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O Brasil de Debret
As gravuras aqui mostradas têm textos do próprio Jean-Baptiste Debret,
extraídos de “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil”.
“Observa-se na província de
São Paulo, Comarca de
Curitiba, as aldeias de Itapeva
e Curros, cuja população
inteira se compõe de
caçadores indígenas,
empregados pelo governo
brasileiro para lutar contra os
selvagens e os expulsar pouco
a pouco dos locais próximos às
terras por onde os cultivos
começam a avançar...
Estes soldados aguerridos... dormem sem acender fogo na floresta, para que sua
presença não seja percebida pelos selvagens que eles procuram surpreender...
Cada ano, numa certa época, o governo lhes dá munições para a campanha; uma
vez em marcha, eles não retornam antes de haver esgotado suas provisões de
Módulo II – A imagem, instrumento de conhecimento do outro ou de interiorização de preconceitos?
Imagens para pensar o Outro
guerra; então, repousam até a campanha seguinte. Durante este intervalo eles
cultivam suas terras e servem de guia aos viajantes estrangeiros... Sua tática é
atacar os ranchos dos selvagens, matar os homens e trazer prisioneiras as mulheres
e crianças. Selvagens até época recente, eles mostram-se mais aptos que os
europeus a empregar as artimanhas necessárias a este gênero de expedições”.
No Brasil, Rugendas logo deixou a expedição e passou a viajar por sua própria
conta, percorrendo de 1822 a 1825 várias partes do país, dedicando-se a retratar os
mais variados aspectos da vida da nação que se formava depois da independência
em relação a Portugal. Rugendas registra justamente o momento de transição entre
o Brasil colônia e o Brasil nação independente.
“Embarcam-se, anualmente,
cerca de 120 000 negros na
costa da África, unicamente
para o Brasil, e é raro
chegarem ao destino mais de
80 a 90 mil. Perde-se,
portanto, cerca de um terço
durante a travessia de dois
meses e meio a três meses...
Ao chegarem à fazenda,
confia-se o escravo aos
cuidados de um ou outro mais
velho e já batizado. Este o
recebe na sua cabana e procura fazê-lo, pouco a pouco, participar de suas
ocupações domésticas; ensina-lhe também algumas palavras em português. E
somente quando o novo escravo se acha completamente refeito das consequências
da travessia que se começa a fazê-lo tomar parte nos trabalhos agrícolas...”
“Enviam-se os escravos
logo ao nascer do sol... Às oito
horas concede-se-lhes meia
hora para almoçar e descansar.
Em algumas fazendas fazem os
escravos almoçarem antes de
partirem para o trabalho, isto é,
imediatamente depois do nascer
do sol. Ao meio dia eles têm
duas horas para o jantar e o
repouso e, em seguida,
trabalham até as seis horas.
“Os relatórios dos mais antigos visitantes, como Jean Léry, Hans Staden,
etc., demonstraram que, na época da conquista, os habitantes primitivos do Brasil
estavam num estágio de civilização mais elevada que aquele em que os vemos hoje.
A razão principal dessa decadência está, sem dúvida, nas relações com os
portugueses... os índios não são homens em estado natural e não são selvagens,
mas sim homens que retrocederam ao estado de selvageria, porque foram
rechaçados violentamente do ponto a que haviam chegado...
...limita-se o governo a instalar, nos lugares mais expostos do país, ou naqueles em
que a estrada atravessa a floresta, quartéis ou presídios; são geralmente simples
postos, com alguns soldados, sob o comando de um suboficial...
“No mês de
maio, os negros
celebram a festa
de Nossa Senhora
do Rosário. É
nesta ocasião que
têm por costume
eleger o Rei do
Congo, o que
acontece quando
aquele que estava
revestido dessa
dignidade morreu
durante o ano,
quando um motivo
qualquer o obrigou
a demitir-se, ou
ainda, o que ocorre às vezes, quando foi destronado pelos seus súditos. Permitem
aos negros do Congo eleger um rei e uma rainha de sua nação, e essa escolha
tanto pode recair num escravo como num negro livre. Este príncipe tem, sobre seus
súditos, uma espécie de poder que os brancos ridicularizam e que se manifesta
principalmente nas festas religiosas dos negros como, por exemplo, na de sua
padroeira Nossa Senhora do Rosário”...
... Às onze horas fui à igreja com o capelão e, não demorou muito, vimos chegar
uma multidão de negros, ao som dos tambores. Homens e mulheres usavam
vestimentas das mais vivas cores que haviam encontrado. Quando se aproximaram,
distinguimos o Rei, a Rainha, o Ministro de Estado. Os primeiros usavam coroas de
papelão, recobertas de papel dourado... As despesas da cerimônia deviam ser
pagas pelos negros, por isso haviam colocado na igreja uma pequena mesa à qual
estavam sentados o tesoureiro e outros membros da irmandade negra do Rosário,
os quais recebiam os donativos dos assistentes dentro de uma espécie de cofre.”
Há três espécies de flecha. Uma de ponta larga, feita em geral de bambu tangaraçu;
é dura e muito aguçada. Para aumentar ainda a força da penetração, a ponta é
encerada e a taquara, também encerada ao fogo, torna-se tão dura quanto o chifre.
Como na taquara a ponta é oca, os ferimentos que ela produz sangram fortemente.
Por isso é empregada, principalmente, na guerra e na caça de grandes animais.