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BESTER, G.M.
COSTA, H.A.
HILÁRIO, G.M.A.
548 p.
AUTORES COLABORADORES:
Os Coordenadores
Gisela Maria Bester
Hermes Augusto Costa
Gloriete Marques Alves Hilário
PREFÁCIO
Ruy Braga
Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (UNICAMP), Professor
Livre Docente do Departamento de Sociologia – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).
SUMÁRIO
SEÇÃO 1 – DIREITOS
21
AUSTERIDADE E IDEOLOGIA:
A INSTRUMENTALIZAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO
Andreia Santos
45
A “MODERNIZAÇÃO” DO SETOR PORTUÁRIO NO BRASIL:
PRECARIZAÇÃO E DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO
66
O TRABALHO AINDA É UM DIREITO? IMPACTOS DA AUSTERIDADE
NAS RELAÇÕES LABORAIS EM PORTUGAL
88
A MÁXIMA PROTEÇÃO DO DIREITO SOCIAL INTERNACIONAL À SAÚDE:
DO BRASIL A PORTUGAL, UM EXEMPLO DE APLICAÇÃO DO
CONSTITUCIONALISMO EM VÁRIOS NÍVEIS
111
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA VIOLÊNCIA CONJUGAL E A RESPOSTA DA
JUSTIÇA
137
UMA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL:
UM OLHAR SOBRE O MUNDO DO TRABALHO INFANTIL
SEÇÃO 2 – MOVIMENTOS
163
JORNADAS (IN)VISÍVEIS: DEPOIS DA MORTE DO ANJO DA CASA
Carina Jordão
185
O MOVIMENTO DE RENOVAÇÃO DO ENSINO DO DIREITO PRODUZIDO PELA
CONEXÃO COM A LITERATURA: NAS PEGADAS DE WARAT E CORTAZAR
208
HORIZONTES INTERTEMPORAIS DO HUMANISMO JURÍDICO:
UM EXERCÍCIO HERMENÊUTICO AO TRANSHUMANISMO E AO PÓS-
HUMANISMO
226
O MOVIMENTO SOCIAL DO PRECARIADO, CARÊNCIA DE FUTURIDADE
E NECROSE DO CAPITALISMO DE BEM-ESTAR SOCIAL EM PORTUGAL
Giovanni Alves
Dora Fonseca
251
COSMOVISÃO HUMANISTA NA CONSTITUTIVIDADE DO HOMO JURIDICUS
CONTEMPORÂNEO: ELEMENTOS DE UMA HERMENÊUTICA JURÍDICA
HUMANIZANTE
282
OS DESAFIOS DA GOVERNAÇÃO URBANA: A PARTICIPAÇÃO
DOS CIDADÃOS NA GESTÃO DOS TERRITÓRIOS
Isabel Ferreira
Claudino Ferreira
312
ESTADO, TERRITÓRIO E PROTESTOS: REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL
E MOVIMENTOS LOCAIS
336
O NOVO CONSTITUCIONALISMO DEMOCRÁTICO LATINO-AMERICANO
E OS NOVOS SUJEITOS DE DIREITO
354
O RESGATE DA ONTOLOGIA: OS LIMITES DA “TRANSIÇÃO PARADIGMÁTICA”
E A NECESSIDADE DE RETOMADA DA ONTOLOGIA SOCIAL
Pablo Almada
SEÇÃO 3 – INSTITUIÇÕES
385
TECNOLOGIAS SOCIAIS NO MODELO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM
PORTUGAL: A EMERGÊNCIA DAS INCUBADORAS SOCIAIS
408
A CADUCIDADE DO DIREITO DE AGIR NAS AÇÕES DE RECONHECIMENTO
JUDICIAL DA MATERNIDADE E/OU PATERNIDADE NO DIREITO PORTUGUÊS
433
REFLEXÕES SOBRE A ATIVIDADE MUSICAL EM PORTUGAL: O
ENQUADRAMENTO PROFISSIONAL, A GESTÃO DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL E O MERCADO DE TRABALHO
456
OS DILEMAS DA CUT NO INÍCIO DO SÉCULO XXI:
RUMO A UMA NOVA INSTITUCIONALIZAÇÃO SINDICAL?
473
O DIREITO COMO NORMA COERCITIVA EM MICHEL FOUCAULT
498
“A TERRA RICA”. COLONIALIDADE E PROPAGANDA NO
CINEMA COLONIAL PORTUGUÊS EM ANGOLA
Nuno Porto
Cristina Sá Valentim
527
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA POLÍTICA E DOS PRINCÍPIOS REPUBLICANOS
AUSTERIDADE E IDEOLOGIA:
A INSTRUMENTALIZAÇÃO DO DIREITO
DO TRABALHO
1
Andreia Santos
RESUMO
Neste artigo pretende-se ilustrar o modo como a instrumentalização
do Direito do Trabalho se constitui num claro exemplo de uma opção
sociopolítica do económico e financeiro sobre o social,
transformando-o em objecto sociológico privilegiado quanto à
observação da adequação das práticas sociais à lógica neoliberal. O
que está em causa é a concepção de um tipo de sociedade ou ordem
social que assente sobre orientações neoliberais afastam cada vez
mais a realidade económica e financeira da realidade social. A
austeridadeforjada sobre os princípios neoliberais, como momento
específico, traduz-se numa demonstração como o financeiro utiliza o
político para restabelecer uma ordem social na qual a insegurança, a
incerteza e as desigualdades vigoram e, simultaneamente, como
estes elementos são secundários se forem em benefício do bom
funcionamento dos mercados. No caso português, a nova legislação
laboral como produto da austeridade, traduz-se nesta regulação
sociopolítica fazendo dos mercados financeiros os protagonistas mais
importantes das sociedades democráticas.
1
Investigadora júnior do Centro de Estudos Sociais (CES) e doutoranda do
Programa de Doutoramento em Relações de Trabalho, Desigualdades Sociais e
Sindicalismo, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
(FEUC/CES). E-mail: <andreiasant1@hotmail.com>.
22 Movimentos, Direitos e Instituições
INTRODUÇÃO
2
A este mecanismo de imposição de uma narrativa neoliberal sem dar lugar a
qualquer outro entendimento alternativo da realidade, a autora dá o nome de
“narrativas de conversão”. (SOMERS, 2008, p. 2-3).
3
A este propósito consultar Alain Touraine em Depois da Crise (2010), onde o
autor, acerca da crise que se desenvolveu a partir de 2008, perspectiva “o fim do
social”, expressão que significa a separação entre o sistema económico, sobre o
qual já ninguém pode pretender exercer um controlo real, e a vida cultural e
política, que põe em jogo os princípios de liberdade e de justiça mais do que as
relações de força. (2010, p. 126-127).
4
O ano de 2008 marca simbolicamente o início da crise financeira e a estruturação
de um novo período nas relações laborais e, por conseguinte, no Direito do
Trabalho. A falência do grupo Lehman Brothers, o quarto maior banco de negócios
dos Estados Unidos, simboliza o colapso do sistema financeiro mundial, dando
origem a uma crise generalizada, atingindo, por isso, também, a Europa.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 27
5
Para maiores explicações a respeito, conferir em: <http://ec.europa.eu/eu2020/>.
28 Movimentos, Direitos e Instituições
6
Para além desta finalidade, segundo Pierre Guibentif, a produção do Direito,
mostra, ainda, um momento no processo de formação de novas normas nas
sociedades tornando pertinente averiguar quais as representações das diversas
categorias sociais face às questões às quais as novas normas dizem respeito;
pode contribuir para a reconstituição empírica do fenómeno da positividade do
Direito, no sentido de verificar como se conseguiu efectivar novas normas pelo
meio de procedimentos jurídicos; e, no próprio campo da Sociologia do Direito, a
análise da produção de uma lei pode proporcionar informações pertinentes para
melhor perceber como mais tarde uma lei é posta em prática (GUIBENTIF, 2007, p.
134). Neste tipo de investigação podem identificar-se quatro passos de trabalho
distintos de trabalho: análise do texto legal; análise do processo no aparelho de
produção do Direito; análise do processo societal e abordagem documental; e por
último, a realização de entrevistas. Pode, depois, na interpretação global de um
processo de produção do Direito aplicar-se um modelo interpretativo da realidade.
Constituindo-se numa análise bastante complexa, sobre a qual aqui apenas se
apontam os elementos principais, de um modo geral, a sua análise pode revelar
muito das representações que se tem de um assunto em determinada altura, numa
determinada sociedade. (GUIBENTIF, 2007, p. 134-140).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 31
7
A este propósito, nas democracias modernas, como evidencia a análise de Frank
Vibert (2007, p. 1), os organismos não eleitos tomam muitas das decisões que
afectam a vida das pessoas, solucionando conflitos de interesses fracturantes da
sociedade, resolvendo disputas sobre a alocação de recursos, efectuando,
inclusivamente, julgamentos éticos relativos a áreas políticas e culturalmente
sensíveis da sociedade. O mundo dos não eleitos é muito variado, inclui
organizações financeiras internacionais, bancos centrais, agências de rating,
agências de regulação etc.
8
A propósito do conceito de estado de excepção consultar Giorgio Agamben (2010),
autor que elabora uma releitura do conceito a partir dos trabalhos de Carl Schmitt e
de Walter Benjamin.
34 Movimentos, Direitos e Instituições
9
Para maiores informações a respeito veja-se: Tribunal Constitucional. Acórdão n.
602/2013 (retificado pelo Acórdão n. 635/2013). Disponível em: <http://www.tribunal
constitucional.pt/tc/acordaos/20130602.html>. Acesso em: 30 out. 2013.
36 Movimentos, Direitos e Instituições
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
10
Claudia Mazzei Nogueira
11
Maria de Fátima Ferreira Queiróz
RESUMO
10
Professora Doutora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-Campus
Baixada Santista). Professora Associada do Curso de Serviço Social e do Programa
de Pós-graduação em Ciências da Saúde. É também coordenadora do Núcleo de
Estudos sobre Trabalho e Gênero (NETeG). E-mail: <mazzeinogueira@uol.com.br>.
11
Professora Doutora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-Campus
Baixada Santista). Professora do Eixo Trabalho em Saúde, membro do Departamento
de Políticas Públicas e Saúde Coletiva. E-mail: <fatima.queiroz@unifesp.br>.
46 Movimentos, Direitos e Instituições
INTRODUÇÃO
12
São elas: Companhia Docas do Pará (CDP) - Portos de Belém, Santarém e Vila
do Conde; Companhia Docas do Ceará (CDC) – Porto de Fortaleza; Companhia
Docas do Rio Grande do Norte (Codern) – Portos de Natal e Maceió, além do
Terminal Salineiro de Areia Branca; Companhia Docas do Estado da Bahia
(Codeba) - Portos de Salvador, Ilhéus e Aratu; Companhia Docas do Espírito
Santo (Codesa) - Portos de Vitória e Barra do Riacho; Companhia Docas do Rio
de Janeiro (CDRJ) - Portos do Rio de Janeiro, Niterói, Angra dos Reis e Itaguaí e
Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) – Porto de Santos. Para
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 47
14
A Lei 8.630/93 dispõe sobre o regime jurídico da exploração dos portos
organizados e das instalações portuárias. Entre os avanços mais significativos
introduzidos está a criação dos Conselhos de Autoridade Portuária (CAP), a
extinção do monopólio das Administrações Portuárias nos serviços de
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 49
15
Segundo Burkhalter (1999, p. 57), “La participación de los operadores privados de
lasterminales marítimas em los puertos estatales tiene por objeto,
fundamentalmente, crear una base para la competencia, a fin de reducir los costos,
mejorar la calidad de los bienes y servicios, y alentar las inversiones del sector
privado en maquinarias, inmuebles e instalaciones. La competencia permite lograr
esos objetivos, pues obliga a los inversionistas a correr riesgos comerciales y
enfrentar la posibilidad de incurrir em perdidas financieras y el riesgo de quiebra. La
función de lacompetencia es transformar un entorno carente de dinamismo y
estancado, que protege a los grupos dominantes. Para que ello ocurra es preciso
que todo el ámbito portuario se sienta impulsado a innovar, aumentar la
productividad y reducir los costos com el propósito de mejorar su propia situación y,
al mismo tiempo, la de los clientes.”
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 51
16
globalização e modernização . Os dois primeiros vão ao encontro da
idéia de abertura dos portos à economia de mercado. Além disso, a
desregulamentação conjuga-se com a privatização no sentido de retirar
funções onerosas da mão do Estado, criando novos regulamentos. A
estes se juntam o conceito de competência (diminuir custos e aumentar
a produtividade) e modernização, que alia a necessidade de inovação
tecnológica a investimentos privados. A globalização seria a geradora
de todo esse processo. (2007, p. 16).
16
International transports worker’s Federation. Mejorar las respuestas sindicales a la
reforma portuaria. Obtido no site da ITF (www.itfglobal.org), em 30 de setembro de
2005.
52 Movimentos, Direitos e Instituições
E complementa,
E acrescenta,
17
Sobre esse tema, para maior aprofundamento, sugere-se ver também os livros de:
NOGUEIRA, 2004 e 2011; HIRATA, 2002; KERGOAT, 2000 e 2009; BARRÈRE-
MAURISSON, 1999, todos referenciados ao final deste Capítulo, nas Referências.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 59
18
Em pesquisas anteriores destas autoras, estudou-se a feminização no mundo do
trabalho em geral, depois analisaram-se as condições e a divisão sexual do
trabalho das trabalhadoras do setor do telemarketing e posteriormente investigou-
se sobre a divisão sexual do trabalho nas pequenas aviculturas familiares
vinculadas ao sistema de integração e, agora, está-se propondo a pesquisar a
divisão sexual do trabalho das mulheres inseridas no setor portuário.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 61
Ainda é um pouco sim, já foi bem mais no passado. Acho que é porque
é uma atividade muito complexa e específica, as pessoas não
conhecem muito os detalhes do mundo portuário porque os atores são
as empresas e não o grande público. Além disso, especialmente no
Brasil, o porto era algo que imperava o jeitinho, onde havia o cheiro da
corrupção. Envolvia trabalhos em que exigia a força física e pelo lado
das relações humanas, a enfermidade. Daí o lado romântico das
canções que falavam dos marinheiros que iam e vinham. E as
mulheres incluídas nas histórias certamente que não seriam executivas
de carreira, etc. (BARBEITO, 2009, on line).
E segue,
ser humano plenamente capaz. Basta lembrar que fazem exatos 100
anos que as mulheres celebraram - no dia 28 de fevereiro em Nova
Iorque - o primeiro dia da mulher, em que comemoravam sua
organização incipiente para lutar por melhores condições de trabalho.
Hoje existem mulheres fazendo de tudo. Penso que a mulher leva uma
vantagem quando consegue administrar melhor sua vaidade e aí é
mais rápida em reconsiderar seus erros, levantar a poeira e dar a volta
por cima. No mundo portuário não existem muitas mulheres, então a
competição se faz sentir de forma diferente. Alguns homens, no
primeiro momento, ficam esperando a primeira ´bola fora´ que você vai
dar. Depois, observam a reação dos demais, e optam por tratar você
com a mesma deferência dos parceiros. [...]. E aí todo o grupo acaba
se acostumando, e você passa a ser tratada como uma igual”.
(BARBEITO, 2009, on line).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
http://201.33.127.41/DocPublico/estmen_CPT/2004/estmen-2004-12.pdf>. Acesso
em: 5 fev. 2014.
DIÉGUEZ, Carla Regina Mota Alonso. A masculinidade do trabalhador portuário:
novas questões em tempos de automação. In: Fazendo Gênero 9: Diásporas,
Diversidades e Deslocamentos, 2010, Santa Catarina. Anais Eletrônicos. São
Paulo: Fazendo Gênero, 2010, p. 1-9. Disponível em:
<http://www.fazendogenero.ufsc.br/9/#>. Acesso em: 6 abr. 2014.
_______. Gênero e trabalho: o trabalho portuário em questão. Santos/SP:
mímeo, 2009. Disponível em: <https://portogente.com.br/colunistas/carla-
dieguez/genero-e-trabalho-o-trabalho-portuario-em-questao-26684>. Acesso em:
6 abr. 2014.
_______. De OGMO (Operário Gestor de Mão-de-Obra) para OGMO (Órgão
Gestor de Mão de Obra): modernização e cultura do trabalho no Porto de
Santos. 2007.151f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
FRANZESE, Eraldo. Lei dos Portos Equilibrou Relações de Trabalho, diz
Advogado do Sindaport. Artigo e Entrevistas-Sindaport, 28/06/2013. Disponível
em: <http://www.sindaport.com.br/conteudo-pesquisa.php?id=48
90>. Acesso em: 5 nov. 2013.
GEIPOT – Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes - Ministério dos
Transportes. A Reforma Portuária Brasileira [Relatório]. Brasília, setembro de
2001.
HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. Rio de Janeiro: Loyola, 1989.
HIRATA, Helena. Nova divisão sexual do trabalho? São Paulo: Boitempo, 2002.
INTERSINDICAL DA ORLA PORTUÁRIA DO ES. Batom nos Portos Capixabas.
Disponível em: <http://www.intersindicalportuaria-es.org.br/portal/
noticias/noticia.php?cod=121>. Acesso em: 4 fev. 2014.
KERGOAT, Daniéle. “Divisão Sexual do Trabalho et Relações Sociais de Sexo”.
In: HIRATA, Helena et al. Dicionário Critico do Feminismo. São Paulo: UNESP,
2009. p. 67-68.
LOBO, Elizabeth Souza., A classe operária tem dois sexos: trabalho, dominção
e resistência. São Paulo: Perseu Abramo, 2011.
MACHIN, Rosana; BASTOS, Matheus Ferreira Guimarães. O Trabalho Portuário
no Processo de Modernização. In: QUEIRÓZ, Maria de Fátima Ferreira; MACHIN,
Rosana; COUTO, Marcia Tereza (Orgs.). Porto de Santos: saúde e trabalho em
Tempos de Modernização. São Paulo: FAP Unifesp, 2015 (no prelo).
MÉSZÁROS, István. Para além do capital. São Paulo, Boitempo, 2002.
NOGUEIRA, Cláudia Mazzei. A Feminização no Mundo do Trabalho. São
Paulo: Autores Associados, 2004.
_______. O Trabalho Duplicado. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 65
19
Hermes Augusto Costa
RESUMO
Neste texto analisam-se as principais transformações decorrentes
das medidas de austeridade que, quer por ação da troika (Banco
Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão
Europeia), quer do governo português, têm vindo a fragilizar o “fator
trabalho” nos últimos anos. Depois de um breve enquadramento
inicial sobre a relação entre trabalho e direitos (recuperando
contributos da Sociologia e do Direito), o texto analisa o impacto das
medidas de austeridade nas relações laborais, destaca algumas
questões controversas e processos de reação sindical e social.
Argumenta-se, assim, que o trabalho é um direito humano cuja
centralidade importa preservar. Nesse sentido, todos os contributos
gerados quer no plano dos movimentos, quer no plano das
instituições para lhe devolver a dignidade a que tem direito e a que
cada cidadão/ã tem direito são cruciais.
19
Sociólogo. Doutor em Sociologia. Docente da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra (FEUC), Co-coordenador do Programa de Doutoramento
em “Relações de Trabalho, Desigualdades Sociais e Sindicalismo”, lecionado no
âmbito da parceria FEUC-Centro de Estudos Sociais (CES). Investigador do CES,
tendo sido co-coordenador do Núcleo de Estudos do Trabalho e Sindicalismo entre
2002 e 2010, e do Núcleo de Políticas Sociais, Trabalho e Desigualdades
(POSTRADE) entre 2011 e 2014. E-mail: <hermes@fe.uc.pt>.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 67
INTRODUÇÃO
20
Para maiores informações sobre este tema, vide: <http://infoeuropa.eurocid.
pt/registo/000046765/>.
68 Movimentos, Direitos e Instituições
21
Para maiores informações sobre este tema, vide: <http://ec.europa.eu/europe2020/
index_en.htm>.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 69
1. TRABALHO E DIREITOS
22
Para João Freire (1997, p. 27), trata-se de “atividade deliberadamente concebida
pelo Homem, consistindo na produção de um bem material, na prestação de um
serviço ou no exercício de uma função, com vista à obtenção de resultados que
possuam simultaneamente utilidade social e valor económico, através de dois tipos
de mediações necessárias, uma técnica e outra organizacional”.
70 Movimentos, Direitos e Instituições
23
Para uma análise recente da relação entre a evolução dos salários e a
competitividade da economia portuguesa ver a obra de: ALMEIDA; CALDAS, 2014.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 75
24
Estima-se que, em Portugal, o peso da economia informal (clandestina) represente
cerca de ¼ do PIB português. Como assinalam Dornelas et al. (2011, p. 16), o peso
do trabalho não declarado apresenta, sobretudo, motivações mais económicas do
que sociais e atinge tanto mais as diferentes categorias quanto mais distantes
estas se encontram do emprego típico e protegido.
76 Movimentos, Direitos e Instituições
25
Assinale-se, por exemplo, que a revisão do código laboral em fevereiro de 2009 já
previra a compensação dessa suposta rigidez, nomeadamente em matérias como
adaptabilidade de horários, banco de horas, horários concentrados, ou processos
de despedimento.
26
Conforme disse o Ex-ministro do trabalho sueco, em entrevista ao Jornal Público,
no dia 11 de dezembro de 2011.
78 Movimentos, Direitos e Instituições
27
Só em 2012 isso ocorreu por duas vezes: com a greve geral de 22.03.2012,
convocada pela CGTP em resposta à assinatura do acordo de concertação social
(intitulado Compromisso para o crescimento e emprego) celebrado entre o
governo, as confederações patronais e a UGT em 18.01.2012; e com a greve geral
de 14.11.2012, por sinal uma greve sindical ibérica promovida pela Confederação
Europeia de Sindicatos (CES), e que em Portugal, apesar de convocada apenas
pela CGTP, envolveu a CES e mais 30 sindicatos da UGT. No caso português,
registe-se ainda que esta greve geral surgiu como reação à proposta de Orçamento
de Estado para 2013, que implicou um brutal aumento da carga fiscal.
80 Movimentos, Direitos e Instituições
28
O projeto era reduzir os encargos patronais para a Segurança Social de 23,75 para
18%, por contrapartida da subida dos encargos dos trabalhadores de 11 para 18%,
visando um acréscimo de rendimentos das empresas, com um efeito neutro no
défice orçamental por não ser necessário aumentar as taxas de imposto sobre
valor acrescentado (IVA). Ou seja, seriam os trabalhadores a pagar o ac réscimo
dos excedentes das empresas, sem penalizar os restantes contribuintes.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 81
29
Para uma análise do papel do Tribunal Constitucional num cenário de tensão entre
um “Estado de Direito e um Estado de Exceção”, cf. FERREIRA; PUREZA (2013).
82 Movimentos, Direitos e Instituições
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
31
Iris Catarina Dias Teixeira
RESUMO
30
Adaptação do relatório da disciplina de Direito Constitucional, referente ao primeiro
ciclo do Mestrado em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito da
Universidade clássica de Lisboa, ano letivo 2012-2013.
31
Advogada da União desde 2005, lotada e em exercício na Procuradoria Regional
da União da Paraíba, em João Pessoa/PB. Mestranda em Direito Constitucional
pela Faculdade de Direito da Universidade clássica de Lisboa. Especialista em
Direito Constitucional pela Escola Superior da Magistratura do Rio Grande do
Norte, em convênio com a Universidade Potiguar. Graduada em Direito pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Responsável pela Escola da
Advocacia-Geral da União no Estado da Paraíba. E-mail: <iriscatarina@
hotmail.com>.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 89
INTRODUÇÃO
32
Este autor (p. 560) salienta que, “de tudo isto nasceu de um lado, o que de modo
genérico passou a ser designado como Direito Humanitário; e, do outro, a ideia de
criar organizações internacionais (por vocação aspirando à supra-estadualidade)
destinadas a retirar aos Estados e a tomar nas suas mãos o direito (entendido
como faculdade discricionária, decorrente da própria noção de soberania) de
recorrer à guerra mesmo sem ser nos limites da legítima defesa”.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 91
33
Após quase noventa reuniões, a Declaração Universal obteve a aprovação
unânime de 48 Estados, com apenas 8 abstenções (Bielorússia, Tchecoslováquia,
Polônia, Arábia Saudita, Ucrânia, União Soviética, África do Sul e Iugoslávia) e 2
ausências, totalizando os 58 Estados-membros da ONU, à época.
34
Isto porque os Estados ocidentais priorizavam os direitos civis e políticos, enquanto
aos socialistas interessavam os econômicos e sociais e os Estados surgidos com o
processo de descolonização destacavam a autodeterminação, a preservação dos
recursos naturais e questões relacionadas com o desenvolvimento. (CARRIÓN,
2002, p. 517-522).
35
O Congresso Nacional brasileiro aprovou o texto do referido diploma internacional
por meio do Decreto Legislativo n. 226, de 12 de dezembro de 1991, teve sua
92 Movimentos, Direitos e Instituições
2. CONSTITUCIONALISMO MULTINÍVEL
2.1 Considerações Gerais
37
Explica-se que as fontes para esta afirmação são: Recursos Extraordinários n.
349703 e n. 466343 e o Habeas Corpus n. 87585, revogando-se o Enunciado n.
619 da Súmula de jurisprudência do STF, segundo o qual "a prisão do depositário
judicial pode ser decretada no próprio processo em que se constituiu o encargo,
independentemente da propositura de ação de depósito”.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 95
38
O texto, ora traduzido livremente, traz o seguinte apontamento: “Multi-level
governance reveals the way in which certain competences are transfered from the
national state ‘portfolio’ to the supranational level, and to the sub-national, public a
private authorities.”
39
É claro que aqui não se está em questão o aspecto negativo que eventualmente
essa interrelação entre diversas ordens jurídicas possa acarretar, que seria tal
como sustentado por Jorge Barcelar Gouveia, como um “instrumento de domínio,
impondo uma determinada visão do mundo e da vida, sem espaço para os direitos
96 Movimentos, Direitos e Instituições
40
Tal previsão é repetida no Protocolo Adicional de São Salvador, em seu art. 5º
(Alcance das restrições e limitações), com o seguinte texto: “Os Estados Partes só
poderão estabelecer restrições e limitações ao gozo e exercício dos direitos
estabelecidos neste Protocolo mediante leis promulgadas com o objetivo de
100 Movimentos, Direitos e Instituições
41
É importante registrar que, em 1959, foi criada a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, como entidade autônoma da OEA; contudo, em 1969, com a
revisão da Carta de Bogotá, através do Protocolo de Buenos Aires, viria a se tornar
num dos principais órgãos da OEA.
102 Movimentos, Direitos e Instituições
42
Ingresso no Ordenamento Jurídico brasileiro por meio do Decreto n. 3.321, de 30
de dezembro de 1999.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 103
43
Conforme o Parecer OC n. 6-86, de 9 de maio de 1986.
104 Movimentos, Direitos e Instituições
44
Nesse particular, é que o Federalismo brasileiro se distingue do Federalismo
americano, tendo em vista que, apesar de os Estados Federados americanos
terem que “respeitar a Constituição do Estado Federal, assim como não contender
com a forma republicana de Governo” (CARVALHO, 2008, p. 192), no federalismo
estadunidense, o poder local de cada Ente Federado é mais equilibrado e
fortemente vivenciado em seu aspecto de autonomia política, jurídica e econômica.
106 Movimentos, Direitos e Instituições
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA
VIOLÊNCIA CONJUGAL E A RESPOSTA DA
JUSTIÇA
45
Paula Cristina Cabral
RESUMO
O objecto central deste estudo consiste em conhecer as
representações sociais da violência conjugal e a resposta do actual
sistema jurídico ao fenómeno, de profissionais das áreas do Direito
(juízes, magistrados do MP e advogados), da saúde (psicólogos e
psiquiatras) e da educação (professores e outros licenciados ligados
ao ensino). Para tal foi administrado um questionário:
“Representações da Violência Conjugal e Resposta do Sistema
Jurídico” (Cabral; Quintas 2010) e uma Escala de Crenças da
Violência Conjugal (Machado, 2006) a um conjunto de 90
participantes de ambos os sexos. Os resultados evidenciam uma
similitude, quanto às representações sociais, dos diferentes
profissionais que, de um modo diferencial, estão implicados na
resposta e prevenção, face ao fenómeno violência conjugal.
Constata-se uma divergência nas percepções quanto à eficácia do
45
Doutoranda em Direito, Justiça e Cidadania no séc XXI na Universidade Coimbra.
Doutoranda em Educacion Y Psicología en la linea de investigacion Psicología
Comunitaria, Jurídicia y de La Salud, na Universidade Oviedo, em Astúrias, Espanha.
Mestre em Psicologia Forense e da Transgressão pelo ISCS-N (Instituto Superior
Ciências Saúde do Norte). Pós-Graduada em Direito, Justiça e Cidadania no séc. XXI,
(FEUC/FDUC/CES da Universidade de Coimbra). Licenciada em Direito pela UCP–
Porto (Universidade Católica Portuguesa do Porto). Possui Formação Superior em
Solicitadoria pela Câmara dos Solicitadores do Centro Regional–Norte (Solicitadora).
Docente do ensino superior, Jurista e Juiza Social no Tribunal Família e Menores do
Porto. E-mail: <pcris.cabral@gmail.com>.
112 Movimentos, Direitos e Instituições
INTRODUÇÃO
1. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
46
O tema das representações sociais da justiça, progressivamente, tomou lugar da
maior parte dos outros temas nas preocupações dos criminólogos, dos magistrados
e, depois dos psicólogos (DEBUYST, 1986).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 115
2. VIOLÊNCIA CONJUGAL
47
A objectivação diz respeito à forma como se organizam os elementos constituintes
da representação e ao percurso através do qual tais elementos adquirem
materialidade, isto é, se tornam expressões de uma realidade vista como natural.
48
A ancoragem é o processo que precede a objectivação e, situa-se na sua
sequência. Enquanto tal, a ancoragem refere-se ao facto de qualquer tratamento
da informação exigir pontos de referência: é a partir das experiências e dos
esquemas já estabelecidos que o objecto da representação é pensado. A
ancoragem enquanto processo que segue a objectivação, refere-se à função social
das representações, nomeadamente permite compreender a forma como os
elementos representados contribuem para exprimir e constituir as relações sociais
(MOSCOVICI, 1961). A ancoragem serve à instrumentalização do saber
conferindo-lhe um valor funcional para a interpretação e a gestão do ambiente
(JODELET, 1989).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 117
49
A partir da década de 1990, em Portugal, verifica-se um número crescente de
trabalhos de investigação sobre tal tipo de violência, sobre a sua prevalência e
dimensão (LOURENÇO; LISBOA; PAIS, 1997), e, uma compreensão mais
qualitativa do fenómeno (SILVA, 1995; PAIS, 1999; MATOS, 2000; MACHADO;
MATOS, 2001).
50
Destacam-se a Associação de Apoio à Vítima (APAV), criada a 25 de Junho de
1990 na sequência das crescentes solicitações de mulheres alvo de violência pelos
maridos; a CIG (Comissão para a Cidadania e Igualdade do Género), criada depois
dos anos 1990, com uma nova filosofia e com melhores possibilidades de
intervenção, em meios, estrutura, competências etc. (PORTUGAL, CIG, 2015, on
line).
51
Durante toda a vigência do Código Seabra, a mulher encontrava-se sujeita a um
estatuto jurídico de subordinação ao marido (que exercia o poder marital) e que se
espelhava, nomeadamente, em normas como a do artigo 1674º do Código Civil: “O
marido é o chefe da família, competindo-lhe nessa qualidade representá-la e
decidir em todos os aspectos da vida conjugal em comum […]”.
118 Movimentos, Direitos e Instituições
52
O conceito de violência doméstica, proposto, pela comissão de Peritos para o
acompanhamento da Execução do Plano Nacional Contra a Violência Doméstica
(2000), define-a como “qualquer conduta ou omissão que inflija, reiteradamente,
sofrimentos físicos, sexuais, psicológicos ou económicos, de modo directo ou
indirecto (por meio de ameaças, enganos, coacção ou qualquer outro meio) a
qualquer pessoa que habite no mesmo agregado doméstico ou que, não habitando,
seja cônjuge ou companheiro ou ex-cônjuge, bem como ascendentes ou
descendentes”. Cf. www.pgr.pt.
53
Os movimentos feministas contribuiram para a denúncia da violência doméstica,
tendo promovido uma maior consciencialização sobre a extensão da vitimação das
mulheres a nível social e, especificamente, na família.
54
RCM n. 100/2010, de 17 de Dezembro, DR n. 243, 1ª série.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 119
3. RESPOSTA DA JUSTIÇA
55
No caso do n.1 do artigo 152º CP, encontram-se devidamente identificadas as
vítimas dos maus tratos: “Quem, de modo reiterado ou não, infligir maus tratos
físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações de liberdade e ofensas
sexuais: a) Ao cônjuge ou ex-cônjuge; b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo
com quem o agente mantenha ou tenha mantido uma relação análoga à dos
cônjuges, ainda que sem habitação; […]”.
120 Movimentos, Direitos e Instituições
56
A Lei n. 61/91 de 13 de Agosto, prevê, no seu artigo 16º n. 1 a medida de coacção
de afastamento da residência. O decretamento da pena acessória de afastamento
da residência da vítima ocorre geralmente, quando, no curso do processo penal, o
arguido já foi sujeito à medida de coacção de idêntico conteúdo (Cfr. artigo 200º
CPP). Tem sido aplicado pelos tribunais, sobretudo nos casos em que os maus
tratos hajam assumido maior gravidade O não cumprimento desta pena acessória
só acarretará para o agressor a possibilidade de vir a responder em novo processo
penal, pelo crime de proibições ou interdições (Cfr. artigo 353 CP).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 121
57
Vide n.s 1 e 2 do artigo 7º da Lei 38/2009 de 20 de Julho (Diário da República, 1ª,
série – N. 138 – 20 de Julho de 2009).
58
Vide artigos n.s 14 n. 1 e 2; 15 alínea a); 17 e 21 da Lei 38/2009 de 20 de Julho
(Diário da República, 1ª, série – N. 138 – 20 de Julho de 2009).
122 Movimentos, Direitos e Instituições
60
Foca-se a atenção sobre a dinâmica da unidade familiar e/ou conjugal e recorre-se
a noções como “relações violentas”, “violência no casal” ou “abuso mútuo” em
detrimento das expressões “abuso da mulher” ou “mulher violentada”.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 127
vez mais considerado um crime grave que não pode ser ignorado
(BERRY, 2000; GOVER, BRANK; MACDONALD, 2007; STRAUS,
KANTOR; MOORE, 1997).
Tinha-se a expectativa que os participantes do grupo do
Direito, tal como concluiu Busch e colaboradores (apud MATOS;
CLÁUDIO, 2010), expressassem tendencialmente níveis de
legitimação da violência. O que, embora se tivesse obtido valores
mais elevados do que os restantes profissionais num dos factores
(Legitimação e banalização da pequena violência) e na escala em
geral, não se verificou resultados suficientemente claros para serem
significativos.
Existem outras evidências de que as crenças de tolerância
face aos maus tratos conjugais podem interferir junto daqueles que
actuam formalmente na violência conjugal. Ptacek (1988) expõe um
conjunto de exemplos, a partir de uma análise de textos escritos, por
profissionais que intervêm de um modo directo com agressores
conjugais (e.g. psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais), que
consideram a “perda de controlo e a provocação da parceira”
(PTACEK, 1988, p. 150) como comportamentos que explicam a
ocorrência da violência.
Os resultados obtidos neste estudo vão ao encontro de
investigações desenvolvidas, em Portugal, por (MACHADO, 2004,
2009; CARVALHO, 2010; MATOS; CLÁUDIO, 2010), com amostras
em cônjuges não abusadores; em profissionais da saúde (médico e
enfermeiros), professores; e, da amostra total do estudo de (MATOS;
CLÁUDIO, 2010), com destaque aos agentes de segurança pública,
militares da guarda nacional republicana e juízes. Verifica-se que os
dados obtidos neste estudo encontram-se mais próximos do estudo
efectuado com os dois estudos que englobam também profissionais
de diferentes classes que estão mais directamente implicados na
resposta e prevenção face ao fenómeno violência conjugal.
Sendo a análise da resposta do sistema jurídico face à
violência conjugal um outro objectivo do presente estudo, verificou-se
uma homogeneidade nas percepções dos diferentes grupos, quanto
ao facto da actual legislação sobre o crime violência conjugal.
Verificou-se uma posição de divergência quanto a percepcionarem
como um mecanismo eficaz na prevenção do mesmo, assente quase
numa divisão matemática de meio por meio do total da amostra.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 129
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
61
Sonya Maria Pires Brandão
RESUMO
61
Auditora Fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego brasileiro aposentada.
Advogada. Mestre em Sociologia pela Universidade de Coimbra e Doutoranda em
Relações do Trabalho, Desigualdades Sociais e Sindicalismo na mesma instituição.
Coautora do livro “Temas de Discriminação e Inclusão” (Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2014), publicado na área do Direito. E-mail: <sonyampb4@hotmail.com>.
138 Movimentos, Direitos e Instituições
INTRODUÇÃO
62
Trecho da letra da música “A Novidade” (composta pelo artista brasileiro Gilberto Gil).
156 Movimentos, Direitos e Instituições
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
63
Carina Jordão
RESUMO
Partindo de um conjunto diversificado de dados estatísticos
recolhidos junto de entidades como a Comissão Europeia e o
Eurostat, este estudo tem como objetivo averiguar a evolução das
(des)igualdades entre mulheres e homens no mercado de trabalho
português e analisar especificamente a situação laboral das mulheres
portuguesas no período 2006-2012. Os resultados evidenciam uma
tendência de redução na maioria dos gaps de desigualdade, o que
denuncia, efetivamente, um aumento progressivo da igualdade entre
mulheres e homens na esfera profissional. Contudo – ao contrário do
que seria expectável e desejável – essa redução da desigualdade
ocorre em concomitância com um agravamento generalizado da
situação laboral das mulheres. Perante esta situação, e recorrendo às
metáforas iconográficas de Virginia Woolf, que em 1931 se viu
compelida a matar uma figura fantasmagórica que a atormentava (o
Anjo da Casa), damos conta, ao longo do artigo, das transformações
laborais que na contemporaneidade parecem concorrer para o
reaparecimento desse espectro.
63
Doutoranda do Programa de Doutoramento em Relações de Trabalho,
Desigualdades Sociais e Sindicalismo, pela Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra (FEUC/CES). Bolseira de investigação da Fundação para
a Ciência e a Tecnologia, IP (FCT)-(SFRH/BD/91548/2012). E-mail: <crmjordao@
gmail.com>.
164 Movimentos, Direitos e Instituições
INTRODUÇÃO
64
“Killing the angel in the house” é o título original de um discurso lido por Virginia
Woolf a 21 de Janeiro de 1931 para a National Society for Womens Service e que,
postumamente, foi publicado com o título The Death of the Moth, em 1942
(WOOLF, 2008).
65
A (des)igualdade entre homens e mulheres pode, ao longo deste trabalho, surgir
sob a designação de (des)igualdade de “género”.
66
O Gender Mainstreaming é, no fundo, o princípio instituído pela EU, em 1996,
segundo o qual a igualdade entre homens e mulheres deve ser sistematicamente
tomada em consideração no conjunto das políticas e ações comunitárias, logo a
partir da respetiva conceção e de forma ativa e visível (COM (96) 67).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 165
67
Para maiores informações a este respeito, vide: <http://ec.europa.eu>.
68
Nos últimos anos assistiu-se não só a um aumento inverosímil da taxa de
desemprego, mas também ao aumento da duração da jornada de trabalho, à
supressão de feriados, à redução de salários etc. Além disso, períodos de crise,
como o que se vive atualmente em Portugal, tendem a agravar as disparidades
género e as políticas de austeridade são especialmente penalizadoras para as
mulheres, como reconhecido pela secretária-geral adjunta do Conselho da Europa,
Gabriella Battaini Dragoni, e pela comissária europeia para a Justiça da UE,
Viviane Reding.
166 Movimentos, Direitos e Instituições
69
No âmbito desta análise, o conceito “emprego” e as expressões “trabalho formal” e
“trabalho pago” devem ser entendidas como sinónimos de mercado de trabalho.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 167
[...] descobri que se fosse escrever livros, teria de travar uma batalha
com um certo fantasma. E o fantasma era uma mulher, e quando vim a
conhecê-la melhor, eu comecei a chamá-la como a heroína de um
famoso poema, ´The Angel in the House´ (O Anjo da Casa) [...]. Ela era
intensamente sensível. Era imensamente encantadora. Era
profundamente dedicada. Ela dominava todas as difíceis artes da vida
familiar. Sacrificava-se diariamente. Se era galinha, ela ficava com a
pata; se havia uma corrente de ar, ficava ela nesse lugar – resumindo,
ela era tão condescendente que nunca tinha uma ideia ou um desejo
próprio – em vez disso preferia concordar sempre com as ideias e os
desejos dos outros [...]. E quando vim a escrever, encontrei-me com ela
logo nas primeiras palavras. A sombra das suas asas caiu sobre a
página; eu ouvi no quarto o roçar das suas saias [...]. Ela deslizou por
trás de mim e sussurrou [...] ‘Sê bondosa, sê terna, elogia, ilude, usa
todas as artes e truques do teu sexo. Nunca deixes ninguém supor que
tu tens vontade própria. Antes e acima de tudo, sê pura´. Era como se
ela guiasse a minha caneta [...]. Eu voltei-me contra ela e agarrei-a
pelo pescoço. Fiz o possível para matá-la. A minha alegação, se fosse
levada a julgamento, seria a de que agi em legítima defesa. Se eu não
a tivesse matado, ela ter-me-ia matado [...]. (WOOLF, 2008, p. 42-44).
70
O poema, publicado em 1854, intitulava-se The Angel in the House e, no fundo, era
uma homenagem à mulher vitoriana que dedicava toda a sua vida ao esposo, aos
afazeres domésticos e ao cuidado dos filhos. O poema está disponível, na íntegra,
em: <http://www.victorianweb.org/authors/patmore/angel/9.html>.
71
Para clarificar e melhorar o entendimento deste conceito, é usual proceder à sua
análise em diferentes subdimensões, nas quais uma divisão equilibrada entre
homens e mulheres pressupõe a existência de igualdade de género na sociedade.
168 Movimentos, Direitos e Instituições
O mercado de trabalho é uma dessas subdimensões e é sobre ela que incide esta
análise. (REGO, 2010, p. 59).
72
Anne-Marie Slaughter foi a primeira mulher a dirigir o planeamento político do
Departamento de Estado dos Estados Unidos (em inglês: director of policy planning
for the U.S. State Department).
73
Tradução livre da autora. O título original é Why women still can´t have it all. O
artigo encontra-se disponível em: <http://www.theatlantic.com/magazine/archive/
2012/07/why-women-still-cant-have-it-all/309020/>. Acesso em: 3 mar. 2014.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 169
74
Conforme maiores explicações em: <http://www.ausaid.gov.au/keyaid/gender.cfm>.
Acesso em: 1 mar. 2010.
75
A legislação, as crenças culturais ou práticas discriminatórias são outros exemplos
de restrições externas que se poderiam referir (ver, por exemplo, ISLAM, 2012).
76
Este indicador faz parte da Estratégia Europa 2020 – o objetivo é aumentar para
40% a população entre os 30 e os 34 anos com o ensino superior completo ou
equivalente até 2020 (Eurostat, code t2020_41).
77
É com relativa facilidade que se pode elencar uma lista de vantagens geralmente
associadas à promoção da igualdade entre homens e mulheres no mercado de
trabalho: 1) reconhece-se que a igualdade é vital para a criação de empregos de
qualidade e que integrar uma perspetiva de igualdade de género pode ajudar as
empresas a recrutar e manter os melhores empregados; 2) a igualdade facilita a
criação de um ambiente de trabalho positivo que permite ganhar a confiança dos
empregados o que, por conseguinte 3) permite tirar o melhor partido dos recursos
170 Movimentos, Direitos e Instituições
78
No entender desta autora, a análise das desigualdades a partir de uma leitura
isolada e estática dos dados constitui-se geralmente como um exercício parcelar e
incompleto que, ao invés de tornar mais compreensível a realidade, pode desvirtuá-
la e dificultar ou impedir a descrição global, objetiva e rigorosa do fenómeno das
desigualdades laborais (e pode também condicionar o seu combate efetivo).
172 Movimentos, Direitos e Instituições
Eurostat
- Duração da vida de trabalho (anos)
79
Ver, por exemplo, <http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt>, acesso em
27 Dez. 2013.
80
Tradução livre da autora. No original: “Full-time equivalence is a more precise unit
to measure participation in employment”.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 173
81
FTE significa “full-time equivalent”.
174 Movimentos, Direitos e Instituições
82
Estes dados, disponibilizados pela Comissão Europeia, estão disponíveis em:
<http://ec.europa.eu/>.
83
Num relatório publicado a 13 de março de 2014, intitulado “Fiscal Policy and
Income Inequality”, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reitera a necessidade
de, entre outros aspetos, aumentar a idade da reforma para alcançar uma melhor
distribuição dos rendimentos nas economias desenvolvidas (disponível em:
<https://www.imf.org/external/np/speeches/2014/031314.htm>, acesso em 27 de
Mar. 2014).
84
Este indicador é também utilizado no GEI. O GEI é um Índice de Igualdade de
Género (GEI) desenvolvido pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género
(EIGE). É uma medida desenhada especificamente para aferir as desigualdades de
género nos 27 países da União Europeia e é também o primeiro índice que permite
que eles sejam comparados tendo em conta exclusivamente o nível de
(des)igualdade registada no mercado de trabalho. No entanto, entre outros
aspetos, o GEI não permite perceber nem o impacto da crise nas (des)igualdades
laborais nem a situação concreta das mulheres trabalhadoras (EIGE, 2013).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 175
86
O teto de vidro é, no fundo, uma barreira que impede as mulheres de ocupar os
lugares cimeiros das organizações.
87
A título de exemplo, e considerando o reconhecimento da tendência de
agravamento das disparidades salariais entre mulheres e homens em períodos de
crise, pode-se apontar uma iniciativa do Governo português que, com o intuito de
promover uma efetiva igualdade de “género” e “contrariar a tendência histórica de
desigualdade salarial penalizadora para as mulheres”, publicou uma resolução no
dia 7 de Março, em Diário da República (Resolução do Conselho de Ministros n.
18/2014). De acordo com este documento, as empresas do Estado devem
promover, de três em três anos, a elaboração de um relatório sobre as
remunerações pagas a mulheres e homens, tendo em vista "o diagnóstico e a
prevenção de diferenças injustificadas". No mesmo documento é ainda
recomendada "uma análise quantitativa e qualitativa" das diferenças salariais de
gênero às empresas privadas com mais de 25 trabalhadores.
88
Saliente-se que, em Portugal, a idade legal de reforma está atualmente fixada de
igual forma para mulheres e homens.
180 Movimentos, Direitos e Instituições
89
Ver, por exemplo: <http://www.publico.pt/sociedade/noticia/mulheres-europeias-
trabalham-mais-59-dias-para-ganharem-o-mesmo-que-os-homens-1626584>.
Acesso em: 28 mar. 2014.
90
Ver, por exemplo: <http://www.publico.pt/sociedade/noticia/dia-internacional-da-
mulher-assinalado-entre-desigualdades-e-alguns-progressos-1627427>. Acesso
em: 28 mar. 2014.
91
No entender da autora deste trabalho, esta é uma questão deveras importante
porque a disseminação de mitos e de informações parcelares e pouco rigorosas
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 181
CONCLUSÃO
questões com que se abriu a análise. Mas estas conclusões são tão
inquietantes que fazem reaparecer no imaginário desta autora a
figura fantasmagórica que Woolf, em 1931, se viu forçada a matar: o
Anjo da Casa. Renascido sob a forma de uma supermulher, este
Anjo da Contemporaneidade é agora encantadoramente capaz de
conciliar as tarefas do lar com uma vida profissional precária,
esgotante, erigida e pautada por padrões predominantemente
masculinos.
REFERÊNCIAS
93
Daniela Mesquita Leutchuk de Cademartori
Sergio Urquhart Cademartori94
Cortázar [...] morreu [...] ficando desde agora, só Cortázar nos outros.
Daqui em diante, unicamente de nós dependerá que seu modo de
iluminar tudo o que olhava, descobrindo o que nós não víamos, ou
víamos dentro de lugares-comuns, não se perca como um lugar
literário. (Warat).
RESUMO
O ensaio analisa o movimento de renovação do ensino do Direito
promovido a partir dos anos 80 do século passado pela literatura. O
objeto são as apropriações do jurista latino-americano, Luís Alberto
Warat, da obra de Júlio Cortázar - “Histórias de Cronópios e de
92
Este ensaio tem como ponto de partida a participação de um dos autores,
juntamente com os professores Lenio Streck e Daniel Conte, no programa de TV
“Direito e Literatura” de número 117, dedicado à obra “História de Cronopios e de
Famas”. Disponível em: <http:www.unisinos.br/direitoeliteratura/>.
93
Mestre e Doutora/em/Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Professora do Programa de Pós-Graduação e da Graduação em Direito da
Unilasalle (Canoas–RS). E-mail: <daniela.cademartori@unilasalle.edu.br>.
94
Mestre e Doutor em Direito pela UFSC. Professor do Programa de Pós-Graduação
e da Graduação em Direito da Unilasalle (Canoas–RS). E-mail: <scademartori@
unilasalle.edu.br>.
186 Movimentos, Direitos e Instituições
INTRODUÇÃO
95
Martha Nussbaum refere-se à mudança benéfica na compreensão político-jurídica
possibilitada pelos aportes da literatura: “Con frecuencia en la vida política actual
nos sentimos incapaces de ver al prójimo como plenamente humano, como algo
más que ‘sueños o puntos minúsculos’. Esa falta de compasión vá también con
frecuencia acompañada por una confianza excessiva en los métodos técnicos para
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 187
modelar la conducta humana, sobre todo los que derivan del utilitarismo
económico. Tales modelos pueden ser muy valiosos en su lugar, pero suelen
resultar insuficientes como guía para las relaciones políticas entre los ciudadanos.
Sin la participación de la imaginación literária, afirmaba Whitman, ‘las cosas son
grotescas, excéntricas, infructuosas’ [...]. Nace de la convicción, que comparto con
Whitman, de que la narrativa y la imaginación literária no solo no se oponen a la
argumentación racional, sino que pueden aportarle ingredientes esenciales”
(NUSSBAUM, Martha. Justicia Poética: la imaginación literária y la vida pública.
Barcelona: Andrés Bello, 1997, p. 15, apud FACHIN; CORREA, 2010, p. 380).
96
Como se verá, a realização de Luis Alberto Warat consiste em trabalhar com aquilo
que em outro lugar, Marilena Chauí a propósito da obra de Claude Lefort chama de
“enigma da obra”. No caso, Cortázar, lido por Warat propicia uma compreensão de
que uma obra de pensamento é aquela que “ao pensar, dá a pensar”, enfatizando-
se assim a diferença entre escrita e leitura que em vez de fechar o pensar sobre si
mesmo o abre. (CHAUÍ, 1983, p. 13).
188 Movimentos, Direitos e Instituições
97
“As escadas se sobem de frente, pois de costas ou de lado tornam-se
particularmente incômodas. [...] Para subir uma escada começa-se por levantar
aquela parte do corpo situada em baixo à direita, quase sempre envolvida em
couro ou camurça e salvo algumas exceções cabe exatamente no degrau”.
(CORTÁZAR, 2011, p. 14-15).
98
“O anti-utilitarismo, ou a libertação do homem de sua existência utilitária, é um dos
objetivos do Surrealismo, movimento de difícil definição cujos criadores são
unânimes em afirmar que se iniciou com um movimento de ideias que pretendeu
estender-se a outros campos do pensamento e da atividade humana. Pretendia
produzir uma arte que, segundo o movimento, estava sendo destruída pelo
racionalismo. Para tanto, humor, sonho e a contra lógica são recursos a serem
utilizados, enfatizando o papel do inconsciente na atividade criativa. Segundo os
surrealistas, a arte deve se libertar das exigências da lógica e da razão e ir além da
experiência cotidiana, buscando expressar o mundo dos sonhos e do
inconsciente”.(FORTINI, 1962, p. 32). No início de seu “Manifesto”, André Breton
diz “L’homme, ce rêveur définitif, de jour en jour plus mécontent de son sort, fait
avec peine le tour des objects dont Il a été amené à faire usage, et que lui a livres
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 189
sa non chalance, ou son effort presque toujours, car Il a consenti à travailler, tout au
moins Il n’a pás repugne à jour sa chance”. (BRETON, 1972, p. 11).
99
No livro, Cortázar constrói uma família, moradora da rua Humboldt em Buenos
Aires, como personagem de vários de seus fragmentos. A família se reúne para
realizar tarefas coletivas com extremo bom humor, sendo que as referências aos
seus integrantes são feitas de acordo com o parentesco com o narrador: minhas
irmãs menores, as tias mais velhas, meu pai etc.
100
A escrita de Cortázar também brinca para denunciar. No fragmento
“Comportamento nos Velórios”, a família comparece em grupo a velórios, não
porque tenha que ir, e sim como uma reação aos comportamentos hipócritas que
ocorrem por ocasião da morte de alguém. A prima mais velha é encarregada de
investigar a natureza do luto: se for um luto verdadeiro, a família fica em casa e faz
companhia de longe. Todavia, se existir alguma suspeita de que “foram armadas as
bases de uma encenação” a família toda comparece e acaba por tomar conta do
velório, chorando mais que os familiares e comandando todos os rituais da morte.
(CORTÁZAR, 2011, p. 34-35).
101
No fragmento “Fim do mundo sem fim”, Cortázar imagina um futuro em que
existirão poucos leitores e muitos escribas, o que fará com que o mundo seja
inundado de livros. A solução que o Presidente da República encontra - de modo
surrealista e de certa forma capaz de até antecipar preocupações ecológicas nos
leitores -, é lançar ao mar o excedente dos livros, conforme se pode observar a
seguir: “O Presidente da República telefona para os presidentes das repúblicas e
propõe inteligentemente jogar no mar o excedente de livros, o que se faz ao
mesmo tempo em todas as costas do mundo. Assim os escribas siberianos veem
seus impressos jogados no oceano glacial e os escribas indonésios etc. Isso
permite aos escribas aumentarem sua produção, porque volta a haver espaço na
terra para armazenar livros. Não pensam que o mar tem fundo, e que no fundo do
mar começam a amontoarem-se os impressos, primeiro em forma de pasta [...]”.
(CORTÁZAR, 2011, p. 50).
190 Movimentos, Direitos e Instituições
102
Artista, pintor, gráfico e coautor junto com Cortázar de “aventuras literárias y
livrescas” tais como “Último Round” e “La Vuelta al dia en ochenta mundos”.
103
SILVA, Julio; LUNA CHAVES, Marisol. Papeles, trazos y testimonios. Revista de la
Universidad de Mexico. Disponível em: <http:www.revistadelauniversidad.unam.
mx>. Acesso em: 29 abr. 2013.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 191
104
“A forma dos cronópios é a loucura. Eles cantam como as cigarras, indiferentes aos
semio-suicidas coletivos do cotidiano e, quando cantam, esquecem tudo, até a
conta dos dias. Os cronópios levam as significações impressas sobre o corpo,
pensam que as leis poderiam perder terreno às exceções, acasos e
improbabilidades. [...] Um cronópio possuído de uma imensa alegria por ver o sol é
capaz e apertar o tubo de pasta de dentes desde a janela de seu banheiro,
convertendo a rua num mar cor de rosa. Os cronópios entendem que, apelando
aos preconceitos, nunca se pode estar no novo. Dono de um discurso desligado,
vale-se dele para não ser militante de nada e nem de coisa alguma. Nem sequer é
soldado de sua loucura. [...]. Se algum cronópio tomasse o poder, perdê-lo-ia
instantaneamente. Os vizinhos sempre se queixam dos cronópios. [...] Os
cronópios não são generosos por princípio: eles não olham para quem sofre, estão
mais ocupados em seguir a baba do diabo.” (WARAT, 1985, p. 50).
105
“Quando um cronópio enche a rua de sua casa com pasta de dentes, o fama
organiza uma reunião de vizinhos para ir protestar de forma regular e oficial. Os
famas não se apuram em mudar o mundo, e deixam que o mundo os dissolva.
Quando uma desigualdade social os toca, gritam com força: que vergonha, filhos
de uma má mãe, e vão para seu clube achando-se muito bem, e pensando na
maneira como se comprometeram socialmente. Sua profissão predileta é de serem
advogados”. (WARAT, 1985, p. 50).
106
Logo após, Warat, em tom brincalhão, irá fazer referência a um grupo de alunos e
interlocutores brasileiros que o acompanham na década de oitenta na cidade de
Santa Cruz do Sul (RS). “O fama, como diz o meu amigo Lênio Streck, tem o
cotidiano agendado. Se perde sua agenda, perde parte de sua vida. Quando os
famas tomam o poder militarizam o cotidiano”. (WARAT, 1985, p. 85).
192 Movimentos, Direitos e Instituições
107
No primeiro fragmento da obra, Cortázar menciona o sentimento da esperança:
“Não pense que o telefone vai lhe dar os números que procura. Por que haveria de
dá-los? Virá somente o que você tem preparado e resolvido, o triste reflexo de sua
esperança, esse macaco que se coça em cima de uma mesa e treme de frio.
Quebre a cabeça do macaco, corra do centro em direção à parede e abra caminho.
Oh, como cantam no andar de cima! Há um andar de cima nesta casa, com outras
pessoas”. (CORTÁZAR, 2011, p. 6).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 193
108
Nos anos seguintes Warat lançou “O Manifesto do Surrealismo Jurídico” (São
Paulo: Acadêmica, 1988).
194 Movimentos, Direitos e Instituições
[...] gozar é igual a possuir. Por meio destes modelos o homem não só
aceita a hierarquia, como também aprende a amá-la. Todos somos
proprietários burgueses de nossos desejos. [...] devemos recuperar a
significação desejante, pré-significativa. (WARAT, 1985, p. 30).
109
O mesmo é percebido no texto de Cortázar que ao comentar o encontro de dois
amigos, conta: “Um senhor encontra um amigo e o cumprimenta, estendendo-lhe a
mão e inclinando um pouco a cabeça. Isto é, pensa que o cumprimenta, mas o
cumprimento já foi inventado e este bom homem não faz mais do que repeti-lo. [...]
Quando os sapatos apertam, é bom sinal. Alguma coisa muda aí, alguma coisa que
nos mostra, que surdamente nos põe, nos suscita. Por isso é que os monstros são
populares e os jornais se extasiam com os bezerros bicéfalos. Que oportunidade,
que esboço de grande salto para outra coisa! López vem chegando. - Como vai,
López? - Como vai, cara? E é assim como eles acham que estão se
cumprimentando”. (CORTÁZAR, 2011, p. 54).
110
O autor também tece críticas ao saber oficial acadêmico, fazendo sugestões,
conforme se pode perceber no seguinte trecho: “Na Universidade convivi com
muitos adeptos de uma prática de rotulação filosófica impiedosa; aqueles filósofos,
os que estavam fora da ortodoxia teórica que reconheciam como boa eram, por
este motivo, classificados como vulgares e desclassificados academicamente por
simples. Mas é preciso ver que quando estamos em busca de uma sociedade
aberta, à procura de linguagens democráticas, devemos tentar preservar-nos dos
modos de produção das distinções sociais. Por certo, cultivando as ambiguidades,
torna-se bastante improvável classificar hierarquicamente os homens. Na vida
universitária resulta bastante recomendável a extinção das práticas de classificação
hierarquizantes. Elas oferecem a segurança de princípios absolutos de
inteligibilidade, mas cancelam os riscos da decifração. Sem este risco, o
pensamento fica autoritário”. (WARAT, 1985, p. 105).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 195
111
Além do recurso a obras literárias, Warat utilizou-se também de outros recursos,
tais como o conceito de “carnavalização”. A propósito da carnavalização do ensino
do direito, o autor afirma “A carnavalização da sala de aula atrai, seduz como um
lugar de transgressão; é um ‘jardim suspenso’ no irreal mundo da universidade que
abre uma brecha, para que se sintam queridos em seus impulsos vitais aqueles
que nele se instalam”. (WARAT, 1985, p. 114).
112
“Como os jogos infantis, a linguagem de Cortázar não é brincadeira, aparece como
procedimento que tem a ver com a convicção de quebrar a obrigação moral de
viver segundo as convenções estabelecidas. Assim é que Cortázar penetra na
196 Movimentos, Direitos e Instituições
114
Sobre isto tudo ver KELSEN, Hans (1987, p. 63-127), e CADEMARTORI, Daniela
Mesquita Leutchuk de (2006, p. 120-131).
200 Movimentos, Direitos e Instituições
4. A PROPÓSITO DE CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
HORIZONTES INTERTEMPORAIS DO
HUMANISMO JURÍDICO: UM EXERCÍCIO
HERMENÊUTICO AO TRANSHUMANISMO E
AO PÓS-HUMANISMO
RESUMO
O tema central deste artigo consiste no humanismo jurídico, tomado
como cosmovisão ínsita ao Direito, este entendido tanto como
expressão de um ordenamento global vigente quanto em sua
dimensão epistêmica, que é relevante para qualquer conhecimento
ou apreensão da realidade tornada objeto. Neste sentido, o problema
de base apresentado é essencialmente da ordem hermenêutica
116
Graduado em Direito pelo Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA) e
Licenciado em Artes Visuais pela FAP (Faculdade de Artes do Paraná).
Especialista em Direito Público pela Escola da Magistratura Federal no Paraná
(ESMAFE/PR) e Mestre em Direitos Humanos e Democracia pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Professor de Teoria Geral do Direito na Fundação de
Estudos Sociais do Paraná (FESP/PR). Membro do Núcleo de Estudos Filosóficos
da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Advogado. E-mail: <eliseurventuri@
gmail.com>. Link para currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/783806598344373>.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 209
INTRODUÇÃO
2. O TRANSHUMANISMO, O PÓS-HUMANISMO E OS
HORIZONTES INTERTEMPORAIS DO HUMANISMO
JURÍDICO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
117
Giovanni Alves
118
Dora Fonseca
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar num primeiro momento,
dimensões da nova precariedade salarial em Portugal, discutindo o
fenômeno do “precariado” como camada social da classe do
proletariado que cresce nas condições históricas do capitalismo
global. Depois, tratar-se-á a percepção de carência de futuridade do
precariado como expressão da temporalidade decapitada do capital.
Finalmente, descrever-se-ão os movimentos sociais do precariado
que se destacam em Portugal.
Palavras-chave: capitalismo; movimentos sociais; precariado;
trabalho.
117
Giovanni Alves é Professor Livre-docente de Sociologia da UNESP, pesquisador do
CNPq e autor de vários livros na área de trabalho e sindicalismo, dentre os quais
“Trabalho e Subjetividade” (Boitempo Editorial, 2011), “Dimensões da Precarização
do Trabalho” (Práxis, 2013) e “Trabalho e Neodesenvolvimentismo” (Praxis, 2014).
E-mail: <giovanni.alves@uol.com.br>.
118
Doutoranda em Sociologia na Faculdade de Economia e no Centro de Estudos
Sociais na Universidade de Coimbra (FEUC/CES), Portugal.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 227
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO; 1. A NOVA PRECARIEDADE SALARIAL EM
PORTUGAL, 2. PRECARIADO, CARÊNCIA DE FUTURIDADE E
TEMPORALIDADE DECAPITADA DO CAPITAL; 3. O PRECARIADO
EM PORTUGAL, 4. MOVIMENTOS SOCIAIS DO PRECARIADO
QUE SE DESTACAM EM PORTUGAL HOJE; 4.1. FARTOS D’ESTES
RECIBOS VERDES (FERVE); 4.2. PRECÁRIAS INFLEXÍVEIS (PI);
4.3. PLATAFORMA DOS INTERMITENTES DO ESPETÁCULO E DO
AUDIOVISUAL (PIEA); 4.4. MAYDAY; 4.5. O MAYDAY EM
PORTUGAL; 4.6. QUE SE LIXE A TROIKA; CONCLUSÃO;
REFERÊNCIAS.
INTRODUÇÃO
119
Dados disponibilizados pelo Observatório das Desigualdades (http://observatorio-
das-desigualdades.cies.iscte.pt).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 231
120
O vídeo “Precários Inflexíveis”, de Giovanni Alves (ALVES, 2012, on line) encontra-
se disponível para visualização no canal de vídeos CineTrabalho (www.vimeo.com/
canalcinetrabalho) ou em <https://vimeo.com/42102847>.
232 Movimentos, Direitos e Instituições
3. O PRECARIADO EM PORTUGAL
restringe à luta pelo trabalho digno, é também uma luta pelo direito à
vida, ou melhor dizendo, pelo direito a uma vida com qualidade e
dignidade. Portugal não constitui uma exceção a esta tendência e
durante a última década têm vindo a proliferar, em território nacional,
movimentos deste tipo.
A precariedade exprime-se em trajetórias individuais
extremamente diversificadas, evidenciando uma franca expansão que
atinge aleatoriamente os indivíduos e que, simultaneamente, degrada
as condições de vida e limita a capacidade de estes se projetarem no
futuro. A precariedade vem desestabilizar as expectativas de
mobilidade ascendente construídas por uma juventude que assimilou
os padrões de vida dos seus pais e construiu expectativas que, no
entanto, veem defraudadas. As trajetórias de vida precárias assumem
cada vez mais um carácter permanente ao contrário da esperada
transitoriedade que lhes era atribuída enquanto fase de entrada no
mercado de trabalho. Cada vez mais as experiências de precariedade
são encaradas com naturalidade, como se fossem uma fase pela qual
todos têm de passar, e a sua continuidade temporal é um facto
consumado.
Esta realidade encontra grande expressão em Portugal,
onde milhares de jovens - incluindo aqueles que têm um curso
superior - entram no mercado de trabalho em piores condições, tanto
remuneratórias como de segurança no emprego, que a geração
anterior. Os jovens não são os únicos a serem afetados. A
precariedade laboral atinge também aqueles que se situam na faixa
etária dos 35 aos 55 anos e têm menos qualificações, ou que em
dado momento foram afastados do seu emprego de longa data,
sendo menores as probabilidades de encontrarem um emprego
satisfatório. O clima de insatisfação e de contestação gerado por esta
situação cresce de dia para dia e penetra outros estratos da
população, levando ao questionamento da inevitabilidade das
mudanças e à emergência de grupos que se propõem a refrear a
propagação das ideologias neoliberais e a apontar caminhos
alternativos.
O aparecimento dos movimentos de trabalhadores precários
espelha o descontentamento face à rápida degradação das condições
de trabalho imposta pela precariedade laboral e à forma como esta
última se repercute nas experiências e projetos de vida dos indivíduos
e os destitui da sua capacidade controlo; e a descrença perante as
formas de ação tradicionais que demonstram não se adequar aos
236 Movimentos, Direitos e Instituições
121
É um manifesto de apelo à ação, de forma a quebrar o silêncio sobre a questão e
para que sejam tomadas medidas concretas. É dirigido a todos aqueles que de
alguma forma veem a sua vida ser afetada pela precariedade laboral.
240 Movimentos, Direitos e Instituições
4.4 MayDay
122
Respetivamente, Partido Social Democrata e Partido do Centro Democrático Social.
123
O conceito sociedade da austeridade é proposto e desenvolvido por António
Casimiro Ferreira, em Ferreira (2012).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 247
124
As “grandoladas” consistem em cantar, a membros do Governo ou a outros
considerados representantes ou promotores das políticas de austeridade e do
ideário neoliberal, a música “Grãndola, Vila Morena” do cantor português de música
de intervenção Zeca Afonso. Esta música é um símbolo da resistência à ditadura
fascista do Estado Novo em Portugal, personificada por Oliveira Salazar.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 249
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
COSMOVISÃO HUMANISTA NA
CONSTITUTIVIDADE DO HOMO JURIDICUS
CONTEMPORÂNEO: ELEMENTOS DE UMA
HERMENÊUTICA JURÍDICA HUMANIZANTE
125
Gisela Maria Bester
Eliseu Raphael Venturi126
125
Professora de Direito Constitucional. Advogada. Mestre (UFSC) e Doutora (UFSC e
Universidad Complutense de Madrid) em Direito. Pós-Doutoranda em Direito
Constitucional e Administrativo do Ambiente, na Universidade de Lisboa, sob a
Supervisão do Professor Doutor Catedrático Vasco Pereira da Silva. Consultora ad
hoc da CAPES/MEC (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior, Fundação do Ministério da Educação do Brasil). Docente Colaboradora
no Programa de Mestrado Acadêmico em Direito Empresarial e Cidadania, do
UNICURITIBA (Centro Universitário Curitiba) e Convidada na ESMAT (Escola
Superior da Magistratura Tocantinense). Integrante do Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos, da UFT (Universidade Federal do Tocantins).
Vencedora do Prêmio Instituto Ethos-Valor Econômico de Sustentabilidade, 2008,
Categoria Professores. Professora do Curso de Direito da UFT (2013-2014) e do
Mestrado Acadêmico em Direito, Democracia e Sustentabilidade da IMED
(Faculdade Meridional, 2013-2014). Membro Titular do Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça do Brasil (2008-2012). Link
para acesso ao Curriculum Vitae na Plataforma Lattes: <http://lattes.cnpq.br/37186
11665180124>. E-mail: <profagmb@hotmail.com>.
126
Graduado em Direito pelo Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA) e
Licenciado em Artes Visuais pela FAP (Faculdade de Artes do Paraná).
Especialista em Direito Público pela Escola da Magistratura Federal no Paraná
(ESMAFE/PR) e Mestre em Direitos Humanos e Democracia pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Professor de Teoria Geral do Direito na Fundação de
Estudos Sociais do Paraná (FESP/PR). Membro do Núcleo de Estudos Filosóficos
da UFPR. Advogado. E-mail: <eliseurventuri@gmail.com>. Link para currículo
Lattes: <http://lattes.cnpq.br/783806598344373>.
252 Movimentos, Direitos e Instituições
RESUMO
Neste artigo parte-se da compreensão do homo juridicus segundo o
jurista francês Alain Supiot: construção dogmática e hermenêutica,
decorrente da pessoa e da personalidade e recuperada, nesta
proposta, em torno da consciência filosófica da realidade dos homens
concretos em suas vidas particulares em coletividade, conforme lições
do filósofo argentino Enrique Dussel. Pressupõem-se no artigo as
preocupações de Supiot por se compreender o Direito como técnica de
humanização das técnicas e em se ter dentre as tarefas da Ciência do
Direito a de se identificar déficits antropológicos das práticas jurídicas.
Abordam-se dimensões coerentes desta mundividência humanista,
imprescindível ao raciocínio jurídico e à afirmação de tutela humana
total e incondicional tecnicamente obtível por meio da efetividade dos
direitos subjetivos, dos microssistemas protetivos e de princípios da
dignidade da pessoa humana e da interpretação pro homine, todos
inspirados pela mesma finalidade de atingimento de um bem-estar
social e individual e assentados nos princípios republicano e
democrático, de interesses público e privado. Sem se exaurirem, são
revistos elementos filosóficos componentes desta cosmovisão:
condição humana, ética do cuidado, antropologia filosófica, alteridade,
subjetividade, vulnerabilidade, reconhecimento, entre outros aportes
cientes da fragilidade da vida humana e da responsabilidade social
partilhada por ela, e que apontam, ainda, ao apreço pelo humano e por
sua proteção enquanto ínsitos ao ordenamento jurídico e indissociável
de suas técnicas hermenêuticas. Enfatiza-se, por fim, a humanização
do Direito Internacional dos Direitos Humanos e do Direito Internacional
Privado, a categoria constitucional do humanismo e o modelo de
Estado humanista, todas ferramentas de construção desta visão de
mundo garantista e tuitiva das pessoas.
Palavras-chave: efetividade constitucional; Estado humanista;
hermenêutica jurídica; homo juridicus; humanismo jurídico; humanização.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO; 1. WELTANSCHAUUNG HUMANISTA E O
RACIOCÍNIO JURÍDICO: UM MODUS HERMENÊUTICO PARA A
INTEGRAÇÃO DOS DIREITOS; 2. CONTEÚDOS FILOSÓFICO-
JURÍDICOS E ALGUNS DE SEUS HORIZONTES: ELEMENTOS DA
WELTANSCHAUUNG HUMANISTA COMO CONDICIONANTES DA
APREENSÃO E VALORAÇÃO DO REAL; 2.1 O HOMO JURIDICUS
DE ALAIN SUPIOT: O PROBLEMA DA ANTROPOLOGIA COMO
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 253
INTRODUÇÃO
127
Os autores agrupados neste ponto têm em comum os esforços empreendidos na
realização da ética do cuidado, ora mais vinculados aos debates propriamente do
feminismo, como no caso de Anette Baier (que se contrapõe no campo político a
John Rawls), Nel Noddings (educação) e Carol Gilligan, no contexto norte-
americano, ora procurando abstrair o cuidado como característica humana no trato
com outros humanos e com o meio ambiente, ao exemplo dos brasileiros Leonardo
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 265
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
128
Isabel Ferreira
129
Claudino Ferreira
RESUMO
128
Isabel Ferreira tem exercido funções na área do planeamento, ordenamento do
território e cultura numa Câmara Municipal desde 2001. Licenciada em Geografia.
Mestre em Ordenamento do território e planeamento ambiental. Atualmente dedica-
se ao doutoramento em Sociologia - cidades e culturas urbanas, no Centro de
Estudos Sociais e Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, com o
apoio de bolsas de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian e do International
Council for Canadian Studies. Áreas de interesse: Cidades e culturas urbanas;
participação pública; governação urbana; inovação social; políticas culturais e
políticas de sustentabilidade. E-mail: <i.alexandra.reis@gmail.com>.
129
Doutor em Sociologia (FEUC-2006). Professor Auxiliar da Faculdade de Economia
da Universidade de Coimbra e Investigador do Centro de Estudos Sociais. Co-
Coordenador do Doutoramento em "Cidades e Culturas Urbanas". Director da
Revista Crítica de Ciências Sociais. Áreas de interesse: Cidades e culturas
urbanas; Práticas e políticas culturais; Intervenção cultural nas cidades; Turismo,
lazer e estilos de vida. É autor de várias publicações sobre essas áreas, em torno
das quais tem desenvolvido investigação. E-mail: <claudef@fe.uc.pt>.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 283
INTRODUÇÃO
1. GOVERNAÇÃO URBANA
130
A Agenda 21 Local é um programa para o desenvolvimento sustentável assinado
na Conferência do Rio das Nações Unidas, em 1992. No seu Capítulo 28 atribui ao
poder local a responsabilidade de trabalhar em parceria com os vários atores da
comunidade para a elaboração e a implementação de um Plano de Ação para a
sustentabilidade. Visa à criação de estratégias participadas de sustentabilidade.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 297
131
Relembre-se que isto não é uma referência bibliográfica, mas sim, como se
explicou atrás, material resultante de entrevistas originais, realizadas no quadro da
investigação empírica que suporta o artigo.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 299
132
No original: “We wanted a greater capacity within the community to do more work,
make more progress, then we needed an organization that was separated from the
City organization. It was as clear as it could be to everybody that it wasn’t just the
City’s job to do all these good things in sustainability, but all these different
organizations that sign on the Plan, each have a roll.” (Entrevista a técnico da
Câmara Municipal de Kingston).
133
No original: “[…] It’s a process, it stills confuses a lot of people because we have no
history of doing things this way, so people always say ‘oh, it’s not the City?’ and we
say ‘no, it’s not the City, it’s a non-profit organizations, separated board of directors’
[…]”. (Entrevista a membro do Executivo da Câmara Municipal de Kingston).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 303
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
136
José Manuel Mendes
137
Pedro Araújo
RESUMO
136
Doutor em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
(FEUC), onde exerce as funções de Professor Auxiliar com Agregação. É
Investigador do Centro de Estudos Sociais (CES), onde tem trabalhado nas áreas
das desigualdades, mobilidade social, movimentos sociais e ação coletiva e, mais
recentemente, nas questões relacionadas com o risco e a vulnerabilidade social. E -
mail: <jomendes@fe.uc.pt>.
137
Investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) – Laboratório Associado e
membro do Núcleo de Estudos sobre Políticas Sociais, Trabalho e Desigualdades
(POSTRADE). É Doutor em Sociologia pela Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra (FEUC). Os seus interesses de investigação centram-se
em questões relacionadas com os desastres, o risco e a cidadania. E-mail:
<paraujo@ces.uc.pt>.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 313
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
138
A mineração de urânio constitui a primeira etapa do chamado ciclo do combustível
nuclear que descreve todas as operações relacionadas com a obtenção e
preparação do combustível, o seu uso num reator e o manuseamento do
combustível usado. Historicamente, é possível recortar três grandes períodos,
variáveis de país para país, associados à exploração de urânio. Em meados do
século 20, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, inicia-se a primeira corrida
ao urânio para fins militares que irá durar até finais dos anos 60. De meados dos
anos 60 a meados dos anos 70, a preocupação crescente com as reservas de
petróleo e a afirmação do nuclear como alternativa energética, conduzem a um
aumento do preço do urânio, então em depressão, e a uma segunda corrida ao
urânio. Finalmente, o terceiro período do urânio, que se inicia em meados dos
anos 70 e se prolonga pelos dias de hoje, corresponde a uma crescente
consciência ambiental relativamente aos impactos da exploração de urânio.
(INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY, 2014, on line).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 315
139
De 1913 a 2001, a exploração e tratamento de rádio e, posteriormente, de urânio
serão da responsabilidade: da Henry Burnay & Cª. (1913-1931); da Companhia
Portuguesa de Radium, Lda. (1932-1962); da Junta de Energia Nuclear (1962-
1977); da Empresa Nacional de Urânio, EP. (1977-1990); e, finalmente, da
Empresa Nacional de Urânio, S.A. (1990-2001).
140
No complexo mineiro nasceu uma comunidade dentro da comunidade, um lugar,
como muitos dos seus habitantes insistem ainda hoje em chamar-lhe, distinto de
Canas de Senhorim. Os efeitos desta distinção não se diluíram completamente
depois da cessação da atividade do complexo industrial da Urgeiriça e são
importantes para compreender o modo como, à medida que a questão dos
trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio ganha em dimensão mediática, vai
perdendo em apoio local.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 317
141
É importante ter em consideração que, no início dos anos 1930, os ingleses
adquirem a totalidade da Companhia Portuguesa de Radium, inicialmente formada
por capitais luso-britânicos. Esta situação manter-se-á até ao início dos anos 1960
com a Companhia Portuguesa de Radium a pôr fim à sua atividade, revertendo,
então, todos os seus bens em favor do Estado português.
318 Movimentos, Direitos e Instituições
2. CORPORALIZAÇÃO DA NUCLEARIDADE E
DESERTOS SEM MEMÓRIA
142
O exclusivo do exercício da atividade de recuperação ambiental das áreas mineiras
degradadas foi, então, adjudicado, em regime de concessão, à EXMIN (Companhia
de Indústria e Serviços Mineiros e Ambientais, S.A.). Em 30 de Setembro de 2005
a EXMIN foi integrada na Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM), dando
origem à nova EDM que passa a deter a concessão desta atividade.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 319
143
As minas da Urgeiriça situam-se na freguesia de Canas de Senhorim. Nesta
freguesia surgiu, após o 25 de Abril de 1974, com o fim da ditadura em Portugal, o
Movimento de Restauração do Concelho de Canas de Senhorim (MRCCS), com o
propósito de reivindicar a elevação a Concelho desta localidade. Momento
marcante no seu percurso foram os acontecimentos de Agosto de 1982, que
conduziram à criação de um código postal próprio após dias de confrontação com
as forças de segurança. Após 1997, o Movimento iniciou um conjunto de ações
radicais, entre boicotes eleitorais, invasões de cerimónias e monumentos públicos,
com forte projeção mediática e em confronto direto com as autoridades locais e
nacionais. No âmbito destas acções, a venda de urânio à Alemanha e a
320 Movimentos, Direitos e Instituições
145
É, de facto, necessário ter em consideração um momento marcante da luta
protagonizada pelo Movimento para a Restauração do Concelho de Canas de
Senhorim (MRCCS) de aproximação entre a luta dos trabalhadores e do MRCCS
que não se voltará a verificar: a venda de urânio à Alemanha. No dia 16 de
Novembro de 2004, dia do primeiro carregamento de urânio, centenas de pessoas
concentram-se junto às instalações da ENU para impedir a sua saída com destino
à Alemanha. Este representava, de facto, um momento ideal para forçar a
reapreciação da questão da restauração do concelho, objetivo último do
Movimento. Após negociações, o Ministro do Ambiente, Luís Nobre Guedes, acede
receber em Lisboa o líder do Movimento, Luís Pinheiro, e, ao final da tarde, os
representantes do Movimento na localidade recebe do líder a informação de que
um acordo teria sido atingido e que os protestos podiam ser interrompidos.
(MENDES, 2005, p. 176). O primeiro carregamento acaba, assim, por sair. Na base
desse acordo estaria o compromisso do governante para avançar com a
requalificação ambiental e de atender aos problemas dos trabalhadores da ENU.
Na localidade as reações são de tristeza e indignação. “Para muitas pessoas o
peso político do Ministro do Ambiente era mínimo e a requalificação ambiental um
objetivo secundário. Com os camiões parecia ir uma parte da luta, e era
questionada uma memória coletiva composta ao longo dos anos por múltiplos
episódios de confronto e desafio em relação às autoridades locais e nacionais. Nas
palavras de uma mulher: ‘Vamos ficar sem moeda de troca. Queremos ser
concelho ou a requalificação?’”. (MENDES, 2005, p. 177).
324 Movimentos, Direitos e Instituições
146
A entrada em cena das viúvas dos ex-trabalhadores da ENU, por via das
indemnizações aos familiares dos trabalhadores da ENU falecidos vítimas de
doenças oncológicas, representa uma extensão natural do enquadramento de
injustiça acima definido. As viúvas revelam-se incapazes de transformar a sua dor
numa força política autónoma e aparecem associadas aos Antigos Trabalhadores.
Tal como acontece em relação a estes, também as viúvas não formam um coletivo
aglutinador de todas as viúvas de ex-trabalhadores. Estas partilham a condição de
viúva, mas, acima de tudo, a necessidade de obter uma reparação financeira que
complemente uma reduzida pensão de viuvez. De acordo com as viúvas
entrevistadas aquelas que não participam têm uma fonte de subsistência que lhes
permite não andar nisto. Participar não é um luxo, sendo antes um imperativo de
sobrevivência. Mesmo se conscientes dos ataques que sofrem localmente, que o
povo lhes morde nas costas, vão e irão sempre.
147
Na sequência da eleição de José Sócrates para o cargo de Primeiro-Ministro, em
Março de 2005, os ex-trabalhadores da ENU decidem em plenário quais as
exigências a apresentar ao novo governo. Dessas exigências passarão a constar
os exames médicos aos ex-trabalhadores da ENU. No entanto, apenas nos finais
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 325
148
Esta frase pertence ao deputado do PS eleito pelo círculo eleitoral de Viseu, Miguel
Ginestal, e foi proferida num plenário de trabalhadores realizado na Urgeiriça no dia
08 de Abril de 2005. Durante o plenário é entregue ao deputado um documento
expondo preocupações de natureza ambiental, socio laboral e de saúde pública
(Assinantes: António Minhoto, Luís Marques Pinto e um terceiro nome ilegível).
Com base nesse documento os deputados do Grupo Parlamentar do PS eleitos
pelo círculo de Viseu (José Junqueiro, Cláudia Couto Vieira, Manuel Maria Carrilho
e Miguel Ginestal) irão requerer aos ministérios da Saúde (Requerimento 197-
AC/X1, 04.05.2005); do Trabalho e da Solidariedade Social (Requerimento 196-
AC/X1, 04.05.2005); da Economia e Inovação (Requerimento 195-AC/X1,
04.05.2005); e do Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento
Regional (Requerimento 194-AC/X1, 04.05.2005), uma análise cuidada e a adoção
de medidas adequadas às preocupações expostas.
149
Esta afirmação é muito mal acolhida pelos representantes do MRCCS e por alguns
populares presentes no local.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 327
150
No mesmo espírito, a intenção do presidente da EDM, Delfim de Carvalho, de criar
na Urgeiriça um Centro de Conhecimento de Radiações (Radianatura – Radiação,
Vida, Ambiente) para contribuir com a preservação da memória mineira, o apoio ao
ensino, a divulgação científica e o turismo e que visa, primeiro, reforçar a garantia
de segurança oferecida pela requalificação da Barragem Velha e, segundo,
transformar em bem aquilo que os ex-trabalhadores se esforçam em estabelecer
como mal: a nuclearidade do urânio. Um memorial ao futuro destinado a apagar o
passado.
328 Movimentos, Direitos e Instituições
[…] Abranger toda a gente era excessivo. Não fazia sentido equiparar a
fundo de mina alguém que trabalhou 15 dias na ENU. Isso seria admitir
que o conhecimento científico não tem valor. […]. (Ex-director do
Departamento de Geologia da ENU e actualmente consultor da EDM).
151
Trata-se dos projetos de lei 412/X e 464/X, apresentados pelo BE; 2) 443/X,
apresentado pelo PCP; e 3) 468/X, apresentado pelo PSD.
152
De fora fica a questão das indemnizações das viúvas, que fora uma parte
importante na mediatização do conflito.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 329
CONCLUSÃO:
NUCLEARIDADE E CIDADANIA EM PORTUGAL
154
Para uma análise excelente sobre as controvérsias em torno do armazenamento
dos resíduos nucleares em França, e de como estes se tornaram problemas
políticos, conferir BARTHE, 2006.
332 Movimentos, Direitos e Instituições
REFERÊNCIAS
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Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 335
O NOVO CONSTITUCIONALISMO
DEMOCRÁTICO LATINO-AMERICANO E OS
NOVOS SUJEITOS DE DIREITO
155
Maria Cristina Vidotte Blanco Tárrega
156
João Vitor Martins Lemes
RESUMO
O direito moderno firmou e consolidou uma concepção de sujeito-
pessoa, construída no decurso da história, cujas principais
características foram idealizadas na modernidade, fundante da noção
de indivíduo. Marca da Revolução Francesa, esse é o suporte do
modelo capitalista instalado – individualista – e que oferece o eixo
central das questões jurídicas, invadindo os séculos XIX e XX. Na
contramão desse processo, o novo constitucionalismo democrático
latino-americano, na tentativa de superar esse paradigma, inovou na
perspectiva das titularidades jurídicas: apresentou novos sujeitos de
direitos e exigiu o reexame da teoria do direito e da teoria
constitucional para acolher essas novas subjetividades e conferir
eficácia aos direitos atribuídos a elas. Nesse sentido, este trabalho
155
Doutora em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
Bolsista de Produtividade do CNPq. Professora Titular do Programa de Pós-
Graduação em Direito Agrário da Universidade Federal de Goiás (PPGA-UFG).
Representante, no centro-oeste, da Rede para o Novo Constitucionalismo
Democrático. E-mail: <mcvidotte@uol.com.br>.
156
Mestre em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito Agrário da
Universidade Federal de Goiás (PPGA-UFG). Pesquisador do Observatório
Fundiário Goiano (UFG). Coordenador do Curso de Direito da Faculdade de
Jussara. E-mail: <martins.joaovitor@yahoo.com.br>.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 337
INTRODUÇÃO
3. OS SUJEITOS NO CONSTITUCIONALISMO
DEMOCRÁTICO LATINO-AMERICANO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
157
Pablo Almada
RESUMO
O debate epistemológico nas Ciências Sociais tem apresentado
grande vitalidade na composição de determinados objetos de
pesquisa e das formas analíticas mais recentes. Parte da importância
adquirida desse debate tem a ver com a publicação das obras do
sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, desde 1989.
Essas obras se fundamentam na noção de que as Ciências Sociais,
evitando cair nos dogmatismos anteriores, deveriam seguir por um
caminho de “transição paradigmática”, o qual permitiria uma viragem
à pós-modernidade – e, mais a frente, aos estudos pós-coloniais. O
argumento que fundamenta essas considerações é o de que seria
necessário um enfoque no sujeito, nas subjetividades e,
principalmente, um deslocamento do ponto de vista das ciências ao
Sul. Porém, tais considerações não se fazem unívocas quando
inserimos uma problemática que tem sido tema de debate nas
ciências sociais brasileiras, a partir das noções de centralidade do
157
Graduado em Ciências Sociais (Sociologia), pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP, 2007). Mestre em Sociologia: Relações de Trabalho,
Desigualdades Sociais e Sindicalismo (2009); Doutor em Democracia no Século
XXI, pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES-UC, 2015).
E-mail: <pabloera@gmail.com>.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 355
INTRODUÇÃO
158
O título do presente artigo, bem como a exposição aqui elaborada dialoga
diretamente com dois artigos: “O Resgate da Epistemologia”, de João Arriscado
Nunes (2008), o qual apresenta os pontos fundamentais da teoria sociológica de
Boaventura de Sousa Santos; e “De como não ler Marx ou o Marx de Sousa
Santos”, de José Paulo Netto (2004), o qual aponta críticas e problemas internos
ao pensamento epistemológico de Boaventura de Sousa Santos. A perspectiva de
escolha de diálogo entre esses textos – que aqui não será feita diretamente – tenta,
por conseguinte, trazer uma contribuição para a revisão de pontos “dados como
certos”, mas que numa análise mais minuciosa resulta em sérios problemas para a
teoria sociológica. Na visão do autor deste artigo, o resgate da ontologia do ser
social, assim como o fez Lukács (2012b) é o ponto de partida fundamental ness a
questão.
356 Movimentos, Direitos e Instituições
159
De acordo com LÖWY (2000, p. 33-37), em Weber se misturariam as relações de
valores (Wertbeziehung) com a ausência do julgamento de valores (Wertfreiheit),
sendo as primeiras de tendência historicista, do relativismo histórico de Dilthey e,
as segundas, de orientação positivista.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 361
160
Inicialmente, SANTOS (1989, 2006) compreende que seria insuficiente denominar
a fase de transição epistemológica pelo termo “pós-moderno”. Porém, nesse termo
estaria contida a constatação que nessa transição seria possível novos futuros
362 Movimentos, Direitos e Instituições
162
Sobre esse debate, entre marxismo e pós-modernidade, as referências principais
estão explícitas em HARVEY (2012), MEIKSIN-WOOD (1996); MÉSZÁROS (2002;
2004).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 367
163
Uma síntese crítica mais pormenorizada dos pontos a seguir está em NETTO
(2004) e, nesse momento, servirão de guia para a análise doravante empreendida.
368 Movimentos, Direitos e Instituições
164
A modernidade, no sentido anteriormente abordado, é a modernidade cultural,
assim como Weber (ética protestante) já bem havia definido, um tipo ideal que não
admite contradições, nem mesmo entende o capitalismo enquanto um sistema
totalizador – no Norte e no Sul, no Centro e na Periferia, para os detentores e não
detentores de poder – mas sim, como uma parte epistemológica da cultura
ocidental dotada de um sentido unívoco. Para uma crítica mais aprofundada dessa
questão ver MÉSZÁROS (2011).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 375
algo central. Porém, isso não significa que a pesquisa deva seguir por
um caminho empirista ou descritivo. Ao contrário, seria necessário
fundamentar, compreender e formular conexões dos fatos, seja com a
teoria social, na tentativa de revisão, seja com a atuação prática dos
seres na vida cotidiana.
Sendo assim, a totalidade do ser social, notadamente
através de suas conexões reais, deve ocupar um espaço privilegiado,
ao invés de subordiná-los às percepções empíricas, racionalistas e
epistemológicas, apreendendo-as “[...] em todas as suas intrincadas e
múltiplas relações, no grau máximo de aproximação possível”.
(LUKÁCS, 2012b, p. 297). Do contrário, mesmo com uma visão
alargada de Ciência, se excluiria como a filosofia tem papel
fundamental para capturar “[...] elementos estruturais de complexos
relativamente totais, reais, dinâmicos, cujas interrelações dinâmicas
dão lugar a complexos cada vez mais abrangentes, em sentido tanto
extensivo quanto intensivo”. (LUKÁCS, 2012b , p. 297).
Por isso, o empirismo se faz um tanto fracassado, porque
deixaria de lado essas dinâmicas e, além disso, a fundamentação da
cotidianidade é diferente da experiência vivida, afirmando-se do ser
social em seu cotidiano.
CONCLUSÃO
A partir das análises aqui tecidas, fica claro que, por conta
da estreita vinculação entre transição paradigmática, pensamento
pós-moderno e idealismo subjetivo, a proposta de uma crítica que
parta desses pressupostos acaba por se desradicalizar em sua raiz.
Com isso, abre-se um campo de perspectivas
antidogmáticas e anti-teóricas que se concatenam com o próprio
pensamento a partir do qual se efetiva a crítica.
Por outro lado, foi a partir do pensamento de Marx que se
conseguiu perceber que a própria radicalidade da crítica tem seu
fundamento ontológico, ou seja, parte do próprio homem. As noções
epistemológicas nas Ciências Sociais acabam por desconsiderar
esse ponto fundamental, compreendendo a realidade
equivocadamente, ou seja, a partir de uma teoria do conhecimento
cujo princípio seria apenas o de debater no interior de uma
comunidade científica e, portanto, positivista. Ao contrário, a
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 381
REFERÊNCIAS
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MARX, Karl. Miséria da Filosofia: resposta à Filosofia da Miséria do senhor
Proudhon. São Paulo: Centauro, 2006.
382 Movimentos, Direitos e Instituições
RESUMO
165
Doutoranda em Sociologia e Mestre em Sociologia pela Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra (FEUC). Especialista em Movimentos Sociais e Democracia
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, é membro do Grupo
de Estudos em Economia Solidária (ECOSOL), do Centro de Estudos Sociais (CES-
UC). E-mail: <smdf@fe.uc.pt>.
166
Doutora em Sociologia pela Universidade de Lancaster, Inglaterra. Professora
auxiliar em Sociologia, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
(FEUC). Investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) e do Centro de Estudos
Cooperativos e da Economia Social (CECES), da FEUC. E-mail:
<beatriz.silva@student.fe.uc.pt>.
386 Movimentos, Direitos e Instituições
INTRODUÇÃO
167
O modelo humboldtiano emerge na história como orientação para a atuação das
universidades europeias enquanto campo de produção de saber puro associado a
uma prática universitária onde a universidade aparece como local de busca da
verdade (pura, autônoma, desinteressada) e local de reorganização do saber
(prático, conjugado, totalizante). (Rubião 2013, p. 65).
392 Movimentos, Direitos e Instituições
168
Ao todo, as duas principais redes de incubadoras, a Rede de ITCPs e a rede
Unitrabalho, reúnem mais de cem iniciativas de incubação em universidades
brasileiras. A rápida expansão da metodologia levou em 1998 à criação em âmbito
governamental o Programa Nacional de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas
Populares (PRONINC), voltado para o apoio e fomento às incubadoras de
economia solidária.
169
Setenta e um por cento das incubadoras que participaram na avaliação do
PRONINC (SENAES, 2011) geraram ou usaram algum tipo de tecnologia social,
sendo que a maioria confirma ter trabalhado com metodologias e uma parte
significativa com artefactos produtivos. Dentre as tecnologias sociais citadas pelas
incubadoras no processo e avaliação do PRONINC (SENAES, 2011), compilaram-
se alguns casos de: metodologias de comunicação, formação e design
participativo; metodologias de autogestão e gestão de negócios solidários.
(SENAES, 2011).
170
Esta informação resulta do envolvimento das autoras deste Capítulo nestes
mesmos processos.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 393
171
Utilizou-se uma adaptação feita a partir do trabalho de Mapeamento Nacional de
TSs produzidas e/ou utilizadas por ONGs, realizado pelo Instituto de Tecnologia
Social – ITS (2004), e do Ciclo de Inovação Social – The Open Book of Social
Innovation. (MURRAY; CAULIER-GRICE; MULGAN, 2010).
394 Movimentos, Direitos e Instituições
172
A Faculdade de Economia integra o conjunto de oito faculdades da Universidade
de Coimbra. Criada em 1972, reúne cursos em quatro áreas distintas: Economia,
Gestão, Relações Internacionais, e Sociologia. A faculdade está organizada em
três ciclos de estudos: o 1º refere-se aos cursos de licenciatura (graduação no
Brasil), o segundo aos cursos de mestrado e o terceiro aos cursos de
doutoramento.
173
Mestrados em Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo e em Sociologia,
Doutoramentos em Gestão e em Sociologia. Para a caracterização da ISFEUC
recorreu-se ao conhecimento das autoras envolvidas no seu processo de criação e
desenvolvimento.
174
Existem ainda na Faculdade duas iniciativas as quais podem ser aproximadas da
perspectiva extensionista, mas são coordenadas e geridas pelos estudantes, que é
o caso da Empresa Júnior – JEEFEUC e da AIESEC (Associação Internacional de
Estudantes em Ciências Económicas e Comerciais).
175
No âmbito da Universidade de Coimbra existe ainda a Divisão de Transferência de
Saber (DTIS), responsável pelas relações universidade-sociedade, atuando na
transferência de conhecimento para o setor comercial e tecnológico.
396 Movimentos, Direitos e Instituições
3.1 Experimentação
179
A primeira fase de constituição da incubadora reunia estudantes de mestrado com
experiências profissionais em diversos tipos de organizações da economia social e
solidária, diferentes formações acadêmicas de base e diferentes nacionalidades.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 399
180
Por exemplo, os programas europeus de apoio à ciência e tecnologia têm vindo
crescentemente a valorizar o desenvolvimento de projetos que impliquem parcerias
entre universidades e centros de investigação, empresas e organizações do
terceiro sector ou da sociedade civil e os cidadãos e articulem a vertente da
investigação e a vertente da inovação tecnológica. Este é o caso do maior
programa atualmente em curso, Horizonte 2020 - EU Framework Programme for
Research and Innovation (http://ec.europa.eu/programmes/horizon2020/en/what-
horizon-2020).
402 Movimentos, Direitos e Instituições
CONCLUSÃO
181
Outras universidades incorporam a questão do social na agenda das suas
incubadoras tecnológicas, como é o caso da Social Spin inserida na estrutura da
Spin Logic da Universidade do Porto, criada para apoiar e assessorar empresas
sociais. (SOCIAL SPIN, 2014).
404 Movimentos, Direitos e Instituições
REFERÊNCIAS
RESUMO
É comum ouvir-se falar que houve uma extinção subjetiva ou objetiva
do direito que nasceu de uma relação jurídica, ou seja, o direito não
mais existirá na esfera jurídica da pessoa titular do direito. Ora, as
formas de extinção mais recorrentes são: a prescrição e a
caducidade. Estas figuras não geram nenhum tipo de dúvida quando
emergem de um fato jurídico de origem voluntária; também, em regra,
não surgem grandes dificuldades quando emergem de um fato
jurídico natural. No entanto, poderão trazer algumas incertezas
quando o sujeito titular do direito esteja protegido por um direito
personalíssimo. Um destes direitos personalíssimos prende-se com o
direito do sujeito de investigar e ver reconhecida judicialmente a sua
paternidade e/ou maternidade. Em muitos países a questão já é
matéria pacificada, ditando a imprescritibilidade do direito de agir,
182
Doutoranda em Direito Civil pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
(FDUC). Mestre em Ciências Jurídico-Históricas pela FDUC. Especialista em
Direito Internacional Público e Direito do Ambiente pela FDUC. Licenciada em
Direito pela FDUC. E-mail: <elisete.lcdealmeida@gmail.com> e <elisete.jacinto@
bol.com.br>.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 409
INTRODUÇÃO
1. ESTABELECIMENTO VOLUNTÁRIO DA
MATERNIDADE E DA PATERNIDADE
2. O ESTABELECIMENTO JUDICIAL DA
MATERNIDADE E DA PATERNIDADE EM PORTUGAL
183
Note-se que a paternidade presumida, nos termos do artigo 1842º/a, só poderá ser
impugnada no prazo de três anos após o marido da mãe tomar conhecimento que
a criança que presumidamente seria sua filha, de facto não é. Este é o
entendimento dos Tribunais portugueses, conforme se pode constatar numa
recente decisão da Relação de Coimbra, pelo Acórdão relativo ao processo
350/08.8TBCDN.C1, de 17 de Janeiro de 2012. Disponível em: <http://www.dgsi.
pt/jtrc.nsf/8fe0e606d8f56b22802576c0005637dc/8bc2c75da321e0ef8025798a0037
b6ab?OpenDocument>. Acesso em: 11 fev. 2014.
184
E se for o caso, ser prosseguida pelo cônjuge ou descendentes, nos termos do art.
1818º CC.
185
De acordo com a redação do Código Civil anterior à Lei n. 14/2009, de 01 de abril,
o prazo era de dois anos após a maioridade.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 413
186
“Artigo 35º A acção de investigação de maternidade é sempre permitida”; “Artigo
36º A acção de investigação de paternidade ou maternidade só não é admitida em
juízo nos casos em que a perfilhação é defesa, ou enquanto não pode produzir
efeitos por virtude da inabilidade do pretenso pai ou mãe, tal como é definida no
artigo 23º, §1º. § único) Neste último caso a acção pode propor-se logo que se
verifique qualquer das circunstâncias previstas no artigo 32º “; e “Artigo 37º A
acção de investigação de paternidade ou maternidade só pode ser intentada em
vida do pretenso pai ou mãe, ou dentro do ano posterior à sua morte, salvas as
seguintes excepções: 1º) Se os pais falecerem durante a menoridade ou demência
dos filhos, porque, neste caso, têm estes o direito de intentar acção, contanto que o
façam antes que expirem os primeiros quatro anos da sua emancipação ou
maioridade ou do restabelecimento da sua razão; 2º) Se o filho obtiver, depois do
prazo de um ano indicado neste artigo, um documento escrito e assinado pelos
pais, em que estes revelem a sua paternidade; porque, neste caso, pode propor
acção a todo o tempo em que haja alcançado o sobredito documento, se realmente
414 Movimentos, Direitos e Instituições
dilatado do que o atual, uma vez que o filho poderia propor a ação
durante toda a vida do pretenso pai ou da pretensa mãe, ou até um
ano após a morte deles, ou seja, a tendência à imprescritibilidade
permanece.
Não se pode deixar de referir neste espaço a alteração da
perspetiva legislativa que passou a possibilitar, no âmbito da família,
uma busca maior pelos laços biológicos em Portugal. (OLIVEIRA,
2003, p. 64-67). Neste contexto, ainda na constância do CC/1867, a
legitimidade ativa por parte do filho nas ações de impugnação da
paternidade já trazia discordâncias entre os Tribunais da época,
ficando a matéria pacificada pelo Assento de 22 de Junho de 1938, o
qual concedeu que a referida faculdade da legitimidade ativa nas
ações de impugnação pudesse partir do filho; por outro lado, esta
medida veio reconhecer ao filho um papel mais ativo na vida familiar.
(OLIVEIRA, 2003, p. 64-65).
Com a legislação civil sessentista do século passado,
abriram-se novas causas de impugnação da paternidade de filho
nascido na constância do matrimónio. Assim sendo, o modelo em que
o pai é presumidamente o marido da mãe persiste, mas procura-se
determinar com maior exatidão quem é o verdadeiro pai da criança,
ou seja, quem é o pai biológico. Para tanto, nos termos das alíneas c)
e d) do art. 1817º do Código Civil de 1966, o fato de o marido da mãe,
no período gestacional “c) Ter estado separado de facto da mulher
em todo aquele período e ter esta mantido no decurso do mesmo
período convivência marital com outro homem, estabelecida por
comunhão duradoura de leito, mesa e habitação, em condições
análogas às dos cônjuges, fora do domicílio conjugal”, abre a
possibilidade de impugnar a falsa paternidade estabelecida
presuntivamente, bastando fazer provas do mesmo; e quanto à alínea
“d) ter a mulher cometido adultério dentro do período da concepção e
ocultado do marido a gravidez e o nascimento do filho, desde que o
marido prove, por qualquer outra circunstância, que o filho não foi
procriado por ele”, mas observe-se que a “prova”, na época a que
está-se a remeter, não era tão facilitada quanto hoje, e que nessa
época ainda se fazia a distinção entre filhos legítimos e ilegítimos,
portanto, ter um filho adulterino seria uma mácula social moralmente
reprovável, e, mesmo se ocorresse, tentariam evitar a todo o custo
que fosse revelada. (OLIVEIRA, 2003, p. 66-68).
provar que obteve dentro dos seis meses que precederam a proposição da
demanda; isto sem prejuízo das regras gerais acerca da prescrição dos bens.”
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 415
187
Um exemplo sobre a possibilidade de se recorrer à ação de reconhecimento de
maternidade ilegítima encontra-se no art. 1810º/3, do CC/1966: “necessitando,
porém, o filho de investigar a maternidade como pressuposto da sua filiação
legítima, é aplicável ao caso o disposto sobre o reconhecimento judicial dos filhos
ilegítimos”. Ora, é sempre interessante referenciar a legislação daquela época, em
que “presume-se legítimo o filho nascido ou concebido na constância do
matrimónio da mãe, salvo o disposto nos artigos 1803.º e 1804.º”, nos termos do
art. 1801º/1, do CC/1966; quanto aos filhos ilegítimos, dispõe ao art. 1824º, do
CC/1966, que “São ilegítimos todos os filhos não considerados legítimos nos
termos dos artigos 1801.º e seguintes”.
188
Art. 1817º “1. A acção de investigação de maternidade só pode ser proposta durante a
menoridade do investigante ou nos dois primeiros anos posteriores à sua maioridade
ou emancipação”; e art. 1873º “É aplicável à acção de investigação de paternidade,
com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos 1817º a 1819º e 1821º.”
416 Movimentos, Direitos e Instituições
189
Na deixa de Eduardo Sá “Progenitores não são, só por isso, pais […]. Pais
verdadeiros são pais com verdade interior e relacional. Que sabem que uma
família, como Metzer diz, serve para gerar o amor, promover a esperança, conter a
tristeza, e pensar”. (SÁ; SOTTOMAYOR, 2008, p. 246). A questão fica em aberto
para uma futura oportunidade.
418 Movimentos, Direitos e Instituições
filho em que o poder paternal é mais necessário e pode ser mais útil”,
ou seja, a menoridade e até dois anos após a maioridade, sendo
assim, até os 20 anos de idade do investigante. (LIMA; VARELA,
2011, p. 82)190.
É de se referir que a tese da caducidade do direito de agir
do filho não corresponde a uma tendência isolada de Portugal, um
dos exemplos prende-se com a Suíça, que limita o prazo a um ano
após o pretenso investigante completar a maioridade; no entanto,
este direito estabelece uma cláusula geral de salvaguarda, para os
casos em que haja motivos justificáveis para que o atraso seja
desculpável. Na mesma linha, porém mais limitativa, segue a França,
que concede o prazo de dois anos após o nascimento, ou, tal como
Portugal, até dois anos após o investigante atingir a maioridade;
porém, este direito também aceita exceções, ou seja, se o
investigante foi concebido durante a união estável dos pais, “ou se
houve participação do pretenso pai na educação da criança”. (LIMA;
VARELA, 2011, p. 83).
É de se ter em atenção que, mesmo antes do Acórdão
23/2006, de 8 de Fevereiro, esta matéria já não era pacífica, gerando
conflitos de entendimento. Aponta-se, pelo interesse, a
recomendação proferida em sede de consulta ao Provedor de Justiça
no ano de 1999, à época, José Menéres Pimentel, que emitiu a sua
Recomendação nos seguintes termos:
190
Os autores referem-se às alterações impostas pelo Código Civil de 1966, tendo
sido continuadas com a alteração legislativa de 1977.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 419
192
Tem-se como exemplo o Acórdão do Tribunal Constitucional (ACTC) n. 446/2011,
de 11 de Outubro, no qual se entende que “não se afigura desproporcional, não
violando os direitos constitucionais ao conhecimento da paternidade biológica e ao
estabelecimento do respectivo vínculo jurídico, abrangidos pelo (sic) direitos
fundamentais à identidade pessoal”. No mesmo sentido segue o ACTC n.
545/2011, de 16 de Novembro, onde se decide “não julgar inconstitucional a norma
do artigo 1817, n. 1, do Código Civil, na redacção da Lei n. 14/2009, de 1 de Abril,
na parte em que, aplicando-se ás acções de investigação de paternidade, por força
do artigo 1873º, do mesmo Código, prevê um prazo de dez anos para a propositura
da acção, contado da maioridade ou emancipação do investigante”.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 421
193
Observe-se que “os seres humanos não são necessariamente, do ponto de vista
lógico, pessoas em sentido jurídico”, bem como “as pessoas em sentido jurídico
não são necessariamente seres humanos”; no entanto, o Código Civil português,
em seu art. 66º/1, adotou que “Reconhece-se personalidade jurídica a todo o ser
humano a partir do nascimento completo e com vida”, ou seja, dotou todo o ser
humano com a personalidade jurídica, ou ainda, estipula que todo o ser humano é
pessoa em sentido jurídico.
194
Apesar da personalidade só se adquirir com o nascimento completo e com vida,
note-se que o nascituro faz parte de uma categoria especial com uma tutela geral
em que, apesar de estar dependente do nascimento completo e com vida, é-lhe
garantido alguns direitos, v.g., direitos patrimoniais.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 423
195
É exigível face a qualquer pessoa.
196
Não pode ser transmitido de uma pessoa para outra.
197
Não se extinguem, não são disponíveis á favor de terceiros, e nem o seu titular
pode se obrigar em relação a terceiros quanto ao seu exercício, pois são bens, em
sua maioria, extra commercium, ou seja, é vedada a sua abdicação, apesar de ser
permitida a limitação voluntária que não seja contrária aos princípios de ordem
pública, Neste sentido, pode-se autorizar uma cirurgia onde se recorre à violação
da integridade física, no entanto, seria contra a ordem pública uma autorização
para a eutanásia, por exemplo.
198
São perpétuos, permanecem na esfera do seu titular durante toda a sua vida, mas
vai além, ao passo que mesmo antes de nascer ou após morrer, há uma esfera de
proteção, ou seja, tais poderes são eternos. Por outro lado, estão intrinsecamente
ligados à pessoa titular do direito, sendo o seu exercício efetuado através da ação
ou omissão, levando a que o direito sobre ele não se extinga pela falta de uso.
199
Não é passível de avaliação monetária.
200
Nas palavras de Capelo de Sousa, radica “os direitos de personalidade na pessoa
do respectivo titular, fundamentando-os ab intrinseco e desse modo lhes conferindo
uma certa inderrogabilidade perante a lei”, tais direitos só podem ser restringidos
“’nos casos expressamente previstos na Constituição’, ‘devendo as restrições
limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos ou interesses
constitucionalmente’, ‘revestir caráter geral e abstrato’, ‘não […] ter carácter
retroactivo e não diminuir a extensão e o alcance do conteúdo essencial dos
preceitos constitucionais’”. (SOUSA, 2011, p. 417-418).
424 Movimentos, Direitos e Instituições
CONCLUSÃO
201
Note-se que desde a idade moderna a atenção vem se voltando, favoravelmente,
mais às crianças, indo ao encontro do seu desenvolvimento de forma mais
completa. Acompanhando o estudo iconográfico de Philippe Ariès, a casa de
família do início da época moderna albergava num mesmo espaço a família
conjugal ou nuclear, “uma clientela de servidores, amigos e protegidos”, todos
compartilhando o mesmo espaço, completamente isentos de privacidade. Porém,
este quadro com o tempo altera-se, aos poucos a família nuclear reclama um
espaço próprio, longe do olhar alheio. Nas palavras de Ariès: “postulava zonas de
intimidade física e moral que não existiam antes”, em que a vida social já não se
misturava com a vida privada. Ariès indica que “a criança […] deu à família do
século XVII sua principal característica, que a distinguiu das famílias medievais. A
criança tornou-se um elemento indispensável da vida quotidiana e os adultos
passaram a se preocupar com sua educação, carreira e futuro”. Também, cabe
apontar que a desigualdade no tratamento entre os filhos de uma mesma família,
no fim do século XVIII, passou a ser mal vista pela sociedade, o princípio da
primogenitura já não era considerado justo. Ora este ânimo pela igualdade veio
alcançar plenitude jurídica com a sua introdução no Code Civil francês e,
consequentemente, em outras codificações civilísticas que o seguiram (ARIÈS,
1981, p. 179-188). Aos poucos a criança deixou de ser vista como mais um “braço
de trabalho”, para começar a ser tida como ser humano, merecedora de proteção
familiar, social e jurídica, enfim, surge como sujeito de direitos. A nível internacional
pode-se dizer que a criança vem assumindo um papel de relevo desde a
Declaração de Genebra de 1924, fruto do Conselho da União Internacional de
Proteção à Infância (Save the Children Internacional Union), até 1959 com a
Declaração Universal dos Direitos da Criança. Sobre os instrumentos internacionais
de proteção à criança, Vide ALBUQUERQUE, Catarina. Direitos da Criança.
Disponível em: <http://www.gddc.pt/actividade-editorial/pdfs-publicacoes/BDDC83
84/8384Dir_Crianca.pdf>, consultado em 26 de Fevereiro de 2014. O
infantocentrismo tem como principal reflexo jurídico inicial o “princípio do superior
426 Movimentos, Direitos e Instituições
203
Vide artigo 27 do ECA: “O reconhecimento do estado de filiação é direito
personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais
ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observando o segredo de Justiça.”; e
súmula 149 do Supremo Tribunal Federal (STF): “É imprescritível a ação de
investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança”. Utiliza-se aqui
um pequeno resumo feito por Paulo Lôbo para descrever a classificação do direito
de investigar do filho: “O direito a investigar a paternidade ou a maternidade é
indisponível. O filho não pode celebrar negócio jurídico com o pai ou a mãe,
sujeitos a investigação, de modo a abrir mão do reconhecimento da filiação, em
troca de vantagens económicas. O negócio é ilícito por ter objeto ilícito, não
produzindo qualquer efeito jurídico. É também imprescritível (art. 27 do ECA e
Sumula 149 do STF), podendo ser proposto a qualquer tempo” (2009, p. 242).
Note-se que a jurisprudência, apoiada pela doutrina, ampliou o âmbito do
reconhecimento da filiação, passando a admitir ações em que os pretensos pais
não sejam os pais biológicos, ou seja, nos casos em que os filhos sejam de
criação. Assim, é possível um filho de criação solicitar o reconhecimento judicial da
filiação socioafetiva, beneficiando da imprescritibilidade do direito de agir que
qualquer outro filho tem e, possibilitando por no polo passivo da petição inicial
aqueles com quem, por terem como pais, possuem o vínculo socioafetivo. A
legislação constitucional brasileira prevê a igualdade dos filhos nascidos dentro e
fora do casamento – art. 227, § 6º: “Os filhos, havidos ou não da relação do
casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. (BRASIL, 2014, on
line). Reproduzindo ipsis verbis o dispositivo constitucional, o Código Civil brasileiro
dispõe em seu artigo 1596 que “Os filhos, havidos ou não da relação de
casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. Nicoletti Camillo, em
comentário ao supramencionado artigo, faz uma divisão, para fins apenas
didáticos, entre filiações matrimoniais e não-matrimoniais, isto porque o
reconhecimento judicial da filiação no Brasil tomou contornos que, se não for assim
dividido, torna-se difícil de ensiná-la. Desde logo, em muitos casos os Tribunais
Penais vêm perdoando a “adoção à brasileira” que é a adulteração intencional do
estado civil de uma pessoa, um crime punível de acordo com a lei penal, e os
Tribunais Civis, por sua vez, vêm reconhecendo a relação estabelecida neste tipo
de adoção. Nicoletti Camillo entende que “Por filiação, compreenda-se o vínculo ou
nexo familiar existente entre pais e filhos. Esse vínculo pode ser oriundo de uma
relação sexual, inseminação artificial (homóloga ou heteróloga), fertilização na
proveta, ou ainda, pela socioafetividade, aqui representada pela adoção, “adoção à
brasileira e inseminação heteróloga” (2009, p. 1901-1902). Porém, a perceção da
filiação como social e não sanguínea não é um entendimento recente no Brasil.
João Baptista Villela, em 1979, no artigo “Desbiologização da Paternidade”,
defendia uma relação paterno-filial baseada no amor “não será difícil identificar
uma persistente intuição que associa a paternidade antes com o serviço que com a
procriação. Ou seja: ser pai ou ser mãe não está tanto no fato de gerar quanto na
circunstância de amar e servir (2014, on line). Por fim, colaciona-se a numeração
de duas decisões brasileiras onde demonstra-se a possibilidade jurídica do pedido
de reconhecimento judicial da maternidade e paternidade sociofetiva, são elas:
428 Movimentos, Direitos e Instituições
REFERÊNCIAS
204
Fábio Luiz Tezini Crocco
RESUMO
204
Graduado em Ciências Sociais, Mestre em Filosofia e Doutor pelo Programa de
Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista (UNESP-
Marília). Doutorando visitante do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade
de Coimbra, financiado pelo Programa Institucional de Doutorado Sanduíche
(CAPES–PDSE). Bolsista da CAPES – Proc. n. 1912/13-5. E-mail: <fabiocrocco@
nepomuceno.cefetmg.com.br>.
434 Movimentos, Direitos e Instituições
INTRODUÇÃO
205
Walter Benjamin em seu ensaio “Paris, Capital do Século XIX” relata: "Baudelaire
sabia como se situava, em verdade, o literato: como flâneur ele se dirige à feira;
pensa que é para olhar, mas, na verdade, já é para procurar um comprador. Nessa
fase intermediária, em que ainda tem um mecenas, mas já começa a se familiarizar
com o mercado, ela aparece como bohème”. (1994, p. 30).
206
Inquéritos realizados com os representantes dos músicos de Portugal: Margarida
Barata – Coordenadora do CENA (Inquérito realizado no Porto dia 22 de julho de
2013). Nuno Simões – Coordenador da GDA (Inquérito realizado no Porto dia 18 de
setembro de 2013). Amália Pereira – Coordenadora da GDA (Inquérito realizado no
Porto dia 18 de setembro de 2013). Manuel Vaz Pires da Rocha – Diretor do
Conservatório Musical de Coimbra (Inquérito realizado em Coimbra dia 10 de
setembro de 2013). Paulo Faustino – Coordenador da SPA (Inquérito realizado em
Coimbra dia 15 de outubro de 2013). Tozé Brito – Administrador responsável pela
área musical da SPA (Inquérito realizado em Lisboa dia 29 de outubro de 3013).
Pedro Oliveira – Diretor da GDA (Inquérito realizado em Lisboa dia 29 de outubro
de 2013).
436 Movimentos, Direitos e Instituições
207
Passar-se-á a denominar o Regime Laboral dos Profissionais de Espectáculos
pela sigla RLPE.
208
O RLPE foi alterado primeiramente pela Lei 105/2009, de 14 de setembro, que
regula a participação do menor em atividade de natureza cultural, artística e
publicitária e, posteriormente alterado pela Lei 28/2011, de 16 de junho, que aprova
o regime dos contratos de trabalho dos profissionais do espetáculo e estabelece o
regime de segurança social aplicável a eles. Está submetido ao Código de
Trabalho e às suas alterações, pois conforme é declarado no documento dos
profissionais do espetáculo, em tudo que não estiver previsto em suas normas
aplica-se as regras dispostas no Código do Trabalho e na sua respectiva
regulamentação, assim como o regime de segurança social aplicável aos
trabalhadores por conta de outrem.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 439
209
Embora realiza-se a crítica às disfunções dos contratos temporários e
intermitentes, para a grande parte dos músicos e representantes musicais o novo
regulamento representou avanço num país em que anteriormente não havia
proteção formal específica.
440 Movimentos, Direitos e Instituições
210
Os trabalhadores independentes formam uma categoria diversificada e
heterogênea, pois unem em sua denominação figuras distintas como patrões e
trabalhadores por conta própria. Mais detalhes sobre a heterogeneidade dos
trabalhadores independentes podem ser encontrados nos artigos 133° ao 138°, da
Lei n. 110/2009, de 16 de setembro.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 441
211
Essa legislação foi alterada e complementada pelas Leis n.s 45/85, de 17 de
Setembro, e 114/91, de 3 de Setembro, e Decretos-Leis n.s 332/97 e 334/97,
ambos de 27 de Novembro, pela Lei n. 50/2004, de 24 de Agosto, pela Lei n.
24/2006 de 30 de Junho e pela Lei n. 16/2008, de 1 de Abril.
212
Para mais detalhes ver o Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos
(CDADC).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 443
215
A AUDIOGEST é a entidade de Gestão Colectiva de Direitos dos Produtores
Fonográficos e representa os interesses da Associação Fonográfica Independente
(AFI) e a Associação Fonográfica Portuguesa (AFP).
446 Movimentos, Direitos e Instituições
216
Formadas principalmente por empresas como a Walt Disney Inc., NBC Universal,
Time-Warner, CBS, Toshiba, Wal-Mart etc., além das grandes associações de
empresas de entretenimento, como a Record Industry Association of America e a
Motion Pictures Association of America.
217
Empresas como o Google, Facebook, Spotify, Ebay, Wikipedia, Yahoo!, Mozilla etc.
218
Como é o caso dos contratos de disponibilização dos repertórios das editoras
musicais nas plataformas virtuais de música streaming ou nos contratos dos
produtores com plataformas de venda de música on-line.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 447
219
No fim de 2011 e início de 2012, diante das discussões parlamentares sobre a
aprovação dos novos dispositivos da lei de copyright, foi deflagrada nos EUA uma
oposição entre dois modelos de gestão econômica da informação. O Stop Online
Piracy Act (SOPA) e o Preventing Real Online Threats to Economic Creativity and
Theft of Intellectual Property Act (PIPA) são projetos de lei muito similares que foram
elaborados sob influência das indústrias de entretenimento, principalmente pela
MPAA. Eles propõem medidas de alteração aos direitos autorais e à propriedade
intelectual com a finalidade de atuar de forma mais rígida e enfática contra o
desrespeito dos direitos intelectuais nas redes virtuais, não apenas nos EUA, mas em
todo o mundo, inclusive criminalizando os usuários comuns de música.
448 Movimentos, Direitos e Instituições
220
Os trabalhadores independentes (autônomos) podem se dividir em trabalhadores
por conta própria com pessoal ao serviço, quando empregam outros trabalhadores
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 451
CONCLUSÃO
221
Explica-se que se trata de uma forma de distribuição de dados através da internet,
na qual as informações não são armazenadas pelo usuário em seu próprio
computador. O usuário recebe o "stream", a transmissão dos dados, acessa a
informação, mas não copia o arquivo.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 453
REFERÊNCIAS
com.br/resources/anais/3/1308327591_ARQUIVO_Precariedadelaboraleaem
ergenciadenovosactoressociolaborais.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2015.
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regime dos contratos de trabalho dos profissionais do espectáculo. Estudos
dedicados ao Professor Mário Fernando de Campos Pinto – Liberdade e
Compromisso. Lisboa: Universidade Católica, 2009. V. II. p. 269-274.
GREFFE, Xavier. L´emploi culturel a lá´age du numerique. Paris: Antropos,
1999.
KOVÁCS, Ilona. Emprego flexível em Portugal. Sociologias, Porto Alegre, V.
6, n. 12, p. 32-67, 2004.
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de Autor e dos Direitos Conexos. Diário da República, n. 61, I Série, de 14-
03-1985. Disponível em: <https://dre.pt/application/dir/pdf1sdip/1985/03/0610
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_______. Lei n. 110 de 16 de Setembro de 2009. Código dos Regimes
Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social. Disponível
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em: 18 fev. 2015.
_______. Lei n. 4 de 7 de Fevereiro de 2008. Dispõe sobre o Regime Laboral
dos Profissionais de Espectáculos. Diário da República, I Série, n. 27, 7 fev.
2008. Disponível em: <http://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf?path=6
148523063446f764c3246795a5868774d546f334e7a67774c336470626e526c
654852766331396863484a76646d466b62334d764d6a41774f43394d587a52
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18 fev. 2015.
REBELO, Glória. Flexibilidade e precariedade no trabalho: análise e
diagnóstico. Lisboa: Fundação Para a Ciência e Tecnologia, 2004.
ROQUETA BUJ, Remedios. El trabajo de los artistas. Valencia: Tirant Lo
Blanch, 1995.
CAPÍTULO 19
222
Fernanda Forte de Carvalho
RESUMO
O artigo apresenta uma síntese dos resultados da investigação sobre
a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o seu posicionamento
durante a vigência do Governo Lula no período 2003-10. Momento
em que, no espaço da cidadania (SANTOS, 2000), para além da
pauta sindical relacionada às reinvindicações trabalhistas e às ações
de confronto, a CUT passou a priorizar a articulação de uma pauta
em prol do desenvolvimento do país, com uma ampla agenda de
negociação. A ação da CUT, neste período, passou a incorporar
novos atores sociais, em especial, as centrais sindicais. Neste
sentido, objetiva-se apreender os significados desta relação
associativa (WEBER, 2009). O estudo busca averiguar quais foram
às influências deste governo para a possível conformação de uma
nova institucionalização (PANEBIANCO, 2005) da central sindical no
início do século XXI. Sendo assim, identificar-se-ão não só os fatores
que determinaram maior intensidade da ação desenvolvida entre as
centrais sindicais, mas também as perspectivas para uma nova
institucionalização neste período. Os resultados obtidos permitiram
222
Socióloga. Doutora em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de
Coimbra (FEUC), na especialidade de Relações de Trabalho, Desigualdades
Sociais e Sindicalismo. Membro do Grupo de Pesquisa Trabalho, Sindicalismo e
Sociedade, sediado na Universidade de São Paulo (USP). E-mail: <feforte@
hotmail.com>.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 457
INTRODUÇÃO
223
Os ramos reconhecidos pela CUT são: Comércio e Serviços; Seguridade Social;
Profissionais Liberais; Vestuário; Educação; Construção e Madeira; Urbanitário;
Alimentação; Financeiro; Metalúrgico; Aposentados; Químico; Rural; Comunicação
e Informação; Administração Pública; Transporte; Municipais.
458 Movimentos, Direitos e Instituições
224
Considerando este recorte temporal, analisar-se-á a trajetória da CUT nas gestões
2003-2006, 2006-2009 e 2009-2012.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 459
225
A divisão do imposto sindical para os trabalhadores é feita da seguinte forma: 5%
para as confederações, 15% para as federações, 60% para os sindicatos e 10%
para a Conta Especial Emprego e Salário.
226
A partir de 2012, a CGTB não atingiu a representatividade mínima de 7%, desde 2011
as disputas internas resultaram em mais pulverização sindical. Atualmente, as principais
lideranças da CGTB dividem-se entre a opção por permanecer na CGTB ou alçar-se
para a construção da CSB, que recentemente obteve o reconhecimento pelo MTE.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 461
227
Os dirigentes ligados ao PSTU e a CSC sob forte influência do Partido Comunista
do Brasil (PC do B) tiveram representações sindicais dentro da CUT; no entanto, a
partir de 2003, a opção política adotada centrou-se na organização de projetos
sindicais próprios. Assim, a Conlutas agrupa significativo número de dirigentes
ligados ao PSTU e a CTB agrupa majoritariamente dirigentes ligados ao PC do B.
Vale lembrar que, nestas centrais sindicais os agrupamentos políticos também
podem reunir dirigentes sindicais de outros partidos políticos e dirigentes sem
filiação partidária.
468 Movimentos, Direitos e Instituições
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
228
Gloriete Marques Alves Hilário
229
Maurício Dias dos Santos
RESUMO
O principal alvo da crítica foucaultiana são as formas de controle
exercidas nas instituições sociais, formas de sujeição que cerceiam o
indivíduo a uma determinação própria. Por esse sentido há três
modos de determinação do sujeito: um que permite pensá-lo por
práticas de objetivação por meio da Ciência, outro que permite pensá-
lo por práticas discursivas que desempenham papel de produtoras
228
Doutoranda em Sociologia (Relações de Trabalho, Desigualdades Sociais e
Sindicalismo) pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC),
tendo o Centro de Estudos Sociais (CES) como a Instituição de acolhimento de
investigação. Mestre e Especialista na mesma área. Graduada em Direito pela
Universidade Salgado de Oliveira, com intercâmbio no âmbito da graduação em
Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Leciona na Faculdade
de Jussara (FAJ), Faculdade de Ciências e Educação de Rubiataba (FACER),
Faculdade Integrada de Goiás (FIG) e Arctempos. É associada ao Núcleo de
Estudos Luso-Brasileiros da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. E-
mail: <glomalves@yahoo.com.br>.
229
Graduado em Direito pela Faculdade Católica Dom Orione (FACDO). Pós-
graduado (Especialista) em Direito Constitucional pela Faculdade de Ciências
Sociais Aplicadas de Marabá (FACIMAB). Servidor Público Federal no Cargo de
Auditor na Universidade Federal do Tocantins (UFT). E-mail: <mausedias2@gmail.
com>.
474 Movimentos, Direitos e Instituições
INTRODUÇÃO
230
Neste texto, quando os autores se referirem a Direito, significa conjunto de
parâmetros legais estabelecidos formalmente, direito em sentido normalizador de
condutas; já quando se referirem a direito, o fazem no sentido amplo da palavra,
independente de aparato formalmente pré-constituído.
476 Movimentos, Direitos e Instituições
1. A (DES)CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO.
231
Documentário dirigido por Maria Augusta Gusmão e que retrata uma série de
audiências criminais nas salas de audiências do Fórum da cidade do Rio de
Janeiro no ano de 2004. O filme foi de insigne importância aos debates que
antecederam a proposta da Emenda Constitucional de número 45, também
conhecida como Reforma do Judiciário no Brasil.
232
O cogito cartesiano enseja-se na premissa penso, logo existo.
478 Movimentos, Direitos e Instituições
Você não está obrigado a responder o que eu vou lhe perguntar. Eu lhe
pergunto se essa acusação é verdadeira. É verdadeira?
O homem então responde: não, não senhor.
O juiz refuta: não é verdadeira? Você não praticou esse fato?
Homem: Não...
Juiz: Como é que se deu a sua prisão?
Homem novamente aduz: Oh, vou explicar ao sinhô. Eu tava lá no
carnaval na Cruz do Méia. Aí nisso, saiu uma correria com aqueles
negócio de espuminha. Os PM do terceiro batalhão vieram correndo.
Eu, pra me defender, que eles começaram a dá tiro pro auto lá, eu fui e
entrei na rua. Quando eu entrei na rua, tava vindo já esses três
elementos com vários negócio na mão. Aí, os policial abordaram
pedido pra eles pará. Nisso que eles mandaram eles pará, eles foram
tudo correndo e largaram os objeto tudo assim no chão. E nisso eu
tava passando no momento, que eu ia pedi carona o amigo lá do carro
que transporta jornal, pra poder me tirar dali. Aí, nisso os policial me
abordaram, pegaram e me botaram junto e falaram: rapa! Cadê os zoto
que tava aí? Não, num sei quem é não meu tio. Cadê os zoto que tava
contigo? Num sem quem é não. Aí foi, eles me tiraram da cadeira, me
jogaram no chão, me bateram aqui nas costa, me bateram no rosto e
me levaram pra vinte cinco D.P. Aí chego lá, me fizeram assinar um
montão de papel e falaram: oh rapa! Se tu num fala vai ser pior pra ti,
pro teu caso. Bá! Aí eu: oh, meu tio. Oh, meu dôto, por chefe, eu to
contando a verdade pro sinhô, pow! Olha só com tá meu estado pow!
Que estado eu tenho de ficar arrombando casa. O muro lá que o sinhô
falô, o mura da casa era alto. Aí ele falô: oh, rapá! Isso aí é historia pra
boi dormir, cadê os zoto? Por, num conheço ninguém não meu chefe.
Tanto é que, pow, eu posso...
De maneira abrupta, o juiz interrompe a explicação: Tá bom. O que
você faz da vida? Você trabalha?
O homem: Eu só guardador de carro, eu...
Interrompendo novamente o homem, o juiz dita ao escrevente: Que
não é verdadeira a acusação, ponto e vírgula. Que não praticou o fato
narrado na denúncia...
Novamente o juiz: Que dizer que você foi preso em dia de carnaval?
O homem responde: foi...
O juiz: conhecia os três elementos que estavam correndo?
O homem: não sinhô.
O juiz dita ao escrevente novamente: Que não conhecia os três
elementos que passaram correndo. Você tem advogado?
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 481
233
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes; [...]”.
486 Movimentos, Direitos e Instituições
234
Fonte: Blog Léo Quintino: política, comunicação e um pouco do muno .
234
Disponível em: <http://www.leoquintino.com.br/index.php/charges-justiça-indecente>.
Acesso em: 15 maio 2015.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 493
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
FONSECA, Márcio Alves da. Michel Foucault e o Direito. São Paulo: Max
Limonad, 2002.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. Tradução de Maria
Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
_______. Microfísica do Poder. Tradução de Roberto Cabral de Melo
Machado. 22. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006a.
_______. A verdade e as formas jurídicas. Tradução de Roberto Cabral de
Melo Machado, Eduardo Jardim Morais. 3. ed. Rio de Janeiro: NAU, 2005.
_______. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2006b.
JUSTIÇA. Direção e produção de Maria Augusta Ramos. Documentário.
Brasil: produção independente, 2004. 1 DVD (100 min). Disponível em: <ht
tps://www.youtube.com/watch?v=75P1KTTTjj0>. Acesso em: 15 maio 2015.
CAPÍTULO 21
Nuno Porto236
237
Cristina Sá Valentim
RESUMO
235
Este artigo corresponde a uma reformulação da comunicação apresentada e
discutida no “Colóquio Internacional Ciência e Conhecimento Colonial”, organizado
pelo Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa e pelo Centro de
História do Instituto de Investigação Científica Tropical, ocorrido em Lisboa, na
Fábrica Braço de Prata, 26-29 de novembro de 2013. Agradece-se a todos os
presentes no Colóquio os comentários críticos e que integram esta versão.
236
Doutor em Antropologia Social e Cultural pela Universidade de Coimbra (UC),
tendo realizado a sua investigação doutoral sobre o Museu do Dundo, Diamang,
Angola. Atualmente é Curator for Africa and Latin America no Museum of
Anthropology, e Associate member do Department of Art History, Visual Art &
Theory, na University of British Columbia, Canadá. E-mail: <nuno.porto@ubc.ca>.
237
Licenciada e Mestre em Antropologia Social e Cultural pela Universidade de
Coimbra (UC). É doutoranda em Sociologia no Programa de Pós-Colonialismos e
Cidadania Global, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
(CES-UC), com o apoio de uma Bolsa de Doutoramento da Fundação para a
Ciência e a Tecnologia (FCT - Ref. SFRH/BD/85530/2012), cofinanciada pelo
Fundo Social Europeu (FSE) por meio do Programa Operativo Potencial Humano
(POPH) e por fundos nacionais. Realiza pesquisa sobre o “folclore musical nativo”
no contexto colonial da Diamang (1940-1970). E-mail: <cristina.valentim@gmail.com>.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 499
INTRODUÇÃO
238
Destacam-se os seguintes títulos: Porto Cidade Invicta, Fauna Africana, Dom
Quixote [desenhos animados coloridos], Assistência nas Maternidades da
Diamang, Procissão da Nossa Senhora da Conceição, O Chimpanzé
Bombeiro, Ben Hur no fosso dos leões, Os Descobrimentos Henriquinos,
Marchas Populares de Lisboa (NMFM, V.III, NR, n. 193, 1965).
502 Movimentos, Direitos e Instituições
1 O FILME: A NARRATIVA.
Fotogramas 1 e 2
504 Movimentos, Direitos e Instituições
Fonte: A TERRA RICA. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA
DIAMANG.
239
Este quadro legal não entrou em vigor em todas as colónias portuguesas, excluindo
da sua abrangência Cabo Verde, Macau e o Estado da Índia, e só a partir de 1946
é que se aplica nas colónias de São Tomé e Príncipe e de Timor, vindo a ser
abolido oficialmente em 1961. (THOMAZ, 2001, p. 61).
506 Movimentos, Direitos e Instituições
Fotogramas 3 e 4
240
O trabalho forçado, ou obrigatório, foi estando sempre salvaguardado na legislação
que sucedeu ao Regulamento do Trabalho Indígena de 1899, mesmo tendo sido
abolido juridicamente em 1928 pelo Código do Trabalho dos Indígenas das
Colónias Portuguesas de África. Nessa legislação, e como assinala Elizabeth Cruz,
“A liberdade de escolha do trabalho por parte dos indígenas, não choca com o
direito que assiste ao governo de ‘fiscalizar e tutelar beneficamente o seu trabalho
em regime de contrato’, pode ler-se no art. 4º do Código. […] O carácter oficial do
recrutamento por parte do estado e de particulares encontra expressão na
existência de licenças de recrutamento, de agências, agentes e auxiliares de
recrutamento […] [de forma a] ‘combater a tendência do indígena para a ociosidade
[…], vencer a irresolução do indígena para o trabalho’”. (CRUZ, 2005, p.155). No
contexto das minas da Diamang, a mão de obra contratada era constituída por
homens indígenas que viviam em aldeias afastadas da área de exploração
mineira, onde eram recrutados sob coação.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 509
Fonte: A Terra Rica. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA
DIAMANG.
Fotogramas 5, 6 e 7
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 511
Fonte: A Terra Rica. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA
DIAMANG.
Fotogramas 8 e 9
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 513
Fonte: A Terra Rica. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA
DIAMANG.
Fonte: A Terra Rica. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA
DIAMANG.
Fotogramas 12 e 13
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 515
Fonte: A Terra Rica. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m. UNIVERSIDADE
DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA DIAMANG.
Fotogramas 14 e 15
516 Movimentos, Direitos e Instituições
Fonte: A Terra Rica. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA
DIAMANG.
Fonte: A Terra Rica. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA
DIAMANG.
Fotogramas 17 e 18
Fonte: A Terra Rica. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA
DIAMANG.
Fonte: A Terra Rica. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA
DIAMANG.
4. AS TRADIÇÕES DA LUNDA
Fotograma 21
Fonte: A Terra Rica. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA
DIAMANG.
Fonte: A Terra Rica. Filme/Documentário produzido pela Diamang, ano de 1973, VHS, 30 m.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ARQUIVO AUDIOVISUAL DOS SERVIÇOS CULTURAIS DA
DIAMANG.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
241
Tiago Anderson Brutti
RESUMO
INTRODUÇÃO
242
A política nada tem a ver, conforme Arendt (2011), com a tarefa ilusória de
construir um mundo tão transparente para a verdade como a criação de Deus. Se
isso fosse assim, deveríamos aceitar que, no sentido do mito judaico-cristão, o
homem, criado à imagem de Deus, recebeu uma capacidade genética para
organizar os outros à imagem da criação divina. A criação do homem por Deus, na
diversidade de todos os homens entre si, está contida na pluralidade. Daí que a
política, no sentido em que é entendida pela autora, organiza, de antemão, as
diversidades de acordo com uma igualdade relativa e em contrapartida às
diferenças relativas.
243
A pressão e a violência sempre foram, acentua Arendt (2011), meios para fundar,
proteger e ampliar o espaço político. Trata-se, na opinião da filósofa, de fenômenos
marginais que, não obstante pertencerem ao fenômeno da coisa política, não se
confundem com ela. A liberdade enquanto objetivo final da política estabelece as
fronteiras políticas, contudo o critério do agir dentro do próprio âmbito político não é
mais a liberdade, mas sim a competência e a capacidade de assegurar a vida.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 531
244
A expressão zoon politikon é usada por Aristóteles para descrever a dimensão
social e política dos homens livres que habitavam a pólis. O termo designava uma
determinada configuração organizacional da vida humana. Arendt salienta que a
política, com o sentido original de liberdade, caracteriza o convívio dos homens na
pólis, não se reproduzindo necessariamente em outras formas de convívio humano.
Para a autora, a política, tal como compreendida por Aristóteles, “não é, de maneira
nenhuma, algo natural, e não se encontra, de modo algum, em toda parte onde os
homens convivem”. (ARENDT, 2002, p. 46-47).
245
No original: “state of nature as a war of all against all”. (HOBBES, 2004, p. 110).
532 Movimentos, Direitos e Instituições
246
Diversas obras literárias, dentre as quais a célebre Nineteen eighty-four, de Orwell
(1984), apresentam, usando o estilo da redução ao absurdo, estados sociais nos
quais a igualdade caracteriza uma sociedade massiva na qual os indivíduos
permanecem devotados, semiconscientemente, às causas emanadas de um
partido, representando supostamente a totalidade dos interesses ou a vontade
generalizada. Descrevem-se personalidades fantásticas caracterizadas pela
compulsão de domínio e eventualmente pela solidariedade ou crueldade com que
levam a efeito suas iniciativas, sendo capazes de estabelecer em seu proveito uma
ordem forçosamente opressora da individualidade. No caso do livro 1984, é
apresentada uma sociedade meticulosamente monitorada e manipulada para
permitir que o poder central evite a perversão da ordem totalitária estabelec ida. Tão
534 Movimentos, Direitos e Instituições
real é essa tragédia que podemos reconhecer traços dessas criações ficcionais nos
mais diversos eventos narrados no percurso da história humana, os quais nos
mostram sucessos e fracassos de iniciativas destinadas a estabelecer uma ordem
social divorciada da liberdade de opinião e de iniciativa, e implacável em suas
práticas de domínio do pensamento.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 535
entre eles ainda subsistiam leis contra essa liberdade sob o pretexto
de um falso patriotismo.
Condorcet (1793) argui que o pacto social tem por objeto o
gozo igual e integral dos direitos que pertencem ao homem. Esse
acordo é fundamentado na garantia mútua desses direitos. Essa
garantia, no entanto, pode não ser aplicável aos indivíduos que
queiram dissolver o pacto social. O filósofo consente que, se um
direito mais precioso for ameaçado, e se, para conservá-lo, for
preciso sacrificar o exercício de outro direito menos importante,
então, desse modo, exigir esse sacrifício não implicaria violar o último
247
direito .
Nenhuma legislação que admita a desigualdade étnica, de
gênero, religiosa e ideológica deveria ser admitida pelas sociedades
civilizadas. Condorcet (2009) equipara a redução do homem à
escravidão ao crime de roubo, porque não seria razoável e admissível
que a alguém fosse reconhecido o direito de dispor de sua própria
liberdade, muito menos o de se apropriar da liberdade dos outros. A
liberdade, declarada um direito natural, não deveria, pois, ser
considerada objeto de negócio. O autor propugna que a liberdade
consiste em poder fazer tudo aquilo que não é contrário aos direitos
dos outros indivíduos248. Logo, o exercício dos direitos encontra seu
limite no estatuto dos direitos assegurados aos demais membros da
sociedade. O homem, dessa maneira, é igualmente livre para
expressar seus pensamentos e opiniões, mas não o é para usar da
força a fim de reprimir as manifestações dos outros.
Ao cobrir os diferentes indivíduos de direitos naturais
constituintes da humanidade e da cidadania, Condorcet (2009)
denunciou que o sequestro de indivíduos nas fronteiras do continente
africano; a submissão deles, assim como de sua descendência, a um
regime de trabalho escravo; e as indiferenças sociais frente aos maus
tratos a que eles eram submetidos, constituíam uma flagrante
injustiça e perversidade, oriunda de hábitos repulsivos herdados do
passado; envergonhavam profundamente o ideário social iluminista; e
247
Esse debate é levado a efeito, sobretudo, no texto Sobre o sentido da palavra
revolucionário (1793).
248
Esse é o conceito de liberdade desenvolvido no artigo segundo do Projeto de
declaração dos direitos naturais, civis e políticos dos homens (1793),
apresentado por Condorcet à Assembleia Nacional nos dias 15 e 16 de fevereiro de
1793, em nome do Comitê de Constituição. Essa proposta de Constituição ficou
conhecida como a Constituição Girondina. Esse projeto foi acrescido ao livro
Condorcet: instituir al ciudadano, de Coutel (2004).
536 Movimentos, Direitos e Instituições
249
Nota dos Revisores: esse texto, supreendentemente, ainda não foi vertido ao
português. Sua publicação original é de 1781, mas o autor do presente artigo usou
a versão em francês, publicada em 2009, conforme consta nas Referências, ao
final do presente Capítulo.
538 Movimentos, Direitos e Instituições
agrava quando ele associa o fato da aprovação de uma lei que fira os
direitos de todos os homens à autoria de um crime cometido pelos
legisladores que a tivessem aprovado: “Uma lei injusta que viole o
direito dos homens, sejam nacionais, sejam estrangeiros, é um crime
cometido pelo legislador, situação na qual os membros do corpo
legislativo que subscreveram essa lei são todos cúmplices”. (2009, p.
250
70) .
Condorcet (2013) considera que as sociedades políticas,
por dever de justiça, não deveriam ter objetivo maior que o de
preservar indistintamente os direitos daqueles que a integram.
Qualquer lei que violasse direitos humanos ou princípios racionais
deveria ser considerada uma lei injusta ou tirânica. O filósofo
denuncia, igualmente, o fato de que direitos e princípios que
justificavam a igualdade política e de fato entre mulheres e homens
estivessem sendo solenemente violados na medida em que as
mulheres, a metade do gênero humano, eram privadas do direito
inegociável de contribuir na formulação de leis que elas próprias eram
estimuladas pelos indivíduos masculinos a cumprir. Nas Cartas de
um burguês, o remetente lamenta:
250
Fragmento do original das Reflexões sobre a escravidão dos negros: “Une loi
injuste qui blesse le droit des hommes, soit nationaux, soit étrangers, est un crime
commis par le législateur, où dont ceux des membres du corps législatif quiont
souscrit à cette loi, sont tous complices”.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 539
CONCLUSÃO
251
Garcia pondera que “[...] em tempos de radicais embates e transformações
políticas nas estruturas e justificações da sociabilidade humana não é irrelevante
considerar que, desde o século 18, a recorrência aos termos república e
democracia e a ideia jurídico-normativa de que é obrigação da república garantir a
instrução universal de seus cidadãos não tenham sido objetos de contestação
programática; que divergências significativas se estabeleceram na disparidade de
significações e de formas com que diferentes sociedades conceberam e
ordenaram, desde aí, suas instituições e atividades educacionais” (2009, p. 192).
Todorov, por sua parte, indaga sobre qual base intelectual e moral, com o
enfraquecimento das utopias, queremos construir uma vida comum: “Para nos
comportarmos como seres responsáveis, precisamos de um plano conceitual que
possa fundamentar não somente nossos discursos, o que é fácil, mas também
nossos atos [...]. Durante os três quartos de século que precedem 1789 produziu-
se uma grande reviravolta que, mais do que qualquer outra, é responsável por
nossa presente identidade. Pela primeira vez na História, os seres humanos
decidem tomar nas mãos seu destino e colocar o bem-estar da humanidade como
objetivo principal de seus atos. Esse movimento emana de toda a Europa [é justo
acrescentar: dos Estados Unidos] e não apenas de um país, exprime-se através da
filosofia e da política, das ciências e das artes, do romance e da autobiografia”.
(2008, p. 9-10).
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 541
pelo autor deste artigo a propósito das leituras que vem fazendo há
cerca de 10 anos a respeito: a república, mais que outras formas de
governo, favorecem a instituição de uma sociedade moral e assegura
a pluralidade política; a educação republicana favorece a redução das
causas de dependência econômica e política; a igualdade de
instrução contribui para o aperfeiçoamento das artes, das ciências e
profissões, não somente reduzindo a desigualdade que a situação
econômica estabelece entre os homens, mas, também, instituindo
outro gênero de igualdade mais geral: a do bem-estar. Os cidadãos,
por essa perspectiva, dispõem, potencialmente, de igual capacidade
de se relacionar sob formas que não sejam as do extermínio, da
intolerância, da opressão às diferenças, da dominação de uns sobre
outros e da indiferença.
REFERÊNCIAS
CONSELHO EDITORIAL
(em ordem alfabética)
PROF. DR. CARLOS ROBERTO ANTUNES DOS SANTOS (In Memoriam – Presidente de Honra). Pós-Doutorado em
História da América Latina pela Universidade de Paris III, França. Doutor em História pela Universidade de Paris X -
Nanterre, França, Mestre em História do Brasil pela UFPR - Universidade Federal do Paraná, Professor da UFPR -
Universidade Federal do Paraná. Reitor da UFPR - Universidade Federal do Paraná, (1998/2002). Membro do Conselho
Nacional de Educação (2003/2004) e do Conselho Superior da CAPES (2003/2004).
------
PROFA. DRA. ALICE FÁTIMA MARTINS. Doutorado em Sociologia pela Universidade de Brasília (2004).
Mestrado em Educação - área de Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico, pela Universidade de
Brasília (1997). Licenciatura em Educação Artística, habilitação em Artes Visuais, pela Universidade de
Brasília (1983). Atualmente é Professor Adjunto II na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal
de Goiás, onde coordena o Curso de Pós-Graduação em Cultura Visual.
PROF. DR. DOMINGO CÉSAR MANUEL IGHINA. Doutorado em Letras Modernas pela Universidade
Nacional de Córdoba (UNC-Argentina). Diretor da Escola de Letras da Faculdade de Filosofia e
Humanidades da Universidade Nacional de Córdoba. Professor da cátedra de Pensamento latino-
americano da Escola de Letras da Universidade Nacional de Córdoba. Membro do Conselho Editorial da
Revista Silabário.
participa do Conselho Fiscal de Companhias listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) e
ainda do Conselho Temático de Assuntos Tributários da Federação das Indústrias do Paraná (FIEP).
PROF. DR. EDUARDO BIACCHI GOMES. Pós-Doutor em estudos culturais pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro, com estudos realizados na Universidade Barcelona, Faculdad de Dret. Doutor em Direito
pela Universidade Federal do Paraná. Professor-pesquisador em Direito da Integração e Direito
Internacional da UniBrasil, Graduação e Pós-Graduação (Especialização e Mestrado). Membro do Grupo
Pátrias, UniBrasil, vinculado ao Cnpq. Professor de Direito Internacional da PUCPR, Consultor do
MERCOSUL para a livre Circulação de Trabalhadores (2005/2006). Foi Editor Chefe da Revista de Direitos
Fundamentais e Democracia, vinculado ao Programa de Mestrado em Direto das Faculdades Integradas
do Brasil, Qualis B1, desde a sua fundação e atualmente exerce as funções de Editor Adjunto.
PROFA. DRA. ELAINE RODRIGUES. Doutorado em História e Sociedade pela Universidade Estadual
Paulista - Júlio de Mesquita Filho (2002). Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá
(1994). Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (1987). Atualmente é professora
Adjunta do departamento de Fundamentos da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Estadual de Maringá.
PROF. DR. FERNANDO KNOERR. Doutor, Mestre em Direito do Estado e Bacharel pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). É Professor do Programa de Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania do
Centro Universitário Curitiba - UNICURITIBA, Professor de Direito Administrativo da Escola da
Magistratura do Paraná e da Fundação Escola do Ministério Público do Paraná. Foi Professor da
Universidade Federal do Paraná, Coordenador do Escritório de Prática Jurídica do Curso de Direito e Vice-
Procurador-Geral da mesma Universidade. É Membro do Instituto Brasileiro de Direito Administrativo, do
Instituto Paranaense de Direito Administrativo, do Instituto Catarinense de Estudos Jurídicos, do Instituto
Paranaense de Direito Eleitoral e do Instituto dos Advogados do Paraná. É Professor Benemérito da
Faculdade de Direito UNIFOZ e Patrono Acadêmico do Instituto Brasileiro de Direito Político.
PROFA. DRA. GISELA MARIA BESTER. Professora Universitária de Direito Constitucional. Advogada.
Mestre (UFSC) e Doutora (UFSC e Universidad Complutense de Madrid) em Direito. Pós-Doutoranda em
Direito Constitucional e Administrativo do Ambiente, na Universidade de Lisboa, sob a Supervisão do
Professor Doutor Catedrático Vasco Pereira da Silva. Consultora ad hoc da CAPES. Docente
Colaboradora no Programa de Mestrado Acadêmico em Direito Empresarial e Cidadania, do
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 545
PROF. DR. GUIDO RODRÍGUEZ ALCALÁ. Doutorado em Filosofia, na Diusburg Universität (1983), com
bolsa da Konrad Adenauer Stiftung. Mestre em Literatura, na Ohio University e The University of New
México, com bolsa de estudos da Fulbright-Hays Scholarship. Graduado em Direito pela Universidade
Católica de Assunção (Paraguai). Autor de numerosos livros de poesia, narrativa e ensaio, tendo já sido
publicado no Brasil a novela Caballero (tchê!, 1994) e o ensaio Ideologia Autoritária (Funag, 2005).
PROFA. DRA. JALUSA PRESTES ABAIDE. Pós-Doutorado na Université de Saint Esprit de Kaslik,
Líbano (2006). Doutora em Direito pela Universidade de Barcelona, Espanha (2000). Mestrado em Direito
pela Universidade Federal de Santa Catarina (1990). Graduada em Direito pela Universidade Federal de
Santa Maria (1985). É professora adjunta da Universidade Federal de Santa Maria. Integra o Conselho
Editorial da Revista Brasileira de Direito Ambiental.
PROF. DR. LUC CAPDEVILA. Pós-Doutorado, Professor Titular da Universidade de Rennes 2 (França),
em História Contemporânea e História da América Latina e Diretor do Mestrado de História das Relações
Internacionais. Membro do Conselho Científico da Universidade de Rennes 2 e do Conselho Editorial de
várias revistas científicas (CLIO Histoire, Femmes, Sociétés; Nuevo Mundo Mundos Nuevos; Diálogos;
Takwa). Especialista em História Cultural sobre conflitos sociais contemporâneos, dirige atualmente um
programa de investigação multidisciplinar sobre a Guerra do Chaco.
PROF. DR. LUIZ EDUARDO GUNTHER. Professor do Programa de Mestrado em Direito Empresarial e
Cidadania do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA. Doutor e Mestre em Direito pela Universidade
Federal do Paraná. Graduado em História pela Universidade Federal do Paraná. Leciona em cursos da
Graduação do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA. Desembargador Federal do Trabalho no
Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, TRT-PR, Brasil.
PROF. DR. LUIZ FELIPE VIEL MOREIRA. Pós-Doutorado pela Universidade Nacional de Córdoba,
U.N.C., Argentina. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Mestre em
História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Brasil. Professor Associado do
546 Movimentos, Direitos e Instituições
PROF. DR. MATEUS BERTONCINI. Pós-Doutor em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Doutor e Mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná. Professor do Programa de
Mestrado em Direito do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA). Leciona Direito Administrativo e
Processo Administrativo em cursos de graduação e pós-graduação na Faculdade de Direito de Curitiba e
na Fundação Escola do Ministério Público do Estado do Paraná. É autor de obras e artigos jurídicos. É
líder do grupo de pesquisa Ética, Direitos Fundamentais e Responsabilidade Social. Atualmente, vem
desenvolvendo pesquisa nas áreas de Direitos Fundamentais, Princípios Constitucionais da Ordem
Econômica e Responsabilidade Social Empresarial. Promotor de Justiça no Paraná.
PROF. DR. MARCO ANTÔNIO CÉSAR VILLATORE. Possui mestrado em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (1998) e doutorado em Diritto del Lavoro, Sindacale e della
Previdenza Sociale - Università degli Studi di Roma, La Sapienza (2001), revalidado pela UFSC e é Pós-
Doutor na Universitá degli Studi di Roma II, Tor Vergata. É coordenador - Curso de Espec. em Dir. do
Trabalho da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Presidente do INSTITUTO BRASILEIRO DE
CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS (IBCJS). Vice-Presidente do INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO
SOCIAL CESARINO JÚNIOR. Ex-Presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas do Paraná,
Membro de Comissões da Ordem dos Advogados do Brasil - Paraná, Professor Adjunto da Universidade
Federal de Santa Catarina, Membro do Centro de Letras do Paraná, Professor do UNINTER. Diretor do
Departamento de Direito do Trabalho do Instituto dos Advogados do Paraná. Tem experiência na área de
Direito, com ênfase em Direito, atuando principalmente nos seguintes temas: Direito do Trabalho,
Processo do Trabalho e Direito Internacional.
PROF. DR. OCTAVIO CAMPOS FISCHER. Graduado em Direito pela Universidade Federal do Paraná
(1993). Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (Desde julho de 2013) Mestre em
Direito Tributário pela Universidade Federal do Paraná (1999) Doutor em Direito Tributário pela
Universidade Federal do Paraná (2002). É professor de Direito Tributário do Mestrado, da Especialização
e da Graduação nas Faculdades Integradas do Brasil (Unibrasil). Foi professor colaborador do programa
de mestrado em direito do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP/DF) em 2012 e 2013. Foi Vice-
Coordenador do Programa de Mestrado em Direito da UniBrasil (2010-2011). Foi Conselheiro Titular da 7ª
Câmara do 1º Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda, atual Conselho Administrativo de
Recursos Fiscais - Carf (2003-2005). Foi Conselheiro Estadual da OAB/PR. Foi Presidente do Instituto de
Direito Tributário do Paraná/PR até junho de 2013.
Ensaios de Direito e de Sociologia a partir do Brasil e de Portugal: 547
PROF. DR. PAULO ROBERTO CIMÓ QUEIROZ. Doutorado em História Econômica pela Universidade de
São Paulo, USP, Brasil. Mestre em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
UNESP, Brasil. Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, Brasil.
PROF. DR. PAULO OPUSZKA. É Bacharel em Direito (2000) pelo Centro Universitário Curitiba. Mestre
em Direito (2006) e Doutor em Direito (2010) pela Universidade Federal do Paraná. É Professor de Direito
e Processo do Trabalho da Universidade Federal de Santa Maria. É Professor Convidado do Programa de
Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania do Centro Universitário Curitiba. Foi Professor de Direito
Econômico na Escola da Magistratura Federal do Paraná. Professor convidado da Especialização em
Direito do Trabalho, Processo e Mercado do Centro de Estudos Jurídicos do Paraná. É professor
licenciado de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho na Faculdade Campo Real de Guarapuava/PR.
Superintendente do Instituto Municipal de Administração Pública do Município de Curitiba de 2013-2015
PROF. DR. RENÉ ARIEL DOTTI. Doutor em Direito pela UFPR. Professor titular de Direito Penal da
UFPR. Professor de Direito Processual Penal no curso de pós-graduação da Universidade Federal do
Paraná. Vice-Presidente do Comitê Científico da Associação Internacional de Direito Penal. Presidente
Honorário do Grupo Brasileiro da Associação Internacional de Direito Penal (AIDP – Brasil). Presidente da
Comissão Nacional de Defesa da República e da Democracia do Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil. Presidente de Honra para o Brasil do Instituto Panamericano de Política Criminal –
IPAN. Membro da Sociedade Mexicana de Criminologia. Co-autor do anteprojeto de reforma da Parte
Geral do Código Penal (Lei n.º 7.209, de 11.07.1984). Co-autor do anteprojeto da Lei de Execução Penal
do Brasil (Lei n.º 7.210, de 11.07.1984). Relator do anteprojeto de nova lei de imprensa (Comissão da
Ordem dos Advogados do Brasil. Publicado no Diário do Congresso Nacional, n.º 103, seção II, de
14.08.1991). Membro da Comissão de Reforma da Parte Especial do Código Penal (Portaria n.º 581, de
10.12.1992, do Ministro da Justiça). Membro da Comissão instituída pela Escola Nacional da Magistratura
para a reforma do Código de Processo Penal. Membro da Comissão instituída pelo Ministro da Justiça
para promover estudos e propor soluções com vista à simplificação da Lei de Execução Penal. Ex-
membro do Conselho Diretor do Instituto Latino-americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e
Tratamento do Delinquente. Ex-Presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Ex-
Magistrado do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná. Ex-Secretário de Estado da Cultura.
PROF. DR. SERGIO ODILON NADALIN. Possui graduação em História (Licenciatura) pela Universidade
Federal do Paraná (1966), mestrado em História pela Universidade Federal do Paraná (1975) e doutorado
em História e Geografia das Populações - Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (1978).
Professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná, membro da
Associação Paranaense de História, da Associação Nacional de História, da Asociación Latinoamericana
de Población, da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, da Societe de Demographie Historique
e da Union Internationale pour Etude Scientifique de la Population. Pesquisador cadastrado no Conselho
548 Movimentos, Direitos e Instituições
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desde 1979 e membro fundador do Centro
de Documentação e Pesquisa dos Domínios Portugueses (CEDOPE), do Departamento de História da
UFPR; Lidera um grupo de pesquisa junto ao CNPq intitulado “Demografia & História”.
PROF. DR. TEÓFILO MARCELO DE ARÊA LEÃO JÚNIOR. Vice-coordenador do Mestrado (2013),
Professor do Mestrado (2012), Professor da Graduação (1999) e Graduado (1996) no UNIVEM (Centro
Universitário "Eurípides Soares da Rocha" de Marília-SP), mestre pela PUC (Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo em 2001) e doutor pela ITE (Instituição Toledo de Ensino de Bauru em 2012).
Advoga desde 1996.
PROFA. DRA. VIVIANE COÊLHO DE SÉLLOS KNOERR. Doutora em Direito do Estado e Mestre em
Direito das Relações Sociais pela PUC-SP. Especialista em Direito Processual Civil pela PUCCAMP.
Coordenadora e Professora do Programa de Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania do Centro
Universitário Curitiba – UNICURITIBA.
PROF. DR. WAGNER MENEZES. Professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP
- no programa de graduação e pós-graduação em Direito. É Mestre (PUCPR), Doutor (USP), Pós-doutor
(UNIVERSIDADE DE PÁDOVA -ITALIA) e Livre-Docente (USP). Realizou pesquisa e estágio junto ao
Tribunal Internacional Sobre Direito do Mar - Hamburgo, Alemanha - ITLOS (2007). Atualmente é árbitro
do Tribunal do Mercosul (Protocolo de Olivos) - Presidente da ABDI - Academia Brasileira de Direito
internacional; Coordenador do Congresso Brasileiro de Direito Internacional; Membro da Sociedade
Brasileira de Direito Internacional - Diretor executivo da Sociedade Latino Americana de Direito
Internacional (SLADI). Editor-Chefe do Boletim da Sociedade Brasileira de Direito Internacional (Revista
jurídica fundada em 1915) e dirige junto a Universidade de São Paulo o Núcleo de Estudos em Tribunais
Internacionais - NETI.