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Quando a mãe de Ayanda regressou do hospital, encontrou a casa limpa e bem arrumada e viu
que o filho mais novo estava bem tratado. A filha tinha crescido tanto que a mãe quase não a
reconheceu.
Ayanda tornou-se numa das raparigas mais bonitas da aldeia.
Agora, quando as pessoas a viam, diziam:
— Se não parares de crescer, nunca irás encontrar um marido do teu tamanho!
— Isso não me preocupa nada! — retorquia ela.
Desde o regresso da mãe que Ayanda tinha mais tempo livre. Mas, em vez de ficar a conversar
com as raparigas da sua idade, preferia ir ajudar os vizinhos ou a velha vendedora, que tinha muita
dificuldade em transportar os sacos cheios de fruta.
Certa manhã, enquanto todos se ocupavam dos seus afazeres, ouviram-se tiros. Uma horda de
bandidos invadiu a aldeia como se fossem gafanhotos a devorar uma colheita.
Ameaçaram os aldeões com armas e ordenaram-lhes que
trouxessem dinheiro, joias e objetos preciosos.
— Se esconderem a mínima peça que seja, queimaremos a
aldeia e matamos toda a gente! — ameaçaram.
Enquanto todos foram buscar os seus haveres, Ayanda foi
de casa em casa a tentar convencê-los a resistirem. Contudo, os
habitantes da aldeia tinham demasiado medo para fazer frente
aos agressores.
— Isso quer dizer que terei de enfrentar os bandidos
sozinha — disse Ayanda para consigo. — Para isso, tenho de
crescer bastante mais. Se tiver a altura de um embondeiro, vou
conseguir expulsá-los da aldeia.
Ayanda começou a crescer sem parar. Mesmo quando a sua cabeça ultrapassou a altura das
casas, ele quis continuar a crescer. Quando atingiu a altura do embondeiro centenário que estava no
centro da aldeia, parou de crescer.
Os bandidos esperavam, tranquilos, pelo saque, sem se darem conta do que se estava a passar.
De repente, o chão começou a tremer. De cada vez que a gigante Ayanda dava um passo, tudo
se mexia como se uma manada de elefantes estivesse em movimento.
Quando a viram dirigir-se a eles, os bandidos largaram tudo e fugiram.
Mas era demasiado tarde.
Quando a rapariga tentou entrar em casa, viu, apavorada, que o seu tamanho a impedia de passar
a porta. A mãe e o irmão puxaram-na com toda a força, mas nada conseguiram.
Ayanda viu-se obrigada a passar a noite ao relento.
— O que vai acontecer-me? — perguntou-se, a
chorar. — Nunca mais vou conseguir viver como uma
pessoa normal. Queria tanto ser uma rapariga igual às
outras...
Ayanda acabou por adormecer sob o céu estrelado,
mas o seu sono não foi calmo.
Véronique Tadjo
Ayanda, la petite fille qui ne voulait pas grandir
Paris, Actes Sud, 2007
(Tradução e adaptação)