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novas concessões
Lista de projetos que o governo vai licitar parece tão ampla quanto o otimismo de
Eike ao assumir riscos em petróleo, gás, minério, porto, ferrovia, estaleiro
O inferno astral do empresário Eike Batista, visível como reality show graças à
transparência obrigatória para “empresas abertas”, ou seja, com ações na bolsa,
reforçada pelo seu lado midiático, merece reflexão. Não pelo sobe e desce de sua fortuna
nos rankings globais dos bilionários, assunto cativo das colunas mundanas da imprensa.
Quase como um espelho das oportunidades em logística e petróleo, áreas com licitações
já agendadas pelo governo para este ano, cada projeto do empresário é tocado por uma
empresa autônoma, batizada sempre com a letra X, como OGX (petróleo), MMX
(mineração) e LLX (responsável pelo porto de Açu, no litoral do Rio, concebido para ser o
hub dos campos de petróleo da Bacia de Campos e do pré-sal).
Não há no setor privado nacional nada com tal magnitude, meio como uma mini Vale e
Petrobras reunidas, nem seu modelo de capitalização – essencialmente voltado às
chamadas de capital no mercado de ações junto a grandes investidores, com a banca
estatal de coadjuvante, embora com volumes de financiamento expressivos, R$ 5 bilhões
só do BNDES, além de R$ 2 bilhões da Caixa Econômica Federal.
As cinco empresas abertas de sua holding, a EBX, carregam dívida líquida superior a R$
16 bilhões no fim de 2012, e de R$ 24 bilhões de dívida bruta, segundo análise de
Fernando Torres, do Valor. Em contrapartida, essas cinco empresas investiram R$ 9,7
bilhões só em 2012. Ele faz o perfil do empresário-investidor ousado e destemido, que o
governo procura para as licitações de infraestrutura, com um volume de investimento total
de R$ 470 bilhões, quase 11% do PIB.
Eike compôs os dois perfis, mas talvez tenha sido otimista demais com os riscos
operacionais, parte derivada de atrasos burocráticos que não dependem de sua iniciativa,
parte ou de má avaliação ou má sorte dos resultados dos blocos de petróleo explorados
pela OGX.
É essa a principal razão da queda de suas ações na bolsa. Mas parece haver algo mais: a
concentração de muitos projetos com maturação no longo prazo e custos pesados. É o
que serve de reflexão ao governo.
Compromissos excessivos
A lista de obras públicas que o governo cogita licitar talvez seja excessiva sob vários
ângulos. O desafio para fechar os editais das licitações demonstra por si só o baixo
consenso no governo.
A ideia cogitada por setores influentes do governo seria fatiar as licitações, pondo menos
ativos em leilão que o previsto, de maneira a avaliar melhor a receptividade, os valores de
tarifa propostos e a qualidade executiva dos grupos interessados. Ao se lançar em sua
empreitada, Eike começou sozinho e depois foi atrás de sócios para bancar com ele os
investimentos. O governo não pode fazer igual.
Ou licita tudo ou não licita nada. O meio termo é a ideia em pauta – começar devagar. O
ônus é chegar a 2014 com menos obras a exibir. O benefício é mitigar os riscos e
potencializar os resultados.
A emissão de ações e de papéis de dívida privada respondeu em 2007 por 12,2% dos
investimentos, contra 11,4% do BNDES e 17% do capital estrangeiro. O mercado de
capitais é o caminho para não se fabricar déficits em conta corrente, a contrapartida de
alto risco do modelo de crescimento movido a fundos externos.