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ALTAZOR
Basta senhora arpa das belas imagens
Dos furtivos comos iluminados
Outra coisa outra coisa buscamos
Sabemos pousar um beijo como um olhar
Plantar olhares como árvores
Enjaular árvores como pássaros
Regar pássaros como heliotrópios
Tocar um heliotrópio como uma música
Esvaziar uma música como um saco
Degolar um saco como um pingüim
Cultivar pingüins como vinhedos
Ordenhar um vinhedo como uma vaca
Desarvorar vacas como veleiros
Pentear um veleiro como um cometa
Desembarcar cometas como turistas
Enfeitiçar turistas como serpentes
Colher serpentes como amêndoas
Despir uma amêndoa como um atleta
Lenhar atletas como ciprestes
Iluminar ciprestes como faróis
Aninhar faróis como calhandras
Exalar calhandras como suspiros
Bordar suspiros como sedas
Derramar sedas como rios
Tremular um rio como uma bandeira
Desplumar uma bandeira como um galo
Apagar um galo como um incêndio
Vogar em incêndios como em mares
Segar mares como trigais
Repicar trigais como campanas
Dessangrar campanas como cordeiros
Desenhar cordeiros como sorrisos
Engarrafar sorrisos como licores
Engastar licores como jóias
Eletrizar joias como crepúsculos
Tripular crepúsculos como navios
Descalçar um navio como um rei
Pendurar um rei como auroras
Crucificar auroras como profetas
Etc, etc, etc.
Basta senhor violino afundado num ola ola
Cotidiana onda de religião miséria
De sonho em sonho possessão de pedrarias
……
A POESIA É UM ATENTADO CELESTIAL
Aflitivo lamentável
Vou adentrando nessas plantas
Vou deixando minhas roupas
Vão caindo as minhas carnes
E meu esqueleto vai se revestindo de cascas
Estou me tornando árvore Quantas vezes tenho me convertido em
[outras coisas…
…..
ARTE POÉTICA
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NICANOR PARRA
Advertência ao leitor
O autor não responde pelos incômodos que possam causar seus
escritos.
Apesar dos pesares
o leitor deverá dar-se sempre por satisfeito.
Salebius, que além de teólogo foi um humorista consumado,
depois de ter reduzido a pó o dogma da Santíssima Trindade
será que respondeu por sua heresia?
E se chegou a responder, como é que fez!
Em que forma desbaratada!
Apoiando-se em que cúmulo de contradições!
Segundo os doutores da lei este livro não deveria publicar-se:
a palavra arco-íris não aparece nele em parte alguma,
menos ainda a palavra dor,
a palavra torquato.
Cadeiras e mesas é que aparecem a granel,
Ataúdes!, utensílios de escritório!
o que me enche de orgulho
porque, no meu modo de ver, o céu está caindo aos pedaços.
Os mortais que leram o Tractus de Wittgenstein
podem bater com uma pedra no peito
porque é uma obra difícil de encontrar-se:
mas o Círculo de Viena foi dissolvido faz tempo,
seus membros dispersaram sem deixar rastro
e eu decidi declarar guerra aos cavalieri della luna.
Minha poesia pode perfeitamente não levar a parte alguma:
“os risos deste livro são falsos!”, argumentam meus detratores,
“suas lágrimas, artificiais!”
“Em vez de suspirar, nestas páginas a gente boceja”.
“Dá patadas como criança de colo”.
“O autor faz-se entender pelos espirros.”
De acordo: convido-os a queimar vossas naves,
como os fenícios pretendo criar meu próprio alfabeto.
Então, por que molestar o público?, perguntarão os amigos leitores:
“Se o próprio autor começa desprestigiando seus escritos,
que se pode esperar deles!”
Cuidado, eu não desprestigio nada
ou, melhor dizendo, exalto meu ponto de vista,
vanglorio as minhas limitações
ponho nas nuvens minhas criações.
Os pássaros de Aristófanes
enterravam suas próprias cabeças
os cadáveres de seus pais
(cada pássaro era um verdadeiro cemitério voador).
No meu modo de ver
chegou a hora de modernizar esta cerimônia
e eu enterro minhas plumas na cabeça dos senhores leitores!
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Solo de Piano
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A MONTANHA RUSSA
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Gabriela Mistral
A TERRA
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A CHUVA LENTA
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