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FACULDADE MARTHA FALCÃO / WYDEN - CURSO DE DIREITO

PROF. DARLAN QUEIROZ BENEVIDES

Aluna: LUIZA CHATEAUBRIAND GASPAROTTO (161120223)

A responsabilidade do fornecedor é, em regra, objetiva, ou seja, terá que


reparar os danos/prejuízos causados aos consumidores independentemente da
comprovação do dolo ou da culpa. No entanto, esta regra não é absoluta, sendo admitido
um caso de responsabilidade subjetiva, nos termos do art. 14, § 4º, do CDC, que assim
prevê: “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a
verificação de culpa”. Trata-se da responsabilidade pessoal do profissional liberal que
deverá ser configurada mediante a comprovação de dolo ou de culpa (responsabilidade
subjetiva).

Regra no CDC Exceção no CDC

• Responsabilidade objetiva • Responsabilidade subjetiva (necessidade


(independe de dolo ou culpa). de dolo ou culpa).
• Fato do produto e fato do • Fato do serviço no caso de
serviço (regra); vício do responsabilidade pessoal do profissional
produto e do serviço. liberal.

Segundo Bruno Miragem1, como “traços essenciais da atividade do


profissional liberal encontram-se a ausência de subordinação com o tomador do serviço
ou com terceira pessoa, e que realize na atividade o exercício permanente de uma
profissão, em geral vinculada a conhecimentos técnicos especializados, inclusive com
formação específica”. Prevalece que não há necessidade de formação superior, mas
apenas formação específica, ainda que técnica. Assim, os exemplos mais representativos
de profissionais liberais são, dentre outros:
a) advogado;
b) médico;
c) dentista;
d) engenheiro;

1
MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor, p. 398

1
e) arquiteto.
As razões do tratamento diferenciado concedido aos profissionais liberais podem ser
resumidas nos seguintes argumentos:
a) natureza intuitu personae da atividade desempenhada;
b) exercer, em regra, atividade de meio;
c) serviço diferenciado em comparação ao disponível no
mercado massificado.
De fato, há um caráter personalíssimo (intuitu personae) na relação
existente, por exemplo, entre paciente e médico. Isto significa identificar o requisito da
fidúcia — confiança — neste tipo de relação. Ademais, a atividade do profissional liberal
desempenhada é, em regra, uma atividade de meio, em que o profissional compromete-
se a empregar todo o seu conhecimento e todas as técnicas existentes para atingir o
resultado pretendido, mas não há obrigatoriedade de atingi-lo, pois sua atividade não é
preponderantemente de resultado. Assim, o médico se compromete a tentar salvar um
paciente com câncer, entretanto não poderá assegurar que seus serviços médicos levarão
o enfermo à cura. Logo mais analisaremos o tratamento jurídico dispensado ao
profissional liberal que desempenha atividade de resultado.

Por fim, no tocante às razões fundamentadoras do tratamento diferenciado


concedido ao profissional liberal, não poderíamos deixar de citar uma decorrência da
natureza intuitu personae da atividade desempenhada quando comparada com os demais
serviços disponibilizados no mercado de consumo. O profissional liberal desenvolve uma
atividade personalizada, isto é, nenhum paciente é igual ao outro, por mais que a doença
seja mundialmente reconhecida. Tal situação exige, a depender das características do
enfermo, um tratamento personalíssimo a ser estudado caso a caso.

Tal contexto reflete inclusive no momento da contratação. Nessa linha de


raciocínio, Zelmo Denari2, ao ensinar que nem “se deve deslembrar que o dispositivo
excepcional supõe a contratação de um profissional liberal que, autonomamente,
desempenha seu ofício no mercado de trabalho. Trata-se, portanto, de disciplina dos
contratos negociados, e não dos contratos de adesão a condições gerais”.

Um dos fundamentos do tratamento diferenciado dispensado ao


profissional liberal que responde subjetivamente pelo fato do serviço — acidente de

2GRINOVER, Ada Pellegrini; BENJAMIN, Antônio Herman de V.; FINK, Daniel Roberto; FILOMENO, José
Geraldo Brito; NERY JR., Nelson; DENARI, Zelmo. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, p. 213

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consumo decorrente de um serviço defeituoso — é que desempenha em regra uma
atividade de meio, sem a obrigatoriedade de se atingir o resultado pretendido. As questões
colocadas sobre o tema são as seguintes:

I. Profissional liberal desempenha atividade-fim, de resultado?


II. Se sim, a responsabilidade volta a ser a objetiva nestes casos?
Na denominada atividade-fim, o profissional liberal compromete-se a
atingir o resultado pretendido pelo consumidor. O caso clássico envolve a cirurgia plástica
de embelezamento.

Com este exemplo, constatamos que a resposta à primeira indagação é


afirmativa, ou seja, o profissional liberal pode sim desempenhar atividade de resultado.
E a responsabilidade neste caso permanece subjetiva ou volta para a regra da
responsabilidade objetiva prevista no Código de Defesa do Consumidor? Inicialmente,
cumpre destacar divergência na doutrina sobre o tema, muito bem pontuada pelas
observações de Zelmo Denari3:

“certo setor doutrinário acena para uma particularidade muito sutil,


sustentando que nos contratos de resultado — em que a remuneração do
profissional fica condicionada a determinado resultado favorável ao cliente,
em contraposição aos contratos de meio — deve ser aplicada,
excepcionalmente, a regra da responsabilidade objetiva, e não subjetiva. Não
se pode compartir esse ponto de vista, pois a natureza do contrato (de
resultado ou de meio) não tem nada a ver com a natureza intuitu personae da
responsabilidade do profissional liberal”

As turmas terceira e quarta do Superior Tribunal de Justiça vêm


entendendo que a atividade de resultado não transforma a responsabilidade subjetiva do
profissional liberal em objetiva, mas ocorrerá a presunção de culpa do prestador do
serviço pelos danos causados, com a respectiva inversão do ônus da prova. Assim, apesar
de se discutir culpa (responsabilidade subjetiva), caberá ao profissional liberal demonstrar
a inexistência desta no caso concreto para se eximir do dever de indenizar. Vejamos:

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO.


ART. 14 DO CDC. CIRURGIA PLÁSTICA. OBRIGAÇÃO DE
RESULTADO. CASO FORTUITO. EXCLUDENTE DE
RESPONSABILIDADE.
1.Os procedimentos cirúrgicos de fins meramente estéticos caracterizam
verdadeira obrigação de resultado, pois neles o cirurgião assume verdadeiro
compromisso pelo efeito embelezador prometido.

3GRINOVER, Ada Pellegrini; BENJAMIN, Antônio Herman de V.; FINK, Daniel Roberto; FILOMENO, José
Geraldo Brito; NERY JR., Nelson; DENARI, Zelmo. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, p. 214-215.

3
2.Nas obrigações de resultado, a responsabilidade do profissional da medicina
permanece subjetiva. Cumpre ao médico, contudo, demonstrar que os
eventos danosos decorreram de fatores externos e alheios à sua atuação
durante a cirurgia.
3.Apesar de não prevista expressamente no CDC, a eximente de caso fortuito
possui força liberatória e exclui a responsabilidade do cirurgião plástico, pois
rompe o nexo de causalidade entre o dano apontado pelo paciente e o serviço
prestado pelo profissional.
4.Age com cautela e conforme os ditames da boa-fé objetiva o médico que
colhe a assinatura do paciente em “termo de consentimento informado”, de
maneira a alertá-lo acerca de eventuais problemas que possam surgir durante
o pós-operatório.
5.RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO
(REsp 1.180.815/MG, Rel. Ministra Nancy Andrighi, 3ª T., DJe 26-8-2010).

No mesmo sentido, o STJ ao entender que:

“Em procedimento cirúrgico para fins estéticos, conquanto a obrigação seja


de resultado, não se vislumbra responsabilidade objetiva pelo insucesso da
cirurgia, mas mera presunção de culpa médica, o que importa a inversão do
ônus da prova, cabendo ao profissional elidi-la de modo a exonerar-se da
responsabilidade contratual pelos danos causados ao paciente, em razão do
ato cirúrgico.
(REsp 985.888/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, 4ª T., DJe 13-3-
2012).”

Responsabilidade Subjetiva
Responsabilidade Objetiva
(Culpa Presumida)
• Não se discute culpa • Discute-se culpa.
• Inversão facultativa do ônus. • Inversão obrigatória do ônus

Sobre o tema, cumpre lembrar ainda que prevalece na jurisprudência do


STJ a não incidência do CDC nas relações contratuais firmadas entre advogado e seus
clientes: “Não incide o CDC nos contratos de prestação de serviços advocatícios.
Portanto, não se pode considerar, simplesmente, abusiva a cláusula contratual que prevê
honorários advocatícios em percentual superior ao usual. Prevalece a regra do pacta
sunt servanda” (REsp 757.867/RS).

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