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Philippe Ariès
Essa problemática reduz toda a história da vida privada a uma mudança na sociabilidade,
digamos, grosso modo, à substituição de uma sociabilidade anônima — a da rua, do pátio do
castelo, da praça, da comunidade — por uma sociabilidade restrita que se confunde com a
família, ou ainda com o próprio indivíduo. Portanto, o problema consiste em saber como se
passa de um tipo de sociabilidade em que o privado e o público se confundem para uma
sociabilidade na qual o privado é separado do público e até o absorve ou reduz sua extensão.
Tal problemática dá ao termo "público" o sentido de jardim público, de praça pública, do local
de encontro de pessoas que não se conhecem porém ficam felizes por se ver juntas.
Na tradição da historiografia francesa do século XX, desde as primeiras décadas desse século,
sempre houve uma preocupação com os fundamentos do ofício do historiador, isto é,
preocupações com o problema dos objetos de estudo, os tipos de documentos estudados e os
tipos de abordagem empregados. Desde a “Escola dos Annales”, nascida em 1929, com as
pesquisas de Marc Bloch e Lucien Febvre, essas preocupações eram patentes.
Na virada da década de 1970 para a década de 1980, uma geração de historiadores, herdeira
da “Escola dos Annales”, passou a estender as propostas de novos objetos e novas abordagens
no terreno da história. Esse movimento ficou conhecido como “Nova História”. Foi da “Nova
História” que surgiu um dos mais expressivos projetos de pesquisa histórica do século XX: a
“História da vida privada”.