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ARTIGO ARTICLE
em Saúde Coletiva: cenário atual
Elisabetta Recine 1
Ana Beatriz Vasconcellos 2
quisa e serviço. Com esse marco de atuação, os saúde, a Losan explicita, em seu artigo 6º, que a
centros, de forma autônoma, contribuem para SAN abrange a promoção da saúde, da nutrição e
disseminação dos princípios do SUS e da PNAN e da alimentação da população, incluindo-se grupos
da atenção primária em saúde; participam em populacionais específicos e populações em situa-
projetos de pesquisas multicêntricas em saúde e ções de vulnerabilidade social”1.
nutrição, contribuem na análise dos bancos de A partir da III Conferência Nacional de SAN,
dados de pesquisas nacionais, aprofundando a realizada em 2007, o Conselho Nacional de SAN
análise regional, sub-regional ou local, e promo- (Consea) instituiu um processo de elaboração,
vem o conhecimento e a avaliação de programas com base nas resoluções finais do encontro, de
e políticas de segurança alimentar e nutricional. um documento com os princípios e diretrizes que
Ressalta-se a liderança em projetos de pesquisas deverão compor a Política Nacional de Segurança
nacionais e a vocação para renovação de quadros Alimentar e Nutricional. As resoluções finais da
para a área de nutrição e Saúde Coletiva. CNSAN16 foram organizadas em três eixos temáti-
O apoio a linhas de pesquisa e estudos em cos: SAN nas estratégias nacionais de desenvolvi-
áreas estratégicas do conhecimento em nutrição mento; Política Nacional de SAN; e Sistema Nacio-
foi viabilizado por meio da publicação de dois nal de SAN. No segundo eixo foram propostas
editais nacionais. O Edital sobre Alimentação e seis diretrizes: (1) promover o acesso universal à
Nutrição foi lançado no ano de 2004 em conjunto alimentação adequada; (2) estruturar sistemas
pelo Ministério da Saúde e o Conselho Nacional justos, de base agroecológica e sustentável de pro-
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico dução, extração, processamento e distribuição de
(CNPq). Este edital, cujas linhas temáticas estão alimentos; (3) instituir processos permanentes de
voltadas às diretrizes da PNAN, gerou o financia- educação e capacitação em segurança alimentar e
mento de 85 projetos, com um investimento que direito humano à alimentação adequada; (4)
ultrapassou os R$ 4 milhões, fato inédito no cam- ampliar e coordenar as ações de segurança ali-
po da alimentação e nutrição no Brasil15. Em 2005, mentar e nutricional voltadas para povos indíge-
o Edital Alimentação, Nutrição e Promoção da nas e comunidades tradicionais; (5) fortalecer as
Alimentação e Modos de Vida Saudáveis, lançado ações de alimentação e nutrição em todos os ní-
de forma similar ao anterior, pelo Ministério da veis da atenção à saúde, de modo articulado às
Saúde e o CNPq, apoiou 97 projetos em diferentes demais políticas de segurança alimentar e nutri-
áreas temáticas, incluindo as intervenções em nu- cional; (6) promover a soberania e a segurança
trição e Saúde Coletiva, buscando consolidar um alimentar e nutricional em âmbito internacional.
modelo de fomento à pesquisa. A avaliação deste O documento foi enviado à Câmara Inter-
processo apontará em que medida os institutos ministerial de SAN (CAISAN)17,18 em outubro de
de pesquisa e universidades brasileiras irão trazer 2009. A CAISAN, composta pelos ministros ou
inovações e consolidá-las para um maior diálogo seus representantes, atualmente, de 19 áreas de
entre a academia e as políticas públicas de alimen- governo, é responsável por propor e articular a
tação e nutrição em saúde e oportunizar, tanto no implementação da PNSAN.
âmbito acadêmico quanto no sistema de saúde, Neste documento do Consea, “Subsídios para
investigações e pesquisas que aprimorem o cami- a construção da Política Nacional de Segurança
nho da nutrição nas políticas públicas brasileiras Alimentar e Nutricional”17, está proposto que o
em seu sentido abrangente e intersetorial. objetivo geral da PNSAN é assegurar o direito
humano à alimentação adequada a todas e todos
os habitantes do território brasileiro, promovendo
A futura Política Nacional a soberania e a segurança alimentar e nutricional
de Segurança Alimentar e Nutricional de modo que tenham acesso regular e permanente
a alimentos de qualidade, em quantidade suficien-
Com a sanção da Losan, em 2006, fica instituído te, sem comprometer o acesso a outras necessidades
o Sistema Nacional de SAN (Sisan)1, que tem essenciais, tendo como base práticas alimentares
como objetivos: (1) a formulação da Política promotoras de saúde, que respeitem a diversidade
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional cultural e que sejam ambiental, cultural, econô-
(PNSAN) nas diferentes esferas de governo; e (2) mica e socialmente sustentáveis.
a inclusão de princípios e diretrizes de segurança A quinta diretriz referente ao campo da ali-
alimentar e nutricional nas políticas referentes às mentação e nutrição no âmbito da saúde, “For-
áreas abrangidas pela definição de SAN adotada talecer as ações de alimentação e nutrição em to-
no Brasil. Particularmente em relação à área da dos os níveis de atenção à saúde, de modo arti-
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dos ao longo desta década de implementação da quação da formação dos profissionais que atu-
PNAN. Há necessidade de serem respondidas al- am em nutrição em Saúde Coletiva para que es-
gumas questões: como e o quanto a Saúde se vê tes se coloquem em uma posição de formulação
no campo da SAN, sua contribuição, seu papel, e liderança.
tanto no desenvolvimento de ações como tam- Há claramente uma confluência de agendas
bém disputando e decidindo agenda; como e o entre as prioridades para a garantia da SAN e os
quanto a SAN vê a saúde como parceira legítima, avanços necessários para a efetiva implementa-
como se articulam esses espaços políticos e insti- ção e atualização das ações de alimentação e nu-
tucionais; como os dois sistemas, SUS e Sisan, se trição no SUS – representadas pela PNAN17 . Cabe
articulam em suas prioridades, agendas e pro- compartilhar estratégias para que os avanços
cessos; como a PNAN e a futura PNSAN17 se ar- sejam efetivos e ágeis.
ticulam e se coordenam. Em suma, o investimento político e progra-
No âmbito da saúde, são inadiáveis a expan- mático no campo da alimentação e nutrição em
são e a qualificação das ações de alimentação e Saúde Coletiva configura-se como uma janela de
nutrição no Sistema Único de Saúde, para que a oportunidades importante em um cenário no
área da saúde ocupe e responda por suas res- qual explicações da realidade e busca de soluções
ponsabilidades no desafio de promover a SAN precisam ser abrangentes para responder às no-
da população brasileira. Este esforço deve ser vas complexidades da nutrição e da inserção da
acompanhado por uma profunda reflexão e ade- alimentação na esfera dos direitos humanos.
Colaboradores
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cas educativas em nutrição na atenção básica em
saúde: reflexões a partir de uma experiência de Artigo apresentado em 10/02/2010
extensão popular em João Pessoa-Paraíba. Rev APS Aprovado em 20/05/2010
2008; 11(3):334-340. Versão final apresentada em 12/07/2010