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A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA SOBRE A APRENDIZAGEM ESCOLAR: PERCEPÇÕES DE PROFESSORES DO 1º ANO DO

ENSINO FUNDAMENTAL

A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA


SOBRE A APRENDIZAGEM ESCOLAR:
PERCEPÇÕES DE PROFESSORES DO 1º ANO
DO ENSINO FUNDAMENTAL
The influence of the family-school relationship on school learning:
perceptions of teachers of the 1st grade of primary education

Bruna Paliga1; Rosane Fátima Vasques2.

1
Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões
- URI Erechim. Curso de Pedagogia. E-mail: bruninhapaliga@gmail.com
2
Doutoranda em Educação (Unisinos/bolsista CAPES); professora da Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões - URI Erechim. Curso de Pedagogia. E-mail: rosanevasques@uricer.
edu.br

Data do recebimento: 19/17/2017 - Data do aceite: 05/09/2017

RESUMO: A presente pesquisa investiga qual é a percepção de professores


sobre a influência da relação família-escola no processo de aprendizagem
das crianças. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de campo com professores
que atuaram, no ano de 2016, no 1º ano do Ensino Fundamental do Sistema
Municipal de Educação de Erechim, RS. A escolha dessa etapa deve-se ao
fato de que, nesse período, a criança inicia o processo de alfabetização; as-
sim, acredita-se que a presença da família pode auxiliar de maneira efetiva
no processo de aprendizagem das crianças. Elaborou-se um questionário para
verificar a percepção dos professores sobre a influência dessa relação em tal
período escolar. Os questionários coletados foram submetidos a análise de
conteúdo. As falas dos professores que participaram da pesquisa indicam que,
quando as famílias acompanham e participam ativamente da vida escolar dos
seus filhos, há uma melhoria no desenvolvimento de sua aprendizagem. Já no
caso das famílias que pouco participam da vida escolar de seus filhos, estes
apresentam maiores dificuldades de aprendizagem e falta de motivação para
estudar. Desse modo, a relação família-escola é imprescindível para o desen-
volvimento da aprendizagem escolar, sendo extremamente positiva quando
se dá de forma efetiva pelas duas instituições.
Palavras-chave: Relação família-escola. Aprendizagem. Alfabetização.

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Bruna Paliga - Rosane Fátima Vasques

ABSTRACT: This research investigates the perception of teachers about the


influence of the family-school relationship on children’s learning process.
Therefore, a field research was carried out with teachers that worked with
first grades of primary education in 2016 in the municipal educational system
of Erechim, Brazil. This grade was chosen because it is when children begin
their literacy process; thus, it is believed that the presence of the family can
effectively help in this learning process. A questionnaire was prepared to
verify what teachers’ perception of the influence of this relation on this school
period is. The collected questionnaires were submitted to content analysis. The
answers of the teachers who participated in the research indicate that, when
families follow and actively participate in their children’s school life, there
is improvement in the development of their learning. When families do not
fully participate of their children’s school life, children present more learning
issues and lack of motivation to study. As a result, the family-school relation
is indispensable for school learning development, being extremely positive
when both institutions fully engage in it.
Keywords: Family-school relationship. Learning. Literacy.

A pesquisa em foco investiga a percepção


Introdução de professores sobre a influência da relação
família-escola sobre a aprendizagem dos
No contexto atual, conforme expresso alunos.
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Para tanto, realizou-se uma pesquisa de
Nacional (Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro campo, utilizando-se um questionário di-
de 1996), a educação é um dever da família recionado aos professores que atuaram nas
e do Estado; logo, é um dever da família e da turmas de 1º ano do Ensino Fundamental
escola (BRASIL, 1996). Desse modo, a esco- nas escolas municipais de Erechim, RS no
la não é a responsável única pelo desenvol- ano de 2016. A escolha pelo 1º ano deu-se
vimento dos alunos: as duas instituições são porque, nesse período, os processos de desen-
responsáveis por essa tarefa. Nesse sentido, volvimento e de aprendizagem do aluno são
a relação que se estabelece entre a família e mais expressivos e perceptíveis. É quando
a escola é um aspecto fundamental na vida se espera que ele seja alfabetizado, passando
desses sujeitos, pois, se ambas as instituições a ler e escrever, o que antes não fazia parte
trabalharem em conjunto, podem possibilitar da sua vida escolar. Por esse período apre-
uma vida escolar mais significativa. sentar avanço mais significativo, acredita-se
Assim, acredita-se que a relação família- que os professores possam identificar com
-escola influi diretamente no meio escolar e maior clareza e facilidade a influência da
na aprendizagem dos alunos. Por essa razão, relação família-escola sobre o aprendizado
torna-se importante conhecer como se dá essa dos alunos.
relação, de forma que uma auxilie a outra e
Atualmente, a legislação torna obrigatória
torne o aprendizado realmente significativo.
e gratuita a Educação Básica, correspondente

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à idade entre os 4 e os 17 anos. É obrigação da Assim, o processo de alfabetização nos


família matricular toda criança que completa três primeiros anos dessa etapa de ensino
4 anos até 31 de março na pré-escola. Além torna-se muito significativo. Salienta-se que,
disso, a Lei n.º 11.274, de 6 de fevereiro de nesse período, não se esgotam as capacidades
2006, alterou a redação da Lei n.º 9.394/96, linguísticas e comunicativas, “pois estas se
reforçando a matrícula obrigatória a partir desenvolvem ao longo de todo o processo
dos 6 anos de idade no 1º ano do Ensino de escolarização e das necessidades da vida
Fundamental (BRASIL, 2006). Portanto, a social” (GUEDES-PINTO et al., 2008,
referida lei antecipou em um ano a entrada p. 14). Além disso,
da criança nessa etapa de ensino, inserindo-a,
Sabe-se, também, que o trabalho a ser
consequentemente, no ciclo de alfabetização
feito nesses três anos iniciais não se esgota
escolar.
na alfabetização ou no desenvolvimento
Nesse sentido, a alfabetização, a qual dessas capacidades lingüísticas. Mas elas
envolve os três primeiros anos do Ensino são importantes porque é na alfabetização
Fundamental, é uma etapa em que os alunos e no aprendizado da língua escrita que vêm
têm um salto significativo em sua aprendi- se concentrando os problemas localizados
zagem, especialmente no 1º ano, quando não apenas na escolarização inicial, como
passam a aprender a usar o código da escrita também em fracassos no percurso do aluno
para se comunicar. Conforme Ferreiro (1988, durante sua escolarização. (GUEDES-
p. 24), “o desenvolvimento da alfabetização -PINTO et al., 2008, p. 14)
ocorre, sem dúvida, em um ambiente social”,
ou seja, as crianças e adolescentes não apren- Percebe-se, então, a importância dos
dem somente na escola; elas possuem uma três primeiros anos de escolarização para
leitura de mundo, e esta pode ser utilizada o processo de alfabetização da criança.
pelo professor em sala de aula no processo Desse modo, analisar como os professores
de alfabetização, auxiliando, assim, na apren- percebem a relação família-escola no 1º ano
dizagem das crianças. do Ensino Fundamental e sua influência no
Ainda, como argumenta Soares (2003, processo de aprendizagem do educando faz-
p. 1), “a alfabetização é uma parte consti- -se de extrema relevância.
tuinte da prática de leitura e da escrita, ela
tem uma especificidade, que não pode ser O Papel da Família na Vida Escolar
desprezada”. Logo, é preciso valorizar os Segundo o dicionário Aurélio (FER-
saberes trazidos de casa pelos alunos, bem REIRA, 1986), família significa: “Pessoas
como trabalhar na escola com as suas vivên- aparentadas que vivem na mesma casa, par-
cias e experiências. ticularmente o pai, a mãe e os filhos. Pessoas
De acordo com Guedes-Pinto et al. (2008, do mesmo sangue. Origem, ascendência”.
p. 14), o processo de “desenvolvimento das Assim, quando se pensa em família, a pri-
capacidades linguísticas de ler e escrever, meira ideia que surge é o modelo de família
falar e ouvir com compreensão, em situações nuclear, aquele modelo considerado por mui-
diferentes das familiares, não acontece es- to tempo o exemplo de família, constituída
pontaneamente”. Isso significa que precisam por pai, mãe e filhos. Nesse modelo, quem
ser ensinadas sistematicamente, o que ocorre, garante o sustento da família é o pai, e a mãe
especialmente, nos Anos Iniciais do Ensino é encarregada das tarefas domésticas e da
Fundamental. educação das crianças.

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No entanto, Faco e Melchiori (2009) se dá para discutir notas baixas, problemas


mostram que essa realidade tem mudado de comportamento e dificuldades.
com o passar dos tempos. O que se percebe Porém, para Marques (2001), deve haver
hoje na sociedade são os diferentes arranjos um cuidado quando se afirma isso, pois
familiares. Portanto, a expressão família de- “radica no pressuposto que deverão ser os
sestruturada não pode mais ser usada, pois, pais a percorrer o caminho que os separa
mesmo se houver apenas um membro, seja da escola, quando deveria ser o contrário”.
ele pai, mãe ou parentes, já se considera ser (MARQUES, 2001, p. 17). Para o autor, o
uma família, a qual será a base para a criança correto seria alegar que são “escolas difíceis
ou adolescente. de alcançar” quando mencionamos “escolas
Ainda, para Oliveira (2015, p. 4), ao se onde os pais não participam”. Isto é, talvez
falar de família, precisam-se considerar “os a escola é que deva ir ao encontro dos pais e
diversos arranjos familiares, em um contexto estimular mais o contato, e não ficar esperan-
em que na contemporaneidade vem tendo do que estes participem por vontade própria.
grandes modificações em relação a como se
Há muito é difícil ter o envolvimento
constitui e quem é considerado família”. Nas
efetivo dos pais na escola. Por um lado, os
últimas décadas, as transformações sociais
professores queixam-se de que os pais não
atingiram diretamente o núcleo familiar e
vão à escola, mas, por outro, têm medo de
originaram novas concepções de famílias.
que eles invadam seu território. Frequen-
Esta pesquisa considera família, então, como
temente, os professores têm medo de que a
sendo constituída pelos mais diversos arran-
participação dos pais na vida escolar seja em
jos familiares.
excesso e que acabem “invadindo” o lugar
Quanto ao papel da família, é preciso dos professores.
salientar primeiro que, como determinado
em lei, a família deve assegurar à criança Davies (1989) distingue envolvimento de
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à participação. O autor considera o envolvi-
educação, ao lazer, à profissionalização, à mento dos pais como algo que engloba todas
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade as formas de atividades dos pais na educação
e à convivência familiar e comunitária, além dos seus filhos, seja em casa, na comunida-
de garantir-lhe segurança e protegê-la de de ou na escola. Já participação se refere
toda forma de negligência, discriminação, às “atividades dos pais que supõem algum
exploração, violência, crueldade e opressão. poder ou influência em campos como os de
(BRASIL, 1988). planejamento, gestão e tomada de decisões
nas escolas”. (DAVIES, 1989, p. 24). Desse
Entretanto, e independentemente da con-
modo, a família deve envolver-se e participar
figuração familiar, sabe-se que, em relação
na vida escolar das crianças.
ao seu papel com a educação, muitas vezes
a ligação da família com a escola ocorre Ainda sobre a importância do envolvi-
apenas nas reuniões de classe e entregas de mento da família no contexto escolar, ele é
boletins, o que acaba deixando essa relação essencial: “sobretudo nos primeiros anos do
estreita. Assim, inúmeras vezes escutam-se ensino fundamental, é destacada como estra-
professores afirmarem que, apesar dos seus tégia importante de apoio à aprendizagem”.
esforços, poucos pais se deslocam à escola, (CASTRO; REGATTIERI, 2009, p. 10).
além de demonstrarem pouco interesse no Isso porque os primeiros anos dessa etapa
desenvolvimento e aprendizado de seus fi- compreendem a alfabetização da criança, o
lhos. Com frequência, o contato com os pais aprender a ler e escrever.

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Portanto, é importante, para que se atinja zem para a escola. Por isso, culturas de elite,
a convergência entre ambas as instituições, para Young (2007, p. 1297), “são, não surpre-
entender os dois lados; a escola precisa endentemente, muito mais congruentes com
saber como a família lida com seus filhos, a aquisição de conhecimento, independente
bem como é preciso criar um espaço de aco- de contexto, que culturas desfavorecidas e
lhimento e ajuda mútua para o crescimento subordinadas”. Assim, as escolas “capaci-
das crianças. A escola também precisa criar tam ou podem capacitar jovens a adquirir
estratégias e proporcionar aos pais reuniões, o conhecimento que, para a maioria deles,
palestras e dinâmicas de grupo para que re- não pode ser adquirido em casa ou em sua
almente essa aproximação contribua para o comunidade, e para adultos em seu local de
bem-estar das crianças. trabalho”. (YOUNG, 2007, p. 1294). Nesse
sentido, entende-se que o conhecimento local
e cotidiano dos alunos deve ser considerado;
O Papel da Escola e
entretanto, ele não pode ser a base para o
dos Professores
currículo.
A escola sempre teve um papel funda- Acredita-se, então, que a função da es-
mental na sociedade, seja para as crianças, cola não pode se reduzir à produção de um
os adolescentes ou os adultos. De acordo conhecimento esvaziado, que prepara para
com Young (2007), muitos fazem a mesma o trabalho ou para a economia. Ela precisa
pergunta: “para que servem as escolas?”, produzir esse “conhecimento poderoso” e
mesmo essa instituição existindo há muitos visar à formação do educando, a qual se dá,
anos. O autor afirma que a escola não é a conforme Paro (2011, p. 696), “[...] pela
única instituição com o papel de educar; no apropriação da cultura em seu sentido ple-
entanto, é de extrema importância: “sem elas, no, que inclui conhecimentos, informações,
cada geração teria que começar do zero ou, valores, arte, tecnologia, crenças, filosofia,
como as sociedades que existiram antes da direito, costumes, tudo enfim que é produzido
escola, permanecer praticamente inalterada historicamente pelo homem.”
durante séculos”. (YOUNG, 2007, p. 1288). Dessa maneira, as funções da escola são
Referindo-se à escola, Barbosa (2004) efetivadas por meio do papel do professor:
afirma que esta ocupa na sociedade um pa-
pel bem mais complexo do que se imagina, O papel de um professor é variado, com-
assim como os professores. Cada indivíduo plexo, mas motivador. Pretende-se que
desempenha o seu trabalho para que exista um professor seja inovador, dinâmico,
um espaço onde a educação aconteça. Não comunicativo, crítico e “eficaz”. Ele deve
depende apenas da direção, da coordenação ensinar, mas também educar, transmitir
pedagógica ou dos professores, é um traba- conhecimentos, mas também incutir méto-
lho realizado em conjunto e que precisa ser dos, instrumentos de trabalho e alguns va-
levado a sério. Dessa forma, desencadeiam- lores fundamentais nos alunos, como, por
-se processos de ensino e aprendizagem de exemplo, a compreensão e o respeito pelo
qualidade para os alunos. outro, a entreajuda ou a responsabilidade.
E ainda desenvolver o espírito crítico, a
Para Young (2007), além de considerar os
reflexão mas também a criatividade e a
conhecimentos prévios dos alunos, é impres-
curiosidade e a curiosidade em termos de
cindível proporcionar-lhes um conhecimento
aprendizagem. (PICANÇO, 2012, p. 43).
poderoso. Conforme o autor, o sucesso dos
alunos depende altamente da cultura que tra-

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Após refletir sobre o papel da família, da Quanto ao número de alunos por turma,
escola e dos professores, tem-se o intuito de 11 turmas tinham entre 16 e 27 alunos, e uma
analisar, através da percepção de professores, turma, por ser de uma escola no campo, era
como se dá a relação família-escola e sua composta por oito alunos, o que pressupõe
influência sobre o processo de aprendizagem que as escolas da cidade atendam a um nú-
escolar. mero maior de crianças.
Ao submeter os dados coletados à análise
de conteúdo, foi possível, pela repetição de
Relação Família-Escola: Percepção
palavras, dividi-los em quatro categorias
de Professores
principais: “Família e escola: qual é o papel
É no contexto da importância de a família de cada uma?”; “A participação efetiva da
estar presente na vida escolar da criança que família na escola”; “Relação família-escola:
esta pesquisa se insere. A investigação se deu a aprendizagem do aluno”; “Relação família-
por meio de um questionário direcionado -escola: contribuições necessárias”.Na se­
aos professores que atuaram nas turmas de quên­cia, explora-se cada uma das cate­gorias.
1º ano do Ensino Fundamental de escolas
municipais de Erechim, RS no ano de 2016, Família e Escola: Qual é o Papel de
perfazendo um total de 17 professores. Cada Uma?
Para a pesquisa de campo, primeiro se
elaborou um questionário com perguntas Tendo em vista o papel da escola e da
abertas, o qual foi submetido ao Comitê de família na vida das crianças, todas as
Ética em Pesquisa (Parecer n.º 1.900.449). professoras relataram haver diferença
Após sua aprovação, protocolou-se um pedi- entre os dois papéis. De acordo com suas
do junto à Secretaria Municipal de Educação percepções, o papel da família é “educar”,
para autorização para a efetivação da pesqui- e o da escola é “ensinar”:
sa. Com a referida aprovação e o consenti-
Acredito que Educação vem de casa,
mento do gestor responsável pela instituição
caberia a Escola apenas ensinar. (Pro-
investigada, foram agendados data e horário
fessora I, grifo nosso)
para proceder à apresentação das intenções e
procedimentos da pesquisa para os potenciais É a família que dá limites e educação,
professores participantes. valores e virtudes. A escola tem o dever
Dos 17 questionários entregues, 12 fo- de passar, incentivar, construir o conheci-
ram respondidos. Para manter a privacidade mento. (Professora F, grifo nosso)
dos participantes da pesquisa, estes serão
nomeados por letras do alfabeto, do A ao L. A escola tem o papel de ensinar e orien-
Relatos dos participantes, tal qual descritos tar na parte pedagógica e a família na
nos questionários, serão apresentados neste educação e no caráter de seus filhos.
artigo, para dar mais consistência à análise. (Professora G, grifo nosso)
Todas os participantes são mulheres, com A escola tem função de ensinar a ler,
idade entre 23 e 43 anos. A maioria possui escrever, incentivar o pensamento crítico
Magistério e formação em Pedagogia, sendo e criativo. A família o dever de educar
que duas têm formação em outras licenciatu- ensinar valores, respeito. (Professora J,
ras (História e Matemática), e 10 cursaram grifo nosso)
especialização em áreas da Educação.

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Pelos relatos das professoras, percebe-se Considero essencial. A família é a base,


que estas acreditam que o papel da família os incentivos aonde encontraram e for-
seja o de “educar” o caráter de seus filhos, maram a nossa estrutura. (Professora A,
repassar valores, atitudes, virtudes e, em es- grifo nosso)
pecial, impor-lhes limites. Quanto ao papel
da escola, entendem que esta deve “ensinar” É importante, pois a família deve cobrar
o aluno, ou seja, deter-se na sua formação a atenção e estudo do estudante, como
sistemática, baseada em conhecimentos, também cobrar uma boa qualidade de
conteúdos e aprendizagens. Assim, ensino. (Professora K, grifo nosso)

A família e a escola emergem como duas Sim o aluno em que a família participa,
instituições fundamentais para desenca- ele vem mais motivado e em termos geral
dear os processos evolutivos das pessoas, melhor é o seu desempenho. (Professora
atuando como propulsores ou inibidores I, grifo nosso)
do seu crescimento físico, intelectual e
social. A escola constitui-se um contexto
A família tem uma forte influência na
no qual as crianças investem seu tempo,
vida escolar das crianças, ambos são
envolvem-se em atividades diferenciadas
ambientes de desenvolvimento desses
ligadas à tarefas formais (pesquisa, leitura
indivíduos. (Professora H, grifo nosso)
dirigida, por ex.) e aos espaços informais
de aprendizagem (hora do recreio, excur- Sobre a relação entre as duas instituições,
sões, atividades de lazer). Neste ambiente, Dessen e Polonia (2007, p. 22) destacam que:
o atendimento às necessidades cognitivas,
psicológicas, sociais e culturais da criança A escola e a família compartilham fun-
é realizado de uma maneira mais estrutura- ções sociais, políticas e educacionais, na
da e pedagógica que no ambiente de casa. medida em que contribuem e influenciam
(DESSEN; POLONIA, 2005, p. 304) a formação do cidadão. Ambas são respon-
sáveis pela transmissão e construção do
Considerando o papel que a escola e a conhecimento culturalmente organizado,
família desempenham no desenvolvimento modificando as formas de funcionamento
do ensino e da aprendizagem das crianças, psicológico, de acordo com as expectati-
as professoras relataram que são de extrema vas de cada ambiente. Portanto família e
relevância. Escola e família, juntas, interfe- escola emergem como duas instituições
rem de forma positiva no desenvolvimento fundamentais para desencadear os proces-
dos alunos, sendo que a família precisa sos evolutivos das pessoas.
acompanhar as crianças para auxiliá-las em
suas dificuldades. Ainda, para Dessen e Polonia (2007,
p. 22), “a família é a primeira mediadora entre
Nesse sentido, quando as duas instituições o homem e a cultura, a família constitui a
trabalham em conjunto, constituem hábi- unidade dinâmica das relações de cunho afe-
tos e atitudes importantes para a formação tivo, social e cognitivo”. O amor e o carinho
do caráter e da personalidade das crianças. são fundamentais para o desenvolvimento
Dessa maneira, a criança sente motivação da criança, são laços afetivos que se formam
e incentivo para participar das atividades dentro da família e são levados para o resto
escolares. da vida. Isso contribui para um desenvolvi-
mento saudável e positivo da relação entre

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o aprendizado na escola, o psicológico da pais dos bons estudantes/boas famílias).


criança e a vida. (Professora A, grifo nosso)
Quanto à influência da participação da
família na vida escolar das crianças, Paro Sim. Conversar, encaminhamento para
(2000) afirma que a família e a escola não psicóloga [...] para fonoaudióloga (Pro-
deveriam ter um distanciamento tão grande. fessora L, grifo nosso)
Nesse sentido, as professoras relataram a im-
portância dessa relação, pois percebem que a Tínhamos o dia da família, onde a gran-
criança aprende e se desenvolve melhor com de maioria participou. As famílias pouco
a participação ativa e harmônica da família. tinham interesse da vida escolar dos filhos
quando eram solicitados mesmo assim não
compareciam. (Professora G, grifo nosso)
A Participação Efetiva da
Família na Escola Em relação às atividades desenvolvidas
pela escola para envolver a família, pode-se
A participação da família na escola é
concluir que a maior participação ocorre nas
essencial, pois, assim, a família consegue
sessões de cinema, festas e apresentações.
acompanhar o progresso e as dificuldades
Algumas escolas desenvolvem projetos como
das crianças, podendo auxiliá-las quando
hortas, palestras, seminários, dos quais nem
necessário. Quando questionadas se a es-
todas as famílias participam.
cola chamava a família para participar de
atividades que visavam ao desenvolvimento No que tange à frequência com que as
da aprendizagem das crianças e que tipos de famílias participam do processo de apren-
atividades eram propostos, obtiveram-se as dizagem dos alunos, percebe-se, conforme
seguintes respostas: os relatos, que poucas vêm à escola com o
objetivo de conversar. A maioria se faz pre-
Foram convidadas para reuniões, proje-
sente para a entrega de boletins e pareceres ou
tos, mas poucos participaram. Os pais
quando solicitado pelas professoras ou pela
costumam vir somente na entrega de
direção da escola para resolver questões de
pareceres, muitas nem vieram buscar.
comportamento ou encaminhamentos para
(Professora J, grifo nosso)
fonoaudiologia. De modo geral, a família
costuma vir apenas quando solicitada e para
Sim, palestras, confraternizações, reu-
a entrega de boletins.
niões, cinema, mas palestras e reuniões a
participação foi menor, confraternizações A análise dos relatos nos leva a inferir que,
e cinema foi maior. (Professora B, grifo apesar de algumas famílias comparecerem à
nosso) escola, a participação efetiva em atividades
que visem à aprendizagem das crianças ainda
Foram convidadas para reuniões, projeto é insuficiente. Isso se deve, em parte, por a
de horta, culinária, mas poucos partici- escola promover mais atividades com o fim
param. (Professora J, grifo nosso) de integração (festas, confraternizações,
“dia da família”, apresentações, cinema) do
Sim, no tema de casa, dia da família na que atividades com um fim mais interligado
escola com almoço festivo (houveram ao processo de aprendizagem. No entanto,
duas famílias participando), cinema na ressalta-se que, quando solicitadas a partici-
escola (boa participação), entrega de par de projetos, as famílias não comparecem.
pareceres e boletins (presença efetiva dos Dessa forma, pensa-se que a escola precisa

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começar a repensar as atividades propostas, professoras relataram que algumas famílias


bem como uma forma de mobilizar a parti- não compreendiam esse processo e não se
cipação efetiva da família. interessavam muito, apenas indagavam se o
Chama-se a atenção para o relato de uma estudante estava bem ou se seria aprovado
professora sobre a participação na entrega no ano. Outras famílias nem compareciam
de pareceres: “presença efetiva dos pais dos para retirar os pareceres dos filhos, ou seja,
bons estudantes/boas famílias”. Isso leva a os avanços das crianças não eram conside-
questionar o que seria um bom estudante e rados o ponto principal para essas famílias.
uma boa família. Será que se devem classi- Ainda houve relatos de que grande parte das
ficar os estudantes e suas famílias em bons e famílias estava preocupada com o comporta-
ruins? Quais seriam os critérios para tal de- mento, e não com a aprendizagem.
finição? Estas são indagações sobre as quais Desse modo, comparando os relatos,
devemos refletir no contexto atual. percebe-se que muitas famílias ainda só
Em relação aos questionamentos da fa- questionam ou se interessam pelo processo
mília sobre a aprendizagem das crianças, de aprendizagem das crianças no momento
destacam-se alguns relatos: da entrega de pareceres. Essa situação se
torna preocupante ao passo que, ao não de-
Não havia, o que as famílias mais costu-
monstrar, ou demonstrar pouco, interesse pela
mam questionar quando seu filho (a) é
aprendizagem das crianças, a família parece
orientado a mudar de atitudes. Podemos
perceber que há muita proteção e pouca
estar relegando toda essa responsabilidade à
orientação/estímulo para uma boa educa- escola e aos professores, atendo-se apenas ao
ção. (Professora D, grifo nosso) resultado (parecer), em vez de ao processo
(todo o ano letivo).
As famílias muito pouco tinham interesse Conforme Dessen e Polonia (2005,
na vida escolar dos filhos, quando eram p. 305), “Os benefícios de uma boa integra-
solicitados mesmo assim não compare- ção entre a família e a escola relacionam-se
ciam. (Professora G, grifo nosso) às possíveis transformações evolutivas nos
níveis cognitivos, afetivos, sociais e de per-
Nas reuniões e entrega de pareceres as sonalidade dos alunos”.
famílias costumavam questionar mais e há
um diálogo mais individual com a estudan- Quando a família e a escola mantêm boas
te. (Professora A, grifo nosso) relações, as condições para um melhor
aprendizado e desenvolvimento das crian-
Alguns casos sim, outros era dada um ças podem ser maximizadas. Assim, pais e
maior importância, mais questionamen- professores devem ser estimulados a dis-
tos para aspectos de comportamento do cutirem e buscarem estratégias conjuntas e
que para o desenvolvimento das aprendi- específicas ao seu papel, que resultem em
zagens. (Professora H, grifo nosso) novas condições de ajuda mútua. (DES-
SEN; POLONIA, 2005, p. 304)
Alguns pais mostram-se interessados,
outros só ouvem e não questionam. Assim, a participação da família na vida
(Professora J, grifo nosso) escolar é essencial para que a criança se sinta
segura em todas as atividades que realiza.
Quanto ao aspecto de participar ques- Por isso, torna-se importante que as duas
tionando a aprendizagem de seus filhos, as instituições dialoguem sempre que necessário

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para que a criança tenha segurança em suas Sim, com exceções de alguns casos. (Pro-
tarefas escolares e também na vida. fessora I)

Pelos relatos das professoras, é possível


Relação Família-Escola: inferir que a participação da família influen-
A Aprendizagem do Aluno cia a aprendizagem das crianças, de forma
Sobre a necessidade de família e escola muito positiva, ao atingir melhores resultados
caminharem em sintonia, percebe-se que com o auxílio destes. Isso é muito importante,
muitas famílias colaboram para que essa ao passo que:
relação seja efetiva e demonstre resultados.
Podemos assegurar que a aprendizagem
Entretanto, ainda há casos em que a família
eleva o “saber” do aluno, pois se torna o
não possui essa ligação com a escola. Na mais consciente produto de uma sólida
pesquisa, todas as professoras relataram a interiorização dos conhecimentos e habi-
importância do acompanhamento dos pais lidades aprendidas, mais duradouras no
na vida escolar das crianças, pois, quando tempo devido, à ativação da memória vo-
a família acompanha o aluno, ele aprende luntária, mais prazerosa do ponto de vista
com mais facilidade, é mais participativo e afetivo, pois os sucessos a ela vinculados
demonstra interesse nas atividades propostas. estimulam a autoestima do aprendiz, e por
Os relatos tornam evidente que a aprendiza- último potencializam uma maior e qualita-
gem acontece nesse contexto da participação tivamente superior aplicação à prática dos
e do estímulo no ambiente familiar, com aprendizados. (DÍAZ, 2011, p. 35)
a participação nas tarefas, a cobrança de
atividades, o comprometimento e também a Pode também haver influência negativa
educação das crianças: quando a família não participa da vida escolar
das crianças, as quais apresentam maiores
A família participativa cobra, acompanha e
dificuldades para se alfabetizarem. Desse
incentiva, sabe as dificuldades e auxilia, dá
modo, faz-se essencial estimular a relação
continuidade ao aprendido em sala o que
entre essas duas instituições, cada uma
qualifica a aprendizagem. Já os demais
a aprendizagem não perpassa os muros da
efetuando o seu papel e ao mesmo tempo
escola. (Professora A, grifo nosso) trabalhando em parceria:
A participação da família no ambiente
Os alunos em que os pais eram presen- escolar é fundamental no processo de
tes foram alfabetizados de maneira ensino-aprendizagem, família e escola são
mais eficaz. Os alunos que a família não os principais suportes com que a criança
acompanhava tiveram dificuldades ou até pode contar para enfrentar desafios, visto
não foram alfabetizados. (Professora E, que, integradas e atentas podem detectar
grifo nosso) dificuldades de aprendizagem que ela
possa apresentar, podendo contribuir de
Sim, com esses auxílios, os alunos que
maneira eficiente em benefício da mesma.
estavam com dificuldades foram recupe-
(SOUSA, 2012, p. 6)
rados. (Professora C, grifo nosso)
Além disso, pode-se perceber que essa
Sim, os alunos acompanhados pelas
relação família-escola não influencia só a
fa­mí­­lias conseguiram melhores resulta-
aprendizagem, mas outros aspectos:
dos na alfabetização. (Professora J, grifo
nosso)

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A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA SOBRE A APRENDIZAGEM ESCOLAR: PERCEPÇÕES DE PROFESSORES DO 1º ANO DO
ENSINO FUNDAMENTAL

Com certeza, é nítida a diferença. Os alu- família-escola. O aluno percebe quando a


nos que possuem esse auxílio são mais família e a escola falam a mesma linguagem,
responsáveis e possuem uma aprendiza- pois realiza as atividades propostas com
gem se destacando dos demais. (Professo- maior facilidade, qualificando o processo de
ra C, grifo nosso) ensino e aprendizagem e colaborando ativa-
mente para a formação da personalidade e o
É muito notável a diferença na aprendiza- convívio social. Destacaram ainda influências
gem e comprometimento dos estudantes negativas da não participação escolar:
que recebem acompanhamento dos pais e
familiares em relação aos que não recebem Positivo com incentivo, cobrança busca
tanto apoio. (Professora B, grifo nosso) de novos conhecimentos. Negativo, não
havendo participação da família o estu-
Sim, muita diferença, desde aprendiza- dante não tem motivação. (Professora
gem, organização, interesse... (Profes- L, grifo nosso)
sora F, grifo nosso)
A família precisa estar a par de tudo o que
Com certeza os alunos que tinham acom- acontece com seu filho. A família ausente
panhamento familiar conseguiam aprender é visível que a criança terá dificuldades
com mais facilidade e dava para perceber e não terá motivação de estar na escola,
que tinham mais motivação para aprender. nem de aprender. (Professora F, grifo
(Professora E, grifo nosso) nosso)

Os alunos que possuem esse auxílio Positivo, que a escola tem um contato mais
são mais responsáveis e possuem uma próximo e trocas de ideias de como aju-
aprendizagem se destacando dos demais. dar o estudante, e negativo que poucas
(Professora C, grifo nosso) famílias demonstram interesse. (Professo-
ra G, grifo nosso)
Portanto, para além da aprendizagem,
conforme as percepções das professoras, Quando a família é participativa os estu-
outras diferenças foram visíveis quanto a dantes são mais regrados e se esforçam
responsabilidade, comprometimento, or- nas atividades, conquistando melhores
ganização, interesse e motivação dos estu- resultados. (Professora J, grifo nosso)
dantes. E o mais importante: na percepção
das professoras, os alunos em que a família A relação entre a família e a escola precisa
era presente foram alfabetizados de forma ocorrer no mesmo nível, pois uma comple-
eficaz; já os que não tinham essa presença menta o trabalho da outra. O diálogo precisa
efetiva apresentaram maiores dificuldades. estar em primeiro lugar; é um trabalho em
Então, essa parceria entre as duas instituições conjunto e gradativo, mas que traz resultados
teve um resultado positivo, com as crianças positivos. As percepções das professoras so-
aprendendo com maior facilidade. bre essa questão da contribuição entre ambas
as instituições são basicamente as mesmas,
pois todas colocaram que a relação entre as
Relação Família-Escola: duas instituições contribui para a aprendiza-
contribuições Necessárias gem dos alunos e torna o trabalho mais rico
Nos relatos das professoras, todas des- e facilitado. Além disso, os pais precisam
tacaram influências positivas da relação estar presentes na escola não só para retirar os

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pareceres, mas também para apresentar pro- -versa. Ambos são espaços que servem
postas de trabalho, pedir ajuda e agradecer, como mantenedores de uma ordem social
e o mesmo acontece com a escola. hierárquica, desigual e assimétrica e que
estimulam, ou não, uma predisposição à
Acredito que é preciso ter uma continuida- cultura. (PIOTTO, 2009, p. 13).
de entre essa relação, sem forçar ou criar
estereótipos, avaliar cada caso isolado, Com as percepções das professoras
verificando as possibilidades. (Profes- atuantes no 1º ano, pode-se afirmar que, na
sora H, grifos nossos)
atualidade, existem famílias que participam
pouco das atividades propostas pela escola
Pode contribuir, pois com a cobrança da e da vida escolar das crianças. No entanto,
família e o incentivo da escola o processo essa parceria precisa ser levada a sério, dis-
realmente é consolidado em um tempo
cutida e, cada vez mais, haver articulação.
menor. (Professora D, grifos nossos)
As crianças percebem quando há diálogo e
Questionando o filho sobre o que “fez” em parceria entre ambas as instituições, pois
aula, mostrando interesse em auxiliá-lo começam a demonstrar isso em seu com-
e acompanhando seu desenvolvimento, portamento, nas notas de provas e na própria
a família está se aproximando da escola organização de si mesmas e do seu material
e contribuindo para a aprendizagem da escolar e na motivação em participar das au-
mesma. (Professora C, grifos nossos) las. O aluno que não tem essa parceria acaba
sofrendo, e, muitas vezes, seu aprendizado
Dando exemplos e incentivando as crian- é comprometido.
ças nas realizações de tarefas. (Professora
I, grifos nossos) Considerações Finais
Outro ponto dessa relação colocado por Diante da percepção das professoras
uma das professoras foi que a escola, assim sobre a influência da relação família-escola
como a família, precisa usar com a criança na aprendizagem dos alunos, pode-se veri-
o mesmo vocabulário, para que não exista ficar que, quando há trabalho conjunto, os
uma oposição de ideias e cause confusões. O resultados são positivos e proporcionam um
fato de acompanhar os cadernos e corrigi-los ambiente mais motivador para as crianças.
quando necessário são formas de demonstrar
No entanto, durante o estudo, as profes-
interesse nessa fase de aprendizado e con-
soras relataram que algumas famílias nunca
quistas. A cobrança nas atividades escolares
comparecem à escola para retirar o parecer
auxilia também os professores das séries
das crianças. Outras raramente vêm e, quan-
seguintes, pois o trabalho rende mais e abre
do estão presentes, pouco questionam, ou
espaços para novos conhecimentos. Essa
sua única preocupação é com o comporta-
relação precisa ser permanente, não ficando
mento ou se as crianças serão aprovadas no
só no ambiente escolar.
ano. Assim, deixam de lado a preocupação
Família e escola representam, portanto, com as dificuldades apresentadas pelos
duas maneiras de transmissão da herança alunos, passando essa responsabilidade
econômica e cultural. São duas instituições para a escola e para os professores tentarem
estruturadas para tal transmissão e que resolvê-las.
possuem uma relação de interdependência, Além disso, as professoras relataram
na qual uma se alimenta de outra e vice- pontos positivos e negativos da relação

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A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA SOBRE A APRENDIZAGEM ESCOLAR: PERCEPÇÕES DE PROFESSORES DO 1º ANO DO
ENSINO FUNDAMENTAL

família-escola, percebendo que tal relação Por fim, enfatiza-se que esta pesquisa se
influencia a aprendizagem escolar. Portanto, insere em um recorte. Dessa maneira, seus
faz-se necessário que as duas instituições resultados não podem ser generalizados, mas
dialoguem e busquem o melhor para a crian- poderão ser melhor compreendidos diante de
ça. Ainda, ressalta-se que existem diversos novas pesquisas sobre a temática nos diversos
fatores que podem influenciar a aprendi- anos de escolarização da Educação Básica.
zagem escolar da criança, sendo a relação
família-escola apenas um desses fatores.

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