade.  Permanecemos  assim  em  um  estado  de  relaxamento 
natural, de não‐fabricação, de frescor, de descontração, no simples reconhecimento, 
sem distração, de nossa essência própria.  
 
b _ Ser hábil para parar a meditação  
Sem  considerar  como  essencial  meditar  por  muito  tempo,  modificando  os 
métodos  de  meditação  e  a  postura  física,  faz‐se  numerosas  sequências  curtas,  a 
mente  clara,  brilhante  e  vívida.  Sem  se  separar  da  meditação  com  ressentimento, 
gera‐se o entusiasmo.   
 
c ‐ Ser hábil para preservar a meditação 
Quando  se  produzem  experiências  de  felicidade,  de  clareza,  de  não‐pensamento, 
quaisquer  que  elas  sejam,  se  se  conceber  o  apego  ou  orgulho,  isso  é  o  que  se 
denomina  perder  a  realização  pela  experiência.  É  preciso,  portanto,  preservar  (a 
meditação) dentro de um estado desprovido de apego à experiência. 
 

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  3 ‐ Enriquecimento por eliminação dos erros e dos desvios 
 
A ‐ Os erros 
a ‐ O erro sobre a vacuidade, natureza dos objetos de conhecimento 
Estudando  as  Escrituras  e  as  ciências,  chega‐se  pelo  raciocínio  à  conclusão 
que o modo de ser da matéria é de ser vazio. Diz‐se: ʺUma vez que tudo é vazio, o 
que  há  para  ser  meditado?ʺ  Sendo  dado  que  a  vacuidade  só  está  estabelecida 
intelectualmente, não é uma autêntica vacuidade.  
b ‐ O erro sobre o selo  
O  que  se  denomina  erro  por  selo  da  vacuidade:  pensa‐se  que  todos  os 
fenômenos  materiais  que  se  não  percebem  como  vazios  tornaram‐se  vazios  pela 
recitação  de  mantras  tais  como  os  que  falam  de  Shunyata.  É  somente  uma 
meditação, não é tampouco uma vacuidade autêntica.  
c ‐ Erro sobre o antídoto  
O  que  se  denominda  erro  sobre  a  vacuidade  como  antídoto;  quando  os 
pensamentos  surgem,  pensa‐se  ʺVou  vencê‐los  pela  vacuidadeʺ.  Essa  maneira  de 
ser posto na vacuidade é maculada.  
d ‐ O erro sobre o caminho 
O que se denominda erro sobre a vacuidade como caminho: ainda que, pela 
vacuidade,  o  caminho  e  o  resultado  não  sejam  dois,  pensa‐se  que,  percorrendo 
agora  o  caminho  da  meditação  sobre  a  vacuidade,  mais  tarde  obter‐se‐a  o 
resultado. Isso também não é autêntico.   
 
B ‐ Enriquecimento pela eliminação dos desvios dentro da meditação 
Eis  aqui,  da  mesma  maneira,  como  ter  um  enriquecimento  eliminando  os 
desvios. Iremos ver em dezessete postos sucessivos.  
 
1_Entre  os  três  tipos  de  experiência  _  felicidade,  clareza  e  não‐pensamento  ‐  sem 
fazer diferença, no que diz respeito à experiência da felicidade, ante a felicidade alterada e 
inalterada, examina‐se essa felicidade em geral pelo viés do conhecimento. Se meditando 
sobre essa felicidade, produz‐se um verdadeiro apego, é o desvio ao mundo do desejo.  
2_Da mesma maneira, se se produz o apego à experiência de claridade, é o desvio 
para o mundo da forma.  
3_Se se produz o apego ao não‐pensamento, renascer‐se‐á no mundo sa não‐forma. 
É dito que lá, todos os fenômenos são semelhantes ao espaço. Se, analisando isto por meio 
do conhecimento, se produz um verdadeiro apego, renasce‐se no sistema de percepção do 
espaço sem limite.  
4_ A partir da fixação nessa idéia, de que todos os fenômenos são a mente, vem o 
desvio ao sistema de percepção da consciência individual sem limite.  
5_Se  se  apega  à  idéia  de  que  nada  existe,  é  o  desvio  ao  sistema  de  percepção  da 
não‐existência.  
6_Se  se  produz  apego  à  idéia  de  que  não  há  nem  existência  nem  não‐existência, 
renasce‐se no sistema de percepção de nem discriminação nem não‐discriminação.  
_Em consequência, eliminemos esses desvios permanecendo desprovidos de apego 
às experiências de felicidade, de claridade e de não‐pensamento, mas vendo nossa própria 
face.  

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7_Se se deixa os meios e se apega ao vazio, sendo dado que se desvia para o que é 
inferior, eis aqui a maneira de rejeitar isso: é preciso desenvolver a afeição, a compaixão e a 
mente do Despertar.  
8_Pelos meios enriquece‐se o conhecimento. 
9_Pelo conhecimento enriquecem‐se os meios. 
10_Pela união dos dois produz‐se o enriquecimento de um pelo enriquecimento do 
outro.  
11_O enriquecimento da pacificação é produzido pela visão superior.  
12_O enriquecimento da visão superior é também produzido pela pacificação.  
13_No  estado  de  ʺatenção  unifocadaʺ,  na  pacificação  e  na  visão  superior,  o 
enriquecimento da experiência é produzido pela experiência.  
14_No estado da ʺnão‐produçãoʺ, o enriquecimento da realização é produzido pela 
experiência.  
15_No  estado  de  ʺúnico  saborʺ,  o  enriquecimento  da  realização  é  produzido  pela 
realização.  
16_Sem rejeitar as três portas como sendo ordinárias, o que quer que se faça, tudo é 
transformado em virtude, produz‐se um enriquecimento nas qualidades ordinárias.  
17_Sem  rejeitar  nem  aceitar  os  erros  que  são  os  fatores  pertubadores,  os 
sofrimentos e obstáculos, vendo sua própria face, produz‐se um enriquecimento tomando 
os maus presságios como bênçãos.  
 
 
  4 – Enriquecimento pela liberação dos três caminhos perigosos  
 
a_A vacuidade surgindo como inimigo 
Quando  se  analisa  e  se  examina  a  essência  da  mente,  não  se  vê  nada  de 
existente; pensa‐se que, uma vez que todos os fenômenos são somente vacuidade, 
os  atos  positivos  e  negativos,  assim  como  a  lei  do  karma  são  igualmente 
desprovidos  de  existência.  Considerar  que  não  há  nada  a  ser  rejeitado  nem 
antídoto, é o que se denomina nihilismo. Sendo dado que a vacuidade surge com 
um inimigo, abandona‐se esse pensamento como um veneno.  
 
b ‐ A compaixão surgindo como inimigo 
Tendo  obtido,  você  mesmo,  um  pouco  de  felicidade,  pensa‐se:  ʺʹÉ  preciso 
que  sejam  libertados  os  seres  que  não  possuem  essa  felicidadeʺ.  Abandona‐se  a 
meditação  e  empregando  muito  esforço,  aplica‐se  em  realizar  atos  positivos 
compostos  e  nos  apegamos  à  sua  realidade.  É  o  que  se  denomina  compaixão 
surgindo  como  inimigo.  Abandonando  essa  atitude,  esforçamo‐nos,  sem  deixar 
esta compaixão que surgiu, em preservar sem mácula sua própria realização.  
 
 
 
 
 
 
 
 

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c_A causa surgindo como inimigo do resultado  
Pensa‐se que, para ver o modo de ser profundo, é preciso ser sábio em todos os 
domínios.  Aplica‐se  então  na  gramática,  no  debate  etc.  e  abandona‐se  a  prática  da 
pacificação e da visão superior. Quando se age dessa maneira, é o que se denomina a 
causa  (os  estudos)  surgindo  como  iminigo  do  resultado  (o  mahamudra).  Isso  não  é 
autêntico. Meditando com uma atenção unifocada no sentido profundo, obtém‐se um 
conhecimento  imaculado  que  não  é  obscurecido  por  nenhum  fenômeno  do  ciclo  da 
manifestação ou do nirvana.  
 

II)  Eliminação dos impedimentos 
1_Eliminação dos impedimentos: a doença 
Praticando  principalmente  a  pacificação,  dissipam‐se  as  doenças  dos  ventos. 
Praticando  a  visão  superior,  dissipam‐se  as  doenças  da  fleuma e da bile. As doenças 
quentes  e  frias  são,  quanto  a  elas,  progressivamente  eliminadas  pela  pacificação  e  a 
visão  superior.  E  mais,  examina‐se  a  essência  de  todas  as  doenças,  sua  forma,  sua 
origem,  sua  localização  e  seu  desaparecimento.  Insiste‐se  em  particular  sobre  a 
visualização da doação e da tomada para si. Além disso, a doença sendo não‐nascida, 
ela é o Corpo Absoluto (Dharmakaya); sendo sem localização, ela é o Corpo de Glória 
(Sambhogakaya); sendo sem cessação, ela é o Corpo de Emanação (Nirmanakaya); sua 
natureza sendo vacuidade, ela é o Corpo de Essência (Svabhavakaya). Integrando‐a à 
prática como sendo o jogo dos Quatro Corpos, vemos nossa própria mente.  
 

2_Eliminação dos impedimentos: os espírtos malignos 
Eis  aqui,  da  mesma  maneira,  como  eliminar  os  impedimentos  que  são  os 
espíritos malignos. O que surge como espírito maligno é um efeito da magia da mente. 
Vendo  a  mente  ela‐mesma  como  sendo  os  quatro  Corpos,  eliminam‐se  da  mesma 
maneira os espíritos malignos por meio da integração dos quatro Corpos na Via.  
 

3_ Eliminação dos impedimentos na meditação 
De uma maneira geral, vimos precedentemente como dissipar os erros que são 
o  torpor  e  a  agitação.  Aqui  os  dissipamos  pelo  guru‐yoga.  Quando  sombreamos  no 
torpor, visualizamos o Buda Amitabha acima de nossa cabeça; uma vez que tenham se 
fundido nele os Lamas da Linhagem, oramos com devoção. Em razão dessa prece, ele 
emite uma luz que se funde em nós e, nos purifica com vigor das causas de torpor. O 
Buda Amitabha se reabsorve em luz e se funde em nós; devido a isso, nosso próprio 
corpo, tendo se tornado uma massa de luz, clareia todos os campos de manifestação, 
depois se dissolve no espaço. Deixamos a consciência vívida e intensa.  
Se  estivermos  agitados,  visualizamos  o  Lama  Vajrasattva,  de  cor  azul‐
esverdeada, em nosso coração que está na forma de um lótus de quatro pétalas. Sobre 
essas  quatro  pétalas  encontram‐se  Vairochana  e  os  outros  Vencedores;  eles  estão 
cercados pelos Dakas e Dakinis pertencentes às suas famílias, da mesma cor que eles. 
De  seus  corações  são  emitidos  raios  de  luz  azul.  Eles  penetram  no  Lama  e  nós 
visualizamos  que  os  raios  de  luz  se  difundem para os pontos cardinais e as direções 
intermediárias.  Permanecendo  estáveis  no  estado  de  Mahamudra,  afastamos  a 
agitação.  
Além disso, o torpor e a agitação apresentando‐se permanecemos descontraídos 
em suas essências, sem distração, sem meditação, sem fabricação. 

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III)  A Progressão 
 
  O desenvolvimento da progressão é exposto dentro do contexto das quatro 
yogas.  Cada  uma  delas  é  dividida  em  três  níveis:  inferior,  médio  e  superior  ‐ 
chega‐se a um total de doze divisões.  
 
1_Atenção unifocada 
Em  primeiro  lugar  vem  a  yoga  dita:  atenção  unifocada.  A  própria  face  da 
mente  é  conhecida  corretamente,  de  maneira  que,  no  estado  de  claridade, 
vacuidade,  não  obstrução,  semelhante  ao  espaço,  sem  limite  nem  centro, 
permanece‐se  de  maneira  vívida  e  intensa.  Entre  os  três  níveis,  inferior,  médio  e 
superior, no nível inferior vê‐se a essência da felicidade‐claridade; no nível médio, 
obtém‐se  o  controle  do  Samadhi;  no  nível  superior,  a  experiência  deste  último 
torna‐se ilimitada.  
 
2_Não‐produção 
A  ausência  de  produção  é  a  realização  da  mente  em  si,  sem  fundamento. 
Quando  se  é  liberado  das  produções  que  são  as  noções  de  objeto  e  de  sujeito,  de 
origem,  de  cessação  e  de  localização  de  todos  os  fenômenos  assim  como  a 
apreensão  das  características,  as  especulações  são  eliminadas  no  não‐nascido,  a 
vacuidade.  No  nível  inferior,  realiza‐se  sua  própria  mente  como  não  nascida.  No 
nível  médio,  se  está  totalmente  desprovido  da  apreensão  das  aparências  e  da 
apreensão de uma vacuidade. No nível superior, as especulações sobre a produção 
de todos os fenômenos são eliminadas.  
 
3_Único sabor 
Eis aqui o yoga do único sabor na qual a mente e as aparências estão unidas. 
Permanece‐se na igualdade do estado natural que, ao olhar todos os fenômenos do 
ciclo  das  existências  e  do  nirvana,  eles  não  são  nem  desprovidos  nem  não‐
desprovidos  das  produções  que  são  a  origem  e  a  cessação,  nem  vazios  nem  não‐
vazios,  sem  os  atos  de  parar  ou  fazer  existir,  de  abandonar  ou  empreender.  No 
nível inferior, os fenômenos que estão juntos estão unidos em um sabor único. No 
nível médio, as aparências e a mente são como a água colocada na água. No nível 
superior, todos os fenômenos são pacificados dentro do estado de igualdade.  
 
4 ‐ Não meditação 
Está‐se livre das experiências ou dos sentimentos precedentes; pode‐se dizer 
ainda que o mental esteja completamente esgotado: é a não‐meditação. No que diz 
respeito  aos  níveis  inferior,  médio  e  superior,  no  nível  inferior    está‐se 
completamente desprovido das noções de meditado e meditador. No nível médio, 
chega‐se espontaneamente à auto‐existência. No nível superior, as claras‐luzes mãe 
e  filha  estão  unidas.  Desde  então,  está‐se  aberto  à  imensidão  do  conhecimento 
primordial do Dharmadatu de maneira que ambos os benefícios são completados: 
o estado de Buda é atingido.  

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‐ Correspondência dos doze níveis das yogas (4 x 3) e os caminhos  
 
  Se  se  quer  estabelecer  uma  correspondência  entre  os  níveis  atingidos  nos 
doze yogas e os caminhos, tem‐se:  
‐atenção unifocada, nível inferior = caminho da acumulação; 
‐atenção unifocada, nível médio = caminho da junção, calor e cume; 
‐atenção unifocada, nível superior = paciência e dharma sublime; 
 

‐não‐produção, nível inferior = caminho da visão e primeira terra;  
‐não‐produção, nível médio = da segunda à quinta terra; 
‐não‐produção, nível superior = obtém‐se a sexta terra; 
 

‐realização do nível inferior do único sabor = sétima terra; 
‐único sabor, nível médio moyen = oitava terra; 
‐único sabor, nível superior = nona terra; 
 

‐não meditação, nível inferior = décima terra; 
‐não meditação, nível médio = terra do fim da corrente; 
‐não  meditação,  nível  superior  = o término  do  caminho,  a décima‐primeira 
terra. 
 
 
IV) Atualização do resultado 
  
Assim,  os  doze  yogas  nascendo  progressivamente  na  corrente  da 
consciência,  chega‐se  ao  término,  a  não‐meditação.  Desta  maneira,  os  dois  véus  e 
todos  os  condicionamentos  latentes  são  eliminados;  os  dois  conhecimentos,  as 
sabedorias e todos os amadurecimentos são concluídos. Tudo isso sem abandonar 
o  Corpo  Absoluto  (Dharmakaya),  que  é  nosso  próprio  bem,  e  pelo  Corpo  formal 
(Rupakaya),  que  é  o  bem  dos  outros,  realizamos  o  bem  dos  seres,  sem  conceito, 
sem  esforço,  sem  produção,  até  que  o  Samsara  esteja  vazio.  É  uma  atividade 
contínua e uma essência onipresente auto‐existente. 
 
‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ 
 
Pela substância dos esforços dos atos virtuosos, quando em todos meus nascimentos, 
de todas minhas vidas e por todo o tempo, possa eu me desinteressar das atividades do vir‐a‐
ser  e  que  eu  possa  não  transgredir,  ainda  por  pouco  que  seja,  o  treinamento fundamental 
(na ética). 
Que eu possa, mesmo em sonho, não esquecer as duas sublimes bodhichittas para o 
bem  dos  outros;  que  eu  possa  estabelecer  todos  os  seres  na  felicidade  pelo  viés  dos  quatro 
fundamentos da relação e das seis paramitas. 
Considerando,  com  tanto  amor  da  minha  própria  vida,  os  mestres  espirituais 
perfeitamente puros, satisfazendo‐os com todas as satisfações, que eu possa manter a fé e os 
compromissos sagrados. 
 

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Pelo poder dessas aspirações, pelo estudo, a reflexão e a meditação de todos os Cestos, 
a  da  liberação  individual,  dos  bodhisattvas  e  os  mantras  dos  vidhyadharas,  que  eu  possa 
relizar integralmente meu próprio bem, o bem do outro pela explicação, o debate e a redação, 
o bem de ambos pela erudição, a observância e a boa natureza, o bem da doutrina sendo o 
detentor, o protetor e o propagador.  
Que eu possa realizar a filosofia sem mudança do sentido definitivo e, em particular, 
o Mahamudra do modo de ser; que eu possa ser aquele que difunde o conhecimento.  
Em resumo, que eu possa ter a capacidade de estabelecer sozinho no sublime estado 
puro e perfeito de Buda todos os seres encarnados que habitam o espaço até seus limites.  
Pela  graça  das  Três  Jóias  e  dos  Vencedores,  pela  força  da  aspiração  superior 
perfeitamente pura e pelo poder da vacuidade e da interdependência profunda, possam essas 
aspirações assim ser realizadas.  
  
 
‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐ 
  
 
O  sexto  Shamarpa,  Tchöky  Wangtchuk,  escreveu  o  um  guia  dos  seis  dharmas  de  Naropa 
intitulado ʺA seiva ambrosíaca dos seis dharmas”. Dele fiz um resumo do essencial sob a forma de 
um texto‐raiz versificado para recitação durante a prática. Sendo  que, durante a prática, tal texto a 
recitar  revela‐se  muito  cômodo,  pensei,  depois  de  um  certo  tempo,  que  seria  necessário  ter  um 
também  para  o  Mahamudra.  Nedo  Kutchung  Tchoktrul  Rinpotche  e  Lama  Tsethar  de  Tîlyak 
quiseram, durante o tempo que estiveram em retiro de três anos, fazer imprimir o texto‐ raiz dos seis 
dharmas  de  Naropa  e  me  incitaram  a  escrever  um  texto  similar  para  o  Mahamudra.  Para  os 
iniciantes na prática, com a excelente aspiração superior de lhes dar certa ajuda, acedi a esse projeto. 
Esse texto foi escrito por  Bokar Tulku Karma Ngedön Tchöky Lodrö, tendo o nome de lama, mestre 
de  retiro  do  grande  centro  de  retiro  Yi‐ong  Samten  Ling,  vinculado  à  sede  do  Senhor  dos 
Vencedores, o glorioso Karmapa, sede denominada Omin Shedrup Tchökhor Ling. Escrito em Mirik 
no distrito de Darjeeling, região que é um bálsamo para mente, em  Bokar Ngedeön Tchokhor Ling,  
13 de dezembro de 1984, vigésimo dia do décimo mês do ano boi‐rato, no momento da conjunção do 
dia de Júpiter, da oitava constelação, do fogo e do ar. Que a virtude aumente!   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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O Excelente Caminho seguido pelos Afortunados


Os pontos essenciais das instruções orais vindas da bondade do Santo Lama e
associadas à minha própria experiência
(Texto escrito por Kalu Rinpoche) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

4
!, ,/-3R-$-<,
Homenagem ao Guru

 
l-$?3-<2-:L3?-o-35S-:.?-0:A-{,
,LA/-_2?-.%R?-P2-3-=?-:L%-2:A-$+J<,
,3%R/-?3-(R?-{:A-<%-8=-!R/-36.-0:A,
,3*3-3J.-]-3-3(R$-$A?-LA/-_2?-)R=,
 

Em vós está reunido o oceano incomensurável das Três Raízes


Vós sois o tesouro de onde vêm todas as bênçãos e realizações
Vós que mostrais verdadeiramente o Dharmakaya como nossa própria face
Incomparável supremo lama conceda-me vossa graça.

,2.$-.%-2.$-$A-$.=-L<-I<-0-i3?,
,]R-$-.3-0:A-(R?-?-:I<-2-.%-,
,<%-?J3?-<A$-0:A-<%-8=-=J$?-3,R%-!J,
,.R/-$*A?-3,:-<-KA/-0:A-.%R?-P2-)R=,
Concedei-me as realizações
A fim de que eu e aqueles que são meus discípulos,
Orientemos nossa mente para o santo Dharma,
Que nós possamos ver claramente a face do Conhecimento
Como nossa própria mente e completar o duplo benefício.

5
As Quatro considerações fundamentais 
 
.J-;%-(R?-;%-.$-0<-12-0<-LJ.-0-=,
Para praticar o Dharma de maneira perfeitamente pura
 
,.%-0R-=?-:V?-2a-3J.-$.A%-/?->J?->A%---
É preciso inicialmente compreender profundamente
o caráter verídico dos atos e de seus frutos,
 
#3?-$?3-:#R<-2-:.A-#$-2}=-IA-o-35S-*A.-.-3%R/-0<->J?-/?-
8J/-0-$+A%-/?-=R$-+J,
Ter a certeza que os três mundos deste Samsara
são como um oceano de sofrimentos e,
do mais profundo de nós, desviar-nos do apego.
 
,.=-:LR<-=/-$&A$-,R2-0-:.A-;%-o-P%?-.0J-$?3-IA?->A/-+-fJ.-
0<-2!:-8A%-,
Pois, uma vez que obtivemos as liberdades e aquisições
(desta preciosa existência humana) muito difícil de ser obtida
( como mostram) os exemplos, as causas e o número;
 
,fJ.-0-.J-;%-_%-$?J2-GA-3<-3J-v<-3A-g$-:(A-2?-M<-.-:)A$?-
0<-%J?-0?,
E ainda que a tenhamos obtido, ela é impermanente e sua morte é certa
Como uma lamparina de manteiga no vento, é certo que ela será rapidamente apagada.
 
,.-/A-$/?-{2?-3A/-2<-IA-*A-8<-v-2-#R.-o-;R.-0:A-5K,
O tempo que ela dura
é como o de um raio de sol passar entre as nuvens.
 
 

6
,]-3:A-$.3?-%$-#R-/-2|R3-0-=?-$%-$A?-G%-1/-0-3A-:.$-~3-
0:A-?J33-,$-$.A%-/?-(R.-0:A---
Por essas reflexões chega-se à profunda convicção de
que ,exceto o colocar em prática as instruções do lama,
não há nada que seja útil.

 
]R-wR$-i3-28A-8A$-o.-=-3-:LR<-/-(R?-12-=R-.%-|R3-=R-L?-<%-3-
L?-<%-, ,:#R<-2-=-8J/-)J-(J-<%-o.-)J-IR%-.-:PR-2-43-=?-3J.-
%J?-=$?-0?---
Se não se integra em si esses quatro pontos que desviam a mente (do Samsara) ;
pouco importa que durante anos se pratique ou não o Dharma ou a meditação,
é certo que nosso apego ao Samsara só aumentará
e nos tornaremos em nada além que um ser limitado.

(  IR%-: áspero, duro, que não pode mudar, grosseiro, inculto, limitado) 

 
2|R3-$8A-.J-3->R<-2-8A$-3J.-/-,2?-($?-?R, ,.J-v<-:#R<-2-:.A-
=?-%J?-0<-:L%-2:A-{=-w/-i3?-GA?-*3?-?-=J/-L,
Não é, portanto, para se partir dessa base da meditação
sem a qual todos os meios estão comprometidos
É por isso que os afortunados que estão desapegados do ciclo,
devem colocá-los em prática,

  >R<-2- perder‐se :(R<-2-: escapar, afastar‐se  
 
 
 
 
 
 
 
 
 

7
Introdução à natureza da mente  
 
 
,(R?-{-K$-o-(J/-0R-9J<-2-.J-/A,
Eis aqui o que é denominado Dharmakaya ou Mahamudra
 
,<%-$A-o.-=-S/-gR$-$-5S$?-><-3#/-IA-?J3?-:.A-2&.-2&R?-$%-
;%-3A-L-2<-<%-=$?-?-z$-0<-28$-/?,
É essa mente que faz surgir em nós todos os diversos pensamentos e reflexões.
Sem nada acrescentar, modificar ou fazer o que quer que seja,
a deixamos relaxada em seu próprio modo de ser.
 
,KA-/%-$%-.:%-$+.-?R-.%-,
Sem se focalizar sobre nenhum objeto, exterior ou interior
 
(  $+.-?R- focalizar; objeto, objetivo, conceito etc. sobre o qual a mente conceitual  ]R- se focaliza) 
 
,$?=- !R%-?R$?- :.A-v<-<R-~3-0:A- :)A/-0-.%-;A.-LJ.-GA-|R3-L-&A-
;%-3J.-0<,
Sem se apegar a experiências como a claridade, a vacuidade etc.,
sem nenhuma meditação mentalmente fabricada

8
A mente em repouso tem a natureza dos Três Corpos 
 
,%R- >J?- 43- IA- $.%?- .J- 3- ;=- 2<-?%?- ?%- %J<- 28$- /- ?J3?- GA-
$>A?-=$?-%R-2R-$%-.:%-3-P2-0-!R%-?%-%J-2-.J-(R?-{-;A/,
Sem que diminua a clareza do "simples reconhecimento”,
permanecendo em sua própria luminosidade,
o modo de ser essencial,
a natureza fundamental da mente,
não tendo nenhuma consistência, qualquer que seja,
vazia e límpida,
é o Dharmakaya.
 

(  $>A?-=$?- Caráter fundamentalmente vazio da natureza da mente ) 

,.J-;A-3.%?-$%-;%-3-:$$?-0<-<A$-43-IA-$?=-?%?-z%-%J-2-
.J-3=-{-;A/,
Nada interrompendo sua radiante luminosidade,
resplandecendo do "simples reconhecimento",
é o Nirmanakaya.

,$?=- <A$- !R%- $?3- 9%- .- :)$- 0:A- .LJ<- 3J.- 9%- ,J=- =J- 2- .J-
=R%?-{-=$?-0?,
A união inseparável e onipenetrante da claridade,
conhecimento e vacuidade,
é o Sambogakaya.

,?J3?-:.A-$/?-/-;%-{-$?3-IA-<%-28A/,
Assim, ainda que essa mente permaneça em repouso, ela tem a natureza dos três
Corpos.

9
A mente em movimento tem a natureza dos Três Corpos 
 
 
,5S$?- S$- $A- $%- 2- gR$- 0- &A- ><- ;%- %R- 2R- $%- .:%- 3- P2- >A%-
3.%?- 3- :$$?- 28A/- i3- 0- :.A- v- 2:R- 2?3- 0:A- S/- gR$- $- 5S$?-
ZA$-$J<-:(<-2-.J-3=-{,
Essencialmente, tudo o que aparece nas seis consciências,
assim como os pensamentos que surgem
saõ sem consistência.
Como para a radiância ininterrupta,
esses diversos aspectos, pensamentos e reflexões,
surgem em uma "claridade aberta" ,
é o Nirmanakaya.

  
,.J-*A.-KA-/%-$%-.:%-3-P2-0:A-!R%-?%-%J-2-.J-(R?-{,
Essas não consistindo em nada de verdadeiro,
nem exterior, nem interior, vazio e límpido,
são o Dharmakaya.
 
,$.R/-/?-.J-$*A?-.LJ<-3J.-.?=-?%?-z%-%J-2-.J-=R%?-{-;A/,
Desde sempre, esses dois são inseparáveis;
luminosos, claros e radiantes,
é o Sambogakaya.
 
,?J3?-:.A-:I-/-;%-{-$?3-IA-<%-28A/-=?-3-:.?-0?,
Assim, ainda que essa mente esteja em movimento,
ela não perde a natureza dos três Corpos.
 
 
 
 

10
As várias denominações do Mahamudra 

 
,?J3?-*A.-2&R?-2+<-$+.-?R-:6B/-0-,3?-&.-.%-V=-2:A-%R->J?-
43-IA-?J3?-<A$-!R%-z%-%J-2-:.A,
,.-v:A->J?-0-{.-&A$-3:3,
,,-3=->J?-0-8J?-G%-L,
Essa mente, livre de todo artifício,
modificação, orientação, apreensão,
é a mente de um "simples reconhecimento" ,
conhecimento vazio e claro,
que se denomina : "o conhecimento imediato do presente"
ou ainda "o conhecimento ordinário" (conhecimento simples).
 
2&R?-0-: Fabricar, forçar, produzir artificialmente.  2I<-: Traduzir, mudar, interpretar. 
  $+.-?R- : Focalizar, fixação da mente conceitual.  
 
,:O=-0-.%-35/-:6B/-IA->J?-0-?R$?-!-/?-.$-&A%-,   
,.?-$?3-IA-gR$-0?-3-a.-&A%-;A.-LJ.-.%-V=-!J,
,.?- 3J.- $3- .?- 28A:A- (- >J?- 0-{.- &A$- 3- .J- =?- /3- ;%- :.:- 2-
3J.-0?-/, ,!-.$-28A-(-$?3-V=-8J?-G%-L,
Sendo pura, desde a origem,
de conhecimentos conceituais, ilusões, apreensões,
não sendo alterada por pensamentos (relativos aos) três tempos,
livre de fabricações mentais;
não deixando jamais o atemporal ou "conhecimento imediato do Quarto tempo"
é também denominada "A quarta dimensão, além dos três (tempos) ",
pura desde a origem.
  
 
 
 

11
,:#R<-:.?-GA-(R?-,3?-&.-?J3?-=-mR$?-0?-/-mR$?-0-(J/-0R,
Todos os fenômenos do samsara e do nirvana, estando realizados na mente,
são "a Grande Realização", Dzogpa Tchenpo.
 
,;R.-3J.-;A/-3A/-?R$?-3,:-,3?-&.-=?-:.?->A%-.2?-S%?-0R-
 

v-2-;A/-/-.2-3-(J/-0R,
Além de todos os extremos
do ser e do não ser,
de existência e da não-existência etc.,
sendo um eixo central e reto,
é "A Grande Via do Meio", Madhya-Mika.
 
,(R?-,3?-&.-GA-YR$-$3-~A%-0R-v-2-;A/-0?-/-.R/-.3-L%-(2-
?J3?-<A/-0R-(J,
Sendo como o coração ou a vida de todos os fenômenos,
é "A preciosa Bodhicitta da verdade última"
 
,!R%-$?=-<A$-0:A-;J->J?-.J-=?-:.:-2-3J.-0?-/-K$-o-(J/-0R-!J,
Como não há nada além desse conhecimento primordial
"Vazio-Claro e Conhecedor"
é o Mahamudra.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

12
A Via do Mahamudra 
 
,,R$-3<-%R-3R.-L,
,2<-.-o/-(.-3J.-0<-*R%?-L,
,3,<-.J-*A.-3%R/-.-I<-+J,
,2g/-0-,R2-L:A-:V?-2-=$?->A%-,
 

Essa (natureza da mente) é preciso começar por reconhecê-la.


Em seguida, preservá-la sem interrupção;
Finalmente, ela se torna (uma realização) manifesta.
a estabilidade é o fruto que é preciso ser obtido.
 
,}R/- LR/- IA- *J- 2- .3- 0- i3?- G%- , ,.- v:A- >J?- 0- {- $?3- ;J- mR$?-
(J/- 0R- :.A- #R- /- ,R.- =3- i3- 28A<- (- 2R:C- o/- 28A/- 2*%?- 0?- 5K-
$&A$-$A-9%-:)$-(J/-0R:C-o=-?<-$>J$?-0-=$?---
 
Esse "conhecimento imediato",
grande realização original dos três Corpos
é a Via que seguiram os santos seres de outrora.
Preservando-a continuamente durante os quatro tipos de atividades,
como o fluxo de um rio,
em uma só vida, eles partiram para a grande união,
terra (estado) dos Vencedores.
 
.J-v<-IA-*3?-=J/-.J-%R-:UR.-/, ,K$-o-(J/-0R-.!<-0R-$&A$-,2-
8J?-;R.-/-.J?-(R$-3J.-/-.J-3J.,
Assim, caso se possa reconhecer essa prática
ela é "O Mahamudra ,panacéia universal".
Caso se tenha, é suficiente; caso não se tenha não se tem!  
 

13
,!R%-$?3-$?J<-IA-2!%-!J-1=-G%-2!:-SA/-:#R<-,2?-3J.-0:A-
$.3?-%$-92-3R-$&A$-2o.-3,
 
Se (ao lama) que nos transmite esse ensinamento único e profundo, se
oferecesse os três mil universos cheios de ouro,
isso não seria um meio (suficiente) para retribuir sua bondade.
 
,*J-0-!$-.R%?-.%-2&?-+J-?%?-o?,
,2-3R-2=-{.-.%-2&?-+J-?%?-o?,
,HA3-0-?R-/3-.%-2&?-+J-?%?-o?,
,$4S-2R-3./-PR?-.%-2&?-+J-?%?-o?,
K$-mA-35S-*R%?-.%-2&?-+J-?%?-o?,
 
Homem com arco e flecha (militar) e Buda
Mulher com linha e lã (costureira) e Buda
Cultivador com fazendas e Buda
Patrão com empregados e Buda
Pastor com rebanho e Buda
 
,.2%- $R/- {=- 0- .%- w/- 0- i3?- :.R.- ;R/- 3- %%?-0<- ?%?- o?-
0:A- $.3?- %$- 92- 3R- ~A%- 0R:A- ;%- 8/- :.A- %R- :UR.- /- ;A.-28A/- IA-
/R<- 2- =$- +-9A/- 0- ;A/- 0?, ,(.- 9R.- ?- 3A- L- 2<- $;<- .3- .- :(%-
2<-L:R,
 
Para os afortunados com as faculdades vívidas que podem reconhecer essa
quintessência dos profundos ensinamentos ,(que permitem obter o estado de) Buda sem
abandonar os objetos sensoriais, é como ter nas mãos a jóia que realiza todos os desejos.
É preciso não perdê-la, mas engajar-se em bem preservá-la.
 

14
Os perigos de uma compreensão parcial  
 
 
,.J%- ?%- ?J3?- %R- @- =3- 43- >J?- /?- {R<- <J- {R<- $*A?- S/- 43- <A$-
43- <J?- $R- (R.- >$- $A?- *2?-:PR- ?J3?- 2*J.- 3R?- $?- ~A%- eJ- #-
$+R/- 2^?- 2eR.- z- |R3- }$?- 2^?- 5S$?-2?$?-1A2-.%?-?R$?-
&A-;%-3A-.$R?-0<-=R$-v-.%-:6B/-($?-}<-=?-G%-.$-:I<-(J-2-
8A$- L?- /?, ,.J?- $R- (R.- >$- ~3?- 0- 3%- 0R- :.$- 0?- :#R<- 2-
3,:- 3J.- .- :H3- .$R?- /- 3- $+R$?- .J- v- 2:A- $R- gR$- <J.- 3- >R<- 2<-
.?-o/-.-<%-$A?-<%-=-g$-.J.-8A2-.-L-8A%-,

Agora, caso se tenha compreendido mais ou menos (o que é) a face da mente,


que se lembre dela de tempos e tempos,
reconhecendo-a um pouco
e que tomando como suficiente (se pense que): A tomada de refúgio, a bodhicitta,
a devoção, a compaixão, as preces, as recitações, a meditação sobre as divindades,
a recitação de mantras, as acumulações, a purificação dos véus, etc.
não se tem necessidade,
é ter uma visão errônea.
Nossos apegos só aumentarão em relação ao que eram anteriormente.
Essas idéias presunçosas sendo bem numerosas,
nos farão errar indefinidamente no Samsara.
É-nos preciso, portanto, examinar minuciosamente,
sem desvio e de forma contínua
para ver se nós não temos tais pensamentos.  
 
 
 
 
 
 
 
 

15
As vantagens das diversas práticas.  

 
, *3?- =J/- 2g/- 0- 3- ,R2- GA- 2<- ., ,*2?-:PR- ?J3?- 2*J.-2}R- 2-
(R/-=3-i3?-GA?-(R?-(R?-3A/-.-3A-:PR-8A%-, ,&A-L?-,<-0:A-=3-.-
:PR-.$J-l-,3?-&.-3A-*3?-$R%-:1=-.-:PR-2:A-,2?-92-3R-3J.-.-
3A-<%-2-.%-,
  
Até que se tenha obtido uma prática estável,
o refúgio, a bodhicitta, a dedicatória, as preces e aspirações,
fazem com que o Dharma não se torne não-Dharma,
e que o que quer que se faça toma a via da liberação,
e que as raízes das virtudes não sejam danificadas
mas se desenvolvam cada vez mais,
esses são meios profundos que convém não rejeitar.

 
,#- $+R/- 2^?- 2eR.- K$- 2{R<- 3(R.- .A/- i3?- GA?- 5S$?- $*A?-
:U=- .-6S$? -1A2-$*A?-M<-.-L%-+J-(R?-{-K$-o-(J/-0R-2.J-]$-+-
gR$?-0:A-,2?-92-3R-3J.-!-3J.-.%-,
 
As preces, as recitações, as circum-ambulações, as oferendas,
(nos fazem) prontamente completar as duas acumulações,
purificar rapidamente os dois véus e realizar facilmente
o Mahamudra, o Dharmakaya.
São meios profundos e indispensáveis.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

16
Meditação sobre as divindades.  
  
,$%-2-!/-G%-2.J/-3J.-+-3-kA-=3-IA-<%-28A/-.->J?->A%-,
Reconhecendo todas as aparências como irreais,
tendo a natureza de uma ilusão ou de um sonho
 
,<%-$%-=?-:.A-;%-hR-eJ-1$-3R-?R$?-;A-.3-z-;A-{-8=-K$-o/-
(?-;R%?-?-mR$?-0---
Nossa própria aparência, esse corpo (é visto como) Dorje Pamo
ou qualquer outro Yidam; seu corpo, face, braços, ornamentos completos.
 
$%-=-<%-28A/-3J.-0<,
,$?=-=-gR$-0-3J.-0,
,2.J-=-8J/-0-3J.-0,
A aparência é sem natureza própria,
A luminosidade é não conceitual,
A felicidade é sem apego.
 
,<%- ?J3?- !R%- 0:A- <%- 3.%?- ?- ><- 8A%- , ,.J- ;%- ?J3?- .%- z- {-
.LJ<-3J., ,$>A?-3.%?-l=-$?3-IA-<%-28A/, ,;J->J?-(J/-0R:C-%R-
2R- (R?- =R%?- 3=- $?3- IA- i3- 0- $.R.- /?, ,<%- $/?- ?- ;A/- 0<-
>J?-0:A-%-o=-.%-3-V=-28A/---
Nossa mente surge como a radiância da vacuidade.
Assim, a mente e corpo da divindade, indiferenciados, a natureza dos três:
fundamento (vacuidade), claridade e radiância,
os aspectos dos três (corpos) Dharma, Samboga e Nirmana- Kayas
sendo desde sempre estabelecidos em essência do grande conhecimento original,
e não se abandona a dignidade desse reconhecimento.

17
$%-P$?-gR$-$?3-z-}$?-;J->J?-GA-<%-28A/->J?-0?,
,,-3=-IA-2.J/-:6B/-i3?-Z=-IA?-:)A$?,
,<%-:6B/-IA-2$-($?-S%-/?-:LA/,
,($?-#%-.%-A-:,?-l.-/?-8A$-0<-:I<-8A%-,
 
As aparências, sons e pensamentos sendo reconhecidos
como tendo a natureza da divindade,
de seu mantra e do conhecimento original.
As apreensões da realidade ordinária são completamente destruídas.
As tendências à apreensão de um ego são radicalmente extirpadas,
o apego, a raiva e as concepções errôneas
são fundamentalmente destruídos.
 
S%?-= l-2- : Raiz,  base, fundação ‐ suprimir radicalmente. 
A-:,?- : Concretização, dar uma realidade sólida. 
 
,*J-3J.-(R?-GA-{-<-?%?-o?,
,<A$-l=-=R%-{:A-2!R.-0-3%R/-.-I<,
,$%-:.=-3=-{:A-36.-0-:#R<-2-3-!R%-$A-2<-.-:L%-2-;A/-0?-
*3?-=J/-3A-L-!-3J.-.3-0-.%-,
 
No Dharmakaya inato
(está o estado de) Buda.
A radiância do conhecimento torna-se manifestadamente
o desdobramento do Sambogakaya.
Para aqueles que devem ser disciplinados,
as obras do Nirmanakaya
surgem até que o Samsara seja esvaziado.
Não se pode deixar de fazer essa prática!
 

18
A Compaixão ‐  Tong‐Len 
 
,.J- v- 2:A- $/?- =$?- 3- gR$?- 0<- :#R<- 2- #$- 2}=- IA- o- 35S- (J/-
0R<- .?- g$-+- LA%- 2:A- 3#:- H2- ?J3?- &/- :.A- !/- ~A%- <J- eJ-~3?-
0:A-~A%-eJ-1<-5$-.%-,
  

Não realizando esse modo de ser, todos os seres do universo se perdem


constantemente no grande oceano de sofrimentos do Samsara. Pensa-se neles com
piedade e os consideramos com compaixão.
 
,{2?-?-.J-.$-$A-#$-2}=-o-.%-:V?-2-2&?-0-2.$-=-,A3-8A%-
, ,.J-.$-#$-2}=-.%-V=,
Algumas vezes, pensa-se que todos os sofrimentos, suas causas e seus frutos se
fundem em nós. Eles são libertos do sofrimento.
 
,2.$- $A- 2.J- .$J- 3- =?- 0- .J- .$- =- !A3- 0?, ,$/?- {2?- 2.J- *A.-
.%-w/, ,3,<-,$-?%?-o?-,R2-0<---
Todas as nossas virtudes e felicidade fundindo-se neles, recebem de forma
relativa a felicidade e alegria; e de forma última obtém o estado de Buda.
 
~3?-0:A-$+R%-=J/-;%-;%-L-2-/A, ,1A2-.%-!/-IA-o=-0R, ,2Y%-
2-!/-IA-3(R$-I<, ,L3?-0:A-$R-(, ,~A%-eJ:A-;-=., ,!R%-*A.-~A%-
eJ:A- ~A%- 0R- &/- 8J?, ,?%?- o?- GA- o- 3J.- ,2?- 3J.- 0:A- $/?- 92-
3R:R,
É preciso fazer mais e mais essa prática da doação e da tomada para si. É o
soberano de todos (os meios) para purificar os véus, a suprema proteção, a cota de
malha do amor, o elmo da compaixão.
É dito que a vacuidade tem como coração, a compaixão. Sendo a causa (do
estado de) Buda, sem esse ponto profundo se está sem o meio de realizá-lo.

19
O lama e a devoção. 
, .J- v<- $.3?- %$- ,3?- &.- .%- , ,H.- 0<- <%- ?J3?- ?%?- o?-GA-
<%-8=-%R-3R.-0:A-]-3-.3-0-.J,
É o lama que nos dá todas essas instruções e mais particularmente,
nos mostra que a face do Buda é nossa própria mente.
 
,;R/-+/-IA-%R?-/?-l-$?3-<2-:L3-o-35S-:.?-0:A-,A-.0=-V=-
(A/-;R/-+/-LJ-2:A-2.$-*A.,
Do ponto de vista das qualidades, ele reúne todas as do incomensurável oceano
das Três Raízes. Ele tem a natureza gloriosa de miríades de qualidades puras e
perfeitas.
 
,2!:- SA/- IA- %R?- /?- .?- $?3- o=- .%-o=- Y?- !/- =?- H.- 0<-
:1$?-0:A-2.$-*A.-.->J?->A%-,
Do ponto de vista da bondade, é comparado à de todos os Vencedores e seus
Filhos dos três tempos, é preciso saber que ele é ainda mais sublime.
 
,$%-2-&A-><-]-3:A-i3-<R=,
Qualquer aparência que se manifeste, ela é o jogo do lama.

,2.J-#$-&A-L%-]-3:A-2!:-SA/,
Qualquer alegria ou sofrimento que surja, ela é a bondade do lama.

, <J- ?- ]- 3- =?- 3J.- 0:A- #R- ,$- $.A%- /?- 2&.- .J- &A- 36.- HJ.- >J?- ]R-
2+.-=A%-+<-IA-3R?-$?-3(A-3-:O$?-0-.%-3-V=-2-L?-KA/,
Convencidos, do mais profundo de nós, que sem o lama, não há nenhuma
esperança, sem partir de uma devoção que nos emociona até as lágrimas. Remetemo-nos
a ele (pensando) " O que quer que convenha fazer, vós o sabeis".

20
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*3?- .%- gR$?- 0- ,3?- &.- .L<- IA- lA- ,R$- v<- %3- %3- >$?- >$?-
GA?-:L%-!J,
Todos os obstáculos se dissipam, todas as vantagens, os benefícios, a bênção,
as realizações, as experiências e a Realização, tudo isso nos acontece como os frutos
durante o verão.
 

lA-,R$-: sementes, colheita.  
 
,?- =3- IA- ;R/- +/- ,3?- &.- .?- $&A$- =- mR$?- /?- 5K- :.A<- P2- 0-
(J/-0R:C-$R-:1%-2.J-]$-+-,R2-0:A---
Todas as qualidades das terras e dos caminhos estando concluídos em um
momento, nesta vida, obtém-se facilmente o estado de um grande realizado.
 
,2?- 92- 3R- 3J.- .- 3A- <%- 2:A- =3- 92- 3R- ]- 3:A- 3R?- $?- L- 2- =$?-
0?,
O meio profundo que a permite, e da qual não convém ficar em falta, esta
profunda via, é a devoção ao lama. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

21
Conclusões. 
 
,.J-v<-,3?-&.-;-V=-.-3-?R%-2<, ,$&A$-1/-$&A$-PR$?-GA-5=-
.- <%- o.-=- .R<- .%- <%- 28/- .R/- $*A?- :P2- 0- =- ,J- 5S3- 3A- $R?- 0-
=$?-?R,
 
Não se desfazendo de todos (esses meios)
que se completam e se exercem uns aos outros,
mas aplicando-os a si, é inútil duvidar,
realizar-se-á seu próprio bem e o dos outros.
 
o=-2:A-(R?-1%-2o.-OA-28A-!R%-!/,
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,?J3?-3-,=-2:A-2|R3-12-LJ.-=R-!/,
,(R?-2o.-#-$R/-;A/-0?-<A%-.-.R<,
 
Todo o conjunto dos 84 000 ensinamentos do Vencedor
são unicamente um meio para disciplinar a mente.
Todos os anos passados na prática ou meditando, sem haver disciplinado a mente,
só fará reforçar os Oito Dharmas mundanos, rejeitemo-los de longe.
  
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2#?-$R%-.-2>.-0-i3?, ,.?-!/-<%-$A-o.-=-;%-;%-.R<,
 
Sem aumentar nossa apreensão das concepções errôneas e apegos pelo ciclo
irreal, que tem a natureza de uma ilusão, mas engajando-se com determinação e
abandonando (os valores) desta vida, cada vez mais, todo o tempo, (é preciso) aplicar a
si as instruções que foram explicadas precedentemente.

22
Alguns últimos conselhos.  
 
%-3#?-0-%-29%-~3-0:A-3#?-24/-.%-,
Ser um erudito e pensar "sou muito inteligente", "sou excelente"
 
,2.J/-:6B/-8J/-($?-(J-2:A-|R3-(J/-0,
Um grande meditador com muito apego e fixado na realidade
 
,2m/-IA?-$8/-3$R-2{R<-2:A-#R3-2-2,
Ter os votos e por mentiras enganar os outros
 
,#-29%-%/-?J3?-:(%-2:A-L%-?J3?-0,
Um bodhisattva tendo boas palavras mas uma mente má,
 
,.!R<-/$-KJ-v<-:$3-0:A-]-$9$?-.%-,
Ter a aparência de um lama e se nutrir de oferendas negras
 
,$;R-+.-5=-:(R?-&/-IA-?J<-3R-2,
Ser um monge e depreciar a disciplina com hipocrisia
 
$;R-+.-: habilidade para enganar, decepcionar, enganar os outros.  
:(R?- = 2&$?- : Caminhar sobre, depreciar, romper.  
 
,P2-3,:-KR$?-8J/-&/-IA-$+A-3$-3#/,
Ser estúpido e ter uma escola apegada ao sectarismo,
 
 
,2>.-;3-5B$-=-8J/-0:A-!R/-(J/-0,
Um "grande professor" apegado às palavras e aos discursos artificiais
 
2>.-;3- : Fazer discursos pelo prazer de falar, sem dar referências válidas.  
 

23
,KR$?-:6A/-($?-#%-&/-IA-.$R/-2.$-?R$?,
Mestre de um monastério etc., sendo um sectário, apegado e colérico.
,(R?-=-2f?-0:A-#A$-0-d3-0R-(J,
Um grande pretensioso que despreza o Dharma
 

2f?-0- : Que despreza e diminui os outros d3-0R- : Arrogante, pretencioso
 
,.$-v<-%%?->A%-/%-3R-<J-<J-28A/, ,:.A-:S:A-=?-3A-29%-2:A-.3-
2&:-9%?,
Tais venenos, é precioso abandonar e a cada manhã tomar o engajamento de não
ser surpreendido em tais ações.
 
,.-<J-.=-:LR<-29%-0R-,R2-.?-:.A<,
,.$J-#A$-&A-LJ.-<%-$A-=$-=-;R.,
,;A.-28A/-/R<-2-fJ.-0:A-%R-3-;A/,
  
Hoje, obtivemos as liberdades e aquisições
Agora, praticar a virtude ou o vício está em nossas mãos.
Nós verdadeiramente obtivemos a jóia que realiza os desejos.
 
,<A?- 3J.- 2!/- 0- ,A- 2R<- ,R.- 28A/- #<, ,<%- o.- (R?-=-.R<-2:A-!R/-
0-.%-, ,LA/-_2?-2o.-0-w/-0:A-]-3-=?, ,(A/-PR=-(R?-GA-2..-
lA-;%-;%-8, ,KR$?-3J.-$.3?-3J-+R$-2&.-28A/-]%-,
 

Do mestre que tem sobre si, como sua própria cabeça,


Os ensinamentos não sectários,
Que aplica o Dharma à sua própria pessoa,
Do lama que possui a bênção da linhagem,
é preciso solicitar, cada vez mais,
o elixir do Dharma que libera e faz amadurecer (as qualidades).
Recolha as instruções não sectárias,
como (as abelhas) o néctar das flores.

24
,*J-=3-aR2-.?-?-o-3A-{R<-2<,
,$.3?-%$-$/.-2#?-$&A$-=-]R-$+.-/?,
,:#R<-2-:.A-.%-$+/-LJ-,2-0-8A$
,&A?-G%-~A%-=-:(R%-8A$-aR2-2:A-5S$?,
  
Quando adentreis na via curta
não erreis em vastos domínios.
Concentrais-vos unicamente
sobre os pontos essenciais das instruções
Pois isso tem o poder de reduzir à poeira
os fundamentos deste Samsara.
Assim, discípulos, guarde-os em vosso coração.

:(R%- = :&2?-0- guardar, preservar 
 
,]-3:A-$.3?-%$-?J3?-=-3-28$-/,
,!R%-$?3-;A-$J<-VA?-G%-%=-2:A-o,
 
Se não se guarda na mente as instruções do lama
poder-se-ia preencher de escrituras os 3000 universos,
mas isso só seria causa de aborrecimentos.

,$.3?-%$-<%-$A-o.-=-.<-2?-/,
,:.A?-G%-hR-eJ-:(%-$A-?-<-2*J=,
Caso se aplique a si mesmo as instruções, por isso mesmo
se será conduzido para o estado de Dorje Tchang
 
 
 

2+J=- futuro. de *R$-0- : se orientar, se dirigir  para. 
 
 
 
 

25
CONCLUSÃO 
 
,..- w/- aR2- 2- L%- :SJ/- 2?R.- .$:- ?R$?, ,{=- w/- 3%- 0R?- ;%- ;%- 2{=- 2:A- %R<,
,KR$?- 3J.- L- V=- <%- L%- !/- H2- .J?, ,~A%- /?- 1/- 0:A- ?J3?- GA?- <%- o.- =, ,$%-
.R<-$.3?-!/-3-&?-$?=-2<-VA?,
Soga, o guia experimentado dos discípulos providos de fé e numerosos afortunados tendo exortado,
mais e mais o não-sectário e liberto das ações (mundanas), com uma mente benevolente em seu
coração, Rangdjung Künkyab (Kalu Rinpoche) escreveu claramente, e sem nada ocultar, todas as
instruções que aplicou a si mesmo.

 
 
Dedicatória 
 
,.$J-2?-:PR-!/-5K-:.A-]R?-,R%?-+J, ,:R.-$?=-K$-o-(J/-0R:C-.R/-gR$?->R$,,
?j-3;-=), ,>-S) ,,
Por essa virtude, possam todos os seres, abandonar os (valores) desta vida e realizar o
sentido do Mahamudra, a clara-luz 
 
 
 
 
 
 
Notas do tradutor  
 
  A  fim  que  se  possa  reconhecer  mais  facilmente  as  diferentes  partes  e  instruções,  a  tradução 
dividiu  o  texto  em  um  determinado  número  de  partes  de  acordo  com  as  estâncias  ou  as  seções.  Alguns 
títulos foram acrescentados para delimitar os assuntos   
  Esta  tradução  foi  feita  por  lama  Trinle  no  Naro  Ling  durante  o  1º  retiro  de  Karma  Ling  em 
novembro de 1986. Ela foi ligeiramente revista e corrigida por ele em agosto de 2010.  
  Em  29  de  setembro  de  1987,    Kalu  Rinpoche  concedeu  o  lung  desse  seu  texto  como  sendo  o 
essencial de todas as instruções orais. 
  Durante  o  mês  de  agosto  de  2009,  Kyabje  Kalu  Rinpoche,  para  seu  primeiro  ensinamento 
público, fez um comentário desse texto como uma introdução ao Mahamudra. 
  É importante bem compreender tudo o que ele contém. 

26
 
 

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