experimentou o prazer da criação original. Já em idade avançada, caminhava por uma praia deserta, encontrou abrigo sob a proa de um barco em destroços, debaixo de uma neblina úmida, e imediatamente dormiu. Quando abriu os olhos, estava olhando para as orelhinhas delicadas e a face inquiridora de uma raposinha, tão novinha que ainda não tinha aprendido a ter medo. Ali, à sombra do barco, o renomado naturalista e o filhote de raposa se miraram um ao outro. E então a pequenina raposa, com um sorriso amplo e brincalhão, escolheu, numa pilha, um osso de galinha e o sacudiu nos dentes. Impulsivamente, EISELEY se inclinou e apanhou a outra ponta do osso, e teve início a brincadeira. Diz L. EISELEY: “ Tem-se dito repetidas vezes que, por mais que se queira, é impossível chegar a estar na dianteira do universo. O homem está destinado a ver somente o lado distante, a perceber a natureza somente quando em retirada. ”. Contudo, ali estava algo no meio dos ossos: a raposa inocente e de olhos grandes me convidando para brincar. De alguma forma fantástica, o universo estava fazendo-se girar para mostrar a sua face, e a face era tão pequena que o próprio universo estava rindo. Não era hora de preocupar-se com dignidade humana. “ Por um breve momento eu mantive o universo afastado mediante o simples expediente de sentar de cócoras à entrada da toca de uma raposa e de ficar sacudindo de um lado para outro um osso de galinha. ”. Foi o “ ato mais significativo e solene que jamais realizarei ”, concluiu mais tarde, pois havia apanhado um lampejo do universo quando ele tem início para todas as coisas. “ Na verdade, esse era o universo de criança, um universo minúsculo e risonho. ” Apesar do terrível vazio de nosso universo, apesar da dor que o domina, algo persiste, como o aroma de um antigo perfume, desde aquele momento de princípios, em Gênesis 1. Eu também tenho tido essa experiência. Na primeira vez, eu tinha dobrado uma curva e vi o vale de Yosemite se descortinar diante de mim, com suas quedas d’água como véu de noiva se derramando sobre o granito recoberto de neve.
Numa pequena península de Ontário, no Canadá, vi cinco milhões
de borboletas reais migratórias pararem para descansar, com suas asas como de papel adornando cada árvore com uma cor alaranjada, reluzente, translúcida. No Zoológico das crianças, no Lincoln Park, em Chicago, cada animal que nasce – gorila, girafa ou hipopótamo – começa a vida de modo travesso e com exuberância. EISELEY está certo, no coração do universo há um sorriso, uma pulsação de prazer transmitida desde o instante da criação. Todo novo pai, que pela primeira vez, carrega um nenezinho, seu nenezinho, trazendo-o bem junto à sua pele, sabe o que é isso. E foi esse sentimento que Deus teve quando examinou o que havia feito e declarou que era bom. No início, bem no início, não houve qualquer desapontamento. Somente alegria.