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aventura, e começou o romance As confissões do cavalheiro de

indústria Felix Krull [331], sem


saber terminá-lo. Como o conceito da decadência não é um conceito
histórico, mas vitalista, Mann
não compreende a história: Os Buddenbrooks não são um romance
histórico; as personagens não
passam de leitmotivs daquela história, representada por fatalidades
familiares, o cortejo lúgubre das
gerações decadentes dos Buddenbrooks. O pretendido historiador da
burguesia alemã é um romântico
retardatário, tocando a dança fúnebre dum mundo morto. Do velho
burguesismo morto nada ficou
senão o herdado busto de gesso de Goethe, e um liberalismo antiquado,
base de discussões
intermináveis, que terminou por ser cruelmente desmentido.
Para o burguês alemão Thomas Mann, a morte da burguesia alemã
significa a morte da
Alemanha. Lamenta; não reconhece a responsabilidade dos pais pelos
filhos falhados. Não reconhece
mais a Alemanha e os alemães; é um malogro, incompreensível para
ele, que se sabe filho de
gerações de patrícios arquialemães. Não compreendendo a evolução
fatal dessas gerações, ele não
compreende o seu próprio malogro na tentativa de identificar-se com o
espírito alemão, um espírito
que não morrera, mas que se transformara fatalmente. A história dessa
derrota pessoal de Mann está
na sua obra-chave: o conto Tonio Kroeger.
É a história romântica dum jovem artista excluído da vida. O espírito,
acredita Mann, é
sempre excluído da vida e ama-a sem esperança, como Tonio Kroeger
ama a loura Inge Holm. O
artista Kroeger sofre da “nostalgia da vida e das suas banalidades
sedutoras”. O amor de Tonio
Kroeger ― e do seu autor ― pertence “aos louros, de olhos azuis, aos
claros, vivos, felizes,
amáveis, banais”. Mas Kroeger é escuro, sombrio, doente, infeliz,
reservado e esquisito;
melancolicamente, está na ponte de embarque, seguindo com os olhos
o navio que leva a loura Inge
Holm e o seu noivo louro, de olhos azuis, para os mares da felicidade. É
toda a história de Thomas
Mann; sem o fim; sem o navio que o levou, afinal, para os mares do
exílio.
Thomas Mann não compreendeu porque a loura Inge Holm preferira os
engenheiros e os
oficiais de marinha. Quis sabê-lo, e fracassou nos ensaios de
compreensão; esses ensaios que
constituem os seus romances.
A forma especial do romance alemão é o Entwicklungsroma

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