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https://novaescola.org.br/conteudo/18628/jogos-educacionais-podem-ajudar-
estudantes-a-superar-o-medo-de-errar
Pesquisa Aplicada
Todos os professores, provavelmente, já se deparam com aquilo que parece ser uma “indiferença” ou
“preguiça” do aluno frente as atividades propostas durante a aula. Estão ali, mas não fazem o exercício
e esperam que seja corrigido para copiar a resposta, por exemplo. É claro que existem exceções, mas
esse comportamento pode ser classificado como medo de errar. Na verdade, o medo não é do erro,
mas das consequências do erro.
Do ponto de vista do aluno, essas consequências podem ser externas, por exemplo, expor sua
condição de não saber fazer uma determinada atividade para o professor e outros alunos. O medo de
errar também gera consequências de caráter interno, quando o aluno, constatando seu erro, se sente
inferior aos outros por não saber realizar uma determinada tarefa. Ou seja, o medo das consequências
do erro leva à insegurança, ansiedade e displicência. O medo de errar leva o aluno a querer “fugir” da
situação e, nestas condições, começa a importunar os colegas e a realizar ações que não têm relação
com a atividade proposta. Uma recente pesquisa realizada na Universidade de Maryland aborda a
“ansiedade social”, um transtorno que atinge crianças e jovens que temem que seus erros sejam
percebidos em situações sociais (BUZZELL et al, 2017).
A aprendizagem depende, em grande parte, de uma autoconfiança do estudante. É preciso que ele
acredite ser capaz de realizar as tarefas, evitando assim, o sentimento de desânimo e de frustração
(Bandura et al, 2008). Esta autoconfiança vai influenciar fortemente no interesse, na persistência e no
esforço dispensado à realização das atividades. Kuhl (2000), chama atenção para um fenômeno
denominado volição , que é um fator distinto da motivação, pois segundo o autor, a motivação é
responsável pelo interesse e desejo inicial, enquanto a volição é responsável pela manutenção do
interesse, das intenções e da ação planejada para atingir os objetivos. Podemos pensar que existe uma
relação entre motivação e volição pois, para dispor-se a realizar uma tarefa, os alunos precisam ter um
certo grau de motivação. Contudo, para se manterem engajados na tarefa e não se dispersarem,
precisam também de um certo grau de volição. O medo de errar atua diminuindo a volição, que é
fundamental para que o aluno se mantenha envolvido e crie oportunidades para a aprendizagem.
Poderia continuar dando outros exemplos e situações, mas acho que os argumentos são suficientes
para mostrar que o medo de errar é um elemento a ser considerado dentre as chamadas dificuldades
de aprendizagem.
Durante a pesquisa com uso de tecnologia em uma escola do primeiro ciclo do Ensino Fundamental de
Araraquara, no interior do estado de São Paulo, temos observado que o uso dos recursos tecnológicos
pode levar a uma diminuição do medo de errar. De início, destaco o fato de que a maioria dos alunos
não percebem as atividades realizadas no computador como uma forma de julgamento de suas
competências e habilidades, fato que os deixa menos apreensivos em engajar-se nas tarefas. O caráter
lúdico das atividades ameniza o peso dos erros que possam vir a cometer, pois, para o aluno, a
participação e o processo de interação tornam-se mais importantes do que resultado final
propriamente dito.
Silvio Henrique Fiscarelli é mestre e doutor em Educação Escolar pela Faculdade de Ciências e
Letras de Araraquara (Unesp) e professor na mesma instituição
Bandura, A.; Azzi, R. G. & Polydoro, S. Teoria Social Cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre:
Artmed, 2008.
Kuhl, J. The volitional basis of personality systems interaction theory: application in leasing and
treatment contexts. Internationl Journal of Educational Research, 2000.