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Capítulo 1
Capítulo 1
O CEARÁ COLONIAL
Ceará Pré-Colonial
O Ceará era habitado ancestralmente por indígenas dos troncos Tupi (Tabajara,
Potiguara, Tapeba, entre outros) e Jê (Kariri, Inhamum, Jucá, Kanindé, Tremembé,
entre outros), cujas tribos ainda hoje denominam vários topônimos no Ceará. Os
colonizadores portugueses chegaram em 1603 através do litoral, mas o povoamento
pelos europeus foi bastante dificultado nas primeiras décadas de colonização, devido à
intensa resistência dos nativos - que destruíram o primeiro forte edificado para marcar o
domínio português e mataram muitos dos primeiros povoadores - à interveniência de
secas e às incursões de piratas estrangeiros. Os navegadores espanhóis Vicente Yáñez
Pinzón e Diego de Lepe desembarcaram na costa cearense antes da viagem de Pedro
Álvares Cabral ao Brasil.[15] Pinzón chegou a um cabo identificado como "Porto
Formoso", que se acredita ser o Mucuripe, e Lepe, à barra do rio Ceará, em Fortaleza.
Essas descobertas não puderam ser oficializadas devido ao Tratado de Tordesilhas
(1494). As terras equivalentes à Capitania do Ceará foram doadas a Antônio Cardoso de
Barros, que, porém, não se interessou em colonizá-las.[16] Ficaram assim entregues à
ação de corsários, notadamente franceses, que em 1590 estabeleceram a Feitoria da
Ibiapaba, para explorar o âmbar-gris, as madeiras de lei, a pimenta e o algodão nativo.
Os esforços de povoamento pelos portugueses visavam principalmente a vencer a
resistência indígena e garantir o domínio luso contra estrangeiros.
Ceará Colonial
O CEARÁ NO IMPÉRIO
Capitania do Siará Grande
Em 1799 o Ceará adquiriu independência em relação à Pernambuco, e Bernardo
Manuel de Vasconcelos foi nomeado seu primeiro governador, sendo o responsável
pelo início da urbanização de Fortaleza. No final do século XVIII, especialmente com a
Guerra de Independência norte-americana, o algodão foi tomando relevante papel na
pauta de exportações do Ceará. Com o declínio do charque, cuja distribuição era
centrada em Aracati, Fortaleza se tornou a principal cidade cearense devido à sua
condição de destino dos produtos agrícolas cultivados nas diversas serras que se elevam
nas vizinhanças do município.
Em 1812 foi nomeado governador do Ceará o português Manuel Inácio de Sampaio e
Pina Freire, o qual reuniu os literatos no palácio do governo e deu incentivo às artes e à
urbanização da capital por meio dos projetos de Silva Paulet. No começo do século XIX
o Ceará passou por movimentos rebeldes, como a República do Crato, em 1813, e
também influências da Revolução Pernambucana de 1817, movimentos de cunho
republicano-liberal liderados pela família cratense dos Alencar. Tais movimentos foram
reprimidos com dureza pelo governador provincial do Ceará, Inácio de Sampaio.
Ceará no Império
Em 1825 o Ceará tomou parte na Confederação do Equador, com o liberal Tristão
Gonçalves aplicando um golpe e tornando-se chefe do governo. A Confederação foi
frustrada pela forças imperiais, e Tristão morreu durante os combates contra as forças
legalistas do Império. O ciclo de conflitos terminou com a Insurreição de Pinto Madeira,
"coronel" de Jardim, que visava ao retorno da monarquia absolutista e representava
interesses regionais opostos aos da cidade do Crato, de inspiração marcantemente
liberal.
Em meados de 1860, devido à Guerra de Secessão norte-americana, houve um surto
de crescimento da produção do algodão. Tal florescimento não durou muito tempo, mas
deu grande impulso à modernização da infra-estrutura da Província como exemplo a
Estrada de Ferro de Baturité, inaugurada em 1873. Em 1877, tem início a chamada
Grande Seca de 1877-1879, um dos mais severos períodos de seca prolongada da
história cearense, levando à morte milhares de pessoas e acarretando emigração maciça
de retirantes. Fortaleza recebeu uma população de fugitivos da seca quatro vezes maior
que a sua própria.
Logo após, a produção da borracha explode na Amazônia, e muitos cearenses
vítimas da seca migram para esta região. A gravidade dessa estiagem chamou a atenção
do governo central e mesmo de cientistas, havendo então a produção de textos
científicos e propostas de melhoramento da situação da população cearense, cuja maior
parte não foi posta em prática ou se relevou ineficaz. Por outro lado, houve um
aceleramento nas obras do Açude do Cedro, primeiro do Nordeste, que só ficou pronto
em 1906. A Grande Seca e as estiagens seguintes impulsionaram o surgimento da
indústria da seca e geraram uma tradição migratória no estado. Entre 1869 e 1900, 300
mil cearenses abandonaram sua terra, 85% deles indo para a Amazônia. Anos antes da
proclamação da República notabilizou-se a campanha abolicionista no Ceará, que
logrou abolir a escravidão no estado em 25 de março de 1884, quatro anos antes da Lei
Áurea. O movimento contou com a participação de várias sociedades libertárias,
inclusive a maçonaria, mas o maior destaque ficou com Francisco José do Nascimento,
o Dragão do Mar, jangadeiro que impulsionou o abolicionismo ao comandar seus
companheiros, em 1881, numa total recusa a transportar escravos para dentro ou fora da
província. A primeira cidade brasileira a abolir a escravatura foi Acarape, atual
Redenção, em 1º de janeiro de 1883. Devido a isso, o Ceará recebeu a alcunha de Terra
da Luz, de início por José do Patrocínio. A escravidão, que jamais fora dominante no
estado, estava praticamente extinta nos anos de 1880, de forma que não houve
resistência à abolição mesmo por parte da elite.
CAPÍTULO 3
O CEARÁ NA REPÚBLICA
Em 1915 o Ceará sofreu com uma gravíssima seca levando a novo êxodo da
população cearense para a Amazônia, região que, devido às intermitentes, mas
significativa emigração recebeu grande afluxo e influência de cearenses. A gravidade da
seca inspirou a escritora Rachel de Queiroz em sua famosa obra O Quinze. O sertão
sofreu mais uma estiagem em 1932, e o governo estadual não pôde dispor mais da
Amazônia como refúgio para os flagelados. Diante disso, foram criados os Currais do
Governo, campos de concentração para os retirantes. A instabilidade política e social foi
crescendo no Estado. Nos anos 1930, surgiu no Crato o movimento messiânico do
Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, liderado pelo beato José Lourenço. Igualitária e
agrária, a comunidade do Caldeirão perseguia a auto-suficiência, passando a ser vista
pelo governo e pelos fazendeiros poderosos da região como uma má influência. Em
1937 o Caldeirão foi invadido e alvo de bombardeio aéreo, resultando no massacre de
aproximadamente 400 indivíduos.
Após a Revolução de 30, o Ceará passou a ser governado por interventores do
Governo Federal. Ascenderam duas organizações políticas que dominaram o cenário
estadual: a Legião Cearense do Trabalho, com nítida influência fascista, e a Liga
Eleitoral Católica, fortemente religiosa, representante da elite tradicional e de grande
apelo popular. Nos anos 1940 mais uma seca (1943) assolou o Ceará, e, com a Segunda
Guerra Mundial e os Acordos de Washington, o governo de Getúlio Vargas incluiu o
Ceará no seu projeto político. A instalação de uma base norte-americana em Fortaleza
trouxe ideais democráticos e antifascistas que passaram a ser defendidos em várias
manifestações. Sob uma forte propaganda governamental de migração (SEMTA), cerca
de 30 mil cearenses tornaram-se Soldados da Borracha, produzindo esse produto na
Amazônia para abastecer os exércitos aliados.
República Nova
A República Nova no Ceará tem início com a nomeação sucessiva de seis
interventores até as eleições de 1947, seguindo-se a eleição de Faustino de Albuquerque
pela UDN. Durante seu governo, nas eleições presidenciais de 1950, o candidato
udenista Eduardo Gomes obteve a maior votação, e Getúlio Vargas ficou na 3ª
colocação no estado. Para a direção do governo estadual é eleito Raul Barbosa. Durante
seu governo houve a instalação do Banco do Nordeste do Brasil (1952) em Fortaleza.
No mesmo ano o governo federal inaugurou oficialmente o Porto do Mucuripe, em cujo
entorno foram instaladas várias usinas termoelétricas.
Durante a década de 1950 surgiram ou se consolidaram vários dos maiores grupos
econômicos do Ceará, como Deib Otoch, J. Macêdo, M. Dias Branco, Edson Queiroz e
Jereissati. Paulo Sarasate foi o terceiro governador eleito no período. Ainda nessa
década tem início uma nova onda migratória para vários estados e regiões. Entre as
décadas de 1950 e 1960, a população cearense passou de 5,1% para 4,5% do total da
população brasileira. Em 1958 foi eleito Parsifal Barroso que teve a ajuda do governo
federal para combater as mazelas decorrentes da seca daquele ano, sendo a principal
obra o Açude Orós, inaugurado em 1961. Em Fortaleza o Grupo Severiano Ribeiro
inaugurou o Cine São Luis. Em 1962, foi criado o Banco do Estado do Ceará (BEC).
Em 1963 Virgílio Távora foi eleito governador do Ceará, exercendo o mandato até
1966, mesmo com o surgimento da ditadura militar em 1964. Seu governo foi marcado
pela criação do "PLAMEG I" - Plano de Metas do Governo - que visou à modernização
da estrutura do estado com a ampliação do porto do Mucuripe e a transmissão da
energia de Paulo Afonso para a capital. Foram criados ou instalados, também, o Distrito
Industrial de Maracanaú, a CODEC e a Companhia DOCAS do Ceará. Com o AI-2,
Virgílio aderiu à ARENA, e seu vice Figueiredo Correia ao MDB.
Governo militar
Plácido Castelo foi eleito pela Assembléia Legislativa em 1966. Durante seu governo
houve perseguição política a deputados e várias manifestações, acarretando a prisão e
tortura de estudantes e trabalhadores, assim como atentados a bomba em Fortaleza. Foi
criado o Banco de Desenvolvimento do Ceará (BANDECE) e pavimentada a rodovia
CE-060, a "estrada do algodão". Também tiveram início as obras do estádio Castelão.
Durante o governo de César Cals (1971-1975) se sucedeu o auge da repressão militar.
Vários cearenses de esquerda estiveram envolvidos na Guerrilha do Araguaia. Cals
procurou governar tecnocraticamente, formando sua própria facção política e rompendo
com Virgílio Távora. Seu sucessor, Adauto Bezerra (mandato de 1975 a 1978) não
acontecem grandes mudanças. Adauto volta-se politicamente para o interior com a
criação de uma secretaria de assuntos municipais. Renuncia seu mandato para se eleger
deputado federal. O vice-governador Waldemar Alcântara toma posse e termina o
mandato.
Virgilio Távora retorna ao governo em 1979, sendo o último eleito indiretamente, e
resgata seu primeiro governo com a criação do PLAMEG II. Estabelece o Fundo de
Desenvolvimento Industrial para complementar o sistema de incentivos regionais à
indústria, impulsionando uma industrialização muito concentrada na Região
Metropolitana de Fortaleza. Criou-se o PROMOVALE (projetos de irrigação), e sua
esposa, Luiza Távora, programou projetos sociais como a Central de Artesanato do
Ceará. Seu governo foi marcado pela ausência, quase que total, de oposição na
Assembléia, nomeações aproximadas de 16.000 pessoas para cargos públicos e várias
greves. Em 1983, Gonzaga Mota foi eleito pelo voto popular, rompendo com os
coronéis anteriores para criar seu próprio grupo político. Seu rompimento rendeu-lhe
ataques do regime militar com a suspensão de verbas federais.
Nova República
A Nova República coincide no Ceará com a eleição de Maria Luiza para o cargo de
prefeita de Fortaleza em 1985. Foi a primeira prefeita de capital estadual eleita pelo
Partido dos Trabalhadores e a primeira mulher a ser eleita para esse cargo após o regime
militar. A insatisfação com a política praticada durante a ditadura militar e o movimento
de redemocratização impulsionaram as transformações no poder político, com a
decadência da hegemonia tradicional do coronelismo. Gonzaga Mota deixou o governo
com pagamentos atrasados ao funcionalismo e descontrole nas contas públicas.
Rompido com os antigos aliados, Mota, junto com partidos de esquerda e o PMDB,
apóia a candidatura oposicionista liderada pelo jovem empresário Tasso Jereissati, que
conseguiu se eleger com a promessa de modernizar a administração pública e as
finanças, combater o clientelismo dos governos anteriores, moralizar a administração
pública e desenvolver a economia estadual. A nova gestão se autodenominou como
"Governo das Mudanças”. Nas duas décadas seguintes, o projeto avançou com a eleição
de Ciro Gomes, seguida de um segundo mandato de Tasso Jereissati. Com a instituição
da reeleição no país, Tasso ainda governou o Estado pela terceira vez, tornando-se o
primeiro político a conseguir tal fato em mais de 100 anos de história republicana. Nas
duas décadas seguintes, Jereissati e seus aliados passaram a deter a hegemonia política
no Estado, e rapidamente perdem a aliança com partidos mais à esquerda. Ciro Gomes,
então prefeito de Fortaleza, se candidatou e foi eleito em 1990 para o cargo de
governador, apoiado por Tasso.
Os "Governos das Mudanças" priorizaram o aumento das receitas, visando a
investimentos públicos e privados em infra-estrutura e nos setores industrial e de
serviços, enquanto o agropecuário permanece à margem. Politicamente, há uma relativa
diminuição de poder dos "coronéis", com ampliação do poder do grande empresariado.
O saneamento das contas estaduais - atingido, em parte, pelo propósito de diminuir as
despesas através de reformas administrativa e financeira, bem como de demissões e
achatamento salarial no funcionalismo público - garantiu superávits entre 1988 e 1994,
mas com a consolidação do Plano Real volta-se a uma predominância de déficits.
Tasso foi eleito novamente em 1994 e reeleito em 1998, concentrando os esforços
governamentais em grandes obras, como o Porto do Pecem, o novo Aeroporto
Internacional de Fortaleza, o Açude Castanhão, o Centro Cultural Dragão do Mar e o
Canal da Integração. O terceiro "Governo das Mudanças" (1994-1997) se caracterizou
pela privatização de empresas algumas estatais e extinção de órgãos, enxugando a
máquina, reformando a Previdência estadual e dando maior racionalidade aos gastos
públicos. Lúcio Alcântara, eleito com o apoio de Tasso, continuou, em linhas gerais, o
modelo político anterior, mas não conseguiu se reeleger em 2006, quando rompeu com
o PSDB, posteriormente mudando para o Partido da República. Cid Gomes, do PSB, ex-
prefeito de Sobral e aliado histórico de Tasso, venceu a disputa, com o apoio do PT, que
em Fortaleza, já havia vencido com Luizianne Lins, eleita em 2004 mesmo sem apoio
real do partido, o qual, devido às alianças partidárias nacionais, apoiou o candidato
Inácio Arruda, do PC do B. Em 2008, Luizianne Lins foi reeleita.
O Estado se beneficiou também da guerra fiscal, que então se iniciava, o que, somada
à mão-de-obra barata, atraiu várias indústrias, as quais se concentraram em algumas
poucas cidades. O crescimento médio do PIB, de 4,6%, foi superior à média nacional e
nordestina nos anos 1990, continuando a tendência iniciada na década de 1970. As
ações do governo, aliado aos esforços do empresariado local, e os incentivos de
instituições de grande importância na história econômica recente do Ceará, como o
BNB e a Sudene, foram determinantes para tal desempenho.
O forró eletrônico se popularizou na década de 1990, e o Ceará começou a despontar,
seguindo a tendência do litoral nordestino, como grande pólo de turismo. Ao longo
dessa década, com ações como o Programa de Saúde da Família (PSF), o Estado
também realizou grandes avanços na redução da mortalidade infantil. A migração em
direção a Fortaleza segue forte. A segurança pública tornou-se muito mais problemática
entre 1990 e 2003, com a taxa de homicídios subindo de 8,86 para 20,15 por 100 mil
habitantes.
Apesar de vários avanços na saúde e educação básicas e do crescimento econômico
estável, a chamada Era Tasso não alterou a estrutura socioeconômica problemática do
Ceará, em especial a concentração de renda, que piorou entre 1991 e 2000, a má
distribuição fundiária e a enorme disparidade regional (sobretudo entre a capital e o
interior). Em 1999, segundo o Banco Mundial, metade dos cearenses viviam abaixo da
linha de pobreza. No início do século XXI, consolidou-se a tendência de queda na
tradicional emigração de cearenses, que, no período 2001-2006, reverte-se para um
saldo positivo de 38,3 mil pessoas, o que se atribui à melhoria das condições de vida e à
maior estabilidade proporcionada por programas sociais, que permitiram a fixação do
pobre em sua terra e o retorno de parte dos emigrantes.