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O MUNDO PERTENCE AOS LEITORES

Um dos meus heróis favoritos é o norte-americano Frederick Douglass. Douglass foi


um escravo que nasceu em 1817, no Maryland. Em adulto, tornou-se um defensor do
abolicionismo e um estadista, e chegou mesmo a ser conselheiro de Abraham Lincoln.

Na sua autobiografia, Douglass conta que, em criança, a dona lhe ensinou o alfabeto e
algumas palavras. Contudo, mal o dono se deu conta do que se passava, proibiu a mulher
de continuar a ensinar o pequeno Frederick. Segundo o dono, “Ensinar um escravo a ler é
ilegal e perigoso, porque o escravo torna-se difícil de controlar e deixa de ter valor monetário
para o patrão. Aliás, saber ler servir-lhe-á de pouco e pode até causar-lhe dano, pois vai
torná-lo insatisfeito e infeliz.”
"A partir desse momento,” escreve Douglass, “percebi que saber ler era o caminho que
me iria conduzir da escravatura à liberdade. Embora tivesse consciência do quão difícil seria
aprender a ler sem um professor, tentei fazê-lo cheio de esperança, propósito e
determinação, sem olhar a dificuldades...”

O físico Albert Einstein, um outro herói americano, embora nascido na Europa,


deixou-nos um valioso testemunho do poder da leitura. Quando, um dia, uma mãe lhe
perguntou como poderia ajudar o filho a ser um grande matemático, Einstein respondeu,
“Leia-lhe os grandes mitos do passado, ajude-o a expandir a imaginação.”
Quanto a Emily Dickinson, essa grande poeta norte-americana, deixou-nos um poema
extraordinário, que é um verdadeiro hino aos livros:

Não há fragata como um livro


que nos leva a novas terras.
(…)
Quão bela é a carruagem
que transporta a alma humana.

A leitura foi o caminho que conduziu Frederick Douglass da escravatura à liberdade,


e que lhe permitiu juntar-se, de forma decisiva, à luta pela emancipação dos escravos. Para
Einstein, as histórias foram a forma que encontrou de expandir a sua imaginação, e foram
elas que o conduziram a perguntas sobre a natureza do universo que nunca tinham sido
colocadas. Para Emily Dickinson, que raramente saía de casa, os livros eram navios, a poesia
era um cavalo cabriolante, e a leitura uma forma de poder viajar para onde quisesse. A
sabedoria e beleza que foi encontrando pelo caminho são o legado que nos deixou nas
páginas de poesia que escreveu.

Podemos, pois, afirmar, que o mundo pertence aos leitores.


Os livros conduzem-nos aonde quisermos, desde terras pelo mundo fora a planetas
bem distantes. A leitura permite-nos penetrar nos mistérios da natureza e aceder ao coração
e à mente de outrem.
Basta-nos abrir a capa e virar a página para nos deslumbrarmos com as riquezas que
nos aguardam…

Katherine Paterson

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