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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

FJM
Nº 70022129472
2007/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO.


IPASEM. ASSISTÊNCIA HOSPITALR À NETA
RECÉM-NASCIDA DE SEGURADA DO INSTITUTO.
SENDO A AVÓ SEGURADA E A FILHA
DEPENDENTE, OS BENEFÍCIOS DEVEM SER
ESTENDIDOS PARA O RECÉM-NASCIDO, DIANTE
DA EXCEPCIONALIDADE DO CASO.

À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO


APELO.

APELAÇÃO CÍVEL 21ª CÂMARA CÍVEL

Nº 70022129472 NOVO HAMBURGO

INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA E APELANTE;


ASSISTÊNCIA DOS SERVIDORES
MUNICIPAIS DE NOVO HAMBURGO,

MAGDA GORETTI VIEGAS, APELADA.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima
Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade,
em negar provimento ao apelo.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os
eminentes Senhores DES.ª LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO E
DES. GENARO JOSÉ BARONI BORGES.
Porto Alegre, 19 de dezembro de 2007.

DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH,


Presidente e Relator.

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RELATÓRIO
DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH (PRESIDENTE E RELATOR)
Trata-se de recurso de apelação interposto pelo INSTITUTO
DE PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA DOS SERVIDORES MUNICIPAIS DE
NOVO HAMBURGO porquanto inconformado com a sentença prolatada nos
autos da ação cautelar inominada ajuizada por MAGDA GORETTI VIEGAS.
A magistrada a quo julgou procedente a ação para confirmar a
liminar concedida à fl. 39 e julgou improcedente a reconvenção formulada
pelo ora apelante. Por fim, condenou o réu/reconvinte ao pagamento das
custas processuais da ação e da reconvenção e em honorários advocatícios
fixados em R$ 1.200,00, com base no art. 20, § 4º, do Código de Processo
Civil.
Sustenta o recorrente que a autora pretende a cobertura de
gastos hospitalares a sua neta. Salienta que a autora é segurada titular do
Instituto e, na forma do disposto no art. 24 da Lei Municipal nº154/92, tem
ela o direito de inscrever como seus dependentes os seus filhos, tanto é,
que inscreveu sua filha Samanta Viegas Vimol. Destaca, no entanto, que o
Instituto possui regulamentação própria com relação aos serviços prestados
e a Resolução nº 07/02 dispõe que a cobertura médica e hospitalar a recém-
nascido de dependente de segurado é de até cinco dias após o nascimento.
Consigna que não há obrigação do Instituto em suportar as despesas de
internação além do período acima referido. Por fim, argumenta que a autora
era sabedora da limitação de internação de neto de segurado. Requer o
provimento do recurso com a reforma da sentença.
O recurso foi recebido à fl. 247.
A apelada apresenta contra-razões às fls. 252/257.

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Opina o Ministério Público pelo conhecimento e desprovimento


do apelo.
É o relatório.

VOTOS
DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH (PRESIDENTE E RELATOR)
Eminentes Colegas, não prospera a presente irresignação.

Inicialmente, convém realizar um breve relato dos fatos. Alegou


a autora que é segurada do Instituto de Previdência e Assistência dos
Servidores Municipais de Novo Hamburgo, tendo como dependente sua filha
Samanta Viergas Vimol, então com 17 anos ao tempo do ajuizamento da
presente demanda.
Ocorre que, em 16/06/2006, Samanta foi internada com
urgência no Hospital São Rafael, onde deu à luz a Luyza Viegas Vimol, que
nasceu com apenas 24 semanas de gestação, razão pela qual permaneceu
internada por um longo período.
O IPASEM, na oportunidade, foi acionado e autorizou a
internação da recém-nascida por quinze dias, mas, quando da emissão da
autorização junto ao Hospital, o fez por apenas cinco dias.
Assim, postula a autora que o demandado arque com as
despesas hospitalares decorrentes da internação de Luyza, por todo o
tempo em que esta necessitou de cuidados médicos especiais, em virtude
das complicações provenientes do seu nascimento prematuro.
Bem lançada a sentença ao reconhecer a responsabilidade do
réu pelas despesas hospitalares. Ora, assim trata o art. 24 da Lei Municipal
nº 154/92, que dispõe sobre o sistema de seguridade social aos servidores
públicos do Município de Novo Hamburgo:

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“São beneficiários do segurado, nas condições e limites desta


Lei:
I. o cônjuge ou ex-cônjuge, os filhos de qualquer condição,
solteiros e menores de 18 (dezoito) anos ou inválidos;
(...)”

Evidente a dependência da filha solteira, menor de 18 anos da


segurada, ora apelada. Mas a questão mostra-se mais complexa, pois qual
seria a situação do bebê recém-nascido? Poderia ser ele considerado
também dependente da autora?
Pelo que se observa dos autos, o réu reconheceu a
dependência também da criança, tanto que autorizou, conforme documento
de fl. 19, por quinze dias, a solicitação para o atendimento ambulatorial.
Ocorre que a situação da recém-nascida era grave (fl. 22),
necessitando de atendimento médico constante, razão pela qual ficou
impedida a autora de postular autorização para a transferência da menor
para outro hospital conveniado junto ao Instituto de Previdência e
Assistência do Município de Novo Hamburgo.
Assim, diante da excepcionalidade do caso, muito bem se
posicionou a ilustre julgadora a quo e, a fim de evitar tautologia, transcrevo
trecho da sua decisão, cujas razões faço minhas:

“Em que pese apenas a avó e conseqüentemente a mãe da


criança tivessem vínculo com o plano de saúde, tenho que a
situação em concreto autoriza o alcance do vínculo para o
recém-nascido. Sendo a autora e a filha dependentes do
IPASEM – fato incontroverso -, possuem direito a cobertura
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completa do plano de saúde, o que significa que os benefícios


devem ser estendidos para a criança recém-nascida, até que
esteja em plenas condições de saúde de sair do hospital por
ocasião de seu nascimento. Caso contrário, estar-se-ia
negando o atendimento a associado gestante com gravidez de
alto risco, hipótese dos autos.”

Convém destacar, também, jurisprudência deste Tribunal que


pode ser aplicada ao caso dos autos:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA CUMULADA COM


PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PLANO DE
ASSISTÊNCIA MÉDICA. PRAZO DE CARÊNCIA. SITUAÇÃO DE
EMERGÊNCIA Tratando-se de situação de emergência enfrentada
pela beneficiária do Plano de Saúde, com iminente risco de vida
para a gestante e para o bebê que nasceu prematuro, resta afastado
o prazo de carência contratualmente previsto para a realização da
cirurgia cesariana, mesmo porque, na data da realização do ato
cirúrgico, faltavam apenas sete dias para completar o prazo de
carência de trezentos dias, impondo-se a cobertura contratual. As
despesas decorrentes do atendimento e internação do recém-
nascido também devem ser cobertas pela demandada durante os
primeiros trinta dias, diante da ausência de demonstração de que o
bebê foi inscrito no plano de saúde, exigência do artigo 12, III, letras
`a¿ e `b¿ da Lei nº 9.656/98. Hipótese em que o Termo de Acordo
firmado pelas partes não pode ser considerado válido,
especialmente diante da situação peculiar em que fora assinado, ou
seja, alguns dias após a realização do ato cirúrgico. O
descumprimento contratual por si só não gera dano moral, pelo fato
de que somente em casos excepcionalíssimos resta autorizada a
indenização por danos extrapatrimoniais. APELOS IMPROVIDOS.
(Apelação Cível Nº 70014786214, Quinta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Ana Maria Nedel Scalzilli, Julgado em
25/05/2007)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. TRANSPLANTE


DE CÓRNEA. DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE.
EXCEPCIONALIDADE. PLANO DE SAÚDE COMPLEMENTAR.
PRAZO DE CARÊNCIA. A exigência de prazo de carência nos
planos de saúde é regra geral que cede à ocorrência de emergência
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ou urgência, compreendida como aquela que implica risco imediato


de vida ou de lesões irreparáveis. (Apelação Cível Nº 70021472881,
Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 21/09/2007)

Pelo exposto, nego provimento ao apelo.


É o voto.

DES.ª LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO (REVISORA) - De acordo.


DES. GENARO JOSÉ BARONI BORGES - De acordo.

DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH - Presidente - Apelação Cível nº


70022129472, Comarca de Novo Hamburgo: "NEGARAM PROVIMENTO
AO APELO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: GIOCONDA FIANCO PITT

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